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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

(Volume 5)

 

  

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Fundador Acharya da Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna

 

Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada!

Todas as Glórias à Sua Divina Graça Visvavarenya Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacharya Ashtottara-shata Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Srila Prabhupada Thakur Mahashaya.

 

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 75

A Batalha entre Shalva e a Dinastia Yadu

   

Enquanto Shukadeva Goswami narrava várias atividades do Senhor Krishna na interpretação do papel de um ser humano ordinário, ele também narrou a história da batalha entre a dinastia Yadu e um demônio de nome Shalva, que conseguiu possuir um maravilhoso dirigível chamado Saubha. O Rei Shalva era um grande amigo de Shishupala. Quando Shishupala foi casar com Rukmini, Shalva era um dos membros do partido do noivo. Quando houve a luta entre os soldados da dinastia Yadu e os reis do lado oposto, Shalva foi derrotado pelos soldados da dinastia Yadu. Mas, apesar dessa derrota, ele fez uma promessa perante todos os reis que no futuro ele livraria o mundo de todos os membros da dinastia Yadu. Desde sua derrota na luta durante o casamento de Rukmini, ele manteve dentro de si uma inveja inesquecível do Senhor Krishna, e ele era, de fato, um tolo, porque prometeu matar Krishna.

Geralmente, tais demônios tolos se abrigam em semideuses tais quais Senhor Shiva para executar seus planos ulteriores, e assim Shalva, a fim de obter força, abrigou-se nos pés de lótus do Senhor Shiva. Ele se submeteu a um severo tipo de austeridade durante o qual ele não comia mais do que uma mão cheia de cinzas diariamente. O Senhor Shiva, o esposo de Parvati, é geralmente muito misericordioso, e ele fica satisfeito muito rápido se alguém se submete a severas austeridades a fim de satisfazê-lo. Assim depois de austeridades contínuas por Shalva por um ano, o Senhor Shiva ficou satisfeito com ele e pediu-lhe para rogar pela satisfação de seu desejo.

Shalva mendigou do Senhor Shiva a dádiva de um aeroplano que seria tão forte que não pudesse ser destruído por nenhum semideus, demônio, ser humano, Gandharva, Naga, ou mesmo qualquer Rakshasa. Mais ainda, ele desejava que o aeroplano fosse capaz de voar em qualquer lugar e todo lugar onde ele quisesse pilotá-lo, e que fosse especificamente perigoso e aterrorizante para a dinastia dos Yadus. O Senhor Shiva imediatamente concordou em dar a ele a bênção, e Shalva teve a ajuda do demônio Maya para manufaturar seu próprio aeroplano, que era tão forte e formidável que ninguém era capaz de derrubá-lo. Era uma máquina muito grande, quase igual a uma grande cidade, e podia voar tão alto e em uma velocidade tão grande que era quase impossível ver onde ela estava, assim não havia questão de atacá-la. Apesar de estar escuro fora, o piloto podia navegá-la em qualquer lugar e todo lugar. Ao adquirir esse aeroplano maravilhoso, Shalva voou para a cidade de Dwaraka, porque seu propósito principal em obter o aeroplano era atacar a cidade dos Yadus, contra quem ele mantinha um sentimento contínuo de animosidade.

Shalva não somente atacou a cidade de Dwaraka do céu, mas ele também cercou a cidade com um grande número de infantaria. Os soldados na superfície começaram a atacar os belos locais da cidade. Começaram a destruir os balneários, os portais da cidade, os palácios e arranha-céus residenciais, os muros altos em volta da cidade e os belos locais onde as pessoas se reuniam para recreação. Enquanto os soldados atacavam pela superfície, o aeroplano começou a jogar grandes lajes de pedra, troncos de árvores, raios, serpentes venenosas e muitas outras coisas perigosas. Shalva também manejou a criação dum redemoinho de vento dentro da cidade que toda Dwaraka ficou escura por causa da poeira que cobriu o céu. O aeroplano ocupado por Shalva pôs toda a cidade de Dwaraka em agonia igual à causada na Terra muito, muito tempo atrás pelas atividades de perturbação de Tripurasura. Os habitantes de Dwaraka Puri ficaram tão perturbados que não tinham uma condição de paz nem por um momento.

Os grandes heróis da cidade de Dwaraka, chefiados por comandantes como Pradyumna, contra-atacaram os soldados e o aeroplano de Shalva. Quando viu a extrema angústia dos cidadãos, Pradyumna imediatamente arranjou seus soldados e imediatamente subiu numa quadriga, e encorajou os cidadãos por assegurar segurança. Pelo seu comando, muitos guerreiros como Satyaki, Charudeshna e Samba, todos irmãos mais novos de Pradyumna, e também Akrura, Kritavarma, Bhanuvinda, Gada, Shuka e Sarana - todos saíram da cidade para lutar com Shalva. Todos eles eram grandes guerreiros; cada um deles podia lutar contra milhares de homens. Todos estavam plenamente equipados com as armas necessárias e assistidos por centenas de milhares de quadrigários, elefantes, cavalos, e soldados de infantaria. Uma batalha aterradora começou entre os dois partidos, exatamente como era realizado antigamente entre os semideuses e os demônios. A batalha foi muito severa, e quem quer que observou a natureza aterrorizante da luta sentiu seus cabelos arrepiarem.

Pradyumna imediatamente contra-atacou a demonstração mística ocasionada pelo aeroplano de Shalva. Pelo poder místico do aeroplano, Shalva criou uma escuridão tão densa quanto a noite, mas Pradyumna de repente apareceu como o Sol nascente. Da mesma forma que com o raiar do Sol a escuridão da noite é dissipada imediatamente, com o aparecimento de Pradyumna, o poder exibido por Shalva se tornou nulo e vazio. Cada e toda das flechas de Pradyumna tinham uma pena de ouro no fim, e a haste era equipada com uma ponta de ferro afiado. Assim ele atirou vinte e cinco dessas flechas, Pradyumna feriu severamente o comandante chefe de Shalva. Ele então disparou outras cem flechas em direção ao corpo de Shalva. Depois disso, ele perfurou cada e todo soldado com o disparo de uma flecha, e ele matou os pilotos de quadriga com o disparo de dez flechas em cada um deles. Carregadores tais quais os cavalos e elefantes foram mortos com a liberação de três flechas com a mira direcionada para cada um deles. Quando todos presentes no campo de batalha viram esse maravilhoso feito de Pradyumna, os grandes guerreiros dos dois lados começaram a louvar seus atos de cavalheirismo.

Mas ainda assim o aeroplano ocupado por Shalva era muito misterioso. Era tão extraordinário que às vezes parecia ser muitos aeroplanos no céu, e às vezes via-se que não tinha nenhum. Às vezes era visível, e às vezes não era visível, e os heróis da dinastia Yadu ficaram confusos sobre os paradeiros do aeroplano peculiar. Às vezes eles viam o aeroplano no chão, e às vezes o viam a voar no céu. Às vezes viam o aeroplano pousado num pico de montanha, e às vezes era visto a flutuar na água. O aeroplano maravilhoso voava no céu igual a um pirilampo no vento - não era estável nem mesmo por um momento. Mas apesar da manobra misteriosa do aeroplano, os comandantes e os soldados da dinastia Yadu corriam imediatamente em direção a Shalva onde quer que ele estivesse presente com seu aeroplano e soldados. As flechas lançadas pela dinastia Yadu eram tão brilhantes quanto o Sol e tão perigosas quanto as línguas das serpentes. Todos os soldados que lutavam do lado de Shalva ficaram logo extenuados pelo incessante lançamento dessas flechas sobre eles pelos heróis da dinastia Yadu, e o próprio Shalva ficou inconsciente por causa do ataque dessas flechas.

Os soldados e guerreiros em nome de Shalva também eram muito fortes, e os lançamentos de suas flechas também feriam os heróis da dinastia Yadu. Mesmo assim, os Yadus era tão fortes e determinados que não se moveram de suas posições estratégicas. Os heróis da dinastia Yadu eram determinados a ou morrer no campo de batalha ou ganhar vitória. Eles eram confiantes do fato que se morressem na luta alcançariam um planeta celestial, e se saíssem vitoriosos, desfrutariam o mundo. O nome do comandante chefe de Shalva era Dyuman. Ele era muito poderoso, e apesar de perfurado pelas vinte e cinco flechas de Pradyumna, ele de súbito atacou Pradyumna com sua maça aterradora e o golpeou tão forte que Pradyumna ficou inconsciente. Imediatamente houve um brado: "Agora ele está morto! Agora ele está morto"! A força da maça no tórax de Pradyumna foi muito severa, bastante para espatifar o tórax dum homem ordinário.

A quadriga de Pradyumna era dirigida pelo filho de Daruka. De acordo com os princípios militares Védicos, o piloto da quadriga e o herói da quadriga têm que cooperar durante a luta. Assim, é dever do piloto da quadriga cuidar do herói da quadriga durante o perigo e combate precário no campo de batalha. Assim Daruka removeu o corpo de Pradyumna do campo de batalha. Duas horas mais tarde, num local calmo, Pradyumna recobrou sua consciência, e quando ele viu que estava em outro lugar além do campo de batalha, chamou o quadrigário e o condenou:

"Ó, você fez o ato mais abominável! Por que você me moveu do campo de batalha? Meu querido quadrigário, você nunca ouviu que ninguém na nossa família nunca foi removido de um campo de batalha. Nenhum deles deixou o campo de batalha enquanto lutava. Com essa remoção, você me sobrecarregou com uma grande difamação. Será dito que deixei o campo de batalha enquanto o combate acontecia. Meu querido quadrigário, tenho que acusá-lo - você é um covarde e emasculado! Diga-me, como posso ir perante meu tio Balarama e perante meu pai Krishna, o que direi perante Eles? Todos falarão sobre mim e dirão que fugi do local de luta, e se me inquirirem sobre isso, qual será a minha resposta? Minhas cunhadas farão piadas sobre mim com palavras sarcásticas: 'Meu querido herói, como você se tornou tal covarde? Como você se tornou um eunuco desse? Como você se tornou tão baixo aos olhos dos guerreiros que se opuseram a você'? Eu acho, meu querido quadrigário, que você cometeu uma grande ofensa ao me remover do campo de batalha".

O quadrigário de Pradyumna respondeu: "Meu querido Senhor, desejo uma vida longa a você. Eu acho que não fiz nada de errado, pois é dever do quadrigário ajudar o guerreiro quando estiver numa condição precária. Meu querido Senhor, você é completamente competente nas atividades do campo de batalha. É dever mútuo do quadrigário e do guerreiro dar proteção um ao outro numa condição precária. Eu estava completamente ciente dos princípios reguladores do combate, e eu fiz meu dever. O inimigo de repente o golpeou com sua maça tão severamente que você perdeu sua consciência. Você estava numa posição de perigo, rodeado por seus inimigos. Por isso, eu fui obrigado a agir como fiz".

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Setenta e Cinco de Krishna, "A Batalha entre Shalva e Membros da Dinastia Yadu".

    

       

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Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

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Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
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Capítulo 76

A Liberação de Shalva

   

Depois de conversar com seu quadrigário, o filho de Daruka, Pradyumna pôde entender as circunstâncias reais, e assim ele se reanimou ao lavar sua boca e mãos. Ele se armou propriamente com arcos e flechas, e pediu a seu quadrigário para ir perto do local onde o comandante chefe de Shalva estava situado. Durante a curta ausência de Pradyumna do campo de batalha, Dyuman, o comandante chefe de Shalva, tomou posições dos soldados da dinastia Yadu. Por aparecer no campo de batalha, Pradyumna imediatamente o parou e o atingiu com oito flechas. Com quatro flechas ele matou seus quatro cavalos, com uma flecha seu piloto da quadriga e com outra flecha ele cortou o arco dele em dois; com outra flecha, ele cortou sua bandeira em pedaços, e com outra ele separou a cabeça dele de seu corpo.

Nos outros frontes, heróis como Gada, Satyaki e Samba estavam engajados em matar os soldados de Shalva. Os soldados que ficaram com Shalva no aeroplano também foram mortos no combate, e eles caíram no oceano. Cada partido começou a atacar o partido oposto severamente. A batalha era aterrorizante e perigosa e continuou durante vinte e sete dias sem parar.

Enquanto a batalha acontecia na cidade de Dwaraka, Krishna permanecia em Indraprastha junto com os Pandavas e o Rei Yudhisthira. Esse combate com Shalva aconteceu depois que o Rajasuya yajña foi realizado pelo Rei Yudhisthira e depois da matança de Shishupala. Quando o Senhor Krishna entendeu que havia um grande perigo na cidade de Dwaraka, Ele pediu permissão aos membros mais velhos da família Pandava, especialmente Sua tia Kuntidevi, e partiu imediatamente para Dwaraka.

O Senhor Krishna começou a pensar que enquanto Ele chegava à Hastinapura com Balarama depois de matar Shishupala, os homens de Shishupala devem ter atacado Dwaraka. Ao chegar a Dwaraka, o Senhor Krishna viu que toda a cidade estava altamente em perigo. Ele situou Balaramaji num local estratégico para a proteção da cidade, e Ele mesmo em Pessoa pediu a Seu quadrigário Daruka para preparar para partir. Ele disse: "Daruka, por favor, imediatamente leve-Me onde Shalva está situado. Você precisa saber que esse Shalva é um homem muito poderoso, misterioso. Não o tema nem ao mínimo". Logo que recebeu suas ordens do Senhor Krishna, Daruka O fez sentar na quadriga e dirigiu muito rápido em direção a Shalva.

A quadriga do Senhor Krishna era marcada com a bandeira que portava a insígnia de Garuda, e assim que os soldados e guerreiros da dinastia Yadu viram a bandeira, puderam entender que o Senhor Krishna estava no campo de batalha. Nessa hora, quase todos os soldados de Shalva tinham sido mortos, mas quando Shalva viu que Krishna veio ao campo de batalha, ele lançou uma grande, poderosa arma que voou no céu com um som estrondoso como um grande meteoro. Era tão brilhante que o céu inteiro iluminou com sua presença. Mas logo que o Senhor Krishna apareceu, Ele despedaçou a grande arma em centenas de milhares de pedaços por atirar Sua própria flecha.

O Senhor Krishna atingiu Shalva com dezesseis flechas, e com chuvas de flechas, Ele dominou o aeroplano, justamente igual o Sol em céu claro domina o céu inteiro com um número ilimitado de moléculas do brilho solar. Shalva desferiu um soco severo no lado esquerdo de Krishna, onde o Senhor carregava Seu arco, Sharanga, e como resultado, o arco Sharanga caiu da mão de Krishna. Essa queda do arco foi na verdade maravilhosa. Grandes personalidades e semideuses que observavam o combate entre Shalva e Krishna ficaram demais perturbados com isso, e começaram a exclamar: "Ai de mim! Ai de mim"!

Shalva achou que se saiu vitorioso, e com um som estridente começou a falar com o Senhor Krishna como se segue: "Seu patife, Krishna! Você raptou Rukmini à força, mesmo na nossa presença. Você desconcertou meu amigo Shishupala e casou com Rukmini Você mesmo. E na grande assembléia do Rajasuya yajña, enquanto meu amigo Shishupala estava um pouco distraído, Você aproveitou a oportunidade para matá-lo. Todo mundo acha que Você é um grande guerreiro e que ninguém pode conquistá-Lo. Então agora Você terá que provar Sua força. Eu acho que se Você ficar parado na minha frente mais um pouco, com minhas flechas afiadas, eu O mandarei a um lugar de onde Você nunca mais retornará".

A isso o Senhor Krishna respondeu: "Tolo Shalva, você fala sem sentido. Você não sabe que o momento da morte já está sobre sua cabeça. Aqueles que são heróis de verdade não falam muito. Eles provam seu poder com exibição prática de atividades cavalheirescas". Depois de falar isso, o Senhor Krishna, com ira, golpeou Shalva na clavícula com Sua maça tão severamente que ele começou a sangrar internamente e tremer como se fosse entrar em colapso por frio severo. Antes que Krishna fosse capaz de golpeá-lo novamente, entretanto, Shalva ficou invisível por seu poder místico.

Dentro de poucos minutos, um misterioso homem desconhecido veio perante o Senhor Krishna. Gritava alto, ele se prostrou aos pés de lótus do Senhor e disse a Ele: "Porque Você é o mais amado filho de Seu pai Vasudeva, Sua mãe Devaki mandou-me para informar-Lhe da notícia desafortunada que Seu pai foi preso por Shalva e o levou à força. Ele o levou justamente igual um açougueiro sem misericórdia leva embora um animal". Quando o Senhor Krishna ouviu essa notícia desafortunada do homem desconhecido, primeiro Ele ficou altamente perturbado, justamente igual a um homem ordinário. Sua face mostrou sinais de pesar, e Ele começou a gritar num tom lamentável: "Como isso pôde acontecer? Meu irmão Senhor Balarama está lá, e é impossível qualquer um conquistar Balaramaji. Ele está encarregado da cidade de Dwaraka, e Eu sei que Ele está sempre alerta. Como Shalva possivelmente entrou na cidade e capturou Meu pai dessa forma? Quem quer que ele seja, o poder de Shalva é limitado, então como foi possível que ele conquistou o poder de Balaramaji e levou Meu pai, com ele preso como descrito por esse homem? Ai de Mim! Destino é, depois de tudo, muito poderoso".

Enquanto Krishna pensava dessa forma, Shalva trouxe perante Ele em custódia um homem que parecia exatamente Vasudeva, Seu pai. Tudo isso, foram criações do poder místico de Shalva.

Shalva começou a falar com Krishna: "Seu patife, Krishna! Olhe. Este é o Seu pai que O gerou e por cuja misericórdia Você ainda vive. Agora veja como mato Seu pai. Se Você tem algum poder, tente salvá-lo". O prestidigitador místico, Shalva, que falava dessa forma perante o Senhor Krishna, imediatamente cortou a cabeça do falso Vasudeva. Sem hesitação, ele pegou o corpo morto e subiu em seu aeroplano. O Senhor Krishna é a auto-suficiente Suprema Personalidade de Deus, mesmo assim, porque fazia o papel de um ser humano, Ele ficou muito deprimido por um momento, como se Ele tivesse perdido Seu pai realmente. Mas no momento seguinte, Ele pôde entender que a prisão e morte de Seu pai eram demonstrações dos poderes místicos de Shalva que ele aprendeu com o demônio Maya. De volta à consciência clara, Ele pôde ver que não tinha nenhum mensageiro nem nenhuma cabeça de Seu pai, mas que somente Shalva tinha fugido em seu aeroplano, que voava no céu. Então Ele pensou em como matar Shalva.

A reação de Krishna é um ponto controverso entre grandes autoridades e pessoas santificadas. Como pôde Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, o reservatório de todo poder e conhecimento, ficar confuso dessa forma? Lamentação, aflição e confusão são características de pessoas que são almas condicionadas, mas como podem essas coisas afetarem a pessoa do Supremo, que é pleno de conhecimento, poder e opulência? Na realidade, não é mesmo possível que o Senhor Krishna foi enganado pela mágica mística de Shalva. Ele exibia Seu passatempo de atuar no papel de um ser humano. Grandes pessoas santificadas e sábios que estão dedicados ao serviço devocional dos pés de lótus do Senhor Krishna e que alcançaram a maior perfeição da auto-realização transcenderam as confusões do conceito corpóreo de vida. O Senhor Krishna é o objetivo último da vida para essas pessoas santificadas. Como é então que Krishna pôde ser confundido pela mágica mística de Shalva? A conclusão é que a confusão do Senhor Krishna era outra opulência de Sua personalidade suprema.

Quando Shalva achou que Krishna tinha ficado confuso com suas representações místicas, ficou encorajado e começou a atacar Krishna com maior força e energia, e chovia volumes de flechas sobre Ele. Mas o entusiasmo de Shalva pode ser comparado à marcha em velocidade dos insetos para dentro do fogo. O Senhor Krishna, lançou Suas flechas com força incomensurável, atingiu Shalva, cuja armadura, arco e elmo com jóias todos se espatifaram em pedaços. Com um golpe violento da maça de Krishna, o aeroplano maravilhoso de Shalva explodiu em pedaços e caiu no mar. Shalva foi muito cuidadoso, e em vez de cair junto com o aeroplano, ele conseguiu pular na terra. Ele novamente correu em direção ao Senhor Krishna. Quando Shalva correu rápido para atacar Krishna com sua maça, o Senhor Krishna cortou sua mão, que caiu no chão junto com a maça. Finalmente decidiu matá-lo, o Senhor pegou Seu disco maravilhoso, que brilhava tanto quanto o Sol na hora da dissolução da criação material. Quando o Senhor Sri Krishna Se posicionou com Seu disco para matar Shalva, Ele parecia justamente igual ao Sol nascente sobre uma montanha. O Senhor Krishna então cortou a cabeça dele, e a cabeça, com seus brincos e elmo, caiu no chão. Shalva assim foi morto da mesma forma que Vritrasura foi morto por Indra, o Rei do céu.

Quando Shalva foi morto, todos os seus soldados começaram a gritar: "Ai de mim! Ai de mim"! Enquanto os homens de Shalva choravam assim, os semideuses dos planetas celestiais choviam flores sobre Krishna e anunciavam a vitória com o bater de tambores e sopro dos clarins. Nesse mesmo momento, outros amigos de Shishupala, como Dantavakra, apareceram em cena para lutar com Krishna a fim de vingar a morte de Shishupala. Quando Dantavakra apareceu perante o Senhor Krishna, estava extremamente irado.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Setenta e Seis de Krishna, "A Liberação de Shalva".

    

     

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Capítulo 77

A Matança de Dantavakra, Viduratha e Romaharshana

   

Depois da morte de Shishupala, Shalva e Paundra, outro demônio tolo de nome Dantavakra queria matar Krishna a fim de vingar a morte de Seu amigo Shalva. Ele ficou tão perturbado que apareceu pessoalmente no campo de batalha sem armas e munições próprias e sem nem mesmo uma quadriga. Sua única arma era sua grande ira, que era em brasa. Ele carregava somente uma maça em sua mão, mas ele era tão poderoso que quando movia, todo mundo sentia a terra tremer. Quando o Senhor Krishna o viu se aproximando num humor muito heróico, Ele imediatamente desceu de Sua quadriga, pois era regra da etiqueta militar que o combate deveria acontecer somente entre iguais. Por saber que Dantavakra estava sozinho e armado só com uma maça, o Senhor Krishna respondeu similarmente e Se preparou por pegar Sua maça em Sua mão. Quando Krishna apareceu na frente dele, a marcha heróica de Dantavakra foi imediatamente parada justamente igual as grandes e furiosas ondas do oceano são paradas pela praia.

Naquela hora, Dantavakra, que era o Rei de Karusha, posicionou-se firmemente com sua maça e falou para o Senhor Krishna como se segue: "É um grande prazer e uma oportunidade afortunada, Krishna, que encaramos um o outro olho no olho. Meu querido Krishna, depois de tudo, Você é meu primo eterno, e eu não deveria matá-Lo dessa forma, mas infelizmente Você cometeu um grande erro ao matar meu amigo Shalva. Além do mais, Você não está satisfeito em matar meu amigo, porém eu sei que Você quer me matar também. Por causa da Sua determinação, eu tenho que matá-Lo assim vou despedaçá-Lo em pedaços com minha maça. Krishna, apesar de Você ser meu parente, Você é um tolo. Você é nosso maior inimigo, por isso eu tenho que matá-Lo hoje justamente igual uma pessoa remove um furúnculo de seu corpo com uma operação cirúrgica. Eu sou sempre muito grato a meus amigos, e por isso eu me considero em dívida com meu amigo Shalva. Eu só posso liquidar minha dívida com ele por matar Você".

Da mesma forma que um tratador de elefante tenta controlar o animal por espetá-lo com seu tridente, assim Dantavakra tentou controlar Krishna simplesmente por falar palavras duras. Depois de finalizar sua vituperação, ele golpeou Krishna na cabeça com sua maça e fez um som de rugido igual um leão. Apesar de golpeado fortemente pela maça de Dantavakra, Krishna não Se moveu nem um centímetro, nem Ele sentiu nenhuma dor. Com Sua maça Kaumodaki em punho e movendo-a com muita destreza, Krishna golpeou o tórax de Dantavakra tão furiosamente que o coração de Dantavakra partiu em dois. Em resultado, Dantavakra começou a vomitar sangue, seus cabelos ficaram desgrenhados, e ele caiu no chão, com suas mãos e pernas espalhadas. Em apenas poucos minutos, tudo o que restou de Dantavakra era somente um corpo morto no chão. Depois da morte de Dantavakra, justamente igual ao momento da morte de Shishupala, na presença de todas pessoas presentes ali, uma pequena partícula de refulgência espiritual saiu do corpo do demônio e muito maravilhosamente imergiu no corpo do Senhor Krishna.

Dantavakra tinha um irmão chamado Viduratha que ficou transtornado de pesar com a morte de Dantavakra. Por causa da dor e ira, Viduratha respirava muito pesadamente, e justamente para vingar a morte de seu irmão ele também apareceu perante o Senhor Krishna com uma espada e escudo em suas mãos. Ele queria matar Krishna imediatamente. Quando o Senhor Krishna entendeu que Viduratha procurava a oportunidade para atacá-Lo com sua espada, Ele empregou Seu Sudarshana-chakra, Seu disco, que era mais afiado do que uma navalha, e sem demora, Ele cortou a cabeça de Viduratha, com seu elmo e brincos.

Dessa forma, depois de matar Shalva e destruir seu maravilhoso aeroplano e depois de matar Dantavakra e Viduratha, o Senhor Krishna finalmente entrou em Sua cidade, Dwaraka. Não teria sido possível para ninguém mais além de Krishna matar esses grandes heróis, e por isso, todos os semideuses do céu e seres humanos na superfície do globo O glorificavam. Grandes sábios e ascetas, cidadãos dos planetas Siddha e Gandharva, os cidadãos conhecidos como Vidyadharas, Vasuki e Mahanagas, os belos anjos, os habitantes de Pitriloka, os Yakshas, os Kinnaras e os Charanas todos começaram a chover flores sobre Ele e cantar as canções da Sua vitória em grande júbilo. Depois de decorarem a cidade inteira muito festivamente, os cidadãos de Dwaraka fizeram uma grande celebração, e quando o Senhor Krishna passou através da cidade, todos os membros da dinastia Vrishni e os heróis da dinastia Yadu O seguiram com grande respeito. Esses são alguns dos passatempos transcendentais do Senhor Krishna, que é o mestre de todo poder místico e o Senhor de todas as manifestações cósmicas. Aqueles que são tolos, que são iguais a animais, às vezes acham que Krishna é derrotado, mas na realidade Ele é a Suprema Personalidade de Deus, ninguém pode derrotá-Lo. Ele sempre permanece vitorioso sobre todos. Ele é o único Deus, e todos os outros são Seus subservientes cumpridores de ordens.

Certa vez, o Senhor Balarama ouviu que havia um arranjo em andamento para uma luta entre os dois partidos rivais na dinastia Kuru, um liderado por Duryodhana e o outro pelos Pandavas. Ele não gostou da idéia que Ele deveria ser somente um mediador para parar a luta. Assim achou insuportável não tomar uma parte ativa em benefício de qualquer um dos partidos, Ele deixou Dwaraka com a desculpa de visitar vários lugares de peregrinação. Ele primeiro de tudo visitou o local de peregrinação conhecido como Prabhasakshetra. Ele tomou Seu banho lá, e pacificou os brahmanas locais e ofereceu oblações aos semideuses, pitas, grandes sábios e pessoas em geral, de acordo com as cerimônias ritualísticas Védicas. Assim é o método Védico de visitar os locais sagrados. Depois disso, acompanhado por alguns brahmanas respeitáveis, Ele decidiu visitar diferentes lugares na margem do rio Sarasvati. Ele gradualmente visitou lugares tais quais Prithudaka, Bindusara, Tritakupa, Sudharshanatirtha, Vishalatirtha, Brahmatirtha e Chakratirtha. Além desses, Ele também visitou todos os lugares sagrados na margem do rio Sarasvati que corre para o leste. Depois disso, Ele visitou todos os locais sagrados principais na margem do Yamuna e na margem do Ganges. Assim Ele gradualmente chegou ao local sagrado conhecido como Naimisharanya.

Esse lugar sagrado, Naimisharanya, ainda existe na Índia, e nos tempos da antigüidade, era usado especialmente para os encontros de grandes sábios e pessoas santificadas com o objetivo de compreensão da vida espiritual e auto-realização. Quando o Senhor Balarama visitou esse local, havia um grande sacrifício em execução por uma grande assembléia de transcendentalistas. Essas reuniões eram planejadas para durarem milhares de anos. Quando o Senhor Balarama chegou, todos os participantes da reunião - grandes sábios, ascetas, brahmanas e intelectuais eruditos - imediatamente levantaram de seus assentos e Lhe deram as boas vindas com honra e respeito. Alguns Lhe ofereceram respeitosas reverências, e aqueles que eram grandes sábios e brahmanas mais idosos ofereceram-Lhe bênçãos por se levantarem em pé. Depois dessa formalidade, ao Senhor Balarama foi oferecido um assento adequado, e todos os presentes O adoraram. Todos na assembléia levantaram na presença de Balarama porque sabiam que Ele era a Suprema Personalidade de Deus. Educação ou aprendizado significa entender a Suprema Personalidade de Deus, portanto, apesar do Senhor Balarama aparecer na Terra como um kshatriya, todos os brahmanas e sábios se levantaram porque sabiam quem o Senhor Balarama era.

Infelizmente, depois de ser adorado e sentado em Seu lugar, o Senhor Balarama viu Romaharshana, o discípulo de Vyasadeva (a encarnação literária do Supremo), ainda sentado na Vyasasana. Ele não levantou de seu assento nem Lhe ofereceu respeitos. Porque ele estava sentado na Vyasasana, tolamente se achou maior do que o Senhor; por isso ele não desceu de seu assento nem se prostrou perante o Senhor. O Senhor Balarama então considerou a história de Romaharshana: ele nasceu numa família suta ou família mestiça, nascido duma mulher brahmana e homem kshatriya. Assim, apesar de Romaharshana considerar Balarama um kshatriya, não devia ter ficado sentado na cadeira elevada. O Senhor Balarama considerou que Romaharshana, de acordo com sua posição de nascimento, não deveria ter aceitado a posição no assento elevado, porque havia muitos brahmanas e sábios eruditos presentes. Ele também observou que Romaharshana só não desceu do seu assento exaltado, mas nem mesmo se levantou e ofereceu seus respeitos quando Balaramaji entrou na assembléia. O Senhor Balarama não gostou da audácia de Romaharshana, e ficou muito bravo com ele.

Quando uma pessoa está sentada na Vyasasana, geralmente não tem que se levantar para receber uma pessoa particular que entra na assembléia, mas nesse caso a situação é diferente porque o Senhor Baladeva não é um ser humano ordinário. Portanto, apesar de Romaharshana Suta ter sido votado para a Vyasasana por todos os brahmanas, ele deveria ter seguido o comportamento dos outros sábios eruditos e brahmanas que estavam presentes e deveria saber que o Senhor Balarama é a Suprema Personalidade de Deus. Respeitos são sempre devidos a Ele, mesmo se esses respeitos puderem ser evitados no caso de um homem ordinário. Os aparecimentos de Krishna e Balarama são especialmente destinados ao restabelecimento dos princípios religiosos. Como declarado no Bhagavad-gita, o princípio religioso mais elevado é se render à Suprema Personalidade de Deus. Também é confirmado no Srimad Bhagavatam que a perfeição suprema da religiosidade é se dedicar ao serviço devocional do Senhor.

Quando o Senhor Balarama viu que Romaharshana Suta não entendeu o princípio mais elevado da religiosidade apesar de ter estudado todos os Vedas, Ele certamente não pôde suportar a posição dele. Romaharshana Suta recebeu a chance de se tornar um brahmana perfeito, mas por causa de seu mau comportamento no seu relacionamento com a Suprema Personalidade de Deus, seu baixo nascimento foi imediatamente lembrado. Romaharshana Suta foi concedido com a posição de um brahmana, mas ele não nasceu na família de um brahmana; ele nasceu numa família pratiloma. De acordo com o conceito Védico, existem dois tipos de miscigenação familiar hereditária. São chamadas anuloma e pratiloma. Quando um masculino está unido com uma feminina de casta mais baixa, a filiação se chama anuloma; mas quando um masculino se une com uma mulher de casta superior, a filiação se chama pratiloma. Romaharshana Suta pertencia à família pratiloma porque seu pai era um kshatriya e sua mãe uma brahmana. Porque a realização transcendental de Romaharshana não era perfeita, o Senhor Balarama lembrou sua herança pratiloma. A idéia é que a qualquer homem pode ser dada a chance de se tornar um brahmana, mas se ele impropriamente usar a posição de um brahmana sem realização verdadeira, então sua elevação à posição de brahmana não é válida.

Depois de ver a deficiência de realização em Romaharshana Suta, o Senhor Balarama decidiu castigá-lo por ser arrogante. O Senhor Balarama assim disse: "Esse homem é passível de ser condenado com a punição da morte porque, apesar de ter a boa qualificação de ser discípulo do Senhor Vyasadeva e apesar de ter estudado toda a literatura Védica dessa personalidade elevada, ele não foi submisso na presença da Suprema Personalidade de Deus". Como está declarado no Bhagavad-gita, a pessoa que é realmente um brahmana e é muito estudada deve automaticamente se tornar muito amável também. No caso de Romaharshana Suta, apesar de ser muito estudado e recebeu a chance de se tornar um brahmana, ele não se tornou amável. Disso, podemos entender que quando alguém está enfatuado por aquisição material, não pode adquirir o comportamento amável digno de um brahmana. A erudição duma pessoa dessa é tão boa quanto uma jóia preciosa que decora o capelo duma serpente. Apesar da jóia preciosa no capelo, uma serpente ainda é uma serpente e é tão terrível quanto uma serpente ordinária. Se uma pessoa não se torna gentil e humilde, todos os seus estudos dos Vedas e Puranas e seu vasto conhecimento sobre os shastras se torna simplesmente aparência externa, como o traje dum artista teatral que dança no palco. O Senhor Balarama começou a considerar assim: "Eu apareci a fim de castigar pessoas falsas que são internamente impuras e externamente se posam como muito eruditas e religiosas. Minha matança de tais pessoas é própria para pará-las de mais atividade pecaminosa".

O Senhor Balarama evitou tomar parte na Batalha de Kurukshetra, mesmo assim por causa de Sua posição, o restabelecimento dos princípios religiosos era Seu dever primordial. Ao considerar esses pontos, Ele matou Romaharshana Suta simplesmente por atingi-lo com uma palha de kusha, que era nada mais do que uma folha de grama. Se alguém questionar como o Senhor Balarama pôde matar Romaharshana Suta simplesmente por atingi-lo com uma folha de grama kusha, a resposta é dada no Srimad Bhagavatam com o uso da palavra prabhu (mestre). A posição do Senhor é sempre transcendental, e porque Ele é onipotente, Ele pode agir da forma que Ele quiser sem ser obrigado às leis e princípios materiais. Por isso foi possível para Ele matar Romaharshana Suta simplesmente por golpeá-lo com uma folha de grama kusha.

Com a morte de Romaharshana Suta, todos os presentes ficaram muito aflitos, e ouve gritos e choro. Apesar dos brahmanas e sábios presentes lá saberem que o Senhor Balarama é a Suprema Personalidade de Deus, eles não hesitaram em protestar contra a ação do Senhor, e eles submeteram humildemente: "Nosso querido Senhor, nós achamos que Sua ação não está na linha dos princípios religiosos. Querido Senhor Yadunandana, podemos informá-Lo que nós brahmanas empossamos Romaharshana Suta na posição exaltada para a duração deste sacrifício. Ele estava sentado na Vyasasana por nossa eleição, e quando alguém está sentado na Vyasasana, é impróprio que ele levante para receber uma pessoa. Mais ainda, nós concedemos a Romaharshana Suta uma duração de vida sem perturbação. Nessas circunstâncias, desde que Sua Divindade o matou sem saber todos os fatos, nós achamos que Sua ação foi igual à matança de um brahmana. Querido Senhor, libertador de todas as almas caídas, nós sabemos certamente que Você é o conhecedor de todos os princípios Védicos. Você é o mestre de todos os poderes místicos; por isso as leis Védicas não podem ser aplicadas à Sua personalidade. Mas nós pedimos que Você mostre Sua misericórdia sem causa para outros por reparar essa matança de Romaharshana Suta. Nós não queremos, entretanto, sugerir que tipo de ato Você deve executar para reparar a morte dele; nós simplesmente sugerimos que algum método de reparação seja adotado por Você para que outros possam seguir Sua ação. O que é feito por uma grande personalidade é seguido pelo homem ordinário".

O Senhor respondeu: "Sim, Eu preciso reparar essa ação, que pode ter sido própria para Mim, mas é imprópria para outros; portanto, Eu acho que é Meu dever executar um ato adequado de reparação regularizado nas escrituras autorizadas. Simultaneamente Eu também posso dar a esse Romaharshana Suta vida novamente, com um período de longa duração, força suficiente, e pleno poder dos sentidos. Não apenas isso, se vocês desejarem, ficarei feliz em conceder a ele qualquer coisa mais que vocês possam pedir. Eu ficarei muito feliz de conceder a vocês todas essas bênçãos a fim de satisfazer seus desejos".

Essa declaração do Senhor Balarama definitivamente confirma que a Suprema Personalidade de Deus é livre para agir de qualquer forma. Apesar de poder ser considerada Sua matança de Romaharshana Suta imprópria, Ele podia imediatamente reverter a ação com ganho maior para todos. Portanto, ninguém deve imitar as ações da Suprema Personalidade de Deus; deve-se simplesmente seguir as instruções do Senhor. Todos os grandes sábios eruditos presentes realizaram que apesar de consideraram a ação do Senhor Balarama imprópria, o Senhor foi capaz de imediatamente compensar com maiores ganhos. Sem querer depreciar a missão do Senhor em matar Romaharshana Suta, todos eles rogaram: "Nosso querido Senhor, o uso incomum de Sua arma kusha para matar Romaharshana Suta deve ficar assim; por causa de Seu desejo de matá-lo, ele não deve ser trazido de volta à vida novamente. Ao mesmo tempo, Sua Divindade deve lembrar que nós sábios e brahmanas voluntariamente demos a ele vida longa; portanto, essa bênção não deve ser nulificada". Assim a solicitação de todos os brahmanas eruditos na assembléia foi ambígua porque eles queriam manter intacta a bênção dada por eles que Romaharshana Suta continuaria a viver até o fim do grande sacrifício, mas ao mesmo tempo eles não queriam nulificar Balarama matá-lo.

A Suprema Personalidade de Deus então resolveu o problema de uma maneira adequada à Sua posição exaltada, e disse: "Porque o filho é produzido do corpo do pai, é regulamento Védico que o filho é o representante do pai. Por isso Eu digo que Ugrashrava Suta, o filho de Romaharshana Suta, deve daqui por diante tomar a posição de seu pai e continuar os discursos sobre os Puranas, e porque vocês queriam que Romaharshana tivesse uma longa duração de vida, essa bênção eu transfiro para seu filho. O filho, Ugrashrava, assim terá todas as facilidades que vocês ofereceram - longa duração de vida e um corpo bom e saudável, sem nenhuma perturbação e força plena de todos os sentidos".

O Senhor Balarama então implorou aos sábios e brahmanas que à parte da bênção oferecida a Romaharshana, eles deviam pedir a Ele qualquer outra bênção, Ele estaria pronto a satisfazê-la imediatamente. O Senhor então Se posicionou na posição de um kshatriya ordinário e informou os sábios que Ele não sabia de que forma reparar Sua matança de Romaharshana, mas qualquer coisa que eles sugerissem, Ele ficaria feliz de aceitar.

Os brahmanas puderam entender o propósito do Senhor, e assim, eles sugeriram que Ele reparasse Sua ação duma forma que fosse benéfica para eles. Eles disseram: "Meu querido Senhor, existe um demônio de nome Balvala. Ele é o filho de Ilvala, mas ele é um demônio muito poderoso, e ele visita este lugar sagrado do sacrifício a cada quinzena na lua cheia e dias sem luar e cria uma grande perturbação para o cumprimento de nossos deveres no sacrifício. Ó descendente da família Dasharha, todos nós pedimos a Você que mate esse demônio. Pensamos que se Você bondosamente matá-lo, isso será o Seu reparo a nosso favor. O demônio ocasionalmente vem aqui e profusamente atira em cima de nós substâncias contaminadas e impuras como pus, sangue, fezes, urina e vinho, e ele polui esse lugar sagrado com chuvas dessas coisas imundas sobre nós. Depois de matar Balvala, Você pode continuar a excursionar por todos esses locais sagrados de peregrinação por doze meses, e assim Você ficará livre de toda a contaminação. Essa é nossa prescrição".

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Setenta e Sete de Krishna, "A Matança de Dantavakra, Viduratha e Romaharshana".

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 78

A Liberação de Balvala, e o
Senhor Balarama Peregrina pelos Lugares Sagrados

   

O Senhor Balarama Se preparou para encontrar o demônio Balvala. Na hora que o demônio geralmente atacava o lugar sagrado, apareceu uma grande tempestade de granizo, o céu inteiro ficou coberto com poeira e a atmosfera ficou impregnada com um cheiro fétido. Justamente depois disso, o maldoso demônio Balvala começou a jogar torrentes de fezes e urina e outras substâncias impuras na arena do sacrifício. Depois desse ataque violento, o demônio apareceu em pessoa com um grande tridente em sua mão. Ele era uma pessoa gigantesca, e seu corpo preto era igual a uma grande massa de carbono. Seu cabelo, sua barba e bigode pareciam avermelhados, igual ao cobre, e por causa de sua grande barba e bigode, sua boca parecia ser muito perigosa e feroz. Assim que Ele viu o demônio, o Senhor Balarama preparou para atacá-lo. Ele primeiro começou a considerar como poderia estraçalhar o grande demônio em pedaços. O Senhor Balarama chamou Seu arado e maça, e eles apareceram imediatamente perante Ele. O demônio Balvala voava no céu, e na primeira oportunidade o Senhor Balarama o arrastou para baixo com Seu arado e ferozmente esmagou a cabeça do demônio com Sua maça. Com o golpe do Senhor Balarama, a testa do demônio ficou fraturada. Houve um fluxo profuso de sangue que saia da testa, e ele começou a gritar alto. Dessa forma o demônio, que foi uma perturbação tão grande para os brahmanas piedosos, caiu no chão. A queda dele foi igual a uma grande montanha com o pico vermelho oxidado que foi atingida por um raio e despedaçada no chão.

Os habitantes de Naimisharanya, sábios eruditos e brahmanas, ficaram altamente felizes ao ver isso, e eles ofereceram suas preces respeitosas ao Senhor Balarama. Eles ofereceram suas sinceras bênçãos sobre o Senhor, e todos concordaram que a tentativa do Senhor Balarama em fazer qualquer coisa nunca será uma falha. Os sábios e brahmanas então realizaram uma cerimônia de banho do Senhor Balarama, da mesma forma que o Rei Indra é banhado pelos semideuses quando sai vitorioso sobre os demônios. Os brahmanas e sábios honraram o Senhor Balarama por presenteá-Lo com vestimentas novas e ornamentos de primeira classe e o colar de flores de lótus da vitória, o reservatório de toda beleza, que nunca deve secar, pois é de existência eterna.

Depois desse incidente, o Senhor Balarama pediu permissão aos brahmanas reunidos em Naimisharanya e, acompanhado por outros brahmanas, foi para a margem do rio Kaushiki. Depois de tomar banho nesse lugar sagrado, Ele procedeu em direção ao rio Sarayu e visitou a fonte do rio. Ele começou a viajar na margem do rio Sarayu, e Ele gradualmente chegou a Prayaga, onde há a confluência dos três rios, o Ganges, Yamuna e Sarasvati. Ali, Ele também regularmente tomou Seu banho, adorou os templos de Deus locais e, como é determinado na literatura Védica, ofereceu oblações aos antepassados e sábios. Ele gradualmente chegou ao ashrama do sábio Pulaha e de lá, foi para Gandaki no rio Gomati. Depois disso, Ele tomou Seu banho no rio Vipasha. Depois gradualmente Ele veio até a margem do rio Shona. (O rio Shona ainda flui como um dos grandes rios da província Behar). Ele também tomou Seu banho lá e executou as cerimônias ritualísticas Védicas. Ele continuou Suas jornadas e gradualmente veio até a cidade de peregrinação Gaya, onde há um célebre templo de Vishnu. De acordo com o conselho de Seu pai Vasudeva, Ele ofereceu oblações aos antepassados nesse templo de Vishnu. De lá, Ele viajou para o delta do Ganges, onde o sagrado rio Ganges se mistura com a Baía de Bengala. Esse local sagrado é conhecido como Gangasagara, e no fim de Janeiro todo ano, ainda acontece uma grande assembléia de pessoas santificadas e homens piedosos, justamente como existe uma assembléia de pessoas santificadas em Prayaga todo ano que se chama Feira Magh Mela.

Depois de terminar Seu banho e cerimônias ritualísticas em Gangasagara, o Senhor Balarama procedeu em direção à montanha conhecida como Mahendra Parvata. Nesse local, Ele encontrou Parashurama, a encarnação do Senhor Krishna, e Ele lhe ofereceu respeito por Se prostrar perante ele. Depois disso, Ele gradualmente voltou em direção à Índia do Sul e visitou as margens do rio Godavari. Depois de tomar Seu banho no rio Godavari e executar as cerimônias ritualísticas necessárias, Ele gradualmente visitou os outros rios - o Vena, Pampa e Bhimarathi. Na margem do rio Bhimarathi há uma deidade chamada Swami Karttikeya. Depois de visitar Karttikeya, o Senhor Balarama procedeu gradualmente para Shailapura, uma cidade de peregrinação na Província de Maharashtra. Shailapura é um dos maiores distritos na Província Maharashtra. Ele então procedeu gradualmente em direção a Dravidadesha. O Sul da Índia é divido em cinco partes, chamado Pañchadravida. O Norte da Índia também é dividido em cinco partes, chamado Pañchagaura. Todos os acharyas importantes da era moderna, chamados Shankaracharya, Ramanujacharya, Madhwacharya, Vishnuswami, e Nimbarka, vieram em pessoa nessas Províncias Dravida. O Senhor Chaitanya apareceu na Bengala, que é parte das cinco Gauradeshas.

O local de peregrinação mais importante da Índia do Sul, ou Dravida, é Venkatachala, comumente conhecido como Balaji. Depois de visitar esse lugar, o Senhor Balarama procedeu em direção a Vishnukañchi, e de lá, Ele procedeu na margem do Kaveri. Ele tomou Seu banho no rio Kaveri; então Ele gradualmente chegou a Rangakshetra. O maior templo do mundo está em Rangakshetra, e a Deidade de Vishnu de lá é celebrada como Ranganatha. Um templo similar de Ranganatha está em Vrindavana, apesar de não tão grande como o templo em Rangakshetra.

Enquanto ia para Vishnukañchi, o Senhor Balarama também visitou Shivakañchi. Depois de visitar Rangakshetra, Ele gradualmente procedeu em direção a Mathura, comumente conhecida como a Mathura do Sul da Índia. Depois de visitar esse lugar, Ele gradualmente procedeu em direção a Setubandha. Setubandha é o local onde o Senhor Ramachandra construiu uma ponte de pedra da Índia até Lanka (Ceilão). Nesse local sagrado particularmente, o Senhor Balarama distribuiu 10 mil vacas aos sacerdotes brahmanas locais. É o costume Védico que quando um visitante rico vai a qualquer lugar sagrado de peregrinação, ele dá em caridade aos sacerdotes locais presentes de casas, vacas, ornamentos e vestimentas. Esse sistema de visitar locais sagrados de peregrinação e prover os sacerdotes brahmanas locais com todas as necessidades da vida se deteriorou grandemente nesta era de Kali. A seção mais rica da população, por causa da sua degradação da cultura Védica, não se atrai mais por esses lugares de peregrinação, e os sacerdotes brahmanas que dependem desses visitantes também deterioraram seu dever profissional de ajudar os visitantes. Esses sacerdotes brahmanas nos locais de peregrinação são chamados panda ou pandit. Isso significa que eles anteriormente eram brahmanas muito eruditos e costumavam guiar os visitantes em todos os detalhes do propósito de irem lá, e assim tanto os visitantes quanto os sacerdotes eram beneficiados por cooperação mútua.

Está claro na descrição do Srimad Bhagavatam que quando o Senhor Balarama visitava os diferentes lugares de peregrinação, Ele propriamente seguia o sistema Védico. Depois de distribuir vacas em Setubandha, o Senhor Balarama procedeu em direção aos rios Kritamala e Tamraparni. Esses dois rios são celebrados como sagrados, e o Senhor Balarama Se banhou nos dois. Ele então procedeu em direção ao Monte Malaya. Esse Monte Malaya é muito grande, e é dito que é um dos sete picos chamados Montes Malaya. O grande sábio Agastya costumava viver lá, e o Senhor Balarama o visitou e ofereceu Seus respeitos por Se prostrar perante ele. Depois de tomar as bênçãos do sábio, o Senhor Balarama, com a permissão do sábio, procedeu em direção ao Oceano Indico.

No ponto do cabo há um grande templo da deusa Durga onde ela é conhecida como Kanyakumari. Esse templo de Kanyakumari também foi visitado pelo Senhor Ramachandra, e por isso deve-se entender que o templo existe há milhões de anos. De lá, o Senhor Balarama foi visitar a cidade de peregrinação conhecida como Phalgunatirtha, que fica na costa do Oceano Indico, ou o Oceano do Sul. Phalgunatirtha é celebrada porque o Senhor Vishnu em Sua encarnação de Ananta está deitado lá. De Phalgunatirtha, o Senhor Balarama foi adiante visitar outro ponto de peregrinação conhecido como Panchapsarasa. Lá também Ele Se banhou de acordo com os princípios reguladores e observou as cerimônias ritualísticas. Esse lugar também é celebrado como um santuário do Senhor Vishnu; assim o Senhor Balarama distribuiu dez mil vacas aos sacerdotes locais.

Do Cabo Comarin, o Senhor Balarama voltou em direção a Kerala. O estado de Kerala ainda existe no Sul da Índia com o nome de Kerala do Sul. Depois de visitar esse lugar, Ele veio até Gokarnatirtha, onde o Senhor Shiva é constantemente adorado. Balarama então visitou o templo de Aryadevi, que é completamente rodeado por água. Dessa ilha, Ele foi a um lugar conhecido como Shurparaka. Depois disso, Ele Se banhou nos rios conhecidos como Tapi, Payoshni e Nirvindhya, e Ele veio até a floresta conhecida como Dandakaranya. Essa é a mesma floresta Dandakaranya onde o Senhor Ramachandra viveu enquanto estava exilado. O Senhor Balarama em seguida veio até a margem do rio Narmada, o maior rio da Índia central. Na margem desse Narmada sagrado há um local de peregrinação chamado Mahishmati Puri. Depois de Se banhar ali, de acordo com os princípios reguladores, o Senhor Balarama retornou a Prabhasatirtha, de onde Ele começou Sua jornada.

Quando o Senhor Balarama retornou a Prabhasatirtha, Ele ouviu dos brahmanas que a maioria dos kshatriyas na batalha de Kurukshetra foi morta. Balarama ficou aliviado em ouvir que a carga do mundo foi reduzida. O Senhor Krishna e Balarama apareceram nesta Terra para minimizarem a carga do poder militar criado por reis kshatriyas ambiciosos. Assim é o caminho da vida materialista: não satisfeitas com as necessidades absolutas da vida, pessoas ambiciosamente criam demandas extraordinárias, e seus desejos ilegais são impedidos pelas leis da natureza ou pelas leis de Deus, que aparecem como fome, guerra, epidemias e catástrofes similares. O Senhor Balarama ouviu que apesar da maioria dos kshatriyas estar morta, os Kurus ainda estavam engajados no combate. Assim Ele retornou ao campo de batalha justamente no dia em que Bhimasena e Duryodhana estavam engajados num duelo pessoal. Como benquerente dos dois, o Senhor Balarama quis pará-los, mas eles não pararam.

Quando o Senhor Balarama apareceu em cena, o Rei Yudhisthira e seus irmãos mais novos, Nakula, Sahadeva, Senhor Krishna, Arjuna, imediatamente ofereceram a Ele suas respeitosas reverências, mas eles não falaram nada. A razão de eles estarem silenciosos era que o Senhor Balarama era um pouco afetuoso em relação a Duryodhana, e Duryodhana aprendeu de Balaramaji a arte de lutar com uma maça. Assim, quando a luta acontecia, o Rei Yudhisthira e os outros acharam que Balarama pudesse ir lá para dizer alguma coisa a favor de Duryodhana, e eles por isso permaneceram em silêncio. Ambos Duryodhana e Bhimasena estavam muito entusiasmados no combate com as maças, e no meio de grandes audiências, cada um era muito ágil na tentativa de golpear o outro, e enquanto tentavam fazer isso, eles pareciam dançar. Mas apesar de parecerem dançar, estava claro que ambos estavam muito irados.

O Senhor Balarama, queria parar a luta, assim disse: "Meu querido Rei Duryodhana e Bhimasena, Eu sei que ambos vocês são grandes lutadores e são bem conhecidos no mundo como grandes heróis, mas ainda assim Eu penso que Bhimasena é superior a Duryodhana em força física. Por outro lado, Duryodhana é superior na arte de lutar com uma maça. Por levar isso em consideração, Minha opinião é que nenhum de vocês é inferior ao outro em combate. Sob essas circunstâncias, há uma chance muito pequena de um de vocês ser derrotado pelo outro. Portanto Eu rogo a vocês para não desperdiçarem seu tempo em combate dessa forma. Eu quero que vocês parem essa luta desnecessária".

A boa instrução dada pelo Senhor Balarama para ambos Bhimasena e Duryodhana foi intencionada para igual benefício deles. Mas eles estavam tão fixados na ira um contra o outro que eles só podiam lembrar sua inimizade pessoal de longo tempo. Cada um pensava em matar o outro somente, e eles não deram muita importância à instrução do Senhor Balarama. Ambos então ficaram iguais a homens enlouquecidos em lembrar as fortes acusações e mau comportamento que eles trocaram um com o outro. O Senhor Balarama, não estava ansioso para ir além sobre aquela matéria. Assim, em vez de ficar, Ele decidiu retornar à cidade de Dwaraka.

Quando Ele retornou a Dwaraka, Ele foi recebido com grande júbilo por familiares e amigos, liderados pelo Rei Ugrasena e outras pessoas idosas; todos eles vieram adiante para saudar com boas-vindas o Senhor Balarama. Depois disso, Ele novamente foi ao local de peregrinação em Naimisharanya, e os sábios, pessoas santificadas e brahmanas todos O receberam de pé. Eles entenderam que o Senhor Balarama, apesar de kshatriya, agora estava aposentado do ofício de combate. Os brahmanas e sábios, que eram sempre pela paz e tranquilidade, estavam muito satisfeitos com isso. Todos eles abraçaram Balarama com grande afeição e o induziram a executar vários tipos de sacrifícios naquele ponto sagrado de Naimisharanya. Na realidade, o Senhor Balarama não tem nenhuma obrigação de executar sacrifícios recomendados para seres humanos ordinários; Ele é a Suprema Personalidade de Deus, e portanto Ele Mesmo é o desfrutador de todos esses sacrifícios. Assim, Sua ação exemplar em executar sacrifícios era apenas para dar uma lição ao homem comum para mostrar como alguém deve obedecer à lei dos Vedas.

A Suprema Personalidade de Deus Balarama instruiu os sábios e pessoas santificadas em Naimisharanya sobre o assunto da matéria do relacionamento dos seres vivos com esta manifestação cósmica, sobre como se deve aceitar este universo inteiro e como se deve relacionar com o cosmos a fim de alcançar o objetivo supremo da perfeição, o entendimento de que a manifestação cósmica inteira repousa na Suprema Personalidade de Deus e que a Suprema Personalidade de Deus também é todo-penetrante, mesmo dentro do menor átomo, pela função de Seu aspecto Paramatma.

O Senhor Balarama então tomou o banho avabhritha que é aceito depois de realizar execuções de sacrifício. Depois de tomar Seu banho, Ele Se vestiu com roupas novas de seda e Se decorou com belas jóias preciosas entre Seus familiares e amigos. Ele parecia como uma lua cheia brilhante entre as luminárias no céu. O Senhor Balarama é a Personalidade de Deus Ananta em Pessoa; por isso Ele está além do escopo de entendimento da mente, inteligência ou corpo. Ele descendeu exatamente igual a um ser humano e Se comportou dessa forma para Seu próprio propósito; nós só podemos explicar Suas atividades como os passatempos do Senhor. Ninguém nem mesmo pode estimar a extensão das demonstrações ilimitadas de Seus passatempos porque Ele é todo-poderoso. O Senhor Balarama é o Vishnu original; por isso qualquer um que lembre esses passatempos do Senhor Balarama na manhã e na tarde, certamente se torna um grande devoto da Suprema Personalidade de Deus, e assim sua vida se tornará bem sucedida em todos os aspectos.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Setenta e Oito de Krishna, "A Liberação de Balvala, e o Senhor Balarama Peregrina pelos Lugares Sagrados".

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 79

O Encontro do Senhor Krishna com Sudama Brahmana

   

O Rei Parikshit ouvia as narrações dos passatempos do Senhor Krishna e Senhor Balarama de Shukadeva Goswami. Esses passatempos são todos transcendentalmente agradáveis de ouvir, e Maharaja Parikshit se dirigiu a Shukadeva Goswami como se segue: "Meu querido senhor, a Suprema Personalidade de Deus é quem concede tanto liberação quanto amor de Deus simultaneamente. Qualquer um que se torna um devoto do Senhor automaticamente alcança liberação sem ter que fazer uma tentativa separada. O Senhor é ilimitado, e assim, Seus passatempos e atividades para criação, manutenção e destruição da manifestação cósmica inteira são ilimitados. Eu por isso desejo ouvir sobre Seus outros passatempos os quais você pode não ter falado ainda. Meu querido mestre, as almas condicionadas dentro deste mundo material são frustradas na procura do prazer da felicidade derivada da satisfação sensual. Tais desejos por desfrute material sempre perfuram o coração das almas condicionadas. Mas eu estou realmente na experiência como os tópicos transcendentais dos passatempos do Senhor Krishna podem aliviar a pessoa do estado de ser afetada por tais atividades materiais de prazer sensual. Eu penso que nenhuma pessoa inteligente pode rejeitar esse método de ouvir os passatempos transcendentais do Senhor repetidamente; simplesmente por ouvir, a pessoa pode permanecer sempre mergulhada no prazer transcendental. Assim a pessoa não ficará atraída ao prazer sensual material".

Nessa declaração, Maharaja Parikshit usou duas palavras importantes: vishannah e visheshajñah: vishannah significa "melancólico". As pessoas materialistas inventam muitas formas e meios para se tornarem plenamente satisfeitas, mas na realidade elas permanecem melancólicas. O ponto pode ser levantado que às vezes aqueles que são transcendentalistas permanecem melancólicos. Parikshit Maharaja usou, entretanto, a palavra visheshajñah. Existem dois tipos de transcendentalistas, chamados os impersonalistas e os personalistas. Visheshajñah se refere aos personalistas, que estão interessados em variedade transcendental. Os devotos ficam em júbilo ao ouvirem as descrições das atividades pessoais do Supremo Senhor, enquanto os impersonalistas, que estão mais na realidade atraídos ao aspecto impessoal do Senhor, são só atraídos superficialmente pelas atividades pessoais do Senhor. Assim, apesar de entrarem em contato com os passatempos do Senhor, os impersonalistas não realizam plenamente o benefício a ser derivado, e por isso eles permanecem em exatamente a mesma posição melancólica, por causa de atividade lucrativa, com os materialistas.

O Rei Parikshit continuou: "A capacidade de falar pode ser perfeita somente por descrever as qualidades transcendentais do Senhor. A capacidade de trabalhar com as próprias mãos pode ser bem sucedida somente quando a pessoa se dedica ao serviço do Senhor com essas mãos. Similarmente, a mente da pessoa pode ser acalmada somente quando ela simplesmente pensa sobre Krishna em Consciência de Krishna plena. Isso não significa que a pessoa tem que ser muito introspectiva, mas simplesmente tem que entender que Krishna, a Verdade Absoluta, é todo-penetrante, pelo Seu aspecto localizado como Paramatma. Se simplesmente a pessoa puder pensar que Krishna, como Paramatma, está em toda parte, mesmo dentro do átomo, assim a pessoa pode tornar perfeita a função de pensar, sentir e desejar da sua mente. O devoto perfeito não enxerga o mundo material como ele aparece para os olhos materiais, e sim ele vê em toda parte a presença de seu Senhor adorável em Seu aspecto Paramatma".

Maharaja Parikshit continuou a dizer que a função do ouvido pode ser perfeita simplesmente pela dedicação em ouvir as atividades transcendentais do Senhor. Ele disse mais ainda que a função da cabeça pode ser plenamente utilizada quando a cabeça está dedicada a se prostrar perante o Senhor e Seu representante. Que o Senhor está representado dentro do coração de todos é um fato, e portanto os devotos altamente avançados oferecem seus respeitos a cada ser vivo, pois consideram o corpo como um templo do Senhor. Mas não é possível para todos os homens virem a esse estágio de vida imediatamente, porque esse estágio é para o devoto de primeira classe. O devoto de segunda classe pode considerar os Vaishnavas, ou devotos do Senhor, como representantes de Krishna, e o devoto que é justamente iniciante, o neófito ou devoto de terceira classe, pode prostrar sua cabeça perante a Deidade no templo e perante o mestre espiritual, que é a manifestação direta da Suprema Personalidade de Deus. No estágio neófito, no estágio intermediário, ou no plenamente avançado estágio perfeito, a pessoa pode tornar a função da cabeça perfeita por se prostrar perante o Senhor ou Seu representante. Similarmente, ela pode tornar perfeita a função dos olhos por ver o Senhor e Seu representante. Dessa forma, cada um pode elevar as funções das diferentes partes do seu corpo ao estágio de perfeição mais elevado simplesmente por dedicá-las no serviço do Senhor ou Seu representante. Se alguém é capaz de fazer nada mais, ele pode simplesmente se prostrar perante o Senhor e Seu representante e beber charanamrita, a água que lavou os pés de lótus do Senhor ou Seu devoto.

Ao ouvir essas declarações de Maharaja Parikshit, Shukadeva Goswami ficou dominado pelo êxtase devocional porque o Rei Parikshit avançou na compreensão da filosofia Vaishnava. Shukadeva Goswami já estava dedicado a descrever as atividades do Senhor, e quando foi perguntado por Maharaja Parikshit para descrevê-las mais ainda, ele continuou com grande prazer a narrar o Srimad Bhagavatam.

Havia um brahmana muito bom amigo do Senhor Krishna. Por ser um brahmana perfeito, ele era muito elevado em conhecimento transcendental, e por causa do seu conhecimento avançado, ele não era nenhum pouco apegado a desfrute material. Por isso ele era muito calmo e alcançou o controle supremo sobre seus sentidos. Isso significa que o brahmana era um devoto perfeito porque a menos que alguém seja um devoto perfeito, não pode alcançar o padrão mais elevado de conhecimento. Está afirmado no Bhagavad-gita que uma pessoa que chegou ao ponto de perfeição do conhecimento se rende à Suprema Personalidade de Deus. Em outras palavras, qualquer pessoa que rendeu sua vida ao serviço da Suprema Personalidade de Deus chegou ao ponto do conhecimento perfeito. O resultado do conhecimento perfeito é que a pessoa se torna despegada do modo de vida materialista. Esse desapego significa completo controle dos sentidos, que estão sempre atraídos a desfrute material. Os sentidos do devoto se tornam purificados, e nesse estágio os sentidos são dedicados ao serviço do Senhor. Esse é o campo completo do serviço devocional.

Apesar do brahmana amigo do Senhor Krishna ser um chefe de família, ele não estava ocupado em acumular riqueza para uma vida muito confortável; assim ele estava satisfeito com o ganho que automaticamente vinha a ele de acordo com seu destino. Isso é o sinal de conhecimento perfeito. Um homem que está em conhecimento perfeito sabe que alguém não pode ser mais feliz do que está destinado a ser. Neste mundo material, todo mundo está destinado a sofrer uma certa quantidade de tormento e desfrutar uma certa quantidade de felicidade. A quantidade de felicidade e tormento já é predestinada para todo ser vivo. Ninguém pode incrementar ou diminuir a felicidade do modo de vida materialista. O brahmana, portanto, não se esforçava por mais felicidade material, e sim usava seu tempo para avanço na Consciência de Krishna. Externamente, ele parecia muito pobre porque não tinha roupa rica e não podia prover roupas muito ricas para sua esposa, e porque a condição material deles não era muito opulenta, eles nem mesmo comiam o suficiente, assim tanto ele quanto sua esposa pareciam muito magros. A esposa não estava muito ansiosa pelo seu conforto pessoal, mas ela ficava muito preocupada com seu esposo, que era um brahmana tão piedoso. Ela tremia devido à sua saúde fraca, e apesar dela não gostar de ditar a seu marido, falou como se segue:

"Meu querido senhor, eu sei que o Senhor Krishna, que é o esposo da deusa da fortuna, é seu amigo pessoal. Você também é um devoto do Senhor Krishna, e Ele está sempre pronto para ajudar Seu devoto. Mesmo se você acha que não presta nenhum serviço devocional para o Senhor, mesmo assim você é rendido a Ele, e o Senhor é o protetor da alma rendida. Mais ainda, eu sei que o Senhor Krishna é a personalidade ideal da cultura Védica. Ele está sempre a favor da cultura brahmana e é muito bom para os brahmanas qualificados. Você é a pessoa mais afortunada porque você tem seu amigo a Suprema Personalidade de Deus. O Senhor Krishna é o único abrigo para personalidades iguais a você porque você é plenamente rendido a Ele. Você é santificado, erudito e plenamente em controle de seus sentidos. Sob as circunstâncias, o Senhor Krishna é seu único abrigo. Por favor, portanto, vá até Ele. Eu estou certa de que Ele entenderá imediatamente sua posição empobrecida. Você é um chefe de família, por isso sem nenhum dinheiro você está numa condição miserável. Mas logo que Ele entender sua posição, ele dará a você riquezas suficientes para que você possa viver confortavelmente. O Senhor Krishna é agora o Rei das dinastias Bhoja, Vrishni e Andhaka, e eu ouvi que Ele nunca deixa Sua cidade capital, Dwaraka. Ele vive lá sem obrigações exteriores. Ele é tão bom e liberal que Ele imediatamente dá tudo, até mesmo Seu eu pessoal, para qualquer pessoa que se rende a Ele. Quando Ele está preparado para dar a Si mesmo pessoalmente a Seu devoto, então não é nada espantoso dar algumas riquezas materiais. Claro, Ele não dá muita riqueza material a Seu devoto se o devoto não for muito fixo, mas eu penso que no seu caso Ele sabe perfeitamente bem o quanto você é fixo no serviço devocional. Por isso Ele não hesitará em conceder-lhe algum benefício material para as necessidades básicas da vida".

Dessa forma, a esposa do brahmana repetidamente pediu, com grande humildade e submissão, que ele fosse até o Senhor Krishna. O brahmana achava que não havia necessidade de pedir nenhum benefício material para o Senhor Sri Krishna, mas ele foi persuadido pelos pedidos repetidos de sua esposa. Mais ainda, ele pensou, "Se eu for lá, serei capaz de ver o Senhor pessoalmente. Essa será uma grande oportunidade, mesmo se eu não pedir nenhum benefício material a Ele". Quando ele decidiu ir até Krishna, ele perguntou à sua esposa se tinha alguma coisa em casa que ele pudesse oferecer a Krishna, porque ele tinha que levar algum presente para seu amigo. A esposa imediatamente coletou quatro palmas da mão cheia de arroz quebrado de suas amigas vizinhas e o embrulhou num pano pequeno, igual a um lenço, e o deu a seu esposo para presentear Krishna. Sem esperar nenhum pouco mais, o brahmana pegou o presente e começou a proceder em direção a Dwaraka para ver o seu Senhor. Enquanto ele procedia em direção a Dwaraka, estava absorto no pensamento como ele poderia ser capaz de ver o Senhor Krishna. Ele não tinha nenhum pensamento dentro do seu coração além de Krishna.

É claro que era muito difícil alcançar os palácios dos reis da dinastia Yadu, mas os brahmanas tinham permissão para visitar, e quando o brahmana amigo do Senhor Krishna foi lá, ele, junto com outros brahmanas, teve que passar através de três acampamentos militares. Em cada acampamento militar havia portais muito grandes, e ele também teve que passar através deles. Depois dos portais e dos acampamentos, havia dezesseis mil grandes palácios, alojamentos residenciais das dezesseis mil rainhas do Senhor Krishna. O brahmana entrou num palácio magnificamente decorado. Quando entrou nesse belo palácio, ele sentiu como se estivesse a nadar no oceano de prazer transcendental. Ele se sentiu constantemente a mergulhar e a boiar nesse oceano transcendental.

Nessa hora, o Senhor Krishna estava sentado no leito da Rainha Rukmini. Mesmo de uma distância considerável, Ele pôde ver o brahmana chegar, e Ele pôde reconhecê-lo como Seu amigo. O Senhor Krishna imediatamente deixou Seu assento e veio adiante para receber Seu amigo brahmana e, ao alcançá-lo, abraçou o brahmana com Seus dois braços. O Senhor Krishna é o reservatório de todo prazer transcendental, e mesmo assim Ele em Pessoa sentiu grande prazer ao abraçar o brahmana pobre porque Ele Se encontrava com Seu muito querido amigo. O Senhor Krishna o fez sentar em Seu próprio leito e pessoalmente trouxe todos os tipos de frutas e bebidas para oferecer-lhe, como é apropriado na recepção de um convidado adorável. O Senhor Sri Krishna é o supremo puro, mas porque ele atuava no papel de um ser humano ordinário, Ele imediatamente lavou os pés do brahmana e, para Sua própria purificação, Ele chuviscou a água sobre Sua cabeça. Depois disso, o Senhor massageou o corpo do brahmana com diferentes tipos de polpa aromática, tais quais sândalo, aguru e açafrão. Ele imediatamente acendeu vários tipos de incensos aromáticos, e, como de costume, Ele ofereceu a ele aratrika com lâmpadas acesas. Depois disso ofereceu a ele boas-vindas adequadas e depois do brahmana comer e beber, o Senhor Krishna disse, "Meu querido amigo, é uma grande fortuna que você veio aqui".

O brahmana, porque era muito pobre, não estava bem vestido; suas roupas estavam rasgadas e sujas, e seu corpo também era muito magro e franzino. Ele parecia não ser muito limpo, e por causa do seu corpo fraco, seus ossos eram visíveis distintamente. A deusa da fortuna, Rukminidevi pessoalmente começou a abaná-lo com um abano chamara, mas as outras mulheres no palácio ficaram admiradas com o comportamento do Senhor Krishna em receber o brahmana daquela forma. Elas estavam surpresas de ver quanto zeloso o Senhor Krishna estava para dar as boas-vindas a esse brahmana particular. Elas começaram a imaginar como o Senhor Krishna pôde receber pessoalmente o brahmana que era pobre, não muito asseado ou limpo, e vestido pobremente; mas ao mesmo tempo elas puderam realizar que o brahmana não era um ser vivo ordinário. Elas sabiam que ele deve ter executado atividades piedosas grandiosas; de outra forma, por que o Senhor Krishna, o esposo da deusa da fortuna, tomava tanto cuidado com ele? Elas estavam ainda mais surpresas de ver que o brahmana estava sentado no leito do Senhor Krishna. Elas ficaram especialmente surpresas de ver que o Senhor Krishna o abraçou exatamente igual Ele abraça Seu irmão mais velho, Balaramaji, porque o Senhor Krishna costumava abraçar somente Rukmini ou Balarama, ninguém mais.

Depois de receber o brahmana muito bem, e sentá-lo no colchão da Sua própria cama, o Senhor Krishna disse, "Meu querido amigo brahmana, você é a personalidade mais inteligente, e você sabe muito bem os princípios da vida religiosa. Eu acredito que depois de finalizar sua educação na casa do nosso professor e depois de remunerá-lo suficientemente, você deve ter voltado para sua casa e aceitado uma esposa adequada. Eu sei muito bem desde o começo que você não é nenhum pouco apegado ao modo de vida materialista, nem você desejou ser muito opulento materialmente, e por isso você está em necessidade de dinheiro. Neste mundo material, pessoas que não estão apegadas à opulência material são encontradas raramente. Tais pessoas desapegadas não têm o mínimo desejo de acumular riqueza e prosperidade para prazer sensual, mas às vezes elas são encontradas a coletar dinheiro justamente para exibir uma vida de casado exemplar. Elas mostram como pela distribuição de riqueza apropriada a pessoa pode se tornar um chefe de família ideal e ao mesmo tempo se tornar um grande devoto. Tais casados ideais devem ser considerados seguidores dos Meus passos. Eu espero, Meu querido amigo brahmana, que você lembre todos aqueles dias de nossa vida escolar que tanto eu quanto você vivíamos juntos na casa de alojamento. Na realidade, qualquer conhecimento que tanto Eu quanto você recebemos em nossa vida foi acumulado em nossa vida de estudante".

"Se um homem é suficientemente educado na vida de estudante sob a guia de um professor apropriado, então sua vida se torna bem sucedida no futuro. Ele pode muito facilmente cruzar sobre o oceano de ignorância, e ele não está sujeito à influência da energia ilusória. Meu querido amigo, todos devem considerar seu pai como seu primeiro professor porque pela misericórdia do pai a pessoa obtém seu corpo. O pai é portanto o mestre espiritual natural. Nosso próximo mestre espiritual é aquele que nos inicia no conhecimento transcendental, e ele deve ser adorado tanto quanto Eu sou. O mestre espiritual pode ser mais de um. O mestre espiritual que instrui os discípulos sobre matérias espirituais é chamado shiksha-guru, e o mestre espiritual que inicia o discípulo é chamado diksha-guru. Os dois são Meus representantes. Pode haver muitos mestres espirituais que instruem, mas o mestre espiritual iniciador é um só. Um ser humano que aproveita a vantagem desses mestres espirituais e, ao receber conhecimento apropriado deles, cruza o oceano da existência material, deve-se entender que ele tem utilizado propriamente sua forma humana de vida. Ele tem conhecimento prático que o interesse último da vida, que deve ser ganho somente nesta forma humana, é alcançar perfeição espiritual e assim ser transferido de volta ao lar, de volta ao Supremo".

"Meu querido amigo, Eu sou Paramatma, a Superalma presente no coração de todos, e é Minha ordem direta que a sociedade humana deve seguir os princípios de varna e ashrama. Como Eu afirmei no Bhagavad-gita, a sociedade humana deve ser dividida, de acordo com qualidade e ação, em quatro varnas. Similarmente, todos devem dividir sua vida em quatro partes. A pessoa deve utilizar a primeira parte da vida em se tornar um estudante fidedigno, receber conhecimento adequado e se manter no voto de brahmacharya, para que a pessoa possa dedicar completamente sua vida ao serviço do mestre espiritual sem se entregar ao prazer sensual. Um brahmachari é destinado a viver uma vida de austeridades e penitência. O casado é destinado a viver uma vida regulada de prazer sensual, mas ninguém deve permanecer casado no terceiro estágio de vida. Nesse estágio a pessoa tem que retornar às austeridades e penitências anteriormente praticadas na vida de brahmachari e assim se aliviar do apego à vida de casado. Depois de se livrar de seus apegos para o modo de vida materialista, a pessoa pode aceitar a ordem de sannyasa".

"Porque sou a Superalma dos seres vivos, sentado no coração de todos, Eu observo as atividades de todos em cada estágio e ordem de vida. Sem levar em conta em qual estágio a pessoa está dentro, quando Eu vejo que alguém está dedicado seriamente e sinceramente em cumprir os deveres ordenados pelo mestre espiritual, e assim dedica sua vida ao serviço do mestre espiritual, essa pessoa se torna a mais querida por Mim. No que diz respeito à vida de brahmacharya, se a pessoa puder continuar a vida de brahmachari sob a direção de um mestre espiritual, isso é extremamente bom; mas se na vida brahmachari alguém sente impulsos sexuais, então ele tem que deixar seu mestre espiritual, depois de satisfazê-lo de acordo com o desejo do guru. De acordo com o sistema Védico, um presente é oferecido ao mestre espiritual, que é chamado guru-dakshina. Então o discípulo deve adotar a vida de casado e aceitar uma esposa de acordo com ritos religiosos".

Essas instruções dadas pelo Senhor Krishna enquanto falava com Seu amigo o brahmana erudito são muito boas como guia da sociedade humana. Um sistema de civilização humana que não promove varna e ashrama é nada mais do que sociedade animal polida. Prática de vida sexual entre um homem ou mulher que vive solteiro nunca é aceita da sociedade humana. Um homem deve seguir estritamente os princípios da vida brahmachari ou, com a permissão do mestre espiritual, deve se casar. Vida de solteiro com sexo ilícito é vida animal. Para os animais não existe nenhuma instituição matrimonial.

A sociedade moderna não se destina à satisfação da missão da vida humana. A missão da vida humana é ir de volta ao lar, de volta ao Supremo. Para cumprir essa missão, o sistema de varna e ashrama deve ser seguido. Quando o sistema é seguido rigidamente e conscientemente, satisfaz essa missão da vida. Quando é seguido indiretamente, sem a guia de ordem superior, simplesmente cria uma condição de perturbação na sociedade humana, e não há paz e prosperidade.

Krishna continuou a falar com Seu amigo brahmana: "Meu querido amigo, Eu acho que você lembra as nossas atividades durante os dias quando nós vivíamos como estudantes. Você pode lembrar uma vez nós fomos coletar lenha na floresta pela ordem da esposa de nosso guru. Enquanto coletávamos a madeira seca, por acaso entramos na floresta densa e ficamos perdidos. Aconteceu uma tempestade de poeira inesperada e depois nuvens e relâmpagos no céu e o som explosivo do trovão. Então veio o pôr-do-sol, e nós estávamos perdidos na selva escura. Depois disso, houve uma tempestade severa; todo o solo estava inundado com água, e nós não conseguíamos trilhar o caminho para retornar ao ashrama de nosso guru. Você deve lembrar que a tempestade pesada - não era realmente uma tempestade e sim um tipo de devastação. Por causa da tempestade de areia e chuva pesada, nós começamos a nos sentir muito aflitos, e em qualquer direção que fôssemos, ficávamos perdidos. Nessa condição de angústia, nós demos as mãos um ao outro e tentamos encontrar nosso caminho de saída. Passamos a noite inteira dessa forma, e na manhã cedo, quando nossa ausência foi percebida por nosso gurudeva, ele mandou seus outros discípulos para nos procurar. Ele também veio com eles, e quando nos encontraram na selva, eles nos acharam muito aflitos".

"Com muita compaixão, nosso gurudeva disse: 'Meus queridos meninos, é maravilhoso que vocês sofreram um transtorno tão grande por mim. Todos gostam de cuidar do seu corpo como a primeira consideração, mas vocês são tão bons e fiéis a seu guru que sem se importarem com confortos corpóreos vocês passaram por tanto sofrimento por mim. Eu também estou feliz de ver que discípulos fidedignos iguais a vocês se submetem a qualquer tipo de sofrimento para a satisfação do mestre espiritual. Esse é o caminho para um discípulo fidedigno se tornar livre da sua dívida com o mestre espiritual. É dever do discípulo dedicar sua vida ao serviço do mestre espiritual. Meus queridos melhores dos duas vezes nascidos, eu estou grandemente satisfeito com sua ação, e eu os abençôo: Que todos os seus desejos e ambições sejam satisfeitos. Que a compreensão dos Vedas que vocês aprenderam de mim sempre continue a permanecer em suas memórias, para que em cada momento vocês possam lembrar os ensinamentos dos Vedas e citarem suas instruções sem dificuldade. Assim vocês nunca ficarão desapontados nesta vida ou nas próximas'".

Krishna continuou: "Meu querido amigo, você deve lembrar que muitos desses incidentes ocorreram enquanto estávamos no ashrama de nosso mestre espiritual. Nós dois pudemos realizar que sem as bênçãos do mestre espiritual ninguém pode ser feliz. Pela misericórdia do mestre espiritual e por suas bênçãos, a pessoa pode alcançar paz e prosperidade e ser capaz de satisfazer a missão da vida humana".

Ao ouvir isso, o brahmana erudito respondeu, "Meu querido Krishna, Você é o Supremo Senhor e o supremo mestre espiritual de todos, e desde que eu fui afortunado o bastante para viver com Você na casa de nosso guru, penso que eu não tenho mais nada a fazer em matéria dos deveres prescritos Védicos. Meu querido Senhor, os hinos Védicos, cerimônias ritualísticas, e atividades religiosas e todas as outras necessidades para a perfeição da vida humana, inclusive desenvolvimento econômico, prazer sensual, e liberação, são todas derivadas de uma fonte: Sua personalidade suprema. Todos os diferentes processos de vida são ultimamente destinados para a compreensão de Sua personalidade. Em outras palavras, são diferentes partes de Sua forma transcendental. E mesmo assim Você atuou no papel de um estudante e viveu conosco na casa do guru. Isso significa que Você adotou todos esses passatempos para Seu prazer somente; senão não haveria necessidade de Você atuar no papel de um ser humano".

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Setenta e Nove de Krishna, "O Encontro do Senhor Krishna com Sudama Brahmana".

     

        

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 80

O Brahmana Sudama Abençoado pelo Senhor Krishna

   

O Senhor Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, a Superalma de todos os seres vivos, conhece muito bem o coração de todos. Ele é inclinado especialmente aos brahmanas devotos. O Senhor Krishna também é chamado brahmanyadeva, significa que Ele é adorado pelos brahmanas. Assim fica entendido que um devoto que é plenamente rendido à Suprema Personalidade de Deus já adquiriu a posição de um brahmana. Sem se tornar um brahmana, uma pessoa não pode se aproximar do Brahman Supremo, Senhor Krishna. Krishna é especialmente preocupado em aniquilar o sofrimento de Seus devotos, e Ele é o único abrigo de devotos puros.

O Senhor Krishna estava entretido por um longo tempo em falar com Sudama Vipra sobre sua associação passada. Então, justamente para desfrutar a companhia de um velho amigo, o Senhor Krishna começou a sorrir, e perguntou, "Meu querido amigo, o que você trouxe para Mim? Sua esposa deu a você algum comestível delicioso para Mim"? Enquanto Ele Se dirigia a Seu amigo, o Senhor Krishna olhava para ele e sorria com muito amor. Ele continuou, "Meu querido amigo, você deve ter trazido algum presente para Mim da sua casa".

O Senhor Krishna sabia que Sudama estava hesitante em presenteá-Lo com o pobre arroz lascado que era na realidade impróprio para Ele comer, e por entender a mente de Sudama Vipra o Senhor disse, "Meu querido amigo, certamente Eu não tenho necessidade de nada, mas se Meu devoto Me dá alguma coisa como uma oferenda de amor, mesmo que isso possa ser muito insignificante, Eu aceito isso com grande prazer. Por outro lado, se a pessoa não é um devoto, mesmo se Me oferecer coisas muito valiosas, Eu não as aceito. Eu na realidade só aceito coisas que são oferecidas a Mim em devoção e amor; caso contrário, por mais valiosa que uma coisa seja, Eu não aceito isso. Se Meu devoto puro Me oferece mesmo as coisas mais insignificantes - uma pequena flor, um pedaço pequeno de folha, um pouco de água - mas satura a oferenda em amor devocional, então Eu não somente aceito felizmente uma oferenda assim, mas Eu a como com grande prazer".

O Senhor Krishna assegurou Sudama Vipra que Ele ficaria muito feliz em aceitar o arroz partido que ele trouxe de casa, ainda assim por causa de sua grande timidez, Sudama Vipra hesitou em presenteá-lo ao Senhor. Ele pensava, "Como posso oferecer coisas tão insignificantes a Krishna"? e ele simplesmente baixou sua cabeça.

O Senhor Krishna, a Superalma, sabe tudo dentro do coração de todos. Ele sabe a determinação de todos e a necessidade de todos. Ele sabia, portanto, a razão da vinda de Sudama Vipra até Ele. Ele sabia que levado por extrema pobreza, ele foi até lá a pedido de sua esposa. Assim pensava em Sudama como Seu muito querido amigo de classe, Ele sabia que o amor de Sudama por Ele como amigo nunca foi manchado por nenhum desejo por benefício material. Krishna pensou, "Sudama não veio Me pedir nada, mas foi obrigado pelo pedido de sua esposa, ele veio Me ver justamente para agradá-la". O Senhor Krishna então decidiu que Ele daria mais opulência material a Sudama Vipra do que pode ser imaginado mesmo pelo Rei do céu.

Ele então pegou o fardo de arroz partido que estava pendurado no ombro do pobre brahmana, embrulhado no canto de sua capa, e disse, "O que é isso? Meu querido amigo, você trouxe para Mim ótimo, delicioso arroz partido"! Ele encorajou Sudama Vipra, ao dizer, "Eu considero que esta quantidade de arroz partido não somente Me satisfaz, mas satisfará a criação inteira". É entendido desta declaração que Krishna, a fonte original de tudo, é a raiz da criação inteira. Pôr água na raiz duma árvore imediatamente distribui água para cada parte da árvore, assim uma oferenda feita para Krishna, ou qualquer ação feita para Krishna, é considerado o trabalho mais elevado de bem-estar para todos, porque o benefício dessa oferenda é distribuído em toda parte da criação. O amor por Krishna se torna distribuído para todos os seres vivos.

Enquanto o Senhor Krishna falava com Sudama Vipra, Ele comeu um punhado de arroz partido do fardo dele, e quando Ele tentou comer um segundo punhado, Rukminidevi, que é a deusa da fortuna em pessoa, impediu o Senhor por segurar Sua mão. Depois de tocar a mão de Krishna, Rukmini disse, "Meu querido Senhor, esse único punhado de arroz partido é suficiente para causar a ele que o ofereceu se tornar muito opulento e continuar sua opulência na próxima vida. Meu Senhor, Você é tão bom com Seu devoto que mesmo esse pequeno punhado de arroz partido O satisfaz muito grandemente, e o Seu prazer assegura ao devoto opulência tanto nesta vida quanto na próxima". Isso indica que quando o alimento é oferecido ao Senhor Krishna com amor e devoção e Ele fica satisfeito e aceita do devoto, Rukminidevi, a deusa da fortuna, fica tão agradecida ao devoto que ela tem de ir pessoalmente ao lar do devoto para transformá-lo no lar mais opulento no mundo. Se alguém alimenta Narayana suntuosamente, a deusa da fortuna, Lakshmi, automaticamente se torna uma convidada no lar da pessoa, isso quer dizer que o lar da pessoa se torna opulento. O brahmana erudito Sudama passou a noite na casa do Senhor Krishna, e enquanto ele estava lá, sentiu como se vivesse num planeta Vaikuntha. Na realidade, ele estava vivendo em Vaikuntha, porque onde quer que o Senhor Krishna, o Narayana original, e Rukminidevi, a deusa da fortuna, vivem não é diferente do planeta espiritual, Vaikunthaloka.

O brahmana erudito Sudama não aparentava ter recebido nada substancial do Senhor Krishna enquanto ele estava em Sua casa, e mesmo assim ele não pediu nada para o Senhor. Na manhã seguinte ele partiu para sua casa, sempre a pensar sobre sua recepção por Krishna, e assim ele ficou submerso em bem-aventurança transcendental. Todo o caminho para casa ele simplesmente se lembrava dos relacionamentos com o Senhor Krishna, e ele se sentia muito feliz por ter visto o Senhor.

O brahmana começou a pensar como se segue, "É o maior prazer ver o Senhor Krishna, que é o mais devotado aos brahmanas. Que grande amante Ele é da cultura brahmana! Ele é o Próprio Supremo Brahman, mesmo assim Ele reciproca com os brahmanas. Ele também respeita os brahmanas tanto que Ele abraçou em Seu tórax um pobre brahmana como eu, apesar de Ele nunca abraçar ninguém em Seu tórax exceto a deusa da fortuna. Como pode haver qualquer comparação entre mim, um pobre, brahmana pecaminoso, e o Supremo Senhor Krishna, que é o único abrigo da deusa da fortuna? Mesmo assim, por me considerar um brahmana, Ele me abraçou com prazer sincero em Seus dois braços transcendentais. O Senhor Krishna foi tão bom comigo que permitiu que eu sentasse no mesmo leito onde a deusa da fortuna se deita. Ele me considerou como Seu irmão real. Como posso apreciar minha gratidão por Ele? Quando eu estava cansado, Srimati Rukminidevi, a deusa da fortuna, começou a me abanar, e segurava o abano chamara em sua própria mão. Ela nunca considerou sua posição exaltada como a primeira rainha do Senhor Krishna. Eu tive serviço prestado pela Suprema Personalidade de Deus por causa de Sua alta estima pelos brahmanas, e ao massagear minha pernas e me alimentar com Sua própria mão, ele me adorou praticamente! Quem aspira por elevação aos planetas celestiais, ou liberação ou todos os tipos de opulências materiais, ou perfeição nos poderes do yoga místico, todos em todo o universo adoram os pés de lótus do Senhor Krishna. Mesmo assim o Senhor foi tão bom comigo que Ele não me deu nem mesmo um centavo, pois sabe muito bem que sou um homem paupérrimo que, se ganhar algum dinheiro, pode ficar enfatuado e enlouquecido por opulência material e assim esquecê-Lo".

A declaração do brahmana Sudama é correta. Um homem ordinário que é muito pobre e ora ao Senhor por bênção em opulência material, e que de alguma forma ou outra se torna mais rico em opulência material, imediatamente esquece sua gratidão ao Senhor. Por isso, o Senhor não oferece opulências a Seu devoto a menos que o devoto seja inteiramente necessitado. Em vez disso, se um devoto neófito serve o Senhor muito sinceramente e ao mesmo tempo deseja opulência material, o Senhor o impede de obtê-la.

A pensar dessa forma, o brahmana erudito gradualmente chegou à sua casa. Mas ao chegar lá, ele viu que tudo estava mudado maravilhosamente. Ele viu que no lugar de sua cabana havia grandes palácios feitos com pedras e jóias preciosas, que brilhavam igual ao Sol, Lua e raios do fogo. Não somente havia grandes palácios, mas nos intervalos havia parques belamente decorados, onde muitos homens e mulheres bonitos passeavam. Nesses parques, havia belos lagos cheios de flores de lótus e belos lírios, e havia bandos de pássaros multicoloridos. Ao ver a maravilhosa conversão de seu lugar nativo, o brahmana começou a pensar consigo mesmo, "Como estou vendo todas essas mudanças? Esse palácio pertence a mim, ou a alguém mais? Se é o mesmo local onde eu costumava viver, então como isso mudou tão maravilhosamente"?

Enquanto o brahmana erudito considerava isso, um grupo de belos homens e mulheres com características que pareciam as dos semideuses, acompanhados por músicos cantores, aproximaram-se para dar-lhe as boas vindas. Todos cantavam canções auspiciosas. A esposa do brahmana ficou muito feliz ao ouvir as notícias da chegada de seu esposo, e com grande pressa, ela também veio para fora do palácio. A esposa do brahmana tinha uma aparência tão bela a parecer que a própria deusa da fortuna veio para recebê-lo. Logo que ela viu seu esposo presente perante ela, lágrimas de felicidade começaram a cair de seus olhos, e sua voz ficou tão embargada que ela não conseguia nem falar com seu esposo. Ela simplesmente fechou seus olhos em êxtase. Mas com grande amor e afeição ela se prostrou perante seu esposo, e dentro de si mesma ela pensava em abraçá-lo. Ela estava belamente decorada com um colar e ornamentos de ouro, e enquanto estava em pé entre suas camareiras ela parecia como a esposa de um semideus que acabou de pousar dum aeroplano. O brahmana ficou surpreso de ver sua esposa tão bela, e com grande afeição e sem dizer uma palavra ele entrou no palácio com sua esposa.

Quando o brahmana entrou em seu apartamento pessoal no palácio, ele viu que isso não era um apartamento, mas a residência do Rei do céu. O palácio era rodeado por muitas colunas de jóias. Os divãs e leitos eram feitos de marfim, revestidos com ouro e jóias, e a roupa de cama era tão branca quanto a espuma do leite e tão macia quanto uma flor de lótus. Havia muitos abanos pendurados em cabos de ouro, e muitos tronos de ouro com assentos almofadados tão macios quanto a flor de lótus. Em vários locais, havia dosséis com laços de pérolas pendurados em todos os lados. A estrutura do prédio se apoiava em mármore transparente de primeira classe, com gravuras feitas com pedras de esmeralda. Todas as mulheres no palácio carregavam lâmpadas feitas de jóias preciosas. As chamas e as jóias combinadas produziam uma luz maravilhosamente brilhante. Quando o brahmana viu sua posição mudar subitamente para uma de opulência, e quando ele não pôde determinar a causa de uma mudança tão súbita, ele começou a considerar muito gravemente como isso aconteceu.

Assim ele começou a pensar, "Desde o começo da minha vida sempre fui extremamente pobre, por isso qual poderia ser a causa de tão grande e súbita opulência? Eu não encontro nenhuma causa outra do que o todo-misericordioso olhar do meu amigo Senhor Krishna, o líder da dinastia Yadu. Certamente esses são presentes da misericórdia sem causa do Senhor Krishna. O Senhor é auto-suficiente, o esposo da deusa da fortuna, e assim Ele é sempre pleno das seis opulências. Ele pode entender a mente de Seu devoto, e Ele suntuosamente satisfaz os desejos do devoto. Todos esses são atos do meu amigo, Senhor Krishna. Meu belo amigo escuro Krishna é muito mais liberal do que a nuvem que pode encher o grande oceano com água. Sem perturbar o cultivador com chuva durante o dia, a nuvem traz chuva liberal à noite justamente para satisfazê-lo. E ainda assim quando o cultivador acorda de manhã, ele considera que não choveu suficiente. Similarmente, o Senhor satisfaz o desejo de todos de acordo com sua posição, e mesmo assim aquele que não está em Consciência de Krishna considera todos os presentes do Senhor como menos do que o desejado. Por outro lado, quando o Senhor recebe uma pequena coisa em amor e afeição de Seu devoto, Ele considera isso um grande e valioso presente. O exemplo vívido é mim mesmo. Eu simplesmente ofereci a Ele um punhado de arroz partido, e em troca Ele me deu opulências maiores do que a opulência do Rei do céu".

O que o devoto na realidade oferece para o Senhor não é necessário para o Senhor. Ele é auto-suficiente. Se o devoto oferece algo ao Senhor, isso age para seu próprio interesse porque qualquer coisa que o devoto oferece ao Senhor retorna numa quantidade um milhão de vezes maior do que foi oferecido. Ninguém se torna um perdedor por dar ao Senhor, e sim se torna um ganhador por milhões de vezes.

O brahmana, sentia grande gratidão por Krishna, e pensou, "Eu rogo para ter a amizade do Senhor Krishna e para me dedicar a Seu serviço, e para me render plenamente a Ele em amor e afeição, vida após vida. Eu não quero nenhuma opulência. Eu só desejo não esquecer Seu serviço. Eu simplesmente desejo me associar com Seus devotos puros. Que minha mente e atividades possam estar sempre dedicadas a Seu serviço. A Suprema Personalidade de Deus Krishna não nascido sabe que muitas grandes personalidades caíram de suas posições por causa de opulência extravagante. Portanto, mesmo quando Seu devoto pede alguma opulência para Ele, o Senhor às vezes não dá isso. Ele é muito cuidadoso sobre Seus devotos. Porque um devoto numa posição imatura de serviço devocional pode, se oferecido grande opulência, cair de sua posição devido a estar no mundo material, o Senhor não oferece opulência para ele. Isso é outra manifestação da misericórdia sem causa do Senhor para Seu devoto. Seu primeiro interesse é que o devoto possa não cair. Ele é exatamente como um pai benquerente que não dá muita riqueza na mão de seu filho imaturo, mas que, quando o filho está crescido e sabe como gastar dinheiro, dá a ele uma casa do tesouro inteira".

O brahmana erudito assim concluiu quaisquer opulências que ele recebeu do Senhor não deviam ser usadas para seu prazer sensual extravagante, mas para o serviço do Senhor. O brahmana aceitou sua recém-adquirida opulência, mas fez isso num espírito de renúncia, desapegado do prazer sensual, e assim ele viveu muito pacificamente com sua esposa, a desfrutar todas as facilidades da opulência como prasadam do Senhor. Ele desfrutava variedades de alimentos por oferecê-los ao Senhor e depois os aceitava como prasadam. Similarmente, se pela graça do Senhor nós obtemos tais opulências como riqueza, fama, poder, educação e beleza, é nosso dever considerar que todos esses são presentes do Senhor e devem ser usados para Seu serviço, não para desfrute sensual. O brahmana erudito permaneceu nessa posição, e em vez de deteriorar devido à grande opulência, seu amor e afeição pelo Senhor Krishna incrementavam dia após dia. Opulência material pode ser causa de degradação e também causa de elevação, de acordo com os propósitos para que for usada. Se a opulência for usada para prazer sensual, é a causa da degradação, e se for usada para o serviço ao Senhor, é a causa da elevação.

É evidente dos relacionamentos do Senhor Krishna com Sudama Vipra que a Suprema Personalidade de Deus é muito, muito satisfeita com uma pessoa que é possuidora de qualidades brahmanas. Um brahmana qualificado como Sudama Vipra é naturalmente um devoto do Senhor Krishna. Por isso é dito, brahmano vaishnavah: um brahmana é um Vaishnava. Ou às vezes é dito, brahmanah panditah. Pandita significa uma pessoa altamente erudita. Um brahmana não pode ser tolo nem não educado. Por isso há duas divisões de brahmanas, chamadas Vaishnavas e panditas. Aqueles que são simplesmente educados são panditas, mas ainda não são devotos do Senhor, ou Vaishnavas. O Senhor Krishna não é especialmente satisfeito com eles. Simplesmente a qualificação de ser um brahmana erudito não é suficiente para atrair a Suprema Personalidade de Deus. Um brahmana deve não apenas ser bem qualificado de acordo com os requisitos afirmados nas escrituras como Srimad Bhagavad-gita e Srimad Bhagavatam, mas ao mesmo tempo ele deve ser um devoto do Senhor Krishna. O exemplo vívido é Sudama Vipra. Ele era um brahmana qualificado, desapegado de todos os tipos de desfrute sensual material, e ao mesmo tempo um grande devoto do Senhor Krishna. O Senhor Krishna, o desfrutador de todos os sacrifícios e penitências, gosta muito de um brahmana como Sudama Vipra, e nós vimos pelo comportamento verdadeiro do Senhor Krishna o quanto Ele adora esse brahmana. Portanto, o estágio ideal da perfeição humana é se tornar um brahmana-vaishnava igual Sudama Vipra.

Sudama Vipra realizou que apesar do Senhor Krishna ser inconquistável, Ele assim mesmo concorda em ser conquistado por Seus devotos. Ele realizou o quanto o Senhor Krishna foi bom com ele, e ele estava sempre em transe, constantemente a pensar em Krishna. Por sua constante associação com o Senhor Krishna, qualquer escuridão de contaminação material que permaneceu dentro do seu coração foi completamente limpa, e em tempo bem curto ele foi transferido ao reino espiritual, que é a meta de todas as pessoas santificadas no estágio de perfeição da vida.

Shukadeva Goswami declarou que todas pessoas que ouvem esta história de Sudama Vipra e Senhor Krishna saberá quanta afeição o Senhor Krishna tem por devotos brahmanas iguais a Sudama. Portanto, qualquer um que ouve esta história gradualmente se torna qualificado igual Sudama Vipra, e ele é assim transferido ao reino espiritual do Senhor Krishna.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta de Krishna, "O Brahmana Sudama Abençoado pelo Senhor Krishna".

           

      

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 81

O Senhor Krishna e Balarama Encontram os Habitantes de Vrindavana

   

Certa vez enquanto o Senhor Krishna e Balarama viviam pacificamente em Sua grande cidade de Dwaraka, houve uma ocasião rara de um eclipse solar total, como acontece no fim de cada kalpa, ou dia de Brahma. No fim de cada kalpa, o Sol é coberto por uma grande nuvem, e chuva incessante cobre os sistemas planetários inferiores até Swargaloka. Por cálculo astronômico, as pessoas estavam informadas sobre esse grande eclipse antes de acontecer, assim todos, homens e mulheres, decidiram se reunir no local sagrado em Kurukshetra conhecido como Samanta-pañchaka.

O lugar de peregrinação Samanta-pañchaka é célebre porque o Senhor Parashurama realizou grandes sacrifícios ali depois de matar todos os kshatriyas do mundo vinte e uma vezes. . O Senhor Parashurama matou todos os kshatriyas, e o sangue acumulado deles fluía igual um córrego. O Senhor Parashurama cavou cinco grandes lagos em Samanta-pañchaka e os encheu com esse sangue. O Senhor Parashurama é Vishnu-tattva. Como está afirmado no Ishopanishad, Vishnu-tattva não pode ser contaminado por nenhuma atividade pecaminosa. E apesar do Senhor Parashurama ser plenamente poderoso e incontaminado, a fim de exibir caráter ideal, Ele realizou grandes sacrifícios em Samanta-pañchaka para expiar Sua dita matança pecaminosa dos kshatriyas. Pelo Seu exemplo, o Senhor Parashurama estabeleceu que a arte de matar, apesar de ser necessária às vezes, não é boa. O Senhor Parashurama considerou-Se culpado pela matança pecaminosa dos kshatriyas; portanto, o quanto mais nós somos culpados por esses atos abomináveis não sancionados. Assim, matança de seres vivos é proibida desde tempo imemorável por todo o mundo.

Para aproveitar a oportunidade da ocasião do eclipse solar, todas as pessoas importantes visitaram o lugar sagrado de peregrinação. Algumas das personalidades importantes são mencionadas como se segue. Entre as pessoas mais idosas estavam Akrura, Vasudeva e Ugrasena; entre a jovem geração estavam Gada, Pradyumna, Samba, e muitos outros membros da dinastia Yadu que foram até lá com uma vista para expiar as atividades pecaminosas acumuladas no curso do cumprimento de seus respectivos deveres. Porque quase todos os membros da dinastia Yadu foram para Kurukshetra, algumas personalidades importantes, tais quais Aniruddha, o filho de Pradyumna, e Kritavarma, o comandante chefe da dinastia Yadu, juntos com Suchandra, Shuka e Sarana, ficaram em Dwaraka para proteger a cidade.

Todos os membros da dinastia Yadu eram naturalmente muito belos, mesmo assim nessa ocasião, quando apareceram devidamente decorados com colares de ouro e colares de flores, vestidos com roupas valiosas e propriamente armados com seus armamentos respectivos, sua beleza natural e personalidades foram incrementadas cem vezes. Os membros da dinastia Yadu vieram a Kurukshetra em quadrigas decoradas de forma deslumbrante que pareciam aeroplanos dos semideuses; puxadas por grandes cavalos que se moviam como as ondas do oceano, e alguns deles superavam elefantes vigorosos e robustos que se moviam como nuvens no céu. Suas esposas eram carregadas em belos palanquins por homens belos cujas características pareciam as dos Vidyadharas. A assembléia inteira parecia tão bela quanto uma assembléia dos semideuses no céu.

Depois de chegar a Kurukshetra, os membros da dinastia Yadu tomaram seus banhos cerimoniosamente, com autocontrole, como ordenado nos shastras, e eles observaram jejum por todo o período do eclipse a fim de nulificar as reações de suas atividades pecaminosas. Porque é costume Védico dar caridade ao máximo possível durante as horas do eclipse, os membros da dinastia Yadu distribuíram muitas centenas de vacas em caridade aos brahmanas. Todas essas vacas eram plenamente decoradas com tecidos finos e ornamentos. A característica especial dessas vacas é que elas tinham guizos de tornozelo de ouro e colares de flores em seus pescoços.

Todos os membros da dinastia Yadu novamente tomaram seus banhos nos lagos criados pelo Senhor Parashurama. Depois disso, eles alimentaram suntuosamente os brahmanas com comida cozida de primeira-classe, todas preparadas na manteiga. De acordo com o sistema Védico, existem dois tipos de comida. Um é chamado comida crua, e o outro é chamado comida cozida. Comida crua não inclui legumes crus e cereais crus, mas comida cozida na água; enquanto comida cozida é feita no ghee. Chapatis, dahl, arroz e outros legumes comuns são chamados alimentos crus, e também frutas e saladas. Mas puris, kachuri, sangosas, bolinhas doces, etc., são todos alimentos cozidos. Todos os brahmanas convidados naquela ocasião pelos membros da dinastia Yadu foram alimentados suntuosamente com comida cozida.

As funções cerimoniais realizadas pelos membros da dinastia Yadu externamente pareciam execuções ritualísticas realizadas pelos karmis. Quando um karmi realiza alguma cerimônia ritualística, sua ambição é prazer sensual - boa posição, boa esposa, boa casa, bons filhos e boa saúde; mas a ambição dos membros da dinastia Yadu era diferente. A ambição deles era oferecer fé e devoção perpétuas para Krishna. Todos os membros da dinastia Yadu eram grandes devotos. Assim, depois de muitos nascimentos de acúmulo de atividades piedosas, foi dada a chance a eles de se associarem com o Senhor Krishna. Irem tomar seus banhos no lugar de peregrinação em Kurukshetra ou observar os princípios reguladores durante o eclipse solar ou alimentar os brahmanas - em todas as suas atividades - eles simplesmente pensavam na devoção a Krishna. Seu Senhor adorável ideal era Krishna, e ninguém mais.

Depois de alimentar os brahmanas, é o costume para o anfitrião, com a permissão deles, aceitar prasadam. Assim, com a permissão dos brahmanas, todos os membros da dinastia Yadu almoçaram. Depois eles selecionaram locais de descanso em baixo de grandes árvores de sombra, e quando descansaram o suficiente, eles se prepararam para receber visitantes, entre os quais havia familiares e amigos, e também muitos reis e governantes subordinados. Eles eram os governantes da Província Matsya, Província Ushinara, Província Koshala, Província Vidarbha, Província Kuru, Província Srinjaya, Província Kamboja, Província Kekaya e muitos outros países e províncias. Alguns governantes pertenciam a partidos opostos, e alguns eram amigos. Mas acima de todos, os visitantes de Vrindavana eram os mais proeminentes. Os residentes de Vrindavana, liderados por Nanda Maharaja, viviam em grande ansiedade por causa da separação de Krishna e Balarama. Assim aproveitaram o eclipse solar, e todos eles vieram ver sua vida e alma, Krishna e Balarama.

Os habitantes de Vrindavana eram benquerentes e amigos íntimos da dinastia Yadu. Esse encontro das duas partes depois de uma longa separação foi um incidente muito comovente. Tanto os Yadus quanto os residentes de Vrindavana sentiram um prazer tão grandioso em se encontrarem e conversarem juntos que foi uma cena única. Com o encontro depois de longa separação, eles estavam em júbilo; seus corações palpitavam, e suas faces pareciam flores de lótus recém-desabrochadas. Havia gotas de lágrimas que caíam de seus olhos, os pêlos em seus corpos de arrepiaram, e por causa de seu êxtase extremo, ficaram temporariamente sem fala. Em outras palavras, eles começaram a mergulhar no oceano de felicidade.

Enquanto os homens se encontravam dessa forma, as mulheres também se encontravam uma com a outra da mesma maneira. Elas se abraçavam uma com a outra em seus braços, o açafrão e kunkuma passados em seus seios eram intercambiados de uma pessoa a outra, e todas sentiram êxtase celestial. E devido a esse abraço de coração com coração, torrentes de lágrimas rolavam por suas faces. Os jovens ofereciam reverências aos idosos, e os idosos ofereciam suas bênçãos aos jovens. Assim eles davam as boas vindas um ao outro e perguntavam sobre o bem estar de cada um. Ultimamente, entretanto, toda conversa deles era somente sobre Krishna. Todos os vizinhos e familiares estavam conectados aos passatempos do Senhor Krishna neste mundo, e por isso Krishna era o centro de todas as atividades deles. Quaisquer atividades que realizassem - social, política, religiosa e convencional - eram transcendentais.

A real elevação da vida humana se baseia em conhecimento e renúncia. Como afirmado no Srimad Bhagavatam, no Primeiro Canto, serviço devocional prestado a Krishna automaticamente produz conhecimento perfeito e renúncia. Os membros familiares da dinastia Yadu e os pastores de vacas de Vrindavana tinham suas mentes fixas em Krishna. Esse é o sintoma de todo o conhecimento, e porque suas mentes estavam sempre dedicadas a Krishna, eles estavam automaticamente livres de todas atividades materiais. Esse estágio de vida se chama yukta-vairagya como enunciado por Srila Rupa Goswami. Conhecimento e renúncia, portanto, não significa especulação seca e renúncia das atividades. Em vez disso, a pessoa deve começar a falar e agir somente em relação a Krishna.

Nesse encontro em Kurukshetra, Kuntidevi e Vasudeva, que eram irmã e irmão, se encontraram depois de um longo período de separação, juntos com seus respectivos filhos e noras, esposas, crianças e outros membros familiares. Enquanto conversavam entre si, eles logo esqueceram todas as suas misérias passadas. Kuntidevi especialmente falou com seu irmão Vasudeva como se segue: "Meu querido irmão, sou muito desafortunada, porque nenhum dos meus desejos foi satisfeito; de outra forma como pôde acontecer que apesar de ter um irmão santificado igual a você, perfeito em todos os aspectos, você não me inquiriu de que forma passei meus dias numa condição de vida aflita". Parece que Kuntidevi lembrou os dias miseráveis quando ela foi banida junto com seus filhos por causa dos planos maldosos de Dhritarastra e Duryodhana. Ela continuou; "Meu querido irmão, eu posso entender que quando a providência vai contra alguém, mesmo os familiares mais próximos também o esquecem. Numa condição assim, mesmo o próprio pai, a própria mãe ou os próprios filhos também o esquecerão. Portanto meu querido irmão, eu não o acuso".

Vasudeva respondeu à sua irmã, "Minha querida irmã, não fique triste, e não me acuse dessa forma. Nós devemos sempre lembrar que todos nós somos apenas brinquedos nas mãos da providência. Todos estão sob o controle da Suprema Personalidade de Deus. É sob o controle Dele somente que todos os tipos de ações lucrativas e as ações resultantes acontecem. Minha querida irmã, você sabe que nós fomos muito atormentados pelo Rei Kamsa, e por causa das perseguições dele, nós fomos espalhados de cá para lá. Nós estávamos sempre cheios de ansiedades. Somente nos últimos dias nós retornamos para nossas próprias casas, pela graça de Deus".

Depois dessa conversa, Vasudeva e Ugrasena receberam os reis que vieram vê-los, e eles suficientemente deram as boas vindas a todos eles. Ao ver o Senhor Krishna presente no local, todos os visitantes sentiam prazer transcendental e ficavam muito calmos. Alguns dos visitantes proeminentes eram os seguintes: Bhismadeva, Dronacharya, Dhritarastra, Duryodhana, e Gandhari junto com seus filhos; o Rei Yudhisthira junto com sua esposa, e os Pandavas junto com Kunti; Srinjaya, Vidura, Kripacharya, Kuntibhoja, Virata, Rei Nagnajit, Purujit, Drupada, Shalya, Dhrishtaketu, o Rei de Kashi, Damaghosha, Vishalaksha, o Rei de Mithila, o Rei de Madras (antigamente conhecida como Madra), o Rei de Kekaya, Yudhamanyu, Susharma, Bahlika junto com seus filhos, e muitos outros soberanos que eram subordinados ao Rei Yudhisthira.

Quando viram o Senhor Krishna com Suas milhares de rainhas, ficaram plenamente satisfeitos com a visão dessa beleza e opulência transcendental. Todos que estavam lá pessoalmente visitaram o Senhor Balarama e Krishna, e propriamente bem-vindos pelo Senhor eles começaram a glorificar os membros da dinastia Yadu, especialmente Krishna e Balarama. Porque era o Rei dos Bhojas, Ugrasena era considerado o Yadu líder, e por isso os visitantes especificamente se dirigiram a ele: "Vossa Majestade Ugrasena, Rei dos Bhojas, de fato os Yadus são as únicas pessoas dentro deste mundo que são perfeitas em todos os aspectos. Todas as glórias a vocês! Todas as glórias a vocês! A condição específica da sua perfeição é que vocês sempre vêem o Senhor Krishna, que é procurado por muitos yogis místicos que se submetem a severas austeridades e penitências por grandes números de anos. Todos vocês estão em contato direto com o Senhor Krishna em cada momento".

"Todos os hinos Védicos glorificam a Suprema Personalidade de Deus, Krishna. A água do Ganges é considerada santificada porque é a água usada para lavar os pés de lótus do Senhor Krishna. As literaturas Védicas são nada mais do que prescrições do Senhor Krishna. O significado do estudo de todos os Vedas é conhecer Krishna; portanto, as palavras de Krishna e a mensagem de Seus passatempos são sempre purificantes. Pela influência de tempo e circunstâncias, todas as opulências deste mundo ficaram quase completamente apagadas, mas desde que Krishna apareceu neste planeta, todas as características auspiciosas apareceram novamente devido ao toque de Seus pés de lótus. Por causa de Sua presença, todas as nossas ambições e desejos são satisfeitos gradualmente. Vossa Majestade, Rei dos Bhojas, é ligado à dinastia Yadu por relação de matrimônio, e por relação de sangue também. Em resultado, você está constantemente em contato com o Senhor Krishna, e você não tem nenhuma dificuldade para vê-Lo em momento nenhum. O Senhor Krishna Se move com você, fala com você, senta com você, descansa com você, e janta com você. Os Yadus parecem estar sempre dedicados a assuntos mundanos que são considerados a condução para a estrada real ao inferno, mas por causa da presença do Senhor Krishna, a Personalidade de Deus original na categoria Vishnu, que é onisciente, onipresente e onipotente, todos vocês estão realmente liberados de todas as contaminações materiais, e estão situados na posição transcendental da liberação e existência Brahman".

Quando ouviram que Krishna estaria presente em Kurukshetra por causa do eclipse solar, os habitantes de Vrindavana, liderados por Maharaja Nanda, também decidiram ir lá, e por isso todos os membros da dinastia Yadu compareceram. O Rei Nanda, acompanhado por seus pastores de vacas, carregaram toda sua parafernália necessária em carros de boi, e todos os residentes de Vrindavana vieram a Kurukshetra para ver seus amados filhos Senhor Balarama e Senhor Krishna. Quando os pastores de vacas de Vrindavana chegaram a Kurukshetra, todos os membros da dinastia Yadu ficaram muito satisfeitos. Assim que viram os residentes de Vrindavana chegarem a Kurukshetra, todos os membros da dinastia Yadu ficaram altamente felizes. Logo que viram os residentes de Vrindavana, eles se levantaram para lhes dar as boas-vindas, e parecia que eles novamente recuperaram sua vida. Ambos estavam muito ansiosos para se encontrarem, e quando realmente se adiantaram e se encontraram, eles abraçaram um o outro para a satisfação de seus corações e permaneciam abraçados por um tempo considerável.

Logo que Vasudeva viu Nanda Maharaja, saltou e correu até ele e o abraçou com muita afeição. Vasudeva começou a narrar sua história passada - como foi preso pelo Rei Kamsa, como seus bebês foram mortos, e como imediatamente depois do nascimento de Krishna, ele O levou para a casa de Nanda Maharaja, e como Krishna e Balarama foram criados por Nanda Maharaja e sua rainha, Yashoda, como seus próprios filhos. Similarmente, o Senhor Balarama e Krishna também abraçaram o Rei Nanda e mãe Yashoda e depois ofereceram Seus respeitos a seus pés de lótus por Se prostrarem. Por causa de Seu sentimento de afeição por Nanda e Yashoda, ambos Senhor Krishna e Balarama ficaram mudos, e por alguns segundos não conseguiam falar. O mais afortunado Rei Nanda e mãe Yashoda colocaram seus filhos em seus colos e começaram a abraçá-Los para sua satisfação plena. Por causa da separação de Krishna e Balarama, tanto Rei Nanda quanto Yashoda ficaram imersos em grande tristeza por muito tempo. Agora, depois de encontrá-Los e abraçá-Los, todos os seus sofrimentos foram mitigados.

Depois disso, a mãe de Krishna, Devaki, e a mãe de Balarama, Rohini, ambas abraçaram mãe Yashoda. Elas disseram, "Querida Rainha Yashodadevi, tanto você quanto Nanda Maharaja são grandes amigos para nós, e quando lembramos vocês ficamos imediatamente emocionados com o pensamento de suas atividades amistosas. Nós somos tão endividadas com vocês que mesmo se tivermos que retornar sua bênção por lhes dar a opulência do Rei do Céu, não seria suficiente para pagar a vocês por seu comportamento amistoso. Nós nunca esqueceremos seu comportamento bondoso conosco. Quando os dois Krishna e Balarama nasceram, mesmo antes de verem Seu pai e mãe reais, Eles foram confiados aos seus cuidados, e vocês Os criaram como seus próprios filhos, e Os adotaram igual os pássaros cuidam de sua cria no ninho. Vocês muito bem Os alimentaram, nutriram e Os amaram e realizaram muitas cerimônias religiosas auspiciosas para o benefício Deles".

"Na realidade, Eles não são nossos filhos; Eles pertencem a vocês. Nanda Maharaja e você são o pai e mãe reais de Krishna e Balarama. Enquanto Eles estiveram sob seu cuidado, Eles não tiveram nem mesmo uma pitada de dificuldade. Sob a proteção de vocês, Eles estavam completamente fora do caminho de todos os tipos de medo. Esse cuidado altamente afetuoso que vocês têm por Eles é completamente adequado para sua posição exaltada. As personalidades mais nobres não discriminam entre seus próprios filhos e os filhos de outros, e não podem haver quaisquer personalidades mais nobres do que Nanda Maharaja e você".

No que se refere às gopis de Vrindavana, desde o início de suas vidas, elas não conheciam nada além de Krishna. Krishna e Balarama eram a vida e alma delas. As gopis eram tão apegadas a Krishna que não podiam tolerar mesmo não vê-Lo momentaneamente quando suas pálpebras piscavam e impediam sua visão. Elas condenavam Brahma, o criador do corpo, porque fez tolamente as pálpebras que piscam e as impediam de ver Krishna. Porque elas estavam separadas de Krishna por tantos anos, as gopis, que vieram junto com Nanda Maharaja e mãe Yashoda, sentiram êxtase intenso ao ver Krishna. Ninguém pode nem imaginar o quanto ansiosas as gopis estavam para ver Krishna novamente. Logo que viram Krishna ficar visível para elas, elas O tomaram dentro de seus corações através de seus olhos e O abraçaram para sua inteira satisfação. Mesmo apesar de abraçarem Krishna apenas mentalmente, elas ficaram com tanto êxtase e emocionadas com a felicidade naquele momento que se esqueceram de si mesmas completamente. O transe extático que elas atingiram simplesmente por abraçar Krishna mentalmente é impossível de alcançar mesmo para grandes yogis constantemente absortos em meditação na Suprema Personalidade de Deus. Krishna pôde entender que as gopis estavam arrebatadas em êxtase por abraçá-Lo nas suas mentes, e assim, porque Ele está presente no coração de todos, Ele também reciprocou o abraço interiormente.

Krishna estava sentado com mãe Yashoda e Suas outras mães, Devaki e Rohini, mas enquanto as mães estavam absortas na conversa, Ele aproveitou a oportunidade e foi a um local discreto para encontrar as gopis. Logo que Se aproximou das gopis, o Senhor começou a sorrir, e depois de abraçá-las e inquirir sobre seu bem-estar, Ele começou a encorajá-las, e disse, "Minhas queridas amigas, vocês sabem que tanto o Senhor Balarama e Eu mesmo deixamos Vrindavana justamente para satisfazer Nossos parentes e membros da família. Assim estávamos longamente engajados em luta com Nossos inimigos e obrigados a esquecer vocês, que eram tão apegadas a Mim em amor e afeição. Eu posso entender que por essa ação, Eu fui ingrato com vocês, mas ainda assim Eu sei que vocês são fiéis a Mim. Posso inquirir se vocês pensaram em Nós apesar de que Nós tivemos que deixá-las para trás? Minhas queridas gopis, vocês agora não gostam de lembrar de Mim, por Me considerarem ter sido ingrato com vocês? Vocês levam Meu mau comportamento com vocês muito seriamente"?

"Depois de tudo, vocês devem saber que não era a Minha intenção deixar vocês; nossa separação foi ordenada pela providência, que depois de tudo é o supremo controlador e faz como deseja. Ele causa a mistura de diferentes pessoas, e novamente as dispersa da forma como deseja. Às vezes, nós vemos que devido à presença de nuvens e vento forte, partículas atômicas de poeira e pedaços de algodão soltos se misturam juntos, e depois que o vento forte diminui, todas as partículas de poeira e algodão são novamente separadas, espalhadas em diferentes locais. Similarmente, o Supremo Senhor é o criador de tudo. Os objetos que nós vemos são diferentes manifestações de Sua energia. Pelo Seu desejo supremo, nós somos às vezes unidos e às vezes separados. Nós portanto podemos concluir que ultimamente nós somos absolutamente dependentes de Sua vontade".

"Felizmente, vocês desenvolveram afeição amorosa por Mim, que é o único caminho para alcançar a posição transcendental da associação Comigo. Qualquer ser vivo que desenvolve essa afeição devocional imaculada por Mim certamente no fim vai de volta ao lar, de volta ao Supremo, Em outras palavras, serviço devocional imaculado e afeição por Mim são a causa da suprema liberação".

"Minhas queridas amigas gopis, vocês devem aprender de Mim que são Minhas energias somente que agem em toda parte. Tomem por exemplo um pote de barro. Não é nada mais do que a combinação de terra, água, fogo, ar e céu. É sempre com os mesmos componentes, seja em seu começo, durante sua existência ou depois de sua aniquilação. Quando é criado, o pote de barro é feito de terra, água, fogo, ar e céu; enquanto permanece, é o mesmo em composição; e quando é quebrado e aniquilado, seus diferentes ingredientes são conservados em diferentes partes da energia material. Similarmente, na criação desta manifestação cósmica, durante sua manutenção, e depois de sua dissolução, tudo é meramente uma manifestação diferente de Minha energia. E porque a energia não é separada de Mim, deve-se concluir que Eu existo em toda parte".

"Do mesmo modo, o corpo de um ser vivo é nada mais do que uma composição de cinco elementos, e o ser vivo corporificado na condição material também é parte e parcela de Mim. O ser vivo está aprisionado na condição material por causa de sua falsa concepção de si mesmo como o desfrutador supremo. Esse ego falso do ser vivo é a causa de seu aprisionamento na existência material. Porque sou a Verdade Absoluta Suprema, Eu sou transcendental ao ser vivo, e também à sua corporificação material. As duas energias, material e espiritual, ambas agem sob Meu controle supremo. Minhas queridas gopis, Eu peço que em vez de ficarem tão aflitas, vocês tentem aceitar tudo com uma atitude filosófica. Assim vocês entenderão que vocês estão sempre Comigo e que não há causa para lamentação em estarmos separados um do outro".

Essa instrução importante do Senhor Krishna para as gopis pode ser utilizada por todos os devotos dedicados à Consciência de Krishna. Toda a filosofia é considerada na base da inconcebível, unidade e diferença simultâneas. No Bhagavad-gita o Senhor diz que Ele está presente em toda parte em Seu aspecto impessoal. Tudo existe Nele, mesmo assim Ele não está presente pessoalmente em toda parte. A manifestação cósmica é nada mais além de uma exibição da energia de Krishna, e porque a energia não é diferente do energético, nada é diferente de Krishna. Quando essa consciência absoluta, Consciência de Krishna, está ausente, nós estamos separados de Krishna; mas felizmente, se essa Consciência de Krishna estiver presente, nós não estamos separados de Krishna. O processo do serviço devocional é o renascimento da Consciência de Krishna, e se o devoto for afortunado o bastante para entender que a energia material não é separada de Krishna, então ele pode utilizar a energia material e seus produtos no serviço do Senhor. Mas na ausência de Consciência de Krishna, o ser vivo esquecido, apesar de parte e parcela de Krishna, falsamente se coloca na posição de desfrutador do mundo material e, assim implicado no enredamento material, é forçado pela energia material a continuar sua existência material. Isso também é confirmado no Bhagavad-gita. Apesar de um ser vivo ser forçado a agir pela energia material, ele falsamente pensa que é o tudo em tudo e o supremo desfrutador.

Se o devoto sabe perfeitamente que a archa-vigraha, ou a forma da Deidade do Senhor Krishna no templo, é exatamente a mesma sac-cid-ananda-vigraha como o Próprio Krishna, então seu serviço à Deidade no templo se torna serviço direto à Suprema Personalidade de Deus. Similarmente, o templo em si, a parafernália do templo e a comida oferecida à Deidade também não são separados de Krishna. A pessoa tem que seguir as regras e regulamentos prescritos pelos acharyas, e assim, sob a guia superior, realização-de-Krishna é plenamente possível, mesmo nesta existência material.

As gopis, instruídas por Krishna nessa filosofia da unidade e diferença simultânea, permaneceram sempre em Consciência de Krishna e assim se tornaram liberadas de toda a contaminação material. A consciência do ser vivo que falsamente se apresenta como o desfrutador do mundo material se chama jiva-kosha, que significa aprisionamento pelo ego falso. Não somente as gopis mas qualquer um que siga essas instruções de Krishna se torna imediatamente livre do aprisionamento jiva-kosha. Uma pessoa em Consciência de Krishna plena está sempre liberada do egoísmo falso; ela utiliza tudo para o serviço a Krishna e não está em tempo nenhum separada de Krishna.

As gopis então oraram para Krishna, "Querido Krishna, do Seu umbigo emana a flor de lótus original que é o local de nascimento de Brahma, o criador. Ninguém pode estimar Suas glórias ou Sua opulência, que assim permanece sempre um mistério mesmo para homens altamente meticulosos, os mestres de todo o poder do yoga. A alma condicionada caída no poço escuro desta existência material pode muito facilmente, entretanto, abrigar-se nos pés de lótus do Senhor Krishna. Assim sua liberação está garantida". As gopis continuaram: "Querido Krishna, nós estamos sempre ocupadas em nossos afazeres familiares. Nós por isso pedimos que Você permaneça dentro de nossos corações como o Sol nascente, e essa será Sua maior bênção".

As gopis são sempre almas liberadas, porque elas são plenamente conscientes de Krishna. Elas só pretendiam estar entretidas com os afazeres domésticos em Vrindavana. Apesar de sua longa separação, os habitantes de Vrindavana, as gopis, não estavam interessados na idéia de irem com Krishna para Sua cidade capital, Dwaraka. Eles queriam permanecer ocupados em Vrindavana e assim sentirem a presença de Krishna em cada passo de suas vidas. Eles imediatamente convidaram Krishna para voltar a Vrindavana. Essa existência emocional transcendental das gopis é o princípio básico do ensinamento do Senhor Chaitanya. O Festival Ratha-yatra observado pelo Senhor Chaitanya é o processo emocional de levar Krishna de volta para Vrindavana. Srimati Radharani Se recusou a ir com Krishna para Dwaraka para desfrutar Sua companhia na atmosfera da opulência real, mas queria desfrutar a companhia Dele na atmosfera original de Vrindavana. O Senhor Krishna, por ser profundamente apegado às gopis, nunca vai embora de Vrindavana, e as gopis e outros residentes de Vrindavana permanecem plenamente satisfeitos em Consciência de Krishna.

  

  

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Um de Krishna, "O Senhor Krishna e Balarama Encontram os Habitantes de Vrindavana".

           

      

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 82

Draupadi Encontra as Rainhas de Krishna

   

Havia vários visitantes que vieram para ver Krishna, e entre eles estavam os Pandavas, liderados pelo Rei Yudhisthira. Depois de falar com as gopis e lhes conceder a maior bênção, o Senhor Krishna veio para dar as boas vindas ao Rei Yudhisthira e outros familiares que vieram vê-Lo. Ele primeiro de tudo indagava deles se sua situação era auspiciosa. Na realidade, não há questão de má sorte para qualquer um que vê os pés de lótus do Senhor Krishna, mesmo assim quando o Senhor Krishna, por questão de etiqueta, indagou do Rei Yudhisthira sobre seu bem estar, o Rei ficou muito feliz com essa recepção e começou a falar com o Senhor Krishna assim: "Meu querido Senhor Krishna, grandes personalidades e devotos em consciência de Krishna plena sempre pensam em Seus pés de lótus e permanecem plenamente satisfeitos por beber o néctar da bem-aventurança transcendental. O néctar que eles bebem constantemente sai da boca deles e é borrifado em outros na forma da narração de Suas atividades transcendentais. Esse néctar que sai da boca de um devoto é tão poderoso que se alguém tiver a oportunidade de bebê-lo, imediatamente se torna livre da jornada contínua de nascimento e morte. Nossa existência material é causada por nosso esquecimento de Sua personalidade, mas felizmente, a escuridão do esquecimento é imediatamente dissipada se a pessoa for privilegiada por ouvir sobre Suas glórias. Portanto, meu querido Senhor, onde está a possibilidade de má sorte para aquele que está constantemente dedicado a ouvir Suas atividades gloriosas"?

"Porque nós somos plenamente rendidos a Você e não temos outro abrigo além de Seus pés de lótus, estamos sempre confiantes em nossa boa sorte. Meu querido Senhor, Você é o oceano de conhecimento e bem-aventurança ilimitados. O resultado da ação de elaboração mental é existir nas três fases temporárias da vida material - vigília, sono e sono profundo. Mas essas condições não podem existir em Consciência de Krishna. Todas essas reações são invalidadas pela prática da Consciência de Krishna. Você é o destino último de todas pessoas liberadas. Só por Seu desejo independente, Você descendeu nesta Terra pelo uso de Sua própria potência, yogamaya, e a fim de restabelecer os princípios Védicos da vida, Você apareceu justamente igual um ser humano ordinário. Porque Você é a Pessoa Suprema, não pode haver, portanto, qualquer má sorte para aquele que se rendeu plenamente a Você".

Enquanto o Senhor Krishna estava ocupado em receber vários tipos de visitantes e enquanto eles estavam dedicados a oferecer preces ao Senhor, os membros femininos da dinastia Kuru e dinastia Yadu aproveitaram a oportunidade do encontro uma com a outra e ficaram entretidas em falar sobre os passatempos transcendentais do Senhor Krishna. A primeira indagação foi feita por Draupadi para as esposas do Senhor Krishna. Ela se dirigiu a elas: "Minhas queridas Rukmini, Bhadra, Jambavati, Satya, Satyabhama, Kalindi, Shaibya, Lakshmana, Rohini e todas as outras esposas do Senhor Krishna, vocês podem nos deixar saber como o Senhor Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, aceitou vocês como esposas Dele e casou com vocês com consideração a cerimônias matrimoniais de seres humanos ordinários"?

A essa questão, a líder das rainhas, Rukminidevi, respondeu, "Minha querida Draupadi, era praticamente fato determinado que príncipes como Jarasandha e outros queriam que eu casasse com o Rei Shishupala, e como de costume, todos os príncipes presentes durante a cerimônia de casamento estavam preparados com suas armaduras e armas para lutar com qualquer rival que ousasse parar o casamento. Mas a Suprema Personalidade de Deus me raptou no modo que um leão pega um cordeiro do rebanho. Isso não foi, entretanto, um ato muito assombroso para o Senhor Krishna, porque qualquer um que alega ser um herói ou rei muito grandioso dentro deste mundo é subordinado aos pés de lótus do Senhor. Todos os reis tocaram seus elmos nos pés de lótus do Senhor Krishna. Minha querida Draupadi, é meu desejo eterno que vida após vida eu possa estar dedicada ao serviço do Senhor Krishna, que é o reservatório de todo prazer e beleza. Esse é meu único desejo e ambição em vida".

Depois disso, Satyabhama começou a falar. Ela disse, "Minha querida Draupadi, meu pai estava altamente aflito por causa da morte de seu irmão, Prasena, e ele falsamente acusou o Senhor Krishna de matar seu irmão e roubar a jóia Syamantaka, que na realidade foi tomada por Jambavan. O Senhor Krishna, a fim de estabelecer Seu caráter puro, lutou com Jambavan e recuperou a jóia Syamantaka, que depois foi entregue a meu pai. Meu pai ficou muito envergonhado e arrependido de acusar o Senhor Krishna da morte de seu irmão. Depois de receber de volta a jóia Syamantaka, ele achou sábio reparar seu engano, assim apesar de ter prometido a outros minha mão em casamento, ele submeteu a jóia e eu mesma aos pés de lótus de Krishna, e então eu fui aceita como Sua criada e esposa".

Depois disso, Jambavati respondeu à pergunta de Draupadi. Ela disse: "Minha querida Draupadi, quando o Senhor Krishna atacou meu pai Jambavan, o Rei dos rikshas, meu pai não sabia que o Senhor Krishna era seu mestre anterior, Senhor Ramachandra, o esposo de Sita. Sem saber a identidade do Senhor Krishna, meu pai permaneceu continuamente engajado em combate com Ele por vinte e sete dias. Depois desse período, quando ele ficou muito cansado e fatigado, pôde entender porque ninguém além do Senhor Ramachandra podia derrotá-lo, seu oponente, Senhor Krishna, devia ser o mesmo Senhor Ramachandra. Ele então recobrou seu juízo e não só imediatamente devolveu a jóia Syamantaka, mas também a fim de satisfazê-Lo, ele me presenteou a Ele para me tornar Sua esposa. Dessa forma, eu me casei com o Senhor, e assim meu desejo de permanecer vida após vida como uma servidora de Krishna foi satisfeito".

Depois disso, Kalindi disse, "Minha querida Draupadi, eu estava engajada em grandes austeridades e penitências a fim de obter o Senhor Krishna como meu esposo. E quando o Senhor Krishna ficou ciente desse fato, Ele muito gentilmente veio a mim junto com Seu amigo Arjuna e me aceitou como Sua esposa. O Senhor Krishna então me levou embora da margem do Yamuna, e desde então eu estou dedicada na casa do Senhor Krishna como uma varredora. E Ele me trata como Sua esposa".

Depois disso, Mitravinda disse, "Minha querida Draupadi, havia uma grande assembléia de príncipes na minha cerimônia swayamvara. O Senhor Krishna também estava presente nessa reunião, e Ele me aceitou como Sua criada ao derrotar todos os príncipes presentes ali. Ele me levou imediatamente para Dwaraka, exatamente igual um leão arrebata um cervo de uma matilha de cães. Quando fui levada assim pelo Senhor Krishna, meus irmãos quiseram lutar com Ele, e então foram derrotados. Assim meu desejo de me tornar uma criada de Krishna vida após vida foi satisfeito".

Depois disso, Satya falou com Draupadi dessa forma: "Minha querida Draupadi, meu pai arranjou uma assembléia para meu swayamvara, (a seleção pessoal de um esposo), e a fim de testar a força e heroísmo dos futuros noivos, meu pai estipulou que cada um lutaria com seus sete touros ferozes, que tinham longos chifres em serpentina. Muitos futuros noivos tentaram derrotar os touros, mas infelizmente todos eles foram feridos severamente, e eles voltaram para suas casas como inválidos derrotados. Quando o Senhor Krishna veio e lutou com os touros, eles eram justamente iguais a brinquedos para Ele, Ele capturou os touros e amarrou cada um deles por suas narinas. Assim eles ficaram sob Seu controle, justamente igual um pequeno filhote de bode vem facilmente sob o controle de crianças. Meu pai ficou muito feliz e me casou com o Senhor Krishna em grande pompa, e deu como meu dote muitas divisões de soldados, cavalos, quadrigas e elefantes, junto com centenas de criadas. Assim o Senhor Krishna me trouxe para Sua cidade capital, Dwaraka. No caminho de volta, Ele também foi atacado por muitos príncipes, mas o Senhor Krishna derrotou todos eles, e assim eu tive o privilégio de servir Seus pés de lótus como uma criada".

Depois disso, Bhadra começou a falar. Ela disse, "Minha querida Draupadi, o Senhor Krishna é o filho de meu tio materno. Felizmente, eu fiquei atraída a Seus pés de lótus. Quando meu pai compreendeu esse meu sentimento, ele pessoalmente arranjou o meu casamento, convidou o Senhor Krishna para casar comigo e deu a Ele um dote de uma akshauhini, ou divisão de forças armadas, junto com muitas criadas e outra parafernália real. Eu não sei se serei capaz de ter o abrigo do Senhor Krishna vida após vida, mas ainda assim eu oro ao Senhor onde quer que eu aceite meu nascimento, eu nunca esqueça minha relação com Seus pés de lótus".

Então Lakshmana disse, "Minha querida Rainha, muitas vezes eu ouvi o grande sábio Narada glorificar os passatempos do Senhor Krishna. Eu fiquei atraída aos pés de lótus de Krishna quando ouvi Narada dizer que a deusa da fortuna, Lakshmi, também ficou atraída aos pés de lótus Dele. Desde então, eu sempre pensei Nele, e por isso minha atração por Ele incrementou. Minha querida Rainha, meu pai tinha muita afeição por mim. Quando entendeu que eu estava atraída por Krishna, ele fez um plano. O plano dele foi igual ao projetado por seu pai; durante o swayamvara, os futuros noivos tinham que perfurar os olhos de um peixe com suas flechas. A diferença entre a competição no seu swayamvara e no meu era que no seu caso o peixe estava pendurado no teto abertamente, com a visão clara, mas no meu caso o peixe estava coberto com um pano e só podia ser visto pelo reflexo no pano em um pote de água. Essa foi a característica especial do meu swayamvara".

"A notícia desse esquema se espalhou por todo o mundo, e quando os príncipes ouviram, chegaram à cidade capital do meu pai de todas as direções, plenamente equipados com armadura e guiados por instrutores militares. Todos eles desejavam me conquistar como sua esposa, e um depois do outro levantava o arco e flecha que foi deixado lá para perfurar o peixe. Muitos não conseguiam nem prender a corda do arco nas duas extremidades do arco, e sem tentar perfurar o peixe, eles simplesmente deixavam o arco como estava e iam embora. Alguns com muita dificuldade prendiam a corda de uma extremidade à outra, mas incapazes de prender a outra extremidade, eles eram subitamente derrubados pelo arco como uma mola. Minha querida Rainha, você ficará surpresa de saber que no meu encontro swayamvara havia muitos reis e heróis famosos presentes. Heróis tais quais Jarasandha, Ambashtha, Shishupala, Bhimasena, Duryodhana e Karna foram, é claro, capazes de pôr a corda no arco, mas não conseguiram perfurar o peixe, porque estava coberto, e eles não conseguiam mirá-lo pelo reflexo. O célebre herói dos Pandavas, Arjuna, foi capaz de ver o reflexo do peixe na água, mas apesar de com muito cuidado ele mirar no local do peixe e disparar uma flecha, ele não perfurou o peixe no lugar certo. Sua flecha pelo menos tocou o peixe, e assim ele provou ser melhor do que todos os outros príncipes".

Todos os príncipes que tentaram perfurar o alvo ficaram desapontados, frustrados em suas tentativas, e alguns candidatos até deixaram o local sem fazer nenhuma tentativa, mas quando no fim o Senhor Krishna pegou o arco, Ele foi capaz de pender a corda muito facilmente, justamente igual uma criança brinca com um brinquedo. Ele pôs a corda, e olhou uma única vez no reflexo do peixe na água, Ele disparou a flecha, e o peixe perfurado caiu imediatamente. Essa vitória do Senhor Krishna foi realizada ao meio-dia, durante o momento chamado abhijit, que é calculado astronomicamente como auspicioso. Nesse momento, a vibração de 'Jaya! Jaya'! foi ouvida no mundo inteiro, e do céu vieram sons do tocar de tambores pelos cidadãos do céu. Grandes semideuses estavam emocionados de alegria e começaram a chover flores na Terra".

"Nesse momento, eu entrei na arena da competição, e os guizos de tornozelos em minhas pernas soavam muito melodiosamente à medida que eu andava. Eu estava vestida finamente com roupas novas de seda, flores decoravam meu cabelo, e por causa da vitória do Senhor Krishna, eu estava em alegria extática e sorria muito agradavelmente. Eu carregava em minhas mãos um colar de ouro adornado com jóias, que brilhava em intervalos. Meu cabelo ondulado rodeava minha face, que brilhava com esplendor brilhante por causa do reflexo de meus brincos. Meus olhos piscavam, em primeiro lugar eu observei todos os príncipes presentes, e quando alcancei meu Senhor, Eu muito vagarosamente coloquei o colar de ouro em Seu pescoço. Como já informei vocês, desde o início minha mente foi atraída pelo Senhor Krishna, e por isso eu considerei pôr o colar no Senhor como minha grande vitória. Assim que coloquei o colar no pescoço do Senhor, soou imediatamente a vibração combinada de mridangas, patahas, búzios, tambores, címbalos e outros instrumentos, que causou um som tumultuoso, e enquanto a música tocava, dançarinos especialistas masculinos e femininos começaram a dançar, e cantores começaram a cantar docemente".

"Minha querida Draupadi, quando eu aceitei o Senhor Krishna como meu esposo adorado, e Ele também me aceitou como Sua criada, houve um bramido tumultuoso entre os príncipes desapontados. Todos eles ficaram muito agitados por causa de seus desejos luxuriosos, mas sem Se importar com eles, meu esposo, em Sua forma como Narayana de quatro mãos, imediatamente me pegou em Sua quadriga, que era puxada por quatro cavalos excelentes. Na expectativa de oposição dos príncipes, Ele pôs Sua armadura e pegou Seu arco chamado Sharanga, mas nosso célebre piloto, Daruka, conduziu a bela quadriga sem nenhum momento de atraso em direção à cidade de Dwaraka. Assim, na presença de todos os príncipes, eu fui levada embora muito rápido, exatamente como um cervo é retirado do rebanho por um leão. Alguns dos príncipes, entretanto, queriam impedir o nosso progresso, e assim, equipados com armas apropriadas, eles se opuseram a nós, justamente iguais cães tentam se opor à marcha progressiva do leão. Nesse momento, devido às flechas disparadas pelo arco Sharanga do Senhor Krishna, alguns príncipes tiveram suas mãos esquerdas cortadas, alguns deles perderam suas pernas, e alguns perderam suas cabeças e suas vidas, e outros fugiram do campo de batalha".

"A Suprema Personalidade de Deus então entrou na cidade mais célebre do universo, Dwaraka, e quando entrava na cidade, Ele parecia o Sol brilhante. A cidade de Dwaraka estava profusamente decorada na ocasião. Havia tantas bandeiras e festões e portais por toda Dwaraka que o brilho solar nem conseguia entrar na cidade. Eu já disse que meu pai tinha muita afeição por mim, assim que ele viu meu desejo satisfeito ao obter o Senhor Krishna como meu esposo, com grande alegria ele começou a distribuir aos amigos e familiares vários tipos de presentes, tais quais roupas, ornamentos, colchas e tapetes de sentar valiosos. O Senhor Krishna é sempre auto-suficiente, ainda assim meu pai, por seu próprio acordo, ofereceu ao meu marido um dote que consistia de riquezas, soldados, elefantes, quadrigas, cavalos e muitas armas raras e preciosas. Ele presenteou tudo isso ao Senhor com muito entusiasmo. Minha querida Rainha, naquele momento eu pude imaginar que na minha vida prévia eu devo ter executado algumas atividades piedosas maravilhosamente, e como resultado, eu pude nesta vida ser uma das criadas na casa da Suprema Personalidade de Deus".

Quando todas as rainhas principais do Senhor Krishna terminaram seus relatos, Rohini, como representante das outras dezesseis mil rainhas, começou a narrar o incidente de elas se tornarem esposas de Krishna.

"Minha querida Rainha, quando Bhaumasura conquistava o mundo, ele coletou onde quer que foi possível todas as belas filhas de reis e nos manteve presas dentro do seu palácio. Quando a notícia do aprisionamento chegou ao Senhor Krishna, Ele lutou com Bhaumasura e nos libertou. O Senhor Krishna matou Bhaumasura e todos os seus soldados, e apesar de Ele não ter necessidade de aceitar mesmo uma esposa, Ele entretanto, por nosso pedido, casou com todas as dezesseis mil de nós. Minha querida Rainha, nossa única qualificação é que estávamos sempre com o pensamento nos pés de lótus do Senhor Krishna, que é o caminho para se libertar do cativeiro de repetidos nascimento e morte. Minha querida Rainha Draupadi, tire isso de nós que não estamos atrás de qualquer opulência tais quais reino, império, ou posição no desfrute celestial. Nós não queremos desfrutar essas opulências materiais, nem nós queremos alcançar as perfeições do yoga, nem o posto exaltado do Senhor Brahma. Nem nós queremos nenhum dos diferentes tipos de liberação - salokya, sarshti, samipya ou sayujya. Nós não estamos de jeito nenhum atraídas por nenhuma dessas opulências. Nossa única ambição é portar sobre nossas cabeças vida após vida as partículas de poeira fixas nos pés de lótus do Senhor Krishna. A deusa da fortuna também deseja manter essa poeira sobre seus seios, junto com o açafrão fragrante. Nós simplesmente desejamos essa poeira, que se acumulou debaixo dos pés de lótus de Krishna quando Ele andava na terra de Vrindavana como um menino pastor de vacas. As gopis especialmente, e também os pastores de vacas e as mulheres de tribos aborígenes, sempre desejaram se tornar a grama e palha na rua de Vrindavana, para serem pisadas pelos pés de lótus de Krishna. Minha querida Rainha, nós queremos permanecer assim vida após vida, sem nenhum outro desejo".

     

    

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Dois de Krishna, "Draupadi Encontra as Rainhas de Krishna".

           

      

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 83

Cerimônias de Sacrifício Realizadas por Vasudeva

   

Entre as mulheres presentes em Kurukshetra durante o eclipse solar estavam Kunti, Gandhari, Draupadi, Subhadra e as rainhas de muitos outros reis, e também as gopis de Vrindavana. Quando as diferentes rainhas do Senhor Krishna apresentavam suas narrações de como elas casaram e foram aceitas pelo Senhor Krishna como Suas esposas, todos os membros femininos da dinastia Kuru ficaram emocionadas. Elas estavam cheias de admiração sobre como as rainhas de Krishna eram apegadas a Ele com amor e afeição. Quando elas ouviram sobre a intensidade do amor e afeição das rainhas por Krishna, elas não conseguiam impedir seus olhos de se encherem de lágrimas.

Enquanto as mulheres estavam entretidas em conversações entre elas e os homens estavam similarmente entretidos em conversação, chegaram quase todos os sábios e ascetas importantes de todas as direções, que vieram com o propósito de ver o Senhor Krishna e Balarama. O líder entre os sábios era Krishna-dwaipayana Vyasa, o grande sábio Narada, Chyavana, Devala, Asita, Vishvamitra, Shatananda, Bharadwaja, Gautama, e Senhor Parashurama junto com seus discípulos; Vasishtha, Galava, Bhrigu, Pulasya, Kashyapa, Atri, Markandeya, Brihaspati, Dwita, Trita, Ekata; os quatro Kumaras filhos de Brahma, Sanaka, Sanandana, Sanatana e Sanatkumara; Angira e Agatsya, Yajñavalkya e Vamanadeva.

Logo que os sábios e ascetas chegaram, todos os reis inclusive Maharaja Yudhisthira e os Pandavas e Senhor Krishna e Balarama, imediatamente se levantaram de seus assentos e ofereceram seus respeitos por se prostrarem para os sábios respeitados universalmente. Depois disso, os sábios foram propriamente bem recebidos, foram oferecidos assentos e água para lavar seus pés. Frutas saborosas, colares de flores, incenso, e polpa de sândalo foram oferecidos, e todos os reis, liderados por Krishna e Balarama, adoraram os sábios de acordo com as regras e regulamentos Védicos. Quando todos os sábios foram confortavelmente sentados, o Senhor Krishna, que descendeu para proteger a religião, começou a falar com eles em nome de todos os outros reis. Quando Krishna começou a falar, todos ficaram silenciosos, ansiosos para ouvir e entender Suas palavras de boas vindas aos sábios.

O Senhor Krishna falou assim: "Todas as glórias aos sábios e ascetas reunidos! Hoje todos nós sentimos que nossas vidas se tornaram bem sucedidas. Hoje nós alcançamos o objetivo da vida desejado, porque agora nós vemos face a face todos os exaltados sábios e ascetas liberados que até mesmo os grandes semideuses nos céus desejam ver. Pessoas que são neófitas em serviço devocional e que simplesmente oferecem suas respeitosas reverências à Deidade no templo mas não conseguem realizar que o Senhor está situado no coração de todos, e aqueles que simplesmente adoram diferentes semideuses para a satisfação de seus próprios desejos luxuriosos, são incapazes de entender a importância desses sábios. Eles não podem aproveitar a vantagem de receber esses sábios por vê-los com seus olhos, por tocar seus pés de lótus, por inquirir sobre seu bem-estar ou por adorá-los diligentemente".

Devotos neófitos ou religiosos não podem entender a importância dos grandes mahatmas. Eles vão ao templo por uma questão de formalidade e prestam suas respeitosas reverências à Deidade. Mas quando a pessoa é promovida à próxima plataforma da consciência transcendental, ela pode entender a importância dos mahatmas e devotos, e nesse estágio o devoto tenta satisfazê-los. Portanto, o Senhor Krishna disse que o neófito não pode entender a importância dos grandes sábios, devotos e ascetas.

Krishna continuou, "Uma pessoa não pode se purificar por viajar aos locais sagrados de peregrinação e tomar banho lá ou por ver as Deidades nos templos. Mas se acontecer de encontrar um grande devoto, um mahatma que é representante da Personalidade de Deus, ela se torna imediatamente purificada, existe um regulamento para adorar o fogo, o sol, a lua, a terra, a água, o ar, o céu e a mente. Por adorar todos os elementos e suas deidades predominantes, a pessoa pode se tornar livre da influência da inveja, mas todos os pecados de uma pessoa invejosa podem ser nulificados imediatamente simplesmente por servir uma grande alma. Meus queridos sábios veneráveis e reis respeitáveis, vocês podem saber isso de Mim uma pessoa que aceita este corpo material feito de três elementos - muco, bílis e ar - como seu próprio eu, que considera sua família e familiares como sua propriedade, e que aceita coisas materiais como adoráveis, ou que visita locais sagrados de peregrinação justamente para tomar um banho lá, mas nunca se associa com grandes personalidades, sábios e mahatmas - tal pessoa, mesmo na forma de um ser humano, não é nada mais além de um animal, igual um asno".

Quando a autoridade suprema, Senhor Krishna, falava assim com grande gravidade, todos os sábios e ascetas permaneceram em silêncio mortal. Eles ficaram admirados ao ouvi-Lo falar a filosofia absoluta da vida em uma forma tão concisa. A menos que a pessoa seja muito avançada em conhecimento, ela pensa que seu corpo é seu eu, seus membros familiares são seus amigos e parentes, e a terra do seu nascimento deve ser adorada. Desse conceito de vida, a ideologia moderna do nacionalismo brotou. O Senhor Krishna condenou essas idéias, e Ele também condenou pessoas que se dão o trabalho de ir a locais sagrados de peregrinação justamente para tomar um banho e depois voltar sem aproveitar a oportunidade de se associar com os grandes devotos e mahatmas que vivem lá. Essas pessoas são comparadas ao animal mais tolo, o asno. Todos aqueles que ouviram consideraram a fala do Senhor Krishna por algum tempo, e eles concluíram que o Senhor Krishna era realmente a Suprema Personalidade de Deus, que fazia o papel de um ser humano ordinário que é forçado a aceitar certo tipo de corpo como resultado das reações de seus feitos passados. Ele assumiu esse passatempo como um ser humano ordinário simplesmente para ensinar as pessoas em geral como devem viver para a perfeição da missão humana.

Depois de concluir que Krishna era a Suprema Personalidade de Deus, os sábios começaram a se dirigir a Ele assim: "Querido Senhor, nós, os líderes da sociedade humana, deveríamos possuir a filosofia de vida apropriada, e mesmo assim nós ficamos confusos com o encanto da Sua energia externa. Nós estamos surpresos de ver o Seu comportamento, que é justamente igual o de um ser humano ordinário e que esconde Sua identidade real como a Suprema Personalidade de Deus, e nós portanto consideramos Seus passatempos como todo-maravilhosos".

"Nosso querido Senhor, por Sua própria energia Você cria, mantém e aniquila a manifestação cósmica inteira de diferentes nomes e formas, da mesma forma que a terra cria muitas formas de pedra, árvores e outras variedades de nomes e formas e mesmo assim permanece a mesma. Apesar de Você criar variedades de manifestação através de Sua energia, Você não é afetado por essas ações. Nosso querido Senhor, nós permanecemos simplesmente admirados por ver Suas ações formidáveis. Apesar de Você ser transcendental a esta criação material inteira e ser o Supremo Senhor e a Superalma de todos os seres vivos, Você mesmo assim aparece nesta terra por Sua potência interna para proteger Seus devotos e destruir os malfeitores. Por esse aparecimento, Você restabelece os princípios da religião eterna, que a sociedade humana esquece pela longa associação com a energia material. Nosso querido Senhor, Você é o criador das ordens sociais e status espirituais da sociedade humana de acordo com qualidade e trabalho, e quando essas ordens são mal guiadas por pessoas inescrupulosas, Você aparece e as acerta".

"Querido Senhor, o conhecimento Védico é a representação de Seu coração puro. Austeridades, estudo dos Vedas, e transes meditativos conduzem a diferentes realizações do Seu Eu em Seus aspectos manifesto e não manifesto. O mundo fenomenal inteiro é uma manifestação de Sua energia impessoal, mas Você em Si mesmo, como a Suprema Personalidade de Deus original, não é manifesto lá. Você é a Alma Suprema, o Supremo Brahman. Pessoas que estão situadas na cultura brahmana, portanto, podem entender a verdade sobre Sua forma transcendental. Por isso Você sempre trata os brahmanas com respeito, e por isso Você é considerado como o mais elevado de todos os seguidores da cultura brahmana. Você é por isso conhecido como brahmanya-deva. Nosso querido Senhor, Você é a última palavra em boa sorte e o recurso último das pessoas santificadas; assim nós todos consideramos que alcançamos a perfeição de nossa vida, educação, austeridade e aquisição de conhecimento transcendental por encontrá-Lo. De fato, Você é o objetivo último de todas as realizações transcendentais".

"Nosso querido Senhor, não há fim para Seu conhecimento ilimitado. Sua forma é transcendental, existe eternamente em bem-aventurança e conhecimento plenos. Você é a Suprema Personalidade de Deus, o Supremo Brahman, a Alma Suprema. Coberto pelo encanto de Sua potência interna, yogamaya, Você agora oculta temporariamente Suas potências ilimitadas, mas mesmo assim podemos entender Sua posição exaltada, e portanto todos nós oferecemos a Você nossas respeitosas reverências. Querido Senhor, Você desfruta Seus passatempos no papel de um ser humano, e oculta Seu verdadeiro caráter de opulência transcendental; assim, todos os reis que estão presentes aqui, mesmo os membros da dinastia Yadu que constantemente se misturam com Você, comem com Você, e se sentam com Você, não podem entender que Você é a causa original de todas as causas, a alma de todos, a causa original de toda a criação".

"Quando uma pessoa sonha à noite, figuras alucinatórias criadas pelo sonho são aceitas como reais, e o corpo imaginário no sonho é aceito como o corpo real da pessoa. Por esse tempo, a pessoa esquece que ao lado do corpo criado na alucinação, existe outro, corpo real em seu estado desperto. Similarmente, no estado desperto também, a alma condicionada confusa considera desfrute sensual como felicidade real".

"Pelo processo de desfrute dos sentidos do corpo material, a alma espiritual é coberta, e sua consciência se torna materialmente contaminada. É devido à consciência material que a pessoa não pode entender a Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Todos os grandes yogis místicos se empenham para reviver sua consciência de Krishna pela prática madura do sistema de yoga e assim entender Seus pés de lótus e meditar em Sua forma transcendental. Dessa forma, o resultado acumulado das atividades pecaminosas é neutralizado. É dito que a água do Ganges pode aniquilar volumes de ações pecaminosas de uma pessoa, mas a água do Ganges é gloriosa somente devido a Seus pés de lótus. A água do Ganges flui como transpiração dos pés de lótus de Sua Divindade. E nós somos tão afortunados que hoje fomos capazes de ver diretamente Seus pés de lótus. Querido Senhor, nós todos somos almas rendidas, devotos de Sua Divindade; portanto, por favor, seja gentil e nos conceda Sua misericórdia sem causa. Nós sabemos muito bem que pessoas que se tornaram liberadas pela dedicação constante a Seu serviço devocional não são mais contaminadas pelos modos da natureza material; assim elas se tornaram elegíveis para serem promovidas ao reino de Deus no mundo espiritual".

Depois de primeiro oferecerem preces ao Senhor Krishna, os sábios reunidos desejaram pedir permissão para o Rei Dhritarastra e Rei Yudhisthira e depois partirem para seus respectivos ashramas. Nesse momento, entretanto, Vasudeva, o pai do Senhor Krishna e o homem piedoso mais célebre, aproximou-se dos sábios e com grande humildade ofereceu seus respeitos por cair aos pés deles. Vasudeva disse, "Meus queridos grandes sábios, vocês são mais respeitáveis do que os semideuses. Eu portanto ofereço minhas respeitosas reverências a vocês. Eu desejo que vocês aceitem meu pedido, se assim desejarem. Eu considerarei uma grande bênção que vocês gentilmente expliquem a atividade lucrativa suprema pela qual a pessoa pode neutralizar as reações de todas as outras atividades".

O grande sábio Narada era o líder de todos os sábios presentes ali. Assim ele começou a falar. "Meus queridos sábios", disse ele, "não é muito difícil de entender que por causa de sua grande bondade e simplicidade, Vasudeva, que se tornou o pai da Personalidade de Deus por aceitar Krishna como seu filho, é inclinado por nos perguntar sobre seu bem-estar. É dito que familiaridade cria desdém. Assim, Vasudeva, que tem Krishna como seu filho, não considera Krishna com reverência e veneração. Às vezes, vimos que pessoas que moram na margem do Ganges não consideram o Ganges muito importante, e elas vão bem longe a fim de tomarem seus banhos num lugar de peregrinação. Porque o Senhor Krishna, cujo conhecimento nunca é secundário em quaisquer circunstâncias, está pessoalmente presente, não há necessidade de Vasudeva nos pedir por instruções".

O Senhor Krishna não é afetado pelo processo de criação, manutenção e aniquilação; Seu conhecimento nunca é influenciado por nenhuma agência além Dele mesmo. Ele não é agitado pela interação das qualidades materiais, que muda coisas nos modos do tempo. Sua forma transcendental é cheia de conhecimento que nunca se torna agitada por ignorância, orgulho, apego, inveja ou desfrute sensual. Seu conhecimento nunca é sujeito às leis do karma que lidam com atividades piedosas e impiedosas; nem é influenciado pelos três modos da energia material. Ninguém é maior do que ou igual a Ele, porque Ele é a autoridade suprema, a Personalidade de Deus.

"O ser humano condicionado ordinário pode achar que a alma condicionada, que está coberta pelos seus sentidos, mente e inteligência materialistas, é igual a Krishna, mas o Senhor Krishna é justamente igual ao Sol, que, apesar de às vezes parecer estar assim, nunca é coberto pela nuvem, neve ou névoa ou por outros planetas. Quando os olhos de homens menos inteligentes estão cobertos por tais influências, eles acham que o Sol é invisível. Similarmente, pessoas influenciadas pelos sentidos e dependentes do desfrute material não podem ter uma visão clara da Suprema Personalidade de Deus".

Os sábios presentes então começaram a falar com Vasudeva na presença do Senhor Krishna e Balarama e muitos outros reis, e, como solicitado por ele, eles deram suas instruções: "Para neutralizar a reação do karma, ou desejos que incitam alguém para atividades lucrativas, a pessoa deve executar os sacrifícios prescritos que são destinados à adoração do Senhor Vishnu com fé e devoção. O Senhor Vishnu é o beneficiário dos resultados de todas as realizações de sacrifício. Grandes personalidades e sábios que são suficientemente experientes para possuir visão das três fases do elemento tempo, chamadas passado, presente e futuro, e aqueles que são capazes de ver tudo claramente através dos olhos das escrituras reveladas, unanimemente recomendaram que para purificar a poeira da contaminação material acumulada no coração e para limpar o caminho da liberação e assim alcançar bem-aventurança transcendental, a pessoa tem que satisfazer o Senhor Vishnu. Para cada um nas diferentes ordens sociais (brahmana, kshatriya e vaishya) que vivem como casados, essa adoração da Suprema Personalidade de Deus Senhor Vishnu, que é conhecido como Purushottama, a pessoa original, é recomendado como o único caminho auspicioso".

"Todas as almas condicionadas dentro deste mundo material têm desejos profundamente enraizados de dominar os recursos da natureza material. Todos querem acumular riquezas, todos querem desfrutar a vida à maior extensão, todos querem uma esposa, lar e filhos, e todos querem se tornar felizes neste mundo e serem elevados aos planetas celestiais na próxima vida. Mas esses desejos são as causas do cativeiro material da pessoa. Portanto, para obter liberação deste cativeiro, a pessoa tem que sacrificar suas riquezas ganhas honestamente para a satisfação do Senhor Vishnu".

"O único processo para neutralizar todos os tipos de desejo material é se dedicar ao serviço devocional do Senhor Vishnu. Dessa forma, uma pessoa autocontrolada, mesmo enquanto permanece na vida de casado, deve abandonar três tipos de desejos materiais, chamados desejo por aquisição de opulências materiais, desfrute de esposa e filhos, e elevação aos planetas superiores. Eventualmente ele pode abandonar a vida de casado e aceitar a ordem de vida renunciada, e se dedicar completamente ao serviço devocional do Senhor. Todos, mesmo se nascido num status de vida superior como brahmana, kshatriya, ou vaishya, estão certamente endividados com os semideuses, os sábios, os antepassados, os seres vivos e assim por diante, e a fim de liquidar todos esses débitos, a pessoa tem que executar sacrifícios, estudar a literatura Védica e gerar filhos em vida de casado religiosa. Se de alguma forma alguém aceita a ordem de vida da renúncia sem quitar o seu débito, certamente ele cai de sua posição. Hoje vocês já liquidaram seus débitos com seus antepassados e os sábios. Agora, por executar sacrifícios, você pode se libertar do endividamento com os semideuses e assim aceitar abrigo completo na Suprema Personalidade de Deus. Meu querido Vasudeva, certamente você já executou muitas atividades piedosas em suas vidas prévias. De outra forma, como você pôde ser o pai de Krishna e Balarama, a Suprema Personalidade de Deus"?

O santificado Vasudeva, depois de ouvir todos os sábios, ofereceu suas respeitosas reverências a seus pés de lótus. Dessa forma, ele satisfez os sábios, e depois ele os elegeu para executarem yajñas. Quando os sábios foram eleitos como sacerdotes dos sacrifícios, eles também induziram Vasudeva a coletar a parafernália requerida para executar os yajñas naquele lugar de peregrinação. Assim Vasudeva foi persuadido a iniciar a execução dos yajñas, e todos os membros da dinastia Yadu tomaram seus banhos, vestiram-se muito bem, e se decoraram belamente e com colares de flores de lótus. As esposas de Vasudeva, vestidas com roupas e ornamentos finos e colares de ouro, aproximaram-se da arena do sacrifício e levavam em suas mãos os artigos requeridos para oferecer no sacrifício.

Quando tudo estava completo, foi ouvida a vibração de mridangas, búzios, címbalos e outros instrumentos musicais. Dançarinos profissionais, tanto masculinos quanto femininos, começaram a dançar. Os sutas e magadhas, que eram cantores profissionais, começaram a oferecer preces com canções. Os Gandharvas e suas esposas, cujas vozes eram muito doces, começaram a cantar muitas canções auspiciosas. Vasudeva untou seus olhos com colírio, passou manteiga sobre seu corpo, e depois, junto com suas dezoito esposas, lideradas por Devaki, sentou perante os sacerdotes para ser purificado pela cerimônia abhisheka. Todas essas cerimônias eram observadas estritamente de acordo com os princípios das escrituras como foi feito anteriormente no caso da lua com as estrelas. Vasudeva, porque estava em iniciação para o sacrifício, estava vestido com pele de veado, mas todas as suas esposas estavam vestidas com saris muito finos, pulseiras, colares, guizos de tornozelo, brincos e vários outros ornamentos. Vasudeva parecia muito belo rodeado por suas esposas, exatamente igual ao Rei do céu quando executa sacrifícios.

Nesse momento, quando o Senhor Krishna e Senhor Balarama, junto com Suas esposas, filhos e parentes, sentaram naquela grande arena do sacrifício, parecia que a Suprema Personalidade de Deus estava presente junto com todas as Suas partes e parcelas seres vivos e múltiplas energias. Nós ouvimos dos shastras que o Senhor Krishna tem múltiplas energias e partes e parcelas, mas agora naquela arena de sacrifício todos puderam experimentar realmente como a Suprema Personalidade de Deus existe eternamente junto com Suas diferentes energias. Nesse momento, o Senhor Krishna apareceu como o Senhor Narayana, e o Senhor Balarama apareceu como Sankarshana, o reservatório de todos os seres vivos.

Vasudeva satisfez o Senhor Vishnu com a execução de diferentes tipos de sacrifícios, tais quais jyotishtoma, darsha e purnamasa. Alguns desses yajñas são chamados prakrita, e alguns deles são conhecidos como sauryasatra ou vaikrita. Depois, os outros sacrifícios, conhecido como agnihotra, também foram executados, e os artigos prescritos foram oferecidos de forma apropriada. Dessa forma, o Senhor Vishnu ficou satisfeito. O propósito último de oferecer oblações em sacrifícios é satisfazer o Senhor Vishnu. Mas nessa era de Kali é muito difícil coletar os diferentes artigos requeridos para oferecer sacrifícios. As pessoas não têm nem meios para coletar a parafernália requerida nem o conhecimento necessário ou tendência de oferecer esses sacrifícios. Portanto, nesta era de Kali, quando as pessoas na maioria são desafortunadas, cheias de ansiedades e perturbadas por vários tipos de calamidades, o único sacrifício recomendado é a realização do sankirtana-yajña. Adorar o Senhor Chaitanya por esse sankirtana-yajña é o único processo recomendado para esta era.

Depois da execução dos diferentes sacrifícios, Vasudeva ofereceu amplas riquezas, roupas, ornamentos, vacas, terra e criadas para os sacerdotes. Depois disso, todas as esposas de Vasudeva tomaram seus banhos avabhritha e realizaram a parte dos deveres de sacrifício conhecida como patnisamyaja. Depois de terminar as oferendas com toda a parafernália necessária, todos tomaram seus banhos juntos nos lagos construídos por Parashurama, que são conhecidos como Rama-hrada. Depois que Vasudeva e suas esposas tomaram seus banhos, todas as vestimentas e ornamentos que eles usaram foram distribuídos a pessoas subordinadas que estavam ocupadas em cantar, dançar e atividades similares. Podemos notar que a execução do sacrifício necessita a distribuição profusa de riquezas. Caridade é oferecida aos sacerdotes e brahmanas no começo, e roupas e ornamentos usados são oferecidos em caridade aos assistentes subordinados depois da realização do sacrifício.

Depois de oferecer os artigos usados para os cantores e recitadores, Vasudeva e suas esposas, vestidos com novos ornamentos e roupas, alimentaram todos suntuosamente, a começar pelos brahmanas até os cães. Depois disso, todos amigos, membros familiares, esposas e filhos de Vasudeva, junto com todos os reis e membros das dinastias Vidarbha, Koshala, Kuru, Kashi, Kekaya e Srinjaya, se reuniram. Os sacerdotes, os semideuses, as pessoas em geral, os antepassados, os fantasmas e os Charanas todos foram suficientemente remunerados com a ampla oferenda de presentes e honra respeitável. Então todas as pessoas reunidas lá pediram permissão ao Senhor Krishna, o esposo da deusa da fortuna, e enquanto glorificavam a perfeição do sacrifício realizado por Vasudeva, partiram para seus lares respectivos.

Nesse momento, quando o Rei Dhritarastra, Vidura, Yudhisthira, Bhima. Arjuna, Bhismadeva, Dronacharya, Kunti, Nakula, Sahadeva, Narada, Senhor Vyasadeva e muitos outros familiares e amigos estavam para partir, sentiram separação e assim abraçaram um o outro e cada membro da dinastia Yadu com muita emoção. Muitos outros que estavam reunidos naquela arena de sacrifício também partiram. Depois disso, o Senhor Krishna e Senhor Balarama, junto com o Rei Ugrasena, satisfizeram os habitantes de Vrindavana, liderados por Maharaja Nanda e os pastores de vacas, por oferecer a eles profusamente todos os tipos de presentes a fim de adorá-los e agradá-los. Por causa de seus grandes sentimentos de amizade, os habitantes de Vrindavana permaneceram lá por um tempo considerável com os membros da dinastia Yadu.

Depois de realizar esse sacrifício, Vasudeva se sentiu tão satisfeito que não havia limite para sua felicidade. Todos os membros da sua família estavam com ele, e na presença deles ele segurou as mãos de Nanda Maharaja e falou com ele assim: "Meu querido irmão, a Suprema Personalidade de Deus criou um grande laço de cativeiro que é conhecido como o cativeiro do amor e afeição. Eu penso que é uma tarefa muito difícil mesmo para grandes sábios e pessoas santificadas cortar esse laço de amor. Meu querido irmão, você exibiu sentimentos de amor por mim, que eu não fui capaz de retornar. Eu acho, portanto, que sou ingrato. Você se comportou exatamente como é a característica das pessoas santificadas, mas eu nunca serei capaz de pagá-lo. Eu não tenho meios para pagar a você por suas atitudes amigáveis. Nossa relação de amizade deve sempre continuar, apesar da minha inabilidade em pagá-lo. Eu espero que você me desculpe por essa inabilidade".

"Meu querido irmão, no começo, por eu estar aprisionado, nunca pude servir você como um amigo, e apesar de no presente momento eu ser muito opulento, por causa da minha prosperidade material, eu me tornei cego. Eu por isso não pude satisfazê-lo propriamente mesmo neste tempo. Meu querido irmão, você é tão bom e gentil que oferece todo respeito aos outros, mas você não se preocupa com nenhum respeito para você mesmo. Uma pessoa que procura progresso auspicioso na vida não deve possuir tanta opulência material com a qual se torne cego e enfatuado, mas deve cuidar de seus amigos e familiares".

Quando Vasudeva falava com Nanda Maharaja dessa forma, ele estava influenciado por um grande sentimento pela amizade de Nanda Maharaja e pelas atividades benéficas executadas pelo Rei Nanda em seu benefício. Assim, seus olhos se encheram de lágrimas, e ele começou a chorar. Com o desejo de agradar seu amigo Vasudeva e preso afetuosamente com amor pelo Senhor Krishna e Balarama, Nanda Maharaja passou três meses na associação com eles. No fim desse tempo, todos os membros da dinastia Yadu tentaram agradar os habitantes de Vrindavana até a satisfação de seus corações. Os membros da dinastia Yadu tentaram satisfazer Nanda Maharaja e seus associados por oferecer a eles, roupas, ornamentos, e vários outros artigos preciosos, e todos eles ficaram plenamente satisfeitos. Vasudeva, Ugrasena, Senhor Krishna, Senhor Balarama, Uddhava e todos os membros da dinastia Yadu presentearam seus presentes individuais para Nanda Maharaja e seus associados. Depois que Nanda Maharaja recebeu esses presentes de despedida, ele, junto com seus associados, partiram para Vrajabhumi, Vrindavana. As mentes dos habitantes de Vrindavana permaneceram, entretanto, com Krishna e Balarama, e por isso todos eles partiram para Vrindavana sem suas mentes.

Quando os membros da família Vrishni viram que todos seus amigos e visitantes partiram, eles observaram que a estação de chuva se aproximava, e assim decidiram retornar a Dwaraka. Eles estavam plenamente satisfeitos, porque consideravam Krishna como tudo. Quando retornaram a Dwaraka, eles começaram com grande satisfação a descrever o sacrifício executado por Vasudeva, seus encontros com vários amigos e benquerentes, e vários outros incidentes que ocorreram durante suas viagens em lugares de peregrinação.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Três de Krishna, "Cerimônias de Sacrifício Realizadas por Vasudeva".

           

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 84

Instrução Espiritual para Vasudeva e Retorno dos Seis Filhos Mortos de Devaki pelo Senhor Krishna

   

É um costume Védico que os membros mais jovens da família devem oferecer respeitos às pessoas mais velhas cada manhã. As crianças ou os discípulos especialmente devem oferecer seus respeitos aos pais ou ao mestre espiritual na manhã. Em cumprimento a esse princípio Védico, o Senhor Krishna e Balarama costumavam oferecer Suas reverências a Seu pai Vasudeva, junto com suas esposas. Um dia, depois que voltaram das realizações de sacrifício em Kurukshetra, quando o Senhor Krishna e Balarama foram oferecer Seus respeitos a Vasudeva, Vasudeva aproveitou a oportunidade para apreciar a posição exaltada dos dois irmãos. Vasudeva teve a oportunidade de entender a posição de Krishna e Balarama dos grandes sábios que estavam reunidos na arena de sacrifício. Ele não somente ouviu dos grandes sábios, mas em muitas ocasiões ele realmente experimentou que Krishna e Balarama não eram seres humanos ordinários, mas eram muito extraordinários. Assim ele acreditou nas palavras dos sábios que seus filhos Krishna e Balarama eram a Suprema Personalidade de Deus.

Com fé firme em seus filhos, ele falou com Eles assim: "Meu querido Krishna, Você é a Suprema Personalidade de Deus sac-cid-ananda-vigraha, e meu querido Balarama, Você é Sankarshana, o mestre de todos os poderes místicos. Eu entendi agora que Vocês são eternos. Ambos Vocês são transcendentais a esta manifestação material e à sua causa, a Pessoa Suprema Maha-Vishnu. Vocês são o controlador original de tudo. Vocês são o repouso desta manifestação cósmica. Vocês são seu criador, e Vocês também são seus ingredientes criativos. Vocês são o mestre desta manifestação cósmica, e na realidade esta manifestação é criada para Seus passatempos somente".

"As diferentes fases materiais desde o início até o fim do cosmos manifesto sob diferentes fórmulas do tempo também são Você mesmo, porque Você é tanto a causa quanto o efeito desta manifestação. As duas características deste mundo material, o predominante e o predominado, também são Você, e Você é o supremo controlador transcendental que está acima delas. Portanto, Você está além da percepção de nossos sentidos. Você é a alma suprema, não nascida e imutável. Você não é afetado pelos seis tipos de transformações que ocorrem no corpo material. As variedades maravilhosas deste mundo material também são criadas por Você, e Você entrou como a Superalma em cada ser vivo e mesmo dentro do átomo. Você é o mantenedor de tudo".

"A força vital que age como o princípio da vida em tudo e a força criativa derivada dela não agem independentemente, mas dependem de Você, a Pessoa Suprema por trás dessas forças. Sem a Sua vontade, elas não podem trabalhar. Energia material não tem cognição. Ela não pode agir independentemente sem ser agitada por Você. Porque a natureza material é dependente de Você, os seres vivos só podem tentar agir. Mas sem Sua sanção e vontade, eles não podem executar nada ou alcançar o resultado que desejam".

"A energia original é somente uma emanação de Você. Meu querido Senhor, o brilho do luar, o calor do fogo, os raios do Sol, o brilho das estrelas, e o relâmpago elétrico que se manifesta como muito poderoso, bem como a gravidade das montanhas, a energia da terra e a qualidade de seu sabor - todos são diferentes manifestações de Você. O sabor puro da água e a força vital que mantém toda vida também são características da Sua Divindade. A água e seu sabor também são Você mesmo".

"Meu querido Senhor, apesar das forças dos sentidos, o poder mental de pensar, desejar e sentir, e a força, movimento e crescimento do corpo parecerem ser executados por diferentes movimentos dos ares dentro do corpo, eles são todos ultimamente manifestações da Sua energia. A vasta extensão do espaço sideral repousa em Você mesmo. A vibração do céu, seu trovão, o som supremo omkara e o arranjo das diferentes palavras para distinguir uma coisa da outra são representações simbólicas de Você. Tudo é Você mesmo. Os sentidos, os controladores dos sentidos, os semideuses, e a aquisição do conhecimento que é o propósito dos sentidos, bem como o assunto do conhecimento - tudo é Você mesmo. A resolução da inteligência e a memória afiada do ser vivo também são Você mesmo. Você é o princípio egotista na ignorância que é a causa deste mundo material, o princípio egotista da paixão que é a causa dos sentidos, e o princípio egotista da bondade que é a origem das diferentes deidades controladoras deste mundo material. A energia ilusória, ou maya, que é a causa da transmigração perpétua da alma condicionada de uma forma à outra, é Você mesmo".

"Minha querida Suprema Personalidade de Deus, Você é a causa original de todas as causas, exatamente como a terra é a causa original de diferentes tipos de árvores, plantas e variedades similares de manifestação. Como a terra é representada em tudo, assim Você está presente em toda esta manifestação material como a Superalma. Você é a suprema causa de todas as causas, o princípio eterno. Tudo é, de fato, uma manifestação de Sua energia. As três qualidades da natureza material - sattva, rajas e tamas - e o resultado de sua interação, estão ligadas a Você pela Sua agência de yogamaya. Elas são supostas de serem independentes, mas na realidade a energia material total repousa em Você, a Superalma. Porque Você é a causa suprema de tudo, as interações da manifestação material - nascimento, existência, crescimento, transformação, deterioração e aniquilação - estão ausentes em Você mesmo. Sua energia suprema, yogamaya, age numa variedade de manifestações, mas porque yogamaya é Sua energia, Você está portanto presente em tudo".

No Bhagavad-gita, esse fato é explicado muito bem no Nono Capítulo, onde o Senhor diz, "Na Minha forma impessoal Eu estou espalhado por toda a energia material; tudo repousa em Mim, mas Eu não estou lá". Essa mesma declaração é dada por Vasudeva. Dizer Ele não está presente em toda parte significa que Ele está além de tudo, apesar de Sua energia agir em toda parte. Isso pode ser entendido com um exemplo grosseiro: Num grande estabelecimento, a energia, ou a organização do chefe supremo, trabalha em cada espaço e canto do negócio, mas isso não significa que o proprietário original esteja presente ali, apesar de em cada departamento e cada atmosfera a presença do proprietário ser sentida pelo trabalhador. A presença física do proprietário em cada departamento é somente formalidade. Na realidade é sua energia que trabalha lá. Similarmente, a onipresença da Suprema Personalidade de Deus é sentida na ação de Suas energias. Assim a filosofia da inconcebível unidade com e diferença do Supremo Senhor simultâneas é confirmada aqui. O Senhor é um, mas Suas energias são diversas.

Vasudeva disse, "Este mundo material é como um grande rio fluente, e suas ondas são os três modos da natureza material - bondade, paixão e ignorância. Este corpo material, e também os sentidos, as faculdades de pensar, sentir e desejar e os estágios de tristeza, felicidade, apego e luxúria - todos são diferentes produtos desses três modos qualitativos da natureza. A pessoa tola que não pode realizar Sua identidade transcendental acima de toda essa reação material continua a permanecer no enredamento da ação lucrativa e é sujeita ao processo contínuo de nascimento e morte sem uma chance de ser libertada".

Isto também é confirmado de forma diferente pelo Senhor no Quarto Capítulo do Bhagavad-gita. Lá está dito qualquer um que conhece o aparecimento e atividades do Supremo Senhor Krishna se torna livra das garras da natureza material e vai de volta ao lar, de volta ao Supremo. Assim o nome, forma, atividades e qualidades transcendentais de Krishna não são produtos desta natureza material.

"Meu querido Senhor", Vasudeva continuou, "apesar de todos esses defeitos da alma condicionada, se alguém de alguma forma ou outra chegar ao contato com serviço devocional, alcança esta forma de corpo humana civilizada com consciência desenvolvida e assim se torna capaz de executar mais progresso no serviço devocional. Mesmo assim, iludida pela energia externa, pessoas geralmente não usam essa vantagem da forma humana de vida. Assim perdem a chance da liberdade eterna e desnecessariamente arruínam o progresso que fizeram depois de milhares de nascimentos".

"No conceito corpóreo de vida, a pessoa é apegada à prole do corpo, devido ao falso egoísmo, e todo mundo na vida condicionada é enredado por falsos relacionamentos e falsa afeição. O mundo inteiro move sob essa falsa impressão do cativeiro material. Eu sei que nenhum de Vocês dois é meu filho; Vocês são o chefe e progenitor originais, as Personalidades de Deus, conhecidas como Pradhana e Purusha. Mas Vocês apareceram na superfície deste globo a fim de minimizar o peso do mundo por matar reis kshatriyas que desnecessariamente incrementam seu poderio militar. Vocês já me informaram sobre isso no passado. Meu querido Senhor, Você é o abrigo da alma rendida, o supremo benquerente do amável e humilde. Eu por isso me abrigo em Seus pés de lótus, que somente eles podem dar a alguém liberação do enredamento da existência material".

"Por um longo tempo, eu simplesmente considerei este corpo como eu mesmo, e apesar de Você ser a Suprema Personalidade de Deus, eu considerei Você meu filho. Meu querido Senhor, no mesmo momento quando Você primeiro apareceu na prisão de Kamsa, eu fui informado que Você é a Suprema Personalidade de Deus e que Você descendeu para a proteção dos princípios da religião e também a destruição dos malfeitores. Apesar de não nascido, Você descende em cada milênio para executar Sua missão. Meu querido Senhor, da mesma forma que no céu há muitas formas que aparecem e desaparecem, Você também aparece e desaparece em muitas formas eternas. Quem, portanto, pode entender Seus passatempos ou o mistério do Seu aparecimento e desaparecimento? Nossa única obrigação deve ser glorificar Sua suprema grandeza".

Quando Vasudeva falava com seus filhos divinos dessa forma, o Senhor Krishna e Balarama sorriam. Porque Eles têm muita afeição por Seus devotos, Eles aceitaram toda a apreciação de Vasudeva com uma atitude simpática sorridente. Krishna então começou a confirmar todas as declarações de Vasudeva como se segue: "Meu querido pai, qualquer coisa que você possa dizer, Nós somos, depois de tudo, seus filhos. O que você disse sobre Nós é certamente um entendimento filosófico altamente elevado do conhecimento espiritual. Eu aceito isso no total sem exceção".

Vasudeva estava na perfeição completa da vida em considerar o Senhor Krishna e Balarama como seus filhos, mas porque os sábios reunidos no local de peregrinação em Kurukshetra falaram sobre o Senhor como a suprema causa de tudo, Vasudeva simplesmente repetiu isso por causa de seu amor por Krishna e Balarama. O Senhor Krishna não queria depreciar Sua relação com Vasudeva como pai e filho; portanto desde o início de Sua reposta Ele aceitou o fato de que Ele é o eterno filho de Vasudeva e que Vasudeva é o pai eterno de Krishna. Depois disso, o Senhor Krishna informou Seu pai da identidade espiritual dos seres vivos. Ele continuou, "Meu querido pai, todo mundo, inclusive Eu mesmo e Meu irmão Balarama, e também todos os habitantes da cidade de Dwaraka e toda a manifestação cósmica, é exatamente como você já explicou, mas nós também somos qualitativamente um".

O Senhor Krishna intencionava para Vasudeva ver tudo na visão de um mahabhagavata, um devoto de primeira classe. Um devoto de primeira classe vê que todos os seres vivos são parte e parcela do Supremo Senhor e que o Supremo Senhor está situado no coração de todos. De fato, todo ser vivo tem identidade espiritual, mas em contato com a existência material fica influenciado pelos modos materiais da natureza. Ele se torna coberto pelo conceito de vida corpórea, esquecido que sua alma espiritual é da mesma qualidade da Suprema Personalidade de Deus. A pessoa considera erroneamente um indivíduo como diferente de outro simplesmente por causa de suas coberturas materiais. Por causa das diferenças entre corpos, a alma espiritual parece perante nós diferentemente.

O Senhor Krishna então deu um bom exemplo em termos dos cinco elementos materiais. Os elementos materiais totais, chamados, o céu, o ar, o fogo, a água e a terra, estão presentes em tudo no mundo material, seja num pote de barro ou numa montanha ou nas árvores ou num brinco. Esses cinco elementos estão presentes em tudo, em diferentes proporções e quantidades. Uma montanha é uma forma gigantesca da combinação desses cinco elementos, e um pequeno pote de barro é dos mesmos elementos, mas em uma quantidade menor. Assim todos os itens materiais, apesar em diferentes formas ou diferentes qualidades, são dos mesmos ingredientes. Similarmente, os seres vivos - a começar pelo Senhor Krishna e inclusive o Vishnu-tattva e milhões de formas de Vishnu, e depois os seres vivos em diferentes formas, a começar pelo Senhor Brahma até a formiga minúscula - são todos da mesma qualidade em espírito. Alguns são grandes em quantidade, e alguns são pequenos, mas qualitativamente eles são da mesma natureza. Assim está confirmado nos Upanishads que Krishna, ou o Supremo Senhor, é o líder entre todos os seres vivos, e Ele os mantém e os abastece com todas as necessidades da vida. Qualquer um que conhece esta filosofia está em conhecimento perfeito. A versão Védica tat tvam asi, "Tu és o mesmo", não significa que todo mundo é Deus, mas todo mundo é qualitativamente da mesma natureza de Deus.

Depois de ouvir Krishna falar a filosofia inteira da vida espiritual em um todo abreviado, Vasudeva estava extremamente satisfeito com seu filho. Assim emocionado, ele não conseguia falar, mas permaneceu silencioso. Nesse meio tempo, Devaki, a mãe do Senhor Krishna, sentou no lado de seu esposo. Previamente ela ouviu que ambos Krishna e Balarama foram tão generosos com Seu professor que Eles trouxeram de volta da morte os filhos mortos do professor das garras do superintendente da morte, Yamaraja. Desde que ela ouviu sobre esse incidente, ela pensou em seus próprios filhos que foram mortos por Kamsa, e enquanto se lembrava deles, ficou tomada de tristeza.

Em compaixão por seus filhos mortos, Devaki começou a apelar para o Senhor Krishna e Balarama assim: "Meu querido Balarama, Seu próprio nome sugere que Você pode dar todo prazer e toda força para todo mundo. Sua potência ilimitada está além do alcance de nossas mentes e palavras, e meu querido Krishna, Você é o mestre de todos os yogis místicos. Eu também sei que Você é o mestre dos Prajapatis como Brahma e seus assistentes, Você é a Personalidade de Deus original, Narayana. Eu também sei com certeza que Você descendeu para aniquilar todos os malfeitores que foram desencaminhados no curso do tempo. Eles perderam o controle de suas mentes e sentidos, caíram da qualidade da bondade, e deliberadamente negligenciaram a direção das escrituras reveladas por viver uma vida de extravagância e insolência. Você descendeu na Terra para minimizar o peso do mundo por matar tais governantes malfeitores. Meu querido Krishna, eu sei que Maha-Vishnu, que está deitado no oceano causal da manifestação cósmica e que é a fonte de toda esta criação, é simplesmente uma expansão de Sua porção plenária. Criação, manutenção e aniquilação desta manifestação cósmica são efetuadas somente por Sua porção plenária. Portanto, eu me abrigo em Você sem nenhuma reserva. Eu ouvi que quando Você quis recompensar Seu professor, Sandipani Muni, e ele pediu a Você para trazer de volta seu filho morto, Você e Balarama imediatamente o trouxeram de volta da custódia de Yamaraja, apesar de ele estar morto por um longo tempo. Por esse ato eu entendo Você como o supremo mestre de todos os yogis místicos. Eu, assim, peço a Você para satisfazer meu desejo da mesma forma. Em outras palavras, eu peço a Você para trazer de volta todos meus filhos que foram mortos por Kamsa; quando Você os trouxer de volta, meu coração ficará contente, e justamente será um grande prazer eu poder vê-los uma vez mais".

Depois de ouvir Sua mãe falar dessa forma, o Senhor Balarama e Krishna imediatamente chamaram a assistência de yogamaya e partiram para o sistema planetário inferior conhecido como Sutala. Anteriormente, na Sua encarnação como Vamana, a Suprema Personalidade de Deus ficou satisfeita com o Rei dos demônios, Bali Maharaja, que doou a Ele tudo o que ele tinha. Bali Maharaja foi então presenteado com todo o Sutala para sua residência e reino. Agora quando esse grande devoto, Bali Maharaja, viu que o Senhor Balarama e Krishna vieram a seu planeta, ele imediatamente imergiu num oceano de felicidade. Logo que ele viu o Senhor Krishna e Balarama em sua presença, ele e seus membros familiares levantaram de seus assentos e se prostraram aos pés de lótus do Senhor. Bali Maharaja ofereceu ao Senhor Krishna e Balarama o melhor assento que ele tinha em sua posse, e quando os dois Senhores estavam sentados confortavelmente, ele começou a lavar Seus pés de lótus. Então ele jogou a água em sua cabeça e nas cabeças de seus membros familiares. A água usada para lavar os pés de lótus de Krishna e Balarama pode purificar mesmo grandes semideuses, como o Senhor Brahma.

Depois disso, Bali Maharaja trouxe roupas e ornamentos preciosos, polpa de sândalo, nozes de bétel, lâmpadas e vários alimentos nectáreos, e junto com seus membros familiares ele adorou o Senhor de acordo com os princípios reguladores e ofereceu suas riquezas e corpo aos pés de lótus do Senhor. O Rei Bali sentia um prazer transcendental tão grande que ele repetidamente pegava os pés de lótus do Senhor e os abraçava em seu peito; e às vezes os punha no topo de sua cabeça, e dessa forma ele sentia bem-aventurança transcendental. Lágrimas de amor e afeição começaram a escorrer de seus olhos, e todos os seus cabelos se arrepiaram. Ele começou a oferecer preces aos Senhores com uma voz embargada intermitentemente.

"Meu Senhor Balarama, Você é o Anantadeva original. Você é tão grandioso que Anantadeva Sesha e outras formas transcendentais originalmente emanaram de Você e Senhor Krishna. Você é a Personalidade de Deus original, e Sua forma eterna é todo-bem-aventurada e plena de conhecimento completo. Você é o criador do mundo inteiro. Você é o original iniciador e proponente dos sistemas de jñana-yoga e bhakti-yoga. Você é o Brahman Supremo, a Personalidade de Deus original. Eu portanto com todo respeito ofereço minhas reverências a ambos Vocês. Meus queridos Senhores, é muito difícil para os seres vivos chegarem a ver Vocês. Assim, somente por Sua misericórdia sem causa Vocês concordaram em vir aqui e serem visíveis para nós, que somos geralmente influenciados pelas qualidades da ignorância e paixão".

"Meu querido Senhor, nós pertencemos à categoria daitya ou demônio. Os demônios ou pessoas demoníacas - os Gandharvas, os Siddhas, os Vidyadharas, os Charanas, os Yakshas, os Rakshasas, os Pishachas, os fantasmas e duendes - são incapazes, por natureza, de adorá-Los ou se tornarem Seus devotos. Em vez de se tornarem Seus devotos, eles simplesmente se tornam impedimentos no caminho da devoção. Mas, oposto a eles, Vocês são a Suprema Personalidade de Deus, representantes de todos os Vedas e situados no modo da bondade incontaminada. A posição de Vocês é sempre transcendental. Por essa razão, alguns de nós, apesar de nascidos nos modos da paixão e ignorância, abrigamo-nos em Seus pés de lótus e nos tornamos devotos. Alguns de nós somos realmente devotos puros, e alguns de nós nos abrigamos em Seus pés de lótus, com desejo de ganhar algo da devoção".

"Por Sua misericórdia sem causa somente, nós demônios em contato direto com Sua personalidade. Este contato não é possível nem mesmo para os grandes semideuses. Ninguém conhece como Vocês agem através de Sua potência yogamaya. Mesmo os semideuses não podem calcular a vastidão das atividades de Sua potência interna, então como é possível para nós sabermos isso? Eu assim coloco minhas preces humildes perante Vocês: por favor, sejam bondosos comigo, que sou plenamente rendido a Vocês, e me favoreçam com Sua misericórdia sem causa para que eu possa simplesmente lembrar Seus pés de lótus nascimento após nascimento. Minha única ambição é que eu possa viver sozinho justamente igual a paramahamsas que, viajam sozinhos daqui para lá com grande paz mental, por dependerem simplesmente de Seus pés de lótus. Eu também desejo que se eu tiver que me associar com alguém, que sejam somente Seus devotos puros e ninguém mais, porque Seus devotos puros são sempre benquerentes de todos os seres vivos".

"Meu querido Senhor, Você é o mestre e diretor supremo de todo o mundo. Por favor, portanto, ocupe-me em Seu serviço e deixe-me assim ficar livre de todas as contaminações materiais. Você pode me purificar dessa forma porque se alguém se dedica ao serviço amoroso de Sua Divindade, imediatamente se torna livre de todos os princípios reguladores ordenados nos Vedas".

A palavra paramahamsa mencionada aqui significa cisne supremo. É dito que o cisne pode extrair leite de um reservatório de água; ele pode tomar só a porção de leite e rejeitar a porção aguada. Similarmente, uma pessoa que pode extrair a porção espiritual deste mundo material e que pode viver sozinha, por depender somente do Espírito Supremo, não do mundo material, é chamada paramahamsa. Quando alguém alcança a plataforma paramahamsa, ele não está mais sob os princípios reguladores das injunções Védicas. Um paramahamsa aceita somente a associação de devotos puros e rejeita outros que são muito dedicados materialmente. Em outras palavras, aqueles que são materialmente apegados não podem entender o valor do paramahamsa, mas aqueles que são felizmente avançados no senso espiritual se abrigam no paramahamsa e assim bem sucedidos completam a missão da vida humana.

Depois que o Senhor Krishna ouviu as preces de Bali Maharaja, Ele falou como se segue: "Meu querido Rei dos demônios, no milênio de Swayambhuva Manu, o Prajapati conhecido como Marichi gerou seis filhos, todos semideuses, no ventre de sua esposa, Urna. Certa vez, o Senhor Brahma ficou encantado com a beleza de sua filha e a seguiu, impelido pelo desejo sexual. Nesse momento, os seis semideuses olharam a ação do Senhor Brahma com repugnância. Essa crítica à ação de Brahma pelos semideuses constituiu uma grande ofensa da parte deles, e por essa razão, eles foram condenados a nascerem como os filhos do demônio Hiranyakashipu. Esses filhos de Hiranyakashipu foram depois postos no ventre da mãe Devaki, e logo que eles nasciam, Kamsa os matava um depois do outro. Meu querido Rei dos demônios, mãe Devaki está muito ansiosa para ver esses seis filhos mortos novamente, e ela está muito triste por causa da morte prematura deles nas mãos de Kamsa. Eu sei que todos eles vivem com você. Eu decidi levá-los Comigo a fim de acalmar Minha mãe Devaki. Depois de verem minha mãe, todas essas seis almas condicionadas serão liberadas, e assim com grande prazer eles serão transferidos a seus planetas originais. Os nomes dessas seis almas condicionadas são os seguintes: Smara, Udgitha, Parisvanga, Patanga, Kshudrabhrit e Ghrini. Eles serão novamente reintegrados em sua posição anterior como semideuses".

Depois de informar assim o Rei dos demônios, Krishna parou de falar, e Bali Maharaja entendeu o propósito do Senhor. Ele O adorou suficientemente, e depois o Senhor Krishna e Senhor Balarama levaram embora as seis almas condicionadas e retornaram à cidade de Dwaraka, onde Eles os apresentaram como pequenos bebês perante mãe Devaki. Mãe Devaki ficou tomada de alegria e estava tão em êxtase com o sentimento materno que imediatamente o leite começou a fluir de seus seios, e ela alimentou os bebês com grande satisfação. Ela começou a pegá-los em seu colo repetidamente, cheirava suas cabeças e pensava, "Ele conseguiu meus filhos perdidos de volta"! Nesse momento, ela ficou tomada pela energia de Vishnu, e com grande afeição maternal ela começou a desfrutar a companhia de seus filhos perdidos.

O leite dos seios de Devaki era transcendental porque o mesmo leite foi sugado pelo Senhor Krishna. Assim, os bebês que sugaram os seios de Devakiji, que tocaram o corpo do Senhor Krishna, imediatamente se tornaram pessoas auto-realizadas. Os bebês depois disso começaram a oferecer suas reverências ao Senhor Krishna, Balarama, seu pai Vasudeva, e mãe Devaki. Depois disso, eles foram imediatamente transferidos a seus respectivos planetas celestiais.

Depois da partida deles, Devaki ficou abismada de admiração que seus filhos voltaram e foram novamente transferidos para seus respectivos planetas. Ela pôde ajustar os eventos somente por pensar nos passatempos do Senhor Krishna, nos quais, porque as potências do Senhor Krishna são todas inconcebíveis, qualquer coisa maravilhosa pode ser realizada. Sem aceitar as potências inconcebíveis e ilimitadas do Senhor, a pessoa não pode entender que o Senhor Krishna é a Alma Suprema. Por Suas potências ilimitadas, Ele realiza passatempos ilimitados também, e ninguém pode descrevê-los na totalidade nem ninguém pode conhecê-los todos. Suta Goswami, orador do Srimad Bhagavatam perante os sábios de Naimisharanya, liderados por Shaunaka Rishi, deu seu veredito nessa conexão como se segue.

"Grandes sábios, por favor entendam que os passatempos transcendentais do Senhor Krishna são todos eternos. Eles não são narrações ordinárias de incidentes históricos. Estas narrações são idênticas à Suprema Personalidade de Deus em Pessoa. Qualquer um, portanto, que ouve tais narrações dos passatempos do Senhor se torna imediatamente livre de toda contaminação da existência material. E aqueles que são devotos puros desfrutam estas narrações como néctar que entra em seus ouvidos". Tais narrações são descritas por Shukadeva Goswami, o filho exaltado de Vyasadeva, e qualquer um que as ouve, e também qualquer um que as descreva para a audiência de outros, torna-se consciente de Krishna. E são somente as pessoas conscientes de Krishna que se tornam elegíveis para ir de volta ao lar, de volta ao Supremo.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Quatro de Krishna, "Instrução Espiritual para Vasudeva e Retorno dos Seis Filhos Mortos de Devaki pelo Senhor Krishna".

           

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 85

O Rapto de Subhadra e a Visita do Senhor Krishna a Shrutadeva e Bahulashwa

   

Depois de ouvir esse incidente, o Rei Parikshit ficou mais inquisitivo para ouvir sobre Krishna e Seus passatempos, e assim ele inquiriu de Shukadeva Goswami como sua avó Subhadra foi raptada pelo seu avô Arjuna pela instigação do Senhor Krishna. O Rei Parikshit estava muito ansioso para saber sobre o rapto de seu avô e o casamento com sua avó.

Assim Shukadeva Goswami começou a narrar a história como se segue: "Certa vez, seu avô Arjuna, o grande herói, visitava diversos locais sagrados de peregrinação, e enquanto ele viajava assim por toda parte, aconteceu que ele chegou à Prabhasakshetra. Em Prabhasakshetra, ele ouviu a notícia que o Senhor Balarama negociava o casamento de Subhadra, a filha do tio materno de Arjuna, Vasudeva. Apesar de seu pai, Vasudeva, e seu irmão, Krishna, não estarem de acordo com Ele, Balarama era favorável a casar Subhadra com Duryodhana. Arjuna, entretanto, desejava ganhar a mão de Subhadra".

À medida que ele pensava em Subhadra e na beleza dela, Arjuna ficava mais e mais cativado com a idéia de casar com ela, e com um plano em mente ele se vestiu como um sannyasi Vaishnava, e carregava uma tridanda em sua mão. Os sannyasis Mayavadi aceitam uma danda, ou um bastão, enquanto os sannyasis Vaishnava aceitam três danda, ou três bastões. Os três bastões, ou tridanda, indicam que um sannyasi Vaishnava faz o voto de render serviço à Suprema Personalidade de Deus com seu corpo, mente e palavras. O sistema de tridanda-sannyasa está em existência por um longo tempo, e os sannyasis Vaishnava são chamados tridandis, ou às vezes tridandi-swamis ou tridandi-goswamis.

Os sannyasis são geralmente destinados a viajar por todo o país pelo trabalho de pregação, mas durante os quatro meses da estação de chuva na Índia, de setembro até dezembro, eles não viajam, mas se abrigam em algum lugar e permanecem lá sem se mover. Esse não movimento do sannyasi se chama Chaturmasya-vrata. Quando um sannyasi permanece em um lugar por quatro meses, os habitantes desse lugar aproveitam a vantagem de sua presença para se tornarem espiritualmente avançados.

Arjuna, na roupa de um tridandi-sannyasi, permaneceu na cidade de Dwaraka quatro meses, e traçava um plano com o qual pudesse obter Subhadra como sua esposa. Os habitantes de Dwaraka e também o Senhor Balarama não puderam reconhecer o sannyasi como Arjuna; assim todos eles ofereciam seus respeitos e reverências ao sannyasi sem saber a verdadeira situação.

Um dia, o Senhor Balarama convidou esse sannyasi em particular para almoçar em Sua casa. Balaramaji muito respeitosamente ofereceu a ele todos os tipos de pratos saborosos, e o dito sannyasi comia suntuosamente. Enquanto comia na casa de Balaramaji, Arjuna simplesmente olhava para a bela Subhadra, que era muito encantadora mesmo para grandes heróis e reis. Por causa do amor por ela, os olhos de Arjuna brilhavam, e ele começou a olhá-la com olhos cintilantes. Arjuna decidiu que de alguma forma ou outra ele conseguiria Subhadra como sua esposa, e sua mente ficou agitada por causa desse desejo intenso.

Arjuna, o avô de Maharaja Parikshit, era ele mesmo extraordinariamente belo, e sua estrutura corpórea era muito atraente para Subhadra. Subhadra também decidiu em sua mente que ela aceitaria somente Arjuna como seu esposo. Como uma menina simples, ela sorria com grande prazer, por olhar para Arjuna. Assim Arjuna também ficou mais e mais atraído por ela. Dessa forma, Subhadra dedicou ela mesma para Arjuna, e ele resolveu se casar com ela de qualquer jeito. Assim ele ficou absorto vinte e quatro horas por dia no pensamento de como ele conseguiria Subhadra como sua esposa. Ele estava aflito com o pensamento de obter Subhadra, e ele não tinha nenhum momento de paz mental.

Certa vez, Subhadra, sentada numa quadriga, veio para fora do forte do palácio para ver os deuses no templo. Arjuna aproveitou essa oportunidade, e com a permissão de Vasudeva e Devaki, ele a raptou. Depois de subir na quadriga de Subhadra, ele se preparou para um combate. Pegou seu arco e segurou suas flechas com os soldados ordenados para impedi-lo, Arjuna levou Subhadra embora. Enquanto Subhadra era raptada assim por Arjuna, seus parentes e membros familiares começaram a gritar, mas mesmo assim ele a levou, justamente igual um leão pega sua parte e sai. Quando foi revelado para o Senhor Balarama que o dito sannyasi era Arjuna, e que ele planejou esse estratagema simplesmente para levar Subhadra embora e que ele a levou realmente, Ele ficou muito furioso. Justamente igual as ondas do oceano ficam agitadas no dia de lua cheia, o Senhor Balarama ficou muito transtornado.

O Senhor Krishna era a favor de Arjuna; assim, junto com outros membros da família, Ele tentou acalmar Balarama por cair a Seus pés e implorar a Ele para perdoar Arjuna. O Senhor Balarama então foi convencido que Subhadra estava apegada a Arjuna, e Ele ficou satisfeito em saber que ela queria Arjuna como seu esposo. A matéria foi solucionada, e a fim de agradar o casal recém-casado, o Senhor Balarama arranjou para mandar um dote, consistia de uma abundância de riquezas, elefantes, quadrigas, cavalos, serventes e criadas.

Maharaja Parikshit estava muito ansioso para ouvir mais sobre Krishna, e assim, depois de finalizar a narração de Arjuna raptar Subhadra, Shukadeva Goswami começou a narrar outra história, como se segue.

Havia um brahmana casado na cidade de Mithila, a capital do reino de Videha. Esse brahmana, cujo nome era Shrutadeva, era um grande devoto do Senhor Krishna. Devido a ele ser plenamente consciente de Krishna e sempre engajado no serviço do Senhor, ele era completamente pacífico em mente e desapegado de toda atração material. Ele era muito erudito e não tinha outro desejo do que estar plenamente situado em Consciência de Krishna. Apesar de estar na ordem de vida de casado, ele nunca tomou grandes dores para ganhar qualquer coisa para sua subsistência; ele estava satisfeito com qualquer coisa que pudesse alcançar sem muito esforço, e de uma forma ou outra ele vivia desse jeito. Todo dia ele conseguia as necessidades da vida na justa quantidade requerida, e não mais. Esse era o seu destino. O brahmana não tinha desejo de obter mais do que necessitava, e assim ele executava pacificamente os princípios reguladores da vida de um brahmana, como ordenado nas escrituras reveladas.

Felizmente, o Rei de Mithila era tão bom devoto quanto o brahmana. O nome desse Rei famoso era Bahulashwa. Ele era muito bem estabelecido em sua reputação como um bom rei, e não era ambicioso mesmo para estender seu reino com o propósito de satisfação sensual. Assim, ambos o brahmana e o Rei Bahulashwa permaneciam devotos puros do Senhor Krishna em Mithila.

Porque o Senhor Krishna era muito misericordioso com esses dois devotos, o Rei Bahulashwa e o brahmana, Shrutadeva, Ele um dia pediu a Seu piloto, Daruka, para levar Sua quadriga à cidade capital de Mithila. O Senhor Krishna estava acompanhado pelos grandes sábios Narada, Vamanadeva, Atri, Vyasadeva, Parashurama, Asita, Aruni, Brihaspati, Kanva, Maitreya, Chyavana e outros. O Senhor Krishna e os sábios passaram através de muitas vilas e cidades, e em toda parte os cidadãos os recebiam com grande respeito e lhes ofereciam artigos em adoração. Quando todos os cidadãos vinham ver o Senhor e todos eles reunidos em um lugar, parecia que o Sol estava presente junto com seus vários planetas satélites. Nessa jornada, o Senhor Krishna e os sábios passaram através dos reinos de Anarta, Dhanva, Kuru-jangala, Kanka, Matsya, Pañchala, Kunti, Madhu, Kekaya, Koshala e Arna, e assim todos os cidadãos desses lugares, ambos homens e mulheres, puderam ver o Senhor Krishna olho a olho. Dessa forma eles desfrutaram felicidade celestial, com os corações abertos cheios de amor e afeição pelo Senhor, e quando viam a face do Senhor, parecia para eles que bebiam néctar através dos olhos. Quando eles viam Krishna, todos os equívocos ignorantes de suas vidas dissipavam. Quando o Senhor passou através dos vários países e as pessoas vinham para visitá-Lo, simplesmente por olhar para elas o Senhor concedia toda a boa fortuna sobre elas e as liberava de todos os tipos de ignorância. Em alguns lugares, os semideuses também se misturavam com os seres humanos, e sua glorificação do Senhor limpava todas as direções de todas as coisas não auspiciosas. Dessa forma, o Senhor Krishna vagarosamente e gradualmente alcançou o reino de Videha.

Quando a notícia da chegada do Senhor foi recebida pelos cidadãos, todos eles sentiram felicidade ilimitada e vieram para dar as boas vindas a Ele, com presentes em suas mãos para oferecer. Logo que viam o Senhor Krishna, seus corações imediatamente desabrochavam em felicidade transcendental, justamente igual a flor de lótus desabrocha no nascer do sol. Previamente, eles simplesmente ouviram os nomes dos grandes sábios, mas nunca os tinham visto. Agora, pela misericórdia do Senhor Krishna, eles tiveram a oportunidade de ver tanto os grandes sábios quanto o Senhor em Pessoa.

O Rei Bahulashwa, e também o brahmana, Shrutadeva, por saberem bem que o Senhor foi lá justamente para agraciá-los com favor, imediatamente caíram aos pés de lótus do Senhor e ofereceram seus respeitos. Com mãos postas, o Rei e o brahmana cada um simultaneamente convidou o Senhor Krishna e todos os sábios para sua casa. A fim de satisfazer os dois, o Senhor Krishna Se expandiu em dois e foi para as casas de cada um deles; mesmo assim nem o Rei nem o brahmana puderam entender que o Senhor foi para a casa do outro. Ambos pensaram que o Senhor foi somente para sua própria casa. Ele e Seus companheiros estarem presentes em ambas as casas, apesar do brahmana e do Rei pensarem que Ele estava presente somente em sua casa, é outra opulência da Suprema Personalidade de Deus. Essa opulência é descrita nas escrituras reveladas como vaibhava-prakasha. Similarmente, quando o Senhor Krishna casou com dezesseis mil esposas, Ele também Se expandiu em dezesseis mil formas, cada uma delas tão poderosa quanto Ele Próprio. Similarmente, em Vrindavana, quando Brahma roubou vacas, bezerros e meninos pastores de vacas, Krishna Se expandiu em muitas novas vacas, bezerros e meninos pastores de vacas.

Bahulashwa, o Rei de Videha, era muito inteligente e era um cavalheiro perfeito. Ele estava admirado que tantos grandes sábios, juntos com a Suprema Personalidade de Deus, estavam presentes pessoalmente em sua casa. Ele sabia perfeitamente bem que a alma condicionada, especialmente quando ocupada em assuntos mundanos, não pode ser cem por cento pura, enquanto a Suprema Personalidade de Deus e Seus devotos puros são sempre transcendentais à contaminação mundana. Assim, quando ele percebeu que a Suprema Personalidade de Deus Krishna e todos os grandes sábios estavam em sua casa, ele ficou admirado, e ele começou a agradecer o Senhor Krishna por Sua misericórdia sem causa.

Por se sentir muito agradecido e por querer receber seus convidados com o melhor de sua capacidade, ele pediu boas cadeiras e almofadas, e o Senhor Krishna, junto com todos os sábios, sentou muito confortavelmente. Nesse momento, a mente do Rei Bahulashwa estava muito inquieta, não por causa de quaisquer problemas, mas por causa do grande êxtase de amor e devoção. Seu coração estava cheio de amor e afeição pelo Senhor e Seus associados, e seus olhos estavam cheios de lágrimas de êxtase. Ele organizou a lavagem dos pés de seus convidados divinos, e depois de lavá-los ele e seus membros familiares borrifaram a água em suas cabeças. Depois disso, ele ofereceu aos convidados belos colares de flores, polpa de sândalo, incenso, novas roupas, ornamentos, lâmpadas, vacas e touros. De uma maneira digna de sua posição real, ele adorou cada um deles dessa forma. Quando todos foram alimentados suntuosamente e estavam sentados confortavelmente, Bahulashwa veio perante o Senhor Krishna e segurou Seus pés de lótus. Ele os colocou em seu colo e, enquanto massageava os pés com suas mãos, começou a falar sobre as glórias do Senhor com uma voz doce.

"Meu querido Senhor, Você é a Superalma de todos os seres vivos e como testemunha dentro do coração é consciente das atividades de todos. Assim, por sermos gratos, nós sempre pensamos em Seus pés de lótus para que possamos estar sempre numa posição segura sem se desviar de Seu serviço eterno. Como resultado de nossa lembrança contínua de Seus pés de lótus, Você gentilmente visitou minha casa pessoalmente para me favorecer com Sua misericórdia sem causa. Nós ouvimos, meu querido Senhor, que por Suas várias declarações Você confirma que Seus devotos puros são mais queridos por Você do que o Senhor Brahma ou Sua constante servidora a deusa da fortuna. Seus devotos são mais queridos para Você do que o Seu primeiro filho, Senhor Brahma, e eu estou certo de que Você tão gentilmente visitou meu lugar a fim de provar Sua declaração divina. Eu não posso imaginar como as pessoas podem ser impiedosas e demoníacas mesmo depois de conhecerem Sua misericórdia sem causa e afeição por Seus devotos que estão constantemente dedicados em Consciência de Krishna. Como eles podem esquecer Seus pés de lótus"?

"Meu querido Senhor, é sabido por nós que Você é tão bondoso e liberal que quando uma pessoa abandona tudo justamente para dedicar em Consciência de Krishna, Você às vezes dá a Si mesmo em troca por esse serviço imaculado. Você apareceu na dinastia Yadu para satisfazer Sua missão de recuperação de todas as almas condicionadas que apodrecem nas atividades pecaminosas da existência material, e este aparecimento já é famoso em todo o mundo. Meu querido Senhor, Você é o oceano de misericórdia, amor e afeição ilimitados. Sua forma transcendental é plena de bem-aventurança, conhecimento e eternidade. Você pode atrair o coração de todos com sua bela forma como Shyamasundara, Krishna. Seu conhecimento é ilimitado, e para ensinar todas as pessoas como executar serviço devocional Você enviou Sua encarnação Nara-Narayana, que está ocupado em severas austeridades e penitências em Badarinarayana. Bondosamente, portanto, aceite minhas humildes reverências a Seus pés de lótus. Meu querido Senhor, eu imploro em solicitar a Você e a Seus companheiros, os grandes sábios e brahmanas, que permaneçam em minha casa para que esta família do grande Rei Nimi possa ser santificada pela poeira de Seus pés de lótus por pelo menos alguns dias". O Senhor Krishna não pôde recusar o pedido de Seu devoto, e assim Ele permaneceu lá por alguns dias junto com os sábios a fim de santificar a cidade de Mithila e todos os seus cidadãos.

Enquanto isso, o brahmana, simultaneamente recebia o Senhor Krishna e Seus associados em sua casa, ficou transcendentalmente emocionado de alegria. Depois de oferecer a seus convidados bons lugares para sentarem, o brahmana começou a dançar, e enrolava seu manto em seu corpo. Shrutadeva, que não era nenhum pouco rico, ofereceu apenas esteiras, tábuas de madeira, tapetes de palha, etc., para seus convidados distintos, o Senhor Krishna e os sábios, mas ele os bem recebeu com o melhor de sua capacidade. Ele começou a falar muito altamente do Senhor e dos sábios, e ele e sua esposa lavaram os pés de cada um deles. Depois disso, ele pegou a água e borrifou sobre todos os membros da família, e apesar de parecer que o brahmana era muito pobre, ele era naquele momento o mais afortunado. Enquanto Shrutadeva recebia o Senhor Krishna e Seus associados, ele simplesmente se esqueceu de si mesmo em alegria transcendental. Depois de dar as boas vindas ao Senhor e Seus companheiros, de acordo com sua capacidade ele trouxe frutas, incenso, água aromática, argila aromática, folhas de Tulasi, capim kusha e flores de lótus. Não eram itens muito caros e podiam ser obtidos muito facilmente, mas porque foram oferecidos com amor devocional, o Senhor Krishna e Seus associados os aceitaram muito satisfeitos. A esposa do brahmana cozinhou alimentos bem simples tais quais arroz e dhal, e o Senhor Krishna e Seus seguidores ficaram muito agradecidos em aceitá-los porque foram oferecidos com amor devocional. Quando o Senhor Krishna e Seus associados foram alimentados dessa forma, o brahmana Shrutadeva pensava assim: "Eu caí no poço fundo e escuro da vida de casado e sou a pessoa mais desafortunada. Como é possível que o Senhor Krishna, que é a Suprema Personalidade de Deus, e Seus associados, os grandes sábios, cuja presença pessoal torna um lugar santificado como local de peregrinação, concordaram em vir à minha casa"? Enquanto o brahmana pensava dessa forma, os convidados terminaram seu almoço e sentaram muito confortavelmente. Nesse momento, o brahmana Shrutadeva, e sua esposa, filhos e outros familiares, apareceram lá para prestar serviço aos distintos convidados. Enquanto tocava os pés de lótus do Senhor Krishna, o brahmana começou a falar.

"Meu querido Senhor", ele disse, "Você é a Pessoa Suprema, Purushottama, situado transcendentalmente para a criação material manifesta e não manifesta. As atividades deste mundo material e das almas condicionadas não têm nada a ver com Sua posição. Nós podemos apreciar que não somente hoje que Você me deu Sua audiência. Você Se associa com todos os seres vivos como Paramatma desde o começo da criação".

Essa declaração do brahmana é muito instrutiva. É um fato que o Supremo Senhor Personalidade de Deus em Seu aspecto Paramatma entrou na criação deste mundo material como Maha-Vishnu, Garbhodakashayi Vishnu e Kshirodakashayi Vishnu, e numa atitude muito amigável o Senhor está sentado junto com a alma condicionada dentro do corpo. Portanto, todo ser vivo tem o Senhor com ele desde o início mesmo, mas devido à sua consciência equivocada de vida, o ser vivo não pode entender isso. Quando sua consciência, entretanto, muda para a Consciência de Krishna, ele pode imediatamente entender como Krishna tenta assistir as almas condicionadas para saírem do enredamento material.

Shrutadeva continuou, "Meu querido Senhor, Você entrou neste mundo material como se fosse numa condição adormecida. Uma alma condicionada, enquanto dorme, cria mundos falsos ou temporários em sua mente; ela se torna ocupada em muitas atividades ilusórias - às vezes se torna um rei, às vezes é assassinado ou às vezes vai a uma cidade desconhecida - e todos esses são simplesmente incidentes temporários. Similarmente, Sua Divindade, aparentemente numa condição adormecida, entra neste mundo material para criar uma manifestação temporária e ilusória, não para Suas necessidades pessoais, mas para a alma condicionada que quer imitar Sua Divindade como desfrutador. O desfrute da alma condicionada no mundo material é temporário e ilusório. Ainda assim a alma condicionada é por si só incapaz de criar essa situação temporária para seu desfrute ilusório. A fim de satisfazer seus desejos, apesar de serem temporários e ilusórios, Você entra nesta manifestação temporária para ajudá-la. Assim, desde o começo da entrada da alma condicionada no mundo material, Você é seu companheiro constante. Quando, portanto, a alma condicionada entra em contato com um devoto puro e adota o serviço devocional, a começar pelo processo de ouvir Seus passatempos transcendentais, glorificar Suas atividades transcendentais, adorar Sua forma eterna no templo, oferecer preces a Você e se dedicar à discussão para entender Sua posição transcendental, ela pode se tornar livre gradualmente da contaminação da existência material. Seu coração se torna limpo de toda a poeira material, e assim gradualmente Você se torna visível no coração do devoto. Apesar de Você estar constantemente com a alma condicionada, somente quando ela se torna purificada pelo serviço devocional que Você Se torna revelado para ela. Outros que estão confusos com atividades lucrativas, tanto por injunção Védica ou negócios tradicionais, e que não adotam o serviço devocional, tornam-se cativadas pela felicidade externa do conceito corpóreo de vida. Você não é revelado para essas pessoas. Em vez disso, Você permanece longe, bem longe delas. Mas para aquele que, dedicado a Seu serviço devocional, purificou seu coração pelo cantar constante do Seu santo nome, Você se torna muito facilmente compreendido como seu companheiro constante eterno".

"É dito que Sua Divindade, sentado no coração de um devoto, dá a ele a direção com a qual ele pode muito rapidamente voltar ao lar, de volta a Você. Esse ditado direto por Você revela Sua existência dentro do coração do devoto. Somente um devoto pode imediatamente apreciar Sua existência dentro de seu coração, enquanto para uma pessoa que só tem o conceito corpóreo de vida e está engajada em satisfação sensual, Você sempre permanece coberto pela cortina de yogamaya. Essa pessoa não pode realizar que Você está muito perto, sentado em seu coração. Para um não devoto, Você é apreciado somente como morte última. A diferença é igual à diferença de uma gata carregar suas crias em sua boca e a gata carregar um rato em sua boca. Na boca da gata, o rato sente sua morte, enquanto os filhotes na boca da gata sentem afeição maternal. Similarmente, Você está presente para todos, mas os não devotos sentem Você como a morte cruel final, enquanto para um devoto Você é o supremo instrutor e filósofo. O ateu, portanto, entende a presença de Deus como morte, mas o devoto entende a presença de Deus sempre dentro do seu coração, toma o ditado de Você e vive transcendentalmente, sem ser afetado pela contaminação do mundo material".

"Você é o supremo controlador e superintendente das atividades da natureza material. A classe de homens ateísta simplesmente observa as atividades da natureza material, mas não pode encontrar Você como a base original. Um devoto, entretanto, pode imediatamente ver Sua mão em cada movimento da natureza material. A cortina de yogamaya não pode cobrir os olhos do devoto de Sua Divindade, mas pode cobrir os olhos do não devoto. O não devoto é incapaz de ver Você olho a olho, justamente igual uma pessoa cujos olhos estão interrompidos pela cobertura de uma nuvem não pode ver o Sol, apesar das pessoas que voam acima da nuvem poderem ver o brilho solar brilhantemente, como ele é. Meu querido Senhor, eu ofereço minhas respeitosas reverências a Você. Meu querido Senhor auto-refulgente, eu sou Seu servidor eterno. Assim, ordene-me gentilmente - o que posso fazer por Você? A alma condicionada sente as dores da contaminação material como as misérias triplas enquanto Você não for visível para ela. Logo que Você é visível pelo desenvolvimento da Consciência de Krishna, todas as misérias da existência material simultaneamente se tornam aniquiladas".

A Suprema Personalidade de Deus, Krishna, é muito inclinado afetuosamente por Seus devotos. Quando Ele ouviu as preces de devoção pura de Shrutadeva, Ele ficou muito satisfeito e imediatamente pegou as mãos dele e começou a falar com ele como se segue: "Meu querido Shrutadeva, todos esses grandes sábios e pessoas santificadas foram muito gentis com você por virem aqui pessoalmente para ver você. Você deve considerar esta oportunidade como uma grande fortuna para você. Eles são tão gentis que viajam Comigo, e onde quer que eles vão, eles imediatamente fazem toda a atmosfera tão pura quanto a transcendência simplesmente pelo toque de seus pés de lótus. As pessoas estão acostumadas a irem ao templo de Deus. Elas também visitam lugares sagrados de peregrinação, e depois de prolongada associação com essas atividades, durante muitos dias por tocar e adorar, gradualmente elas se tornam purificadas. Mas a influência de grandes sábios e pessoas santificadas é tão grande que por vê-los, a pessoa imediatamente se torna completamente purificada".

"Mais ainda, a própria potência purificatória de peregrinações ou adoração de diferentes semideuses também é alcançada pela graça das pessoas santificadas. Meu querido Shrutadeva, quando uma pessoa nasce como brahmana, e permanece auto-satisfeito, pratica austeridades, estuda os Vedas e se dedica a Meu serviço devocional, como é o dever do brahmana - ou em outras palavras, se um brahmana se tornar um Vaishnava - quão maravilhosa é sua grandeza! Meu aspecto como Narayana de quatro mãos não é tão agradável para Mim quanto é um brahmana Vaishnava. Brahmana significa 'aquele bem versado com conhecimento Védico'; um brahmana é a insígnia do conhecimento perfeito, e Eu sou a manifestação completa de todos os deuses. A classe de homens menos inteligentes não Me entende como o conhecimento mais elevado, nem entende a influência do brahmana Vaishnava. Ela está influenciada pelos três modos da natureza material e assim ousa Me criticar e Meus devotos puros. Um brahmana Vaishnava, ou um devoto já na plataforma brahmana, pode Me realizar dentro de seu coração, e assim ele definitivamente conclui que toda a manifestação cósmica e seus diferentes aspectos são efeitos das diferentes energias do Senhor. Assim ele tem um conceito claro de toda a natureza material e energia material total, e em cada ação esse devoto somente Me vê, e nada mais".

"Meu querido Shrutadeva, você deve portanto aceitar todas essas pessoas grandemente santificadas, brahmanas e sábios e também Meus representantes fidedignos. Por adorá-los fervorosamente, você Me adorará mais diligentemente. Eu considero a adoração dos Meu devotos como melhor do que a adoração direta a Mim. Se alguém tenta Me adorar diretamente sem adorar Meus devotos, Eu não aceito essa adoração, mesmo se for apresentada com grande opulência".

Dessa forma ambos o brahmana, Shrutadeva, e o Rei de Mithila, sob a direção do Senhor, adoraram tanto Krishna quanto Seus seguidores, os grandes sábios e brahmanas santificados, num nível igual de importância. Ambos o brahmana e o Rei ultimamente alcançaram a meta suprema de serem transferidos para o mundo espiritual. O devoto não conhece ninguém além do Senhor Krishna, e Krishna tem muita afeição por Seu devoto. O Senhor Krishna permaneceu em Mithila tanto na casa do brahmana Shrutadeva e no palácio do Rei Bahulashwa. Depois de favorecê-los generosamente por Suas instruções transcendentais, Ele foi de volta à Sua cidade capital, Dwaraka.

A instrução que nós recebemos deste incidente é que o Rei Bahulashwa e Shrutadeva o brahmana foram aceitos pelo Senhor no mesmo nível porque ambos eram devotos puros. Essa é a verdadeira qualificação para ser reconhecido pela Suprema Personalidade de Deus. Porque se tornou a moda nesta era de se tornar falsamente orgulhoso de ter nascido numa família kshatriya ou de um brahmana, nós vemos pessoas sem nenhuma qualificação outra além do nascimento que alegam ser um brahmana ou kshatriya ou vaishya. Mas como está declarado nas escrituras, kalau sudra- sambhava: "Nesta era de Kali, todo mundo é shudra". Isso acontece porque não existe execução dos processos purificatórios conhecidos como samskaras, que começam do tempo de gestação da mãe e continuam até o ponto da morte individual. Ninguém pode ser classificado como membro de uma casta particular, especialmente de uma casta superior - brahmana, kshatriya ou vaishya - simplesmente por direito de nascença. Se alguém não for purificado por uma cerimônia de dar a semente, ou Garbhadhana-samskara, ele é classificado imediatamente entre os shudras, porque somente os shudras não se submetem a esse processo purificatório. Vida sexual sem o processo purificatório da Consciência de Krishna é meramente o processo de dar a semente dos shudras ou dos animais. Mas a Consciência de Krishna é a plataforma de perfeição mais elevada, pela qual, qualquer um pode chegar à plataforma de um Vaishnava. Isso inclui possuir todas as qualificações de um brahmana. Os Vaishnavas são treinados para se tornarem livres dos quatro tipos de atividades pecaminosas - sexo ilícito, uso de intoxicantes, jogos de azar, e comer alimentos com animais. Ninguém pode estar na plataforma brahmana sem ter essas qualificações preliminares, e sem se tornar um brahmana qualificado, ninguém pode ser um devoto puro.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Cinco de Krishna, "O Rapto de Subhadra e a Visita do Senhor Krishna a Shrutadeva e Bahulashwa".

           

      

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 86

Orações dos Vedas Personificados

   

O Rei Parikshit inquiriu de Shukadeva Goswami sobre um tópico muito importante no entendimento de assunto transcendental. Sua questão foi, "Porque conhecimento Védico geralmente lida com o assunto das três qualidades do mundo material, como pode ele então se aproximar do assunto da transcendência, que está além da aproximação dos três modos materiais? Porque a mente é material e a vibração das palavras é um som material, como pode o conhecimento Védico, que expressa por som material os pensamentos da mente, aproximar transcendência? Descrição de um assunto necessita descrever sua fonte de emanação, suas qualidades e suas atividades. Tal descrição pode ser possível somente por pensar com a mente material e por vibrar sons materiais. Apesar de Brahman, ou a Verdade Absoluta, não ter qualidades materiais, nosso poder de falar não vai além das qualidades materiais. Como pode então Brahman, a Verdade Absoluta, ser descrito por suas palavras? Eu não vejo como é possível entender transcendência dessas expressões de som material".

O propósito da indagação do Rei Parikshit era determinar de Shukadeva Goswami se os Vedas descrevem ultimamente a Verdade Absoluta como impessoal ou como pessoal. A compreensão da Verdade Absoluta progride em três aspectos - Brahman impessoal, Paramatma localizado no coração de todos, e por último, a Suprema Personalidade de Deus Krishna.

Os Vedas lidam com três departamentos de atividades. Um se chama karma-kanda, ou atividades sob a lei Védica que gradualmente purificam a pessoa para entender sua posição real; o próximo é jñana-kanda, o processo de entender a Verdade Absoluta por métodos especulativos; e o terceiro é upasana-kanda, ou a adoração da Suprema Personalidade de Deus e algumas vezes de semideuses também. A adoração dos semideuses recomendada nos Vedas é ordenada com a compreensão da relação dos semideuses com a Personalidade de Deus. A Suprema Personalidade de Deus tem muitas partes e parcelas; algumas são chamadas swamshas, ou Suas expansões pessoais, e algumas são chamadas vibhinnamshas, os seres vivos. Todas essas expansões, ambas swamshas e vibhinnamshas, são emanações da Personalidade de Deus original. Expansões swamshas são chamadas Vishnu-tattva, enquanto as expansões vibhinnamshas são chamadas jiva-tattva. Os diferentes semideuses são jiva-tattva. As almas condicionadas são geralmente postas nas atividades do mundo material para satisfação sensual; portanto, como está afirmado no Bhagavad-gita, para regular aqueles que são muito apegados a diferentes tipos de satisfação sensual, adorar os semideuses é às vezes recomendado. Por exemplo, para pessoas que são muito apegadas a comer carne, a lei Védica recomenda depois de adorar a forma da deusa Kali e sacrificar um cabrito (não qualquer outro animal) sob a regulação karma-kanda, os adoradores podem ser autorizados a comer carne. A idéia é não encorajar ninguém a comer carne, mas permitir alguém que é muito persistente em comer carne sob certas condições de restrição. Portanto, adoração dos semideuses não é adoração da Verdade Absoluta, mas por adorar os semideuses a pessoa chega a aceitar a Suprema Personalidade de Deus de uma forma indireta. Essa aceitação indireta é descrita no Bhagavad-gita como avidhi. Avidhi significa não fidedigna, os impersonalistas enfatizam concentração no aspecto impessoal da Verdade Absoluta. A questão do Rei Parikshit era, qual é o alvo último do conhecimento Védico - essa concentração no aspecto impessoal da Verdade Absoluta ou a concentração no aspecto pessoal? Depois de tudo, ambos os aspectos impessoal e pessoal do Supremo Senhor estão além de nosso conceito material. O aspecto impessoal do Absoluto, a refulgência Brahman, é nada mais além do brilho do corpo de Krishna. Esses raios do corpo pessoal de Krishna são propagados sobre toda a criação do Senhor, e a porção da refulgência que é coberta pela nuvem material se chama o cosmos criado das três qualidades materiais - sattva, rajas e tamas. Como podem pessoas que estão dentro desta porção nublada chamada mundo material conceberem a Verdade Absoluta pelo método especulativo?

Em solução à questão do Rei Parikshit, Shukadeva Goswami respondeu que a Suprema Personalidade de Deus criou a mente, sentidos e força viva para o propósito da satisfação sensual na transmigração de um tipo de corpo para outro, e também para o propósito de permitir liberação das condições materiais. Em outras palavras, os sentidos, mente e força viva podem ser utilizados para satisfação sensual e transmigração de um corpo a outro ou para a matéria da liberação. As leis Védicas estão lá justamente para dar às almas condicionadas a chance de satisfação sensual sob princípios reguladores, e desse modo também dar chance a elas de promoção a condições de vida superiores; ultimamente, se a consciência estiver purificada, a pessoa chega à sua posição original e vai de volta ao lar, de volta ao Supremo.

A força viva é inteligente. A pessoa por isso tem que utilizar sua inteligência sobre a mente e os sentidos. Quando a mente e sentidos são purificados pelo uso apropriado da inteligência, então a alma condicionada está liberada; se a inteligência não é usada apropriadamente no controle dos sentidos e mente, a alma condicionada continua a transmigrar de um tipo de corpo a outro simplesmente para satisfação sensual. Outro ponto claramente afirmado na resposta de Shukadeva Goswami é que o Senhor criou a mente, sentidos e inteligência da força viva individual. Justamente igual às partículas brilhantes dos raios solares que são sempre existentes junto com o Sol, os seres vivos existem eternamente como partes e parcelas da Suprema Personalidade de Deus. As almas condicionadas, apesar de existirem eternamente como partes do Supremo Senhor, são às vezes postas dentro da nuvem do conceito de vida material, na escuridão da ignorância. Todo o processo Védico é para aliviar essa condição escurecida. Ultimamente, quando a mente e sentidos do condicionado se tornam plenamente purificados, então ele chega à posição original, chamada Consciência de Krishna, e isso é liberação.

No Vedanta-sutra, o primeiro sutra, ou código, questiona sobre a Verdade Absoluta. Athato brahma-jijñasa: Qual é a natureza da Verdade Absoluta? O próximo sutra responde que a natureza da Verdade Absoluta é que Ele é a origem de tudo. Qualquer coisa que experimentemos, mesmo nesta condição de vida material, é apenas uma emanação Dele. A Verdade Absoluta criou a mente e sentidos e inteligência. Isso significa que a Verdade Absoluta não é sem mente, inteligência e sentidos. Em outras palavras, Ele não é impessoal. A própria palavra "criou" significa que Ele tem inteligência transcendental. Por exemplo, um pai gera um filho, o filho tem sentidos porque o pai também tem sentidos. O filho nasce com mãos e pernas porque o pai também tem mãos e pernas. Às vezes é dito, portanto, que o homem é feito de acordo com a imagem de Deus. A Verdade Absoluta é, portanto, a Suprema Personalidade de Deus, com mente, sentidos e inteligência transcendentais. Quando mente, inteligência e sentidos da pessoa são purificados da contaminação material, ela pode entender o aspecto original da Verdade Absoluta como uma pessoa.

O processo Védico é para gradualmente promover a alma condicionada gradualmente do modo da ignorância para o modo da paixão e do modo da paixão para o modo da bondade. No modo da bondade, há luz suficiente para entender as coisas como elas são. Por exemplo, da terra uma árvore cresce, e da madeira da árvore, fogo é aceso. Nesse processo de ignição, nós primeiro de tudo encontramos a fumaça, e o próximo passo é o calor, e depois o fogo. Quando há o fogo verdadeiro, nós podemos utilizá-lo para vários propósitos; portanto, fogo é a meta última. Similarmente, no estágio de vida material grosseira, a qualidade da ignorância é muito proeminente. Dissipação dessa ignorância acontece no progresso gradual da civilização do estágio de vida bárbara para a vida civilizada, e quando uma pessoa chega à forma de vida civilizada, é dito que está no modo da paixão. No estágio bárbaro, ou no modo da ignorância, os sentidos são satisfeitos de um modo bem cru, enquanto no modo da paixão ou no estágio civilizado, os sentidos são satisfeitos de uma maneira polida. Mas quando a pessoa é promovida para o modo da bondade, a pessoa pode entender que os sentidos e a mente estão somente engajados em atividades materiais devido a estar coberta pela consciência pervertida. Quando essa consciência pervertida é transformada gradualmente em Consciência de Krishna, então o caminho da liberação está aberto. Assim, não é que a pessoa é incapaz de aproximar a Verdade Absoluta pelos sentidos e a mente. A conclusão é, em vez disso, que os sentidos, mente e inteligência no estágio grosseiro de contaminação não podem apreciar a natureza da Verdade Absoluta, mas, quando purificados, os sentidos, mente e inteligência podem entender o que é a Verdade Absoluta. Esse processo de purificação é chamado serviço devocional, ou Consciência de Krishna.

No Bhagavad-gita está claramente declarado que o propósito do conhecimento Védico é entender Krishna, e Krishna é entendido pelo serviço devocional, que começa pelo processo de rendição. Como declarado no Bhagavad-gita, a pessoa tem que pensar em Krishna sempre. A pessoa tem que prestar serviço amoroso para Krishna sempre, e a pessoa tem sempre que adorar e se prostrar perante Krishna. Por esse processo somente alguém entra no reino de Deus sem nenhuma dúvida.

Quando alguém está iluminado no modo da bondade pelo processo do serviço devocional, ele está livre dos modos da ignorância e paixão. A palavra atmane indica o estágio da qualificação brahmana no qual a pessoa é autorizada a estudar as literaturas Védicas conhecidas como Upanishads. Os Upanishads descrevem em diferentes modos as qualidades transcendentais do Supremo Senhor. A Verdade Absoluta, o Supremo Senhor, é chamado nirguna. Isso não significa que Ele não tem nenhuma qualidade. É somente porque Ele tem qualidades que os seres vivos condicionados podem ter qualidades. O propósito de estudar os Upanishads é entender a qualidade transcendental da Verdade Absoluta, como oposta às qualidades materiais de ignorância, paixão e bondade. Esse é o caminho do entendimento Védico. Grandes sábios como os quatro Kumaras, liderados por Sanaka, seguiram esses princípios do conhecimento Védico e vieram gradualmente do entendimento impessoal para a plataforma da adoração pessoal do Supremo Senhor. É recomendado portanto que nós sigamos as grandes personalidades. Shukadeva Goswami também é uma das grandes personalidades, e sua resposta à indagação de Maharaja Parikshit é autorizada. Aquele que segue os passos dessas grandes personalidades seguramente caminha muito facilmente no caminho da liberação e ultimamente vai de volta ao lar, de volta ao Supremo. Esse é o caminho da perfeição desta forma humana de vida.

Shukadeva Goswami continuou a falar para Parikshit Maharaja. "Meu querido Rei", disse ele, "eu narrarei a esse respeito uma boa história. Esta história é importante porque é em conexão com Narayana, a Suprema Personalidade de Deus. Esta narração é uma conversas entre Narayana Rishi e o grande sábio Narada. Narayana Rishi ainda reside em Badarikashrama nas montanhas Himalaia e é aceito como uma encarnação de Narayana. Certa vez quando Narada, o grande devoto e asceta entre os semideuses, viajava por diferentes planetas, ele desejava encontrar pessoalmente o asceta Narayana em Badarikashrama e oferecer a ele respeitos. Esse grande sábio encarnação do Supremo, Narayana Rishi, submeteu-se a grandes penitências e austeridades desde o início da criação a fim de ensinar os habitantes de Bharatavarsha como alcançar o estágio de perfeição mais elevado de ir de volta ao Supremo. Suas austeridades e penitências são práticas exemplares para o ser humano".

Badarikashrama é situado na parte extremo norte das Montanhas Himalaia e está sempre coberto de neve. Religiosos indianos vão visitar esse lugar durante a estação do verão, quando a nevasca não é muito severa. Certa vez, a encarnação de Deus Narayana Rishi estava sentado entre muitos devotos na vila conhecida como Kalapagrama. É claro, esses não eram sábios ordinários que estavam sentados com Ele, e o grande sábio Narada também apareceu lá. Depois de oferecer seus respeitos a Narayana Rishi, Narada perguntou-Lhe exatamente a mesma questão perguntada pelo Rei Parikshit a Shukadeva Goswami. Quando Narada perguntou essa questão a Narayana Rishi, o Rishi também respondeu por seguir os passos de Seus predecessores. Ele narrou uma história de como a mesma questão foi discutida no planeta conhecido como Janoloka. Janoloka é acima dos planetas Swargaloka, tais quais a Lua, Vênus, etc.. Nesse planeta, os grandes sábios e pessoas santificadas vivem, e eles também discutiam o mesmo ponto a respeito do entendimento do Brahman e Sua identidade real.

O grande sábio Narayana começou a falar. "Meu querido Narada", disse Ele, "contarei uma história a você que aconteceu muito, muito tempo atrás. Houve um grande encontro de cidadãos dos planetas celestiais, e quase todos os brahmacharis importantes, como os quatro Kumaras - Sanat, Sananda, Sanaka e Sanatana Kumara - compareceram. A discussão deles era sobre o assunto do entendimento da Verdade Absoluta, Brahman. Você não estava presente nessa reunião porque você foi ver Minha expansão Aniruddha, que vive na ilha de Shwetadwipa. Nesse encontro, todos os grandes sábios e brahmacharis discutiram de modo muito elaborado o ponto sobre o qual você Me perguntou, e foi muito interessante. A discussão foi tão delicada que mesmo os Vedas foram incapazes de responder às questões intricadas levantadas".

Narayana Rishi disse a Naradaji que a mesma questão a qual Naradaji levantou foi discutida no encontro em Janoloka. Assim é o modo de entender através do parampara, ou sucessão discipular. Maharaja Parikshit foi mandado a Shukadeva Goswami; Shukadeva Goswami mencionou a matéria para Narada, que da mesma forma questionou Narayana Rishi, que apresentou a matéria para autoridades ainda mais elevadas no planeta Janoloka, onde foi discutida entre os grandes Kumaras - Sanat, Sanatana, Sanaka Kumara e Sanandana. Esses quatro brahmacharis são eruditos reconhecidos nos Vedas e shastras. Seus volumes ilimitados de conhecimento, apoiados por austeridades e penitências, são exibidos por seu caráter sublime, ideal. Eles são muito amáveis e simpáticos em comportamento, e para eles não existe distinção entre amigos, benquerentes e inimigos. Por estarem situados transcendentalmente, tais personalidades iguais aos Kumaras estão acima de todas as considerações materiais e são sempre neutras a respeito de dualidades materiais. Nas discussões tidas entre os quatro irmãos, um deles, chamado Sanandana, foi selecionado para falar, e os outros irmãos formaram a audiência para ouvi-lo.

Sanandana disse, "Depois da dissolução de toda a manifestação cósmica, a energia inteira e toda a criação em sua forma de núcleo entra no corpo de Garbhodakashayi Vishnu. O Senhor nesse momento permanece adormecido por um longo, longo tempo, e quando há novamente necessidade de criação, os Vedas personificados se reúnem em volta do Senhor e começam a glorificá-Lo, por descrever Seus maravilhosos passatempos transcendentais. É exatamente igual um rei: quando ele está adormecido na manhã, os recitadores designados vêm em volta de seu quarto e começam a cantar suas atividades heróicas, e enquanto ouve suas atividades gloriosas, o rei desperta gradualmente".

"Os recitadores dos Vedas ou os Vedas personificados cantam assim: 'Ó Senhor inconquistável, Você é a Suprema Personalidade. Ninguém é igual a Você ou maior do que Você. Ninguém pode ser mais glorioso em suas atividades. Todas as glórias a Você! Todas as glórias a Você! Por Sua própria natureza transcendental, Você possui plenamente todas seis opulências. Assim, Você é capaz de liberar todas as almas condicionadas das garras de maya. Ó Senhor, nós fervorosamente oramos que Você faça isso bondosamente. Todos os seres vivos, que são Suas partes e parcelas, são naturalmente alegres, eternos e plenos de conhecimento, mas devido às suas próprias falhas, eles imitam Você por tentarem se tornar o desfrutador supremo; assim eles desobedecem à Sua supremacia e se tornam ofensores. E por causa das ofensas deles, Sua energia material se encarregou deles; assim, suas qualidades transcendentais de alegria, bem-aventurança e sabedoria foram cobertas pelas nuvens das três qualidades materiais. Esta manifestação cósmica, feita de três qualidades materiais, é justamente igual a uma prisão para as almas condicionadas. As almas condicionadas se empenham muito arduamente para escapar do cativeiro material, e de acordo com suas diferentes condições de vida a eles foram dados diferentes tipos de obrigação. Mas todas as obrigações são baseadas em Seu conhecimento. Atividades piedosas podem ser executadas somente quando inspiradas pela Sua misericórdia. Portanto, sem se abrigar em Seus pés de lótus ninguém pode superar a influência da energia material. Na verdade, nós, como o conhecimento Védico personificado, estamos sempre dedicados a Seu serviço para ajudar a alma condicionada entendê-Lo'".

Essa oração dos Vedas personificados ilustra que os Vedas são destinados para ajudar as almas condicionadas a entenderem Krishna. Todos os shrutis ou Vedas personificados ofereceram glórias para o Senhor novamente e novamente, cantavam, "Jaya! Jaya"! Isso indica que o Senhor é louvado por Suas glórias. De todas as Suas glórias a mais importante é Sua misericórdia sem causa sobre as almas condicionadas em reavê-las das garras de maya.

Existem números ilimitados de seres vivos em diferentes variedades de corpos, alguns móveis e alguns que ficam em um lugar, e a vida condicionada desses seres vivos é devida unicamente a seu esquecimento de sua relação eterna com a Suprema Personalidade de Deus. Quando o ser vivo quer dominar a energia material por imitar a posição de Krishna, ele é imediatamente capturado pela energia material e, de acordo com seu desejo, é oferecida uma variedade de 8.400.000 diferentes tipos de corpos. Apesar de estar sujeito às misérias triplas da existência material, o ser vivo iludido falsamente pensa que ele mesmo é o mestre de tudo que ele avista. Sob o encanto da energia material, que representa as qualidades materiais triplas, o ser vivo está tão enredado que não é mesmo possível para ele se tornar livre a menos que seja agraciado pelo Supremo Senhor. O ser vivo não pode conquistar a influência dos modos materiais da natureza pelo seu próprio esforço, mas porque a natureza material trabalha sob o controle do Supremo Senhor, o Senhor está além de sua jurisdição. Exceto Ele, todos os seres vivos, a começar por Brahma abaixo até uma formiga, estão conquistados pelo contato da natureza material.

Porque Ele possui em plenitude as seis opulências de riqueza, poder, fama, beleza, conhecimento e renúncia, o Senhor somente está além do encanto da natureza material. A menos que o ser vivo esteja situado em Consciência de Krishna, ele não pode se aproximar da Suprema Personalidade de Deus, mesmo assim o Senhor, por Sua onipotência, pode ditar de dentro como a Superalma. No Bhagavad-gita, o Senhor aconselha, "Qualquer coisa que você fizer, faça para Mim; qualquer coisa que você comer, primeiro ofereça a Mim; qualquer caridade que você quiser dar, primeiro dê para Mim; e quaisquer austeridades e penitências que você quiser executar, execute para Mim". Dessa forma, os karmis são direcionados para gradualmente desenvolverem Consciência de Krishna. Similarmente, Krishna direciona os filósofos para se aproximarem Dele gradualmente por discriminarem entre Brahman e maya. No fim, quando a pessoa está madura no conhecimento, ela se rende a Krishna. Como Krishna diz no Bhagavad-gita, "Depois de muitos e muitos nascimentos, o filósofo sábio se rende a Mim". Os yogis são direcionados a concentrar sua meditação em Krishna dentro do coração, e por esse processo continuado de Consciência de Krishna, o yogi pode se tornar livre das garras da energia material. Mas, como está afirmado no Bhagavad-gita, porque os devotos estão dedicados ao serviço devocional com amor e afeição desde o início, o Senhor os direciona para que eles possam se aproximar Dele sem dificuldade ou desvio. Somente pela graça do Senhor pode o ser vivo entender a posição exata de Brahman, Paramatma e Bhagavan.

As declarações dos Vedas personificados dão evidência clara que a literatura Védica é apresentada somente para entender Krishna. É confirmado no Bhagavad-gita que através de todos os Vedas é Krishna somente que tem de ser entendido. Krishna está sempre a desfrutar, tanto no mundo material quanto no mundo espiritual; porque Ele é o supremo desfrutador, para Ele não há distinção entre os mundos material e espiritual. O mundo material é um impedimento para os seres vivos ordinários porque eles estão sob seu controle, mas Krishna, por ser o controlador do mundo material, não tem nada a ver com os impedimentos que ele oferece. Portanto, em diferentes partes dos Upanishads, os Vedas declaram, "Brahman é eterno, pleno de conhecimento e toda bem-aventurança, mas a única Suprema Personalidade de Deus existe no coração de todo ser vivo". Por causa de Sua todo-onipresença, Ele é capaz de entrar não somente nos corações de todos os seres vivos, mas também dentro dos átomos. Como a Superalma, Ele é o controlador de todas atividades de todos os seres vivos. Ele vive dentro de todos eles e testemunha suas ações, e os autoriza a agir de acordo com seus desejos, e também dá a eles o resultado das suas diferentes atividades. Ele é a força viva de todas as coisas, mas ainda assim Ele é transcendental às qualidades materiais. Ele é onipotente; Ele é especialista em manufaturar tudo, e por causa de seu conhecimento superior, natural, Ele pode trazer todos sob Seu controle. Assim, Ele é o mestre de cada um. Ele é manifesto algumas vezes na superfície do globo, mas Ele está simultaneamente dentro de toda a matéria. Por desejar Se expandir em múltiplas formas, Ele olhou sobre a energia material, e assim inumeráveis seres vivos se tornaram manifestos. Todas as coisas são criadas por Sua energia superior, e cada coisa em Sua criação parece ser feita perfeitamente sem deficiência.

Aqueles que aspiram liberação deste mundo material devem portanto adorar a Suprema Personalidade de Deus, a causa última de todas as causas. Ele é justamente igual à massa total de barro, da qual variedades de potes de barro são manufaturados: os potes são feitos com argila da terra, eles repousam na terra, e depois de serem destruídos, seus elementos ultimamente imergem de volta na terra. Apesar da Personalidade de Deus ser a causa original de todas as variedades de manifestação, os impersonalistas especialmente enfatizam a declaração Védica, sarvam khalv idam brahma: "Tudo é Brahman". Os impersonalistas não levam em consideração as variedades de manifestação que emanam da suprema causa Brahman. Eles simplesmente levam em consideração que tudo emana de Brahman e depois da destruição imerge em Brahman, eles não sabem o que é Brahman. Esse fato é claramente explicado no Brahma-samhita: Os seres vivos, espaço, tempo, e os elementos materiais tais quais fogo, terra, céu, água e mente, constituem a manifestação cósmica total. Conhecida como bhur bhuvah svah, que é manifesta por Govinda. Ela floresce pelo poder de Govinda e depois da aniquilação, entra dentro e é conservada por Govinda. O Senhor Brahma portanto diz, "Eu adoro o Senhor Govinda, a personalidade original, a causa de todas as causas".

A palavra Brahman indica o maior de todos e o mantenedor de tudo. Os impersonalistas são atraídos pela grandeza do céu, mas por causa de seu pobre fundo de conhecimento eles não são atraídos à grandeza de Krishna. Em nossa vida prática, entretanto, nós somos atraídos pela grandeza de uma pessoa e não pela grandeza de uma grande montanha. Na verdade, o termo Brahman pode ser aplicado a Krishna somente; portanto no Bhagavad-gita Arjuna admite que o Senhor Krishna é o Parambrahman, ou o supremo repouso de tudo.

Krishna é o Supremo Brahman por causa de Seu conhecimento ilimitado, potências ilimitadas, influência ilimitada, beleza ilimitada e renúncia ilimitada. Portanto, a palavra Brahman pode ser aplicada a Krishna somente. Arjuna afirma que porque o Brahman impessoal é a refulgência que emana como raios do corpo transcendental de Krishna, Krishna é o Parambrahman. Tudo repousa no Brahman, mas o Brahman mesmo repousa em Krishna. Portanto Krishna é o Brahman último ou Parambrahman. Os elementos materiais são aceitos como energias inferiores de Krishna porque pela interação deles a manifestação cósmica acontece, repousa em Krishna, e depois da dissolução novamente entra no corpo de Krishna como Sua energia sutil. Krishna é portanto a causa de ambas manifestação e dissolução.

Sarvam khalv idam brahma significa tudo é Krishna, e essa é a visão dos mahabhagavatas. Eles vêem tudo em relação com Krishna. Os impersonalistas argumentam que Krishna transformou-Se em muitos e por isso tudo é Krishna e adoração de tudo é adorá-Lo. Esse falso argumento é respondido por Krishna no Bhagavad-gita: apesar de tudo ser uma transformação da energia de Krishna, Ele não está presente em tudo. Ele está simultaneamente presente e não presente. Por Sua energia Ele está presente em toda parte, mas como o energético Ele não está presente em toda parte. Essa presença e não presença simultâneas é inconcebível para nossos sentidos presentes. Mas uma explicação clara é dada no começo do Ishopanishad, onde está afirmado que o Supremo Senhor é tão completo que apesar de ilimitadas energias e suas transformações emanarem de Krishna, a personalidade de Krishna não é nem um pouco transformada. Assim, porque Krishna é a causa de todas as causas, pessoas inteligentes devem se abrigar em Seus pés de lótus.

Krishna aconselha todos justamente a se renderem a Ele somente, e esse é o caminho da instrução Védica. Porque Krishna é a causa de todas as causas, Ele é adorado por todos os tipos de sábios e santos pela observação dos princípios reguladores. Quando há uma necessidade para meditação, grandes personalidades meditam na forma transcendental de Krishna dentro do coração. Desse modo, as mentes de grandes personalidades estão sempre absortas em Krishna. Com as mentes absortas em Krishna, naturalmente os devotos cativados simplesmente falam de Krishna.

Falar de Krishna ou cantar de Krishna se chama kirtana. O Senhor Chaitanya também recomenda kirtaniyah sada harih, que significa sempre pensar e falar de Krishna e nada mais. Isso se chama Consciência de Krishna. Consciência de Krishna é tão sublime qualquer um que adota este processo está elevado para a mais elevada perfeição da vida - muito, muito mais além do conceito de liberação. No Bhagavad-gita, portanto, Krishna aconselha todos a sempre pensar Nele, prestar serviço devocional a Ele, adorá-Lo e oferecer reverências a Ele. Desse modo um devoto se torna plenamente Krishna-izado e, por estar sempre situado em Consciência de Krishna, ultimamente vai de volta para Krishna.

Apesar dos Vedas terem recomendado adoração de diferentes semideuses como diferentes partes e parcelas de Krishna, deve-se entender que tais instruções são destinadas para a classe de homens menos inteligentes, que ainda estão atraídos ao prazer sensual. Mas pessoas que realmente querem cumprimento perfeito da missão da vida humana devem simplesmente adorar o Senhor Krishna, e isso simplificará a matéria e garantirá completamente o sucesso de sua vida humana. Apesar do céu, a água e a terra serem partes e parcelas do mundo material, quando alguém está em terra firme sua posição é mais segura do que quando está no céu ou na água. Uma pessoa inteligente, portanto, não permanece sob a proteção de diferentes semideuses, apesar de eles serem parte e parcela de Krishna. Em vez disso, ele permanece no chão sólido da Consciência de Krishna. Isso faz sua posição sólida e segura.

Os impersonalistas às vezes dão o exemplo que se alguém está sobre uma pedra ou sobre um pedaço de madeira, certamente está sobre a superfície da terra, porque ambas pedra e madeira repousam na superfície da terra. Mas pode ser respondido que se alguém está diretamente na superfície da terra, está mais seguro do que sobre a madeira ou pedra que repousam sobre a terra. Em outras palavras, abrigar-se no Paramatma ou se abrigar no Brahman impessoal não é um curso tão seguro quanto tomar o abrigo direto de Krishna em Consciência de Krishna. A posição dos jñanis e yogis não é portanto tão segura quanto a posição dos devotos de Krishna. O Senhor Krishna por isso aconselhou no Bhagavad-gita que somente a pessoa que perdeu o juízo adota a adoração dos semideuses. E sobre as pessoas que estão apegadas ao Brahman impessoal, o Srimad Bhagavatam diz, "Meu querido Senhor, aqueles que pensam em si próprios como liberados por especulação mental ainda não estão purificados da contaminação da natureza material por causa da incapacidade deles em encontrar o abrigo de Seus pés de lótus. Apesar de se elevarem para a situação transcendental de existência no Brahman impessoal, eles certamente caem dessa posição exaltada porque negligenciaram desejar Seus pés de lótus". O Senhor Krishna portanto aconselha que os adoradores dos semideuses não são pessoas muito inteligentes porque obtêm somente resultados temporários, exaustivos. Seus esforços são aqueles de homens menos inteligentes. Mas o Senhor assegura que Seu devoto não tem medo de cair.

Os Vedas personificados continuaram a orar: "Querido Senhor, ao considerar todos os pontos de vista, se uma pessoa tem que adorar alguém superior a ela, então justamente por bom comportamento a pessoa tem que aderir à adoração de Seus pés de lótus porque Você é o controlador último da criação, manutenção e dissolução. Você é o controlador dos três mundos, Bhur, Bhuvar e Swar, Você é controlador dos quatorze mundos superior e inferior, e Você é o controlador das três qualidades materiais. Semideuses e pessoas avançadas em conhecimento espiritual estão sempre dedicadas em ouvir e cantar sobre Seus passatempos transcendentais porque isso tem a potência específica de nulificar os resultados acumulados da vida pecaminosa. Pessoas inteligentes realmente mergulham no oceano de Suas atividades nectáreas e muito pacientemente ouvem sobre elas. Assim se tornam imediatamente livres da contaminação das qualidades materiais; elas não têm que se submeter a severas penitências e austeridades para avanço na vida espiritual. Esse cantar e ouvir Seus passatempos transcendentais é o processo mais fácil para a auto-realização. Simplesmente pela recepção auditiva da mensagem transcendental, o coração da pessoa se torna limpo de todas as coisas sujas. Assim a Consciência de Krishna se torna fixa no coração de um devoto".

"A grande autoridade Bhismadeva também deu a opinião que este processo de cantar e ouvir sobre a Suprema Personalidade de Deus é a essência de todas as execuções ritualísticas Védicas. Querido Senhor, o devoto que quer se elevar simplesmente por este processo de atividades devocionais, especialmente por ouvir e cantar, muito em breve sai fora das garras das dualidades da existência material. Por este processo simples de penitência e austeridade, a Superalma dentro do coração do devoto se torna muito satisfeita e dá ao devoto direções para que ele possa ir de volta ao lar, de volta ao Supremo. Está afirmado no Bhagavad-gita aquele que dedica todas as suas atividades e sentidos no serviço devocional ao Senhor se torna completamente pacificado porque a Superalma está satisfeita com ele; assim o devoto se torna transcendental a todos os tipos de dualidades, tais quais calor e frio, honra e desonra. Livre de todas as dualidades, ele sente bem-aventurança transcendental, e não mais sofre cuidados e ansiedades por causa da existência material. O Bhagavad-gita confirma o devoto que está sempre absorto em Consciência de Krishna não tem ansiedades para sua manutenção ou proteção. Constantemente absorto em Consciência de Krishna, ele ultimamente alcança a perfeição mais elevada. Enquanto na existência material, ele vive pacificamente e em bem-aventurança sem quaisquer cuidados e ansiedades, e depois de deixar este corpo, ele vai de volta ao lar, de volta ao Supremo. O Senhor confirma no Bhagavad-gita, 'Minha morada suprema é um local transcendental no qual ao ir lá ninguém retorna para o mundo material. Qualquer um que alcança a perfeição suprema, por estar dedicado a Meu serviço devocional pessoal na morada eterna, alcança a perfeição mais elevada da vida humana e não tem que retornar novamente ao mundo material miserável'".

"Meu querido Senhor, é imperativo que os seres vivos sejam dedicados na Consciência de Krishna, sempre a prestar serviço devocional por métodos prescritos tais quais ouvir e cantar e executar Suas ordens. Se uma pessoa não está dedicada na Consciência de Krishna e serviço devocional, é inútil para ela exibir os sintomas de vida. Geralmente é aceito se uma pessoa respira, ela está viva. Mas uma pessoa sem Consciência de Krishna pode ser comparada a um fole numa oficina de ferreiro. O grande fole é um saco de pele que exala e inala ar, e um ser humano que simplesmente vive dentro de um saco de pele e ossos sem adotar a Consciência de Krishna e serviço devocional amoroso não é melhor do que o fole. Similarmente, a longa duração de vida de um não devoto é comparada à longa existência de uma árvore, sua capacidade de comer vorazmente é comparada ao comer dos cães e porcos, e seu desfrute de vida sexual é comparado ao dos porcos e bodes".

"A manifestação cósmica foi possível por causa da entrada da Suprema Personalidade de Deus como Maha-Vishnu dentro deste mundo material. A energia material total se torna agitada pelo olhar de Maha-Vishnu, e somente então a interação das três qualidades materiais começa. Assim deve ser concluído que quaisquer facilidades materiais que nós tentamos desfrutar estão disponíveis somente devido à misericórdia da Suprema Personalidade de Deus".

"Dentro do corpo há cinco diferentes departamentos de existência, conhecidos como annamaya, pranamaya, manomaya, vijñanamaya e, por último, anandamaya. No começo da vida, cada ser vivo é consciente de comida. Uma criança ou um animal é satisfeita apenas por obter boa comida. Esse estágio de consciência, no qual o objetivo é comer suntuosamente, chama-se annamaya. Anna significa comida. Depois disso, esse ser vive na consciência de estar vivo. Se alguém puder continuar sua vida sem ser atacado ou destruído, ele se sente feliz. Esse estágio é chamado pranamaya, ou consciência da própria existência. Depois desse estágio, quando a pessoa está situada na plataforma mental, essa consciência é chamada manomaya. A civilização material é primeiramente situada nesses três estágios, annamaya, pranamaya e manomaya. A primeira preocupação de pessoas civilizadas é desenvolvimento econômico, a próxima preocupação é defesa contra ser aniquilado, e a próxima consciência é especulação mental, a aproximação filosófica para os valores da vida".

"Se pelo processo evolucionário de vida filosófica acontecer da pessoa alcançar a plataforma de vida intelectual e compreender que ela não é este corpo material, mas é uma alma espiritual, então pela evolução da vida espiritual, ela vem ao entendimento do Supremo Senhor ou da Alma Suprema. Quando alguém desenvolve sua relação com Ele e executa serviço devocional, esse estágio de vida é chamado Consciência de Krishna, o estágio anandamaya. Anandamaya é a vida de bem-aventurança de conhecimento e eternidade. Como é dito no Vedanta-sutra, anandamayo 'bhyasat. O Supremo Brahman e o Brahman subordinado, ou a Suprema Personalidade de Deus e os seres vivos, são ambos felizes por natureza. Enquanto os seres vivos estão situados nos quatro estágios de vida inferiores, annamaya, pranamaya, manomaya e vijñanamaya, são considerados situados na condição de vida material, mas logo que alguém alcança o estágio de anandamaya, torna-se uma alma liberada. Esse estágio anandamaya é explicado no Bhagavad-gita como estágio brahma-bhuta. Lá está dito que no estágio de vida brahma-bhuta não existe ansiedade e nenhum desejo ardente. Esse estágio começa quando a pessoa se torna igualmente disposta em relação a todos os seres vivos, e esse então se expande para o estágio da Consciência de Krishna no qual a pessoa anseia prestar serviço à Suprema Personalidade de Deus. Esse anseio por avanço no serviço devocional não é o mesmo que anseio por prazer sensual na existência material. Em outras palavras, ansiedade permanece na vida espiritual, mas se torna purificada. Quando nossos sentidos estão purificados, ficam livres de todos estágios materiais, chamados, annamaya, pranamaya, manomaya e vijñanamaya, e se tornam situados no estágio mais elevado - anandamaya, ou vida bem-aventurada em Consciência de Krishna. Os filósofos Mayavadis consideram anandamaya como o estágio de imersão no Supremo. Para eles, anandamaya significa que a Superalma e a alma individual se tornam um. Mas o fato real é que unidade não significa imergir no Supremo e perder sua própria existência individual. Imergir na existência espiritual é a realização do ser vivo da unidade qualitativa com o Supremo Senhor em Seus aspectos de eternidade e conhecimento. Mas o verdadeiro estágio anandamaya (bem-aventurado) é obtido quando a pessoa está dedicada ao serviço devocional. Isso é confirmado no Bhagavad-gita. Mad-bhaktim labhate param: o estágio anandamaya brahma-bhuta é completo somente quando há o intercâmbio de amor entre o Supremo e os seres vivos subordinados. A menos que uma pessoa chegue a esse estágio de vida anandamaya, sua respiração é igual a um fole numa oficina de ferreiro, sua duração de vida é igual à de uma árvore, e ela não é melhor do que os animais inferiores tais quais camelos, porcos e cães.

Indubitavelmente o ser vivo eterno não pode ser aniquilado até nenhum ponto. Mas as espécies de vida inferiores existem numa condição miserável, enquanto quem está dedicado em serviço devocional do Supremo Senhor está situado no agradável ou status de vida anandamaya. Os diferentes estágios descritos acima estão todos em relação com a Suprema Personalidade de Deus. Apesar de em todas as circunstâncias existirem ambos a Suprema Personalidade de Deus e os seres vivos, a diferença é que a Suprema Personalidade de Deus existe sempre no estágio anandamaya, enquanto os seres vivos subordinados, por causa de sua posição diminuta como porções fragmentais do Supremo Senhor, são propensas a cair para os outros estágios de vida. Apesar de em todos os estágios ambos o Supremo Senhor e os seres vivos existirem, a Suprema Personalidade de Deus é sempre transcendental ao nosso conceito de vida, seja se estivermos em cativeiro ou em liberação. A manifestação cósmica inteira se torna possível pela graça do Supremo Senhor, ela existe pela graça do Supremo Senhor, e quando é aniquilada, imerge na existência do Supremo Senhor. Assim, o Supremo Senhor é a existência suprema, a causa de todas as causas. Assim a conclusão é que sem o desenvolvimento da Consciência de Krishna, a vida de alguém é só uma perda de tempo.

Aqueles que são muito materialistas e não podem entender a situação do mundo espiritual não podem entender a morada de Krishna. Para essas pessoas, os grandes sábios recomendaram o processo de yoga no qual a pessoa gradualmente eleva a meditação do abdômen, que é chamado muladhara ou meditação manipuraka. Muladhara e manipuraka são termos técnicos que se referem aos intestinos dentro do abdômen. Pessoas materialistas grosseiras pensam que desenvolvimento econômico é da maior importância porque estão sob a impressão que o ser vivo existe somente para comer. Tais pessoas materialistas grosseiras esquecem que apesar de que podemos comer o tanto que quisermos, se a comida não for digerida, produz os problemas de indigestão e acidez. Assim, em si, comer não é a causa da energia vital da vida. Para a digestão dos alimentos, nós temos que nos abrigar em outra, energia superior, que é mencionada no Bhagavad-gita como vaishvanara. O Senhor Krishna diz que Ele ajuda a digestão na forma de vaishvanara. A Suprema Personalidade de Deus é todo-penetrante; portanto, Sua presença como vaishvanara não é extraordinária.

Krishna na realidade está presente em toda parte. O Vaishnava, portanto, marca seu corpo com templos de Vishnu: primeiro ele marca um templo tilaka no abdômen, depois no peito, depois entre as clavículas, depois na testa, e gradualmente ele marca o topo da cabeça, o brahma-randhra. Os treze templos de tilaka marcados no corpo de um Vaishnava são conhecidos como se segue: Na testa está o templo do Senhor Keshava, no ventre está o templo do Senhor Narayana, no peito está o templo do Senhor Madhava, e na garganta, entre as duas clavículas, está o templo do Senhor Govinda. No lado direito da cintura está o templo do Senhor Vishnu, no braço direito está o templo do Senhor Madhusudana, e no lado direito da clavícula está o templo do Senhor Trivikrama. Similarmente, no lado esquerdo da cintura está o templo do Senhor Vamanadeva, no braço esquerdo está o templo de Shridhara, no lado esquerdo da clavícula está o templo de Hrishikesha, nas costas em cima o templo é chamado Padmanabha, nas costas em baixo o templo é chamado Damodara. No topo da cabeça o templo é chamado Vasudeva. Esse é o processo de meditação na situação do Senhor em diferentes partes do corpo, mas para aqueles que não são Vaishnavas, os grandes sábios recomendam meditação no conceito corpóreo de vida - meditação nos intestinos, no coração, na garganta, nas sobrancelhas, na testa e em cima da cabeça. Alguns sábios na sucessão discipular do grande santo Aruna meditam no coração porque a Superalma também permanece dentro do coração junto com o ser vivo. Isso é confirmado no Bhagavad-gita, Capítulo Quinze, onde o Senhor declara, "Eu estou situado no coração de todos".

Para o Vaishnava, a proteção do corpo para o serviço do Senhor é uma parte do serviço devocional, mas aqueles que são materialistas grosseiros aceitam o corpo como o eu. Eles adoram o corpo pelo processo da yoga de meditar em diferentes partes corpóreas, tais quais manipuraka, dahara e hridaya, gradualmente na elevação até o brahma-randhra no topo da cabeça. O yogi de primeira classe que alcançou a perfeição na prática do sistema de yoga ultimamente passa através do brahma-randhra para qualquer um dos planetas em ambos os mundos material ou espiritual. Como um yogi pode se transferir para outro planeta é muito vividamente descrito no Segundo Canto do Srimad Bhagavatam.

A esse respeito, Shukadeva Goswami recomendou que os iniciantes adorem o virata purusha, a gigantesca forma universal do Senhor. Aquele que não acredita que o Senhor pode ser adorado com igual sucesso na forma da Deidade ou archa, ou quem não pode se concentrar nessa forma, é aconselhado para adorar a forma universal do Senhor. A parte inferior do universo é considerada os pés e pernas da forma universal do Senhor, a parte do meio do universo é considerada o umbigo ou abdômen do Senhor, os sistemas planetários superiores tais quais Janoloka e Maharloka são o coração do Senhor, e o sistema planetário superior, Brahmaloka, é considerado o topo da cabeça do Senhor. Existem diferentes processos recomendados por grandes sábios, de acordo com a posição do adorador, mas o objetivo último de todos os processos de meditação e yoga é ir de volta ao lar, de volta ao Supremo. Como afirmado no Bhagavad-gita, qualquer um que alcança o planeta mais elevado, a morada de Krishna, ou mesmo os planetas Vaikuntha, nunca tem que descer novamente para esta condição de vida material miserável.

A recomendação Védica, portanto, é que a pessoa faça os pés de lótus de Vishnu o alvo de todos os seus esforços. Tad visnoh paramam padam, Vishnuloka ou os planetas Vishnu, estão situados acima de todos os planetas materiais. Esses planetas Vaikuntha são conhecidos como sanatana-dhama, e eles são eternos. Eles nunca são aniquilados, nem mesmo na aniquilação deste mundo material. A conclusão é que se um ser humano não cumpre a missão de sua vida por adorar o Supremo Senhor e não vai de volta ao Supremo, então deve-se ser entendido que ele foi frustrado em cumprir o propósito principal da vida humana.

A próxima oração dos Vedas personificados para o Senhor diz respeito à Sua entrada dentro de diferentes espécies de vida. Está afirmado no Bhagavad-gita, Capítulo Décimo Quarto, que em cada espécie e forma de vida a parte e parcela espiritual do Supremo Senhor está presente. O Senhor em Pessoa declara no Gita que Ele é o pai que dá a semente de todas as formas e espécies, e portanto todas elas devem ser consideradas filhas do Senhor. A entrada do Supremo Senhor no coração de todos como Paramatma às vezes confunde os impersonalistas, que pensam em termos de igualdade dos seres vivos com o Supremo Senhor. Eles pensam porque o Supremo Senhor entra em diferentes corpos junto com a alma individual, não há distinção entre o Senhor e as entidades individuais. O desafio deles é, "Por que as almas individuais devem adorar o Paramatma ou Superalma"? De acordo com eles, ambas a Superalma e a alma individual estão no mesmo nível; elas são um, sem nenhuma diferença entre elas. Existe uma diferença, entretanto, entre a Superalma e a alma individual, e isso é explicado no Bhagavad-gita, Capítulo Décimo Quinto, onde o Senhor diz que apesar de situado com o ser vivo no mesmo corpo, Ele é superior. Ele dita para ou dá inteligência para a alma individual de dentro. Está claramente afirmado no Gita que o Senhor dá inteligência para a alma individual e ambos memória e esquecimento são devidos à influência da Superalma. Ninguém pode agir independentemente da sanção da Superalma. Assim, a alma individual age de acordo com seu karma passado, lembrada pelo Senhor. A natureza da alma individual é esquecimento, mas a presença do Senhor dentro do coração a lembra do que queria em sua vida passada. A inteligência da alma individual é exibida igual a fogo na madeira. Apesar de fogo ser sempre fogo, é exibido num tamanho proporcional ao tamanho da madeira. Similarmente, embora a alma individual seja qualitativamente uma com o Supremo Senhor, ela se exibe de acordo com as limitações de seu presente corpo.

O Supremo Senhor ou a Superalma é dito ser eka-rasa. Eka significa um, e rasa significa doçura. A posição transcendental do Supremo Senhor é de eternidade, bem-aventurança e conhecimento completo. Sua posição de eka-rasa não muda ao mínimo quando Ele Se torna uma testemunha e conselheiro da alma individual em cada corpo individual.

A alma individual, a começar pelo Senhor Brahma abaixo até a formiga, exibe sua potência espiritual de acordo com seu presente corpo. Os semideuses estão na mesma categoria com as almas individuais nos corpos de seres humanos ou nos corpos dos animais inferiores. Pessoas inteligentes, portanto, não adoram diferentes semideuses, que são simplesmente representantes infinitesimais de Krishna manifesto em corpos condicionados. A alma individual pode exibir seu poder e potências somente na proporção para a forma e constituição do corpo. A Suprema Personalidade de Deus, entretanto, pode exibir Suas potências plenas em qualquer feitio ou forma sem qualquer alteração. A tese dos filósofos Mayavadis que Deus e a alma individual são um e o mesmo não pode ser aceita porque a alma individual tem que desenvolver seu poder e potências de acordo com o desenvolvimento de diferentes tipos de corpos. A alma individual no corpo de um bebê não pode mostrar o poder e potência plenos de um homem adulto, mas a Suprema Personalidade de Deus Krishna, mesmo deitado no colo de Sua mãe como um bebê, pôde exibir Sua potência e poder plenos por matar Putana e outros demônios que tentaram atacá-Lo. Portanto a potência espiritual da Suprema Personalidade de Deus é dita ser eka-rasa, ou sem alteração. Por isso, a Suprema Personalidade de Deus é o único objeto adorado, e isso é perfeitamente sabido por pessoas que são incontaminadas pela força da natureza material. Em outras palavras, somente as almas liberadas podem adorar a Suprema Personalidade de Deus. Mayavadis menos inteligentes adotam a adoração dos semideuses, por pensarem que os semideuses e a Suprema Personalidade de Deus estão no mesmo nível.

Os Vedas personificados continuaram a oferecer suas reverências. "Querido Senhor", eles oraram, "depois de muitos, muitos nascimentos, aqueles que realmente se tornaram sábios adotam a adoração de Seus pés de lótus em conhecimento completo". Isso também está confirmado no Bhagavad-gita, onde o Senhor diz que depois de muitos, muitos nascimentos, uma grande alma ou mahatma se rende ao Senhor, por saber bem que Vasudeva, Krishna, é a causa de todas as causas. Os Vedas continuaram: "Como já foi explicado, porque nossa mente, inteligência e sentidos nos foram dados por Deus, quando esses instrumentos estão realmente purificados não há alternativa além de dedicar todos eles no serviço devocional do Senhor. O aprisionamento do ser vivo em diferentes espécies de vida é devido à má aplicação de sua mente, inteligência e sentidos em atividades materiais. Vários tipos de corpos são concedidos como resultado das ações de um ser vivo, e eles são criados pela natureza material de acordo com o desejo do ser vivo. Porque um ser vivo deseja e merece um tipo de corpo particular, é dado a ele pela natureza material sob a ordem do Supremo Senhor".

No Srimad Bhagavatam, Terceiro Canto, está explicado que sob o controle de autoridade superior um ser vivo é colocado no sêmen de um masculino e injetado no ventre de uma feminina particular a fim de desenvolver um tipo particular de corpo. Um ser vivo utiliza seus sentidos, inteligência, mente, etc., de um modo específico de sua própria escolha e assim desenvolve um tipo particular de corpo dentro do qual ele se torna encarcerado. Desse modo o ser vivo se torna situado em diferentes espécies de vida, tanto num corpo de um semideus, humano ou animal, de acordo a diferentes situações e circunstâncias.

Está explicado nas literaturas Védicas que os seres vivos aprisionados em diferentes espécies de vida são partes e parcelas do Supremo Senhor. Os filósofos Mayavadis confundem o ser vivo com o Paramatma, que na realidade está sentado junto com o ser vivo como um amigo. Porque o Paramatma, o aspecto localizado da Suprema Personalidade de Deus, e o ser vivo individual ambos estão dentro do corpo, um mal-entendido às vezes acontece de que não há diferença entre os dois. Mas há uma diferença definitiva entre a alma individual e a Superalma, e é explicado no Varaha Purana como se segue. O Supremo Senhor tem dois tipos de partes e parcelas: o ser vivo se chama vibhinnamsha, e o Paramatma ou a expansão plenária da Suprema Personalidade de Deus se chama swamsha. A expansão plenária swamsha da Suprema Personalidade de Deus é tão poderosa quanto a Suprema Personalidade de Deus em Pessoa. Não existe mesmo a mínima diferença entre a potência da Pessoa Suprema e a da Sua expansão plenária como Paramatma, mas as partes e parcelas vibhinnamshas possuem apenas uma porção diminuta das potências do Senhor. O Narayana-Pañcharatra afirma que os seres vivos que são a potência marginal do Supremo Senhor são indubitavelmente da mesma qualidade de existência espiritual igual o Próprio Senhor, mas eles são propensos a serem manchados com qualidades materiais. Porque ele é propenso a ser sujeito à influência das qualidades materiais, o ser vivo diminuto se chama jiva. Às vezes, a Suprema Personalidade de Deus também é conhecida como Shiva, o todo-auspicioso. Assim a diferença entre Shiva e jiva é que a todo-auspiciosa Personalidade de Deus nunca é afetada pelas qualidades materiais, enquanto as porções diminutas da Suprema Personalidade de Deus são propensas a serem afetadas pelas qualidades da natureza material.

A Superalma dentro do corpo de um ser vivo particular, apesar de uma porção plenária do Senhor, é adorável pelo ser vivo individual. Os grandes sábios concluíram portanto que o processo de meditação é projetado para que o ser vivo individual possa concentrar sua atenção nos pés de lótus da forma da Superalma (Vishnu). Essa é a verdadeira forma do samadhi. O ser vivo não pode se tornar liberado do cativeiro material pelo seu próprio esforço. Ele deve por isso adotar o serviço devocional dos pés de lótus do Supremo Senhor, ou a Superalma dentro de si mesmo. Shridhara Swami, o grande comentador do Srimad Bhagavatam, compôs um belo verso a esse respeito, o significado dele é como se segue: "Meu querido Senhor, eu sou eternamente sua parte e parcela, mas eu fui aprisionado pelas potências materiais, que também são uma emanação de Você. Como a causa de todas as causas, Você entrou no meu corpo como a Superalma, e eu tenho a prerrogativa para desfrutar suprema vida bem-aventurada de conhecimento junto com Você. Assim, meu querido Senhor, por favor ordene-me para prestar Seu serviço amoroso para que eu possa novamente ser trazido à minha posição original de bem-aventurança transcendental".

Grandes personalidades entendem que um ser vivo aprisionado dentro deste mundo material não pode se tornar livre por seus próprios esforços. Com fé e devoção firmes, tais grandes personalidades se dedicam em prestar serviço amoroso transcendental para o Senhor. Esse é o veredicto dos Vedas personificados.

Os Vedas personificados continuaram: "Querido Senhor, é muito difícil alcançar conhecimento perfeito da Verdade Absoluta. Sua divindade é tão bom para as almas caídas que Você aparece em diferentes encarnações e executa diferentes atividades. Você aparece até como uma personalidade histórica deste mundo material, e Seus passatempos são muito bem descritos nas literaturas Védicas. Esses passatempos são tão atraentes como o oceano de bem-aventurança transcendental. Pessoas em geral têm uma inclinação natural para ler narrações nas quais jivas ordinários são glorificados, mas quando elas se tornam atraídas pelas literaturas Védicas, que retratam Seus passatempos eternos, elas realmente mergulham no oceano de bem-aventurança transcendental. Igual um homem fatigado se sente revigorado quando mergulha num reservatório de água, assim a alma condicionada que está muito desgostosa com atividades materiais se torna revigorada e esquece toda a fadiga das atividades materiais simplesmente por mergulhar dentro do oceano transcendental de Seus passatempos. E eventualmente ela imerge no oceano de bem-aventurança transcendental. Os devotos mais inteligentes, portanto, não adotam nenhum outro meio de auto-realização exceto serviço devocional e se dedicam constantemente nos nove diferentes processos de serviço devocional, especialmente ouvir e cantar. Quando ouvem e cantam sobre Seus passatempos transcendentais, Seus devotos não se importam nem mesmo com bem-aventurança transcendental derivada da liberação ou imergir na existência do Supremo. Tais devotos não estão interessados em assim chamada liberação, e certamente não têm nenhum interesse em atividades materiais para elevação aos planetas celestiais para satisfação sensual. Devotos puros procuram somente a associação dos paramahamsas, grandes devotos liberados, para que eles possam continuamente ouvir e cantar sobre Suas glórias. Para esse propósito, os devotos puros são preparados para sacrificar todos os confortos da vida, mesmo abandonar os confortos materiais da vida familiar e assim chamados sociedade, amizade e amor. Aqueles que saborearam o néctar da devoção ao saborear a vibração transcendental de cantar Suas glórias, Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, não se importam com nenhuma outra bem-aventurança espiritual ou confortos materiais, que parecem para o devoto puro como menos importantes do que a palha na rua".

Os Vedas personificados continuaram: "Querido Senhor, quando a pessoa é capaz de purificar sua mente, sentidos e inteligência por se dedicar no serviço devocional em Consciência de Krishna plena, sua mente se torna sua amiga. De outro modo, sua mente é sempre sua inimiga. Quando a mente está dedicada no serviço devocional do Senhor, ela se torna o amigo íntimo do ser vivo porque a mente pode então pensar no Supremo Senhor sempre. Sua Divindade é sempre querido para o ser vivo, assim quando a mente está dedicada no pensamento de Você, a pessoa imediatamente sente a grande satisfação pela qual ela ansiou vida após vida. Quando a mente da pessoa está assim então fixa nos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, ela não adota nenhum tipo de adoração inferior ou processo inferior de auto-realização. Por tentar adorar um semideus ou adotar qualquer outro processo de auto-realização, o ser vivo se torna uma vítima do ciclo de nascimento e morte, e ninguém pode estimar quanto o ser vivo se torna degradado por entrar nas espécies de vida abomináveis como os gatos e cães".

Sri Narottama Dasa Thakura cantou que pessoas as quais não adotam o serviço devocional do Senhor mas estão atraídas ao processo de especulação filosófica e atividades lucrativas bebem os resultados venenosos de tais ações. Tais pessoas são forçadas a tomar nascimento em diferentes espécies de vida e são forçadas a adotar práticas desprezíveis como comer carne e intoxicação. Pessoas materialistas geralmente adoram o corpo material transitório e esquecem o bem-estar da alma espiritual dentro do corpo. Algumas se abrigam na ciência materialista para melhorar confortos corpóreos, e algumas adotam a adoração dos semideuses a fim de serem promovidas aos planetas celestiais. Seu objetivo na vida é deixar o corpo material confortável enquanto esquece o interesse da alma espiritual. Tais pessoas são descritas na literatura Védica como suicidas porque apego pelo corpo material e seus confortos força o ser vivo a vagar através do processo de nascimento e morte perpetuamente e sofrer as dores materiais como rotina. A forma humana de vida é a chance para a pessoa entender sua posição, e a pessoa mais inteligente adota serviço devocional justamente para dedicar sua mente, sentidos e corpo no serviço do Senhor sem desvio.

Os Vedas personificados continuaram: "Querido Senhor, existem muitos yogis místicos que são muito eruditos e deliberam em alcançar a perfeição mais elevada da vida. Eles se ocupam no processo de yoga para controle do ar-vital dentro do corpo. Com a concentração da mente na forma de Vishnu e controle dos sentidos muito rigidamente, eles praticam o sistema de yoga, mas mesmo depois de austeridade, penitência, e regulação, tão laboriosas, eles alcançam o mesmo destino iguais pessoas que são inimigas de Você. Em outras palavras, ambos os yogis e grandes, especuladores mentais sábios ultimamente alcançam a refulgência impessoal Brahman, que também é automaticamente alcançada por demônios que são inimigos regulares do Senhor. Demônios tais quais Kamsa, Shishupala e Dantavakra também alcançam a refulgência Brahman porque eles constantemente meditam sobre a Suprema Personalidade de Deus. Mulheres tais quais as gopis ficaram atraídas por Krishna e cativadas por Sua beleza, e a concentração mental delas em Krishna foi provocada por luxúria. Elas queriam ser abraçadas pelos braços de Krishna, que parecem com a beleza da forma redonda de uma serpente. Similarmente, existem os hinos Védicos, e nós também simplesmente concentramos nossas mentes nos pés de lótus de Sua Divindade. Mulheres iguais às gopis se concentram em Você por luxúria, e nós concentramos em Seus pés de lótus para irmos de volta ao lar, de volta ao Supremo. Seus inimigos também se concentram em Você, pensam sempre em como matar Você, e os yogis se submetem a grandes penitências e austeridades justamente para alcançarem Sua refulgência impessoal. Todas essas pessoas diferentes, apesar de concentrarem suas mentes em diferentes modos, alcançam perfeição espiritual de acordo com suas diferentes perspectivas porque Você é igual para todos os Seus devotos".

Shridhara Swami compôs um belo verso a esse respeito: "Meu querido Senhor, estar dedicado a sempre pensar em Seus pés de lótus é muito difícil. É possível para grandes devotos que já alcançaram amor por Você e estão dedicados no serviço amoroso transcendental. Meu querido Senhor, eu desejo que minha mente também possa estar dedicada de uma forma ou outra em Seus pés de lótus, pelo menos por algum tempo".

A obtenção da perfeição espiritual por diferentes espiritualistas é explicada no Bhagavad-gita, onde o Senhor diz que Ele concede a perfeição que o devoto deseja na proporção da rendição do devoto a Ele. Os impersonalistas, yogis e os inimigos do Senhor entram na refulgência transcendental do Senhor, mas os personalistas que seguem os passos dos habitantes de Vrindavana ou seguem estritamente o caminho do serviço devocional são elevados à morada pessoal de Krishna, Goloka Vrindavana, ou para os planetas Vaikuntha. Ambos os impersonalistas e os personalistas entram no reino espiritual ou céu espiritual, mas aos impersonalistas é dado seu lugar na refulgência Brahman impessoal, enquanto aos personalistas é dada uma posição nos planetas Vaikuntha ou no planeta Vrindavana, de acordo com seu desejo para servir o Senhor em diferentes doçuras.

Os Vedas personificados declararam que pessoas nascidas depois da criação deste mundo material não podem entender a existência da Suprema Personalidade de Deus por manipular seu conhecimento material. Justamente igual uma pessoa nascida numa família particular não pode entender a posição de seu avô que viveu antes do nascimento da geração recente, nós somos incapazes de entender a Suprema Personalidade de Deus, Narayana ou Krishna, que existe eternamente no mundo espiritual. No Oitavo Capítulo do Bhagavad-gita está dito claramente que a Pessoa Suprema, que vive eternamente no reino de Deus espiritual (sanatana-dhama), pode ser aproximada somente por serviço devocional.

No que diz respeito à criação material, Brahma é a primeira pessoa criada. Antes de Brahma não existia nenhum ser vivo dentro deste mundo material; ele era vazio e escuro até Brahma nascer sobre a flor de lótus brotada do abdômen de Garbhodakashayi Vishnu. Garbhodakashayi Vishnu é uma expansão de Karanodakashayi Vishnu, Karanodakashayi Vishnu é uma expansão de Sankarshana, e Sankarshana é uma expansão de Balarama. Balarama é uma expansão imediata do Senhor Krishna. Depois da criação de Brahma, os dois tipos de semideuses nasceram: semideuses tais quais os quatro irmãos Sanaka, Sanatana, Sanandana e Sanat-kumara, que são representantes da renúncia do mundo, e semideuses tais quais Marichi e seus descendentes que são destinados a desfrutar este mundo material. A partir desses dois tipos de semideuses, manifestaram-se gradualmente todos os outros seres vivos, inclusive os seres humanos. Assim qualquer criatura viva dentro deste mundo material, inclusive Brahma, todos os semideuses e todos os rakshasas, devem ser considerados modernos. Isso significa que todos nasceram recentemente. Portanto, justamente igual uma pessoa recém-nascida numa família não pode entender a situação de seu avô distante, assim ninguém dentro deste mundo material pode entender a posição do Supremo Senhor no mundo espiritual porque o mundo material foi criado recentemente somente. Apesar de terem uma longa duração de existência, todas as manifestações do mundo material, chamadas, os elementos tempo, os seres vivos, os Vedas, e os elementos grosseiros e sutis, são todos criados em algum ponto. Qualquer coisa manufaturada dentro desta situação criada ou aceita como meio de compreensão da fonte original da criação deve ser considerada moderna.

Por isso que pelo processo de auto-realização ou realização de Deus através de atividades lucrativas, especulação filosófica ou yoga místico, a pessoa não pode se aproximar realmente da fonte suprema de tudo. Quando a criação é completamente terminada, quando não há nenhuma existência dos Vedas, nenhuma existência de tempo material, nenhuma existência de elementos materiais grosseiros e sutis, e quando todos os seres vivos estão no estágio não-manifesto em repouso dentro de Narayana, então todos esses processos manufaturados se tornam nulos e vazios e não podem atuar. Serviço devocional, todavia, acontece eternamente no mundo espiritual eterno. Portanto o único processo real de auto-realização ou realização de Deus é serviço devocional, e se a pessoa adotar esse processo, adota o verdadeiro processo de realização de Deus. Srila Shridhara Swami assim compôs um verso a esse respeito que transmite a idéia de que a suprema fonte de tudo, a Suprema Personalidade de Deus, é tão grandiosa e ilimitada que não é possível para o ser vivo entendê-Lo por qualquer aquisição material. Todos devem portanto orar para o Senhor para ser dedicado no Seu serviço devocional eternamente, assim pela graça do Senhor, a pessoa pode entender a suprema fonte da criação. A suprema fonte da criação, o Supremo Senhor, revela-Se somente para os devotos. No Quarto Capítulo do Bhagavad-gita o Senhor diz para Arjuna. "Meu querido Arjuna, porque você é Meu devoto e porque você é Meu amigo íntimo, Eu por isso revelarei a você o processo de entender-Me". Em outras palavras, a suprema fonte da criação, a Suprema Personalidade de Deus, não pode ser entendida por nosso próprio esforço. Nós temos que satisfazê-Lo com serviço devocional, e assim Ele Se revelará a nós. Assim poderemos entendê-Lo até certo ponto.

Existem diferentes tipos de filósofos que tentaram entender a fonte suprema por sua especulação mental. Existem geralmente seis tipos de especuladores mentais, e são chamados sad-darsana. Todos esses filósofos são impersonalistas e são conhecidos como Mayavadis. Cada um deles tentou estabelecer sua própria opinião, apesar de todos eles mais tarde se comprometerem e declararam que todas as opiniões conduzem ao mesmo objetivo e que cada opinião é por isso válida. De acordo com as preces dos Vedas personificados, entretanto, nenhuma delas é válida porque seu processo de conhecimento é criado dentro do mundo material temporário. Todas elas falharam no ponto real: a Suprema Personalidade de Deus ou a Verdade Absoluta só pode ser entendida por serviço devocional.

Uma classe de filósofos, conhecidos como Mimamsakas, representados por sábios como Jaimini, concluíram que todos devem se ocupar em atividades piedosas ou deveres prescritos e que essas atividades conduzirão a pessoa à perfeição mais elevada. Mas isso é contradito no Nono Capítulo do Bhagavad-gita, onde o Senhor Krishna diz que por atividades piedosas a pessoa pode ser elevada para os planetas celestiais, mas logo que sua acumulação de atividades piedosas é toda usada, ela tem que deixar o desfrute de um alto padrão de prosperidade material nos planetas celestiais e imediatamente descer novamente para estes planetas inferiores, onde a duração de vida é muito curta e onde o padrão de felicidade material é de grau baixo. As palavras exatas usadas no Gita são ksine punye martya-lokam visanti. Assim a conclusão dos filósofos Mimamsaka, que atividades piedosas conduzirão uma pessoa para a Verdade Absoluta, não é válida. Embora um devoto puro seja por natureza inclinado a atividades piedosas, ninguém pode obter o favor da Suprema Personalidade de Deus por atividades piedosas apenas. Atividades piedosas podem purificar a pessoa da contaminação causada por ignorância e paixão, mas isso é alcançado automaticamente por um devoto que está constantemente dedicado a ouvir a mensagem transcendental do Supremo na forma do Bhagavad-gita, Srimad Bhagavatam e escrituras similares. Do Bhagavad-gita nós entendemos que mesmo uma pessoa que não está elevada ao padrão de atividades piedosas mas que está absolutamente dedicada no serviço devocional deve ser considerada bem situada no caminho da perfeição espiritual. Também é dito no Bhagavad-gita que uma pessoa que está dedicada no serviço devocional com amor e fé é guiada de dentro pela Suprema Personalidade de Deus. O Senhor em Pessoa como Paramatma, ou o mestre espiritual sentado no coração de todos, dá ao devoto direções pelas quais ele pode gradualmente ir de volta ao Supremo. A conclusão dos filósofos Mimamsaka não é realmente a verdade que pode conduzir a pessoa para o entendimento real.

Similarmente, há filósofos Sankhya, metafísicos ou cientistas que estudam esta manifestação por seu método científico inventado e que não reconhecem a autoridade suprema de Deus como o criador da manifestação cósmica. Em vez disso, eles concluem erroneamente que a reação dos elementos materiais é a causa original da criação. O Bhagavad-gita, entretanto, não aceita essa teoria. É dito claramente ali que por trás das atividades cósmicas está a direção da Suprema Personalidade de Deus. Esse fato é corroborado pela lei Védica asad va idam agra asit, significa que a origem da criação existia antes da manifestação cósmica. Portanto, os elementos materiais não podem ser a causa da criação material. Embora os elementos materiais são aceitos como causas materiais, a causa última é a Suprema Personalidade de Deus em Pessoa. O Bhagavad-gita diz, portanto, a natureza material trabalha sob a direção de Krishna.

A conclusão da filosofia Sankhya ateísta é que porque os efeitos dos mundos materiais são temporários e ilusórios, a causa é portanto também ilusória. Os filósofos Sankhya são a favor do vazio, mas o fato real é que a causa original é a Suprema Personalidade de Deus e esta manifestação cósmica é a manifestação temporária de Sua energia material. Quando esta manifestação temporária é aniquilada, sua causa, a existência eterna do mundo espiritual, continua como ela é, e por isso o mundo espiritual é chamado sanatana-dhama, a morada eterna. A conclusão do filósofo Sankhya é portanto não válida.

Depois, existem os filósofos liderados por Gautama e Kanada. Eles estudaram muito minuciosamente a causa e efeito dos elementos materiais e ultimamente chegaram à conclusão que a combinação atômica é a causa original da criação. Presentes cientistas materialistas também seguem nos passos de Gautama e Kanada, que propuseram essa teoria de paramanuvada. Essa teoria, contudo, não pode ser suportada porque a causa original da criação de tudo não são átomos inertes. Isso é confirmado no Bhagavad-gita e Srimad Bhagavatam e também nos Vedas, onde está afirmado eko narayana asit, somente Narayana existia antes da criação. O Srimad Bhagavatam e Vedanta-sutra também dizem que a causa original é autoconsciente e ambos diretamente e indiretamente consciente de tudo dentro desta criação. No Bhagavad-gita Krishna diz, aham sarvasya prabhavah: "Eu sou a causa original de tudo", e mattah sarvam pravartate: "De Mim, tudo vem à existência". Portanto, átomos podem formar as combinações básicas da existência material, mas esses átomos são gerados da Suprema Personalidade de Deus. A filosofia de Gautama e Kanada não pode ser suportada.

Similarmente, impersonalistas chefiados por Astavakra e mais tarde por Shankaracharya aceitam a refulgência Brahman impessoal como a causa de tudo. De acordo com a teoria deles, a manifestação material é temporária e irreal, enquanto a refulgência Brahman impessoal é realidade. Mas essa teoria não pode ser suportada tampouco, porque o Senhor em Pessoa diz no Bhagavad-gita que essa refulgência Brahman repousa em Sua personalidade. Também é confirmado no Brahma-samhita que a refulgência Brahman é os raios corpóreos pessoais de Krishna. Assim, Brahman impessoal não pode ser a causa original da manifestação cósmica. A causa original é a todo-perfeita consciente Personalidade de Deus, Govinda.

A teoria dos impersonalistas mais perigosa é que quando Deus vem como uma encarnação, Ele aceita um corpo material criado pelos três modos da natureza material. Essa teoria Mayavadi foi condenada pelo Senhor Chaitanya como a mais ofensiva. Ele disse que qualquer um que aceita o corpo transcendental da Personalidade de Deus como feito desta natureza material comete a maior ofensa aos pés de lótus de Vishnu. Similarmente, o Bhagavad-gita também declara que somente tolos e velhacos menosprezam a Personalidade de Deus quando Ele descende numa forma humana. O Senhor Krishna, Senhor Rama e Senhor Chaitanya realmente moveram dentro da sociedade humana como seres humanos.

Os Vedas personificados condenaram a concepção impessoal como uma deturpação grosseira. No Brahma-samhita, o corpo da Suprema Personalidade de Deus é descrito como ananda-cin-maya-rasa. A Suprema Personalidade de Deus possui um corpo espiritual, não um corpo material. Ele pode desfrutar qualquer coisa através de qualquer parte de Seu corpo, e portanto Ele é onipotente. Os membros de um corpo material podem executar somente uma função particular, justamente igual as mãos podem segurar mas não podem ver ou ouvir. Porque o corpo da Suprema Personalidade de Deus é feito de ananda-cin-maya-rasa ou sac-cid-ananda-vigraha, Ele pode desfrutar qualquer coisa e fazer qualquer coisa com qualquer um de Seus membros. Aceitação do corpo espiritual do Senhor como material é ditado pela tendência de fazer a Suprema Personalidade de Deus igual à alma condicionada. A alma condicionada tem um corpo material. Portanto, se Deus também tem um corpo material, então a teoria impersonalista de que a Suprema Personalidade de Deus e os seres vivos são um e o mesmo pode ser propagandeada muito facilmente.

De fato, quando a Suprema Personalidade de Deus vem, Ele exibe diferentes passatempos, e mesmo assim não existe diferença entre Seu corpo infantil quando está deitado no colo de mãe Yashoda e Seu dito corpo adulto que luta com os demônios. Em seu corpo de criança também, Ele lutou com demônios tais quais Putana, Trinavarta, Aghasura, etc., com força igual que Ele lutou em Sua juventude contra demônios tais quais Dantavakra, Shishupala e outros. Na vida material, logo que a alma condicionada muda seu corpo, esquece tudo de seu corpo passado, mas do Bhagavad-gita entendemos que Krishna, porque Ele tem um corpo sac-cid-ananda, não esqueceu que instruiu o deus do Sol sobre o Bhagavad-gita milhões de anos atrás. O Senhor é portanto conhecido como Purushottama porque Ele é transcendental a ambas existências material e espiritual. Que Ele é a causa de todas as causas significa que Ele é a causa do mundo espiritual e também do mundo material. A Suprema Personalidade de Deus é onipotente e onisciente. Portanto, porque um corpo material não pode ser nem onipotente nem onisciente, o corpo do Senhor certamente não é material. A teoria Mayavadi de que a Pessoa Suprema vem a este mundo material com um corpo material não pode ser suportada por nenhum meio.

Pode-se concluir que todas essas teorias dos filósofos materiais são geradas da existência ilusória temporária, igual às conclusões em um sonho. Tais conclusões não podem nos conduzir para a Verdade Absoluta. A Verdade Absoluta só pode ser realizada através do serviço devocional. Como o Senhor diz no Bhagavad-gita, bhaktya mam abhijanati, "Somente por serviço devocional alguém pode Me entender". Srila Shridhara Swami compôs um belo verso a esse respeito, que declara: "Meu querido Senhor, deixe os outros se engajarem em argumento falso e especulação seca, que teorizam sobre suas grandes teses filosóficas. Deixe-os vagarem na escuridão da ignorância e ilusão, no desfrute falso como se fossem acadêmicos muito eruditos, apesar de serem sem conhecimento da Suprema Personalidade de Deus. No que diz respeito a mim, eu quero ser liberado simplesmente por cantar os santos nomes da todo-bela Suprema Personalidade de Deus - Madhava, Vamana, Trinayana, Sankarshana, Sripati e Govinda. Simplesmente por cantar Seus nomes transcendentais, deixe-me ficar livre da contaminação da existência material".

Dessa forma, os Vedas personificados disseram, "Meu querido Senhor, quando um ser vivo, por Sua graça somente, chega à conclusão correta sobre Sua posição exaltada transcendental, nessa hora ele não mais se incomoda com diferentes teorias manufaturadas por especuladores mentais ou ditos filósofos". Isso é uma referência às teorias especulativas de Gautama, Kanada, Patañjali e Kapila (Narisvara). Existem na realidade dois Kapilas: um Kapila, o filho de Kardama Muni, é uma encarnação de Deus, e o outro é um ateu da era moderna. O Kapila ateu é freqüentemente distorcido como a Suprema Personalidade de Deus que apareceu como o filho de Kardama Muni durante o tempo de Swayambhuva Manu. O Senhor Kapila, a encarnação do Supremo, apareceu muito, muito tempo atrás; a era moderna é a era de Vaivasvata Manu, enquanto que Ele apareceu durante o tempo de Swayambhuva Manu.

De acordo com a filosofia Mayavadi, este mundo manifesto ou o mundo material é mithya ou maya, falso. Seu princípio de pregação é brahma-satya jagat-mithya. De acordo com eles, somente a refulgência Brahman é verdade, e a manifestação cósmica é ilusória ou falsa. Mas de acordo com a filosofia Vaishnava, esta manifestação cósmica é causada pela Suprema Personalidade de Deus. No Bhagavad-gita o Senhor diz que Ele entra dentro deste mundo material por uma de Suas porções plenárias, e assim a criação acontece. Dos Vedas também, nós podemos entender que esta asat ou manifestação cósmica temporária também é uma emanação do supremo sat ou fato. Do Vedanta-sutra também é entendido que tudo emanou do Brahman Supremo. Assim, os Vaishnavas não aceitam esta manifestação cósmica como falsa. O filósofo Vaishnava vê tudo neste mundo material em relação com o Supremo Senhor.

Esse conceito do mundo material é muito bem explicado por Srila Rupa Goswami, ele disse que renúncia deste mundo material como ilusório ou falso sem conhecimento de que o mundo material também é manifestação do Supremo Senhor é de nenhum valor prático. Os Vaishnavas, entretanto, estão livres do apego por este mundo porque geralmente o mundo material é aceito como um objeto de prazer sensual. Os Vaishnavas não são a favor do prazer sensual; portanto, eles não são apegados a atividades materiais. O Vaishnava aceita este mundo de acordo com os princípios reguladores das leis Védicas. Porque a Suprema Personalidade de Deus é a causa original de tudo, o Vaishnava vê tudo em relação com Krishna, mesmo neste mundo material. Por esse conhecimento avançado, tudo se torna espiritualizado. Em outras palavras, tudo neste mundo material já é espiritual, mas devido à falta de conhecimento, nós vemos as coisas como materiais.

Os Vedas personificados apresentaram o exemplo de quem procura por ouro não rejeita brincos de ouro, pulseiras de ouro ou qualquer outra coisa feita de ouro simplesmente porque estão formatadas diferentemente do ouro original. Todos os seres vivos são parte e parcela do Supremo Senhor e são qualitativamente um, mas agora eles estão formatados diferentemente em 8.400.000 espécies de vida, justamente igual muitos ornamentos que foram manufaturados da mesma fonte de ouro. Da mesma forma que alguém interessado em ouro aceita todos os diferentes formatos dos ornamentos de ouro, assim um Vaishnava, o qual sabe muito bem que todos os seres vivos são da mesma qualidade iguais à Suprema Personalidade de Deus, aceita todos os seres vivos como servos eternos de Deus. Por ser um Vaishnava, então, a pessoa tem ampla oportunidade de servir a Suprema Personalidade de Deus simplesmente por recuperar estes seres vivos condicionados, mal guiados, treiná-los em Consciência de Krishna e conduzi-los de volta ao lar, de volta ao Supremo. O fato é que as mentes dos seres vivos agora estão agitadas pelas três qualidades materiais, e os seres vivos por isso transmigram, como em sonhos, de um corpo a outro. Quando sua consciência é mudada para Consciência de Krishna, entretanto, eles imediatamente fixam Krishna dentro de seus corações, e então seu caminho para liberação se torna claro.

Nos Vedas, a Suprema Personalidade de Deus e os seres vivos são declarados como da mesma qualidade - caitanya, ou espiritual. Isso também é confirmado no Padma Purana, onde é dito que existem dois tipos de entidades espirituais; uma é chamada jiva, e a outra é chamada Supremo Senhor. A começar do Senhor Brahma abaixo até a formiga, todos os seres vivos são jivas, enquanto o Senhor é o Supremo Vishnu de quatro mãos ou Janardhana. A palavra atma pode ser aplicada somente para a Suprema Personalidade de Deus, mas porque os seres vivos são Suas partes e parcelas, às vezes a palavra atma também é aplicada a eles. Os seres vivos são por isso chamados jivatma, e o Supremo Senhor é chamado Paramatma. Ambos Paramatma e jivatma estão dentro deste mundo material, e por isso este mundo material tem um propósito outro além de prazer sensual. O conceito de uma vida de prazer sensual é ilusão mas o conceito de serviço pelo jivatma para o Paramatma, mesmo neste mundo material, não é em nada ilusório. Uma pessoa consciente de Krishna é totalmente ciente desse fato, e por isso ela não aceita este mundo material como falso, mas age na realidade do serviço transcendental. O devoto portanto vê tudo neste mundo material como uma oportunidade de servir o Senhor. Ele não rejeita nada como material, mas encaixa tudo no serviço do Senhor. Assim um devoto está sempre na posição transcendental, e tudo que ele usa se torna espiritualmente purificado por ser usado no serviço do Senhor.

Shridhara Swami compôs um belo verso a esse respeito: "Eu adoro a Suprema Personalidade de Deus que é sempre manifesta como realidade mesmo dentro deste mundo material, que é considerado por alguns como falso". O conceito de falsidade deste mundo material é devido à falta de conhecimento, mas uma pessoa avançada em Consciência de Krishna vê a Suprema Personalidade de Deus em tudo. Isso é realização verdadeira do aforismo Védico, sarvam khalv idam brahma: "Tudo é Brahman".

Os Vedas personificados continuaram: "Querido Senhor, homens menos inteligentes adotam outros caminhos de auto-realização, mas na realidade não há chance de se tornar purificado da contaminação material ou parar o repetido ciclo de nascimento e morte a menos que a pessoa seja um devoto puro perfeitamente. Nosso querido Senhor, tudo repousa em Suas diferentes potências, e todos são suportados por Você, como está afirmado nos Vedas (eko bahunam yo vidadhati kaman). Portanto Sua Divindade é o sustentador e mantenedor de todos os seres vivos - semideuses, seres humanos e animais. Todos são sustentados por Você, e Você também está situado no coração de todos. Em outras palavras, Você é a raiz de toda a criação. Por isso que aqueles devotados no Seu serviço devocional sem desvio sempre adoram Você. Tais devotos na realidade regam com água a raiz da árvore universal. Pelo serviço devocional, portanto, a pessoa não satisfaz somente a Personalidade de Deus mas também todos os outros, porque todos são mantidos e sustentados por Ele. Porque ele entende a característica todo-penetrante da Suprema Personalidade de Deus, o devoto é o filantropo e altruísta mais prático. Tais devotos puros, inteiramente dedicados na Consciência de Krishna, muito facilmente superam o ciclo de nascimento e morte, e eles bem como pulam sobre a cabeça da morte".

Um devoto nunca tem medo da morte ou de mudar seu corpo, sua consciência é transformada em Consciência de Krishna, e mesmo se ele não for de volta ao Supremo, mesmo se ele transmigrar para outro corpo material, não tem nada a temer. Um exemplo vívido é Bharata Maharaja. Apesar de em sua próxima vida ele se tornar um veado, na vida depois dessa, ele se tornou completamente livre de toda contaminação material e foi elevado ao reino de Deus. O Bhagavad-gita afirma, portanto, que um devoto nunca é aniquilado. O caminho de um devoto para o reino espiritual, de volta ao lar, de volta ao Supremo, está garantido. Mesmo se um devoto deslizar em um nascimento, a continuação de sua Consciência de Krishna o eleva mais e mais ainda até ele ir de volta ao Supremo. Não somente um devoto puro purifica sua própria existência pessoal, mas quem quer que se torne seu discípulo também ultimamente se torna purificado e capaz de entrar no reino de Deus sem dificuldade. Não somente um devoto puro pode facilmente superar morte, mas por sua graça, seus seguidores também podem fazer isso sem dificuldade. O poder do devoto puro é tão grande que um devoto puro pode eletrificar outra pessoa por sua instrução transcendental sobre como cruzar o oceano de ignorância.

As instruções de um devoto puro para seu discípulo também são muito simples. Ninguém sente nenhuma dificuldade em seguir os passos de um devoto puro. Qualquer um que segue na sucessão discipular de devotos reconhecidos do Senhor, como Senhor Brahma, Senhor Shiva, os Kumaras, Manu, Kapila, Rei Prahlada, Rei Janaka, Shukadeva Goswami, Yamaraja, etc., muito facilmente encontra a porta da liberação aberta. Por outro lado, aqueles que não são devotos mas estão engajados em processos incertos de auto-realização, como jñana, yoga e karma, são entendidos como contaminados ainda. Tais pessoas contaminadas, apesar de aparentemente avançadas em auto-realização, não podem nem mesmo liberar a si mesmas, o que dizer de outras que as seguem. Tais não devotos são comparados a animais acorrentados, porque não são capazes de ir além da jurisdição das formalidades de certo tipo de fé. No Bhagavad-gita, eles são condenados como veda-vadah. Eles não podem entender que os Vedas tratam das atividades dos modos da natureza material - bondade, paixão e ignorância.

O Senhor Krishna aconselhou Arjuna que a pessoa tem de ir além da jurisdição dos deveres prescritos nos Vedas e adotar Consciência de Krishna, serviço devocional. É dito no Bhagavad-gita, nistraigunyo bhavarjuna, "Meu querido Arjuna, justamente tente se tornar transcendental aos rituais Védicos". A posição transcendental além das execuções ritualísticas Védicas é serviço devocional. No Bhagavad-gita, o Senhor diz claramente que pessoas que estão dedicadas no Seu serviço devocional sem adulteração estão situadas em Brahman. Verdadeira realização de Brahman significa Consciência de Krishna e dedicação no serviço devocional. Os devotos são portanto brahmacharis reais porque suas atividades estão sempre em Consciência de Krishna, serviço devocional.

O movimento da consciência de Krishna é portanto um chamado supremo para todos tipos de religiosos com um pedido a eles com grande autoridade para ingressarem neste movimento pelo qual a pessoa pode aprender como amar Deus e assim superar todas as fórmulas e formalidades da lei da escritura. Uma pessoa que não pode ultrapassar a jurisdição de princípios religiosos estereotipados é comparada a um animal acorrentado por seu dono. O propósito de toda religião é entender Deus e desenvolver seu amor do Supremo adormecido. Se a pessoa simplesmente adere a fórmulas e formalidades religiosas e não se torna elevada à posição de amor de Deus, é considerada como um animal acorrentado. Em outras palavras, se a pessoa não está em Consciência de Krishna, ela não é elegível para liberação da contaminação da existência material.

Srila Shridhara Swami compôs um belo verso que diz, "Deixe outros se engajarem em severas austeridades, deixe outros caírem no chão do topo de colinas e abandonarem suas vidas, deixe outros viajarem para muitos lugares de peregrinação por salvação, ou os deixe se engajarem no estudo profundo de filosofia e literaturas Védicas; deixe os yogis místicos se engajarem em serviço de meditação, e deixe as diferentes seitas se engajarem em argumentação desnecessária sobre qual é a melhor. Mas é um fato a menos que a pessoa seja consciente de Krishna, a menos que a pessoa esteja dedicada no serviço devocional, e a menos que a pessoa tenha a misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, ela não pode atravessar este oceano material". Uma pessoa inteligente, portanto, abandona todos os tipos de idéias estereotipadas e adere ao movimento da consciência de Krishna para liberação verdadeira.

Os Vedas personificados continuaram suas orações. "Nosso querido Senhor, Seu aspecto impessoal é explicado nos Vedas: Você não tem mãos, mas Você pode aceitar todos os sacrifícios que são oferecidos a Você; Você não tem pernas, mas Você pode andar mais rápido do que qualquer um. Apesar de não ter olhos, Você pode ver qualquer coisa que acontece no passado, presente e futuro. Apesar de não ter ouvidos, Você pode ouvir tudo o que é dito. Apesar de Você não ter mente, Você conhece todos e as atividades de todos, passado, presente e futuro, e mesmo assim ninguém sabe quem Você é. Você conhece cada um, mas ninguém conhece Você; Você é a personalidade mais antiga e suprema".

Similarmente, em outra parte dos Vedas é dito, "Você não tem nada a fazer. Você é tão perfeito em Seu conhecimento e potência que tudo se torna manifesto simplesmente por Sua vontade. Não existe ninguém igual ou maior do que Você, e todos agem como Seu servo eterno". Assim as declarações Védicas descrevem que o Absoluto não tem pernas, nem mãos, nem olhos e nem mente, e ainda assim Ele pode agir através de Suas potências e satisfazer as necessidades de todos os seres vivos. Como afirmado no Bhagavad-gita, Suas mãos e pernas estão em toda parte; Ele é todo-penetrante. As mãos, pernas, ouvidos e olhos de todos os seres vivos agem e se movem pela direção da Superalma sentada dentro do coração do ser vivo. A menos que a Superalma esteja presente, não é possível para as mãos e pernas serem ativas. A Suprema Personalidade de Deus é tão grande, independente e perfeita, todavia, que mesmo sem ter olhos, pernas e ouvidos, Ele não é dependente de outros para Suas atividades. Ao contrário, outros são dependentes Dele para as atividades de seus diferentes órgãos sensuais. A menos que o ser vivo seja inspirado e dirigido pela Superalma, não pode agir.

O fato é que ultimamente a Verdade Absoluta é a Pessoa Suprema. Mas porque Ele age através de diferentes potências que são impossíveis para os materialistas grosseiros verem, os materialistas O aceitam como impessoal. Por exemplo, alguém pode observar o trabalho artístico pessoal num quadro de uma flor, e ele pode entender que o ajuste da cor, a forma, etc., demandaram a atenção minuciosa do artista. O trabalho do artista é claramente exibido num quadro com diferentes flores desabrochadas. Mas o materialista grosseiro, sem ver a mão de Deus em tantas manifestações artísticas como as flores desabrochadas reais na natureza, conclui que a Verdade Absoluta é impessoal. Na realidade, o Absoluto é pessoal, mas Ele é independente. Ele não requer ter que pessoalmente pegar um pincel e tintas coloridas diferentes para pintar flores, mas Suas potências agem tão maravilhosamente que até parece que flores vieram a existir sem a ajuda de um artista. A visão impessoal da Verdade Absoluta é aceita por homens menos inteligentes porque a menos que alguém esteja dedicado no serviço devocional do Senhor, ele não pode entender como o Senhor age - ele não pode nem saber o Seu nome. Tudo sobre as atividades e características pessoais Dele é revelado para o devoto somente através de sua atitude amorosa de serviço.

No Bhagavad-gita está claramente dito, bhoktaram yajña-tapasam: o Senhor é o desfrutador de todos os tipos de sacrifícios e dos resultados de todas austeridades. Então novamente o Senhor diz, sarva-loka-mahesvaram: "Eu sou o proprietário de todos planetas". Assim é a posição da Suprema Personalidade de Deus. Apesar de Ele estar presente em Vrindavana e desfruta prazer transcendental na companhia de Seus associados eternos, as gopis e os meninos pastores de vacas, Suas potências agem sob Sua direção por toda a criação. Elas não perturbam Seus passatempos eternos.

Através do serviço devocional somente alguém pode entender como a Suprema Personalidade de Deus, por Suas potências inconcebíveis, simultaneamente age impessoalmente e como uma pessoa. Ele age justamente igual o imperador supremo, e muitos milhares de reis e governantes que trabalham sob Ele. A Suprema Personalidade de Deus é a suprema independente pessoa controladora, e todos os semideuses - inclusive Senhor Brahma, Senhor Shiva, Indra o Rei do céu, o rei do planeta Lua, e o rei do planeta Sol - trabalham sob a direção Dele. Está confirmado nos Vedas que o Sol brilha, o ar sopra, e o fogo distribui calor por medo da Suprema Personalidade de Deus. A natureza material produz todos os tipos de objetos móveis e imóveis dentro do mundo material, mas nenhum deles pode agir ou criar independentemente sem a direção do Supremo Senhor. Todos eles agem como tributários, justamente igual reis subordinados que oferecem seus impostos anuais ao imperador.

A lei Védica declara que todo ser vivo vive por comer os restos dos alimentos oferecidos à Personalidade de Deus. Em grandes sacrifícios a lei é que Narayana deve estar presente como a suprema Deidade predominante do sacrifício, e depois que o sacrifício é executado, os restos dos alimentos são distribuídos entre os semideuses. Isso se chama yajña-bhaga. Todo semideus tem uma cota do yajña-bhaga que ele aceita como prasadam. A conclusão é que os semideuses não são poderosos independentemente; eles são postos como diferentes executivos sob a ordem da Suprema Personalidade de Deus, e eles comem prasadam ou os restos dos sacrifícios. Eles executam a ordem da Suprema Personalidade de Deus exatamente de acordo com Seu plano. A Suprema Personalidade de Deus está no segundo plano, e Suas ordens são cumpridas por outros. Só parece que Ele é impessoal. No nosso modo materialista grosseiro, nós não podemos conceber como a Pessoa Suprema está acima das atividades impessoais da natureza material. Portanto, o Senhor explica no Bhagavad-gita que não há nada superior a Ele mesmo e que o Brahman impessoal é de modo subordinado situado como uma manifestação de Seus raios pessoais, Sripada Srila Shridhara Swami assim compôs um belo verso a esse respeito: "Deixe-me oferecer minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, que não tem sentidos materiais mas por cuja direção e vontade todos os sentidos materiais funcionam. Ele é a suprema potência de todos sentidos materiais ou órgãos sensuais. Ele é onipotente, Ele é o supremo realizador de tudo. Portanto, Ele é adorável por todos. A essa Pessoa Suprema eu ofereço minhas respeitosas reverências".

Krishna em Pessoa declara no Bhagavad-gita que Ele é Purushottama, que significa a Suprema Personalidade. Purusha significa pessoa, e uttama significa supremo ou transcendental. Também no Bhagavad-gita, o Senhor declara porque Ele é transcendental a todos os seres sensíveis e inanimados, Ele é portanto conhecido como purushottama. Em outro local, o Senhor diz da mesma forma que o ar está situado no céu todo-penetrante, assim todos estão situados Nele, e todos agem sob Sua direção.

Os Vedas personificados continuaram. "Nosso querido Senhor,", eles oraram, "Você é igual para todos, sem nenhuma parcialidade em direção a um tipo particular de ser vivo. Como Suas partes e parcelas, todos os seres vivos desfrutam ou sofrem em diferentes condições de vida. Eles são justamente iguais as fagulhas de um fogo. Justamente igual fagulhas dançam sobre o fogo ardente, todos os seres vivos dançam sobre Seu suporte. Você providencia a eles tudo o que eles desejam, e ainda assim Você não é responsável pela posição deles de desfrute ou sofrimento. Existem diferentes tipos de seres vivos - semideuses, seres humanos, animais, árvores, pássaros, feras, germes, vermes, insetos e aquáticos - e todos desfrutam ou sofrem na vida por repousarem em Você. Os seres vivos são de dois tipos: uma classe é chamada sempre-liberado, nitya-mukta, e a outra classe é chamada nitya-baddha. Os seres vivos nitya-mukta estão no reino espiritual, os nitya-baddha estão no mundo material".

"No mundo espiritual ambos o Senhor e os seres vivos estão manifestos em seu status original, como fagulhas vivas num fogo ardente. No mundo material, apesar do Senhor ser todo-penetrante em Seu aspecto impessoal, os seres vivos esqueceram sua Consciência de Krishna, justamente igual fagulhas às vezes caem dum fogo ardente e perdem sua condição brilhante original. Algumas fagulhas caem sobre capim seco e assim acendem outro grande fogo. Isso é uma referência aos devotos puros que sentem compaixão pelos pobres e inocentes seres vivos. O devoto puro ilumina a Consciência de Krishna nos corações das almas condicionadas, e assim o fogo ardente do mundo espiritual se torna manifesto mesmo dentro deste mundo material. Algumas fagulhas caem na água; elas imediatamente perdem seu brilho original e ficam quase extintas. Isso é comparado aos seres vivos que tomam seu nascimento no meio de materialistas grosseiros, que nesse caso sua Consciência de Krishna original se torna quase extinta. Algumas fagulhas caem no chão e permanecem num ponto intermediário entre as condições ardente e extinta. Assim alguns seres vivos são sem Consciência de Krishna, alguns estão no meio entre ter e não ter Consciência de Krishna, e alguns estão realmente situados em Consciência de Krishna. Os semideuses nos planetas superiores, a começar pelo Senhor Brahma, Indra, Chandra, o deus do Sol, o deus da Lua, e vários outros semideuses, todos são conscientes de Krishna. Sociedade humana está entre os semideuses e os animais, e assim alguns são mais ou menos conscientes de Krishna, e alguns são completamente esquecidos da Consciência de Krishna. O terceiro grau de seres vivos, chamado os animais, feras plantas, árvores e aquáticos, esqueceram completamente a Consciência de Krishna. Esse exemplo declarado nos Vedas das fagulhas de um fogo ardente é muito apropriado para entender a condição de diferentes tipos de seres vivos. Mas acima de todos os seres vivos está a Suprema Personalidade de Deus, Krishna ou Purushottama, que é sempre liberado das condições materiais".

"A questão pode ser levantada por que os seres vivos caíram por acaso em diferentes condições de vida. Para responder essa pergunta, nós primeiro temos de entender que não pode haver nenhuma influência de acaso para os seres vivos; acaso é para seres não viventes. De acordo com as literaturas Védicas, seres vivos têm conhecimento, e por isso são chamados chaitanya, que significa conhecimento. Sua situação em diferentes condições de vida, portanto, não é acidental. É pela escolha deles porque eles têm conhecimento. No Bhagavad-gita o Senhor diz, 'Abandone tudo e simplesmente se renda a Mim'. Esse processo de realizar a Suprema Personalidade de Deus é aberto para todos, mesmo assim é a escolha de um ser vivo particular se aceita ou rejeita essa proposta. Na última parte do Bhagavad-gita, o Senhor Krishna muito simplesmente fala para Arjuna, 'Meu querido Arjuna, agora Eu falei tudo para você. Agora tudo depende sobre você escolher por aceitar isso'. Similarmente, os seres vivos que desceram a este mundo material fizeram sua própria escolha para desfrutar este mundo material. Não é que Krishna os mandou para dentro deste mundo material. O mundo material é criado para o desfrute dos seres vivos que querem abandonar o serviço eterno do Senhor para se tornarem o supremo desfrutador eles próprios. De acordo com a filosofia Vaishnava, quando um ser vivo deseja satisfazer seus sentidos e esquece o serviço do Senhor, a ele é dado um lugar no mundo material para agir livremente de acordo com seu desejo, e assim ele cria uma condição de vida na qual ele ou desfruta ou sofre. Nós devemos saber definitivamente que ambos o Senhor e os seres vivos são eternamente conscientes. Não existe nascimento ou morte tanto para o Senhor quanto para os seres vivos. Quando a criação acontece, não significa que os seres vivos são criados. O Senhor cria este mundo para dar às almas condicionadas uma chance de se elevarem à plataforma superior da Consciência de Krishna. Se a alma condicionada não aproveita a vantagem dessa oportunidade, então depois da dissolução deste mundo material, ela entra no corpo de Narayana e permanece em sono profundo até a hora de outra criação".

"Nessa conexão, o exemplo da estação de chuva é muito apropriado. Chuva sazonal pode ser considerada como o agente para criação porque depois do aguaceiro os campos úmidos são favoráveis para o crescimento de diferentes tipos de vegetação. Similarmente, assim que há criação pelo olhar do Senhor sobre a natureza material, imediatamente os seres vivos brotam em suas diferentes condições de vida, justamente igual tipos diferentes de vegetação crescem depois do aguaceiro. A chuva é uma, mas a criação de diferentes vegetais é variada. A chuva cai igualmente no campo inteiro, mas os diferentes vegetais brotam em diferentes modelos e diferentes formas de acordo com as sementes plantadas. Similarmente, as sementes de nossos desejos são variadas. Cada ser vivo tem um tipo de desejo diferente, e esse desejo é a semente que causa seu crescimento em um certo tipo de corpo. Isso é explicado por Rupa Goswami pela palavra papa-bija. Papa significa pecaminoso. Todos os nossos desejos materiais devem ser considerados papa-bija, ou as sementes dos desejos pecaminosos. O Bhagavad-gita explica que nosso desejo pecaminoso é que não nos rendemos ao Supremo Senhor. O Senhor portanto diz no Bhagavad-gita, 'Eu darei a você proteção das ações resultantes dos desejos pecaminosos'. Esses desejos pecaminosos são manifestos em diferentes tipos de corpos, portanto, ninguém pode acusar o Supremo Senhor de parcialidade em Sua concessão de um tipo de corpo para um certo ser vivo e outro tipo de corpo para outro ser vivo. Todos os corpos das 8.400.000 espécies vêm de acordo com a condição mental dos seres vivos individuais. A Suprema Personalidade de Deus, Purushottama, somente dá a eles uma chance de atuar de acordo com seus desejos. Portanto, os seres vivos agem, por aproveitarem a vantagem da facilidade dada pelo Senhor".

"Ao mesmo tempo, eles nascem do corpo transcendental do Senhor. Essa relação entre o Senhor e os seres vivos é explicada das literaturas Védicas, onde é dito que o Supremo Senhor mantém todos Seus filhos, e dá a eles qualquer coisa que desejem. Similarmente, no Bhagavad-gita o Senhor diz, 'Eu sou o pai que dá a semente de todos os seres vivos'. É muito simples entender que o pai dá nascimento aos filhos, mas os filhos agem de acordo com seus próprios desejos. Portanto o pai nunca é responsável pelos diferentes futuros de seus filhos. Cada filho pode aproveitar a vantagem da propriedade e instrução do pai, mas mesmo embora a herança e instrução possa ser a mesma para todos os filhos, devido a seus diferentes desejos, cada filho cria uma vida diferente e assim sofre ou desfruta".

"Similarmente, as instruções do Bhagavad-gita são iguais para todos; todos devem se render ao Supremo Senhor, e Ele cuidará deles e os protegerá das reações pecaminosas. As facilidades de vivência na criação do Senhor são igualmente oferecidas a todos seres vivos. O que quer que exista, seja na terra, na água ou no céu, é igualmente dado a todos os seres vivos. Porque todos são filhos do Supremo Senhor, todos podem desfrutar as facilidades materiais dadas pelo Senhor, mas infelizmente seres vivos criam condições de vida desfavoráveis por lutarem entre si. A responsabilidade por essa briga e criação de situações de vida favoráveis ou desfavoráveis é toda dos seres vivos, não da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, se os seres vivos aproveitam a vantagem das instruções do Senhor dadas no Bhagavad-gita e desenvolvem Consciência de Krishna, então suas vidas se tornam sublimes, e eles podem ir de volta ao Supremo".

"Alguém pode argumentar que porque o mundo material é criado pelo Senhor, Ele é por isso responsável por essa condição. Certamente Ele é indiretamente responsável pela criação e manutenção deste mundo material, mas Ele nunca é responsável pelas diferentes condições dos seres vivos A criação do Senhor deste mundo material é comparada à criação de vegetação da nuvem. Na estação de chuva, a chuva cria diferentes variedades de vegetais. A nuvem derrama água na superfície da terra, mas ela nunca toca a terra diretamente. Similarmente, o Senhor cria este mundo material simplesmente por olhar sobre a natureza material. Isso é confirmado nos Vedas: Ele lançou Seu olhar sobre a natureza material, e assim aconteceu a criação. No Bhagavad-gita também é confirmado que simplesmente por Seu olhar transcendental sobre a natureza material, Ele cria diferentes variedades de entidades, tanto móveis quanto imóveis, vivas e mortas".

"A criação do mundo material portanto pode ser considerada como um dos passatempos do Senhor; é chamada de um dos passatempos do Senhor porque Ele cria este mundo material sempre que Ele deseja. Esse desejo da Suprema Personalidade de Deus também é extrema misericórdia de Sua parte porque isso dá outra chance às almas condicionadas para desenvolverem sua consciência original e assim irem de volta ao Supremo. Por isso ninguém pode culpar o Supremo Senhor por criar este mundo material".

"Do assunto sob discussão, nós podemos adquirir uma compreensão clara da diferença entre os impersonalistas e os personalistas. O conceito impessoal recomenda imergir na existência do Supremo, e a filosofia niilista recomenda tornar todas variedades materiais nulas. Essas duas filosofias são conhecidas como Mayavada. Certamente a manifestação cósmica chega a um fim e se torna nula quando os seres vivos imergem dentro do corpo de Narayana para repouso até uma outra criação, e isso pode ser chamado de condição impessoal, mas essas condições nunca são eternas. A cessação da variedade do mundo material e a imersão dos seres vivos no corpo do Supremo não são permanentes porque a criação acontecerá novamente, e os seres vivos que imergem no corpo do Supremo sem terem desenvolvido sua Consciência de Krishna aparecerão novamente dentro deste mundo material quando houver outra criação. O Bhagavad-gita confirma o fato que este mundo material é criado e aniquilado. Isso acontece perpetuamente, e as almas condicionadas que são sem Consciência de Krishna voltam novamente e novamente sempre que a criação material é manifesta. Se essas almas condicionadas aproveitarem a vantagem dessa oportunidade e desenvolverem Consciência de Krishna sob a instrução direta do Senhor, então elas são transferidas para o mundo espiritual e não têm que voltar novamente à criação material. É dito, portanto, que os niilistas e impersonalistas não são inteligentes porque não se abrigam nos pés de lótus do Senhor. Porque eles são menos inteligentes, esses niilistas e impersonalistas adotam diferentes tipos de austeridades, tanto para alcançarem o estado de nirvana, que significa terminação das condições materiais de vida, ou para alcançar a unidade por imergir no corpo do Senhor. Todos eles caem novamente porque negligenciam os pés de lótus do Senhor".

No Chaitanya Charitamrita, o autor, Krishnadasa Kaviraja Goswami, depois de estudar toda a literatura Védica e ouvir das autoridades, deu sua opinião que Krishna é o único mestre supremo e que todos os seres vivos são Seus servos eternos. A declaração dele é confirmada nas preces dos Vedas personificados. A conclusão é, portanto, que todos estão sob o controle da Suprema Personalidade de Deus, todos servem sob a direção suprema do Senhor, e todos temem a Suprema Personalidade de Deus. É por causa do medo por Ele que atividades são executadas corretamente. A posição de todos é ser subordinado ao Supremo Senhor, mesmo assim o Senhor não tem parcialidade em Sua visão dos seres vivos. Ele é justamente igual o céu ilimitado, do mesmo modo que fagulhas de um fogo dançam no fogo, similarmente, todos os seres vivos são como pássaros que voam no céu ilimitado. Alguns deles voam muito alto, e alguns deles voam em altitude mais baixa, e alguns voam em altitude ainda mais baixa. Os diferentes pássaros voam em diferentes posições de acordo com suas respectivas habilidades de voar, mas o céu não tem nada a ver com essa habilidade. No Bhagavad-gita também, o Senhor confirma que Ele concede diferentes posições para diferentes seres vivos de acordo com a rendição proporcional deles. Essa recompensa proporcional pela Personalidade de Deus para os seres vivos não é parcialidade. Portanto, apesar dos seres vivos estarem situados em diferentes posições, em diferentes esferas, e em diferentes espécies de vida, todos eles estão sempre sob o controle da Suprema Personalidade de Deus, e mesmo assim Ele nunca é responsável por suas diferentes condições de vida. É insensato e artificial, portanto, pensar em si próprio igual ao Supremo Senhor, e é mais tolice ainda pensar que alguém não viu Deus. Todos vêem Deus em Seus diferentes aspectos; a única diferença é que o teísta vê Deus como a Suprema Personalidade, o mais bem-amado, Krishna, e o ateu vê a Verdade Absoluta como a morte última.

Os Vedas personificados continuaram a orar. "Nosso querido Senhor, de toda a informação Védica está entendido que Você é o supremo controlador, e todos os seres vivos são controlados. Tanto o Senhor quanto os seres vivos são chamados nitya, eterno, e por isso são qualitativamente um, mesmo assim o nitya singular, ou o Supremo Senhor, é o controlador, enquanto os nityas plural são controlados. O ser vivo controlado individual reside dentro do corpo, e o supremo controlador, como a Superalma, também está presente lá, mas a Superalma controla a alma individual. Esse é o veredito dos Vedas. Se a alma individual não fosse controlada pela Superalma, então como alguém pode explicar a versão Védica que um ser vivo transmigra de um corpo para outro, a desfrutar e sofrer seus feitos passados? Às vezes ele é promovido a um padrão de vida mais elevado, e às vezes ele é degradado a um padrão de vida mais baixo? Então as almas condicionadas não estão somente sob o controle do Supremo Senhor, mas elas também estão condicionadas pelo controle da natureza material. Essa relação dos seres vivos para o Supremo Senhor como o controlado e o controlador definitivamente prova que apesar da Superalma ser todo-penetrante, os seres vivos individuais nunca são todo-penetrante. Se as almas individuais fossem todo-penetrante, não haveria questão de ser controlado. A teoria de que a Superalma e a alma individual são iguais é portanto uma conclusão poluída, e nenhuma pessoa sensata aceita isso; ao contrário, a pessoa deve tentar entender as distinções entre o supremo eterno e os subordinados eternos".

Os Vedas personificados então concluíram, "Ó Senhor, ambos Você e os dhruvas, os seres vivos, são eternos. A forma do ilimitado eterno é às vezes calculada como a forma universal, a nas literaturas Védicas como os Upanishads, a forma do limitado eterno é vividamente descrita. Lá é dito que a forma espiritual original do ser vivo é um décimo milésimo do tamanho da ponta de um cabelo. É dito que o espírito é maior do que o maior e menor do que o menor. Os seres vivos individuais, que são eternamente parte e parcela de Deus, são menores do que o menor. Com nossos sentidos materiais, nós não podemos perceber nem o Supremo, que é maior que o maior, nem a alma individual, que é menor do que o menor. Nós temos que compreender tanto o maior quanto o menor das fontes da autoridade da literatura Védica. Literaturas Védicas declaram que a Superalma está sentada dentro do corpo de um ser vivo e é tão grande quanto um polegar. Por isso, o argumento pode ser apresentado, como algo do tamanho de um polegar pode ser acomodado dentro do coração de uma formiga? A resposta é que essa medida de polegar da Superalma é imaginada na proporção do corpo do ser vivo. Em todas as circunstâncias, portanto, a Superalma e o ser vivo individual não podem ser considerados como um, apesar dos dois juntos entrarem dentro do corpo material de um ser vivo. A Superalma vive dentro do coração para dirigir e controlar o ser vivo individual. Apesar de ambos serem dhruva, ou eterno, o ser vivo está sempre sob a direção do Supremo".

"Pode-se argumentar porque os seres vivos nascem da natureza material, eles são iguais e independentes. Na literatura Védica, entretanto, é dito que a Suprema Personalidade de Deus impregna a natureza material com os seres vivos, e assim eles surgem. Portanto, o aparecimento dos seres vivos individuais não é realmente devido à natureza material somente, justamente igual uma criança produzida por uma mulher não é sua produção independente. A mulher primeiro é fecundada por um homem, então a criança é produzida. Assim, a criança produzida pela mulher é parte e parcela do homem. Similarmente, os seres vivos são aparentemente produzidos pela natureza material, mas não independentemente. É devido à fecundação da natureza material pelo pai supremo que os seres vivos estão presentes. Portanto, o argumento que os seres vivos não são parte e parcela do Supremo não pode ser suportado. Por exemplo, as diferentes partes e parcelas do corpo não podem ser consideradas iguais ao todo; ao contrário, o corpo inteiro é o controlador dos diferentes membros. Similarmente, as partes e parcelas do supremo todo são sempre dependentes e são sempre controladas pela fonte das partes e parcelas. É confirmado no Bhagavad-gita que os seres vivos são parte e parcela de Krishna: mamaivamso. Nenhum homem sensato, portanto, aceitará a teoria que a Superalma e a alma individual são da mesma categoria. Elas são iguais em qualidade, mas quantitativamente a Superalma é sempre o Supremo, e a alma individual é sempre subordinada à Superalma. Essa é a conclusão dos Vedas".

Duas palavras significativas usadas nessa conexão são yanmaya e cinmaya. Na gramática sânscrita, a palavra mayat é usada no sentido de transformação, e também no sentido de suficiência. Os filósofos Mayavadis interpretam que yanmaya ou cinmaya indica que o ser vivo é sempre igual ao Supremo. Mas é preciso considerar que esse sufixo, mayat, é usado para suficiência ou para transformação. O ser vivo nunca possui qualquer coisa exatamente na mesma proporção que a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, esse sufixo mayat não pode ser usado para significar que o ser vivo individual é auto-suficiente. O ser vivo individual nunca tem conhecimento suficiente; senão, como ele pôde vir sob o controle de maya, ou a energia material? A palavra suficiente pode ser aceita, portanto, somente em proporção à magnitude do ser vivo. A unidade espiritual do Supremo Senhor e os seres vivos nunca é para ser aceita como homogeneidade. Cada e todo ser vivo é individual. Se unidade homogênea é aceita, então pela liberação de uma alma individual, todos as outras almas individuais seriam liberadas imediatamente. Mas o fato é que cada alma individual desfruta e sofre diferentemente no mundo material.

A palavra mayat é também usada no sentido de transformação, ou às vezes também é usada para significar subproduto. A teoria impersonalista é que o Próprio Brahman aceitou diferentes tipos de corpos e que isso é Seu lila ou passatempo. Existem, todavia, muitas centenas e milhares de espécies de vida em diferentes padrões de condições de vida, tais quais seres vivos, semideuses, animais, pássaros e feras, e se todas elas fossem expansões da Suprema Verdade Absoluta, então não haveria questão de liberação porque Brahman já está liberado. Outra interpretação apresentada pelos Mayavadis é que em cada milênio diferentes corpos ou expansões são manifestos, e quando o milênio termina, todos os diferentes corpos ou expansões do Brahman automaticamente se tornam um, ao cessar todas as diferentes manifestações. Então no próximo milênio, de acordo com essa teoria, Brahman novamente expande em diferentes formas corpóreas. Se nós aceitarmos essa teoria, então Brahman se torna sujeito a mudança. Mas isso não pode ser aceito. Do Vedanta-sutra nós entendemos que Brahman é por natureza jovial. Ele não pode, portanto, transformar-Se num corpo que é sujeito a condições dolorosas. Na realidade, os seres vivos que são parte e parcela do Brahman são partículas infinitesimais propensas a serem cobertas pela energia ilusória. Como explicado antes, as partículas do Brahman são iguais a fagulhas que dançam em bem-aventurança dentro de um fogo, mas existe uma chance de elas caírem do fogo para fumaça, apesar da fumaça ser outra condição do fogo. Este mundo material é justamente igual à fumaça, e o mundo espiritual é justamente igual ao fogo ardente. Os inumeráveis seres vivos são propensos a cair no mundo material do mundo espiritual quando influenciados pela energia ilusória, e também é possível para o ser vivo se tornar liberado quando novamente pelo cultivo do conhecimento real, ele se torna completamente livre da contaminação do mundo material.

A teoria dos asuras é que os seres vivos nascem da natureza material, ou prakriti, em toque com o purusha. Essa teoria também não pode ser aceita porque tanto a natureza material e a Suprema Personalidade de Deus existem eternamente. Nem a natureza material nem a Suprema Personalidade de Deus podem nascer. O Supremo Senhor é conhecido como aja, ou não nascido. Similarmente a natureza material também é chamada ajá. Ambos os termos, aja e ajá, significam eterno.

Porque tanto a natureza material e o Supremo Senhor são não nascidos, não é possível que eles podem procriar os seres vivos. Igual a água em contato com o ar algumas vezes apresenta inumeráveis bolhas, assim a combinação da natureza material e a Pessoa Suprema causa o aparecimento dos seres vivos dentro deste mundo material. Igual as bolhas na água aparecem em diferentes modelos, similarmente os seres vivos também aparecem no mundo material em diferentes modelos e condições, influenciados pelos modos da natureza material. Assim, não é impróprio concluir que os seres vivos os quais aparecem dentro deste mundo material em diferentes modelos, tais quais seres humanos, semideuses, animais, pássaros, feras, etc., todos obtêm seus respectivos corpos devido a diferentes desejos. Ninguém pode dizer quando esses desejos despertaram neles, por isso é dito, anadi-karma: a causa dessa existência material é não rastreável. Ninguém sabe quando a vida material começou, mas é um fato que ela tem um ponto de início porque originalmente cada ser vivo é uma fagulha espiritual. Igual fagulhas que caem no chão de um fogo têm um começo, mas ninguém pode dizer quando. Mesmo durante o tempo da dissolução, esses seres vivos permanecem imersos na existência espiritual do Senhor, como em sono profundo, mas seus desejos originais para dominar a natureza material não diminuem. Novamente, quando há manifestação cósmica, eles saem para satisfazer os mesmos desejos, e por isso aparecem em diferentes espécies de vida.

Essa imersão no Supremo na hora da dissolução é comparada a mel. No favo de mel, os sabores de diferentes flores e frutas são conservados. Quando alguém bebe mel, não pode distinguir que tipo de mel foi coletado de que tipo de flor, mas o gosto saboroso do mel pressupõe que o mel não é homogêneo, mas é uma combinação de diferentes sabores. Outro exemplo é que apesar de diferentes rios ultimamente se misturarem na água do mar, isso não quer dizer que as identidades individuais dos rios ficaram assim perdidas. Apesar da água do Ganges e do Yamuna misturarem com a água do mar, o Rio Ganges e o Rio Yamuna ainda continuam a existir independentemente. A imersão de diferentes seres vivos no Brahman na hora da dissolução envolve a dissolução de diferentes tipos de corpos, mas os seres vivos, juntos com seus diferentes sabores, permanecem individualmente submersos no Brahman até outra manifestação do mundo material. Igual o sabor salgado da água do mar e o sabor doce da água do Ganges serem diferentes, e essa diferença existe continuamente, assim a diferença entre o Supremo Senhor e os seres vivos existe continuamente, mesmo embora pareça que na hora da dissolução eles imergem. A conclusão é, portanto, que mesmo quando os seres vivos se tornam livres de todas as condições de contaminação material, eles imergem no reino espiritual, porque ainda seus sabores individuais em relação com o Senhor continuam a existir.

Os Vedas personificados continuaram: "Nosso querido Senhor, é nossa conclusão que todos os seres vivos são atraídos por Sua energia material, e somente porque se identificam erradamente como produtos da natureza material é que eles transmigram de um tipo de corpo a outro em esquecimento de sua relação eterna com Você. Por causa da ignorância, esses seres vivos se identificam erroneamente em diferentes espécies de vida, e especialmente quando são elevados à forma de vida humana, eles se identificam com uma classe particular de homens, ou uma nação particular ou raça ou assim chamada religião, no esquecimento de sua verdadeira identidade como servos eternos de Sua Divindade. Devido a esse conceito de vida imperfeito, eles sofrem repetidos nascimentos e mortes. Entre muitos milhões deles, caso algum se torna inteligente o suficiente, pela associação com devotos puros, ele chega à compreensão da Consciência de Krishna e sai fora da jurisdição do conceito errado material".

No Chaitanya Charitamrita é confirmado pelo Senhor Chaitanya que os seres vivos vagueiam dentro deste universo em diferentes espécies de vida, mas se um deles se torna inteligente o bastante, pela misericórdia do mestre espiritual e da Suprema Personalidade de Deus, Krishna, então ele começa sua vida devocional em Consciência de Krishna. É dito, harim vina na mrtim taranti: sem a ajuda da Suprema Personalidade de Deus, a pessoa não pode sair das garras de repetidos nascimentos e mortes. Em outras palavras, somente o Supremo Senhor, a Personalidade de Deus, pode aliviar as almas condicionadas do ciclo de repetidos nascimento e morte.

Os Vedas personificados continuaram: "A influência do tempo - passado, presente e futuro - e as misérias materiais, tais quais calor excessivo, frio excessivo, nascimento, morte, velhice, doença, são todos simplesmente o movimento de Suas sobrancelhas. Tudo trabalha sob Sua direção. É dito no Bhagavad-gita que toda atividade material acontece sob a direção da Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Todas as condições da existência material são elementos opositores para pessoas que não são rendidas a Você. Mas para aqueles que são almas rendidas e estão em plena Consciência de Krishna, essas coisas não podem ser uma fonte de temor. Quando o Senhor Nrisimhadeva apareceu, Prahlada Maharaja nunca teve medo Dele, enquanto seu pai ateu imediatamente ficou face a face com a morte personificada e foi morto. Portanto, apesar do Senhor Nrisimhadeva aparecer como a morte para um ateu como Hiranyakashipu, Ele é sempre simpático e é o reservatório de todo prazer para devotos como Prahlada. Um devoto puro, portanto, não tem medo de nascimento, morte, velhice e doença".

Sripada Shridhara Swami compôs um belo verso, o significado dele é o seguinte: "Meu querido Senhor, eu sou um ser vivo perpetuamente perturbado pelas condições da existência material. Tenho sido quebrado em diferentes pedaços pela roda esmagadora da existência material, e por causa das minhas várias atividades pecaminosas durante a existência neste mundo material, eu queimo no fogo ardente da reação material. De alguma forma ou outra, meu querido Senhor, eu cheguei a me abrigar sob Seus pés de lótus. Por favor, aceite-me e dê-me proteção". Srila Narottama Dasa Thakura também ora assim: "Meu querido Senhor, ó filho de Nanda Maharaja, associado com a filha de Vrishabhanu, eu vim a me abrigar sob Seus pés de lótus depois de sofrer grandemente na condição material de vida, e eu oro que Você por favor seja misericordioso comigo. Por favor, não me chute para fora; eu não tenho nenhum outro abrigo além de Você".

A conclusão é que qualquer processo de auto-realização ou realização de Deus outro além de bhakti-yoga, ou serviço devocional, é extremamente difícil. Abrigar-se no serviço devocional para o Senhor em plena Consciência de Krishna é portanto o único caminho para se tornar livre da contaminação da vida condicionada material, especialmente nesta era. Aqueles que não estão em Consciência de Krishna simplesmente desperdiçam seu tempo, e não têm prova tangível da vida espiritual.

É dito pelo Senhor Ramachandra, "Eu sempre dou confiança e segurança a qualquer um que se rende a Mim e decide definitivamente que Ele é Meu servo eterno porque essa é a Minha inclinação natural". Similarmente, O Senhor Krishna diz no Bhagavad-gita, "A influência da natureza material é insuperável, mas qualquer um que se rende a Mim pode verdadeiramente superar a influência da natureza material". Os devotos não estão de nenhuma forma interessados em argumentar com não devotos para nulificar suas teorias. Em vez de perderem seu tempo, eles sempre se dedicam no serviço amoroso transcendental do Senhor em plena Consciência de Krishna.

Os Vedas personificados continuaram: "Nosso querido Senhor, apesar dos grandes yogis místicos poderem ter pleno controle sobre o elefante da mente e o furacão dos sentidos, a menos que tomem abrigo em um mestre espiritual fidedigno, eles caem vítimas da influência material e nunca se tornam bem sucedidos em suas tentativas de auto-realização. Tais pessoas desorientadas são comparadas a mercadores que vão para o mar num navio sem um capitão. Por suas tentativas pessoais, portanto, ninguém pode ficar livre das garras da natureza material. A pessoa tem que aceitar um mestre espiritual fidedigno e trabalhar de acordo com a direção dele. Então é possível atravessar o oceano de necedade das condições materiais. Sripada Shridhara Swami compôs um belo verso nessa conexão, no qual ele diz, "Ó todo-misericordioso mestre espiritual, representante da Suprema Personalidade de Deus, quando minha mente será completamente rendida a seus pés de lótus? Nesse momento, somente por sua misericórdia, serei capaz de obter alívio dos obstáculos da vida espiritual, e estarei situado em vida bem-aventurada".

Na realidade, samadhi extático, ou absorção na Suprema Personalidade de Deus pode ser alcançado por constante dedicação em Seu serviço, e essa dedicação constante no serviço devocional pode ser realizada somente quando a pessoa trabalha sob a direção de um mestre espiritual fidedigno. Os Vedas portanto instruem que a fim de saber a ciência do serviço devocional, a pessoa tem que se submeter a um mestre espiritual fidedigno. O mestre espiritual fidedigno é aquele que conhece a ciência do serviço devocional na sucessão discipular. Essa sucessão discipular é chamada srotriyam. O sintoma primordial de quem se tornou um mestre espiritual na sucessão discipular é que ele é cem por cento fixado em bhakti-yoga. Às vezes pessoas negligenciam a aceitação de um mestre espiritual, e em vez disso, elas se esforçam por auto-realização pela prática do yoga místico, mas há muitos casos de fracasso, mesmo por grandes yogis como Visvamitra. Arjuna disse no Bhagavad-gita que controlar a mente é tão impraticável quanto parar o sopro de um furacão. Às vezes, a mente é comparada a um elefante enfurecido. Sem seguir a direção de um mestre espiritual, a pessoa não pode controlar a mente e os sentidos. Em outras palavras, se alguém pratica yoga mística e não aceita um mestre espiritual fidedigno, ele com certeza fracassará. Ele simplesmente perderá seu tempo precioso. A lei Védica é que ninguém pode ter conhecimento pleno sem estar sob a guia de um acharya. Acaryavan puruso veda: aquele que aceitou um acharya sabe o que é o quê. A Verdade Absoluta não pode ser compreendida por argumentos. Aquele que alcançou o estágio brahmana perfeito naturalmente se torna renunciado; ele não se empenha por ganho material porque pelo conhecimento espiritual ele chegou à conclusão que neste mundo não existe insuficiência. Tudo é suficientemente providenciado pela Suprema Personalidade de Deus. Um brahmana de verdade, portanto, não se esforça por perfeição material; em vez disso, ele se aproxima de um mestre espiritual fidedigno para aceitar ordens dele. A qualificação do mestre espiritual é que ele é brahmanistham, significa que ele abandonou todas as outras atividades e dedicou sua vida a trabalhar somente para a Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Quando um estudante fidedigno se aproxima de um mestre espiritual fidedigno, ele ora submissamente, "Meu querido senhor, gentilmente me aceite como seu estudante e me treine de modo tal que serei capaz de abandonar todos os outros tipos de processos para auto-realização e simplesmente me dedicar à Consciência de Krishna, serviço devocional".

O devoto dedicado pela direção do mestre espiritual no serviço amoroso transcendental do Senhor comtempla como se segue: "Meu querido Senhor, Você é o reservatório de prazer. Já que Você está presente, qual o uso do prazer transitório derivado de sociedade, amizade e amor? Pessoas que não são cientes sobre o supremo reservatório de prazer falsamente se engajam em obter prazer do gozo sensual, mas isso é transitório e ilusório". Nessa conexão, Vidyapati, um grande devoto Vaishnava e poeta, diz, "Meu querido Senhor, indubitavelmente existe algum prazer no meio de sociedade, amizade e amor, apesar de ser materialmente concebido, mas um prazer assim não pode satisfazer meu coração, que é como um deserto". No deserto há a necessidade de um oceano de água. Mas se só uma gota d'água for jogada no deserto, qual o valor dessa água? Similarmente, nossos corações materiais estão cheios de desejos múltiplos, os quais não podem ser satisfeitos dentro da sociedade material de amizade e amor. Quando nossos corações começam a derivar prazer do supremo reservatório de prazer, então nós podemos ficar satisfeitos. Essa satisfação transcendental só é possível no serviço devocional, e Consciência de Krishna plena.

Os Vedas personificados continuaram: "Nosso querido Senhor, Você é sat-cid-ananda-vigraha, a forma sempre bem-aventurada de conhecimento, e porque os seres vivos são partes e parcelas de Sua personalidade, o estado natural de existência deles é ser plenamente consciente de Você. Neste mundo material, qualquer um que desenvolveu essa Consciência de Krishna não está mais interessado no modo de vida materialista. Um ser consciente de Krishna se torna desinteressado em vida familiar ou condições de vida opulenta, e ele requer apenas uma pequena concessão para suas necessidades corpóreas. Em outras palavras, ele não está mais interessado em prazer sensual. A perfeição da vida humana é baseada em conhecimento e renúncia, mas é muito difícil tentar alcançar os estágios de conhecimento e renúncia durante a vida familiar. Pessoas conscientes de Krishna portanto se abrigam na associação de devotos ou lugares santificados de peregrinação. Tais pessoas são cientes da relação entre a Superalma e os seres vivos individuais, e elas nunca estão no conceito corpóreo de vida. Porque elas sempre carregam Você em consciência plena dentro de seus corações, elas são tão purificadas que qualquer lugar onde elas vão, torna-se um local sagrado de peregrinação, e a água que lava seus pés é capaz de liberar muitas pessoas pecaminosas que pairam neste mundo material".

Quando Prahlada Maharaja foi perguntado por seu pai para descrever alguma coisa muito boa que aprendeu, ele respondeu a seu pai que para uma pessoa materialista que está sempre cheia de ansiedades devido a estar engajado em verdades relativas e temporárias, o melhor curso é abandonar o poço escuro da vida familiar e ir para a floresta para se abrigar no Supremo Senhor. Aqueles que são realmente devotos puros são celebrados como mahatmas, ou grandes sábios, personalidades perfeitas em conhecimento. Eles estão sempre com o pensamento no Supremo Senhor e Seus pés de lótus, e assim eles se tornam automaticamente liberados. Devotos que estão sempre situados nessa posição se tornam eletrificados pelas potências inconcebíveis do Senhor, e assim eles próprios se tornam a fonte de liberação para seus seguidores e devotos. Uma pessoa consciente de Krishna é plenamente eletrificada espiritualmente, e por isso qualquer um que toca ou se abriga nesse devoto puro se torna similarmente eletrificado com potências espirituais. Um devoto assim nunca fica envaidecido com opulências materiais. Geralmente, as opulências materiais são boa ascendência, educação, beleza e riquezas, mas apesar de um devoto do Senhor poder possuir todas as quatro dessas opulências materiais, ele nunca é levado pelo orgulho de possuir tais distinções. Grandes devotos do Senhor viajam por todo mundo de um local de peregrinação a outro, e em seu caminho eles encontram muitas almas condicionadas e as liberam com sua associação e distribuição de conhecimento transcendental. Eles residem em locais tais quais Vrindavana, Mathura, Dwaraka, Jagannatha Puri e Navadwipa porque somente devotos se reúnem nesses lugares. Desse modo eles aproveitam a vantagem da associação santificada, e por essa associação os devotos avançam mais e mais na Consciência de Krishna. Tal avanço não é possível na vida familiar que é desprovida de Consciência de Krishna.

Os Vedas personificados continuaram: "Nosso querido Senhor, existem duas classes de transcendentalistas, os impersonalistas e os personalistas. A opinião dos impersonalistas é que esta manifestação material é falsa e que somente a Verdade Absoluta é real. A visão do personalista, todavia, é que o mundo material, apesar de temporário, mesmo assim não é falso, e sim real. Esses transcendentalistas têm diferentes argumentos para estabelecer a validade de suas filosofias. De fato, o mundo material é simultaneamente verdadeiro e falso. É verdadeiro porque tudo é uma expansão da Suprema Verdade Absoluta, e é falso porque a existência do mundo material é temporária, ele é criado, e ele é aniquilado. Por causa dessas diferentes condições de existência, a manifestação cósmica não tem posição fixa. Aqueles que advogam a aceitação deste mundo material como falso são geralmente conhecidos pela máxima brahma satya jagan mithya. Eles apresentam o argumento que tudo no mundo material é preparado da matéria. Por exemplo, existem muitas coisas feitas de argila, tais quais potes, pratos e bolas de barro. Depois de sua aniquilação, essas coisas podem se transformar em muitos outros objetos materiais, mas em todos os casos, sua existência como barro continua. Uma jarra d'água de barro, depois que quebrar, pode ser transformada em uma tigela ou prato, porém mesmo como prato, tigela ou jarra d'água, a terra em si continua a existir. Portanto, as formas de uma jarra d'água, tigela ou prato são falsas, mas sua existência como terra é real. Essa é a versão dos impersonalistas. Esta manifestação cósmica é certamente produzida pela Verdade Absoluta, mas porque sua existência é temporária, ela é portanto falsa; o entendimento dos impersonalistas é que a Verdade Absoluta, que está sempre presente, é a única verdade. Na opinião de outros transcendentalistas, entretanto, este mundo material, produzido da Verdade Absoluta, também é verdade. O contra-argumento dos impersonalistas é que o mundo material não é real porque às vezes descobre-se que a matéria é produzida da alma espiritual, e às vezes a alma espiritual é produzida pela matéria. Alguns filósofos apresentam o argumento que apesar do esterco de vaca ser matéria morta, às vezes vê-se que escorpiões saem do esterco de vaca. Similarmente, matéria morta tais quais unhas e cabelo saem do corpo vivo. Assim, coisas produzidas de uma certa coisa não são sempre a mesma. Com a força desse argumento, filósofos Mayavadis estabelecem que apesar dessa manifestação cósmica ser certamente uma emanação da Verdade Absoluta, a manifestação cósmica não necessariamente possui verdade em si. De acordo com essa visão, a Verdade Absoluta, Brahman, deve ser portanto aceita como verdade, enquanto a manifestação cósmica, apesar de um produto da Verdade Absoluta, não pode ser aceita como verdade.

A visão dos filósofos Mayavadis, entretanto, é afirmada no Bhagavad-gita como a visão dos asuras, ou demônios. O Senhor diz no Bhagavad-gita, astyam apratistham te jagad ahur anisvaram. A visão dos asuras desta manifestação cósmica é que toda a criação é falsa. Os asuras acham que a mera interação da matéria é a fonte da criação, e não há controlador ou Deus. Mas na realidade esse não é o fato. Do Sétimo Capítulo do Bhagavad-gita, entendemos que os cinco elementos grosseiros - terra, água, ar, fogo e céu - mais os elementos sutis - mente, inteligência e ego falso - são as oito energias separadas do Supremo Senhor. Além desta energia inferior, existe a energia espiritual, que é conhecida como os seres vivos. Os seres vivos também são aceitos como energia superior do Senhor. A manifestação cósmica inteira é uma combinação das energias inferior e superior, e a fonte das energias é a Suprema Personalidade de Deus. A Suprema Personalidade de Deus possui muitos tipos de energias diferentes. Isso é confirmado nos Vedas: parasya saktir vividhaiva sruyate. As energias transcendentais do Senhor são variadas, e porque essas variedades emanaram do Supremo Senhor, não podem ser falsas. O Senhor é sempre-existente, e as energias são sempre-existentes. Algo da energia é temporário - às vezes manifesto e às vezes não manifesto - mas isso não significa que é falso. O exemplo pode ser dado que quando uma pessoa está irada, faz coisas que são diferentes de sua condição normal de vida, mas porque esse humor de ira somente aparece e desaparece não significa que a energia da ira é falsa. Assim, o argumento dos filósofos Mayavadis que este mundo é falso não é aceito pelos filósofos Vaishnavas. É confirmado pelo Senhor em Pessoa sobre a visão que não existe nenhuma causa suprema desta manifestação material, que não existe Deus, e que tudo é somente a criação da interação da matéria é uma visão dos asuras.

Os filósofos Mayavadis às vezes apresentam o argumento da serpente e da corda. Na escuridão da noite, uma corda enrolada é às vezes, devido à ignorância, confundida com uma serpente. Mas confundir a corda com uma serpente não significa que a corda ou a serpente seja falsa, e portanto esse exemplo, usado pelos Mayavadis para ilustrar a falsidade deste mundo material, não é válido. Quando alguma coisa é aceita como fato mas na realidade não tem nenhuma existência, isso se chama falso. Mas se algo é confundido com alguma outra coisa, não significa que seja falso. Os filósofos Vaishnavas usam um exemplo muito apropriado ao comparar este mundo material com um pote de barro. Quando vemos um pote de barro, ele não desaparece imediatamente e se transforma em alguma outra coisa. Ele pode ser temporário, mas o pote de barro é usado para trazer água, e nós continuamos a vê-lo como um pote de barro. Portanto, apesar do pote de barro ser temporário e ser diferente da terra original, mesmo assim não podemos dizer que é falso. Nós devemos concluir portanto que a terra inteira e o pote de barro são ambos verdades porque um é o produto do outro. Nós entendemos do Bhagavad-gita que depois da dissolução desta manifestação cósmica, a energia entra na Suprema Personalidade de Deus. A Suprema Personalidade de Deus é sempre-existente com Suas energias variadas. Porque a criação material é uma emanação Dele, nós não podemos dizer que esta manifestação cósmica é emanação de algo vazio. Krishna não é vazio. Sempre que falamos de Krishna, Ele está presente com Sua forma, qualidade, nome, associados e parafernália. Portanto, Krishna não é impessoal. A causa original de tudo não é nem vazia nem impessoal, e sim a Pessoa Suprema. Demônios podem dizer que esta criação material é anisvara, sem um controlador ou Deus, mas esses argumentos ultimamente não podem se sustentar.

O exemplo dado pelos filósofos Mayavadis que matéria inanimada como unhas e cabelo saem do corpo vivo não é um argumento sólido. Unhas e cabelo são indubitavelmente inanimados, mas eles não saem do ser vivo, e sim do corpo material inanimado. Similarmente, o argumento que o escorpião vem do esterco de vaca, com o significado que um ser vivo sai da matéria, também não é sólido. O escorpião que sai do esterco de vaca é certamente um ser vivo, mas o ser vivo não sai do esterco de vaca. Somente o corpo material do ser vivo, ou o corpo do escorpião, sai do esterco de vaca. As fagulhas do ser vivo, como entendemos do Bhagavad-gita, estão impregnadas dentro da natureza material, e então elas saem. O corpo do ser vivo em diferentes formas é fornecido pela natureza material, mas o ser vivo em si é gerado pelo Supremo Senhor. O pai e a mãe dão o corpo que é necessário para o ser vivo sob certas condições. O ser vivo transmigra de um corpo a outro de acordo com seus diferentes desejos. Os desejos na forma sutil da inteligência, mente e ego falso acompanham o ser vivo de corpo a corpo, e pelo arranjo superior, um ser vivo é colocado no ventre de um certo tipo de corpo material, e então ele desenvolve um corpo similar. Portanto, a alma espiritual não é produzida da matéria, mas ela toma um tipo de corpo particular sob arranjo supremo. Para nossa experiência presente, este mundo material é uma combinação de matéria e espírito. O espírito move a matéria. A alma espiritual (o ser vivo) e matéria são energias diferentes do Supremo Senhor. Porque ambas energias são produtos do supremo eterno ou suprema verdade, elas são portanto verdadeiras; elas não são falsas. Porque o ser vivo é parte e parcela do Supremo, ele existe eternamente. Portanto, não pode haver nenhuma questão de nascimento e morte. Os assim chamados nascimento e morte ocorrem por causa do corpo material. A versão Védica sarvam khalv idam brahma significa porque ambas energias emanaram do Brahman Supremo, tudo que experimentamos não é diferente de Brahman.

Existem muitos argumentos sobre a existência deste mundo material, mas a conclusão filosófica Vaishnava é a melhor. O exemplo do pote de barro é muito adequado: a forma do pote de barro pode ser temporária, mas ela tem um propósito específico. O propósito do pote de barro é carregar água de um lugar a outro. Similarmente, este corpo material, apesar de temporário, tem um uso especial. Ao ser vivo é dada uma chance a partir do início da criação para desenvolver diferentes tipos de corpos materiais de acordo com os desejos de reserva que ele acumulou desde tempo imemorável. O corpo da forma humana é uma chance especial na qual a forma desenvolvida de consciência pode ser utilizada.

Às vezes, os filósofos Mayavadis apresentam o argumento se este mundo material é verdade, então porque os casados são aconselhados a abandonar sua conexão com este mundo material e aceitar sannyasa? Mas a visão do filósofo Vaishnava sobre sannyasa não é porque o mundo é falso, ele deve sim abandonar as atividades materiais. O propósito do sannyasa Vaishnava é utilizar coisas como elas são destinadas. Sri Rupa Goswami deu duas fórmulas para nosso lidar com este mundo material. Quando um Vaishnava renuncia este modo de vida materialista e aceita sannyasa, não é pelo conceito de falsidade do mundo material, mas para se devotar plenamente para dedicar tudo no serviço do Senhor. Srila Rupa Goswami portanto dá essa fórmula: A pessoa deve ser desapegada do mundo material porque apego material é sem sentido. O mundo material inteiro, a manifestação cósmica inteira pertence a Deus, Krishna. Por isso, tudo deve ser utilizado para Krishna, e o devoto deve permanecer desapegado de coisas materiais. Esse é o propósito do sannyasa Vaishnava. Um materialista se apega ao mundo por prazer sensual, mas um sannyasi Vaishnava, apesar de não aceitar nada para seu prazer sensual pessoal, sabe a arte de utilizar tudo para o serviço do Senhor. Srila Rupa Goswami assim criticou os sannyasis Mayavadi porque eles não sabem que tudo tem uma utilização para o serviço do Senhor. Ao contrário, eles tomam o mundo como falso e assim falsamente pensam em serem liberados da contaminação do mundo material. Porque tudo é uma expansão da energia do Supremo Senhor, as expansões são tão reais quanto o Supremo Senhor é.

Que a manifestação cósmica é somente manifesta temporariamente não significa que ela é falsa ou que a fonte da manifestação é falsa. Porque a fonte de sua manifestação é verdade, a manifestação também é verdade, mas a pessoa tem que saber como utilizá-la. O mesmo exemplo pode ser citado: o pote de barro temporário é produzido da terra toda, mas quando é utilizado para um propósito próprio, o pote de barro não é falso. Os filósofos Vaishnavas sabem como utilizar a construção temporária deste mundo material, justamente igual um homem sensato sabe utilizar a construção temporária do pote de barro. Quando o pote de barro é utilizado para um propósito errado, ele é falso. Similarmente, esta forma humana de corpo, ou este mundo material, quando utilizado para falso prazer sensual, é falso. Mas se esta forma humana de corpo e a criação material forem utilizados para o serviço ao Supremo Senhor, suas atividades nunca são falsas. É confirmado portanto no Bhagavad-gita que uma pequena atitude de serviço em utilizar este corpo e o mundo material para o serviço do Senhor pode liberar uma pessoa do perigo mais grave da vida. Quando são propriamente utilizadas, nem as energias superior e inferior que emanam da Suprema Personalidade de Deus são falsas. No que diz respeito a atividades lucrativas, elas são principalmente baseadas na plataforma de prazer sensual. Por isso que uma pessoa consciente de Krishna avançada não as adota. O resultado de atividades lucrativas pode elevar uma pessoa ao sistema planetário superior, mas como é dito no Bhagavad-gita, pessoas tolas, depois de exaurirem os resultados de suas atividades piedosas no reino celestial, voltam novamente a este sistema planetário inferior e então novamente tentam ir ao sistema planetário superior. Seu único lucro é ter o trabalho de ir e voltar, justamente igual no presente muitos cientistas materialistas desperdiçam seu tempo na tentativa de ir ao planeta Lua e novamente voltar. Aqueles que estão engajados nessas atividades são descritos pelos Vedas personificados como andha-parampara, ou seguidores cegos das cerimônias ritualísticas Védicas. Apesar dessas cerimônias serem certamente mencionadas nos Vedas, elas não são destinadas para a classe dos homens inteligentes. Homens que estão muito apegados ao desfrute material estão cativados pelo prospecto de serem elevados aos sistemas planetários superiores, e por isso eles adotam essas atividades ritualísticas. Mas uma pessoa que é inteligente, ou que tomou o abrigo de um mestre espiritual fidedigno para ver as coisas como elas são, não se vale de atividades lucrativas, mas se dedica no serviço amoroso transcendental do Senhor.

Pessoas que não são devotas adotam as cerimônias ritualísticas Védicas por razões materialistas, e assim elas ficam confusas. Um exemplo vívido pode ser dado: uma pessoa inteligente que possui milhões de dólares em notas monetárias não guarda o dinheiro sem usá-lo, mesmo por saber perfeitamente bem que as notas monetárias em si são nada mais do que papel. Quando alguém tem milhões de dólares em notas de moeda, ele na realidade guarda um grande monte de papéis, mas se ele utiliza isso para algum propósito, então ele se beneficia. Similarmente, apesar deste mundo material poder ser falso, justamente igual o papel, ele tem sua própria utilização benéfica. Porque as notas de moeda, apesar de papel, são emitidas pelo governo, elas por isso têm valor total. Similarmente, este mundo material pode ser falso ou temporário, mas porque é uma emanação do Supremo Senhor, ele tem valor pleno. O filósofo Vaishnava reconhece o valor pleno deste mundo material e sabe como utilizá-lo propriamente, enquanto o filósofo Mayavadi, que confunde a nota monetária com papel falso, rejeita-a e não pode utilizar o dinheiro. Srila Rupa Goswami portanto declara que se alguém rejeita este mundo material como falso, sem considerar a importância deste mundo material como um meio de servir a Suprema Personalidade de Deus, essa renúncia tem valor muito pequeno. Uma pessoa que conhece o valor intrínseco deste mundo material para o serviço do Senhor, que não está apegada ao mundo material, e que renuncia o mundo material por não aceitá-lo para prazer sensual está situada na renúncia real. Este mundo material é uma expansão da energia material do Senhor. Portanto, é real. Não é falso, como às vezes conclui-se do exemplo da serpente e a corda.

Os Vedas personificados continuaram: "A manifestação cósmica, por causa da natureza oscilante de sua existência impermanente, parece aos homens menos inteligentes como falsa". Os filósofos Mayavadis aproveitam a vantagem da natureza oscilante desta manifestação cósmica para provar sua tese de que este mundo é falso. De acordo com a versão Védica, antes da criação, este mundo não tinha existência, e depois da dissolução o mundo não será mais manifesto. Niilistas também aproveitam a vantagem desta versão Védica e concluem que a causa do mundo material é vazia. Mas a lei Védica não diz que é vazia. A lei Védica define a fonte da criação e dissolução como yato va imani bhutani jayante, "Ele de quem esta manifestação cósmica emanou e em quem, depois da aniquilação, tudo imergirá". O mesmo é explicado no Vedanta-sutra e no primeiro verso do Primeiro Capítulo do Srimad Bhagavatam pelas palavras janmadyasya, Ele de quem todas as coisas emanam. Todas essas injunções Védicas indicam que a manifestação cósmica é devida à Suprema Personalidade de Deus, e quando é dissolvida, imerge Nele. O mesmo é confirmado no Bhagavad-gita: esta manifestação cósmica vem a existir e novamente dissolver, e depois da dissolução ela imerge na existência do Supremo Senhor. Essa afirmação definitivamente confirma que a energia particular conhecida como bahi-ranga-maya, ou a energia externa, apesar de natureza oscilante, é a energia do Supremo Senhor, e por isso não pode ser falsa. Ela simplesmente parece ser falsa. Os filósofos Mayavadis concluem porque a natureza material não tem existência no começo e é não existente depois da dissolução, ela é portanto falsa. Mas com o exemplo dos potes e pratos de barro a versão Védica é apresentada: apesar da existência dos subprodutos particulares da Verdade Absoluta ser temporária, a energia do Supremo Senhor é permanente. O pote ou jarra d'água de barro pode quebrar e ser transformado em outro modelo, tais quais o do prato ou da tigela, mas o ingrediente, ou a base material, chamada terra, continua a mesma. O princípio básico desta manifestação cósmica é sempre o mesmo, Brahman, ou a Verdade Absoluta; portanto, a teoria dos filósofos Mayavadis de que é falsa certamente é somente elaboração mental. Porque a manifestação cósmica é oscilante e temporária não significa que é falsa. A definição de falsidade é aquilo que nunca teve nenhuma existência mas existe somente em nome. Por exemplo, os ovos de um cavalo ou a flor do céu ou o chifre de um coelho são fenômenos que existem somente em nome. Não existe nenhum ovo de cavalo, não existe nenhum chifre de coelho, nem existem flores que crescem no céu. Há muitas coisas que existem em nome ou imaginação mas na realidade não têm manifestação verdadeira. Essas coisas podem ser chamadas de falsas. Mas o Vaishnava não pode aceitar este mundo material como falso simplesmente porque sua natureza temporária é manifesta e novamente dissolvida.

Os Vedas personificados continuaram a dizer que a Superalma e a alma individual, ou Paramatma e jivatma, não podem ser iguais em nenhuma circunstância, apesar de ambas estarem sentadas dentro do mesmo corpo, iguais a dois pássaros sentados na mesma árvore. Como declarado nos Vedas, esses dois pássaros, apesar de sentados como amigos, não são iguais. Um é simplesmente uma testemunha. Esse pássaro é Paramatma, ou a Superalma. E o outro pássaro come o fruto da árvore. Esse é o jivatma. Quando há a manifestação cósmica, o jivatma, ou a alma individual, aparece na criação em diferentes formas, de acordo com suas atividades lucrativas prévias, e devido a seu longo esquecimento da existência real, ele se identifica com uma forma particular concedida a ele pelas leis da natureza material. Depois de assumir uma forma material, ele se torna sujeito aos três modos da natureza material e age de acordo para continuar sua existência no mundo material. Enquanto envolvido nessa ignorância, suas opulências naturais, apesar de existirem em quantidade diminuta, estão quase extintas. As opulências da Superalma, ou a Suprema Personalidade de Deus, entretanto, não são diminuídas, apesar Dele aparecer dentro deste mundo material. Ele mantém todas opulências e perfeições em totalidade e ainda assim Se mantém à parte de todas tribulações deste mundo material. A alma condicionada se torna aprisionada neste mundo material, enquanto a Superalma, ou a Suprema Personalidade de Deus, sai dele sem afeição, justamente igual uma serpente larga sua pele. A distinção entre a Superalma e a alma individual condicionada é que a Superalma, ou a Suprema Personalidade de Deus, mantém Suas opulências naturais, conhecidas como sad-aisvarya, asta-siddhi e asta-guna.

Por causa de seu pobre fundo de conhecimento, os filósofos Mayavadis esquecem o fato que Krishna é sempre pleno das seis opulências, oito qualidades transcendentais e oito tipos de perfeições. As seis opulências são que ninguém é maior do que Krishna em riqueza, em poder, em beleza, em fama, em conhecimento e em renúncia. A primeira das oito qualidades transcendentais de Krishna é que Ele é sempre intocado pela contaminação da existência material. Isso também é mencionado no Ishopanishad: apapa-viddham: justamente igual o Sol que nunca é poluído por nenhuma contaminação, o Supremo Senhor nunca é poluído por atividades pecaminosas. Similarmente, apesar das ações de Krishna às vezes parecerem ser impiedosas, Ele nunca é poluído por essas ações. A segunda qualidade transcendental é que Krishna nunca morre. No Bhagavad-gita, Quarto Capítulo, Ele informa Arjuna que ambos Ele e Arjuna tiveram muitos aparecimentos neste mundo material, mas somente Ele lembra todas essas atividades - passado, presente e futuro. Isso significa que Ele nunca morre. Esquecimento é devido à morte. Quando morremos, nós trocamos nossos corpos. Isso é esquecimento. Krishna, entretanto, nunca esquece. Ele pode lembrar tudo que aconteceu no passado. Caso contrário, como Ele pôde lembrar que primeiro Ele ensinou o sistema de yoga do Bhagavad-gita ao deus do Sol, Vivasvan? Portanto, Ele nunca morre. Nem Ele nunca se torna um homem idoso. Embora Krishna fosse avô quando apareceu no Campo de batalha em Kurukshetra, Ele não parecia um homem idoso. Krishna não pode ser poluído por quaisquer atividades pecaminosas, Krishna nunca morre, Krishna nunca fica velho, Krishna nunca fica sujeito a qualquer lamentação, Krishna nunca fica com fome, e Ele nunca fica com sede. Qualquer coisa que Ele deseja é perfeitamente lícita, e qualquer coisa que Ele decida não pode ser mudada por ninguém. Essas são as qualidades transcendentais de Krishna. Além dessas, Krishna é conhecido como Yogeshvara. Ele tem todas as opulências ou facilidades dos poderes místicos, tais quais anima-siddhi, o poder de se tornar menor do que o menor. É afirmado no Brahma-samhita que Krishna entrou até mesmo dentro do átomo, andantarastha-paramanu-cayantarastham. Similarmente, Krishna, como Garbhodakashayi Vishnu, está dentro do universo gigantesco, e Ele está deitado no Oceano Causal como Maha-Vishnu num corpo tão gigantesco que quando Ele exala, milhões e trilhões de universos emanam de Seu corpo. Isso se chama mahima-siddhi. Krishna também tem a perfeição de laghima: Ele pode Se tornar o mais leve. É afirmado no Bhagavad-gita que porque Krishna entra dentro deste universo e dentro dos átomos que todos os planetas flutuam no ar. Essa é a explicação de leveza. Krishna também tem a perfeição de prapti: Ele pode obter qualquer coisa que Ele quiser. Similarmente, Ele tem a facilidade de isita, poder controlador. Ele é chamado de supremo controlador, Parameshvara. Em adição, Krishna pode trazer qualquer um sob Sua influência. Isso se chama vasita.

Krishna é dotado com todas as opulências, qualidades transcendentais e poderes místicos. Nenhum ser humano ordinário pode ser comparado a Ele. Portanto, a teoria Mayavadi de que a Superalma e a alma individual são iguais é somente um conceito errado. A conclusão é, portanto, que Krishna é adorável e que todos os outros seres vivos são simplesmente Seus serventes. Esse entendimento se chama auto-realização. Qualquer outra realização do eu pessoal além dessa relação de servo eterno de Krishna é impelida por maya. É dito que a última armadilha de maya é ditar para o ser vivo tentar se tornar igual à Suprema Personalidade de Deus. O filósofo Mayavadi alega ser igual a Deus, mas ele não pode responder à pergunta por que ele caiu dentro do enredamento material. Se ele é o Deus Supremo, então como aconteceu que ele foi tragado por atividades impiedosas e por isso sujeito às tribulações da lei do karma? Quando os Mayavadis são perguntados sobre isso, não podem responder propriamente. A especulação que alguém é igual à Suprema Personalidade de Deus é outro sintoma de vida pecaminosa. Ninguém pode adotar a Consciência de Krishna a menos que esteja completamente livre de todas atividades pecaminosas. O próprio fato que o Mayavadi alega se tornar um com o Supremo Senhor significa que ele ainda não está livre das reações de atividades pecaminosas. O Srimad Bhagavatam diz que essas pessoas são avisuddha-buddhaya, significa que elas falsamente pensam em si mesmas como liberadas, apesar de ao mesmo tempo acharem que são iguais à Verdade Absoluta. Sua inteligência não está purificada.

Os Vedas personificados disseram que se os yogis e jñanis não se livram dos desejos pecaminosos, então seu processo particular de auto-realização nunca será bem-sucedido. "Meu querido Senhor", os Vedas personificados continuaram, "se pessoas santificadas não tomam cuidado para erradicar completamente as raízes dos desejos pecaminosos, não podem experimentar a Superalma, apesar de Ele estar sentado lado a lado com a alma individual. Samadhi, ou meditação, significa que a pessoa tem que encontrar a Superalma dentro de si mesma. Alguém que não está livre das reações pecaminosas não pode ver a Superalma. Se uma pessoa tiver um medalhão de jóia preciosa em seu colar mas esquece a jóia, é quase como se ela não a possuísse. Similarmente, se uma alma individual medita mas não percebe a presença da Superalma dentro de si mesma, ela não realizou a Superalma". Pessoas que adotaram esse caminho de auto-realização devem portanto tomar muito cuidado para ser descontaminada da influência de maya. Srila Rupa Goswami diz que um devoto deve ser completamente livre de todas as classes de desejos materiais. Um devoto não deve ser afetado pelas ações resultantes de karma e jñana. A pessoa simplesmente tem que entender Krishna e executar Seus desejos. Esse é o estágio devocional puro. "Yogis místicos que ainda têm desejos contaminados por prazer sensual nunca se tornam bem-sucedidos em sua tentativa, nem podem realizar a Superalma dentro do eu individual. Dessa forma, os assim chamados yogis e jñanis que simplesmente desperdiçam seu tempo em diferentes tipos de prazer sensual, tanto pela especulação mental ou pela exibição de poderes místicos limitados, nunca ficarão liberados da vida condicionada e continuarão a ir através de repetidos nascimentos e mortes. Para essas pessoas, tanto esta vida quanto a próxima se tornam fontes de tribulação. Essas pessoas pecaminosas já sofrem tribulações nesta vida, e porque não são perfeitas na auto-realização, serão flageladas com mais tribulação na próxima vida. Apesar de todos esforços para alcançar perfeição, esses yogis, contaminados por desejos de prazer sensual, continuarão a sofrer nesta vida e na próxima".

Srila Visvanatha Chakravarti Thakura observa nessa conexão se sannyasis e pessoas na ordem de vida da renúncia que deixaram suas casas para auto-realização não se dedicam ao serviço devocional do Senhor mas ficam atraídas por trabalho filantrópico, tais quais abrir instituições educacionais, hospitais, ou mesmo monastérios, igrejas ou templos dos semideuses, elas encontram somente problema nesses engajamentos, não somente nesta vida mas na próxima. Sannyasis que não aproveitam a vantagem desta vida para realizar Krishna simplesmente desperdiçam seu tempo e energia em atividades fora da jurisdição da ordem de vida da renúncia. A tentativa de um devoto ao dedicar suas energias em atividades tais quais a construção de um templo de Vishnu, entretanto, nunca será desperdiçada. Esses engajamentos são chamados Krsnarthe akhila-cesta, atividades variadas para agradar Krishna. Um filantropo abrir um prédio de escola e um devoto construir um templo não estão no mesmo nível. Apesar dum filantropo abrir uma instituição educacional ser uma atividade piedosa, isso vem sob as leis do karma, enquanto construir um templo para Vishnu é serviço devocional.

Serviço devocional nunca está na jurisdição da lei do karma. É dito no Bhagavad-gita que devotos transcendem à reação dos três modos da natureza material e situam-se na plataforma da realização Brahman: brahma-bhuyaya kalpate. O Bhagavad-gita diz, sa gunam samatityaitan brahma-bhuyaya kalpate: devotos da Personalidade de Deus transcendem todas as reações dos três modos da natureza material e ficam situados na plataforma Brahman transcendental. Os devotos são liberados tanto nesta vida quanto na próxima. Qualquer trabalho feito neste mundo para Yajña ou Vishnu ou Krishna é considerado como trabalho liberado, mas sem conexão com Achyuta, a infalível Suprema Personalidade de Deus, não há possibilidade de parar as ações resultantes da lei do karma. A vida de Consciência de Krishna é vida de liberação. A conclusão é que um devoto, pela graça do Senhor, é liberado, tanto nesta vida quanto na próxima, enquanto karmis, jñanis e yogis nunca são liberados, nem nesta vida ou na próxima.

Os Vedas personificados continuaram: "Querido Senhor, qualquer um que, por Sua graça, entendeu as glórias de Seus pés de lótus é indiferente a felicidade e sofrimento materiais. As aflições materiais são inevitáveis enquanto existimos dentro do mundo material, mas um devoto não desvia sua atenção para essas ações e reações, que são os resultados de atividades piedosas e impiedosas. Nem um devoto fica muito perturbado ou satisfeito com elogio ou condenação pelo público em geral. Um devoto às vezes é grandemente elogiado pelo povo em geral por causa de suas atividades transcendentais, e às vezes ele é criticado, mesmo embora não haja razão para crítica adversa. O devoto puro é sempre indiferente a elogio e condenação por pessoas ordinárias. Na realidade, as atividades do devoto estão no plano transcendental. Ele não está interessado em elogio ou condenação de pessoas engajadas em atividades materiais. Se o devoto pode assim manter sua posição transcendental, então sua liberação nesta vida e na próxima vida está garantida pela Suprema Personalidade de Deus. A posição transcendental de um devoto dentro deste mundo material é mantida na associação de devotos puros, simplesmente por ouvir as atividades gloriosas encenadas pelo Senhor em diferentes eras e em diferentes encarnações".

O movimento da consciência de Krishna é baseado nesse princípio. Srila Narottama Dasa Thakura cantou, "Meu querido Senhor, deixe-me dedicado a Seu serviço amoroso transcendental, como indicado pelos acharyas prévios, e deixe-me viver na associação dos devotos puros. Esse é meu desejo, vida após vida". Em outras palavras, um devoto não se importa muito se ele é ou não é liberado, mas ele é ansioso somente por serviço devocional. Serviço devocional significa que a pessoa não faz nada independentemente da sanção dos acharyas. As ações do movimento da consciência de Krishna são dirigidos pelos acharyas prévios, liderados por Srila Rupa Goswami; na associação dos devotos e por seguir esses princípios, um devoto é capaz de manter perfeitamente sua posição transcendental.

No Bhagavad-gita, o Senhor diz, um devoto que O conhece perfeitamente é muito querido para Ele. Quatro tipos de homens piedosos adotam o serviço devocional. Se um homem for piedoso, então em sua condição aflita, ele se aproxima do Senhor para mitigação de seu sofrimento. Se um homem piedoso está em necessidade de ajuda material, ele também ora ao Senhor por essa ajuda. Se um homem piedoso for realmente inquisitivo sobre a ciência de Deus, ele também se aproxima da Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Similarmente, um homem piedoso que simplesmente está ansioso para conhecer a ciência de Krishna também se aproxima do Supremo Senhor. Dessas quatro classes de homens, a última é louvada por Krishna em Pessoa no Bhagavad-gita. Uma pessoa que tenta entender Krishna com conhecimento e devoção plenos por seguir os passos dos acharyas prévios conhecedores do conhecimento científico do Supremo Senhor é digno de louvor. Esse devoto pode entender que todas as condições de vida, favoráveis e desfavoráveis, são criadas pela vontade suprema do Senhor. E quando ele se rendeu plenamente aos pés de lótus do Supremo Senhor, ele não se importa se sua condição de vida é favorável ou desfavorável. Um devoto até mesmo aceita uma condição desfavorável como um favor especial da Personalidade de Deus. Na realidade, não existem condições desfavoráveis para um devoto. Ele vê tudo que vem pela vontade do Senhor como favorável, e em qualquer condição de vida ele é simplesmente entusiasmado para executar seu serviço devocional. Essa atitude devocional é explicada no Bhagavad-gita: um devoto nunca fica aflito em condições de vida reversas, nem ele fica cheio de alegria em condições favoráveis. Nos estágios mais elevados do serviço devocional, não está nem mesmo preocupado com a lista de faças e não faças. Essa posição pode ser mantida somente por seguir os passos dos acharyas. Porque um devoto puro segue os passos dos acharyas, qualquer ação que ele executa para realizar serviço devocional deve ser entendida como situada na plataforma transcendental. O Senhor Krishna portanto nos instrui que um acharya está acima da crítica. Um devoto neófito não deve se considerar no mesmo plano que o acharya. Deve ser aceito que os acharyas estão na mesma plataforma que a Suprema Personalidade de Deus, e assim, nem Krishna nem Seu acharya representante devem ser sujeitos a qualquer crítica de devotos neófitos.

Os Vedas personificados assim adoraram a Suprema Personalidade de Deus em diferentes modos. Oferecer adoração ao Supremo Senhor por louvor significa lembrar Suas qualidades, passatempos e atividades transcendentais. Mas as qualidades e passatempos do Senhor são ilimitados. Não é possível para nós lembrar todas as qualidades do Senhor. Assim, os Vedas personificados adoraram com o melhor de sua habilidade, e no fim eles falaram o seguinte.

"Nosso querido Senhor, apesar do Senhor Brahma, a deidade predominante do planeta mais elevado, Brahmaloka, e Rei Indra, o semideus predominante do planeta celestial, e também as deidades predominantes do planeta Sol, do planeta Lua, etc., serem todos diretores muito confidenciais deste mundo material, eles têm muito pouco conhecimento sobre Você. Então o que falar sobre seres humanos ordinários e especuladores mentais? Não é possível para ninguém enumerar as qualidades transcendentais ilimitadas de Sua Divindade. Ninguém, inclusive especuladores mentais e os semideuses nos sistemas planetários superiores, é realmente capaz de estimar o comprimento e largura de Sua forma e características. Nós achamos que mesmo Sua Divindade não tem conhecimento completo sobre Suas qualidades transcendentais. A razão é que Você é ilimitado. Apesar de não ser próprio no Seu caso dizer que Você não conhece a Si mesmo, entretanto é prático entender porque Você tem qualidades e energias ilimitadas e porque Seu conhecimento também é ilimitado, existe competição ilimitada entre Seu conhecimento e Sua expansão de energias".

A idéia é porque Deus e Seu conhecimento são ambos ilimitados, logo que Deus é consciente de algumas de Suas energias, Ele percebe que Ele tem ainda mais energias. Desse modo, tanto Suas energias quanto Seu conhecimento incrementam. Porque ambos são ilimitados, não há fim para as energias e não há fim para o conhecimento com o qual para entender as energias. Deus é indubitavelmente onisciente, mas os Vedas personificados disseram que mesmo o Próprio Deus não conhece a extensão plena de Suas energias. Isso não quer dizer que Deus não é onisciente. Quando um fato verídico é desconhecido para certa pessoa, isso se chama ignorância ou falta de conhecimento. Isso não é aplicável a Deus, entretanto, porque Ele Se conhece perfeitamente, mesmo assim Suas energias e atividades incrementam. Portanto Ele também incrementa Seu conhecimento para entender isso. Ambos incrementam ilimitadamente, e não há fim para isso. Nesse sentido, pode-se dizer que mesmo o Próprio Deus não conhece o limite de Suas energias e qualidades.

Como Deus é ilimitado em Sua expansão de energias e atividades pode ser calculado aproximadamente por qualquer ser vivo são e sóbrio. É dito na literatura Védica que universos inumeráveis emanam quando Maha-Vishnu exala em Seu yoga-nidra, e inumeráveis universos entram em Seu corpo quando Ele novamente inala. Nós temos que imaginar que esses universos, os quais, de acordo com nosso conhecimento limitado, são expandidos ilimitadamente, são tão grandes que os ingredientes grosseiros, os cinco elementos da manifestação cósmica, chamados terra, água, fogo, ar e céu, não estão somente dentro do universo, mas também cobrem o universo com sete camadas, cada camada dez vezes maior do que a prévia. Desse modo, cada e todo universo é muito seguramente embalado, e existem inumeráveis universos. Todos esses universos flutuam dentro dos inumeráveis poros do corpo transcendental de Maha-Vishnu. É dito que justamente igual os átomos e partículas de poeira que flutuam no ar junto com os pássaros e seu número não pode ser calculado, assim inumeráveis universos flutuam dentro dos poros do corpo transcendental do Senhor. Por essa razão, os Vedas dizem que Deus está além da capacidade do nosso conhecimento. Abanmanasagocara: entender o comprimento e largura de Deus está além da jurisdição de nossa especulação mental. Portanto, uma pessoa que é verdadeiramente sábia e sã não alega ser Deus, e sim tenta entender Deus, por fazer distinções entre espírito e matéria. Por essa discriminação cuidadosa, a pessoa pode entender claramente que a Alma Suprema é transcendental a ambas energias superior e inferior, apesar de Ele ter uma conexão direta com ambas. No Bhagavad-gita, o Senhor Krishna explica que apesar de tudo repousar em Sua energia, Ele é diferente ou separado da energia.

Natureza e os seres vivos são às vezes designados como prakrti e purusa respectivamente. A manifestação cósmica toda é uma amalgamação do prakrti e purusa. Natureza é a causa ingrediente, e os seres vivos são a causa efetiva. Essas duas causas combinam juntas, e o efeito é esta manifestação cósmica. Quando uma pessoa é afortunada o bastante para chegar à conclusão certa sobre esta manifestação cósmica e tudo que acontece dentro dela, sabe que ela é causada direta e indiretamente pela Suprema Personalidade de Deus em Pessoa. É concluído no Brahma-samhita, portanto, isvarah paramah krsnah sat-cid-ananda-vigrahah anadir adir govindah sarva-karana-karanam.

Depois de muita deliberação e consideração, quando a pessoa atinge a perfeição do conhecimento, chega à conclusão que Krishna, ou Deus, é a causa original de todas as causas. Em vez de especular sobre a medição de Deus - se Ele é tão comprido e tão largo - ou filosofar, a pessoa tem que chegar à conclusão do Brahma-samhita: sarva-karana-karanam: "Krishna, ou Deus, é a causa de todas as causas". Essa é a perfeição do conhecimento.

Assim o Veda-stuti, ou as preces oferecidas pelos Vedas personificados ao Garbhodakashayi Vishnu, foi narrado primeiramente na sucessão discipular por Sanandana a seus irmãos, todos os quais nasceram de Brahma. No início, os quatro Kumaras foram os primeiros a nascer de Brahma; portanto eles são conhecidos como purva-jata. É afirmado no Bhagavad-gita que o sistema parampara, ou a sucessão discipular, começa com o Próprio Krishna. Similarmente, aqui, nas preces dos Vedas personificados, deve-se entender que o sistema parampara começa com a Personalidade de Deus Narayana Rishi. Devemos lembrar que este Veda-stuti é narrado por Kumara Sanandana, e a narração é repetida por Narayana Rishi em Bodi Ashrama. Narayana Rishi é a encarnação de Krishna para nos mostrar o caminho da auto-realização por se submeter a severas austeridades. Nesta era, o Senhor Chaitanya demonstrou o caminho do serviço devocional por Se colocar no papel de um devoto puro. Similarmente, no passado, o Senhor Narayana Rishi foi uma encarnação de Krishna que realizou severas austeridades na cordilheira Himalaia. Sri Narada Muni ouvia Dele. Assim, na declaração dada por Narayana Rishi a Narada Muni, como foi narrada por Kumara Sanandana na forma do Veda-stuti, entende-se que Deus é o supremo único e todos os outros são Seus serventes.

No Chaitanya Charitamrita está afirmado, ekala isvara krsna: "Krishna é o único Deus supremo". Ara sarva bhrtya: "Todos os outros são Seus servos". Yare yaiche nacaya, sa taiche kare nrtya: "O Supremo Senhor, do modo que Ele deseja, engaja todos os seres vivos em diferentes atividades, e assim eles exibem seus diferentes talentos e tendências". Este Veda-stuti assim é a instrução original a respeito da relação que existe entre o ser vivo e a Suprema Personalidade de Deus. A mais alta plataforma de realização para o ser vivo é a realização de sua vida devocional. Ninguém pode se dedicar à vida devocional ou Consciência de Krishna a menos que seja plenamente livre da contaminação material. Narayana Rishi informou Narada Muni que a essência de todos os Vedas e literaturas Védicas (chamadas, os quatro Vedas, os Upanishads, os Puranas) ensinam a rendição de serviço amoroso devocional ao Senhor. Nessa conexão, Narayana Rishi usou uma palavra particular - rasa. No serviço devocional, esse rasa é a via mídia pela qual ou o princípio básico para intercambiar uma relação entre o Senhor e o ser vivo. Um rasa também é descrito nos Vedas como isavasya: "O Supremo Senhor é o reservatório de todo prazer". Todas as literaturas Védicas, os Puranas, os Vedas, os Upanishads, os Vedanta-sutras, etc., ensinam os seres vivos como alcançarem o estágio de rasa. O Bhagavatam também diz que as declarações do Mahapurana (Srimad Bhagavatam) contêm os rasas essenciais em todas as literaturas Védicas. Nigama-kalpa-taror galitam phalam. O Bhagavatam é a essência do fruto maduro na árvore da literatura Védica.

Nós entendemos que com a respiração da Suprema Personalidade de Deus foram emitidos os quatro Vedas, chamados o Rg-veda, o Sama-veda, Yajur-veda, e o Atharva-veda, e as histórias tais quais o Mahabharata e todos os Puranas, que também são consideradas como a história do mundo. As histórias Védicas como os Puranas e Mahabharata são chamadas de o quinto Veda.

Os versos do Veda-stuti são considerados a essência de todo conhecimento Védico. Os quatro Kumaras e todos os outros sábios sabem perfeitamente que serviço devocional em Consciência de Krishna é a essência de todas literaturas Védicas, e todos eles pregam isso em diferentes planetas, em viagens pelo espaço sideral. Está afirmado aqui que esses sábios, inclusive Narada Muni, raramente viajam por terra; eles viajam perpetuamente pelo espaço.

Sábios iguais a Narada e os Kumaras viajam por todo o universo a fim de educar as almas condicionadas e mostrar a elas que sua ocupação neste mundo não é a do prazer sensual, e sim restabelecerem-se novamente em sua posição original do serviço devocional para a Suprema Personalidade de Deus. É dito em vários lugares que os seres vivos são como fagulhas no fogo, e a Suprema Personalidade de Deus é o próprio fogo em si. De alguma forma ou de outra, quando as fagulhas caem do fogo, perdem sua iluminação natural; assim é comprovado que os seres vivos vêm a este mundo material exatamente igual fagulhas caem de um grande fogo. O ser vivo quer imitar Krishna e tenta dominar a natureza material; assim ele esquece sua posição original, e seu poder de iluminação, sua identidade espiritual, é extinto. Entretanto, se um ser vivo adota a Consciência de Krishna, ele é restabelecido em sua posição original. Sábios e santos iguais a Narada e os Kumaras viajam por todo o universo para educar pessoas e encorajar seus discípulos a pregarem este processo do serviço devocional para que todas as almas condicionadas possam ser capazes de reviver sua consciência original, ou Consciência de Krishna, e assim obter alívio das condições miseráveis da vida material.

Sri Narada Muni é um naistika-brahmacari. Existem quatro tipos de brahmacari, e o primeiro é chamado savitra, que se refere a um brahmacari que, depois da iniciação e da cerimônia do cordão sagrado, deve observar pelo menos três dias de celibato. O próximo é chamado prajapatya, que se refere a um brahmacari que estritamente observa celibato por pelo menos um ano depois da iniciação. O próximo é chamado brahma-brahmacari, que se refere a um brahmacari que estritamente observa celibato do momento da iniciação até o momento quando completar seu estudo da literatura Védica. O próximo estágio é chamado naistika, que se refere a um brahmacari que é celibatário através de sua vida inteira. Desses, os três primeiros são upqrvma, significa que o brahmacari pode casar mais tarde depois que o período brahmacari acabar. O naistika-brahmacari é completamente relutante em ter qualquer vida sexual; assim os Kumaras e Narada são conhecidos como naistika-brahmacaris. O sistema de vida brahmacari é especialmente vantajoso porque incrementa o poder de memória e determinação. É especificamente mencionado nessa conexão porque Narada era um naistika-brahmacari, ele podia lembrar qualquer coisa que ouviu de seu mestre espiritual e nunca esquecia isso. Alguém que pode lembrar tudo perpetuamente se chama sruta-dhara. Um brahmacari sruta-dhara pode repetir tudo que ele ouviu literalmente sem notas e sem referência a livros. O grande sábio Narada tem essa qualificação, e portanto, ao aceitar instruções de Narayana Rishi, ele está dedicado a propagar a filosofia do serviço devocional por todo o mundo. Porque esses grandes sábios podem lembrar tudo, eles são muito introspectivos, auto-realizados e completamente fixos no serviço do Senhor. Assim, o grande sábio Narada, depois de ouvir de seu mestre espiritual Narayana Rishi, tornou-se completamente realizado. Ele ficou estabelecido na verdade, e ficou tão feliz que ofereceu as seguintes preces a Narayana Rishi.

Um naistika-brahmacari também é chamado vira-vrata. Narada Muni chamou Narayana Rishi de encarnação de Krishna, e ele especificamente O chamou de benquerente supremo das almas condicionadas. Está afirmado no Bhagavad-gita que o Senhor Krishna descende em cada milênio justamente para dar proteção a Seus devotos e para aniquilar os não devotos. Narayana Rishi por ser uma encarnação de Krishna também é chamado de benquerente das almas condicionadas. Como afirmado no Bhagavad-gita, todos devem saber que não existe outro benquerente igual a Krishna. Todos devem entender que o Senhor Krishna é o benquerente de todos e devem se abrigar em Krishna. Desse modo, a pessoa pode se tornar plenamente confiante e satisfeita por saber que tem alguém capaz de dar a ela proteção. Krishna em Pessoa, Suas encarnações e Sua expansões plenárias são todos benquerentes supremos das almas condicionadas, mas Krishna é o benquerente mesmo para os demônios, porque Ele deu salvação a todos demônios que vieram para matá-Lo em Vrindavana; portanto as atividades de bem-estar de Krishna são absolutas, porque mesmo embora Ele aniquila um demônio ou dá proteção a um devoto, Suas atividades são uma e a mesma. É dito que a demônia Putana foi elevada à mesma posição da mãe de Krishna. Quando Krishna mata um demônio, deve-se saber que o demônio é supremamente beneficiado com isso; entretanto, um devoto puro é sempre protegido pelo Senhor.

Narada Muni, depois de oferecer respeitos a seu mestre espiritual, foi para o ashrama de Vyasadeva e narrou a história inteira para seu discípulo. Assim Narada Muni, depois de ser recebido propriamente por Vyasadeva em seu ashrama e sentado muito confortavelmente, começou a narrar o que ele ouviu de Narayana Rishi. Dessa forma, Shukadeva Goswami informou Maharaja Parikshit das respostas para suas perguntas a respeito da essência do conhecimento Védico e a respeito do que é considerado como o objetivo último nos Vedas. O objetivo supremo da vida é procurar as bênçãos transcendentais da Suprema Personalidade de Deus e assim ficar dedicado ao serviço amoroso do Senhor. Deve-se seguir os passos de Shukadeva Goswami e de todos os Vaishnavas na sucessão discipular e deve-se prestar respeitosas reverências ao Senhor Krishna, a Suprema Personalidade de Deus Hari. As quatro seitas de sucessão discipular Vaishnava, chamadas o Madhva-sampradaya, o Ramanuja-sampradaya, o Visnusvami-sampradaya e o Nimbarka-sampradaya, em seguimento de todas as conclusões Védicas, concordam que a pessoa deve se render à Suprema Personalidade de Deus.

As literaturas Védicas são divididas em duas partes: os srutis e os smrtis. Os srutis são os quatro Vedas: Rk, Sama, Atharva e Yajus, e os Upanishads, e os smrtis são os Puranas como Mahabharata, que inclui o Bhagavad-gita. A conclusão de todas essas é que a pessoa deve conhecer Sri Krishna como a Suprema Personalidade de Deus. Ele é o Parampurusha, ou a Suprema Personalidade de Deus sob cuja superintendência a natureza material funciona, ao ser criada, mantida e destruída. Depois da criação, o Supremo Senhor encarna em três, Brahma, Vishnu e Senhor Shiva. Todos esses são encarregados das três qualidades da natureza material, porém a direção última está na mão do Senhor Vishnu. As atividades completas da natureza material sob os três modos são conduzidas sob a direção da Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Isso é confirmado no Bhagavad-gita, nyadarsana, e nos Vedas: sa aiksata.

Os filósofos Sankhyaite ateístas oferecem seus argumentos que esta manifestação cósmica é devido a prakrti e purusa. Eles argumentam que natureza e energia material constituem a causa material e a causa efetiva. Todavia Krishna é a causa de todas as causas. Ele é a causa de todas as causas materiais e efetivas. Prakrti e purusa não são a causa última. Superficialmente parece que uma criança nasce devido à combinação de pai com mãe, mas a causa última tanto do pai quanto da mãe é Krishna. Ele é portanto a causa original, ou a causa de todas as causas, como confirmado no Brahma-samhita.

Na natureza material, tanto o Supremo Senhor quanto os seres vivos entram. O Supremo Senhor Krishna, por uma de Suas expansões plenárias, manifesta-Se como Kshirodakashayi Vishnu e o Maha-Vishnu, a forma gigantesca de Vishnu deitada no Oceano Causal. Então dessa forma gigantesca de Maha-Vishnu, o Garbhodakashayi Vishnu Se expande em cada universo. Dele, Brahma, Vishnu e Shiva expandem. Vishnu entra no coração de todos os seres vivos, e também dentro de todos elementos materiais, inclusive o átomo. O Brahma-samhita diz: andantarastha-paramanu-cayantarastham. Ele está dentro deste universo e também dentro de cada átomo.

O ser vivo tem um corpo material pequeno tomado por várias espécies e formas, e similarmente o universo inteiro é nada mais além do corpo material da Suprema Personalidade de Deus. Esse corpo é descrito nos sastras como virata rupa. Do mesmo modo que um ser vivo individual mantém seu corpo particular, a Suprema Personalidade de Deus mantém a manifestação cósmica inteira e tudo dentro dela. Logo que o ser vivo individual deixa o corpo material, o corpo é imediatamente aniquilado, e similarmente logo que o Senhor Vishnu deixa a manifestação cósmica, tudo é aniquilado. Somente quando o ser vivo individual se rende à Suprema Personalidade de Deus que sua liberação da existência material está garantida. Isso é confirmado no Bhagavad-gita: man eva ye prapadyante mayam etam taranti te. Rendição à Suprema Personalidade de Deus é portanto a causa da liberação e nada mais. Como o ser vivo se torna liberado dos modos da natureza material depois de se render à Suprema Personalidade de Deus é ilustrado por um homem que dorme dentro de um quarto. Quando um homem dorme, todos vêm que ele está presente dentro do quarto, mas na realidade o homem em si não está dentro daquele corpo, porque enquanto dorme o homem esquece sua existência corpórea, embora outras pessoas possam ver que seu corpo está presente. Similarmente, uma pessoa liberada dedicada ao serviço devocional do Senhor pode ser vista por outros como engajada em afazeres domésticos do mundo material, mas porque sua consciência está fixa em Krishna ele não vive dentro deste mundo material. Seus compromissos são diferentes, exatamente igual os compromissos do homem que dorme são diferentes dos compromissos de seu corpo. É confirmado no Bhagavad-gita que um devoto dedicado tempo integral no serviço amoroso transcendental do Senhor já ultrapassou a influência dos três modos da natureza material. Ele já está situado na plataforma Brahman da realização espiritual, apesar de parecer que ele vive dentro dum corpo ou dentro do mundo material.

Srila Rupa Goswami afirmou nessa conexão em seu Bhakti-rasamrita-sindhu que a pessoa cujo único desejo é servir a Suprema Personalidade de Deus pode estar situada em qualquer condição dentro do mundo material, mas ela é entendida como jivanmukta, isso quer dizer que ela deve ser considerada liberada enquanto vive dentro do corpo ou do mundo material. A conclusão, portanto, é que a pessoa plenamente dedicada na Consciência de Krishna é uma pessoa liberada. Essa pessoa não tem nada a ver com o mundo material. Aqueles que não são conscientes de Krishna são chamados karmis e jñanis, e eles pairam sobre as plataformas corpórea e mental e assim não são liberados. Essa situação se chama kaivalya-nirasta-yoni. Uma pessoa situada na plataforma transcendental se torna livre da repetição de nascimento e morte. Isso também é confirmado no Bhagavad-gita, Quarto Capítulo. Simplesmente por conhecer a natureza transcendental da Suprema Personalidade de Deus Krishna, a pessoa se torna livre das correntes da repetição de nascimento e morte, e depois de deixar o presente corpo, vai de volta ao lar, de volta ao Supremo. Essa é a conclusão de todos os Vedas. Assim a pessoa deve se render aos pés de lótus do Senhor Krishna depois de entender as preces oferecidas pelos Vedas personificados.

     

     

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Seis de Krishna, "Orações dos Vedas Personificados".

           

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 87

Liberação do Senhor Shiva

   

Como um grande devoto de Krishna, o Rei Parikshit já estava liberado, mas para esclarecimento ele fez várias perguntas a Shukadeva Goswami. No capítulo anterior, a pergunta do Rei Parikshit foi, "Qual é o objetivo último dos Vedas"? E Shukadeva Goswami explicou a matéria, ao dar descrições das autoridades da sucessão discipular, a começar por Sanandana até Narayana Rishi, Narada, Vyasadeva, e depois ele mesmo. A conclusão foi que serviço devocional, ou bhakti, é o objetivo último dos Vedas. Um devoto neófito pode questionar, "Se o objetivo último da vida, ou a conclusão dos Vedas, é se elevar à plataforma do serviço devocional, então porque é observado que um devoto do Senhor Vishnu não é geralmente muito próspero materialmente, enquanto um devoto do Senhor Shiva é visto como muito opulento"? A fim de esclarecer essa matéria, Parikshit Maharaja perguntou a Shukadeva Goswami: "Meu querido Shukadeva Goswami, geralmente se percebe aqueles que se dedicam à adoração do Senhor Shiva, seja na sociedade humana, demoníaca, ou dos semideuses, tornam-se muito opulentos materialmente, apesar do Senhor Shiva mesmo viver igual uma pessoa em pobreza extrema. Por outro lado, os devotos do Senhor Vishnu, que é o controlador da deusa da fortuna, não parecem ser muito prósperos, e às vezes são vistos a viver sem nenhuma opulência material mesmo. O Senhor Shiva vive embaixo de uma árvore ou na neve da Cordilheira Himalaia. Ele nem mesmo constrói uma casa para Si próprio, mas ainda assim, os adoradores do Senhor Shiva são muito ricos. Krishna, ou Senhor Vishnu, entretanto, vive muito opulentamente, seja em Vaikuntha ou neste mundo material, mas Seus devotos parecem ser extremamente pobres. Por que isso"?

A pergunta de Maharaja Parikshit é muito inteligente. As duas classes de devotos, chamadas os devotos do Senhor Shiva e os devotos do Senhor Vishnu, estão sempre em desacordo. Mesmo hoje em dia na Índia, os seguidores de Ramanujacharya e os seguidores de Shankaracharya fazem reuniões ocasionais para a compreensão da conclusão Védica. Geralmente, os seguidores de Ramanujacharya saem vitoriosos dessas reuniões. Assim Parikshit Maharaja queria esclarecer a situação ao perguntar essa questão a Shukadeva Goswami. O Senhor Shiva vive tão pobre apesar de Seus devotos parecerem ser muito opulentos, enquanto o Senhor Krishna ou Senhor Vishnu é sempre opulento, e ainda assim Seus devotos parecem ser extremamente pobres, é uma situação que parece ser contraditória e intrigante para uma pessoa de discernimento.

Shukadeva Goswami começou a responder à pergunta do Rei Parikshit sobre as aparentes contradições sobre a adoração do Senhor Shiva e a do Senhor Vishnu. O Senhor Shiva é o mestre da energia material. A energia material é representada pela deusa Durga, e o Senhor Shiva é o esposo dela. Porque a deusa Durga está completamente sob a subjugação do Senhor Shiva, fica entendido que o Senhor Shiva é o mestre desta energia material. A energia material é manifesta em três qualidades, chamadas bondade, paixão e ignorância, e portanto o Senhor Shiva é o mestre dessas três qualidades. Apesar de Ele estar na associação com essas qualidades para o benefício da alma condicionada, o Senhor Shiva é o diretor e não é afetado. Apesar da alma condicionada ser afetada pelas três qualidades, o Senhor Shiva, porque Ele é o mestre dessas três qualidades, não é afetado por elas.

Pelas declarações de Shukadeva Goswami podemos entender que os efeitos de adorar diferentes semideuses não são, como pessoas menos inteligentes supõem, os mesmos do que adorar o Senhor Vishnu. Ele afirma claramente que por adorar o Senhor Shiva a pessoa alcança uma recompensa, enquanto por adorar o Senhor Vishnu a pessoa alcança uma recompensa diferente. Isso também é confirmado no Bhagavad-gita: Aqueles que adoram os diferentes semideuses alcançam os resultados desejados que os respectivos semideuses podem premiar. Similarmente, aqueles que adoram a energia material recebem o resultado adequado dessas atividades, e aqueles que adoram os pitas recebem resultados similares. Porém aqueles que estão dedicados ao serviço devocional ou adoram o Supremo Senhor, Vishnu ou Krishna, vão para os planetas Vaikuntha ou Krishnaloka. Uma pessoa não pode se aproximar da região transcendental ou paravyoma, o céu espiritual, por adorar o Senhor Shiva ou Brahma ou qualquer outro semideus.

Porque este mundo material é um produto das três qualidades da natureza material, todas variedades de manifestações vêm dessas três qualidades. Com a ajuda da ciência materialista, a civilização moderna criou muitas máquinas e confortos de vida, e ainda assim são apenas variedades de interações das três qualidades materiais. Apesar dos devotos do Senhor Shiva serem capazes de obter muitas aquisições materiais, devemos saber que eles simplesmente coletam produtos manufaturados pelas três qualidades. As três qualidades são novamente subdivididas em dezesseis, chamadas dez sentidos (cinco sentidos de trabalho e cinco sentidos de adquirir conhecimento), a mente e os cinco elementos (terra, água, fogo, ar e céu). Esses dezesseis são mais extensões das três qualidades. Felicidade material ou opulência significa prazer dos sentidos, especificamente dos genitais, da língua e da mente. Por exercitar nossas mentes, nós criamos muitas coisas prazerosas justamente para o desfrute dos genitais e da língua. A opulência de uma pessoa dentro deste mundo material é estimada em termos de seu exercício dos genitais e da língua, ou, em outras palavras, quanto ela é capaz de utilizar bem suas capacidades sexuais e quanto ela é capaz de satisfazer bem seu paladar fastidioso por comer pratos saborosos. O avanço material da civilização necessita criar objetos de desfrute pela elaboração mental justamente para se tornar feliz na base desses dois princípios: prazeres para os genitais e prazeres para a língua. Aqui se encontra a resposta às perguntas do Rei Parikshit para Shukadeva Goswami sobre porque os adoradores do Senhor Shiva são tão opulentos.

Os devotos do Senhor Shiva são somente opulentos em termos das qualidades materiais. De fato, esse assim chamado avanço da civilização é a causa do enredamento na existência material. Não é na realidade avanço, e sim degradação. A conclusão é porque o Senhor Shiva é o mestre das três qualidades, a seus devotos são dadas coisas manufaturadas pelas interações dessas três qualidades para satisfação dos sentidos. No Bhagavad-gita, entretanto, obtemos instrução do Senhor Krishna que uma pessoa tem que transcender à existência qualitativa. Nistraiguno bhavarjuna: a missão da vida humana é se tornar transcendental às três qualidades. A menos que a pessoa seja nistraigunya, não pode obter liberdade do enredamento material. Em outras palavras, favores recebidos do Senhor Shiva não são realmente benéficos para a alma condicionada, apesar de aparentemente essas facilidades parecerem ser opulentas.

Shukadeva Goswami continuou: "A Suprema Personalidade de Deus é transcendental às três qualidades da natureza material". Está afirmado no Bhagavad-gita qualquer um que se rende a Ele supera o controle das três qualidades da natureza material. Portanto, porque Seus devotos são transcendentais ao controle das três qualidades, certamente Ele Próprio é transcendental. Está afirmado, portanto, no Srimad Bhagavatam que Hari, ou Krishna, é a Suprema Personalidade original. Existem dois tipos de prakrtis, ou potências, chamadas a potência interna e a potência externa, e Krishna é o senhor de ambas prakrtis ou potências. Ele é sarva-drk, ou o supervisor de todas as ações das potências interna e externa, e Ele é também descrito como upadrasta, o conselheiro supremo. Porque Ele é o conselheiro supremo, Ele está acima de todos os semideuses, que meramente seguem as ordens do conselheiro supremo. Assim, se alguém segue diretamente as instruções do Supremo Senhor, como indicado no Bhagavad-gita e no Srimad Bhagavatam, então gradualmente se torna nirguna, ou acima das interações das qualidades materiais. Ser nirguna significa ser desprovido de opulências materiais porque, como já explicamos, opulência material significa um incremento das ações e reações das três qualidades materiais. Por adorar a Suprema Personalidade de Deus, em vez de ficar enfatuada com opulência material, a pessoa se torna enriquecida com avanço espiritual do conhecimento em Consciência de Krishna. Tornar-se nirguna significa alcançar paz eterna, destemor, religiosidade, conhecimento e renúncia. Todos esses são sintomas de se tornar livre da contaminação das qualidades materiais.

Shukadeva Goswami, em resposta às perguntas de Maharaja Parikshit, continuou a citar um caso histórico a respeito do avô de Parikshit Maharaja, Rei Yudhisthira. Ele disse que depois de terminar o sacrifício asvamedha na grande arena de sacrifício, o Rei Yudhisthira, na presença de grandes autoridades, inquiriu sobre esse mesmo ponto: como é que os devotos do Senhor Shiva se tornam materialmente opulentos, enquanto os devotos do Senhor Vishnu não? Shukadeva Goswami especificamente se referiu ao Rei Yudhisthira como "seu avô" para que Maharaja Parikshit pudesse ser encorajado ao pensar que estava relacionado a Krishna e que seus avós eram intimamente conectados com a Suprema Personalidade de Deus.

Apesar de Krishna ser sempre muito satisfeito por natureza, quando essa pergunta foi feita por Maharaja Yudhisthira, Ele ficou ainda mais satisfeito porque essas perguntas e suas respostas gerariam uma grande compreensão para a sociedade consciente de Krishna inteira. Sempre que o Senhor Krishna fala algo para um devoto específico, isso não é destinado somente àquele devoto, mas para a sociedade humana inteira. Instruções pela Suprema Personalidade de Deus são importantes mesmo para os semideuses, liderados pelo Senhor Brahma, Senhor Shiva e outros, e qualquer um que não aproveita a vantagem das instruções da Suprema Personalidade de Deus, que descende dentro deste mundo para o benefício de todos os seres vivos, é certamente muito desafortunado.

O Senhor Krishna respondeu à pergunta de Maharaja Yudhisthira como se segue: "Eu especialmente favoreço um devoto e especialmente desejo cuidar dele, a primeira coisa que faço é levar embora suas riquezas". Quando um devoto se torna um mendigo sem um tostão ou é posto numa posição comparativamente pobre em necessidade, seus parentes e membros familiares não têm mais interesse nele, e na maioria dos casos eles abandonam sua conexão com ele. O devoto então indubitavelmente se torna infeliz. Primeiro de tudo ele se torna infeliz porque suas riquezas foram levadas por Krishna, e ele fica mais infeliz ainda quando seus familiares o desertam por causa da sua condição de pobre necessitado. Devemos notar, entretanto, que quando um devoto cai numa condição miserável desse modo, não é devido a atividades impiedosas passadas, conhecidas como karma-phala; a posição de pobre necessitado de um devoto é uma criação da Personalidade de Deus. Similarmente, quando um devoto se torna materialmente opulento, isso também não é devido a suas atividades piedosas. Em ambos os casos, se o devoto se torna mais pobre ou rico, o arranjo é feito pela Suprema Personalidade de Deus. Esse arranjo é especialmente feito por Krishna para Seu devoto justamente para torná-lo completamente dependente Dele e livrá-lo de todas obrigações materiais. Ele pode então concentrar suas energias, mente e corpo - tudo - para o serviço do Senhor, e isso é serviço devocional puro. No Narada-pañcharatra é portanto explicado, sarvopadhi-vinirmuktam, que significa "estar livre de todas designações". Trabalhos executados para família, sociedade, comunidade, nação, ou humanidade são todos designados: "Eu pertenço a esta sociedade", "eu pertenço a esta comunidade", "eu pertenço a esta nação", "eu pertenço a esta espécie de vida". Tais identidades são meramente designações. Quando, pela graça do Senhor, um devoto fica livre de todas designações, seu serviço devocional é realmente naiskarma. Jñanis são muito atraídos pela posição de naiskarma, na qual as ações da pessoa não têm mais efeito material. Quando as ações do devoto estão livres de efeitos, não estão mais na categoria de karma-phalam, ou ações lucrativas. Como explicado antes pelos Vedas personificados, a felicidade e tristeza de um devoto são produzidas pela Personalidade de Deus para o devoto, e o devoto portanto não se importa caso esteja em felicidade ou em tristeza. Ele continua com seus deveres na execução do serviço devocional. Apesar de seu comportamento parecer estar sujeito à ação e reação de atividades lucrativas, ele está na verdade livre dos resultados da ação.

Pode-se questionar porque um devoto é posto numa tribulação dessa pela Personalidade de Deus. A resposta é que esse tipo de arranjo pelo Senhor é justamente como um pai que às vezes se torna cruel com seus filhos. Porque o devoto é uma alma rendida e é cuidado pelo Supremo Senhor, sempre que o Senhor o põe em qualquer condição de vida - seja de tristeza ou felicidade - deve-se entender que por trás desse arranjo há um grande plano designado pela Personalidade de Deus. Por exemplo, o Senhor Krishna pôs os Pandavas numa condição de sofrimento tão aguda que mesmo o patriarca Bhisma não pôde compreender como tanto sofrimento podia ocorrer. Ele lamentou que apesar de toda a família Pandava ser liderada pelo Rei Yudhisthira, o rei mais piedoso, e protegida pelos dois grandes guerreiros Bhima e Arjuna, e apesar, acima de tudo, dos Pandavas serem amigos íntimos do Senhor Krishna, mesmo assim eles tiveram que passar por essas tribulações. Mais tarde, entretanto, provou-se que isso foi planejado pela Suprema Personalidade de Deus como parte de Sua grande missão para aniquilar os malfeitores e proteger os devotos.

Outra questão pode ser levantada: Porque um devoto do Senhor é colocado em diferentes tipos de condições felizes e sofridas pelo arranjo da Personalidade de Deus, e um homem comum é colocado nessas condições como resultado de suas atividades passadas, então qual é a diferença? Como o devoto é melhor do que o karmi? A resposta é que os karmis e os devotos não estão no mesmo nível. Em qualquer condição de vida que um karmi possa estar, ele continua no ciclo de nascimento e morte porque a semente do karma, ou atividade lucrativa, está lá, e ela frutifica sempre que há uma oportunidade. Pela lei do karma o homem comum é perpetuamente enredado em repetido nascimento e morte, enquanto o sofrimento e felicidade de um devoto, por não estarem sob as leis do karma, são parte de um arranjo temporário do Supremo Senhor que não enredam o devoto. Um arranjo desse é feito pelo Senhor somente para servir um propósito temporário. Se um karmi executar atos auspiciosos, é elevado aos planetas celestiais, e se ele agir impiedosamente, ele é colocado numa condição infernal de vida. Mas se um devoto age numa maneira assim chamada piedosa ou impiedosa, ele nem é elevado nem é degradado, mas é transferido para o reino espiritual. Portanto a felicidade e sofrimento de um devoto e a felicidade e sofrimento de um karmi não estão no mesmo nível. Esse fato é corroborado por um discurso de Yamaraja para seus servos em conexão com a liberação de Ajamila. Yamaraja aconselhou seus seguidores sobre pessoas que nunca pronunciaram o santo nome do Senhor nem lembraram a forma, qualidade e passatempos do Senhor devem ser aproximadas por seus vigilantes. Yamaraja também aconselhou seus servos para nunca se aproximarem dos devotos. Ao contrário, ele instruiu seus mensageiros caso encontrassem um devoto, deviam prestar suas respeitosas reverências. Por isso não há questão de um devoto ser promovido ou degrado dentro deste mundo material. Do mesmo modo que existe um abismo de diferença entre a punição concedida pela mãe e a punição concedida por um inimigo, assim a condição de sofrimento de um devoto não é a mesma igual à condição de sofrimento de um karmi comum.

Aqui pode ser levantada outra questão. Se Deus é todo-poderoso, por que Ele tenta reformar Seu devoto ao colocá-lo em sofrimento? A resposta é que quando a Suprema Personalidade de Deus põe Seu devoto numa condição de sofrimento, não é sem propósito. Às vezes o propósito é que em sofrimento os sentimentos do devoto de apego por Krishna são magnificados. Por exemplo, quando Krishna, antes de deixar a capital dos Pandavas para Sua casa, pediu permissão para partir, Kuntidevi disse, "Meu querido Krishna, em nossa condição de sofrimento, Você está sempre presente conosco. Agora, que fomos elevados à posição nobre, Você nos deixa. Eu por isso prefiro então viver em sofrimento do que perdê-Lo". Quando um devoto é colocado numa situação de sofrimento, suas atividades devocionais são aceleradas. Por isso, para mostrar favor especial a um devoto, o Senhor às vezes o põe em sofrimento. Além disso, é dito que a doçura da felicidade é mais doce para aqueles que saborearam amargura. O Supremo Senhor descende neste mundo material justamente para proteger Seus devotos do sofrimento. Em outras palavras, se os devotos não estivessem numa condição de sofrimento, o Senhor não teria descendido. Porque para Sua matança de demônios e malfeitores, isso pode ser feito muito facilmente por Suas várias energias, justamente igual muitos asuras que são mortos por Sua energia externa, deusa Durga. Portanto o Senhor não precisa descender pessoalmente para matar esses demônios, mas quando Seu devoto está em sofrimento, Ele tem que vir. O Senhor Nrisimhadeva apareceu não para matar Hiranyakashipu mas para ver Prahlada e dar a ele bênçãos. Em outras palavras, porque Prahlada Maharaja foi posto em sofrimento muito grande, o Senhor apareceu.

Quando, depois de densa, noite escura, há finalmente o nascer do sol na manhã, é muito agradável. Quando há calor excessivo, água fria é muito agradável e quando há inverno muito frio, água quente é muito agradável. Similarmente, quando um devoto, depois de experimentar a condição do mundo material, saboreia a felicidade espiritual concedida pelo Senhor, sua posição se torna ainda mais agradável e saborosa.

O Senhor continuou: "Quando Meu devoto é desprovido de todas as riquezas materiais e é desertado por seus parentes, amigos e membros familiares, porque não tem ninguém para cuidar dele, ele completamente se abriga nos pés de lótus do Senhor". Srila Narottama Dasa Thakura cantou nessa conexão, "Meu querido Senhor Krishna, ó filho de Nanda Maharaja, agora Você está perante mim junto com Srimati Radharani, a filha do Rei Vrishabhanu. Agora eu me rendo a Você. Por favor, aceite-me. Por favor, não me chute para fora. Eu não tenho nenhum outro abrigo do que Você".

Quando um devoto é colocado em assim chamadas condições miseráveis e é desprovido de riquezas e família, ele tenta reviver sua posição original de opulência material. Mas apesar de tentar novamente e novamente, Krishna novamente e novamente leva embora todos seus recursos. Assim ele finalmente fica desapontado em atividades materiais, e nesse estágio de frustração em todos esforços, ele pode se render plenamente à Suprema Personalidade de Deus. Essas pessoas são aconselhadas pelo Senhor interiormente para associar com devotos. Por se associar com devotos elas naturalmente se tornam inclinadas a prestar serviço para a Personalidade de Deus, e imediatamente recebem todas facilidades do Senhor para avanço na Consciência de Krishna. Os não devotos, entretanto, são muito cuidadosos em preservarem sua condição de vida material. Geralmente, portanto, esses não devotos não chegam a adorar a Suprema Personalidade de Deus, mas adoram o Senhor Shiva ou outros semideuses por lucro material imediato. No Bhagavad-gita é dito, portanto, kanksantah karmanam siddhim yajanta iha devatah: os karmis, a fim de alcançar sucesso dentro deste mundo material, adoram os vários semideuses. Também é afirmado pelo Senhor Krishna aqueles que adoram os semideuses não são maduros em sua inteligência. Os devotos da Suprema Personalidade de Deus, portanto, por causa de seu forte apego por Ele, não vão tolamente aos semideuses.

O Senhor Krishna disse para o Rei Yudhisthira: "Meu devoto não é dissuadido por quaisquer condições de vida adversa; ele sempre permanece firme e fixo. Por isso Eu Me dou a ele, e Eu o favoreço para que ele possa alcançar o sucesso mais elevado na vida". A misericórdia concedida sobre o devoto em provação pela Suprema Personalidade é descrita como Brahman, indica que a grandeza dessa misericórdia pode ser comparada somente à grandeza todo-penetrante. Brahman significa ilimitadamente grande e ilimitadamente expansível. Essa misericórdia também é descrita como parama, porque não tem nenhuma comparação dentro deste mundo material, e ela também é chamada suksmam, muito fina. A misericórdia do Senhor sobre o devoto provado não é apenas grandiosa e expansível ilimitadamente, mas é da mais fina qualidade de amor transcendental entre o devoto e o Senhor. Essa misericórdia é descrita mais ainda como cinmatram, completamente espiritual. O uso da palavra matram indica espiritualidade absoluta, sem nenhuma mancha de qualidades materiais. A misericórdia também é chamada sat, eterna, e anantakam, ilimitada. Porque o devoto do Senhor é premiado com tanto benefício espiritual ilimitado, por que ele deve adorar os semideuses? Um devoto de Krishna não adora o Senhor Shiva ou Brahma ou qualquer outro semideus subordinado. Ele se devota completamente ao serviço amoroso transcendental da Suprema Personalidade de Deus.

Shukadeva Goswami continuou: "Os semideuses, liderados pelo Senhor Brahma e Senhor Shiva e inclusive Senhor Indra, Chandra, Varuna e outros, são aptos a se tornarem muito rapidamente satisfeitos e muito rapidamente irritados pelo bom ou mau comportamento de seus devotos. Mas isso não é assim com a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu". Isso significa que qualquer ser vivo dentro deste mundo material, inclusive os semideuses, é conduzido pelos três modos da natureza material, e portanto as qualidades de ignorância e paixão são muito proeminentes dentro deste mundo material. Aqueles devotos que tomam bênçãos dos semideuses também estão infectados com as qualidades materiais, especialmente paixão e ignorância. O Senhor Sri Krishna portanto afirmou no Bhagavad-gita que tomar bênçãos dos semideuses é menos inteligente porque quando alguém toma bênçãos dos semideuses, os resultados de tais bênçãos são temporários. É fácil obter opulência material por adorar os semideuses, mas o resultado às vezes é desastroso. Assim, as bênçãos derivadas dos semideuses são apreciadas pela menos inteligente classe de homens. Pessoas que recebem bênçãos dos semideuses gradualmente se tornam enfatuadas com opulência material e negligentes com seus benfeitores.

Shukadeva Goswami falou para o Rei Parikshit assim: "Meu querido Rei, o Senhor Brahma, Senhor Vishnu, e Senhor Shiva, o trio principal da criação material, são capazes de abençoar ou amaldiçoar qualquer um. Desse trio, o Senhor Brahma e Senhor Shiva se tornam muito facilmente satisfeitos, e ao mesmo tempo ficam facilmente muito irritados. Quando eles ficam satisfeitos, dão bênçãos sem nenhuma consideração, mas quando ficam irritados, amaldiçoam o devoto sem nenhuma consideração. Mas o Senhor Vishnu não é assim. O Senhor Vishnu tem muita consideração. Quando um devoto quer alguma coisa do Senhor Vishnu, o Senhor Vishnu primeiro de tudo considera se essa bênção será boa para o devoto. O Senhor Vishnu nunca concede qualquer bênção que ultimamente provará desastrosa para o devoto, Ele é, por Sua natureza transcendental, sempre misericordioso, mesmo quando parece que Ele matou um demônio, ou mesmo quando Ele aparentemente fica irritado com um devoto, as atividades Dele são sempre auspiciosas. A Suprema Personalidade de Deus é portanto conhecido como todo-benéfico. Qualquer coisa que Ele faz é boa".

Quanto às bênçãos dadas por semideuses como o Senhor Shiva, há o seguinte incidente histórico citado por grandes sábios. Certa vez, o Senhor Shiva, depois de dar bênção a um demônio chamado Vrikasura, o filho de Shakuni, enredou-se numa posição muito perigosa. Vrikasura procurava por uma bênção e tentava decidir sobre quais das três deidades presidentes adorar a fim de obtê-la. Nesse meio tempo aconteceu que ele encontrou o grande sábio Narada e o consultou sobre quem ele deveria se aproximar para alcançar resultados rápidos para sua austeridade. Ele inquiriu, "Das três deidades, chamadas Senhor Brahma, Senhor Vishnu e Senhor Shiva, qual é a que fica satisfeita mais rapidamente"? Narada pôde entender o plano do demônio, e ele o aconselhou, "Melhor você adorar o Senhor Shiva; então você obterá rapidamente o resultado desejado. O Senhor Shiva é muito rapidamente satisfeito e muito rapidamente dessatisfeito também. Por isso tente satisfazer o Senhor Shiva". Narada também citou casos quando demônios como Ravana e Banasura enriqueceram com grandes opulências simplesmente por satisfazer o Senhor Shiva com preces. Porque o grande sábio Narada era ciente da natureza do demônio Vrikasura, ele não o aconselhou a se aproximar de Vishnu ou Senhor Brahma. Pessoas como Vrikasura que estão situadas no modo material da ignorância, não podem aderir à adoração de Vishnu.

Depois de receber instrução de Narada, o demônio foi para Kedaranatha. O local de peregrinação de Kedaranatha ainda existe perto de Kashmere. É quase sempre coberto por neve, mas parte do ano, durante o mês de julho, é possível ver a deidade, e os devotos vão lá oferecer seus respeitos. Kedaranatha é para os devotos do Senhor Shiva. De acordo com o princípio Védico, quando algo é oferecido para as deidades comerem, é oferecido num fogo. Por isso um sacrifício de fogo é necessário em todas as cerimônias. É especialmente afirmado nos shastras que deuses devem ser oferecidos algo para comer através do fogo. O demônio Vrikasura foi para Kedaranatha e acendeu um fogo de sacrifício para agradar o Senhor Shiva.

Depois de acender o fogo no nome de Shiva, ele começou a oferecer sua própria carne, ao cortá-la de seu corpo para assim satisfazer o Senhor Shiva. Aqui está um exemplo de adoração no modo da ignorância. No Bhagavad-gita, diferentes tipos de sacrifício são mencionados. Alguns sacrifícios são no modo da bondade, alguns são no modo da paixão, e alguns são no modo da ignorância. Existem diferentes tipos de tapasya e adoração porque existem diferentes tipos de pessoas dentro deste mundo. Porém a tapasya última, Consciência de Krishna, é o yoga mais elevado e sacrifício mais elevado. Como confirmado no Bhagavad-gita, o yoga mais elevado é pensar sempre no Senhor Krishna dentro do coração, e o sacrifício mais elevado é executar o sankirtana-yajña.

No Bhagavad-gita está afirmado que adoradores dos semideuses perderam sua inteligência. Como será revelado mais tarde neste capítulo, Vrikasura queria satisfazer o Senhor Shiva por um objetivo materialista de terceira classe, que era temporário e sem benefício real. Os asuras ou pessoas dentro do modo da ignorância aceitam essas bênçãos dos semideuses. Em completo contraste com esse sacrifício nos modos da ignorância, o processo de arcana-viddhi para adorar o Senhor Vishnu ou Krishna é muito simples. O Senhor Krishna diz no Bhagavad-gita que Ele aceita de Seu devoto mesmo uma pequena fruta, uma flor ou um pouco d'água, que podem ser conseguidos por qualquer pessoa, pobre ou rica. É claro, aqueles que são ricos não se espera que ofereçam apenas um pouco d'água, um pequeno pedaço de fruta ou uma folha para o Senhor. Um homem rico deve oferecer de acordo com sua posição, mas se acontecer do devoto ser um homem muito pobre, o Senhor aceitará mesmo a oferenda mais escassa. A adoração do Senhor Vishnu ou Krishna é muito simples, e pode ser executada por qualquer um neste mundo. Mas adoração no modo da ignorância, como exibida por Vrikasura, não é somente muito difícil e dolorosa, e também uma inútil perda de tempo. Portanto o Bhagavad-gita diz que os adoradores dos semideuses são desprovidos de inteligência; seu processo de adoração é muito difícil, e ao mesmo tempo o resultado obtido é oscilante e temporário.

Apesar de Vrikasura continuar seu sacrifício por seis dias, ele estava mesmo assim incapaz de ver o Senhor Shiva pessoalmente, que era seu objetivo; ele queria vê-lo face a face e pedir a ele por uma bênção. Aqui está outro contraste entre um demônio e um devoto. Um devoto é confiante que qualquer coisa ele ofereça à Deidade em serviço devocional pleno é aceita pelo Senhor, mas um demônio quer ver a sua deidade adorada face a face para que possa tomar a bênção diretamente. Por isso um devoto é chamado akama, livre de desejo, e um não devoto é chamado sarva-kama, ou desejoso de tudo. No sétimo dia, o demônio Vrikasura decidiu que deveria cortar sua cabeça e oferecê-la para satisfazer o Senhor Shiva. Assim ele tomou um banho num lago próximo, e sem secar seu corpo e cabelo, preparou-se para cortar sua cabeça. De acordo com o sistema Védico, um animal que é oferecido como um sacrifício tem que ser banhado primeiro, e enquanto o animal ainda está molhado ele é sacrificado. Quando o demônio estava assim preparado para cortar sua cabeça, o Senhor Shiva ficou muito comovido. Essa compaixão, entretanto, é um sintoma da qualidade da bondade. O Senhor Shiva é chamado trilinga. Assim sua manifestação da natureza da compaixão é um sinal da qualidade da bondade. Essa compaixão, entretanto, está presente em cada ser vivo. A compaixão do Senhor Shiva despertou porque o demônio ofereceu sua própria carne para o fogo do sacrifício. Isso é compaixão natural. Mesmo se um homem comum vir alguém se preparar para cometer suicídio, é seu dever tentar salvá-lo. Ele faz isso automaticamente. Não há necessidade de apelar para ninguém. Portanto quando o Senhor Shiva apareceu de dentro do fogo para impedir o demônio do suicídio, isso não foi como um grande favor para ele.

O demônio foi salvo de cometer suicídio pelo toque do Senhor Shiva; suas feridas corpóreas imediatamente curaram, e seu corpo se tornou como era antes. Então o Senhor Shiva disse ao demônio, "Meu querido Vrikasura, você não precisa cortar sua cabeça. Você pode pedir para mim qualquer bênção que deseje, e eu satisfarei o seu desejo. Eu não sei porque você queria cortar sua cabeça para me satisfazer. Eu me torno satisfeito mesmo com a oferenda de um pouco de água". Na realidade, de acordo com o processo Védico, o Shiva linga no templo ou a forma do Senhor Shiva no templo é adorada simplesmente por oferecer água do Ganges porque é dito que o Senhor Shiva fica grandemente satisfeito quando água do Ganges é derramada sobre sua cabeça. Geralmente, devotos oferecem água do Ganges e folhas da árvore bilva, que são especialmente destinadas para oferecer ao Senhor Shiva e à deusa Durga. A fruta dessa árvore também é oferecida ao Senhor Shiva. O Senhor Shiva assegurou Vrikasura que ele fica satisfeito com um processo de adoração muito simples. Por que então ele estava tão ansioso para cortar sua cabeça, e por que ele se sujeitou a tamanha dor por cortar seu corpo em pedaços e oferecer ao fogo? Não havia necessidade de penitências tão severas. De qualquer forma, por compaixão e solidariedade, o Senhor Shiva preparou para dar a ele qualquer bênção ele quisesse.

Quando o demônio foi oferecido essa facilidade pelo Senhor Shiva, ele pediu uma bênção temível e abominável. O demônio era muito pecaminoso, e pessoas pecaminosas não sabem que tipo de bênção deve ser pedida à deidade. Assim ele pediu ao Senhor Shiva para ser abençoado com poder tamanho para assim que ele tocasse a cabeça de qualquer um, ela iria imediatamente rachar, e o homem morreria. Os demônios são descritos no Bhagavad-gita como duskrtinas, ou malfeitores. Krti significa muito meritório, mas quando dus, é acrescentado, significa abominável. Em vez de se renderem à Suprema Personalidade de Deus, os duskrtinas adoram diferentes semideuses a fim de obter benefícios materiais abomináveis. Às vezes esses demônios na forma de cientistas materiais descobrem armas letais. Eles não podem mostrar seu poder meritório por descobrir algo que possa salvar o homem da morte, mas em vez disso eles descobrem armas que podem acelerar o processo da morte. Porque o Senhor Shiva é poderoso o bastante para dar qualquer bênção, o demônio poderia ter pedido a ele algo benéfico para a sociedade humana, mas para seu interesse pessoal ele pediu para qualquer um cuja cabeça fosse tocada por sua mão morreria imediatamente.

O Senhor Shiva pôde entender o motivo do demônio, e ficou muito triste que tinha assegurado a ele qualquer bênção que desejasse. Ele não quebraria sua promessa, mas ficou muito triste em seu coração porque tinha que oferecer a ele uma bênção tão perigosa para a sociedade humana. Os demônios são descritos como duskrtinas, malfeitores, porque apesar de terem poder cerebral e mérito, o mérito e poder cerebral são usados para atividades abomináveis. Às vezes, por exemplo, os demônios materialistas descobrem uma arma letal. A pesquisa científica para uma descoberta dessa certamente requer um cérebro muito bom, mas em vez de descobrir algo benéfico para a sociedade humana, eles descobrem algo para acelerar a morte que já é assegurada para cada humano. Similarmente, Vrikasura, em vez de pedir ao Senhor Shiva algo benéfico para a sociedade humana, pediu algo muito perigoso para a sociedade humana. Por isso o Senhor Shiva se sentiu triste dentro de si mesmo. Devotos da Personalidade de Deus, entretanto, nunca pedem nenhuma bênção ao Senhor Vishnu ou Krishna, e mesmo se pedem algo para o Senhor, não é de jeito nenhum perigoso para a sociedade humana. Essa é a diferença entre demônios e devotos, ou os adoradores do Senhor Shiva e os adoradores do Senhor Vishnu.

Enquanto Shukadeva Goswami narrava a história de Vrikasura, ele chamou Maharaja Parikshit de Bharata, por se referir ao nascimento do Rei Parikshit numa família de devotos. Maharaja Parikshit foi salvo pelo Senhor Krishna enquanto estava no ventre da mãe. Similarmente, ele poderia ter pedido ao Senhor Krishna para salvá-lo da maldição do brahmana, mas ele não fez isso. O demônio, entretanto, queria se tornar imortal por matar todos com o toque da sua mão. O Senhor Shiva pôde entender isso, mas porque tinha prometido, deu-lhe a bênção.

O demônio, entretanto, porque era muito pecaminoso, imediatamente decidiu que usaria a bênção para matar o Senhor Shiva e levar Gauri (Parvati) para seu desfrute pessoal. Ele imediatamente decidiu pôr sua mão sobre a cabeça do Senhor Shiva. Assim o Senhor Shiva foi posto numa situação desastrosa porque estava em perigo por sua própria bênção para um demônio. Isso é outro exemplo de devoto materialista que mal usa o poder obtido dos semideuses.

Sem mais deliberação, o demônio Vrikasura imediatamente se aproximou do Senhor Shiva para pôr sua mão na cabeça do Senhor Shiva. O Senhor Shiva ficou com tanto medo dele que seu corpo tremeu, e ele começou a fugir da terra para o céu e do céu para outros planetas até que atingiu os limites do universo, acima dos sistemas planetários superiores. O Senhor Shiva fugiu de um lugar para outro, mas o demônio Vrikasura continuou a persegui-lo. As deidades predominantes dos outros planetas, tais quais Brahma, Indra e Chandra, não conseguiam achar um modo para salvar o Senhor Shiva do perigo iminente. Onde quer que o Senhor Shiva ia, eles permaneciam em silêncio.

Por último, o Senhor Shiva se aproximou do Senhor Vishnu, que está situado dentro deste universo no planeta conhecido como Swetadwipa. Swetadwipa é o planeta Vaikuntha local além da jurisdição da influência da energia externa. O Senhor Vishnu em Seu aspecto todo-penetrante permanece em toda parte, mas onde Ele permanece pessoalmente é a atmosfera de Vaikuntha. No Bhagavad-gita é afirmado que o Senhor permanece dentro do coração de todos os seres vivos. Assim, o Senhor permanece dentro do coração de muitos seres vivos de baixo nascimento, mas isso não significa que Ele seja de baixo nascimento. Onde quer que Ele esteja é transformado em Vaikuntha. Assim o planeta dentro deste universo conhecido como Swetadwipa também é Vaikunthaloka. É dito nos sastras que bairros residenciais dentro da floresta estão no modo da bondade, bairros residenciais em grandes cidades, vilas e aldeias estão no modo da paixão, e bairros residenciais numa atmosfera onde o deleite nas quatro atividades pecaminosas de sexo ilícito, intoxicação, comer carne e jogos de azar predomina estão no modo da ignorância. Mas bairros residenciais num templo de Vishnu, o Supremo Senhor, estão em Vaikuntha. Não importa onde o templo está situado, mas o templo em si, onde quer que esteja, é Vaikuntha. Similarmente, o planeta Swetadwipa, apesar de estar dentro da jurisdição material, é Vaikuntha.

O Senhor Shiva finalmente entrou Swetadwipa Vaikuntha. Em Swetadwipa há pessoas grandemente santificadas livres de toda natureza invejosa do mundo material e além da jurisdição dos quatro princípios de atividades materiais, chamados, religiosidade, desenvolvimento econômico, prazer sensual e liberação. Qualquer um que entra num planeta Vaikuntha nunca volta mais a este mundo material. O Senhor Narayana é célebre como um amante de Seus devotos, logo que Ele entendeu que o Senhor Shiva estava em grande perigo, Ele apareceu como um brahmacari e pessoalmente Se aproximou do Senhor Shiva para recebê-lo em um lugar distante. O Senhor apareceu como um brahmacari perfeito, com um cinturão em volta da cintura, um cordão sagrado, pele de veado, um bastão de brahmacari e contas raudra. (Contas raudra são diferentes de contas tulasi. Contas raudra são usadas por devotos do Senhor Shiva). Vestido como um brahmacari, o Senhor Narayana ficou em frente ao Senhor Shiva. A refulgência brilhante que emanava de Seu corpo atraiu não somente o Senhor Shiva mas também o demônio Vrikasura.

O Senhor Narayana ofereceu seus respeitos e reverências a Vrikasura, justamente para atrair sua simpatia e atenção. Assim parou o demônio, o Senhor Se dirigiu a ele como se segue: "Meu querido filho de Shakuni, você parece estar muito cansado, como se viesse de um lugar muito distante. Qual é o seu propósito? Por que você veio de tão longe? Vejo que você está muito cansado e fatigado, por isso peço para você descansar um pouco. Você não deve desnecessariamente cansar seu corpo. Todos valorizam seu corpo grandemente porque com este corpo unicamente que alguém pode satisfazer todos os desejos de sua mente. Nós não devemos, portanto, desnecessariamente dar trabalho a este corpo".

O brahmacari chamou Vrikasura de filho de Shakuni justamente para convencê-lo que Ele era conhecido por seu pai, Shakuni. Vrikasura então considerou o brahmacari como alguém conhecido de sua família, e por isso as palavras simpáticas do brahmacari o atraíram. Antes que o demônio pudesse argumentar que não tinha tempo para descansar, o Senhor começou a informá-lo sobre a importância do corpo, e o demônio ficou convencido. Qualquer homem, especialmente um demônio, considera seu corpo como muito importante. Assim Vrikasura ficou convencido sobre a importância de seu corpo.

Então, para pacificar o demônio, o brahmacari disse a ele, "Meu querido senhor, se você acha que pode revelar a missão pela qual teve o trabalho de vir aqui, talvez eu seja capaz de ajudá-lo para que seu propósito seja facilmente servido". Indiretamente, o Senhor o informou porque o Senhor é o Brahman Supremo, certamente Ele seria capaz de ajustar a situação desastrosa criada pelo Senhor Shiva.

O demônio estava grandemente pacificado pelas doces palavras do Senhor Narayana na forma de um brahmacari, e por último ele revelou tudo o que aconteceu a respeito da bênção oferecida pelo Senhor Shiva. O Senhor respondeu ao demônio como se segue: "Eu mesmo não posso acreditar que o Senhor Shiva deu uma bênção dessa a você de verdade. Pelo que Eu sei, o Senhor Shiva não está numa condição mental sã. Ele teve uma desavença com seu sogro Daksha, e foi amaldiçoado a se tornar um pisaca (fantasma). Assim ele se tornou o líder dos fantasmas e duendes. Por isso eu não posso pôr nenhuma fé nas palavras dele. Mas se você ainda tem fé nas palavras do Senhor Shiva, meu querido rei dos demônios, então porque você não faz um experimento por colocar sua mão na sua cabeça? Se a bênção provar ser falsa, então você pode matar imediatamente esse mentiroso, Senhor Shiva, para que no futuro ele não ouse mais dar bênçãos falsas".

Desse modo, pelas palavras doces do Senhor Narayana e por expansão de Sua ilusão superior, o demônio ficou confuso, e ele realmente esqueceu o poder do Senhor Shiva e sua bênção. Assim ele foi facilmente persuadido a pôr sua mão na sua própria cabeça. Logo que o demônio fez isso, sua cabeça rachou, como se atingida por um raio, e ele imediatamente morreu. Os semideuses do céu começaram a chover flores sobre o Senhor Narayana, e O louvavam com todas as glórias e ação de graças, e eles ofereceram suas reverências ao Senhor. Com a morte de Vrikasura, todos os habitantes nos sistemas planetários superiores, chamados, os semideuses, os pitas, os Gandharvas e os habitantes de Janoloka, começaram a chover flores sobre a Personalidade de Deus.

Assim o Senhor Vishnu na forma de um brahmacari libertou o Senhor Shiva de um perigo iminente e salvou toda a situação. O Senhor Narayana então informou o Senhor Shiva que esse demônio, Vrikasura, foi morto por resultado de atividades pecaminosas. Ele era especialmente pecaminoso e ofensivo porque quis experimentar em seu próprio mestre, Senhor Shiva. O Senhor Narayana então disse ao Senhor Shiva, "Meu querido Senhor, uma pessoa que comete uma ofensa para grandes almas não pode continuar a existir. Ela se torna aniquilada pelas suas próprias atividades pecaminosas, e isso é certamente verdade sobre esse demônio, que cometeu ato tão ofensivo contra você".

Assim, pela graça da Suprema Personalidade de Deus Narayana, que é transcendental a todas qualidades materiais, o Senhor Shiva foi salvo de ser morto por um demônio. Qualquer um que ouve esta história com fé e devoção certamente se torna liberado do enredamento material e também das garras de seus inimigos.

 

 

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Sete de Krishna, "Liberação do Senhor Shiva".

           

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulo 88

O Superexcelente Poder de Krishna

   

Muito, muito tempo atrás, houve uma assembléia de grandes sábios na margem do rio Sarasvati, e eles executaram um grande sacrifício de nome Satrayajña. Nessas assembléias, os grandes sábios presentes costumavam discutir assuntos e tópicos filosóficos Védicos, e nesse encontro particular a seguinte questão foi levantava: As três deidades predominantes deste mundo material, chamados, Senhor Brahma, Senhor Vishnu e Senhor Shiva, dirigem todos os assuntos deste cosmos, mas qual entre eles é o Supremo? Depois de muita discussão sobre essa questão, o grande sábio Bhrigu, que é filho do Senhor Brahma, foi delegado para testar todas as três deidades predominantes e relatar à assembléia sobre quem é o maior.

Assim delegado, o grande sábio Bhrigumuni primeiro de tudo foi à residência de seu pai em Brahmaloka. As três deidades são os controladores das três qualidades materiais, chamadas qualidades da bondade, paixão e ignorância. Sobre o plano decidido pelos sábios era para Bhrigu testar qual deidade predominante possui a qualidade da bondade em plenitude. Portanto, quando Bhrigumuni chegou a seu pai, Senhor Brahma, porque queria testar se ele possuía a qualidade da bondade, propositalmente ele não ofereceu seus respeitos para seu pai seja por oferecer respeitos ou oferecer preces. É o dever de um filho ou um discípulo oferecer respeitos e recitar preces adequadas quando se aproxima de seu pai ou mestre espiritual. Mas Bhrigumuni propositalmente falhou em oferecer respeitos, justamente para ver a reação do Senhor Brahma a essa negligência. O Senhor Brahma ficou muito bravo com o atrevimento de seu filho, e mostrou sinais que provaram definitivamente isso ser verdade. Ele estava até mesmo preparado a condenar Bhrigu por amaldiçoá-lo, mas porque Bhrigu era seu filho, o Senhor Brahma controlou sua ira com sua grande inteligência. Isso significa que apesar da qualidade da paixão ser proeminente no Senhor Brahma, ele teve o poder para controlá-la. A ira do Senhor Brahma e o controle dele sobre sua ira são parecidas com fogo e água. Água é produzida do fogo, mas o fogo pode ser extinto pela água. Similarmente, apesar do Senhor Brahma ficar muito bravo devido à qualidade da paixão, ele pôde mesmo assim controlar sua qualidade da paixão, ele pôde ainda controlar sua paixão porque Bhrigumuni era seu filho.

Depois de testar o Senhor Brahma, Bhrigumuni foi diretamente para o planeta Kailasa, onde o Senhor Shiva reside. Acontece que Bhrigumuni é irmão do Senhor Shiva. Por isso, logo quando Bhrigumuni se aproximou, o Senhor Shiva ficou muito feliz e pessoalmente se levantou para abraçá-lo. Mas quando o Senhor Shiva se aproximou, Bhrigumuni se recusou a abraçá-lo. "Meu querido irmão", ele disse, "você é sempre muito impuro. Porque você passa cinzas em seu corpo, você não é muito limpo. Por favor, não me toque". Quando Bhrigumuni se recusou a abraçar seu irmão, e disse que o Senhor Shiva era muito impuro, o último ficou muito bravo com ele. É dito que uma ofensa pode ser cometida ou com o corpo, com a mente ou pela fala. A primeira ofensa de Bhrigumuni, cometida contra o Senhor Brahma, foi uma ofensa com a mente. Sua segunda ofensa, cometida contra o Senhor Shiva por insultá-lo, criticá-lo por suas hábitos sujos, foi uma ofensa da fala. Por causa da qualidade da ignorância ser proeminente no Senhor Shiva, quando ele ouviu o insulto de Bhrigu, seus olhos imediatamente ficaram vermelhos com ira. Com fúria incontrolável, ele pegou seu tridente e se preparou para matar Bhrigumuni. Nesse momento, a esposa do Senhor Shiva, Parvati, estava presente. A personalidade dela é uma mistura das três qualidades, e por isso ela é chamada Trigunamayi. Nesse caso, ela salvou a situação por evocar a qualidade da bondade do Senhor Shiva. Ela caiu aos pés de seu esposo, e com suas palavras doces ela o convenceu a não matar Bhrigumuni.

Depois de ser salvo da ira do Senhor Shiva, Bhrigumuni foi para o planeta Swetadwipa, onde o Senhor Vishnu estava deitado numa cama de flores, acompanhado por Sua esposa, a deusa da fortuna, que estava dedicada a massagear Seus pés de lótus. Ali Bhrigumuni propositalmente cometeu o maior dos pecados ao ofender o Senhor Vishnu por meio de suas atividades corpóreas. A primeira ofensa cometida por Bhrigumuni foi mental, a segunda ofensa foi vocal, e a terceira ofensa foi corporal. Essas diferentes ofensas são progressivamente maiores em grau. Uma ofensa cometida dentro da mente é uma ofensa positiva, a mesma ofensa, cometida verbalmente é comparativamente mais grave, e quando cometida por ação corpórea é superlativa em ofensa. Assim Bhrigumuni cometeu a maior ofensa ao tocar o tórax do Senhor com seu pé na presença da deusa da fortuna. É claro, o Senhor Vishnu é todo-misericordioso. Ele não ficou bravo com as atividades de Bhrigumuni porque Bhrigumuni era um grande brahmana. Um brahmana deve ser perdoado mesmo se às vezes cometer uma ofensa, e o Senhor Vishnu deu o exemplo. Mesmo assim, é dito que desde o tempo desse incidente, a deusa da fortuna, Lakshmi, não foi mais muito favoravelmente disposta para os brahmanas, e por isso, porque a deusa da fortuna retirou suas bênçãos deles, os brahmanas são geralmente muito pobres. Bhrigumuni tocar o tórax do Senhor Vishnu com seu pé foi certamente uma grande ofensa, mas o Senhor Vishnu é tão grandioso que nem Se importou. Os assim chamados brahmanas de Kali-yuga algumas vezes são muito orgulhosos de que podem tocar o tórax do Senhor Vishnu com seus pés. Mas quando Bhrigumuni tocou o tórax do Senhor Vishnu com seus pés, foi diferente porque apesar de ser uma grande ofensa, o Senhor Vishnu, por ser grandiosamente magnânimo, não levou isso muito a sério.

Ao invés de ficar bravo com Bhrigumuni, o Senhor Vishnu imediatamente Se levantou de Sua cama junto com Sua esposa, a deusa da fortuna, e ofereceram respeitosas reverências ao brahmana. Ele falou com Bhrigumuni como se segue: "Meu querido brahmana, é uma grande bênção para Mim que você veio aqui. Por favor, portanto, sente-se nessa almofada por alguns minutos. Meu querido brahmana, Eu lamento muito logo quando você entrou Eu não pude recebê-lo propriamente. Foi uma grande ofensa da Minha parte, e Eu imploro que você Me perdoe. Você é tão puro e grandioso que a água que lavou seus pés pode purificar até mesmo os locais de peregrinação. Portanto, Eu peço a você para purificar o planeta Vaikuntha onde Eu vivo com Meus associados. Meu querido pai, ó grande sábio, Eu sei que seus pés são muito macios, como a flor de lótus, e que Meu tórax é tão duro quanto um raio. Por isso Eu fico temeroso que você sentiu alguma dor quando tocou Meu tórax com seus pés. Deixe-Me portanto tocar seus pés para aliviar a dor que você sofreu". O Senhor Vishnu então começou a massagear os pés de Bhrigumuni.

O Senhor continuou a falar com Bhrigumuni. "Meu querido Senhor", Ele disse, "Meu tórax agora se tornou purificado pelo toque de seus pés, e agora Eu tenho certeza que a deusa da fortuna, Lakshmi, ficará muito feliz de viver aqui perpetuamente". Outro nome de Lakshmi é Chanchala. Ela não fica num lugar por muito tempo. Por isso, vemos que uma família de homem rico às vezes se torna pobre depois de poucas gerações, e às vezes vemos que a família de um homem pobre se torna muito rica. Lakshmi, a deusa da fortuna, é Chanchala neste mundo material, enquanto nos planetas Vaikuntha ela vive eternamente aos pés de lótus do Senhor. Porque Lakshmi é famosa como Chanchala, o Senhor Narayana indicou que poderia não viver perpetuamente em Seu tórax, mas porque Seu tórax foi tocado pelos pés de Bhrigumuni, agora estava santificado, e não havia chance da deusa da fortuna deixá-Lo. Bhrigumuni, entretanto, pôde entender sua posição e a do Senhor, e ele estava fascinado com o comportamento da Suprema Personalidade de Deus. Por causa de sua gratidão, sua voz ficou embargada, e ele estava incapaz de responder às palavras do Senhor. Lágrimas rolavam de seus olhos, e ele não pôde dizer nada. Ele simplesmente permaneceu silencioso na frente do Senhor.

Depois de testar o Senhor Brahma, Senhor Shiva e Senhor Vishnu, Bhrigumuni retornou à assembléia de grandes sábios na margem do rio Sarasvati e descreveu sua experiência. Depois de ouvir com grande atenção, os sábios concluíram que de todas as deidades predominantes, certamente Vishnu é situado no modo da bondade no mais alto grau. No Srimad Bhagavatam, esses grandes sábios são descritos como brahma-vadinam. Brahma-vadinam significa aqueles que falam sobre a Verdade Absoluta mas ainda não chegaram a uma conclusão. Geralmente brahma-vadi se refere aos impersonalistas ou àqueles que são estudantes dos Vedas. Deve-se entender, portanto, que todos os sábios reunidos eram estudantes sérios da literatura Védica, mas não chegaram a conclusões definitivas sobre quem é a Suprema Personalidade de Deus.

Depois de ouvirem a experiência de Bhrigumuni ao encontrar todas as três deidades predominantes, Senhor Brahma, Senhor Shiva, e Senhor Vishnu, os sábios concluíram que o Senhor Vishnu é a Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus. É dito no Srimad Bhagavatam que depois de ouvir os detalhes de Bhrigumuni, os sábios ficaram atônitos porque embora o Senhor Brahma e Senhor Shiva ficaram imediatamente agitados, o Senhor Vishnu, apesar de ser chutado por Bhrigumuni, não ficou agitado nenhum pouco. O exemplo dado é que pequenas lâmpadas podem ficar agitadas com uma pequena brisa, mas a grande lâmpada ou a maior fonte de iluminação, o Sol, nunca é movido, mesmo com o maior furacão. A grandeza de alguém tem que ser estimada pela sua habilidade em tolerar situações de provocação. Os sábios reunidos na margem do rio Sarasvati concluíram que se alguém deseja paz e liberdade verdadeiras de todos os temores, deve se abrigar nos pés de lótus de Vishnu. Se o Senhor Brahma e Senhor Shiva perderam sua atitude pacífica com uma pequena provocação, como eles podem manter a paz e tranqüilidade de seus devotos? No que se refere ao Senhor Vishnu, entretanto, está afirmado no Bhagavad-gita qualquer um que aceita o Senhor Vishnu ou Krishna como seu amigo supremo atinge a perfeição máxima da vida tranqüila.

Os sábios então concluíram que por seguir os princípios de vaishnava-dharma, uma pessoa se torna realmente perfeita. Mas se alguém segue todos os princípios religiosos de uma seita particular e não se torna avançado no entendimento da Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, todo esse trabalho de amor é infrutífero. Executar princípios religiosos significa chegar à plataforma do conhecimento perfeito. Se a pessoa chega à plataforma do conhecimento perfeito, então ficará desinteressada em assuntos materiais. Conhecimento perfeito significa conhecer o próprio eu e conhecer o Supremo Eu. O Supremo Eu e o eu individual, apesar de unos em qualidade, são diferentes em quantidade. Essa compreensão analítica do conhecimento é perfeita. Simplesmente entender, "eu não sou matéria; eu sou espírito", não é conhecimento perfeito. O princípio religioso real é serviço devocional, ou bhakti. Isso é confirmado no Bhagavad-gita. O Senhor Krishna diz, "Abandone todos os outros princípios religiosos e simplesmente se renda a Mim". Portanto, o termo dharma se aplica somente ao vaishnava-dharma ou bhagavata-dharma, e por segui-lo todas as outras boas qualidades e avanços na vida são automaticamente alcançados.

O estágio de perfeição mais elevado é conhecer o Supremo Senhor. Ele não pode ser compreendido por qualquer processo de religião outro do que serviço devocional; portanto, o resultado imediato do conhecimento perfeito é alcançado por executar serviço devocional. Depois de alcançar conhecimento, a pessoa se torna desinteressada pelo mundo material. Isso não é por causa de especulação mental seca. Os devotos se tornam desinteressados pelo mundo material, não simplesmente por entendimento teórico, mas experiência prática. Quando um devoto realiza o efeito da associação com o Supremo Senhor, ele naturalmente odeia a associação da assim chamada sociedade, amizade e amor. Esse desapego não é seco, mas é devido a alcançar um status de vida mais elevado por saborear doçuras transcendentais. É afirmado mais ainda no Srimad Bhagavatam que depois do alcance desse conhecimento e desapego do prazer sensual material, o avanço da pessoa nas oito opulências atingidas pela prática do yoga místico, chamadas os siddhis anima, laghima e prapti, etc., também são alcançadas sem esforço separado. O exemplo perfeito é Maharaja Ambarisha. Ele não era um yogi místico mas era um grande devoto, mesmo assim num desentendimento com Maharaja Ambarisha, o grande yogi místico Durvasa foi derrotado na presença da atitude devocional dele. Em outras palavras, um devoto não precisa praticar o sistema de yoga místico para alcançar poder. O poder está atrás dele pela graça do Senhor, justamente igual quando uma criança é rendida a seu pai poderoso, todos os poderes do pai estão atrás dela.

Quando uma pessoa se torna famosa como um devoto do Senhor, sua reputação nunca deve ser extinta. O Senhor Chaitanya, quando discutia com Ramananda Raya, perguntou, "Qual é a maior fama"? Ramananda Raya respondeu que ser conhecido como um devoto puro do Senhor Krishna é a fama perfeita. A conclusão, portanto, é que Vishnu-dharma, ou a religião do serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, é destinado a pessoas que são introspectivas. Pela utilização própria do discernimento, a pessoa chega ao estágio de pensar na Suprema Personalidade de Deus. Por pensar na Suprema Personalidade de Deus, a pessoa fica livre da contaminação da associação defeituosa do mundo material, e assim se torna tranqüila. O mundo está numa condição perturbada por causa da escassez desses devotos pacíficos na sociedade humana. A menos que uma pessoa seja um devoto, ela não pode ser equânime com todos os seres vivos. Um devoto é igualmente disposto para os animais, os seres humanos e todos os seres vivos porque ele vê cada ser vivo como parte e parcela do Supremo Senhor. No Ishopanishad está afirmado claramente alguém que chegou ao estágio de ver todos os seres vivos igualmente não odeia ninguém ou favorece ninguém. Um devoto não anseia possuir mais do que ele requer. Devotos são portanto akiñcana; em qualquer condição de vida um devoto está satisfeito. É dito que um devoto é equilibrado caso esteja no inferno ou no céu. Um devoto é indiferente a todos assuntos além de sua dedicação no serviço devocional. Esse modo de vida é o estágio de perfeição mais elevado, do qual a pessoa pode ser elevada ao mundo espiritual, de volta ao lar, de volta ao Supremo. Os devotos da Suprema Personalidade de Deus são especialmente atraídos pela qualidade material mais elevada, bondade, e o brahmana qualificado é a representação simbólica dessa bondade. Assim, um devoto é apegado ao estágio de vida brahmana. Ele não está muito interessado em paixão ou ignorância, apesar dessas qualidades também emanarem do Supremo Senhor, Vishnu. No Srimad Bhagavatam os devotos são descritos como nipuna-buddhayah, significa que eles são a classe de homens mais inteligentes. Não influenciado por apego ou aversão, o devoto vive muito pacificamente e não é agitado pela influência da paixão e ignorância.

Pode ser questionado aqui porque um devoto deve ser atraído à qualidade da bondade no mundo material se ele é transcendental a todas qualidades materiais. A resposta é que há diferentes tipos de pessoa a existir nos modos da natureza material. Aqueles que estão no modo da ignorância são chamados raksasas, aqueles no modo da paixão são chamados asuras, e aqueles no modo da bondade são chamados suras, ou semideuses. Sob a direção do Supremo Senhor, essas três classes de homens são criadas pela natureza material, mas aqueles que estão no modo da bondade têm uma chance maior de serem elevados ao mundo espiritual, de volta ao lar, de volta ao Supremo.

Assim todos os sábios que se reuniram na margem do rio Sarasvati para tentar determinar quem é a Deidade suprema predominante ficaram livres de todas as dúvidas sobre adoração a Vishnu. Todos eles depois disso se dedicaram no serviço devocional, e assim alcançaram o resultado desejado e voltaram ao Supremo.

Aqueles que são realmente ansiosos para serem liberados do enredamento material farão o melhor por aceitar imediatamente a conclusão dada por Shukadeva Goswami no começo do Srimad Bhagavatam. Lá está dito que ouvir o Srimad Bhagavatam é extremamente propício para liberação porque é falado por Shukadeva Goswami. O mesmo fato é novamente confirmado por Suta Goswami: se qualquer um que viaja sem rumo dentro deste mundo material interessar-se em ouvir as palavras nectáreas faladas por Shukadeva Goswami, certamente chegará à conclusão mais elevada; simplesmente por executar serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus será capaz de parar a fadiga da migração de um corpo material a outro perpetuamente. Em outras palavras, por ouvir propriamente a pessoa se torna fixa no serviço devocional amoroso a Vishnu. Ela certamente será capaz de obter alívio desta jornada material de vida, e o processo é muito simples. A pessoa tem que dar recepção auditiva às palavras doces faladas por Shukadeva Goswami na forma do Srimad Bhagavatam.

Outra conclusão é que nunca devemos considerar os semideuses, mesmo o Senhor Shiva e Senhor Brahma, no nível igual com o Senhor Vishnu. Se fizermos isso, então de acordo com o Padma Purana, imediatamente nos tornamos ateus. Na literatura Védica conhecida como Harivamsha também está afirmado que somente a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, deve ser adorado. O mahamantra Hare Krishna, ou qualquer um Vishnu mantra, é para ser cantado sempre. No Segundo Canto do Srimad Bhagavatam, o Senhor Brahma diz, "Tanto o Senhor Shiva quanto eu mesmo estamos engajados pela Suprema Personalidade de Deus para atuar em diferentes capacidades sob Sua direção". No Chaitanya Charitamrita também está afirmado que o único mestre é Krishna, e cada um em todas categorias de vida são serventes de Krishna somente.

No Bhagavad-gita está confirmado pelo Senhor que não existe verdade superior a Krishna. Shukadeva Goswami também, a fim de chamar a atenção para o fato que entre todas as formas Vishnu-tattva, o Senhor Krishna é cem por cento a Suprema Personalidade de Deus, narrou a história de um incidente que aconteceu quando o Senhor Krishna estava presente.

Certa vez, a esposa de um brahmana deu à luz uma criança. Infelizmente, entretanto, justamente depois de nascer e tocar o chão, a criança morreu imediatamente. O pai brahmana pegou a criança morta e foi diretamente para Dwaraka para o palácio do rei. O brahmana estava muito indignado por causa da morte prematura da criança na presença de seus jovens pai e mãe. Assim sua mente ficou muito perturbada. Antigamente, quando havia reis responsáveis, até o tempo de Dwapara-yuga, quando o Senhor Krishna estava presente, o rei era passível de ser culpado pela morte prematura de uma criança na presença de seus pais. Similarmente, essa responsabilidade acontecia durante a época do Senhor Ramachandra. Como já explicamos no Primeiro Canto do Srimad Bhagavatam, o rei era tão responsável pelos confortos dos cidadãos que ele tinha que ver se não estava nem mesmo calor ou frio excessivo. Apesar de não haver culpa da parte do rei, o brahmana cuja criança morreu imediatamente foi para a porta do palácio e começou a acusar o rei como se segue.

"O presente rei, Ugrasena, é invejoso dos brahmanas"! A palavra exata usada nessa conexão é brahma-dvisah. Alguém que é invejoso dos Vedas ou alguém que é invejoso de um brahmana qualificado ou a casta brahmana é chamada brahma-dvit. Assim o Rei foi acusado de ser brahma-dvit. Ele também foi acusado de ser satha-dhi, falsamente inteligente. O chefe executivo de um estado deve ser muito inteligente para ver os confortos dos cidadãos, mas, de acordo com o brahmana, o rei não era nenhum pouco inteligente, apesar de ocupar o trono real. Por isso ele também o chamou de lubdha, que significa ganancioso. Em outras palavras, um rei ou um chefe executivo de estado não deve ocupar o posto exaltado da presidência ou realeza se ele for ganancioso e egoísta. Mas é natural que um chefe executivo se torna egoísta quando está apegado ao desfrute material. Portanto, outra palavra usada aqui é visayatmanah.

O brahmana também acusou o rei de ser ksatra-bandhu, que se refere a uma pessoa nascida na família de ksatriyas ou ordem real que é sem as qualificações de uma personalidade da realeza. Um rei deve proteger a cultura brahmana e deve ser muito alerta ao bem-estar dos cidadãos; ele não deve ser ganancioso devido ao apego por desfrute material. Se uma pessoa sem qualificações representa a si mesma como um ksatriya da ordem real, ela não é chamada ksatriya, mas ksatra-bandhu. Similarmente, se uma pessoa nasceu de um pai brahmana mas não tem qualificação brahmana, é chamada brahma-bandhu ou dvija-bandhu. Isso significa que um brahmana ou um ksatriya não é aceito simplesmente por nascimento. A pessoa tem que se qualificar para a posição particular; somente depois ela é aceita como um brahmana ou um ksatriya.

Assim o brahmana acusou o rei que seu bebê recém-nascido estava morto devido às desqualificações do rei. O brahmana considerou isso extremamente anormal, e por isso ele culpou o rei como responsável. Também encontramos na história Védica que se um rei ksatriya era irresponsável, às vezes um conselho consultivo de brahmanas mantido pela monarquia o destronava. Por considerar todos esses pontos, parece que o posto de monarca na civilização Védica é de muita responsabilidade.

O brahmana portanto disse, "Ninguém deve oferecer respeitos ou adoração para um rei cujo único negócio é inveja. Um rei assim gasta seu tempo ou na caça e matança de animais na floresta ou mata cidadãos por atos criminosos. Ele não tem autocontrole e possui mau caráter. Se um rei desse é adorado ou honrado pelos cidadãos, os cidadãos nunca serão felizes. Eles sempre permanecerão pobres, cheios de ansiedades e aflição, e sempre infelizes". Apesar na política moderna o posto de monarca está abolido, o presidente não é considerado responsável pelos confortos dos cidadãos. Nesta era de Kali, o chefe executivo do estado de um forma ou de outra obtém votos e é eleito para um posto exaltado, mas a condição dos cidadãos continua a ser cheia de ansiedade, angústia, infelicidade, e insatisfação.

O segundo filho do brahmana também nasceu morto, e o terceiro também. Ele teve nove filhos, e cada um deles nasceu morto, e cada vez ele veio ao portão do palácio e acusou o Rei. Quando o brahmana veio acusar o Rei de Dwaraka pela nona vez, aconteceu que Arjuna estava presente com Krishna. Ao ouvir que um brahmana acusava o Rei de não protegê-lo propriamente, Arjuna ficou inquisitivo e se aproximou do brahmana. Ele disse, "Meu querido brahmana, porque você diz que não há ksatriyas apropriados para proteger os cidadãos do seu país? Não há nem mesmo alguém que possa pretender ser um ksatriya, que possa carregar um arco e flecha pelo menos para fazer um show de proteção? Você acha que todas as personalidades da realeza deste país simplesmente se engajam em executar sacrifícios com os brahmanas mas não têm poder cavalheiresco"? Assim Arjuna indicou que ksatriyas não devem se sentar confortavelmente e se engajar unicamente na execução rituais Védicos. Ao invés disso, eles têm que ser muito cavalheirescos na proteção dos cidadãos. Brahmanas dedicados nas atividades espirituais, não se espera que façam algo que exija esforço físico. Portanto, eles precisam ser protegidos pelos ksatriyas para que não sejam perturbados na execução de seus deveres ocupacionais mais elevados.

"Se os brahmanas sentirem separação indesejada de suas esposas e filhos", Arjuna continuou, "e os reis ksatriya não cuidam deles, então esses ksatriyas devem ser considerados não mais do que atores no palco. Em representações dramáticas no teatro, um ator pode atuar no papel de um rei, mas ninguém espera nenhum benefício desse rei faz de conta. Similarmente, se o rei ou o chefe executivo de um estado não pode dar proteção para a cabeça da estrutura social, ele é considerado meramente um fanfarrão. Esses chefes executivos simplesmente vivem para sua própria subsistência enquanto ocupam postos exaltados como chefes de estado. Meu Senhor, eu prometo que darei proteção aos seus filhos, e se eu for incapaz de fazer isso, então entrarei no fogo ardente para que a contaminação pecaminosa que me infectou seja neutralizada".

Depois de ouvir Arjuna falar dessa forma, o brahmana respondeu, "Meu querido Arjuna, o Senhor Balarama está presente, e Ele não pôde dar proteção para meus filhos. O Senhor Krishna também está presente, mas Ele não pôde dar proteção a eles. Há também vários outros heróis, tais quais Pradyumna e Aniruddha, que carregam arcos e flechas, mas eles não puderam proteger meus filhos". O brahmana diretamente insinuou que Arjuna não poderia fazer o que foi impossível para a Suprema Personalidade de Deus. Ele achou que Arjuna prometeu algo além do seu poder. O brahmana disse, "eu considero sua promessa como a de uma criança inexperiente. Eu não posso pôr minha fé na sua promessa".

Arjuna então entendeu que o brahmana perdeu toda a fé nos reis ksatriya. Portanto, para encorajá-lo, Arjuna falou como se criticasse até mesmo seu amigo, o Senhor Krishna. Enquanto o Senhor Krishna e outros ouviam, ele especificamente atacou Krishna ao dizer, "Meu querido brahmana, eu não sou nem Sankarshana nem Krishna nem um dos filhos de Krishna como Pradyumna e Aniruddha. Meu nome é Arjuna, e eu carrego o arco conhecido como Gandiva. Você não pode me insultar porque eu satisfiz mesmo o Senhor Shiva pela minha destreza quando nós dois caçávamos na floresta. Tive uma luta com o Senhor Shiva, que apareceu diante de mim como um caçador, e quando eu o satisfiz com meu heroísmo, ele me deu a arma pasupatastra. Não duvide do meu cavalheirismo. Eu trarei seus filhos de volta mesmo se eu tiver que lutar com a morte personificada". Quando o brahmana foi assegurado por Arjuna com palavras tão exaltadas, de uma forma ou outra ficou convencido, e assim retornou ao lar.

Quando a esposa do brahmana estava para dar à luz outra criança, o brahmana começou a cantar, "Meu querido Arjuna, por favor, venha agora e salve meu filho". Depois de ouvi-lo, Arjuna imediatamente se preparou por tocar água santificada e pronunciar mantras sagrados para proteger seus arcos e flechas do perigo. Ele especificamente pegou a flecha que lhe foi presenteada pelo Senhor Shiva, e quando saía, começou a lembrar o Senhor Shiva e seu grande favor. Desse modo, ele apareceu perante a casa de maternidade, equipado com seu arco, conhecido como Gandiva, e com várias outras armas.

Parece que Arjuna não deixou Dwaraka porque tinha que cumprir sua promessa para o brahmana. Ele foi chamado à noite quando a esposa do brahmana daria à luz o filho. Enquanto ia para a casa de maternidade para atender ao caso do parto da esposa do brahmana, Arjuna lembrou o Senhor Shiva, e não seu amigo Krishna; ele achou porque Krishna não pôde dar proteção ao brahmana, era melhor se abrigar no Senhor Shiva. Esse é um outro exemplo de como uma pessoa se abriga nos semideuses. Isso é explicado no Bhagavad-gita: kamais tais tair hrta-jñanah: uma pessoa que perde sua inteligência por causa da ganância e luxúria esquece a Suprema Personalidade de Deus e se abriga nos semideuses. Claro que Arjuna não era um ser humano ordinário, mas por causa de suas relações amigáveis com Krishna, ele pensou que Krishna era incapaz de dar proteção ao brahmana e ele faria melhor em lembrar o Senhor Shiva. Mais tarde provou-se que Arjuna se abrigar no Senhor Shiva em vez de Krishna não foi bem sucedido nenhum pouco. Arjuna, entretanto, fez o seu melhor por cantar diferentes mantras, e ele pegou seu arco para guardar a casa de maternidade de todas as direções.

A esposa do brahmana deu à luz um filho masculino, e como de costume a criança começou a chorar. Mas subitamente, dentro de poucos minutos, tanto a criança quanto as flechas de Arjuna desapareceram no céu. Parece que a casa do brahmana ficava perto da residência de Krishna e que o Senhor Krishna apreciava tudo que acontecia aparentemente em desafio à Sua autoridade. Foi Ele quem fez o truque de levar o bebê do brahmana embora e também as flechas de Arjuna, inclusive a que foi dada pelo Senhor Shiva, a qual Arjuna era tão orgulhoso. tad bhavati alpamedhasam: homens menos inteligentes se abrigam nos semideuses devido à desorientação e ficam satisfeitos com os benefícios que eles concedem.

Na presença do Senhor Krishna e outros, o brahmana começou a acusar Arjuna: "Todos vejam minha estupidez! Eu pus minha fé nas palavras de Arjuna, que é impotente e que é perito em promessas falsas. Quão tolo fui eu de acreditar em Arjuna. Ele prometeu proteger minha criança quando mesmo Pradyumna, Aniruddha, Senhor Balarama e Senhor Krishna falharam. Se tais grandes personalidades não puderam proteger meu filho, então quem pode fazer isso? Por isso eu condeno Arjuna por sua promessa falsa, e também condeno seu célebre arco Gandiva e seu atrevimento em se declarar maior do que o Senhor Balarama, Senhor Krishna, Pradyumna e Aniruddha. Ninguém pode salvar meu filho porque ele já foi transferido para outro planeta. Devido à pura tolice somente, Arjuna pensou que poderia trazer meu filho de volta de outro planeta".

Assim condenado pelo brahmana, Arjuna valeu-se do poder de uma perfeição do yoga místico para que ele pudesse viajar para qualquer planeta a fim de encontrar o bebê do brahmana. Parece que Arjuna dominou o poder do yoga místico pelo qual os yogis podem viajar para qualquer planeta que desejarem. Ele primeiro de tudo foi para o planeta conhecido como Yamaloka, onde o superintendente da morte, Yamaraja, vive. Lá ele procurou pelo bebê do brahmana mas não pôde achá-lo. Então ele foi imediatamente para o planeta onde o Rei do céu, Indra, vive. Quando não foi capaz de encontrar o bebê lá, ele foi para o planeta dos semideuses do fogo, Nairrti, e depois para o planeta Lua. Depois para Vayu e Varunaloka. Quando não foi capaz de encontrar o bebê em nenhum desses planetas, ele foi para baixo ao planeta Rasatala, o mais baixo dos sistemas planetários. Depois de viajar por todos esses diferentes planetas, ele finalmente foi a Brahmaloka, onde nem mesmo os yogis místicos podem ir. Pela graça de Krishna, Arjuna tinha esse poder, e ele foi acima dos planetas celestiais para Brahmaloka. Quando ele foi incapaz de achar o bebê mesmo depois de procurar em todos os planetas possíveis, então ele tentou se atirar no fogo, como havia prometido ao brahmana caso fosse incapaz de trazer seu bebê de volta. O Senhor Krishna, entretanto, era muito bom com Arjuna porque acontecia de Arjuna ser o amigo mais íntimo do Senhor. O Senhor Krishna persuadiu Arjuna para não entrar no fogo em desgraça. Krishna indicou porque Arjuna era Seu amigo, se ele fosse entrar no fogo em desespero, indiretamente seria uma desonra para Ele. O Senhor Krishna portanto impediu Arjuna, e o assegurou que ele encontraria o bebê. Ele disse a Arjuna, "Não cometa suicídio estupidamente".

Depois de Se dirigir a Arjuna desse modo, o Senhor Krishna chamou Sua quadriga transcendental. Ele a montou junto com Arjuna e começou a proceder para o norte. O Senhor Krishna, a todo-poderosa Personalidade de Deus, poderia ter trazido a criança de volta sem esforço, mas devemos sempre lembrar que Ele atuava no papel de um ser humano. Igual um ser humano tem que se esforçar para alcançar certos resultados, assim o Senhor Krishna, como um ser humano ordinário, ou igual a Seu amigo Arjuna, deixou Dwaraka para trazer de volta o bebê do brahmana. Por aparecer na sociedade humana e exibir Seus passatempos como um ser humano, Krishna definitivamente demostrou que não existe nem uma única personalidade maior do que Ele. "Deus é grande". Essa é a definição da Suprema Personalidade de Deus. Assim pelo menos dentro deste mundo material, enquanto Ele estava presente, Krishna provou que não havia nenhuma personalidade superior dentro do universo.

Sentado em Sua quadriga com Arjuna, Krishna começou a proceder para o norte, e atravessou vários sistemas planetários. Eles são descritos no Srimad Bhagavatam como sapta-dvipa. Dvipa significa ilha. Todos esses planetas são às vezes descritos na literatura Védica como dvipas. O planeta no qual vivemos se chama Jambudwipa. O espaço sideral é tido como um grande oceano de ar, e dentro do grande oceano de ar existem muitas ilhas, que são os diferentes planetas. Em cada e todo planeta há oceanos também. Em alguns planetas, os oceanos são de água salgada, e em alguns deles há oceanos de leite. Em outros há oceanos de licor, e em outros há oceanos de ghee ou óleo. Existem diferentes tipos de montanhas também. Cada e todo planeta tem um tipo diferente de atmosfera.

Krishna atravessou todos esses planetas e alcançou a cobertura do universo. Essa cobertura é descrita no Srimad Bhagavatam como grande escuridão. Este mundo material como um todo é descrito como escuro. No espaço sideral existe a luz solar, e por isso é iluminado, mas na cobertura, por causa da ausência da luz, é naturalmente escuro. Quando Krishna Se aproximou da camada de cobertura deste universo, os quatro cavalos que puxavam a quadriga - Shaibya, Sugriva, Meghapuspa e Balahaka - todos pareceram hesitar para entrar na escuridão. Essa hesitação também faz parte dos passatempos do Senhor Krishna porque os cavalos de Krishna não são ordinários. Não é possível para cavalos ordinários atravessarem todo o universo e depois entrarem em suas camadas de cobertura. Porque Krishna é transcendental, similarmente Sua quadriga e Seus cavalos e tudo sobre Ele também são transcendentais, além das qualidades deste mundo material. Nós temos de lembrar sempre que Krishna fazia o papel de um ser humano ordinário, e Seus cavalos também, pelo desejo de Krishna, fizeram o papel de cavalos ordinários ao hesitarem de entrar na escuridão.

Krishna é conhecido como Yogesvara, como afirmado na última parte do Bhagavad-gita. Yogesvara harih: todos os poderes místicos estão sob Seu controle. Em nossa experiência, podemos ver muitos seres humanos que possuem poder místico do yoga. Às vezes eles realizam atos muito maravilhosos, mas Krishna é entendido como o mestre de todo poder místico. Por isso, quando Ele viu que Seus cavalos hesitaram para proceder dentro da escuridão, Ele imediatamente lançou Seu disco, conhecido como Sudarshana-chakra, que iluminou o céu mil vezes mais brilhante que a luz solar. A escuridão da cobertura do universo. A escuridão da cobertura do universo também é uma criação de Krishna, e o Sudarshana-chakra é companheiro constante de Krishna. Assim a escuridão foi penetrada com Ele mantendo o Sudarshana-chakra na frente. O Srimad Bhagavatam afirma que o Sudarshana-chakra penetrou a escuridão justamente igual uma flecha disparada do arco Sharanga do Senhor Ramachandra penetrou o exército de Ravana. Su significa muito bom, e darsana significa observação; pela graça do disco do Senhor Krishna, Sudarshana, tudo pode ser visto muito bem, e nada pode permanecer na escuridão. Assim o Senhor Krishna e Arjuna atravessaram a grande região de escuridão que cobre os universos materiais.

Arjuna então viu a refulgência da luz conhecida como o brahmajyoti. O brahmajyoti está situado fora da cobertura dos universos materiais, e porque não pode ser visto com nossos olhos presentes, esse brahmajyoti é às vezes chamado avyakta. Essa refulgência espiritual é o destino último dos impersonalistas conhecidos como Vedantistas. O brahmajyoti também é descrito como anantaparam, ilimitado e insondável. Quando o Senhor Krishna e Arjuna alcançaram a região do brahmajyoti, Arjuna não pôde tolerar a refulgência brilhante, e fechou seus olhos. A chegada do Senhor Krishna e Arjuna à região do brahmajyoti é descrita no Harivamsha. Nessa porção da literatura Védica, Krishna informou Arjuna, "Meu querido Arjuna, a refulgência brilhante, a luz transcendental que você vê, é Meus raios corpóreos. Ó líder dos descendentes de Bharata, esse brahmajyoti é Mim Mesmo". Do mesmo modo como o disco solar e o brilho solar não podem ser separados, similarmente Krishna e Seus raios corpóreos, o brahmajyoti, não podem ser separados. Por isso Krishna alegou que o brahmajyoti é Ele Mesmo. Isso é claramente afirmado no Harivamsha, onde Krishna diz, "aham sah". O brahmajyoti é uma combinação de partículas diminutas conhecidas como centelhas espirituais, ou os seres vivos conhecidos como citkana. A palavra Védica so'ham, ou "eu sou o brahmajyoti", também pode ser aplicada para os seres vivos, que também podem alegar pertencer ao brahmajyoti. No Harivamsha, Krishna explica mais ainda, "Esse brahmajyoti é uma expansão de Minha energia espiritual".

Krishna disse a Arjuna, "O brahmajyoti está além da região da Minha energia externa, conhecida como maya-sakti". Quando alguém está situado dentro deste mundo material, não é possível para ele experimentar essa refulgência Brahman. Portanto, no mundo material essa refulgência não é manifesta, enquanto no mundo espiritual, é manifesta. Esse é o significado das palavras vyakta-avyakta. No Bhagavad-gita é dito avyakto 'vyaktat sanatanah: essas duas energias são manifestas eternamente.

Depois disso, o Senhor Krishna e Arjuna entraram numa vasta extensiva água espiritual. Essa água espiritual se chama o Oceano Karanarnava ou Viraja que significa que esse oceano é a origem da criação do mundo material. No Mrityunjaya Tantra, uma literatura Védica, há uma vívida descrição desse Oceano Karana, ou Viraja. É dito que o sistema planetário mais elevado dentro do mundo material é Satyaloka, ou Brahmaloka, Além dele está Rudraloka e Maha-Vishnuloka. A respeito desse Maha-Vishnuloka, está afirmado no Brahma-samhita, yah karanarnava-jale bhajati sma yoga: "O Senhor Maha-Vishnu está deitado no Oceano Karana. Quando Ele exala, inumeráveis universos vêm a existir, e quando Ele inala, inumeráveis universos entram dentro Dele". Desse modo, a criação material é gerada e novamente retirada. Quando o Senhor Krishna e Arjuna entraram na água, parecia que havia um forte furacão de refulgência transcendental que se formava, e a água do Oceano Karana estava grandemente agitada. Pela graça do Senhor Krishna, Arjuna teve a experiência única de ser capaz de ver o muito belo Oceano Karana.

Acompanhado por Krishna, Arjuna viu um grande palácio dentro da água. Havia muitos milhares de pilares e colunas feitas de jóias preciosas, e a refulgência brilhante dessas colunas era tão bela que Arjuna ficou encantado com isso. Dentro daquele palácio, Arjuna e Krishna viram a gigantesca forma da grande serpente com milhares de capelos, e cada um deles estava decorado com jóias preciosas refulgentes, que eram belamente deslumbrantes. Cada um dos capelos de Anantadeva tinha dois olhos que pareciam muito assustadores. Seu corpo era tão branco quanto o topo da montanha Kailasa, que está sempre coberta por neve. Seu pescoço era azulado, como eram Suas línguas. Assim Arjuna viu a forma Sheshanaga, e ele também viu que sobre o muito macio, corpo branco de Sheshanaga, o Senhor Maha-Vishnu estava deitado muito confortavelmente. Ele parecia ser todo-penetrante e muito poderoso, e Arjuna pôde entender que a Suprema Personalidade de Deus nessa forma Se chama Purushottama. Ele é chamado Purushottama, o melhor, ou a Suprema Personalidade de Deus, porque dessa forma, emana outra forma de Vishnu, que é conhecida como Garbhodakashayi Vishnu dentro do mundo material. A forma Maha-Vishnu do Senhor, Purushottama, está além do mundo material. Ele também é conhecido como Uttama. Tama significa escuridão, e ut significa acima, transcendental; portanto, Uttama significa acima da região mais escura do mundo material. Arjuna viu que a cor do corpo de Purushottama, Maha-Vishnu, era tão escura como uma nova nuvem de chuva na estação de chuva; Ele estava vestido com roupas finas amarelas, Sua face tinha sempre um lindo sorriso, e Seus olhos, que eram como pétalas de lótus, eram muito atraentes. O elmo do Senhor Maha-Vishnu era revestido com jóias preciosas, e Seus belos brincos aumentavam a beleza do cabelo ondulado em Sua cabeça. O Senhor Maha-Vishnu tinha oito braços, todos muito longos, que alcançavam Seus joelhos. Seu pescoço estava decorado com a jóia Kaustubha, e Seu tórax estava marcado com o símbolo de srivatsa, que significa o lugar de repouso da deusa da fortuna. O Senhor usava um colar de flores de lótus até Seus joelhos. Esse colar de flores longo é conhecido como colar de flores vaijayanti.

O Senhor estava rodeado de Seus associados pessoais Nanda e Sunanda, e o disco Sudarshana personificado sempre permanecia ao lado Dele. Como está afirmado nos Vedas, o Senhor possui energias inumeráveis, e elas também estavam lá personificadas em prontidão. As mais importantes entre elas eram as seguintes: pusti, a energia da nutrição, sri, a energia da beleza, kirti, a energia da reputação, e aja, a energia da criação material. Todas essas energias são investidas nos administradores do mundo material, chamados Senhor Brahma, Senhor Shiva e Senhor Vishnu, e os reis dos planetas celestiais, Indra, Chandra, Varuna e o deus do Sol. Em outras palavras, todos esses semideuses dotados de poder pelo Senhor com certas energias, dedicam-se ao serviço amoroso da Suprema Personalidade de Deus. O aspecto Maha-Vishnu é uma expansão do corpo de Krishna. Também está confirmado no Brahma-samhita que Maha-Vishnu é uma porção de uma porção plenária de Krishna. Todas essas expansões não são diferentes da Personalidade de Deus, mas porque Krishna apareceu dentro deste mundo material para manifestar Seus passatempos como um ser humano, Ele e Arjuna imediatamente ofereceram seus respeitos ao Senhor Maha-Vishnu por prostrarem-se perante Ele. É afirmado no Srimad Bhagavatam que o Senhor Krishna ofereceu respeito a Maha-Vishnu; isso significa que Ele ofereceu reverências a Ele somente porque o Senhor Maha-Vishnu não é diferente Dele Mesmo. Essa oferenda de reverências por Krishna para Maha-Vishnu não é, entretanto, a forma de adoração conhecida como ahangraha-upasana, que às vezes é recomendada para pessoas que tentam se elevar para o mundo espiritual por executar o sacrifício do conhecimento. Isso também é afirmado no Bhagavad-gita: jñana-yajñena capy ante yajanto mam upasate.

Apesar de não haver necessidade para Krishna oferecer reverências, porque Ele é o professor mestre, Ele ensinou Arjuna justamente como o respeito deve ser oferecido ao Senhor Maha-Vishnu. Arjuna, entretanto, ficou muito temeroso ao ver a forma gigantesca de tudo, distinta da experiência material. Porque Krishna ofereceu reverências para o Senhor Maha-Vishnu, ele imediatamente O seguiu e ficou perante o Senhor com mãos postas. Depois disso, o forma gigantesca de Maha-Vishnu, altamente satisfeita, sorriu agradavelmente e falou como se segue.

"Meu querido Krishna e Arjuna, Eu estava muito ansioso para ver ambos, e portanto Eu arranjei para levar embora os bebês do brahmana e os mantive aqui. Eu esperava ver vocês dois aqui neste palácio. Vocês apareceram no mundo material como Minhas encarnações a fim de minimizar a força das pessoas demoníacas que sobrecarregam o mundo. Agora depois de matar todos esses demônios indesejados, vocês façam o favor de retornarem a Mim. Vocês dois são encarnações do grande sábio Nara-Narayana. Embora vocês dois sejam completos em si mesmos, para proteger os devotos e aniquilar os demônios e especialmente para estabelecer princípios religiosos no mundo para que paz e tranqüilidade possam continuar, vocês ensinam os princípios básicos da religião de verdade para que as pessoas do mundo possam segui-los e assim serem pacíficas e prósperas".

Tanto o Senhor Krishna quanto Arjuna então ofereceram suas reverências ao Senhor Maha-Vishnu, e com os filhos do brahmana de volta, retornaram a Dwaraka via a mesma rota pela qual eles entraram no mundo espiritual. Todos os filhos do brahmana cresceram devidamente. Depois de retornar para Dwaraka, o Senhor Krishna e Arjuna entregaram ao brahmana todos os seus filhos.

Arjuna, entretanto, estava arrebatado com grande admiração depois de visitar o mundo transcendental pela graça do Senhor Krishna. E pela graça de Krishna ele pôde entender que qualquer opulência que exista dentro deste mundo material é devido à misericórdia de Krishna. A pessoa deve portanto estar sempre em Consciência de Krishna, em gratidão completa para o Senhor Krishna, porque qualquer coisa que alguém possua é tudo misericórdia Dele.

A experiência maravilhosa de Arjuna devido à misericórdia de Krishna é um dos milhares de passatempos realizados pelo Senhor Krishna durante Sua estadia neste mundo material. Todos eles foram únicos e não têm paralelo na história do mundo. Todos esses passatempos provam plenamente que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, mesmo assim enquanto Ele estava presente dentro deste mundo material, Ele atuou no papel justamente igual um homem ordinário possuidor de muitos deveres mundanos. Ele fez o papel de um pai de família exemplar, e apesar de possuir 16.000 esposas, 16.000 palácios e 160.000 filhos, Ele também realizou muitos sacrifícios, justamente para ensinar à ordem real como viver no mundo material para o bem-estar da humanidade. Como a Suprema Personalidade ideal, Ele satisfez os desejos de todos, desde os brahmanas, as pessoas mais elevadas na sociedade humana, abaixo até seres vivos ordinários, inclusive os mais baixos dos homens. Justamente igual ao Rei Indra encarregado de distribuir chuva por todo o mundo para satisfazer todos no devido curso, assim o Senhor Krishna satisfaz todos por chover Sua misericórdia sem causa. Sua missão era dar proteção aos devotos e matar os reis demoníacos; por isso, Ele matou centenas de milhares de demônios. Alguns deles Ele matou pessoalmente, e alguns deles foram mortos por Arjuna, que foi delegado por Krishna. Desse modo Ele estabeleceu muitos reis piedosos como Yudhisthira no governo dos assuntos mundanos. Assim, por Seu arranjo divino, Ele criou o bom governo do Rei Yudhisthira, e assim estabeleceu paz e tranqüilidade.

 

 

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Oitenta e Oito de Krishna, "O Superexcelente Poder de Krishna".

           

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Capítulos 89 e 90

Descrição Resumida dos Passatempos do Senhor Krishna

   

Depois de retornar do reino espiritual, que ele foi capaz de visitar pessoalmente junto com Krishna, Arjuna estava muito atônito. Ele pensava consigo mesmo que apesar de ser apenas um ser vivo ordinário, pela graça de Krishna foi possível para ele ver pessoalmente o mundo espiritual. Não somente viu o mundo espiritual, mas também viu pessoalmente o Maha-Vishnu original, a causa da criação material. É dito que Krishna nunca sai de Vrindavana. Vrindavanam parityajya na padam ekam gacchati. Krishna é supremo em Mathura, Ele é mais supremo em Dwaraka, e é o maior supremo em Vrindavana. Os passatempos de Krishna em Dwaraka são exibidos por Sua porção Vasudeva, mesmo assim não existe diferença entre a porção Vasudeva manifestada em Mathura e Dwaraka e a manifestação original de Krishna em Vrindavana. No começo deste livro, nós discutimos que quando Krishna aparece, todas Suas encarnações, porções plenárias e porções das porções plenárias vêm com Ele. Assim alguns dos Seus diferentes passatempos não são manifestados pelo Krishna original em Pessoa mas por Suas diferentes porções e porções das porções plenárias de encarnação. Arjuna portanto estava confuso sobre como Krishna foi ver Karanarnavashayi Vishnu no mundo espiritual. Isso é plenamente discutido nos comentários de Srila Visvanatha Chakravarti Thakura.

É entendido da fala de Maha-Vishnu que Ele estava muito ansioso para ver Krishna. Deve ser dito, entretanto, desde que Maha-Vishnu levou embora os filhos do brahmana, Ele certamente deve ter ido a Dwaraka para fazer isso. Portanto, por que Ele não viu Krishna lá? Uma resposta possível é que Krishna não pode ser visto mesmo por Maha-Vishnu que está deitado no Oceano Causal do mundo espiritual, a menos que Krishna dê Sua permissão. Assim Maha-Vishnu levou embora os filhos do brahmana um depois do outro justamente após seus nascimentos para que Krishna pudesse recuperá-los pessoalmente, e então Maha-Vishnu seria capaz de vê-Lo. Se foi assim, a próxima questão é essa: Por que Maha-Vishnu viria para Dwaraka pessoalmente se Ele não era capaz de ver Krishna? Por que Ele não enviou algum de Seus associados para levar embora os filhos do brahmana? Uma resposta possível é que é muito difícil colocar qualquer um dos cidadãos de Dwaraka em aflição na presença de Krishna. Por isso, não era possível para nenhum dos associados de Maha-Vishnu levar embora os filhos do brahmana, e assim Ele veio pessoalmente para pegá-los.

Uma outra questão também pode ser levantada: O Senhor é conhecido como brahmanya-deva, a Deidade adorável dos brahmanas, então por que Ele estava inclinado a pôr um brahmana em uma condição tão terrível de lamentação por causa de um filho depois do outro até que o nono filho foi levado embora? A resposta é que o Senhor Maha-Vishnu estava tão ansioso para ver Krishna que Ele não hesitou até mesmo em dar aflição a um brahmana. Apesar de causar sofrimento a um brahmana seja um ato proibido, o Senhor Vishnu estava preparado para fazer qualquer coisa a fim de ver Krishna - Ele estava muito ansioso para vê-Lo. Depois de perder cada um de seus filhos, o brahmana ia ao portão do palácio e acusava o Rei de não ser capaz de dar proteção aos brahmanas e por isso era impróprio para sentar no trono real. Era o plano de Maha-Vishnu que o brahmana acusasse os kshatriyas e Krishna, e Krishna seria obrigado a vir vê-Lo para levar de volta os filhos do brahmana.

Ainda assim outra questão pode ser levantada: Se Maha-Vishnu não pode ver Krishna, então por que Krishna foi obrigado a chegar perante Ele depois de tudo para levar de volta os filhos do brahmana? A resposta é que o Senhor Krishna foi ver o Senhor Maha-Vishnu não exatamente para levar de volta os filhos do brahmana mas somente para o bem de Arjuna. Sua amizade com Arjuna era tão íntima que quando Arjuna se preparou para morrer por entrar no fogo, Krishna queria dar proteção completa a ele. Arjuna, entretanto, não desistiria de entrar no fogo a menos que os filhos do brahmana fossem trazidos de volta. Por isso Krishna prometeu a ele, "Eu trarei de volta os filhos do brahmana. Não tente cometer suicídio".

Se o Senhor Krishna foi ver o Senhor Vishnu somente para reclamar os filhos do brahmana, então Ele não teria esperado até o nono ser levado embora. Mas quando o nono filho foi levado pelo Senhor Maha-Vishnu, e Arjuna estava pronto para entrar no fogo porque sua promessa provou ser falsa, essa situação séria fez o Senhor Krishna decidir ir com Arjuna para ver Maha-Vishnu. É dito que Arjuna é uma encarnação dotada de poder de Nara-Narayana. Ele é até às vezes chamado de Nara-Narayana. A encarnação Nara-Narayana também é uma das expansões plenárias do Senhor Vishnu. Portanto, quando Krishna e Arjuna foram ver o Senhor Vishnu, deve ser entendido que Arjuna visitou na capacidade Nara-Narayana Dele, justamente igual Krishna, quando Ele exibiu Seus passatempos em Dwaraka, atuou em Sua capacidade Vasudeva.

Depois de visitar o mundo espiritual, Arjuna concluiu que qualquer opulência qualquer um possa mostrar dentro dos mundos material ou espiritual é tudo uma dádiva do Senhor Krishna. O Senhor Krishna é manifesto em várias formas, como visnu-tattva e jiva-tattva, ou, em outras palavras, como samsa e vibhinnamsa. Vishnu-tattva é conhecido como samsa, e jiva-tattva é conhecido como vibhinnamsa. Ele pode, portanto, exibir-Se na porção samsa ou vibhinnamsa, como Ele quiser, mas mesmo assim Ele permanece a Suprema Personalidade de Deus original.

A porção final dos passatempos de Krishna é encontrada no Nono Canto do Srimad Bhagavatam, e nesse capítulo Shukadeva Goswami queria explicar como Krishna viveu felizmente em Dwaraka com todas as opulências. A opulência de poder de Krishna já foi exibida em Seus diferentes passatempos, e agora será mostrado como Sua residência em Dwaraka exibiu Suas opulências de riqueza e beleza. Neste mundo material, que é apenas um reflexo pervertido do mundo espiritual, as opulências de riqueza e beleza são consideradas como as mais elevadas de todas as opulências. Portanto, enquanto Krishna permaneceu neste planeta como a Suprema Personalidade de Deus, Suas opulências de riqueza e beleza não tinham comparação dentro dos três mundos. Krishna desfrutou dezesseis mil belas esposas, e é mais significativo que Ele viveu em Dwaraka como o único esposo dessas centenas de milhares de belas mulheres. É afirmado especificamente nessa conexão que Ele era o único esposo de dezesseis mil esposas. Isso, é claro, nunca foi ouvido na história do mundo que um rei poderoso manteria muitas centenas de rainhas, mas apesar desse rei poder ser o único esposo de tantas esposas, ele não poderia desfrutar todas elas ao mesmo tempo. Krishna, entretanto, desfrutou todas as Suas dezesseis mil esposas simultaneamente.

Embora possa ser dito que os yogis também podem expandir seus corpos em muitas formas, a expansão dos yogis e a expansão do Senhor Krishna não são uma e a mesma. Krishna é portanto chamado às vezes de yogesvara, o mestre de todos os yogis. Na literatura Védica nós encontramos que o yogi Saubhari Muni se expandiu em oito. Mas essa expansão foi igual a uma expansão de televisão. A imagem da televisão é manifesta em milhões de expansões, mas essas expansões não podem agir diferentemente; são simplesmente reflexo da original e só podem agir exatamente igual como a original faz. Expansão de Krishna não é material como a expansão da televisão ou do yogi. Quando Narada visitou os diferentes palácios de Krishna, viu que Krishna, em Suas diferentes expansões, estava de modo variado entretido em cada e todo palácio das rainhas.

Também é dito que Krishna viveu em Dwaraka como o esposo da deusa da fortuna. A Rainha Rukmini é a deusa da fortuna, e todas as outras rainhas são expansões dela. Assim Krishna, o líder da dinastia Vrishni, desfrutou com a deusa da fortuna em opulência plena. As rainhas de Krishna são descritas como permanentemente jovens e lindas. Apesar de Krishna ter netos e bisnetos, nem Krishna nem Suas rainhas pareciam mais velhos do que dezesseis ou vinte anos de idade. As jovens rainhas eram tão belas que quando se moviam pareciam como relâmpagos a se mover no céu. Elas estavam sempre vestidas com excelentes ornamentos e roupas e estavam sempre entretidas em atividades esportivas como dança, canto, jogos com bola nos telhados dos palácios. A dança e jogo de tênis das meninas no mundo material parecem ser reflexos pervertidos dos passatempos originais da Personalidade de Deus original, Krishna, e Suas esposas.

As avenidas e ruas da cidade de Dwaraka estavam sempre lotadas com elefantes, cavalos, quadrigas e soldados de infantaria. Quando os elefantes estão engajados em serviço, a eles é dada bebida alcoólica para beber, e é dito que os elefantes em Dwaraka eram dados tanta bebida alcoólica que eles borrifavam uma grande quantidade dela na rua e ainda assim andavam pelas ruas intoxicados. Os soldados de infantaria transeuntes nas ruas eram profusamente decorados com ornamentos de ouro, e cavalos e quadrigas de ouro enchiam as ruas. Em todas as direções da Cidade de Dwaraka, para onde quer alguém virasse seus olhos, encontrava parques verdes e jardins, e cada um deles estava cheio de árvores e plantas carregadas com frutas e flores. Porque havia tantas boas árvores de frutas e flores, todos os pássaros que cantam docemente e o zumbido das abelhas se juntavam para produzir doces vibrações. A cidade de Dwaraka assim exibia plenamente todas as opulências. Os heróis da dinastia Yadu costumavam se considerar os mais afortunados residentes da cidade, e na realidade eles desfrutaram todas as facilidades transcendentais.

Todos os dezesseis mil palácios das rainhas de Krishna eram situados nessa bela cidade de Dwaraka, e o Senhor Krishna, o supremo desfrutador eterno de todas essas facilidades, expandiu-Se em dezesseis mil formas e simultaneamente Se dedicou a diferentes assuntos familiares nesses dezesseis mil palácios. Em cada e todo dos palácios havia jardins e lagos belamente decorados. A água cristalina dos lagos continha muitas flores de lótus desabrochadas de diferentes cores como azul, amarelo, branco e vermelho, e o pólen açafrão das flores de lótus era soprado para todos os lados pela a brisa. Todos os lagos estavam cheios de belos cisnes, patos e garças, que choravam ocasionalmente com sons melodiosos. O Senhor Krishna às vezes entrava nesses lagos, ou às vezes nos rios, com Suas esposas e desfrutava passatempos aquáticos com elas em pleno júbilo. Às vezes, as esposas do Senhor Krishna, que eram todas deusas da fortuna, abraçavam o Senhor no meio da água enquanto nadavam ou tomavam banho, e o pó avermelhado do kunkuma que decorava seus seios adornava o tórax do Senhor com uma cor avermelhada.

Os impersonalistas não ousam acreditar que no mundo espiritual existem tais variedades de desfrute, mas a fim de demonstrar o verdadeiro, sempre-bem-aventurado desfrute no mundo espiritual, o Senhor Krishna descendeu a este planeta e mostrou que o mundo espiritual não é desprovido de tais facilidades de vida prazerosas. A única diferença é que no mundo espiritual essas facilidades são eternas, ocorrências que nunca terminam, enquanto no mundo material elas são simplesmente reflexos pervertidos impermanentes. Quando o Senhor Krishna estava entretido nesse desfrute, os Gandharvas e músicos profissionais O glorificavam com concertos musicais melodiosos, acompanhados por mrdangas, tambores, címbalos, instrumentos de cordas e metal de sopro, e toda a atmosfera mudava para uma grande celebração festiva. Num humor festivo, as esposas do Senhor às vezes espirravam água no corpo do Senhor com um instrumento tipo seringa, e o Senhor similarmente molhava o corpo das rainhas. Quando Krishna e as rainhas estavam entretidos nesses passatempos, parecia como se o rei celestial, Yaksharaja, estava entretido nesses passatempos com suas muitas esposas. (Yaksharaja também é conhecido como Kuvera e é considerado o tesoureiro do reino celestial). Quando as esposas do Senhor Krishna ficavam assim molhadas, seus seios e quadris incrementavam a beleza em mil vezes, e seus cabelos longos caíam para decorar essas partes de seus corpos. As lindas flores colocadas em seus cabelos caíam, e as rainhas, visivelmente incomodadas pelo Senhor jogar água nelas, aproximavam-se Dele com o pretexto de tirar a seringa Dele, e essa tentativa criava uma situação na qual o Senhor as abraçava quando elas se aproximavam por vontade própria. Quando eram abraçadas, as esposas do Senhor sentiam sobre suas bocas uma clara indicação de amor conjugal, e isso criava uma atmosfera de bem-aventurança espiritual. Quando o colar de flores no pescoço do Senhor então tocava os seios das rainhas, todo o corpo delas ficava coberto de açafrão amarelo. Entretidas em seus passatempos celestiais, as rainhas se esqueciam de si mesmas, e o cabelo solto delas parecia como as belas ondas de um rio. Quando as rainhas espirravam água no corpo de Krishna ou Ele espirrava água nos corpos das rainhas, toda a situação parecia justamente igual um elefante que desfruta dentro de um lago com muitas elefantas.

Depois de desfrutarem plenamente entre si, as rainhas e o Senhor Krishna saíam da água, e suas roupas molhadas, que eram muito valiosas, eram dadas por eles para serem levadas pelos cantores e dançarinos profissionais. Os cantores e dançarinos não tinham outros meios de subsistência do que as doações de roupas e ornamentos valiosos deixados pelas rainhas e reis nessas ocasiões. Todo o sistema da sociedade era tão bem planejado que todos os membros da sociedade em suas diferentes posições como brahmanas, ksatriyas, vaisyas, e sudras não tinham dificuldade em ganhar sua subsistência. Não havia competição entre as divisões da sociedade. O conceito original do sistema de casta era planejado de tal modo que um grupo de homens engajados num tipo particular de ocupação não competia com outro grupo de homens engajados numa ocupação diferente.

Desse modo, o Senhor Krishna costumava desfrutar a companhia de Suas dezesseis mil esposas. Devotos do Senhor que querem amar a Suprema Personalidade de Deus no deleite do amor conjugal são elevados à posição de se tornarem esposas de Krishna, e Krishna as mantêm apegadas a Ele por Seu comportamento gentil. O comportamento de Krishna com Suas esposas, Seus movimentos, Suas conversas com elas, Seu sorriso, Seu abraço, e outras atividades similares justamente igual um esposo apaixonado as manteve sempre muito apegadas a Ele. Essa é a perfeição mais elevada da vida. Se alguém permanece sempre apegado a Krishna, deve-se entender que é uma alma liberada, Krishna reciproca de tal modo que o devoto não pode ficar desapegado Dele. As relações recíprocas de Krishna e Seus devotos são tão atraentes que um devoto não pode pensar em nenhum outro assunto além de Krishna.

Para as rainhas, Krishna somente era seu objetivo adorável. Elas estavam sempre absortas no pensamento de Krishna, a Personalidade de Deus com olhos de lótus e lindamente escuro. Às vezes, no pensamento de Krishna, elas permaneciam em silêncio, e em grande êxtase de bhava e anubhava elas às vezes falavam como se estivessem em delírio. Às vezes, mesmo na presença do Senhor Krishna, elas descreviam vividamente os passatempos que desfrutaram no lago ou no rio com Ele. Algumas dessas falas podem ser descritas aqui.

Uma das rainhas disse ao pássaro kurari, "Meu querido kurari, agora é muito tarde na noite. Todos dormem. Todo o mundo agora está calmo e pacífico. Nessa hora, a Suprema Personalidade de Deus dorme, apesar de Seu conhecimento ser imperturbado por qualquer circunstância. Então por que você não está dormindo? Por que você lamenta desse modo através da noite inteira? Meu querido amigo, é porque você também está atraído pelos olhos de lótus da Suprema Personalidade de Deus e Seu doce sorriso e palavras atraentes, exatamente igual a mim? Essas condutas da Suprema Personalidade de Deus também perfuram seu coração como fazem com o meu"?

"Olá cakravaki. Por que você fechou seus olhos? Você procura pelo seu marido, que pode ter ido a países estrangeiros? Por que você lamenta tão angustiada? Ai de mim, parece que você está muito aflita. Ou é um fato que você também deseja se tornar um servidor eterno da Suprema Personalidade de Deus? Eu acho que você está ansiosa para pôr um colar de flores sobre os pés de lótus do Senhor e depois pô-lo sobre seu cabelo".

"Ó meu querido oceano, por que você ruge todo o dia e noite? Você não gosta de dormir? Eu acho que você foi atacado por insônia, ou, se eu não estou errada, meu querido Shyamasundara com muito tato levou embora sua seriedade e poder de tolerância que são suas qualificações naturais. É um fato que por essa razão você sofre de insônia igual a mim? Sim, eu admito que não existe remédio para essa doença".

"Meu querido deus da Lua, eu acho que você foi atacado por um severo tipo de tuberculose. Por essa razão, você se torna mais magro dia após dia. Ó meu Senhor, agora você está tão fraco que seus raios finos não podem dissipar a escuridão da noite. Ou é um fato que, justamente igual a mim, você também foi atordoado pelas palavras misteriosamente doces do meu Senhor Shyamasundara? É um fato que é por causa dessa severa ansiedade que você está tão grave"?

"Ó brisa dos Himalaias, o que fiz para você por que você tem tanta intenção de me provocar por despertar minha luxúria para encontrar Krishna? Você sabe que eu já fui ferida pela política tortuosa da Personalidade de Deus? Minha querida brisa do Himalaia, por favor saiba que eu já fui ferida. Não há necessidade de me ferir mais e mais".

"Minha querida bela nuvem, a cor do seu belo corpo exatamente se assemelha com a tonalidade corporal do meu mais querido Shyamasundara. Eu acho, portanto, que você é muito querida pelo meu Senhor, o líder da dinastia dos Yadus, e porque você é tão querida por Ele, você é, exatamente igual eu sou, absorta em meditação. Posso apreciar que seu coração é cheio de ansiedade por Shyamasundara. Você parece excessivamente ansiosa para vê-Lo, e eu vejo que por essa razão somente, há gotas de lágrimas que escorrem de seus olhos, justamente igual escorrem dos meus. Minha querida nuvem negra, devemos admitir francamente que para estabelecer uma relação íntima com Shyamasundara significa comprar ansiedades desnecessárias enquanto estamos de outra forma confortáveis em casa".

Geralmente o cuco soa sua vibração de gorjeio no fim da noite ou cedo na manhã. Quando as rainhas ouviam o gorjeio do cuco no fim da noite, elas diziam, "Querido cuco, sua voz é muito doce. Logo que você vibra sua doce voz, nós lembramos Shyamasundara imediatamente porque sua voz parece exatamente a Dele. Nós devemos admitir que sua voz é embebida de néctar, e é tão revigorante que tem competência para trazer de volta à vida aquelas que estão quase mortas em separação de seu mais querido amigo. Assim, nós somos muito gratas a você. Por favor, deixe-nos saber como podemos bem recebê-lo ou como podemos fazer algo por você".

As rainhas continuaram a falar desse modo, e elas se dirigiram à montanha como se segue: "Querida montanha, você é muito generosa. Por sua gravitação somente, toda a crosta desta Terra é propriamente mantida, e porque você cumpre seus deveres muito fervorosamente, você não sabe se mover. Porque você é tão grave, você não sabe se mover aqui e ali, nem você diz nada. Ao invés disso, você parece estar sempre num humor pensativo. Pode ser que você sempre pensa num assunto muito grave e importante, mas nós podemos adivinhar muito claramente o que você pensa. Nós temos certeza que você pensa em colocar os pés de lótus de Shyamasundara sobre seus picos elevados, do mesmo modo que queremos colocar Seus pés de lótus sobre nossos seios elevados.

[N.T.: No conhecimento Védico, os rios são personalidades femininas.]

"Meus queridos rios secos, nós sabemos porque é a estação do verão, todos os seus leitos estão secos e não têm água. Porque toda sua água agora secou, vocês não são mais embelezadas por flores de lótus desabrochadas. No presente momento, vocês parecem estar muito magras e franzinas, por isso podemos entender que sua posição é exatamente igual à nossa. Nós perdermos tudo devido a estarmos separadas de Shyamasundara, e não mais ouvimos Suas palavras agradáveis. Nossos corações não funcionam mais propriamente, e por isso nós também ficamos muito magras e franzinas. Nós achamos, portanto, que vocês são justamente iguais a nós. Vocês se tornaram magras e franzinas porque não obtêm nenhuma água de seu esposo, o oceano, através das nuvens". O exemplo dado aqui pelas rainhas é muito apropriado. Os leitos dos rios se tornam secos quando o oceano não supri mais água através das nuvens. O oceano é considerado o esposo do rio e portanto tem o dever de sustentá-la. A menos que uma mulher seja sustentada pelo seu esposo com as necessidades da vida, ela também se torna tão seca quanto um rio seco.

Uma rainha se dirigiu a um cisne assim. "Meu querido cisne, por favor venha aqui, venha aqui. Você é bem-vindo. Por favor, sente-se e tome um pouco de leite. Meu querido cisne, você pode me dizer se tem alguma mensagem de Shyamasundara? Eu considero você um mensageiro Dele. Se você tiver alguma notícia dessa, por favor me conte. Nosso Shyamasundara é sempre muito independente. Ele nunca fica sob o controle de ninguém. Todas nós falhamos em controlá-Lo, e por isso nós pedimos a você, Ele está Se cuidando bem? Eu posso informar você que Shyamasundara é muito instável. Sua amizade é sempre temporária; ela quebra até mesmo por leve agitação. Mas você pode explicar gentilmente por que Ele é tão cruel comigo? Anteriormente, Ele disse que eu somente sou Sua mais querida esposa. Ele lembra essa certeza? De qualquer forma, você é bem-vindo. Por favor, sente-se. Mas eu não posso aceitar sua súplica para ir até Shyamasundara. Quando Ele não liga para mim, por que eu deveria ficar louca atrás Dele? Eu lamento muito de deixá-lo saber que se tornou o mensageiro de uma alma pobre de coração. Você me pede para ir até Ele, mas eu não vou. O que é isso? Você fala Dele vir até mim? Ele deseja vir aqui para satisfazer minha longa expectativa por Ele? Tudo bem. Você pode trazê-Lo aqui. Mas não traga com Ele a Sua mais amada deusa da fortuna. Você acha que Ele não pode Se separar da deusa da fortuna mesmo por um momento? Ele não pode vir aqui sozinho, sem Lakshmi? O comportamento Dele é muito indelicado. Isso significa que sem Lakshmi, Shyamasundara não pode ser feliz? Ele não pode ser feliz com nenhuma outra esposa? Isso significa que a deusa da fortuna possui o oceano de amor por Ele, e nenhuma de nós pode se comparar a ela"?

Todas as esposas do Senhor Krishna estavam completamente absortas no pensamento Dele. Krishna é conhecido como Yogeshvara, o mestre de todos yogis, e todas as esposas de Krishna em Dwaraka costumavam manter esse yogesvara dentro de seus corações. Ao invés de tentar ser mestre de todos poderes místicos do yoga, é melhor se a pessoa simplesmente mantiver o supremo yogesvara, Krishna, dentro de seu coração. Assim a vida da pessoa pode ser perfeita, e a ela pode muito facilmente ser transferida para o reino de Deus. Deve-se ser entendido que todas as rainhas de Krishna que viviam com Ele em Dwaraka eram em suas vidas prévias muito grandemente exaltados devotos que queriam estabelecer uma relação com Krishna em amor conjugal. Assim lhes foi dada a chance de se tornarem Suas esposas e desfrutar uma relação amorosa constante com Ele. Ultimamente, todas foram transferidas para os planetas Vaikuntha.

A Suprema Verdade Absoluta Personalidade de Deus nunca é impessoal. Todas as literaturas Védicas glorificam a atuação transcendental de Suas várias atividades e passatempos pessoais. É dito que nos Vedas e no Ramayana, somente as atividades do Senhor são descritas. Em toda parte na literatura Védica, Suas glórias são cantadas. Logo que pessoas de coração sensível tais quais as mulheres ouvem esses passatempos transcendentais do Senhor Krishna, imediatamente ficam atraídas por Ele. Mulheres e meninas de coração sensível portanto são muito facilmente atraídas ao movimento da Consciência de Krishna. Aquele que é atraído assim ao movimento da consciência de Krishna e tenta se manter em contato constante com essa consciência certamente obtém a salvação suprema, ir de volta a Krishna em Goloka Vrindavana. Se simplesmente por desenvolver consciência de Krishna a pessoa pode ser transferida para o mundo espiritual, pode-se simplesmente imaginar quão bem-aventuradas e abençoadas eram as rainhas do Senhor Krishna, que falavam com Ele pessoalmente e que viam o Senhor Krishna olho no olho. Ninguém pode descrever propriamente a fortuna das esposas do Senhor Krishna. Elas cuidavam Dele pessoalmente por prestar vários serviços transcendentais como banhá-Lo, alimentá-Lo, agradá-Lo e servi-Lo. Assim, austeridades de ninguém podem ser comparadas ao serviço das rainhas em Dwaraka.

Shukadeva Goswami informou Maharaja Parikshit que para auto-realização as austeridades e penitências executadas pelas rainhas em Dwaraka não têm comparação. O objetivo da auto-realização é um: Krishna. Portanto, apesar dos relacionamentos das rainhas com Krishna parecerem justamente igual aos relacionamentos ordinários entre esposo e esposa, o ponto principal a ser observado é o apego das rainhas por Krishna. O processo inteiro de austeridade e penitência é destinado a desapegar a pessoa do mundo material e incrementar o apego dela por Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Krishna é o abrigo de todas as pessoas que avançam na auto-realização. Como um pai de família ideal, Ele viveu com Suas esposas e executou os rituais Védicos justamente para mostrar às pessoas menos inteligentes que o Supremo Senhor nunca é impessoal. Krishna viveu com esposas e filhos em toda opulência, exatamente igual uma alma condicionada ordinária, justamente para exemplificar para essas almas que são realmente condicionadas que uma pessoa pode entrar dentro do círculo da vida familiar enquanto Krishna for o centro. Por exemplo, os membros da dinastia Yadu viveram na família de Krishna, e Krishna era o centro de todas as atividades deles.

Renúncia não é tão importante quanto incrementar o apego da pessoa por Krishna. O movimento da consciência de Krishna é especialmente destinado para esse propósito. Nós pregamos sobre o princípio que não importa se um homem é um sannyasi ou grhastha. A pessoa tem simplesmente que incrementar seu apego por Krishna, e então sua vida é bem-sucedida. Por seguir os passos do Senhor Sri Krishna, a pessoa pode viver com seus membros familiares ou dentro da sociedade ou nação, não para o propósito de satisfazer o prazer sensual mas sim para realizar Krishna por avançar no apego por Ele. Existem quatro princípios de elevação da vida condicionada para a vida de liberação, que são tecnicamente conhecidos como dharma, artha, kama e moksa (religião, desenvolvimento econômico, prazer sensual e liberação). Se a pessoa viver uma vida familiar por seguir os passos dos membros familiares do Senhor Krishna, pode alcançar todos os quatro desses princípios de sucesso simultaneamente por fazer Krishna o centro de todas as atividades.

Já é sabido que Krishna teve 16.108 esposas. Todas essas esposas eram almas liberadas exaltadas, e entre elas, a Rainha Rukmini era a líder. Depois de Rukmini havia outras sete esposas principais, e os nomes dos filhos dessas oito rainhas principais já foram mencionados. Além dessas oito rainhas, o Senhor Krishna teve dez filhos com cada uma das outras rainhas. Assim todos os filhos de Krishna juntos contam 16.108 vezes dez. Ninguém deve ficar espantado de ouvir que Krishna teve tantos filhos. Deve-se lembrar sempre que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus e que Ele possui potências ilimitadas. Ele afirma que todos os seres vivos são Seus filhos, por isso mesmo se Ele tivesse dezesseis milhões de filhos apegados a Ele pessoalmente, não seria causa de espanto.

Entre os filhos de Krishna grandemente poderosos, dezoito filhos eram maha-rathas. Os maha-rathas podiam lutar sozinhos contra muitos milhares de soldados, quadrigas, cavalaria e elefantes. As reputações desses dezoito filhos são propagadas amplamente e são descritas em quase todas as literaturas Védicas. Os filhos maha-ratha são listados como Pradyumna, Aniruddha, Diptiman, Bhanu, Samba, Madhu, Brihadbhanu, Chitrabhanu, Vrika, Aruna, Puskara, Vedabahu, Shrutadeva, Sunandana, Chitrabahu, Virupa, Kavi e Nyagrodha. Desses dezoito filhos maha-ratha de Krishna, Pradyumna é considerado o principal. Acontece que Pradyumna era o filho mais velho da Rainha Rukmini, e ele herdou todas as qualidades de seu grande pai, o Senhor Krishna. Ele se casou com a filha de seu tio materno, Rukmi, e Aniruddha, o filho de Pradyumna, nasceu desse casamento. Aniruddha era tão poderoso que podia lutar contra dez mil elefantes. Ele se casou com a neta de Rukmi, o irmão de sua avó, Rukmini. Porque a relação entre esses primos era distante, esses casamentos não eram incomuns. O filho de Aniruddha era Vajra. Quando toda a dinastia Yadu foi destruída pela maldição de um brahmana, somente Vajra sobreviveu. Vajra teve um filho, cujo nome era Pratibahu. O filho de Pratibahu era Subahu, o filho de Subahu era chamado Shantasena, e o filho de Shantasena era Shatasena.

É afirmado por Shukadeva Goswami que todos os membros da dinastia Yadu tiveram muitos filhos. Justamente igual Krishna teve tantos filhos, netos e bisnetos, cada um dos reis mencionados aqui também teve extensões familiares similares. Não somente eles tiveram muitos filhos, mas todos eram extraordinariamente ricos e opulentos. Nenhum deles era fraco ou de vida curta, e acima de tudo, todos os membros da dinastia Yadu eram devotos fiéis da cultura brahmana. É dever os reis ksatriyas manter a cultura brahmana e proteger os brahmanas qualificados, e todos esses reis cumpriram seus deveres altamente bem. Os membros da dinastia Yadu eram tão numerosos que seria muito difícil descrever todos eles mesmo se alguém tivesse uma duração de vida de milhares de anos. Srila Shukadeva Goswami informou Maharaja Parikshit que ele ouviu de fontes confiáveis que simplesmente para ensinar as crianças da dinastia Yadu, havia mais de 38.800.000 de tutores ou acharyas. Se tantos professores eram necessários para educar suas crianças, pode-se imaginar simplesmente o quanto vasto era o número de membros familiares. No que diz respeito a seu poderio militar, é dito que só o Rei Ugrasena tinha dez quatrilhões de soldados como guarda-costas pessoais.

Antes do advento do Senhor Krishna dentro deste universo, aconteceram muitas batalhas entre os demônios e os semideuses. Muitos demônios morreram em combate, e a todos eles foi dada a chance de nascer em altas famílias reais nesta Terra. Por causa da posição real exaltada deles, todos esses demônios ficaram muito enfatuados, e sua única ocupação era atormentar seus súditos. O Senhor Krishna apareceu neste planeta justamente no fim de Dwapara-yuga a fim de aniquilar todos esses reis demoníacos. Como é dito no Bhagavad-gita, paritranaya sadhunam vinasaya ca duskrtam: O Senhor vem para proteger os devotos e para aniquilar os malfeitores. Alguns dos semideuses também foram solicitados a aparecer nesta Terra para ajudar nos passatempos transcendentais do Senhor Krishna. Quando Krishna apareceu, Ele veio na associação de Seus servidores eternos, mas os semideuses também foram requeridos para descerem e ajudá-Lo, e assim todos eles tomaram seus nascimentos na dinastia Yadu. A dinastia Yadu tinha 101 clãs em diferentes partes do país. Todos os membros desses diferentes clãs respeitavam o Senhor Krishna numa maneira adequada à posição divina Dele, e todos eles eram Seus devotos de coração e alma. Assim todos os membros da dinastia Yadu eram muito opulentos, felizes e prósperos, e eles não tinham ansiedades. Por causa de sua fé implícita e devoção pelo Senhor Krishna, eles nunca foram derrotados por quaisquer outros reis. O amor deles por Krishna era tão intenso que em suas atividades regulares - sentar, dormir, viajar, conversar, divertimento, limpeza e banho - eles estavam simplesmente absortos em pensamentos de Krishna e não prestavam atenção nas necessidades corpóreas. Esse é o sintoma de um devoto puro do Senhor Krishna. Justamente quando um homem está plenamente absorto num pensamento particular, ele às vezes esquece suas outras atividades corpóreas, assim os membros da dinastia Yadu atuavam automaticamente para suas necessidades corpóreas, mas sua verdadeira atenção estava sempre fixa em Krishna. Suas atividades corpóreas eram realizadas mecanicamente, mas suas mentes estavam sempre absortas em Consciência de Krishna.

Srila Shukadeva Goswami concluiu o Nonagésimo Capítulo do Décimo Canto do Srimad Bhagavatam com o destaque de cinco excelências particulares do Senhor Krishna. A primeira excelência é que antes do aparecimento do Senhor Krishna na família Yadu, o Rio Ganges era conhecido como a mais pura de todas as coisas; mesmo coisas impuras podiam ser purificadas simplesmente por tocar a água do Ganges. Esse poder superexcelente da água do Ganges era devido a ter emanado do dedo do pé do Senhor Vishnu. Mas quando o Senhor Krishna, o Supremo Vishnu, apareceu na família da dinastia Yadu, Ele viajou pessoalmente através do reino dos Yadus, e por Sua associação íntima com a dinastia Yadu, a família inteira não somente se tornou muito famosa mas também se tornou mais eficaz em purificar outros do que a água do Ganges.

A próxima excelência do aparecimento do Senhor Krishna era apesar que Ele deu proteção aos devotos e aniquilou os demônios, tanto os devotos quanto os demônios alcançaram o mesmo resultado. O Senhor Krishna é quem concede os cinco tipos de liberação, das quais sayujya-mukti, ou a liberação de se tornar uno com o Supremo, foi dada a demônios como Kamsa, enquanto para as gopis foi dada a chance de se associar com Ele pessoalmente. As gopis mantiveram sua individualidade para desfrutar a companhia do Senhor Krishna, mas Kamsa foi aceito dentro de Seu brahmajyoti impessoal. Em outras palavras, tanto os demônios quanto as gopis foram liberados espiritualmente, mas porque os demônios eram inimigos e as gopis eram amigas, os demônios foram mortos e as gopis protegidas.

A terceira excelência do aparecimento do Senhor Krishna foi que a deusa da fortuna, que é adorada por semideuses como o Senhor Brahma, Indra e Chandra, permaneceu sempre dedicada no serviço do Senhor, mesmo embora o Senhor deu preferência para as gopis. Lakshmiji, a deusa da fortuna, tentou o seu melhor para estar no nível igual ao das gopis, mas não foi bem-sucedida. Entretanto, ela permaneceu fiel a Krishna apesar de geralmente ela não permanecer em um lugar mesmo se adorada por semideuses como o Senhor Brahma.

A quarta excelência do aparecimento do Senhor Krishna diz respeito às glórias de Seu nome. Está afirmado na literatura Védica que por cantar os diferentes nomes do Senhor Vishnu mil vezes, a pessoa pode ser abençoada com os mesmos benefícios quanto por três vezes cantar o santo nome do Senhor Rama. E por cantar o santo nome do Senhor Krishna somente uma vez, a pessoa recebe o mesmo benefício. Em outras palavras, de todos os santos nomes da Suprema Personalidade de Deus, inclusive Vishnu e Rama, o nome de Krishna é o mais poderoso. A literatura Védica portanto enfatiza especificamente o cantar do santo nome de Krishna: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. O Senhor Chaitanya introduziu esse cantar do santo nome de Krishna nesta era, assim fez a liberação mais facilmente obtenível do que em outras eras. Em outras palavras, o Senhor Krishna é mais excelente do que Suas outras encarnações, apesar de todas elas serem igualmente a Suprema Personalidade de Deus.

A quinta excelência do aparecimento do Senhor Krishna é que Ele estabeleceu o mais excelente de todos os princípios religiosos com uma declaração no Bhagavad-gita que simplesmente por se render a Ele, a pessoa pode executar todos os princípios dos ritos religiosos. Na literatura Védica há vinte tipos de princípios religiosos mencionados, e cada um deles é descrito em diferentes sastras. Mas o Senhor Krishna é tão bondoso com as almas condicionadas caídas desta era que Ele apareceu pessoalmente e pediu a todos para abandonarem todos os tipos de ritos religiosos e simplesmente se renderem a Ele. É dito que esta era de Kali é três quartos desprovida de princípios religiosos. Dificilmente um quarto dos princípios da religião ainda são observados nesta era. Pela misericórdia do Senhor Krishna, esse vazio de Kali-yuga não só foi completamente preenchido, e também o processo religioso foi feito tão fácil que simplesmente por prestar serviço amoroso transcendental ao Senhor Krishna por cantar Seus santos nomes, Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, a pessoa pode alcançar o maior resultado da religião, chamado, ser transferido para o planeta mais elevado dentro do mundo espiritual, Goloka Vrindavana. Pode-se assim estimar imediatamente o benefício do aparecimento do Senhor Krishna e pode-se entender que Ele dar alívio às pessoas do mundo pelo Seu aparecimento não foi em nada extraordinário.

Srila Shukadeva Goswami assim conclui sua descrição da posição superexaltada do Senhor Krishna por glorificá-Lo da seguinte maneira: "Ó Senhor Krishna, todas as glórias a Você. Você está presente no coração de todos como Paramatma. Portanto Você é conhecido como Jananivasa, aquele que vive no coração de todos". Como confirmado no Bhagavad-gita, isvarah sarva-bhutanam hrd-dese 'rjuna tisthati: O Supremo Senhor em Seu aspecto Paramatma vive dentro do coração de todos. Isso não significa, entretanto, que Krishna não tem existência separada como a Suprema Personalidade de Deus. Os filósofos Mayavadis aceitam a característica todo-penetrante do Parabrahman, mas quando Parabrahman, ou o Supremo Senhor, aparece, eles acham que Ele aparece sob o controle da natureza material. Porque o Senhor Krishna apareceu como o filho de Devaki, os filósofos Mayavadis aceitam Krishna como um ser vivo ordinário que nasce dentro deste mundo material. Portanto Shukadeva Goswami os adverte que devaki-janma-vada, significa que apesar de Krishna ser famoso como o filho de Devaki, na realidade Ele é a Superalma ou a todo-penetrante Suprema Personalidade de Deus. Os devotos, entretanto, aceitam essa palavra devaki-janma-vada de um modo diferente. Os devotos entendem que Krishna na realidade era o filho da mãe Yashoda. Apesar de Krishna ter aparecido primeiro como o filho de Devaki, Ele imediatamente Se transferiu para o colo de mãe Yashoda, e Seus passatempos de infância foram desfrutados em bem-aventurança por mãe Yashoda e Nanda Maharaja. Esse fato é admitido pelo próprio Vasudeva quando encontrou Nanda Maharaja e Yashoda em Kurukshetra. Ele admitiu que Krishna e Balarama eram na realidade os filhos de mãe Yashoda e Nanda Maharaja. Vasudeva e Devaki eram somente pai e mãe oficiais Deles. O pai e mãe reais Deles eram Nanda e Yashoda. Portanto Shukadeva Goswami chamou o Senhor Krishna de devaki-janma-vada.

Shukadeva Goswami então glorifica o Senhor como aquele que é honrado pela yadu-vara-parisat, a casa de assembléia da dinastia Yadu, e como o matador de diferentes tipos de demônios. Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, poderia ter matado todos os demônios por empregar Suas diferentes energias materiais, mas Ele queria matá-los pessoalmente a fim de dar-lhes salvação. Não havia necessidade da vinda de Krishna a este mundo material para matar os demônios. Simplesmente por Sua vontade, muitas centenas de milhares de demônios poderiam ser mortos sem Seu empenho pessoal. Mas na realidade Ele descende pelos Seus devotos puros, para brincar como uma criança com mãe Yashoda e Nanda Maharaja e para dar prazer aos habitantes de Dwaraka. Por matar demônios e por dar proteção aos devotos, o Senhor Krishna estabeleceu o real princípio religioso, que é simplesmente amor de Deus. Por seguir os princípios religiosos reais do amor de Deus, mesmo os seres vivos conhecidos como sthira-cara também foram liberados de toda a contaminação material e foram transferidos para o reino espiritual. Sthira significa árvores e plantas, que não podem se mover, e cara significa animais moventes, especialmente as vacas. Quando Krishna estava presente, Ele liberou todas as árvores, macacos e outras plantas e animais que aconteceram de vê-Lo e servi-Lo tanto em Vrindavana quanto em Dwaraka.

O Senhor Krishna é especialmente glorificado por Ele dar prazer para as gopis e as rainhas de Dwaraka. Shukadeva Goswami glorifica o Senhor Krishna pelo Seu sorriso encantador, com o qual Ele encantou não somente as gopis em Vrindavana mas também as rainhas em Dwaraka. A palavra exata usada nessa conexão é vardhayan kamadevam. Em Vrindavana como o namorado de muitas gopis e em Dwaraka como o esposo de muitas rainhas, Krishna incrementou os desejos luxuriosos delas para desfrutarem com Ele. Para a realização de Deus ou auto-realização, a pessoa geralmente tem que se submeter a severas austeridades e penitências por muitos, muitos milhares de anos, e então talvez seja possível realizar Deus. Mas as gopis e as rainhas de Dwaraka, simplesmente por incrementarem seus desejos luxuriosos para desfrutar Krishna como seu namorado ou esposo, receberam o tipo de salvação mais elevado.

Esse comportamento do Senhor Krishna com as gopis e rainhas é único na história da auto-realização. Geralmente pessoas entendem que para a auto-realização tem-se de ir para a floresta ou para as montanhas e se submeter a severas austeridades e penitências. Mas as gopis e as rainhas, simplesmente por serem apegadas a Krishna em amor conjugal e desfrutarem Sua companhia numa assim chamada vida sensual cheia de luxúria e opulência, alcançaram a salvação mais elevada, que é impossível de ser alcançada até mesmo pelos grandes sábios e pessoas santificadas. Similarmente, demônios como Kamsa, Dantavakra, Shishupala, etc., também obtiveram o benefício mais elevado de serem transferidos para o mundo espiritual.

No começo do Srimad Bhagavatam, Srila Vyasadeva ofereceu suas respeitosas reverências à Suprema Verdade, Vasudeva, Krishna. Depois disso, ele ensinou seu filho, Shukadeva Goswami, a pregar Srimad Bhagavatam. Nessa conexão que Shukadeva Goswami glorifica o Senhor como jayati. Por seguir os passos de Srila Vyasadeva, Shukadeva Goswami e todos os acaryas na sucessão discipular, toda a população do mundo deve glorificar o Senhor Krishna, e para seu melhor interesse devem aderir a este movimento da consciência de Krishna. O processo é fácil e prático. É simplesmente cantar o mahamantra, Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. O Senhor Chaitanya recomendou portanto que a pessoa deve ser indiferente aos altos e baixos materiais. Vida material é temporária, e por isso os altos e baixos da vida podem vir e ir. Quando vêm, a pessoa deve ser tão tolerante quanto uma árvore e mais humilde e pacífica do que a palha na rua, mas certamente ela deve se dedicar à Consciência de Krishna por cantar Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare.

A Suprema Personalidade de Deus, Krishna, a Superalma de todos os seres vivos, por Sua misericórdia sem causa descende e manifesta Seus diferentes passatempos transcendentais em diferentes encarnações. Ouvir os passatempos atraentes das diferentes encarnações do Senhor Krishna é uma chance de liberação para a alma condicionada, e as mais fascinantes e encantadoras atividades do Senhor Krishna em Pessoa são ainda mais atraentes porque o Senhor Krishna pessoalmente é todo-atrativo.

Por seguir os passos de Srila Shukadeva Goswami, nós tentamos apresentar este livro Krishna para ser lido e ouvido pelas almas condicionadas desta era. Por ouvir os passatempos do Senhor Krishna, a pessoa é segura e certa de obter salvação e ser transferida de volta ao lar, de volta ao Supremo. É recomendado por Shukadeva Goswami à medida que ouvimos os passatempos e atividades transcendentais do Senhor, nós gradualmente cortamos os nós da contaminação material. Portanto, sem levar em conta o que a pessoa seja, se a pessoa quer a associação do Senhor Krishna no reino transcendental de Deus pela eternidade em existência bem-aventurada, ela deve ouvir sobre os passatempos do Senhor Krishna e cantar o mahamantra, Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

Os passatempos transcendentais da Suprema Personalidade de Deus Krishna são tão poderosos que simplesmente por ouvir, ler e memorizar este livro Krishna, a pessoa é certa de ser transferida para o mundo espiritual, que é ordinariamente muito difícil de alcançar. A descrição dos passatempos do Senhor Krishna é tão atraente que automaticamente nos dá um ímpeto para estudar repetidamente, e quanto mais estudamos os passatempos do Senhor, mais ficamos atraídos por Ele. Esse mesmo apego por Krishna faz a pessoa elegível a ser transferida para Sua morada, Goloka Vrindavana. Como aprendemos no capítulo anterior, atravessar o mundo material é cruzar sobre as leis rigorosas da natureza material. As leis rigorosas da natureza material não podem impedir o progresso de quem é atraído pela natureza espiritual. Isso é confirmado no Bhagavad-gita pelo Senhor em Pessoa: apesar das leis rigorosas da natureza material serem muito difíceis de superar, se a pessoa se rende ao Senhor, ela pode muito facilmente atravessar sobre a ignorância. Não existe, entretanto, influência da natureza material no mundo espiritual. Como aprendemos do Segundo Canto do Srimad Bhagavatam, o poder de governo dos semideuses e a natureza material são conspícuos por sua ausência no mundo espiritual.

Srila Shukadeva Goswami portanto aconselhou Maharaja Parikshit no começo do Segundo Canto que toda alma condicionada deve se dedicar a ouvir e cantar os passatempos transcendentais do Senhor. Srila Shukadeva Goswami também informou o Rei Parikshit que previamente muitos outros reis e imperadores foram à selva praticar severas austeridades e penitências a fim de ir de volta ao lar, de volta ao Supremo. Na Índia, ainda é uma prática que muitos transcendentalistas avançados se retiram de suas famílias e vão a Vrindavana para viver sozinho e completamente dedicado em ouvir e cantar os passatempos sagrados do Senhor. Esse sistema é recomendado no Srimad Bhagavatam, e os seis Goswamis de Vrindavana o seguiram, mas no presente momento muitos karmis e pseudo-devotos superlotaram o local sagrado de Vrindavana justamente para imitar esse processo recomendado por Shukadeva Goswami. É dito que muitos reis e imperadores antigamente foram à floresta para esse propósito, mas Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Goswami Maharaja não recomendou que alguém assuma essa vida solitária em Vrindavana prematuramente.

Alguém que vai prematuramente a Vrindavana para viver em perseguição às instruções de Shukadeva Goswami novamente cai vítima de maya, mesmo com residência em Vrindavana. Para impedir essa residência não autorizada em Vrindavana, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura cantou uma bela canção nessa conexão, o significado dela é o seguinte: "Minha querida mente, por que você é tão orgulhosa de ser um Vaishnava? Sua solitária adoração e canto dos santos nomes do Senhor são baseados num desejo de popularidade barata, e portanto seu canto do santo nome é só uma pretensão. Tal ambição por uma reputação barata pode ser comparada às fezes de um porco porque tal popularidade é outra extensão da influência de maya". Alguém pode ir a Vrindavana por popularidade barata, e ao invés de se absorver em Consciência de Krishna, pode sempre pensar em dinheiro e mulheres, que são simplesmente fontes temporárias de felicidade. É melhor a pessoa dedicar qualquer dinheiro e mulheres que possa ter em sua posse no serviço do Senhor porque desfrute sensual não é para a alma condicionada.

O mestre dos sentidos é Hrishikesha, o Senhor Krishna. Portanto, os sentidos devem estar sempre dedicados em Seu serviço. No que diz respeito à reputação material, existiram muitos demônios como Ravana que queriam ir contra as leis da natureza material, mas todos eles falharam. Ninguém deve portanto adotar a atividade demoníaca de alegar ser um Vaishnava justamente por prestígio falso, sem executar serviço ao Senhor. Mas quando alguém se dedica ao serviço devocional do Senhor, automaticamente a reputação Vaishnava vem a ele. Não há necessidade de ter inveja dos devotos que estão dedicados a pregar as glórias do Senhor. Nós temos experiência prática de sermos aconselhados pelos assim chamados babajis em Vrindavana que não há necessidade de pregar e que é melhor viver em Vrindavana num local solitário e cantar o santo nome. Esses babajis não sabem que se alguém está dedicado no trabalho de pregação ou em glorificar a Suprema Personalidade de Deus, a boa reputação de um pregador automaticamente o segue. Ninguém deve, portanto, prematuramente abandonar a vida honesta de um pai de família para viver uma vida de devassidão em Vrindavana. A recomendação de Srila Shukadeva Goswami para deixar o lar e ir para a floresta na busca por Krishna não é para pessoas imaturas. Maharaja Parikshit era maduro. Mesmo em sua vida de casado, ou desde o início de sua vida, ele adorava a murti do Senhor Krishna. Em sua infância, ele adorava a Deidade do Senhor Krishna, e depois, apesar de ser um pai de família, estava sempre desapegado, e por isso quando obteve a notícia de sua morte, ele imediatamente abandonou toda a conexão com vida familiar e se sentou na margem do Ganges para ouvir Srimad Bhagavatam na associação dos devotos.

 

 

Assim termina o significado Bhaktivedanta do Capítulo Noventa de Krishna, "Descrição Resumida dos Passatempos do Senhor Krishna".

[Thus ends the Bhaktivedanta purport of the Ninetieth Chapter of Kåñëa, "Summary Description of Lord Kåñëa's Pastimes."]

           

            

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Todas as glórias à Sua Divina Graça Visvavarenya Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacarya Ashttotara-shata Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Srila Prabhupada Thakur Mahashaya, aquele que escancarou as Portas do Tesouro Sublime de Krishna Prema de Sriman Mahaprabhu para todos no mundo inteiro, aquele que nos concedeu o Néctar Divino do Magnífico Abrigo aos pés de lótus dos Devotos Puros de Sriman Mahaprabhu, como nosso amado Srila Guru Maharaj Prabhupada

 

 

 

Nitai Gaura Hari Bol

 

 

 

 

 

     

Param Vijayate Sri Krishna Sankirtanam

     

 

 

 

Final da Tradução: São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2020
Gaura-trayodashi

Pela Divina Graça de Srila Prabhupada, Srila Guru Maharaj Prabhupada e todos os nossos Mestres Divinos da Família do Senhor Chaitanya Mahaprabhu

Insignificante Digitador
Visvavandya Dasa
(Guerreiro do Senhor Chaitanya pela Graça Divina de Prabhupada, Guru Maharaj Prabhupada, e meu amado Irmão Sri Srimad Avadhuta Maharaj)

 

     

Param Vijayate Sri Krishna Sankirtanam

     

     

       

 

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