hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Bhagavad-gita Como Ele É"

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Prabhupada

(Volume 1)

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Fundador Acharya da Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna

Prabhupada

Versão condensada completa do "Bhagavad-gita As It Is" de Sua Divina Graça Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada Paramahamsa Thakura Mahashaya da Edição Original em inglês de 1972, sem as supostas "correções" posteriores.

Contém todos os setecentos Versos originais e todos os Significados originais de Srila Prabhupada. Omitimos o verso em sânscrito original (devanagari), os equivalentes em português (sinônimos de cada palavra em sânscrito), e a transliteração romana está sem os acentos diacríticos por motivos de agilidade.

Destacamos aos nobres leitores que Srila Prabhupada, além de ser um Devoto Puro eterno do Senhor, é um enviado pessoal do Senhor, Sri Krishna. Como nosso amado Srila Sridhar Maharaj afirmou, Prabhupada é uma encarnação de Sri Nityananda Prabhu (Shaktiavesha Avatara), e Krishna estava junto com ele para ajudá-lo. Portanto, os Significados de Prabhupada (Iluminação de Srila Prabhupada) chegam a ser mais importantes do que o próprio Verso original, pois são uma manifestação da Inspiração de Krishna. O Senhor Sri Krishna fala por meio de Prabhupada. Além do mais, Srila Prabhupada é um Acharya autêntico da sucessão discipular de Sri Chaitanya Mahaprabhu, por conseguinte, a autoridade fidedigna sobre o assunto. Por isso, nosso esforço em preservar este grande Tesouro Oculto do Doce Absoluto, com todos os Significados originais nectáreos de Srila Prabhupada, que são na realidade os Significados originais dos Acharyas Gaudiya-Vaishnava, como Srila Sridhara Swami, Srila Jiva Goswami Prabhupada, Srila Visvanatha Chakravarti Thakura Prabhupada, Srila Baladeva Vidyabhushana Prabhupada, Srila Bhaktivinoda Thakura Prabhupada, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada e Srila Bhaktirakshaka Sridhara Deva Goswami Maharaja Prabhupada.

 

Término da tradução em 13 de maio de 2010.

 

Pela Divina Graça de Srila Prabhupada, Srila Guru Maharaj Prabhupada, e todos nossos Mestres Divinos:

Versão em Português
Visvavandya Dasa
São Paulo - SP - Brasil
19 de fevereiro de 2009

https://www.nitaigaura.com.br

 

Versão original em inglês com Devanagari, sinônimos e acentos diacríticos na transliteração romana:
(Portal atualizado):
BHAGAVAD-GITA AS IT IS - BVMLU
https://www.bvmlu.org/books/BG.html

     

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

"Bhagavad-gita Como Ele É"

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

 

Ìndice

- (Volume 1)

Apresentação

Dedicatória

Prefácio

Introdução

A Sucessão Discipular (Parampara)

Capítulo 1
Vizualização dos Exércitos no Campo de Batalha em Kurukshetra

Capítulo 2
Resumo do Conteúdo do Gita

Capítulo 3
Karma-yoga

- (Volume 2)

Capítulo 4
Conhecimento Transcendental

Capítulo 5
Karma-yoga - Ação em Consciência de Krishna

Capítulo 6
Sankhya-yoga

Capítulo 7
Conhecimento do Absoluto

Capítulo 8
Realização do Supremo

- (Volume 3)

Capítulo 9
O Conhecimento Mais Confidencial

Capítulo 10
A Opulência do Absoluto

Capítulo 11
A Forma Universal

Capítulo 12
Serviço Devocional

Capítulo 13
Natureza, o Desfrutador e Consciência

- (Volume 4)

Capítulo 14
Os Três Modos da Natureza Material

Capítulo 15
O Yoga da Pessoa Suprema

Capítulo 16
As Naturezas Divina e Demoníaca

Capítulo 17
As Divisões da Fé

Capítulo 18
Conclusão - A Perfeição da Renúncia

-

Glossário Geral

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Bhagavad-gita Como Ele É"

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

 

Bhagavad-gita - Krishna e Arjuna

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Apresentação

Krishna e Arjuna na Quadriga Divina

do Professor Edward C. Dimock Jr.

O Bhagavad-gita é o texto religioso Védico mais conhecido e o mais freqüentemente traduzido. Por que atrai tanto a mente ocidental é uma pergunta interessante. Ele tem drama, pois acontece no cenário entre dois grandes exércitos, com bandeiras flamejantes, um na frente do outro no campo de batalha, prontos para a guerra. Tem ambigüidade, o fato de Arjuna e seu cocheiro Krishna dialogarem entre os dois exércitos sugere a indecisão de Arjuna sobre a questão básica, deve ele entrar na batalha e combater seus amigos e parentes? Tem mistério, quando Krishna mostra para Arjuna Sua forma cósmica. Tem uma visão propriamente complexa dos caminhos da vida religiosa e das ameaças dos caminhos do conhecimento, trabalhos, disciplina e fé, e suas relações mútuas, problemas que perturbam seguidores de outras religiões em outros tempos e lugares. A devoção descrita é um meio deliberado de satisfação religiosa, não uma mera efusão de emoção poética. Ao lado do Bhagatava-purana, o Gita é o texto mais freqüentemente citado nas obras filosóficas da escola Gaudiya Vaishnava, a escola representada por Swami Bhaktivedanta como o último de uma longa sucessão de mestres. Podemos afirmar que essa escola de Vaishnavismo foi fundada, ou revivida, por Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu (1486-1534) na Bengala, que até hoje é a única força religiosa prevalecente e mais potente na parte oriental do subcontinente indiano. A escola Gaudiya Vaishnava, que tem Krishna como o próprio Deus Supremo, e não meramente uma encarnação ou outra deidade, vê bhakti como uma força religiosa imediata e poderosa, que consiste do amor entre a pessoa e Deus. Sua disciplina consiste em dedicar todas as ações pessoais à Deidade, e ouvir sobre as histórias de Krishna dos textos sagrados, cantar o nome de Krishna, limpar, banhar e vestir a murti de Krishna, alimentá-Lo e comer os restos da comida oferecida a Ele, assim absorver Sua graça; a pessoa faz essas coisas e várias outras, até que mude, o devoto se torna transformado em alguém próximo de Krishna, e vê o Senhor face a face.

Swami Bhaktivedanta comenta sobre o Gita desse ponto de vista, que é legítimo. Muito mais do que isso, nesta tradução, o leitor ocidental tem a oportunidade única de ver como o devoto de Krishna interpreta Seus próprios textos. É a tradição da exegese Védica, de fama mais do que justa, em ação. Este Livro é portanto uma adição bem-vinda a muitos pontos de vista. Serve como um livro de consulta valioso para o estudante universitário. Permite que ouçamos o intérprete perito explicar um texto que tem um significado religioso profundo. Que nos dá iluminações dentro das idéias altamente convincentes originais da escola Gaudiya Vaishnava. Com o sânscrito original tanto em devanagari como em transliteração, oferece aos especialistas em sânscrito a oportunidade de reinterpretar, ou debater um significado particular do sânscrito, apesar de eu achar que haverá discordância mínima sobre a qualidade da erudição sânscrita do Swami Bhaktivedanta. E finalmente, para o leigo, há o inglês agradável e uma atitude devocional que não vai ajudar mas emocionar o leitor sensível. E há também quadros, que, por mais incrível que pareça aos versados na arte religiosa indiana contemporânea, foram pintados por devotos americanos.

O acadêmico, o estudante do Vaishnavismo Gaudiya, o número crescente de leitores ocidentais interessados no pensamento Védico clássico foram todos muito bem servidos por Swami Bhaktivedanta. Ao nos trazer uma nova e viva interpretação de um texto já conhecido por muitos, ele incrementou nossa compreensão inúmeras vezes, e argumentos para o entendimento, nestes dias de alienação, não precisam ser feitos.

Professor Edward C. Dimock, Jr.

Departamento de Línguas e Civilização do Sul da Ásia
Universidade de Chicago

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Dedicatória

Para

SRILA BALADEVA VIDYABHUSHANA

que apresentou tão bem
o comentário "Govinda-bhashya"
sobre a filosofia
Vedanta

Prabhupada

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Prefácio

Prabhupada

Originalmente, escrevi o Bhagavad-gita Como Ele É na forma como é apresentada agora. Quando este Livro foi publicado na primeira vez, o manuscrito original, infelizmente, foi cortado a menos de 400 páginas, sem ilustrações e sem explicações para a maioria dos versos originais do Srimad Bhagavad-gita. Em todos meus outros Livros, Srimad Bhagavatam, Sri Ishopanishad, etc., o sistema é que dou o verso original, sua transliteração romana, equivalentes palavra por palavra sânscrito-inglês, tradução e significado. Isso torna o Livro bem autêntico e acadêmico, e deixa o significado auto-evidente. Por isso, não fiquei muito feliz quando tive que reduzir meu manuscrito original. Mas depois, quando a demanda pelo Bhagavad-gita Como Ele É aumentou consideravelmente, muitos acadêmicos e devotos me pediram para apresentar o Livro em Sua forma original, e os Srs. da Macmillan and Co. concordaram em publicar a edição completa. Assim, a tentativa presente é oferecer o manuscrito original deste grande Livro de conhecimento com a explicação completa do parampara a fim de estabelecer o movimento da consciência de Krishna com mais consistência e progresso.

Nosso movimento da consciência de Krishna é genuíno, historicamente autorizado, natural e transcendental por ter como base o Bhagavad-gita Como Ele É. Torna-se gradualmente o movimento mais popular no mundo inteiro, especialmente entre a geração jovem. Torna-se cada vez mais interessante à geração mais velha também. Pessoas idosas ficam interessadas, tanto que os pais e avós de meus discípulos nos encorajam por se tornarem membros vitalícios de nossa grande sociedade, a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. Em Los Angeles, muitos pais e mães vinham me ver para expressar seus sentimentos de gratidão pela minha condução do movimento da consciência de Krishna no mundo inteiro. Alguns disseram que os americanos tinham muita sorte por eu ter começado o movimento da consciência de Krishna na América do Norte. Mas na realidade, o pai original deste movimento é o próprio Senhor Krishna, pois foi iniciado muito tempo atrás e vem até hoje para a sociedade humana através da sucessão discipular. Se eu tenho algum crédito a esse respeito, não pertence a mim pessoalmente, mas sim a meu mestre espiritual eterno, Sua Divina Graça Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacarya 108 Sri Srimad Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Maharaja Prabhupada.

Se tenho algum crédito pessoal sobre isso, é apenas que tentei apresentar o Bhagavad-gita como Ele é, sem adulteração. Antes da minha apresentação do Bhagavad-gita Como Ele É, quase todas edições do Bhagavad-gita eram apresentadas para satisfazer a ambição pessoal de alguém. Mas nossa tentativa, ao apresentar o Bhagavad-gita Como Ele É, é apresentar a missão da Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Nosso negócio é apresentar a vontade de Krishna, não a de qualquer especulador mundano como o político, o filósofo e o cientista, pois eles têm pouquíssimo conhecimento sobre Krishna, apesar de todo o outro conhecimento que possuem. Quando Krishna diz, man-mana bhava mad-bhakto mad-yaji mam namaskuru, etc., nós, diferente dos outros acadêmicos, não dizemos que Krishna e Seu espírito interior são diferentes. Krishna é absoluto, e não há diferença entre o nome de Krishna, a forma de Krishna, as qualidades de Krishna, os passatempos de Krishna, etc.. Essa posição absoluta de Krishna é difícil de entender para qualquer pessoa que não é devota de Krishna no parampara (sucessão discipular). Geralmente, os ditos acadêmicos, políticos, filósofos e swamis, sem conhecimento perfeito sobre Krishna, tentam banir ou matar Krishna quando escrevem comentários sobre o Bhagavad-gita. Tal comentário desautorizado sobre o Bhagavad-gita é conhecido como Mayavada-bhashya, e o Senhor Chaitanya nos alertou sobre essas pessoas desautorizadas. O Senhor Chaitanya afirma claramente que qualquer um que tenta entender o Bhagavad-gita do ponto de vista mayavadi cometerá um grande erro. O resultado de tal erro é que o estudante desorientado do Bhagavad-gita ficará confuso sobre o caminho da guia espiritual e não será capaz de voltar para o lar, de volta ao Supremo.

Nossa única intenção é apresentar este Bhagavad-gita Como Ele É a fim de guiar o estudante condicionado para o mesmo propósito pelo qual Krishna descende neste planeta uma vez a cada dia de Brahma, ou a cada 8.600.000.000 anos. Este propósito é confirmado no Bhagavad-gita, e temos de aceitá-lo como ele é, de outro modo não há como tentar entender o Bhagavad-gita e Seu orador, o Senhor Krishna. O Senhor Krishna falou o Bhagavad-gita primeiro ao deus do Sol algumas centenas de milhões de anos atrás. Temos que aceitar esse fato e assim entender o significado histórico do Bhagavad-gita, sem más interpretações, com a autoridade de Krishna. Interpretar o Bhagavad-gita sem nenhuma referência à vontade de Krishna é a maior das ofensas. Para se salvaguardar de cometer essa ofensa, a pessoa tem que entender o Senhor como a Suprema Personalidade de Deus, como Ele foi compreendido diretamente por Arjuna, o primeiro discípulo do Senhor Krishna. Tal entendimento sobre o Bhagavad-gita é realmente proveitoso e autorizado para o bem da sociedade humana na satisfação da missão da vida.

O movimento da consciência de Krishna está essencialmente na sociedade humana, pois oferece a perfeição mais elevada da vida. Como isto acontece é explicado plenamente no Bhagavad-gita. Infelizmente, questionadores mundanos aproveitam o Bhagavad-gita para impulsionar suas propensões demoníacas e confundir as pessoas sobre a compreensão correta dos princípios simples da vida. Todos devem saber como Deus, ou Krishna, é grandioso, e todos devem saber a posição real dos seres vivos. Todos devem saber que o ser vivo é eternamente servo, e a menos que sirva Krishna, a pessoa terá que servir a ilusão nas diversas variedades dos três modos da natureza material, a dessa forma terá que vagar perpetuamente dentro do ciclo de nascimento e morte, mesmo o dito especulador mayavadi tem que se sujeitar a esse processo. Este conhecimento constitui uma grande ciência, e todo e cada ser vivo tem que ouvi-lo para seu próprio benefício.

As pessoas em geral, especialmente nesta Era de Kali, estão enamoradas pela energia externa de Krishna, e têm a idéia errada de que pelo avanço dos confortos materiais todos serão felizes. Não têm conhecimento de que a natureza material ou externa é muito forte, por isso que todos estão fortemente presos às leis severas da natureza material. O ser vivo é feliz como parte e parcela do Senhor. Por causa do encanto da ilusão, a pessoa tenta ser feliz por servir sua própria satisfação sensual de várias formas que nunca a deixarão feliz. Em vez de satisfazer seus próprios sentidos materiais, ela tem que tentar satisfazer os sentidos do Senhor. Esta é a perfeição mais elevada da vida. O Senhor quer isso, e Ele demanda isso. A pessoa tem que entender esse ponto central do Bhagavad-gita. Nosso movimento da consciência de Krishna ensina ao mundo inteiro esse ponto central, e porque não poluímos o tema do Bhagavad-gita Como Ele É, qualquer pessoa seriamente interessada em obter o benefício do estudo do Bhagavad-gita deve aceitar a ajuda do movimento da consciência de Krishna para a compreensão prática do Bhagavad-gita sob a guia direta do Senhor. Nós esperamos portanto que as pessoas obtenham o maior benefício do estudo do Bhagavad-gita Como Ele É como O apresentamos aqui, e mesmo se apenas uma pessoa se tornar devota do Senhor, consideramos nossa tentativa um sucesso.

A. C. Bhaktivedanta Swami

Sydney, Austrália, 12 de maio de 1971

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Introdução

(de Srila Prabhupada)

Prabhupada

om ajnana-timirandhasya
jnananjana-salakaya
caksur unmilitam yena
tasmai sri-gurave namah

sri-caitanya-mano-'bhistam
sthapitam yena bhu-tale
svayam rupah kada mahyam
dadati sva-padantikam

Nasci na mais escura ignorância, e meu mestre espiritual abriu meus olhos com o archote do conhecimento. Presto minhas respeitosas reverências a ele.

Quando Sri Rupa Goswami Prabhupada, que estabeleceu neste mundo material a missão de satisfazer o desejo do Senhor Chaitanya, me dará refúgio sob seus pés de lótus?

vande 'ham
sri-guroh sri-yuta-pada-kamalam sri-gurun vaisnavams ca
sri-rupam sagrajatam saha-gana-raghunathanvitam tam sa-jivam
sadvaitam savadhutam parijana-sahitam krsna-caitanya-devam
sri-radha-krsna-padan saha-gana-lalita-sri-visakhanvitams ca

Presto minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de meu mestre espiritual e aos pés de lótus de todos Vaishnavas. Presto minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de Sri Rupa Goswami junto com seu irmão mais velho Sanatana Goswami, bem como a Raghunatha Dasa e Raghunatha Bhatta, Gopala Bhatta, e Srila Jiva Goswami. Presto minhas respeitosas reverências ao Senhor Krishna Chaitanya e Senhor Nityananda junto com Adwaita Acharya, Gadadhara, Shrivasa, e Seus outros companheiros. Ofereço minhas respeitosas reverências a Srimati Radharani e Sri Krishna junto com Suas companheiras, Sri Lalita e Vishakha.

he krsna karuna-sindho
dina-bandho jagat-pate
gopesa gopika-kanta
radha-kanta namo 'stu te

Ó meu querido Krishna, Você é o amigo do aflito e a fonte da criação. Você é o mestre das gopis e o amante de Radharani. Presto minhas respeitosas reverências a Você.

tapta-kancana-gaurangi
radhe vrndavanesvari
vrsabhanu-sute devi
pranamami hari-priye

Presto minhas respeitosas reverências a Radharani cuja tez corpórea é como ouro fundido e que é a Rainha de Vrindavana. Você é a filha do rei Vrishabhanu, e Você é muito querida pelo Senhor Krishna.

vancha-kalpatarubhyas ca
krpa-sindhubhya eva ca
patitanam pavanebhyo
vaisnavebhyo namo namah

Presto minhas respeitosas reverências a todos Vaishnavas devotos do Senhor que podem satisfazer os desejos de todos, assim como árvores dos desejos, e que têm muita compaixão pelos seres caídos.

sri-krsna-caitanya
prabhu-nityananda
sri-advaita gadadhara
srivasadi-gaura-bhakta-vrnda

Presto minhas respeitosas reverências a Sri Krishna Chaitanya, Prabhu Nityananda, Sri Adwaita, Gadadhara, Shrivasa e todos os outros na linha da devoção.

hare krsna hare krsna
krsna krsna hare hare
hare rama hare rama
rama rama hare hare

O Bhagavad-gita também é conhecido como Gitopanishad. É a essência do conhecimento Védico e um dos Upanishads mais importantes da literatura Védica. Claro que há muitos comentários em inglês sobre o Bhagavad-gita, e alguém pode perguntar qual a necessidade de outro. Esta presente edição pode ser explicada da seguinte forma. Uma senhora americana me pediu recentemente para recomendar uma tradução inglesa do Bhagavad-gita. Claro que na América há muitas edições do Bhagavad-gita disponíveis em inglês, mas como pude ver, não apenas na América mas também na Índia, nenhuma delas pode ser considerada estritamente como autorizada porque em quase todas elas, o comentarista expressa suas próprias opiniões sem tocar no espírito do Bhagavad-gita como Ele é.

O espírito do Bhagavad-gita é mencionado no próprio Bhagavad-gita. É como quando queremos tomar um remédio específico, temos que seguir as instruções escritas na bula. Não podemos tomar o remédio conforme nosso desejo pessoal ou pela instrução dum amigo. Temos que tomar de acordo com as instruções da bula ou as instruções dadas por um médico. Similarmente, o Bhagavad-gita tem que ser lido ou aceito como é instruído pelo próprio orador. O orador do Bhagavad-gita é o Senhor Sri Krishna. Ele é mencionado em cada página do Bhagavad-gita como a Suprema Personalidade de Deus, Bhagavan. Claro que a palavra bhagavan às vezes se refere a alguma pessoa poderosa ou algum semideus poderoso, e certamente que aqui bhagavan indica o Senhor Sri Krishna como uma grande personalidade, mas ao mesmo tempo devemos saber que o Senhor Sri Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, como é confirmado por todos grandes acharyas (mestres espirituais) como Shankaracharya, Ramanujacharya, Madhwacharya, Nimbarka Swami, Sri Chaitanya Mahaprabhu e muitas outras autoridades do conhecimento Védico da Índia. O próprio Senhor se estabelece como a Suprema Personalidade de Deus no Bhagavad-gita, e Ele é aceito dessa forma no Brahma-samhita e todos Puranas, especialmente o Srimad Bhagavatam, conhecido como Bhagavata Purana (krsnas tu bhagavan svayam). Por isso que temos de aceitar o Bhagavad-gita como Ele é instruído pela própria Suprema Personalidade de Deus.

Parampara do Bhagavad-gita

O Senhor afirma no Quarto Capítulo do Gita (4.1-3):

imam vivasvate yogam
proktavan aham avyayam
vivasvan manave praha
manur iksvakave 'bravit

evam parampara-praptam
imam rajarsayo viduh
sa kaleneha mahata
yogo nastah parantapa

sa evayam maya te 'dya
yogah proktah puratanah
bhakto 'si me sakha ceti
rahasyam hy etad uttamam

O Senhor informa para Arjuna aqui que este sistema de yoga, o Bhagavad-gita, foi falado primeiramente ao deus do Sol, e o deus do Sol O explicou a Manu, e Manu O explicou a Iksvaku, e dessa forma, pela sucessão discipular, um orador depois do outro, este sistema de yoga descendeu. Mas foi perdido no devido curso do tempo. Conseqüentemente, o Senhor teve que falá-Lo novamente, dessa vez para Arjuna no campo de batalha em Kurukshetra.

Parampara do Bhagavad-gita

Ele diz para Arjuna que relata o segredo supremo para ele porque ele é Seu devoto e Seu amigo. O significado disso é que o Bhagavad-gita é um tratado especialmente destinado ao devoto do Senhor. Existem três classes de transcendentalistas, chamados o jñani, o yogi e o bhakta, ou o impersonalista, o meditador e o devoto. O Senhor diz claramente a Arjuna que fez dele o primeiro a receber um novo parampara (sucessão discipular) porque a sucessão antiga foi quebrada. Portanto, foi a vontade do Senhor estabelecer outro parampara na mesma linha de pensamento que vinha do deus do Sol até os outros, e foi Seu desejo que Seu ensinamento fosse dado primeiramente a Arjuna. Ele queria que Arjuna se tornasse a autoridade na compreensão do Bhagavad-gita. Assim notamos que o Bhagavad-gita foi instruído para Arjuna especialmente porque Arjuna é um devoto do Senhor, um aluno direto de Krishna, e Seu amigo íntimo. Dessa forma, o Bhagavad-gita é mais bem entendido pela pessoa que tem qualidades similares às de Arjuna. Quer dizer que deve ser um devoto numa relação direta com o Senhor. Esse é um assunto muito bem elaborado, mas podemos afirmar brevemente que um devoto tem um relacionamento com a Suprema Personalidade de Deus em uma das cinco maneiras diferentes:

1. A pessoa pode ser um devoto no estado passivo;
2. A pessoa pode ser um devoto no estado ativo;
3. A pessoa pode ser um devoto como um amigo;
4. A pessoa pode ser um devoto como um pai ou uma mãe;
5. A pessoa pode ser um devoto como uma amante conjugal.

Arjuna tem um relacionamento com o Senhor como amigo. Claro que tem um abismo de diferença entre essa amizade e a amizade encontrada no mundo material. Essa é uma amizade transcendental que ninguém pode ter. Claro que todos têm um relacionamento pessoal com o Senhor, e esse relacionamento é evocado pela perfeição do serviço devocional. Mas no status da nossa vida presente, nós não apenas esquecemos o Supremo Senhor, como também esquecemos nossa relação eterna com o Senhor. Cada ser vivo, entre muitos e muitos bilhões e trilhões de seres vivos, tem uma relação particular com o Senhor eternamente. Isso se chama swarupa, e esse estágio se chama swarupa-siddhi, perfeição da posição constitucional da pessoa. Arjuna portanto é um devoto, e está em contato com o Supremo Senhor em amizade.

Devemos notar como Arjuna aceitou este Bhagavad-gita. Seu modo de aceitação é dado no Décimo Capítulo (10.12-14):

arjuna uvaca
param brahma param dhama
pavitram paramam bhavan
purusam sasvatam divyam
adi-devam ajam vibhum

ahus tvam rsayah sarve
devarsir naradas tatha
asito devalo vyasah
svayam caiva bravisi me

sarvam etad rtam manye
yan mam vadasi kesava
na hi te bhagavan vyaktim
vidur deva na danavah

"Arjuna disse: Você é o Brahman Supremo, o supremo, a morada suprema e o supremo purificador, a Verdade Absoluta e a Pessoa Divina eterna. Você é o Deus primordial, transcendental e original, e Você é a beleza todo-penetrante e não-nascida. Todos grandes sábios como Narada, Asita, Devala e Vyasa proclamam isso sobre Você, e agora Você mesmo declara isso para mim. Ó Krishna, aceito como verdade tudo que Você me disse. Nem os deuses nem os demônios, ó Senhor, conhecem Você pessoalmente".

Depois de ouvir o Bhagavad-gita da Suprema Personalidade de Deus, Arjuna aceitou Krishna como param brahma, o Brahman Supremo. Todo ser vivo é brahman, mas o ser vivo supremo, ou a Suprema Personalidade de Deus, é o Brahman Supremo. Param dhama significa o abrigo supremo ou morada de tudo, pavitram significa que Ele é puro, não manchado pela contaminação material, purusham significa que Ele é o supremo desfrutador, sasvatam, original, divyam, transcendental, adi-devam, a Suprema Personalidade de Deus, ajam, o não-nascido, e vibhum, o maior, o onipresente.

Alguém pode dizer agora que porque Krishna é amigo de Arjuna, Arjuna disse tudo isso como forma de adulação, mas Arjuna, para eliminar esse tipo de dúvida das mentes dos leitores do Bhagavad-gita, reforça essas preces no verso seguinte onde diz que Krishna é aceito como a Suprema Personalidade de Deus não apenas por ele mas por autoridades como o sábio Narada, Asita, Devala, Vyasadeva e assim por diante. Que são grandes personalidades que distribuem o conhecimento Védico como é aceito por todos acharyas. Por isso Arjuna diz a Krishna que aceita tudo que Ele diz como plenamente perfeito. Sarvam etad rtam manye: "Eu aceito tudo que Você diz como verdade". Arjuna também diz que a personalidade do Senhor é muito difícil de ser compreendida e que Ele não pode ser conhecido mesmo pelos grandes semideuses. Isso quer dizer que o Senhor não pode ser conhecido por personalidades mais elevadas que os seres humanos. Portanto, como um ser humano pode compreender Sri Krishna sem se tornar seu devoto?

Por isso que o Bhagavad-gita tem de ser aceito com um espírito de devoção. Ninguém deve pensar que é igual a Krishna, nem deve pensar que Krishna é uma personalidade ordinária ou até mesmo uma grande personalidade. O Senhor Sri Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, pelo menos teoricamente, conforme as afirmações do Bhagavad-gita ou as afirmações de Arjuna, para a pessoa que quer entender o Bhagavad-gita. Assim, pelo menos teoricamente, temos que aceitar Sri Krishna como a Suprema Personalidade de Deus, e com esse espírito submisso poderemos entender o Bhagavad-gita. A menos que a pessoa leia o Bhagavad-gita com esse espírito submisso, é muito difícil entender o Bhagavad-gita por causa de Seu grande mistério.

Bhagavad-gita - Krishna e Arjuna antes da batalha

Mas o que é o Bhagavad-gita especificamente? O propósito do Bhagavad-gita é liberar a humanidade da ignorância da existência material. Toda pessoa está em dificuldade de várias formas, como Arjuna também estava em dificuldade por ter que lutar na batalha de Kurukshetra. Arjuna se rendeu a Sri Krishna, e em conseqüência, o Bhagavad-gita foi falado. Não apenas Arjuna, mas cada um de nós está cheio de ansiedades por causa desta existência material. Nossa própria existência está na atmosfera da inexistência. Na realidade, não somos destinados a ser ameaçados pela inexistência. Nossa existência é eterna. Mas fomos colocados em asat de alguma forma. Asat se refere àquilo que não existe.

Entre tantos seres humanos que sofrem, há poucos que realmente inquirem sobre sua posição, sobre o que são, por que foram colocados nesta situação complicada e assim por diante. A menos que a pessoa desperte para essa posição de questionar seu sofrimento, a menos que realize que não quer sofrer e em vez disso realizar uma solução para todos seus sofrimentos, não pode ser considerada um ser humano perfeito. Humanidade começa quando esse tipo de questionamento desperta dentro da mente. Esse questionamento é citado no Brahma-sutra como brahma jijñasa. Toda ação do ser humano é considerada falha a menos que inquira sobre a natureza do Absoluto. Por isso que aqueles que começam a questionar por que sofrem ou de onde vieram e para onde vão depois da morte são estudantes adequados para compreenderem o Bhagavad-gita. O estudante sincero também deve ter um respeito sincero pela Suprema Personalidade de Deus. Arjuna é um aluno assim.

O Senhor Krishna descende especialmente para restabelecer o propósito verdadeiro da vida quando as pessoas esquecem esse propósito. Mesmo assim, entre muitos e muitos seres humanos que despertam, talvez haja um que entra realmente no espírito de entender sua posição, e este Bhagavad-gita foi falado para ele. Na realidade, todos nós somos perseguidos pela tigresa da ignorância, mas o Senhor tem muita compaixão pelos seres vivos, especialmente os seres humanos. Por esse motivo que Ele falou o Bhagavad-gita, e transformou Seu amigo Arjuna em Seu aluno.

Como é um companheiro do Senhor Krishna, Arjuna estava acima de toda ignorância, mas Arjuna foi colocado em ignorância no campo de batalha em Kurukshetra somente para questionar o Senhor Krishna sobre os problemas da vida para que o Senhor pudesse explicá-los para o benefício das futuras gerações de seres humanos e esboçar nosso plano de vida. Assim as pessoas podem agir de acordo e alcançar a perfeição da missão da vida humana.

A matéria do Bhagavad-gita requer a compreensão de cinco verdades básicas. Em primeiro lugar, a ciência de Deus é explicada e depois a posição constitucional dos seres vivos, jivas. Existe isvara, que significa controlador, e existem jivas, os seres vivos que são controlados. Se um ser vivo afirmar que não é controlado mas que é livre, então é insano. O ser vivo é controlado em todos aspectos, pelo menos em sua vida condicionada. Assim no Bhagavad-gita a matéria trata de isvara, o supremo controlador, e os jivas, os seres vivos controlados. Prakriti (natureza material), tempo (a duração da existência de todo o universo ou a manifestação da natureza material) e karma (atividade) também são discutidos. A manifestação cósmica é cheia de atividades variadas. Todos seres vivos estão ocupados em diferentes atividades. Aprendemos no Bhagavad-gita quem é Deus, e o que são os seres vivos, o que é prakriti, o que é a manifestação cósmica, como é controlada pelo tempo, e quais são as atividades dos seres vivos.

Dessas cinco matérias básicas do Bhagavad-gita, está estabelecido que o Supremo Senhor, ou Krishna, ou Brahman, ou o supremo controlador, ou Paramatma; você pode usar o nome que quiser; é o maior de todos. Os seres vivos são como o supremo controlador em qualidade. Por exemplo, o Senhor tem o controle sobre todos assuntos do universo, sobre a natureza material, como será explicado nos últimos capítulos do Bhagavad-gita. A natureza material não é independente. Ela age sob a direção do Supremo Senhor. Como o Senhor Krishna afirma: mayadhyaksena prakrtih suyate sa-caracaram: "Esta natureza material funciona sob a Minha direção". Quando vemos coisas maravilhosas acontecerem na natureza cósmica, devemos saber que por trás da manifestação cósmica tem um controlador. Nada pode se manifestar sem ser controlado. É infantilidade não considerar o controlador. Por exemplo, uma criança pode achar espantoso um automóvel andar sem ser puxado por cavalos ou outros animais, mas a pessoa sóbria sabe a natureza do motor do carro. Ela sempre sabe que por trás da máquina tem uma pessoa, um motorista. Similarmente, o Supremo Senhor é o motorista por cuja direção tudo funciona. Os jivas, ou seres vivos, foram aceitos agora pelo Senhor, como veremos nos últimos capítulos, como Suas partes e parcelas. Uma partícula de ouro também é ouro, uma gota d'água do oceano também é salgada, e similarmente, nós seres vivos, como somos parte e parcela do supremo controlador, isvara, ou Bhagavan, Senhor Sri Krishna, temos todas qualidades do Supremo Senhor em quantidade pequena porque somos isvaras minúsculos, isvaras subordinados. Tentamos controlar a natureza, e no momento tentamos controlar o espaço e os planetas, e essa tendência de controlar existe porque vem de Krishna. Mas apesar de termos a tendência de controlar a natureza material, temos que entender que não somos o controlador supremo. Isso é explicado no Bhagavad-gita.

O que é a natureza material? Isso também é explicado no Gita como prakriti inferior, natureza inferior. O ser vivo é explicado como prakriti superior. Prakriti está sempre sob controle, seja inferior ou superior. Prakriti é feminina, e é controlada pelo Senhor do mesmo modo como as atividades da esposa são controladas pelo esposo. Prakriti é sempre subordinada, predominada pelo Senhor, que é o predominante. O ser vivo e a natureza material são predominados, controlados pelo Supremo Senhor. Segundo o Gita, os seres vivos, apesar de partes e parcelas do Supremo Senhor, são considerados prakriti. Isso é afirmado claramente no Sétimo Capítulo, Quinto Verso do Bhagavad-gita: apareyam itas tv anyam, "Esta prakriti é Minha natureza inferior", prakrtim viddhi me param jiva-bhutam maha-baho yayedam dharyate jagat. E acima dela, existe outra prakriti: jiva-bhutam, o ser vivo.

Prakriti em si é constituída de três qualidades: o modo da bondade, o modo da paixão e o modo da ignorância. Acima desses três modos está o tempo eterno, e pela combinação desses três modos da natureza e sob o controle e supervisão do tempo eterno existem as atividades que se chamam karma. Essas atividades acontecem desde tempos imemoráveis, e nós sofremos ou desfrutamos os frutos de nossas atividades. Por exemplo, suponhamos que eu seja um empresário e trabalhei muito duro com inteligência para acumular um grande saldo bancário. Similarmente, em cada campo da vida, desfrutamos os resultados do nosso trabalho, ou sofremos os resultados. Isso se chama karma.

Isvara (o Supremo Senhor), jiva (o ser vivo), prakriti (natureza), tempo eterno e karma (atividade) são todos explicados no Bhagavad-gita. Desses cinco, o Senhor, os seres vivos, a natureza material e o tempo são eternos. A manifestação de prakriti pode ser temporária, mas não é falsa. Alguns filósofos dizem que a manifestação da natureza material é falsa, mas de acordo com a filosofia do Bhagavad-gita ou de acordo com a filosofia dos Vaishnavas, não é assim. A manifestação do mundo não é aceita como falsa, é aceita como real, mas temporária. É como uma nuvem que se move pelo céu, ou a chegada da estação das chuvas que nutre os grãos. Quando a estação das chuvas acaba e quando a nuvem vai embora, todas plantações nutridas pela chuva secam. Similarmente, esta manifestação cósmica acontece em certos intervalos, permanece por um tempo e depois desaparece. Assim é o funcionamento de prakriti. Mas esse ciclo acontece eternamente. Portanto, prakriti é eterna; não é falsa. O Senhor se refere a ela como "Minha prakriti". Esta natureza material é a energia separada do Supremo Senhor, e da mesma forma os seres vivos também são energia do Supremo Senhor, mas não são separados. São eternamente relacionados. Assim, o Senhor, o ser vivo, a natureza material e o tempo são todos inter-relacionados e são todos eternos. Entretanto, o outro item, karma, não é eterno. Os efeitos do karma podem ser muito antigos de fato. Nós sofremos ou desfrutamos os resultados de nossas atividades desde tempo imemorável, mas podemos mudar o resultado do nosso karma, ou nossa atividade, e essa mudança depende da perfeição de nosso conhecimento. Estamos ocupados em várias atividades. Sem dúvida, não sabemos que tipo de atividades devemos adotar para obter alívio das ações e reações de todas nossas atividades, mas isso também é explicado no Bhagavad-gita.

A posição de isvara é a de consciência suprema. Os jivas, ou os seres vivos, são partes e parcelas do Supremo Senhor, por isso também são conscientes. Tanto o ser vivo quanto a natureza material são explicados como prakriti, a energia do Supremo Senhor, mas um dos dois, o jiva, é consciente. A outra prakriti não é consciente. Essa é a diferença. Assim, jiva-prakriti é considerada superior porque o jiva tem consciência que é similar à do Senhor. Todavia, o Senhor é a consciência suprema, e ninguém deve alegar que o jiva, ser vivo, também é supremamente consciente. O ser vivo não pode ser supremamente consciente em nenhum estágio de sua perfeição, e a teoria que afirma que o ser vivo pode ser é uma teoria desencaminhadora. Por mais consciente que seja, não é perfeitamente ou supremamente consciente.

A distinção entre jiva e isvara será explicada no Décimo Terceiro Capítulo do Bhagavad-gita. O Senhor é kshetra-jña, consciente, como o ser vivo também é, mas o ser vivo é consciente de seu corpo particular, enquanto o Senhor é consciente de todos os corpos. Porque Ele vive no coração de cada ser vivo, Ele é consciente dos movimentos físicos de todos jivas particulares. Não podemos esquecer isso. Também é explicado que o Paramatma, a Suprema Personalidade de Deus, vive no coração de todos como isvara, como o controlador, e Ele dirige os seres vivos para agirem como Ele deseja. O ser vivo esquece o que fazer. Ele determina primeiro como agir em determinada maneira, e depois se enreda nas ações e reações de seu próprio karma. Depois que abandona um tipo de corpo, entra noutro tipo de corpo, da mesma forma como vestimos e trocamos roupas velhas. À medida que a alma migra assim, sofre as ações e reações de suas atividades passadas. Essas atividades podem mudar quando o ser vivo está no modo da bondade, com sanidade, e entende que tipo de atividades deve adotar. Se fizer isso, todas ações e reações de suas atividades passadas podem mudar. Conseqüentemente, karma não é eterno. Por isso que afirmamos que dos cinco itens (isvara, prakriti, tempo e karma) quatro são eternos, enquanto karma não é eterno.

A consciência suprema isvara é similar ao ser vivo da seguinte maneira: ambas consciências do Senhor e dos seres vivos são transcendentais. Não é que a consciência é gerada pela associação com a matéria. Essa é uma idéia errada. A teoria de que a consciência se desenvolve sob certas circunstâncias da combinação material não é aceita pelo Bhagavad-gita. A consciência pode se refletir de forma pervertida pela cobertura das circunstâncias materiais, do mesmo modo com a luz refletida através dum vidro colorido pode parecer de certa cor, mas a consciência do Senhor nunca é afetada materialmente. O Senhor Krishna afirma, mayadhyaksena prakrtih. Quando Ele descende no universo material, Sua consciência não é afetada materialmente. Se Ele fosse afetado assim, Ele seria incapaz de falar sobre os assuntos transcendentais como faz no Bhagavad-gita. Ninguém pode dizer nada a respeito do mundo transcendental sem estar livre da consciência contaminada materialmente. Portanto, o Senhor não é contaminado materialmente. Nossa consciência, no presente momento, entretanto, está contaminada materialmente. O Bhagavad-gita ensina que devemos purificar esta consciência materialmente contaminada. Com a consciência pura, nossas ações serão dedicadas à vontade de isvara, e isso nos fará felizes. Não é que temos de parar todas nossas atividades. Em vez disso, nossas atividades devem ser purificadas, e atividades purificadas se chamam bhakti. Atividades em bhakti parecem como as atividades ordinárias, mas não são contaminadas. Uma pessoa ignorante pode observar que um devoto age ou trabalha como uma pessoa comum, mas essa pessoa com pobre fundo de conhecimento não sabe que as atividades do devoto ou do Senhor não são contaminadas pela consciência impura ou pela matéria. Elas são transcendentais aos três modos da natureza. Temos que saber, todavia, que neste ponto, nossa consciência está contaminada.

Quando estamos contaminados pela matéria, somos considerados condicionados. A consciência falsa se exibe com a falsa impressão de que sou um produto da natureza material. Isso se chama ego falso. A pessoa que está absorta no pensamento das concepções corpóreas não pode entender essa situação. O Bhagavad-gita foi falado para liberar a pessoa do conceito corpóreo de vida, e Arjuna se pôs nessa posição a fim de receber esta informação do Senhor. A pessoa tem que se livrar do conceito corpóreo de vida; essa é a atividade preliminar do transcendentalista. A pessoa que deseja ser livre, que quer ser liberada, deve primeiro aprender que não é este corpo material. Mukti ou liberação significa liberdade da consciência material. O Srimad Bhagavatam também dá a definição de liberação. Muktir hitvanyatha-rupam svarupena vyavasthitih: mukti significa liberação da consciência contaminada deste mundo material e situação na consciência pura. Todas instruções do Bhagavad-gita são destinadas a despertar essa consciência pura, e assim encontramos no último estágio das instruções do Gita que Krishna pergunta a Arjuna se agora está com a consciência purificada. Consciência purificada significa agir de acordo com as instruções do Senhor. Esse é o teor e a essência plenos da consciência purificada. A consciência existe porque somos partes e parcelas do Senhor, mas para nós há a afinidade de sermos afetados pelos modos inferiores. Mas o Senhor, porque é o Supremo, nunca é afetado. Essa é a diferença entre o Supremo Senhor e os seres condicionados.

O que é consciência? Consciência é "eu sou". Então, o que sou eu? Na consciência contaminada, "eu sou" quer dizer "eu sou o senhor de tudo que eu vejo, eu sou o desfrutador". O mundo revolve porque todo ser vivo pensa que é o senhor e o criador do mundo material. A consciência material tem duas divisões psíquicas. Uma é que eu sou o criador, e a outra é que eu sou o desfrutador. Mas na realidade, o Supremo Senhor é tanto o criador quanto o desfrutador, e o ser vivo, que é parte e parcela do Supremo Senhor, não é nem o criador nem o desfrutador, mas um colaborador. Ele é o criado e o desfrutado. Por exemplo, uma parte da máquina coopera com a máquina toda; uma parte do corpo coopera com o corpo todo. As mãos, pés, olhos, pernas e assim por diante são partes do corpo, mas não são os desfrutadores na realidade. O estômago é o desfrutador. A pernas movem, as mãos fornecem a comida, os dentes mastigam, e todas as partes do corpo se dedicam à satisfação do estômago porque o estômago é o fator principal que nutre a organização do corpo. Por isso que tudo é dado ao estômago. Nutrimos uma árvore por regar sua raiz, e nutrimos o corpo por alimentar o estômago, porque se o corpo tiver que ser mantido num estado saudável, as partes do corpo têm que cooperar para alimentar o estômago. Similarmente, o Supremo Senhor é o desfrutador e o criador, e nós, como seres vivos subordinados, somos destinados a cooperar para satisfazê-Lo. Essa cooperação na realidade vai nos ajudar, do mesmo modo como a comida aceita pelo estômago ajudará todas as outras partes do corpo. Se os dedos da mão acharem que devem comer a comida eles mesmos em vez do estômago, ficarão frustrados. A figura central de criação e desfrute é o Supremo Senhor, e os seres vivos são cooperadores. Eles têm prazer pela cooperação. A relação é também como a do mestre com o servo. Se o mestre estiver plenamente satisfeito, o servo também fica satisfeito. Similarmente, o Supremo Senhor deve ficar satisfeito, apesar da tendência de se tornar o criador e a tendência de desfrutar o mundo material também estarem nos seres vivos porque essas tendências existem no Supremo Senhor que criou e manifestou o mundo cósmico.

Encontraremos então neste Bhagavad-gita que o todo completo compreende o supremo controlador, os seres vivos controlados, a manifestação cósmica, o tempo eterno e karma, ou as atividades, e todos são explicados neste texto. Todos esses considerados plenamente formam o todo completo, e o todo completo se chama a Suprema Verdade Absoluta. O todo completo e a Verdade Absoluta completa são a Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna. Todas manifestações acontecem devido às Suas diferentes energias. Ele é o todo completo.

O Gita também explica que o Brahman impessoal também é subordinado ao completo (brahmano hi pratisthaham). O Brahman é explicado com mais detalhes no Brahma-sutra como similar aos raios do Sol brilhante. O Brahman impessoal é os raios brilhantes da Suprema Personalidade de Deus. O Brahman impessoal é uma realização incompleta do todo absoluto, e assim também é o conceito de Paramatma no Décimo Segundo Capítulo. Veremos que a Suprema Personalidade de Deus, Purushottama, está acima do Brahman impessoal e da realização parcial de Paramatma. A Suprema Personalidade de Deus se chama sac-cid-ananda-vigrahah. anadir adir govindah sarva-karana-karanam. "Krishna, é a causa de todas as causas. Ele é a causa primordial, e Ele é a própria forma de eternidade, conhecimento e bem-aventurança". A realização do Brahman impessoal é a realização de seu aspecto sat (existência). A realização Paramatma é a realização de chit (conhecimento eterno). Mas a realização da Suprema Personalidade de Deus, Krishna, é a realização de todos aspectos transcendentais: sat, chit e ananda (existência, conhecimento, bem-aventurança) em plena vigraha (forma).

As pessoas com menos inteligência consideram a Verdade Suprema como impessoal, mas Ele é uma pessoa transcendental, como é confirmado em todas literaturas Védicas. Nityo nityanam cetanas cetananam (Katha Upanishad 2.2.13). Assim como todos nós somos seres vivos individuais e temos nossa individualidade, a Verdade Absoluta Suprema também é, em última instância, uma pessoa, e a realização da Personalidade de Deus é a realização de todos aspectos transcendentais. O todo completo não é sem forma. Se Ele fosse sem forma, ou se Ele fosse inferior a qualquer outro ser, então não poderia ser o todo completo. O todo completo tem que ter tudo que está dentro da nossa experiência e além da nossa experiência, senão não seria completo. O todo completo, a Personalidade de Deus, possui imensas potências (parasya saktir vividhaiva sruyate).

Como Krishna age em diferentes potências também é explicado no Bhagavad-gita. Este mundo fenomenal ou mundo material onde fomos colocados também é completo em si mesmo porque os vinte e quatro elementos dos quais este universo material é uma manifestação temporária, segundo a filosofia Sankhya, são plenamente ajustados para a produção de recursos completos que são necessários para a manutenção e subsistência deste universo. Não existe nada extrínseco, nem é preciso mais nada. Esta manifestação tem seu tempo próprio fixado pela energia do todo supremo, e quando seu tempo completa, estas manifestações temporárias são aniquiladas pelo arranjo pleno do completo. Existe facilidade completa para as minúsculas unidades completas, chamadas seres vivos, para a realização do completo, e todos tipos de imperfeições são experimentadas devido ao conhecimento incompleto sobre o completo. Por isso que o Bhagavad-gita contém o conhecimento completo da sabedoria Védica.

Todo conhecimento Védico é infalível, e os hindus aceitam o conhecimento Védico como completo e infalível. Por exemplo, estrume de vaca é o excremento dum animal, e segundo o smriti, ou lei Védica, se alguém tocar o excremento dum animal, tem que tomar banho para se purificar. Mas nas escrituras Védicas, o estrume da vaca é considerado um agente purificador. Alguém pode achar isso contraditório, mas é aceito porque é uma ordem Védica, e de fato, se a pessoa aceitar isso, não cometerá nenhum erro; posteriormente, a ciência moderna provou que o estrume de vaca contém todas propriedades anti-sépticas. Dessa forma, o conhecimento Védico é completo porque está acima de todas dúvidas e erros, e o Bhagavad-gita é a essência de todo conhecimento Védico.

Conhecimento Védico não é uma questão de pesquisa. Nosso trabalho de pesquisa é imperfeito porque pesquisamos as coisas com sentidos imperfeitos. Temos que aceitar o conhecimento perfeito que vem para baixo, como o Bhagavad-gita afirma, pelo parampara (sucessão discipular). Temos que receber o conhecimento da fonte correta na sucessão discipular que começa com o mestre espiritual supremo, o Senhor em pessoa, e transmitido para baixo através da sucessão de mestres espirituais. Arjuna, o aluno que teve aulas com o Senhor Sri Krishna, aceita tudo que Ele diz sem contradizê-Lo. Ninguém tem permissão para aceitar uma parte do Bhagavad-gita e outra não. Não. Temos que aceitar o Bhagavad-gita sem interpretação, sem anulação e sem a nossa participação caprichosa na matéria. O Gita tem que ser aceito como a apresentação mais perfeita do conhecimento Védico. O conhecimento Védico é recebido de fontes transcendentais, e as primeiras palavras são faladas pelo Senhor em pessoa. As palavras faladas pelo Senhor se chamam apaurusheya, significa que são diferentes das palavras faladas por uma pessoa do mundo mundano que está infectada pelos quatro defeitos. A pessoa mundana 1) comete erros com certeza, 2) está invariavelmente iludida, 3) tem a tendência de enganar outros e 4) é limitada por sentidos imperfeitos. Com essas quatro imperfeições, ninguém pode fornecer informação perfeita sobre o conhecimento todo-penetrante.

Sarasvati - Deusa do Conhecimento - Esposa de Brahma

O conhecimento Védico não é concedido por tais seres vivos defeituosos. Ele foi concedido ao coração de Brahma, o primeiro ser vivo criado, e Brahma por sua vez disseminou este conhecimento para seus filhos e discípulos, da forma como recebeu originalmente do Senhor. O Senhor é purnam, todo perfeito, e não existe possibilidade de Ele ficar sujeito às leis da natureza material. A pessoa deve então ser inteligente o suficiente para saber que o Senhor é o único proprietário de tudo no universo e que Ele é o criador original, o criador de Brahma. O Décimo Primeiro Capítulo cita o Senhor como prapitamaha porque Brahma é chamado pitamaha, o avô, e Ele é o criador do avô. Por isso que ninguém deve se considerar proprietário de algo; a pessoa deve aceitar apenas as coisas que lhe foram destinadas pelo Senhor como sua cota para sua manutenção.

Krishna transmite os Vedas ao coração de Brahma

Há muitos exemplos sobre como devemos utilizar as coisas que nos foram destinadas pelo Senhor. Isso também é explicado no Bhagavad-gita. Primeiramente, Arjuna decidiu que não deveria lutar na batalha de Kurukshetra. Essa foi sua decisão pessoal. Arjuna disse ao Senhor que não era possível ele desfrutar do reino depois de matar seus próprios parentes. Essa decisão foi baseada no corpo porque ele pensava que o corpo era ele mesmo e que as suas relações ou expansões corpóreas eram seus irmãos, sobrinhos, cunhados, avós e assim por diante. Ele pensou dessa forma para satisfazer suas demandas corpóreas. O Senhor falou o Bhagavad-gita justamente para mudar esse ponto de vista, e Arjuna finalmente decidiu lutar sob a direção do Senhor quando disse, karisye vacanam tava: "Agirei de acordo com Sua ordem".

As pessoas deste mundo não se destinam a trabalhar arduamente como animais. A pessoa tem que ser inteligente para realizar a importância da vida humana e recusar a ação como um animal ordinário. O ser humano tem que realizar o objetivo de sua vida, e todas literaturas Védicas dão essa orientação, e o Bhagavad-gita dá a essência. A literatura Védica se destina aos seres humanos, não aos animais. Animais podem matar outros animais vivos, e não há questão de pecado para eles, mas se um ser humano matar um animal para a satisfação de seu apetite descontrolado, será responsabilizado por infringir as leis da natureza. O Bhagavad-gita explica claramente que há três tipos de atividades conforme os diferentes modos da natureza: as atividades da bondade, da paixão e da ignorância. Similarmente, também há três tipos de comestíveis: comestíveis na bondade, paixão e ignorância. A explicação de tudo isso é bem clara, e se usarmos as instruções do Bhagavad-gita corretamente, nossa vida inteira se tornará purificada, e ultimamente seremos capazes de alcançar o destino que está além deste céu material.

Esse destino se chama céu sanatana, o céu espiritual eterno. Notamos que neste mundo material tudo é temporário. Começa a existir, permanece por algum tempo, produz alguns subprodutos, degenera-se e depois desaparece. Assim é a lei do mundo material, seja se usarmos o exemplo deste corpo, ou um pedaço de fruta, ou qualquer coisa. Mas além deste mundo temporário existe outro mundo do qual temos informação. Esse mundo consiste de outra natureza, que é sanatana, eterna. O jiva também é descrito como sanatana, eterno, e o Senhor também é descrito como sanatana no Décimo Primeiro Capítulo. Nós temos uma relação íntima com o Senhor, e porque todos somos qualitativamente unos; o sanatana-dhama, ou céu, a Suprema Personalidade de Deus sanatana e os seres vivos sanatana; o propósito total do Bhagavad-gita é reviver nossa ocupação sanatana, ou sanatana-dharma, que é a ocupação eterna do ser vivo. Estamos ocupados temporariamente em diferentes atividades, mas todas essas atividades podem ser purificadas quando abandonamos todas essas atividades temporárias e adotamos as atividades que são prescritas pelo Supremo Senhor. Isso se chama vida pura.

Os 3 mundos - Goloka Vrindavana, Vaikuntha e mundo material

O Supremo Senhor e Sua morada transcendental são sanatana, bem como os seres vivos, e a associação combinada do Supremo Senhor e dos seres vivos na morada sanatana é a perfeição da vida humana. O Senhor é muito bom para os seres vivos porque são Seus filhos. O Senhor Krishna declara no Bhagavad-gita, sarva-yonisu... aham bija-pradah pita: "Eu sou o pai de todos". Claro que existem todos tipos de seres vivos conforme seus vários karmas, mas o Senhor declara que Ele é o pai de todos. Por isso que o Senhor descende para resgatar todos esses seres caídos, condicionados, para chamá-los de volta ao céu eterno sanatana para que os seres vivos sanatana recuperem suas posições eternas sanatana na companhia eterna do Senhor. O Senhor vem pessoalmente em diferentes encarnações, e Ele manda Seus servos confidenciais como Seus filhos ou Seus companheiros ou acharyas para resgatar as almas condicionadas.

Portanto, sanatana-dharma não se refere a qualquer processo sectário de religião. É a função eterna dos seres vivos eternos na relação com o Supremo Senhor eterno. Sanatana-dharma se refere, como foi dito antes, à ocupação eterna do ser vivo. Ramanujacharya explicou a palavra sanatana como "aquilo que não tem começo nem fim", assim quando falamos sobre sanatana-dharma, temos que nos valer da autoridade de Sri Ramanujacharya e saber que não tem começo nem fim.

A palavra portuguesa religião é um pouco diferente de sanatana-dharma. Religião conduz à idéia de fé, e a fé pode mudar. A pessoa pode ter fé num processo particular, e pode mudar sua fé e adotar outro, mas sanatana-dharma se refere àquela atividade que não pode mudar. Por exemplo, não se pode tirar a liquidez da água, nem tirar o calor do fogo. Similarmente, a função eterna do ser vivo eterno não pode ser tirada do ser vivo. Sanatana-dharma é eternamente integral ao ser vivo. Quando falamos sobre sanatana-dharma, portanto, temos que nos valer da autoridade de Sri Ramanujacharya e saber que não tem começo nem fim. O que não tem começo nem fim não pode ser sectário, pois não pode ser limitado por quaisquer fronteiras. Quem pertence a alguma fé sectária pensa erroneamente que sanatana-dharma também é sectário, mas se analisarmos profundamente o assunto e considerá-lo à luz da ciência moderna, será possível vermos que sanatana-dharma é o negócio de todas pessoas do mundo, mais ainda, de todos seres vivos do universo.

Fé religiosa não-sanatana pode ter algum começo nos anais da história humana, mas não há início para a história de sanatana-dharma porque permanece eternamente com os seres vivos. No que diz respeito aos seres vivos, os shastras autorizados afirmam que o ser vivo não tem nascimento nem morte. O Gita afirma que o ser vivo nunca nasce, e nunca morre. Ele é eterno e indestrutível, e continua a viver depois da destruição de seu corpo material temporário. No que se refere ao conceito de sanatana-dharma, devemos tentar entender o conceito de religião pelo significado da raiz sânscrita da palavra. Dharma se refere àquilo que existe constantemente com o objeto particular. Concluímos que existe calor e luz com o fogo; sem calor e luz, não há sentido para a palavra fogo. Similarmente, temos que descobrir a parte essencial do ser vivo, a parte que é sua companheira constante. Essa companheira constante é sua qualidade eterna, e essa qualidade eterna é sua religião eterna.

Quando Sanatana Goswami perguntou a Sri Chaitanya Mahaprabhu sobre o swarupa de cada ser vivo, o Senhor respondeu que o swarupa ou posição constitucional dos seres vivos é prestar serviço à Suprema Personalidade de Deus. Se analisarmos essa afirmação do Senhor Chaitanya, poderemos ver facilmente que todo ser vivo está constantemente dedicado a prestar serviço a outro ser vivo. Um ser vivo serve outros seres vivos em duas capacidades. O ser vivo desfruta a vida ao fazer isso. Os animais inferiores servem os seres humanos do mesmo modo como os servos servem seu mestre. A serve o mestre B, B serve o mestre C e C serve o mestre D, e assim por diante. Nessas circunstâncias, podemos notar que um amigo serve outro amigo, a mãe serve o filho, a esposa serve o marido, o marido serve a esposa e assim por diante. Se continuarmos a pesquisa com esse espírito, veremos que não existe exceção na sociedade dos seres vivos para a atividade do serviço. O político apresenta seu manifesto para o público a fim de convencê-los sobre sua capacidade de serviço. Os eleitores então dão seus votos valiosos ao político, com a esperança de que ele prestará um grande serviço à sociedade. Os comerciantes servem os clientes, e o artesão serve o capitalista. O capitalista serve a família, e a família serve o estado nos termos da capacidade eterna do ser vivo eterno. Dessa forma, podemos realizar que nenhum ser vivo está isento de prestar serviço a outros seres vivos, e portanto podemos concluir com segurança que o serviço é o companheiro constante do ser vivo e que a prestação de serviço é a religião eterna do ser vivo.

Ainda assim, as pessoas professam pertencerem a um tipo particular de fé com referência a tempo e circunstância particulares, e assim se considera Hindu, Islâmico, Cristão, Budista ou de outra seita. Tais designações não são sanatana-dharma. Um Hindu pode mudar sua fé e se tornar Islâmico, ou um Islâmico pode mudar sua fé e se tornar Hindu, ou um Cristão pode mudar sua fé e assim por diante. Mas em todas circunstâncias a mudança de fé religiosa não afeta a ocupação eterna de prestar serviço a outros. O Hindu, Islâmico ou Cristão em todas circunstâncias é servo de alguém. Por isso que professar algum tipo particular de seita não é professar o sanatana-dharma pessoal. A prestação de serviço é sanatana-dharma.

Na realidade, estamos relacionados ao Supremo Senhor em serviço. O Supremo Senhor é o desfrutador supremo, e nós seres vivos somos Seus serventes. Fomos criados para o desfrute Dele, e se participarmos do desfrute eterno com a Suprema Personalidade de Deus, nos tornaremos felizes. Não podemos nos tornar felizes de outra forma. Não é possível ser feliz independentemente, do mesmo modo como nenhuma parte do corpo pode ser feliz sem cooperar com o estômago. Não é possível para o ser vivo ser feliz sem prestar serviço amoroso transcendental ao Supremo Senhor.

O Bhagavad-gita não aprova a adoração a diferentes semideuses ou prestar serviço a eles. O décimo segundo verso do Sétimo Capítulo afirma:

kamais tais tair hrta-jnanah
prapadyante 'nya-devatah
tam tam niyamam asthaya
prakrtya niyatah svaya

"Aqueles cujas mentes estão corrompidas pelos desejos materiais se rendem aos semideuses e seguem as regras e regulamentos particulares para a adoração conforme suas próprias naturezas". Aqui diz claramente que aqueles controlados pela luxúria adoram os semideuses e não o Supremo Senhor Krishna. Quando mencionamos o nome Krishna, não nos referimos a nenhum nome sectário. Krishna significa o prazer mais elevado, e é confirmado que o Supremo Senhor é o reservatório ou depósito de todo prazer. Nós ansiamos por prazer. Ananda-mayo 'bhyasat (Vedanta-sutra 1.1.12). Os seres vivos, como o Senhor, são plenamente conscientes, e estão à procura da felicidade. O Senhor é feliz perpetuamente, e se os seres vivos se associarem ao Senhor, cooperarem com Ele e fizerem parte de Sua companhia, também se tornarão felizes.

O Senhor descende a este mundo mortal para exibir Seus passatempos em Vrindavana, que são cheios de felicidade. Quando o Senhor Sri Krishna estava em Vrindavana, Suas atividades com Seus amigos meninos pastores de vacas, com Suas donzelas amigas, com os habitantes de Vrindavana e com as vacas eram todas cheias de felicidade. A população total de Vrindavana não conhecia nada além de Krishna. Mas o Senhor Krishna até mesmo desencorajou Seu pai Nanda Maharaja de adorar o semideus Indra porque Ele queria estabelecer o fato de que as pessoas não precisam adorar nenhum semideus. Elas só precisam adorar a Suprema Personalidade de Deus porque seu objetivo supremo é retornar à Sua morada.

O sexto verso do Décimo Quinto Capítulo do Bhagavad-gita descreve a morada do Senhor Sri Krishna:

na tad bhasayate suryo
na sasanko na pavakah
yad gatva na nivartante
tad dhama paramam mama

"Minha morada não é iluminada pelo Sol ou pela Lua, nem por eletricidade e qualquer um que a alcance nunca volta para este mundo material".

Este verso dá uma descrição desse céu eterno. Claro que temos um conceito material sobre o céu, e pensamos nele em relação ao Sol, Lua, estrelas e tudo mais, mas nesse verso, o Senhor afirma que o céu eterno não tem necessidade de Sol nem de Lua nem de nenhum tipo de fogo porque o céu espiritual já é iluminado pelo brahmajyoti, os raios brilhantes que emanam do Supremo Senhor. Tentamos com muita dificuldade alcançar outros planetas, mas não é muito difícil entender a morada do Supremo Senhor. Essa morada se chama Goloka. O brahma-samhita (5.37) a descreve belamente: goloka eva nivasaty akhilatma-bhutah. O Senhor reside eternamente em Sua morada Goloka, mesmo assim, é possível se aproximar Dele neste mundo, para isso, o Senhor vem para manifestar Sua forma verdadeira, sac-cid-ananda-vigrahah. Porque Ele manifesta essa forma, não há necessidade que imaginemos como Ele parece. Para desencorajar tal especulação imaginária, Ele descende e Se exibe como Ele é, como Shyamasundara. Infelizmente, os menos inteligentes O desprezam porque Ele vem como um de nós e atua entre nós como um ser humano. Mas por causa disso, não devemos considerar que o Senhor é um de nós. Ele se apresenta em Sua forma real perante nós por Sua onipotência, e exibe Seus passatempos, que são protótipos dos passatempos encontrados em Sua morada.

Existem inumeráveis planetas que flutuam nos raios brilhantes do céu espiritual. O brahmajyoti emana da morada suprema, Krishnaloka, e os planetas anandamaya-cinmaya, que não são materiais, flutuam nesses raios. O Senhor afirma, na tad bhasayate suryo na sasanko na pavakah. yad gatva na nivartante tad dhama paramam mama. A pessoa que conseguir alcançar o céu espiritual não é mais obrigada a descer para o céu material. No céu material, mesmo se nos aproximarmos do planeta mais elevado (Brahmaloka), o que dizer da Lua, encontraremos as mesmas condições de vida, a saber nascimento, morte, velhice e doença. Nenhum planeta do universo material está livre desses quatro princípios da existência material. Por isso que o Senhor afirma no Bhagavad-gita, abrahma-bhuvanal lokah punar avartino 'rjuna. Os seres vivos viajam de um planeta a outro, não por arranjo mecânico, mas pelo processo espiritual. Também menciona, yanti deva-vrata devan pitrn yanti pitr-vratah. Não é necessário nenhum arranjo mecânico se quisermos viagens interplanetárias. O Gita instrui, yanti deva-vrata devan. A Lua, o Sol e planetas superiores se chamam Swargaloka. Existem três status diferentes de planetas, os sistemas planetários superior, intermediário e inferior. A Terra pertence ao sistema planetário intermediário. O Bhagavad-gita nos informa sobre como viajar aos sistemas planetários superiores (Devaloka) com uma fórmula muito simples, yanti deva-vrata devan. A pessoa só tem que adorar o semideus específico do planeta em particular e assim irá para a Lua (original), Sol ou qualquer outro dos sistemas planetários superiores.

Os 3 mundos - Goloka Vrindavana, Vaikuntha e mundo material

Ainda assim, o Bhagavad-gita não nos aconselha a ir para qualquer planeta deste mundo material porque mesmo se formos para Brahmaloka, o planeta mais elevado, por meio de algum tipo de dispositivo mecânico depois de viajar por quarenta mil anos (quem vive tanto?), encontraremos as mesmas inconveniências de nascimento, morte, doença e velhice. Mas quem alcança o planeta supremo, Krishnaloka, ou qualquer outro planeta dentro do céu espiritual, não encontrará essas inconveniências materiais. Entre todos planetas do céu espiritual existe um planeta supremo chamado Goloka Vrindavana, que é o planeta original da morada da Personalidade de Deus original, Sri Krishna. O Bhagavad-gita dá toda essa informação, e recebemos a informação por meio de Sua instrução sobre como deixar o mundo material e começar uma vida com verdadeira bem-aventurança no céu espiritual.

O Décimo Quinto Capítulo do Bhagavad-gita dá o verdadeiro quadro do mundo material. Lá, é dito:

urdhva-mulam adhah-sakham
asvattham prahur avyayam
chandamsi yasya parnani
yas tam veda sa veda-vit

"O Supremo Senhor disse: Existe uma árvore (figueira sagrada) que tem suas raízes para cima e seus galhos para baixo, e os hinos Védicos são suas folhas. A pessoa que conhece essa árvore é conhecedora dos Vedas" (Bg. 15.1). A descrição do mundo material aqui é de uma árvore cujas raízes estão para cima e os galhos para baixo. Temos a experiência sobre uma árvore cujas raízes estão para cima, se olharmos da margem dum rio ou de qualquer reservatório de água, vemos que as árvores refletidas estão de cabeça para baixo. Os galhos estão para baixo e as raízes para cima. Similarmente, este mundo material é um reflexo do mundo espiritual. O mundo material é só uma sombra da realidade. Não existe realidade ou substância na sombra, mas por meio da sombra, podemos entender que existe substância e realidade. No deserto, não há água, mas a miragem sugere que existe tal coisa como a água. No mundo material, não há água, não há felicidade, mas a água real da verdadeira felicidade está no mundo espiritual.

Árvore do mundo material

O Senhor sugere que alcancemos o mundo espiritual da seguinte maneira (Bg. 15.5):

nirmana-moha jita-sanga-dosa
adhyatma-nitya vinivrtta-kamah
dvandvair vimuktah sukha-duhkha-samjnair
gacchanty amudhah padam avyayam tat

Esse padam avyayam, ou reino eterno, pode ser alcançado pela pessoa que é nirmana-moha. Que significa? Estamos atrás de designações. Alguém deseja se tornar "senhor", outro deseja se tornar "nobre", outro quer se tornar o presidente ou uma pessoa rica ou um rei ou qualquer outra coisa. Enquanto estivermos apegados a essas designações, estamos apegados ao corpo porque as designações pertencem ao corpo. Mas nós não somos estes corpos, e essa realização é o primeiro estágio da realização espiritual. Estamos associados aos três modos da natureza material, mas temos que nos desapegar por meio do serviço devocional ao Senhor. Se não temos apego pelo serviço devocional ao Senhor, não podemos nos desapegar dos três modos da natureza material. Designações e apegos são devidos à nossa luxúria e desejo, nosso anseio por dominar a natureza material. Até que abandonemos a propensão de dominar a natureza material, não há possibilidade de retorno ao reino do Senhor, sanatana-dhama. O reino eterno, que nunca é destruído, pode ser alcançado por quem não se confunde com as atrações dos prazeres materiais falsos, e está situado no serviço ao Supremo Senhor. Quem estiver nessa situação pode se aproximar facilmente da morada suprema.

O Gita (8.21) também afirma:

avyakto 'ksara ity uktas
tam ahuh paramam gatim
yam prapya na nivartante
tad dhama paramam mama

Avyakta significa não-manifesto. Nem mesmo o mundo material inteiro se manifesta perante nós. Nossos sentidos são tão imperfeitos que não podemos ver todas estrelas dentro deste universo material. Podemos receber muita informação sobre todos planetas na literatura Védica, e podemos acreditar ou não. Todos planetas importantes são descritos nas literaturas Védicas, especialmente no Srimad Bhagavatam, e o mundo espiritual, que está além deste céu material, é descrito como avyakta, não-manifesto. A pessoa tem que desejar e ansiar por esse reino supremo, pois quando alcançar esse reino, não tem que voltar para este mundo material.

Depois, alguém pode questionar sobre como se consegue aproximar dessa morada do Supremo Senhor. O Oitavo Capítulo dá essa informação. Lá, é dito:

anta-kale ca mam eva
smaran muktva kalevaram
yah prayati sa mad-bhavam
yati nasty atra samsayah

"Qualquer um que abandona o corpo, no fim da vida, lembra-se de Mim, alcança imediatamente a Minha natureza, e não há dúvida sobre isso" (Bg. 8.5). Quem pensa em Krishna na hora da sua morte vai para Krishna. A pessoa tem que lembrar a forma de Krishna; se deixar seu corpo com o pensamento em Sua forma, aproxima-se do reino espiritual. Mad-bhavam se refere à natureza suprema do Ser Supremo. O Ser Supremo é sac-cid-ananda-vigrahah, eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurança. Nosso corpo presente não é sac-cid-ananda. É asat, não sat. Não é eterno, é perecível. Não é chit, pleno de conhecimento, mas é pleno de ignorância. Não temos conhecimento sobre o reino espiritual, nem temos conhecimento perfeito sobre este mundo material onde existem tantas coisas desconhecidas por nós. O corpo também é nirananda, em vez de ser pleno de bem-aventurança, é cheio de sofrimento. Todos os sofrimentos que experimentamos neste mundo material surgem do corpo, mas a pessoa que deixa este corpo com o pensamento na Suprema Personalidade de Deus obtém imediatamente um corpo sac-cid-ananda, como a promessa do quinto verso do Oitavo Capítulo onde o Senhor Krishna afirma, "ela alcança Minha natureza".

O processo de deixar este corpo e obter outro corpo no mundo material também é organizado. A pessoa morre depois da decisão de qual tipo de corpo terá na próxima vida. As autoridades superiores, não o ser vivo em si, tomam essa decisão. De acordo com nossas atividades nesta vida, ou nos elevamos ou nos afundamos. Esta vida é uma preparação para a próxima vida. Se pudermos nos preparar, portanto, nesta vida para conseguir a promoção ao reino de Deus, então com certeza, depois de deixar o corpo material, obteremos um corpo espiritual igual ao do Senhor.

Como explicamos anteriormente, existem três tipos de transcendentalistas, o brahma-vadi, o paramatma-vadi e o devoto, como mencionamos, existem planetas inumeráveis no brahmajyoti (céu espiritual). O número desses planetas é muito maior do que todos os planetas deste mundo material. Este mundo material é estimado como apenas um quarto da criação (ekamsena sthito jagat). Existem milhões e bilhões de universos nesse segmento com trilhões de planetas e sóis, estrelas e luas. Mas esta criação material inteira é só um fragmento da criação total. A maior parte da criação está no céu espiritual. A pessoa que deseja se fundir na existência do Brahman Supremo é transferida imediatamente ao brahmajyoti do Supremo Senhor e alcança assim o céu espiritual. O devoto que deseja desfrutar da companhia do Senhor, entra nos planetas Vaikuntha, que são inumeráveis, e o Supremo Senhor com Suas expansões plenárias como Narayana de quatro braços e com vários nomes como Pradyumna, Aniruddha, Govinda, etc. Se associa com a pessoa lá. Portanto, no fim da vida, os transcendentalistas pensam ou no brahmajyoti, ou no Paramatma ou na Suprema Personalidade de Deus Sri Krishna. Em todos os casos, entram no céu espiritual, mas somente o devoto, ou quem está em contato pessoal com o Supremo Senhor, entra nos planetas Vaikuntha. O Senhor acrescenta mais ainda que "não há dúvida" quanto a isso. Temos que acreditar nisso com firmeza. Não devemos rejeitar aquilo que não calculamos com nossa imaginação, nossa atitude deve ser igual à de Arjuna: "Eu acredito em tudo que Você disse". Assim, quando o Senhor afirma que na hora da morte quem quer que pense Nele como Brahman ou Paramatma ou como a Personalidade de Deus, entrará no céu espiritual com certeza, não há dúvida quanto a isso. Não tem como não acreditar nisso.

O Gita (8.6) também dá a informação sobre como pensar no Ser Supremo na hora da morte:

yam yam vapi smaran bhavam
tyajaty ante kalevaram
tam tam evaiti kaunteya
sada tad-bhava-bhavitah

"Seja qual for a condição que a pessoa esteja quando deixa seu corpo presente, alcançará este estado de existência na próxima vida sem falha". A natureza material é uma exibição de uma das energias do Supremo Senhor. O Vishnu Purana (6.7.61) descreve as energias totais do Supremo Senhor:

visnu-saktih para prokta
ksetra-jnakhya tatha para
avidya-karma-samjnanya
trtiya saktir isyate

O Supremo Senhor possui diversas e inumeráveis energias que estão além de nossa concepção; porém, grandes sábios eruditos ou almas liberadas estudaram essas energias e as analisaram em três partes. Todas energias pertencem a vishnu-shakti, significa que são diferentes potências do Senhor Vishnu. Essa energia é para, transcendental. Os seres vivos também pertencem à energia superior, como já explicamos. As outras energias, ou energias materiais, estão no modo da ignorância. Na hora da morte, podemos permanecer na energia inferior deste mundo material, ou nos transferir para a energia do mundo espiritual.

Na vida nos acostumamos a pensar ou na energia material ou na espiritual. Existem tantas literaturas que enchem nossos pensamentos com a energia material, jornais, revistas, romances, etc.. Nosso pensamento, que está absorto nessas literaturas agora, tem que ser transferido para as literaturas Védicas. Por isso que os grandes sábios escreveram tantas literaturas Védicas como os Puranas, etc.. Os Puranas não são imaginários, são registros históricos. Tem o seguinte verso no Sri Chaitanya Charitamrita (Madhya 20.122):

maya-mugdha jivera nahi svatah krsna-jnana
jivere krpaya kaila krsna veda-purana

Os seres vivos esquecidos ou almas condicionadas esqueceram sua relação com o Supremo Senhor, e estão absortas no pensamento de atividades materiais. Krishna-dwaipayana Vyasa justamente para transferir o poder de pensar deles para o céu espiritual concedeu um grande número de literaturas Védicas. Primeiro, ele dividiu os Vedas em quatro, depois explicou os Puranas, e escreveu o Mahabharata para as pessoas com menos capacidade intelectual. O Bhagavad-gita está dentro do Mahabharata. Depois, toda literatura Védica foi resumida no Vedanta-sutra, e para a orientação futura ele concedeu o comentário natural sobre o Vedanta-sutra, chamado Srimad Bhagavatam. Devemos sempre ocupar nossas mentes na leitura dessas literaturas Védicas. Da mesma forma como materialistas ocupam suas mentes na leitura de jornais, revistas e tantas literaturas materialistas, devemos transferir nossa leitura para essas literaturas que nos foram presenteadas por Vyasadeva; assim será possível para nós lembrarmos o Supremo Senhor na hora da morte. Esse é o único caminho sugerido pelo Senhor, e Ele garante o resultado: "Não há dúvida".

tasmat sarvesu kalesu
mam anusmara yudhya ca
mayy arpita-mano-buddhir
mam evaisyasy asamsayah

"Portanto, Arjuna, você deve pensar sempre em Mim, e ao mesmo tempo deve continuar seu dever prescrito e lutar. Com sua mente e atividades sempre fixas em Mim e com tudo dedicado a Mim, você Me alcançará sem nenhuma dúvida" (Bg. 8.7).

Ele não aconselha Arjuna a pensar sempre Nele e abandonar sua ocupação. Não, o Senhor nunca sugere nada impraticável. Neste mundo material, a pessoa tem que trabalhar para manter o corpo. A sociedade humana é dividida em quatro ordens sociais de acordo com o trabalho, brahmana, kshatriya, vaishya e shudra. A classe brahmana ou classe inteligente trabalha de uma forma, a classe kshatriya ou administrativa trabalha de outra forma, e a classe mercantil e os empregados todos tendem a seus deveres específicos. Na sociedade humana, seja empregado, comerciante, guerreiro, administrador, fazendeiro, ou mesmo se pertencer à classe mais alta e for um erudito, cientista ou teólogo, tem que trabalhar para manter sua existência. Por isso que o Senhor diz para Arjuna que não precisa abandonar sua ocupação, mas quando estiver dedicado à sua ocupação, tem que lembrar Krishna (mam anusmara). Se não praticar a lembrança de Krishna enquanto luta pela existência, não será possível lembrar Krishna na hora da morte. O Senhor Chaitanya também faz o mesmo aviso. Ele afirma, kirtaniyah sada harih, a pessoa tem que praticar a lembrança do Senhor por cantar os nomes do Senhor sempre. Os nomes do Senhor e o Senhor não são diferentes. Assim, a instrução do Senhor Krishna para Arjuna "lembre-se de Mim" e a instrução do Senhor Chaitanya para "sempre cantar os nomes do Senhor Krishna" são a mesma instrução. Não tem diferença, porque Krishna e o nome de Krishna não são diferentes. No status absoluto não tem diferença entre referência e referido. Por isso que temos de praticar a lembrança do Senhor sempre, vinte e quatro horas por dia, por cantar Seus nomes e modificar as atividades de nossa vida de modo que possamos lembrá-Lo sempre.

Como isso é possível? Os acharyas dão o seguinte exemplo. Se uma mulher casada tiver atração por outro homem, ou se um homem tiver atração por uma mulher que não é sua esposa, essa atração é considerada muito forte. A pessoa que tem essa atração sempre pensa no seu amado. A esposa que pensa no seu amante sempre imagina como encontrá-lo, mesmo quando cuida dos assuntos de seu esposo. De fato, ela faz seu dever de casa com mais cuidado ainda para que seu esposo não suspeite de sua atração. Similarmente, devemos sempre lembrar nosso amante supremo, Sri Krishna, e ao mesmo tempo realizar nossos deveres materiais muito bem. Aqui se requer um grande senso de amor. Se tivermos um grande senso de amor pelo Supremo Senhor, assim poderemos cumprir nosso dever e ao mesmo tempo nos lembrar Dele. Mas precisamos desenvolver esse senso de amor. Arjuna, por exemplo, pensava sempre em Krishna, ele era um companheiro constante de Krishna, e ao mesmo tempo era um guerreiro. Krishna não o aconselhou a abandonar a luta e ir para a floresta meditar. Quando o Senhor Krishna descreveu o sistema de yoga para Arjuna, Arjuna disse que a prática desse sistema não era possível para ele.

arjuna uvaca
yo 'yam yogas tvaya proktah
samyena madhusudana
etasyaham na pasyami
cancalatvat sthitim sthiram

"Arjuna disse. Ó Madhusudana, o sistema de yoga que Você resumiu parece impossível e insuportável para mim, porque minha mente é inquieta e instável" (Bg. 6.33)
Mas o Senhor disse:

yoginam api sarvesam
mad-gatenantaratmana
sraddhavan bhajate yo mam
sa me yuktatamo matah

"De todos yogis, aquele que sempre se abriga em Mim com muita fé e Me adora com serviço devocional transcendental, está unido a Mim em yoga com mais intimidade, e é o mais elevado de todos" (Bg. 6.47). Portanto, aquele que pensa sempre no Supremo Senhor é o yogi mais elevado, o maior jñani e o melhor devoto ao mesmo tempo. O Senhor diz ainda mais para Arjuna que como um kshatriya ele não pode abandonar a luta, mas se Arjuna lutar com a lembrança em Krishna, então será capaz de lembrá-Lo na hora da morte. Porém, a pessoa tem que estar plenamente rendida em serviço devocional transcendental ao Senhor.

Na realidade, nós não trabalhamos com nosso corpo, mas com nossa mente e inteligência. Assim se a inteligência e a mente estiverem sempre dedicadas ao pensamento do Supremo Senhor, então naturalmente os sentidos também estarão dedicados a Seu serviço. Superficialmente, pelo menos, as atividades dos sentidos permanecem a mesma, mas a consciência muda. O Bhagavad-gita ensina a pessoa como absorver a mente e a inteligência no pensamento do Senhor. Tal absorção capacitará a pessoa a se transferir para o reino do Senhor. Se a mente estiver dedicada ao serviço de Krishna, então os sentidos automaticamente estarão dedicados a Seu serviço. Essa é a arte, e esse é também o segredo do Bhagavad-gita, absorção total no pensamento de Krishna.

O homem moderno fez um grande esforço para alcançar a Lua, mas não tentou com muito empenho se elevar espiritualmente. Se a pessoa tiver mais cinqüenta anos de vida, deve dedicar esse tempo curto ao cultivo dessa prática de lembrar a Suprema Personalidade de Deus. Essa prática é o processo devocional de (Bhag. 7.5.23):

sravanam kirtanam visnoh
smaranam pada-sevanam
arcanam vandanam dasyam
sakhyam atma-nivedanam

Esses nove processos, dos quais o mais fácil é sravanam, ouvir o Bhagavad-gita da pessoa realizada, mudarão a pessoa para o pensamento no Ser Supremo. Isso conduzirá a nishchala, lembrança do Supremo Senhor, e capacitará a pessoa, quando deixar o corpo, a obter um corpo espiritual que é adequado para a companhia do Supremo Senhor.

O Senhor afirma ainda mais:

abhyasa-yoga-yuktena
cetasa nanya-gamina
paramam purusam divyam
yati parthanucintayan

"A prática dessa lembrança, sem se desviar, com o pensamento sempre no Deus Supremo, fará com certeza que a pessoa alcance o planeta do Divino, a Suprema Personalidade, ó filho de Kunti (Bg. 8.8).

Não é um processo difícil. Porém, temos que aprendê-lo com uma pessoa experiente, com quem já está na prática. A mente sempre voa daqui para lá, mas a pessoa tem sempre que praticar a concentração da mente na forma do Supremo Senhor, Sri Krishna, ou no som de Seu nome. A mente é naturalmente inquieta, vai de lá para cá, mas pode acalmar com a vibração sonora de Krishna. Assim, a pessoa deve meditar em paramam purusham, a Pessoa Suprema, e então alcançá-La. Os caminhos e os meios para a realização suprema, o ganho supremo, são dados no Bhagavad-gita, e as portas deste conhecimento estão abertas para todos. Ninguém é barrado. Todas as classes de pessoas podem se aproximar do Senhor por meio da lembrança Dele, porque ouvir e pensar Nele é possível para todos.

O Senhor afirma mais ainda (Bg. 9.32-33):

mam hi partha vyapasritya
ye 'pi syuh papa-yonayah
striyo vaisyas tatha sudras
te 'pi yanti param gatim

kim punar brahmanah punya
bhakta rajarsayas tatha
anityam asukham lokam
imam prapya bhajasva mam

"Ó filho de Pritha, qualquer pessoa que se abrigue em Mim, seja uma mulher, ou um comerciante, ou nascida numa família inferior, mesmo assim pode se aproximar do destino supremo. Quanto mais elevados então são os brahmanas, os piedosos, os devotos e os reis santos! Neste mundo de sofrimento, eles estão fixos no serviço devocional ao Senhor".

Seres humanos mesmo nos status de vida inferiores (um comerciante, uma mulher ou um empregado) podem alcançar o Supremo. A pessoa não precisa ter uma inteligência altamente desenvolvida. O ponto é que qualquer pessoa que aceita o princípio de bhakti-yoga e aceita o Supremo Senhor como benefício máximo da vida, como a meta mais elevada, o objetivo último, pode se aproximar do Senhor no céu espiritual. Se a pessoa adota os princípios enunciados no Bhagavad-gita, pode tornar sua vida perfeita e realizar uma solução perfeita para todos problemas da vida que surgem da natureza transitória da existência material. Esse é o teor e a essência do Bhagavad-gita inteiro.

Em conclusão, o Bhagavad-gita é uma literatura transcendental que a pessoa deve ler com muito cuidado. Ele é capaz de salvar a pessoa de todo medo.

nehabhikrama-naso 'sti pratyavayo na vidyate
svalpam apy asya dharmasya trayate mahato bhayat

"Neste esforço não existe perda nem diminuição, e um pequeno avanço neste caminho pode proteger a pessoa do mais perigoso tipo de medo" (Bg. 2.40). Se a pessoa ler o Bhagavad-gita sinceramente e seriamente, todas as reações de seus maus feitos passados não reagirão contra ela. O Senhor Sri Krishna proclama na última parte do Bhagavad-gita (18.66):

sarva-dharman parityajya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah

"Abandone todos tipos de religião, e apenas se renda a Mim. Porque em troca Eu vou protegê-lo de todas reações pecaminosas. Portanto, você não tem nada a temer". Assim o Senhor assume toda a responsabilidade por qualquer pessoa que se rende a Ele, e Ele indeniza todas reações de pecado.

Srimad Bhagavad-gita - Krishna instrui Arjuna

A pessoa se limpa diariamente por tomar banho com água, mas quem se banha pelo menos uma vez na água sagrada do Ganges do Bhagavad-gita limpa para sempre toda a sujeira da vida material. Porque o Bhagavad-gita foi falado pessoalmente pela Suprema Personalidade de Deus, ninguém precisa ler qualquer outra literatura Védica. A pessoa só precisa ouvir com atenção e regularmente o Bhagavad-gita. Na era atual, a humanidade está tão absorta em atividades mundanas que não é possível ler todas literaturas Védicas. Mas isso não é necessário. Este único livro, Bhagavad-gita, é suficiente porque é a essência de todas literaturas Védicas e porque foi falado pela Suprema Personalidade de Deus. É dito que quem bebe as águas do Ganges obtém a salvação com certeza, o que falar então de alguém que bebe as águas do Bhagavad-gita? O Gita é o próprio néctar do Mahabharata falado pelo próprio Vishnu, porque o Senhor Krishna é o Vishnu original. É néctar que emana da boca da Suprema Personalidade de Deus, e é dito que o Ganges emana dos pés de lótus do Senhor. Claro que não há diferença entre a boca e os pés do Supremo Senhor, mas na nossa posição podemos apreciar que o Bhagavad-gita é mesmo mais importante do que o Ganges.

O Bhagavad-gita é como uma vaca, e o Senhor Krishna, que é um menino pastor de vacas, ordenha esta vaca. O leite é a essência dos Vedas, e Arjuna é como se fosse o bezerro. As pessoas inteligentes, os grandes sábios e devotos puros, querem beber o leite nectáreo do Bhagavad-gita.

Bhagavad-gita - Krishna instrui Arjuna

Nos dias de hoje, as pessoas anseiam em ter uma escritura, um Deus, uma religião, e uma ocupação. Assim, que haja uma escritura comum para o mundo inteiro, Bhagavad-gita. E que haja apenas um Deus para o mundo inteiro, Sri Krishna. E apenas um mantra, Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. E que haja apenas um trabalho, o serviço à Suprema Personalidade de Deus.

A Sucessão Discipular

Meditação de Vyasa

Narada instrui Vyasa

Sri Pancha Tattva

Seis Goswamis de Vrindavana

Sri Gaudiya Vaishnava Sampradaya

Prabhupada

evam parampara-praptam imam rajarsayo viduh
(Bhagavad-gita 4.2).

"Este Bhagavad-gita Como Ele É foi recebido através desta sucessão discipular":


(Sri Brahma-Madhwa-Gaudiya-Vaishnava Sampradaya)
 

       

1.

Krishna

17.

Brahmanya Tirtha

2.

Brahma

18.

Vyasa Tirtha

3.

Narada

19.

Lakshmipati

4.

Vyasa

20.

Madhavendra Puri

5.

Madhwa

21.

Isvara Puri, (Nityananda, Adwaita)

6.

Padmanabha

22.

Senhor Chaitanya

7.

Nrihari

23.

Rupa, (Swarupa, Sanatana)

8.

Madhava

24.

Raghunatha, Jiva

9.

Akshobhya

25.

Krishnadasa

10.

Jaya Tirtha

26.

Narottama

11.

Jñanasindhu

27.

Visvanatha

12.

Dayanidhi

28.

(Baladeva) Jagannatha

13.

Vidyanidhi

29.

Bhaktivinoda

14.

Rajendra

30.

Gaurakishora

15.

Jayadharma

31.

Bhaktisiddhanta Sarasvati

16.

Purushottama

32.

Bhaktivedanta Swami Prabhupada

       

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Prabhupada

Sua Divina Graça
Sri Srimad Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura  Prabhupada

Sua Divina Graça
Sri Srimad Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(Mestre Espiritual de Srila Prabhupada)

Srila Gaura Kishora Dasa Babaji Maharaja Prabhupada

Sua Divina Graça
Sri Srimad Srila Gaura Kishora Dasa Babaji Maharaja Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(Mestre Espiritual de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura)

Srila Bhaktivinoda Thakura Prabhupada

Sua Divina Graça
Sri Srimad Srila Bhaktivinoda Thakura Prabhupada
Paramahamsa Mahashaya
(Pioneiro do Movimento Sankirtana no Ocidente)
(Amigo íntimo de Srila Gaura Kishora Babaji)
(Pai de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura)

Seis Goswamis de Vrindavana

Os Seis Goswamis de Vrindavana
Discípulos Diretos do Senhor Chaitanya Mahaprabhu
(Srila Rupa Goswami Prabhupada, Srila Sanatana Goswami Prabhupada, Srila Raghunatha Bhatta Goswami Prabhupada, Srila Raghunatha Dasa Goswami Prabhupada, Srila Jiva Goswami Prabhupada e Srila Gopala Bhatta Goswami Prabhupada)

Sri Pancha Tattva

Sri Pañcha Tattva
As Cinco Encarnações Simultâneas do Senhor
nesta Era de Kali
(Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, Sri Nityananda Prabhu, Sri Adwaita Prabhu, Sri Gadadhara Prabhu e Sri Shrivasa Prabhu)

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Bhagavad-gita Como Ele É

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Srila Prabhupada

 

Capítulo 1

Visualização dos Exércitos no Campo de Batalha em Kurukshetra

 

Sridham Kurukshetra

 

Verso 1

dhrtarastra uvaca
dharma-ksetre kuru-ksetre
samaveta yuyutsavah
mamakah pandavas caiva
kim akurvata sanjaya

Tradução

Dhritarastra disse: Ó Sanjaya, que fazem meus filhos e os filhos de Pandu, depois de se reunirem no lugar de peregrinação em Kurukshetra, todos com desejo de lutar?

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Bhagavad-gita é a ciência teísta amplamente lida que é resumida no Gita-mahatmya (Glorificação do Gita). Lá é dito que a pessoa deve ler o Bhagavad-gita muito cuidadosamente com a ajuda de uma pessoa que é um devoto de Sri Krishna, e tentar entendê-Lo sem interpretações pessoalmente motivadas. O exemplo da compreensão clara está no próprio Bhagavad-gita, pela forma como o ensinamento é compreendido por Arjuna, que ouviu o Gita direto do Senhor. Se a pessoa tiver bastante sorte para entender o Bhagavad-gita nesta linha de sucessão discipular, sem interpretação motivada, ela supera todos estudos da sabedoria Védica, e todas escrituras do mundo. A pessoa encontrará no Bhagavad-gita tudo que está em outras escrituras, bem como tudo aquilo que não se acha em nenhum outro lugar. Assim é o padrão específico do Gita. É a ciência teísta perfeita porque é falado diretamente pela Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna.

Os assuntos discutidos entre Dhritarastra e Sanjaya, como descritos no Mahabharata, formam o princípio básico desta grande filosofia. Compreendemos que esta filosofia se desenvolveu no campo de batalha em Kurukshetra, que é um lugar sagrado de peregrinação desde os tempos imemoráveis da era Védica. Foi falado pessoalmente pelo Senhor quando Ele esteve presente pessoalmente neste planeta para orientar a humanidade.

A palavra dharma-kshetra (lugar onde se realizam rituais religiosos) é significativa porque, no campo de batalha em Kurukshetra, a Suprema Personalidade de Deus estava presente ao lado de Arjuna. Dhritarastra, o pai dos Kurus, duvidava altamente sobre a possibilidade de vitória de seus filhos no final. Com essa dúvida, ele perguntou a seu secretário Sanjaya: "Que fazem meus filhos e os filhos de Pandu"? Ele tinha certeza que seus filhos e os filhos de seu irmão mais novo Pandu estavam reunidos no campo de batalha em Kurukshetra determinados a se empenharem na guerra. Ainda assim, sua pergunta é significativa. Ele não desejava um comprometimento entre primos e irmãos, e queria ter certeza sobre o destino de seus filhos no campo de batalha. Como a batalha foi planejada para acontecer em Kurukshetra, mencionado em todas partes dos Vedas como um lugar de adoração, até mesmo para os habitantes do céu, Dhritarastra estava com muito temor sobre a influência do lugar sagrado no resultado da batalha. Ele sabia muito bem que seria uma influência favorável a Arjuna e aos filhos de Pandu, porque eles eram virtuosos por natureza. Sanjaya era discípulo de Vyasa, e pela graça de Vyasa, Sanjaya tinha a habilidade de visualizar o campo de batalha em Kurukshetra apesar de estar na sala de Dhritarastra. Assim, Dhritarastra perguntou a ele sobre a situação no campo de batalha.

Os Pandavas e os filhos de Dhritarastra pertenciam à mesma família. Mas a mentalidade de Dhritarastra é desvendada aqui. Ele deliberadamente chamou apenas seus filhos de Kurus, e separou os filhos de Pandu da herança familiar. Portanto, podemos compreender a posição específica de Dhritarastra em relação a seus sobrinhos, os filhos de Pandu. Da mesma forma que as plantas desnecessárias são tiradas do campo de plantação, espera-se desde o começo desta matéria que no campo religioso de Kurukshetra onde o pai da religião, Sri Krishna, estava presente, que as plantas indesejadas como o filho de Dhritarastra, Duryodhana, e os outros seriam exterminadas e as pessoas realmente religiosas, lideradas por Yudhisthira, seriam estabelecidas pelo Senhor. Este é o significado das palavras dharma-kshetre e kuru-kshetre, à parte de sua importância histórica e Védica.

Sanjaya descreve os acontecimentos a Dhritarastra

Verso 2

sanjaya uvaca
drstva tu pandavanikam
vyudham duryodhanas tada
acaryam upasangamya
raja vacanam abravit

Tradução

Sanjaya disse: Ó rei, depois de observar o exército reunido pelos filhos de Pandu, o rei Duryodhana foi até seu mestre e começou a falar as seguintes palavras:

Iluminação de Srila Prabhupada:

Dhritarastra era cego de nascença. Infelizmente, também era desprovido de visão espiritual. Ele sabia muito bem que seus filhos eram igualmente cegos sobre religião, e tinha certeza que nunca chegariam a um acordo com os Pandavas, que eram todos piedosos desde o nascimento. Ele ainda tinha dúvida sobre a influência do lugar de peregrinação, e Sanjaya pôde entender seu motivo ao perguntar sobre a situação no campo de batalha. Por isso, queria encorajar o rei desapontado, assim o avisou que seus filhos não fariam nenhum tipo de comprometimento sob a influência do lugar sagrado. Sanjaya então informou o rei que seu filho, Duryodhana, depois de ver a força militar dos Pandavas, foi de imediato até o comandante chefe, Dronacharya, para informá-lo sobre a verdadeira situação. Apesar de Duryodhana ser mencionado como o rei, teve que ir ao comandante por causa da gravidade da situação. Portanto, ele era digno de ser um político. Mas a qualidade diplomática de Duryodhana não pôde disfarçar o medo que sentiu ao ver a organização militar dos Pandavas.

Duryodhana com seu mestre Dronacharya

Verso 3

pasyaitam pandu-putranam
acarya mahatim camum
vyudham drupada-putrena
tava sisyena dhimata

Tradução

Ó meu mestre, veja o grande exército dos filhos de Pandu, organizado com tanta perícia pelo seu inteligente discípulo, o filho de Drupada.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Duryodhana, grande diplomata, queria apontar os defeitos de Dronacharya, o grande brâmane chefe do comando. Dronacharya teve uma disputa política com o rei Drupada, pai de Draupadi, que era esposa de Arjuna. Como conseqüência dessa disputa, Drupada realizou um grande sacrifício, no qual recebeu a bênção de ter um filho que seria capaz de matar Dronacharya. Dronacharya sabia disso muito bem, mesmo assim, como um brâmane liberal, não hesitou em transmitir todos seus segredos militares ao filho de Drupada, Dristadyumna, que lhe foi confiado para a educação militar. Agora, no campo de batalha em Kurukshetra, Dristadyumna ficou do lado dos Pandavas, e ele que organizava sua falange militar, da forma como aprendeu a arte de Dronacharya. Duryodhana apontou esse erro de Dronacharya para que ficasse alerta e sem compromisso na luta. Com isso, quis destacar que ele também não deveria ter clemência em combater os Pandavas, que também eram alunos queridos de Dronacharya. Arjuna, especialmente, era seu aluno mais querido e brilhante. Duryodhana também alertou que tal clemência na luta conduziria à derrota.

Verso 4

atra sura mahesvasa
bhimarjuna-sama yudhi
yuyudhano viratas ca
drupadas ca maha-rathah

Tradução

Aqui nesse exército, há muitos arqueiros heróicos e iguais em combate a Bhima e Arjuna; também há grandes guerreiros como Yuyudhana, Virata e Drupada.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Apesar de Dristadyumna não ser um obstáculo muito importante em face ao extremo poder na arte militar de Dronacharya, tinham muitos outros que causavam medo. Duryodhana os menciona como grandes obstáculos no caminho da vitória porque cada e todos eles eram formidáveis como Bhima e Arjuna. Ele conhecia o poder de Bhima e Arjuna, por isso que compara os outros a eles.

Verso 5

dhrstaketus cekitanah
kasirajas ca viryavan
purujit kuntibhojas ca
saibyas ca nara-pungavah

Tradução

Há também grandes guerreiros heróicos e poderosos como Dhrishtaketu, Chekitana, Kasiraja, Purujit, Kuntibhoja e Shaibya.

Verso 6

yudhamanyus ca vikranta
uttamaujas ca viryavan
saubhadro draupadeyas ca
sarva eva maha-rathah

Tradução

Aqui estão o poderoso Yudhamanyu, o poderosíssimo Uttamauja, o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi. Todos esses guerreiros são grandes combatentes em quadriga.

Verso 7

asmakam tu visista ye
tan nibodha dvijottama
nayaka mama sainyasya
samjnartham tan bravimi te

Tradução

Ó melhor dos brâmanes, para sua informação, quero lhe falar sobre os capitães que são especialmente qualificados para a liderança de minha força militar.

Verso 8

bhavan bhismas ca karnas ca
krpas ca samitim-jayah
asvatthama vikarnas ca
saumadattis tathaiva ca

Tradução

Há personalidades como você mesmo, Bhisma, Karna, Kripa, Asvatthama, Vikarna e o filho de Somadatta chamado Bhurishrava, que são sempre vitoriosos em batalha.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Duryodhana menciona os heróis excepcionais em combate, todos são sempre vitoriosos. Vikarna é irmão de Duryodhana, Asvatthama é o filho de Dronacharya, e Saumadatti, ou Bhurishrava, é filho do rei dos Bahlikas. Karna é meio irmão de Arjuna, pois nasceu de Kunti antes do casamento com o rei Pandu. A irmã gêmea de Kripacharya casou com Dronacharya.

Verso 9

anye ca bahavah sura
mad-arthe tyakta-jivitah
nana-sastra-praharanah
sarve yuddha-visaradah

Tradução

Temos outros heróis que estão prontos a darem suas vidas por mim. Todos eles estão muito bem equipados com vários tipos de armamentos, e são todos experientes na ciência militar.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Em relação aos outros, como Jayadratha, Kritavarma, Shalya etc., todos estavam determinados a darem suas vidas pela causa de Duryodhana. Em outras palavras, podemos concluir desde já que todos eles morreriam na batalha de Kurukshetra porque aderiram ao partido do pecaminoso Duryodhana. Duryodhana, é claro, estava confiante na sua vitória por causa do poder combinado de seus amigos mencionados acima.

Verso 10

aparyaptam tad asmakam
balam bhismabhiraksitam
paryaptam tv idam etesam
balam bhimabhiraksitam

Tradução

Nossa força é imensurável, e temos a proteção perfeita do patriarca Bhisma, enquanto a força dos Pandavas, com a proteção cuidadosa de Bhima, é limitada.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Duryodhana faz aqui uma estimativa das forças comparadas. Ele acha que o poder de suas forças militares é imensurável, e tem a proteção especial do general mais experiente, o patriarca Bhisma. Do outro lado, as forças dos Pandavas são limitadas, e têm a proteção de um general menos experiente, Bhima, que é insignificante perante Bhisma. Duryodhana tinha sempre muita inveja de Bhima porque sabia perfeitamente que se morresse, seria morto unicamente por Bhima. Mas ao mesmo tempo, estava confiante em sua vitória por causa da presença de Bhisma, que era um general muito superior. Sua conclusão de que seria vitorioso na batalha estava bem determinada.

Duryodhana fala com seu mestre Dronacharya

Verso 11

ayanesu ca sarvesu
yatha-bhagam avasthitah
bhismam evabhiraksantu
bhavantah sarva eva hi

Tradução

Agora, todos vocês devem apoiar plenamente o patriarca Bhisma, por permanecerem em seus pontos estratégicos na falange do exército.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Duryodhana, depois de elogiar o poder de Bhisma, considerou depois que outros poderiam achar que eram considerados menos importantes, por isso que tentou consertar a situação em seu modo diplomático de costume com as palavras acima. Ele enfatizou que Bhismadeva era sem dúvida o maior herói, mas era idoso, por isso que todos deviam se preocupar especialmente em sua proteção por todos os lados. Ele poderia combater numa direção, e o inimigo poderia aproveitar a vantagem de sua concentração plena num único lado. Por isso que era importante todos os outros heróis não deixarem suas posições estratégicas e permitirem que o inimigo penetrasse na falange. Duryodhana sentia claramente que a vitória dos Kurus dependia da presença de Bhismadeva. Ele confiava plenamente no apoio de Bhismadeva e Dronacharya na batalha porque sabia muito bem que eles não disseram nem uma palavra quando a esposa de Arjuna, Draupadi, em sua situação de aflição, apelou a eles por justiça enquanto era forçada a ficar nua na presença de grandes generais na assembléia. Embora soubesse que os dois generais tinham algum tipo de afeto pelos Pandavas, esperava que toda essa afeição agora fosse abandonada por eles, como era costume nas exibições de jogos.

Verso 12

tasya sanjanayan harsam
kuru-vrddhah pitamahah
simha-nadam vinadyoccaih
sankham dadhmau pratapavan

Tradução

Então Bhisma, o altamente valente patriarca da dinastia Kuru, o avô dos guerreiros, soprou seu búzio muito alto, como o som dum leão, o que deixou Duryodhana muito contente.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O patriarca da dinastia Kuru pôde entender a intenção íntima no coração de seu neto Duryodhana, e por causa de sua compaixão natural por ele, tentou animá-lo por soprar seu búzio bem alto, digno de sua posição como um leão. Indiretamente, pelo simbolismo do búzio, informou seu neto Duryodhana deprimido que não tinha nenhuma chance de vitória na batalha, porque o Supremo Senhor Krishna estava no lado oposto. Ainda assim, ele tinha a obrigação de conduzir a luta, e não pouparia nenhuma dor a esse respeito.

Verso 13

tatah sankhas ca bheryas ca
panavanaka-gomukhah
sahasaivabhyahanyanta
sa sabdas tumulo 'bhavat

Tradução

Depois disso, os búzios, clarins, trombetas, tambores e chifres soaram de súbito, e o som combinado foi tumultuoso.

Verso 14

tatah svetair hayair yukte
mahati syandane sthitau
madhavah pandavas caiva
divyau sankhau pradadhmatuh

Tradução

No outro lado, o Senhor Krishna e Arjuna, situados numa grande quadriga puxada por cavalos brancos, soaram seus búzios transcendentais.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Em contraste ao soar do búzio de Bhismadeva, os búzios nas mãos de Krishna e Arjuna são descritos como transcendentais. O soar dos búzios transcendentais indica que não havia esperança de vitória para o partido oposto porque Krishna estava do lado dos Pandavas. Jayas tu pandu-putranam yesam pakse janardanah. A vitória está sempre com pessoas como os filhos de Pandu porque o Senhor Krishna estava com eles. E onde quer e sempre que o Senhor está presente, a deusa da fortuna também está lá porque a deusa da fortuna nunca vive sozinha sem seu esposo. Portanto, vitória e fortuna estavam à espera de Arjuna, como indicado pelo som transcendental produzido pelo búzio de Vishnu, ou o Senhor Krishna. Além disso, a quadriga onde os dois amigos estavam foi doada por Agni (o deus do fogo) para Arjuna, isso significa que essa quadriga é capaz de conquistar todas as direções, onde quer que fosse conduzida nos três mundos.

Krishna e Arjuna soam seus búzios transcendentais

Verso 15

pancajanyam hrsikeso
devadattam dhananjayah
paundram dadhmau maha-sankham
bhima-karma vrkodarah

Tradução

Então, o Senhor Krishna soprou Seu búzio, chamado Panchajanya, Arjuna soprou o seu, o Devadatta, e Bhima, o comedor voraz e realizador de tarefas hercúleas, soprou seu terrível búzio chamado Paundra.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Este verso chama o Senhor Krishna de Hrishikesha porque Ele é o proprietário de todos sentidos. Os seres vivos são partes e parcelas Dele, e portanto, os sentidos dos seres vivos também são partes e parcelas dos sentidos Dele. Os impersonalistas não podem explicar os sentidos dos seres vivos, por isso sempre têm muita ansiedade para descrever os seres vivos como sem sentidos, ou impessoais. O Senhor, situado no coração de todos seres vivos, dirige seus sentidos. Mas, Ele dirige em termos da rendição do ser vivo, e no caso dos devotos puros, Ele controla diretamente seus sentidos. Aqui, no campo de batalha em Kurukshetra, o Senhor controla diretamente os sentidos transcendentais de Arjuna, por isso que Seu nome específico é Hrishikesha. O Senhor possui vários nomes para diferentes atividades. Por exemplo, Seu nome é Madhusudana porque matou o demônio chamado Madhu; Seu nome é Govinda porque Ele dá prazer às vacas e aos sentidos; Seu nome é Vasudeva porque Ele apareceu como filho de Vasudeva; Seu nome é Devaki-nandana porque aceitou Devaki como Sua mãe; Seu nome é Yashoda-nandana porque concedeu Seus passatempos infantis para Yashoda em Vrindavana; Seu nome é Partha-sarathi porque atuou como cocheiro de Seu amigo Arjuna. Similarmente, Seu nome é Hrishikesha porque orientou Arjuna no campo de batalha em Kurukshetra.

Este verso chama Arjuna de Dhananjaya porque ele ajudou seu irmão mais velho conseguir riqueza quando o rei precisou para as despesas de vários sacrifícios. Similarmente, Bhima é conhecido como Vrikodara porque podia comer com tanta voracidade quanto podia executar tarefas hercúleas, como matar o demônio Hidimba. Assim, os tipos particulares de búzios soados por diferentes personalidades no lado dos Pandavas, a começar pelo Senhor, eram muito encorajadores para os soldados na batalha. Esses créditos não tinham no outro lado, nem a presença do Senhor Krishna, o supremo diretor, nem o da deusa da fortuna. Por isso, estavam predestinados a perderem a batalha, e esta era a mensagem anunciada pelos sons dos búzios.

Versos 16-18

anantavijayam raja
kunti-putro yudhisthirah
nakulah sahadevas ca
sughosa-manipuspakau

kasyas ca paramesv-asah
sikhandi ca maha-rathah
dhrstadyumno viratas ca
satyakis caparajitah

drupado draupadeyas ca
sarvasah prthivi-pate
saubhadras ca maha-bahuh
sankhan dadhmuh prthak prthak

Tradução

O rei Yudhisthira, filho de Kunti, soprou seu búzio, o Ananta-vijaya, e Nakula e Sahadeva sopraram Sughosha e Manipuspaka. O grande arqueiro rei de Kashi, o grande guerreiro Shikhandi, Dristadyumna, Virata e o inconquistável Satyaki, Drupada, os filhos de Draupadi, e os outros, ó rei, como o filho de Subhadra de braços poderosos, todos sopraram seus búzios respectivos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Sanjaya informou o rei Dhritarastra com muito tato que sua política tola de enganar os filhos de Pandu e tentar entronar seus próprios filhos no trono do reino não era louvável. Os sinais já indicavam claramente que toda dinastia Kuru seria morta nessa grande batalha. A começar pelo grande patriarca, Bhisma, até os netos como Abhimanyu e outros, inclusive reis de muitos países do mundo, todos estavam presentes lá, e estavam todos condenados. Toda essa catástrofe aconteceu por causa do rei Dhritarastra, porque encorajou a política adotada por seus filhos.

Verso 19

sa ghoso dhartarastranam
hrdayani vyadarayat
nabhas ca prthivim caiva
tumulo 'bhyanunadayan

Tradução

O soar desses vários búzios se tornou estrondoso, vibrou tanto no céu como na terra, e assim despedaçou os corações dos filhos de Dhritarastra.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Quando Bhisma e os outros no lado de Duryodhana soaram seus búzios respectivos, não houve desgosto por parte dos Pandavas. Essa ocorrência não é mencionada, mas este verso particular menciona que os corações dos filhos de Dhritarastra foram despedaçados pelos sons vibrados do lado dos Pandavas. Isso é por causa dos Pandavas e de sua confiança no Senhor Krishna. A pessoa que se abriga no Supremo Senhor não tem nada a temer, mesmo no meio da maior calamidade.

Senhor Ramachandra abraça Seu devoto eterno Hanuman

Verso 20

atha vyavasthitan drstva
dhartarastran kapi-dhvajah
pravrtte sastra-sampate
dhanur udyamya pandavah
hrsikesam tada vakyam
idam aha mahi-pate

Tradução

Ó rei, nesse momento, Arjuna, filho de Pandu, sentado em sua quadriga, que porta o estandarte com o emblema de Hanuman, pegou seu arco e se preparou para disparar suas flechas, com a mira nos filhos de Dhritarastra. Ó rei, Arjuna então falou as seguintes palavras a Hrishikesha (Krishna):

Iluminação de Srila Prabhupada:

A batalha ia começar. Entendemos pelas citações anteriores que os filhos de Dhritarastra estavam meio desmotivados pela inesperada organização da força militar dos Pandavas, que eram orientados pelas instruções diretas do Senhor Krishna no campo de batalha. O emblema de Hanuman na bandeira de Arjuna é outro sinal de vitória porque Hanuman ajudou o Senhor Rama na batalha entre Rama e Ravana, e o Senhor Rama foi vitorioso. Agora tanto Rama quanto Hanuman estavam presentes na quadriga de Arjuna para ajudá-lo. O Senhor Krishna é o próprio Rama em pessoa, e onde quer que o Senhor Rama esteja, Seu servo eterno Hanuman e Sua consorte eterna Sita, a deusa da fortuna, estão presentes. Por conseguinte, Arjuna não tinha motivo para temer nenhum inimigo de forma alguma. E acima de tudo, o Senhor dos sentidos, o Senhor Krishna, estava presente pessoalmente para orientá-lo. Assim, todo bom conselho estava disponível para Arjuna em matéria de execução do combate. Nessas condições auspiciosas, arranjadas pelo Senhor para Seu devoto eterno, estavam os sinais da vitória garantida.

Senhor Hanuman - o devoto perfeito, e deus dos guerreiros

Versos 21-22

arjuna uvaca
senayor ubhayor madhye
ratham sthapaya me 'cyuta
yavad etan nirikse 'ham
yoddhu-kaman avasthitan

kair maya saha yoddhavyam
asmin rana-samudyame

Tradução

Arjuna disse: Ó infalível, por favor conduza minha quadriga entre os dois exércitos para que eu possa ver quem está presente aqui, quem tem desejo de lutar, e com quem terei de combater nesta grande tentativa de batalha.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Apesar do Senhor Krishna ser a Suprema Personalidade de Deus, por Sua misericórdia sem causa, estava ocupado no serviço a Seu amigo. Ele nunca falha em Sua afeição por Seus devotos, e por isso que Ele é chamado de infalível aqui. Como cocheiro, Ele tinha que cumprir as ordens de Arjuna, e como não hesitou em fazer isso, é chamado de infalível. Apesar de aceitar a posição de ser cocheiro de Seu devoto, Sua posição suprema nunca muda. Em todas as circunstâncias, Ele é a Suprema Personalidade de Deus, Hrishikesha, o Senhor de todos sentidos. A relação entre o Senhor e Seu servo é muito doce e transcendental. O servo está sempre pronto para prestar serviço ao Senhor, e, similarmente, o Senhor sempre procura uma oportunidade para prestar algum serviço ao devoto. Ele sente muito mais prazer quando Seus devotos puros assumem a posição vantajosa de dar ordens a Ele do que ser Ele quem dá as ordens. Como senhor, todos estão sujeitos às Suas ordens, e ninguém está acima Dele para Lhe dar ordens. Mas quando Ele vê que um devoto puro Lhe dá ordens, obtém prazer transcendental, apesar de ser o senhor infalível em todas as circunstâncias.

Como é um devoto puro do Senhor, Arjuna não desejava lutar contra seus primos e irmãos, mas foi forçado a vir para o campo de batalha por causa da teimosia de Duryodhana, que nunca foi favorável a nenhuma negociação de paz. Por isso, estava muito ansioso para ver onde as pessoas principais estavam presentes no campo de batalha. Apesar de não haver questão de acordo de paz no campo de batalha, ele queria vê-los novamente e ver o quanto estavam inclinados a demandar uma guerra indesejada.

Verso 23

yotsyamanan avekse 'ham
ya ete 'tra samagatah
dhartarastrasya durbuddher
yuddhe priya-cikirsavah

Tradução

Deixe-me ver aqueles que vieram aqui para lutar, com desejo de agradarem o malévolo filho de Dhritarastra.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Era um segredo aberto que Duryodhana queria usurpar o reino dos Pandavas por meio de planos malvados, em colaboração com seu pai, Dhritarastra. Por conseguinte, todas pessoas que aderiram o lado de Duryodhana eram pássaros de mesma plumagem. Arjuna queria vê-los no campo de batalha antes que a luta começasse, unicamente para saber onde estavam, mas não tinha nenhuma intenção de propor negociações de paz a eles. Também é fato que queria fazer uma estimativa da força que ia enfrentar, apesar de estar bem confiante na vitória porque Krishna estava bem ao seu lado.

Sridham Kurukshetra

Verso 24

sanjaya uvaca
evam ukto hrsikeso
gudakesena bharata
senayor ubhayor madhye
sthapayitva rathottamam

Tradução

Sanjaya disse: Ó descendente de Bharata, assim ordenado por Arjuna, o Senhor Krishna conduziu a excelente quadriga no meio dos exércitos dos dois partidos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Este verso se refere a Arjuna como Gudakesha. Gudaka quer dizer sono, e aquele que conquistou o sono é chamado gudakesha. Sono também quer dizer ignorância. Portanto, Arjuna conquistou tanto o sono quanto a ignorância por causa de sua amizade com Krishna. Como é um grande devoto de Krishna, ele não pode esquecer Krishna nem por um momento, pois assim é a natureza de um devoto. Tanto no sono como desperto, um devoto do Senhor nunca pode estar livre de pensar no nome, forma, qualidades e passatempos de Krishna. Assim, um devoto de Krishna pode conquistar tanto o sono quanto a ignorância simplesmente por pensar em Krishna constantemente. Isto se chama Consciência de Krishna, ou samadhi. Como Hrishikesha, ou o diretor dos sentidos e da mente de todo ser vivo, Krishna pôde entender a intenção de Arjuna em pôr a quadriga no meio dos exércitos. Então, Ele assim fez, e falou como se segue.

Veja, Arjuna, os Kurus aqui reunidos...

Verso 25

bhisma-drona-pramukhatah
sarvesam ca mahi-ksitam
uvaca partha pasyaitan
samavetan kurun iti

Tradução

Na presença de Bhisma, Drona e todos outros líderes do mundo, o Senhor disse: Veja, Partha, todos os Kurus que estão aqui reunidos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como é a Superalma de todos seres vivos, o Senhor Krishna pôde entender o que acontecia na mente de Arjuna. O uso da palavra Hrishikesha a esse respeito indica que Ele sabia tudo. E a palavra Partha, ou filho de Kunti ou Pritha, também é similarmente significativa em relação a Arjuna. Como um amigo, queria informar Arjuna, por Arjuna ser filho de Pritha, irmã de Seu próprio pai Vasudeva, porque Ele concordou em ser o cocheiro de Arjuna. Agora o que Krishna quis dizer quando disse a Arjuna para "olhar os Kurus"? Será que Arjuna queria parar e não lutar? Krishna nunca esperava algo assim do filho de Sua tia Pritha. O Senhor então previu a mente de Arjuna com uma brincadeira amigável.

Verso 26

tatrapasyat sthitan parthah
pitrn atha pitamahan
acaryan matulan bhratrn
putran pautran sakhims tatha
svasuran suhrdas caiva
senayor ubhayor api

Tradução

Lá, Arjuna pôde ver, entre os exércitos dos dois partidos, seus pais, avós, professores, tios maternos, irmãos, filhos, netos, amigos, e também seu sogro e benquerentes, todos presentes ali.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna pôde ver no campo de batalha todos tipos de parentes. Pôde ver pessoas como Bhurishrava, que era contemporâneo de seu pai, os avós Bhisma e Somadatta, professores como Dronacharya e Kripacharya, tios maternos como Shalya e Shakuni, irmãos como Duryodhana, filhos como Lakshmana, amigos como Asvatthama, benquerentes como Kritavarma, e assim por diante. Ele também pôde ver os exércitos que tinham muitos de seus amigos.

Verso 27

tan samiksya sa kaunteyah
sarvan bandhun avasthitan
krpaya parayavisto
visidann idam abravit

Tradução

Quando o filho de Kunti, Arjuna, viu todos esses vários graus de amigos e parentes, ficou tomado pela compaixão e falou como se segue:

Verso 28

arjuna uvaca
drstvemam sva-janam krsna
yuyutsum samupasthitam
sidanti mama gatrani
mukham ca parisusyati

Tradução

Arjuna disse: Meu querido Krishna, ao ver meus amigos e parentes presentes perante mim com tamanho espírito de luta, sinto os membros de meu corpo tremerem e minha boca secar.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Qualquer pessoa que tem devoção genuína pelo Senhor possui todas boas qualidades que se encontram nas pessoas divinas ou nos semideuses, enquanto o não devoto, por mais avançado que seja em qualificações materiais por educação e cultura, carece de qualidades divinas. Assim, Arjuna logo que viu seus familiares, amigos e parentes no campo de batalha, ficou dominado pela compaixão por eles que estavam tão decididos a lutar entre si. No que diz respeito a seus soldados, ele estava solidário desde o início, mas sentiu compaixão até mesmo pelos soldados do partido oposto, pois previa sua morte iminente. Com esse pensamento, os membros de seu corpo começaram a tremer, e sua boca ficou seca. Ele ficou mais ou menos espantado de ver o espírito de luta deles. Praticamente toda comunidade, todos parentes sangüíneos de Arjuna, vieram lutar com ele. Isso atordoou um devoto do nível de Arjuna. Apesar de não ser mencionado aqui, ainda assim podemos imaginar facilmente que não apenas os membros de Arjuna tremiam e sua boca secou, mas que também ele chorava de compaixão. Esses sintomas em Arjuna não são devido à fraqueza mas sim à sua bondade, uma característica do devoto puro do Senhor. Como é dito:

yasyasti bhaktir bhagavaty akincana
sarvair gunais tatra samasate surah
harav abhaktasya kuto mahad-guna
mano-rathenasati dhavato bahih

"A pessoa que tem devoção inabalável pela Personalidade de Deus possui todas boas qualidades dos semideuses. Mas a pessoa que não é devota do Senhor possui apenas qualificações materiais que têm pouco valor. Isso porque ela vagueia no plano mental e com certeza será atraída pelo encanto da energia material" (Bhag. 5.18.12).

Verso 29

vepathus ca sarire me
roma-harsas ca jayate
gandivam sramsate hastat
tvak caiva paridahyate

Tradução

Meu corpo inteiro treme, e meu cabelo está arrepiado. Meu arco Gandiva escorrega da minha mão, e minha pele arde.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem dois tipos de tremor do corpo, e dois tipos de arrepio. Esse fenômeno ocorre tanto por grande êxtase espiritual quanto por grande medo sob condições materiais. Não existe medo na realização transcendental. Os sintomas de Arjuna nessa situação são por medo material, a saber, perda da vida. Isso fica evidente pelos outros sintomas também, ele ficou tão impaciente que seu famoso arco Gandiva escorregava de sua mão, e porque seu coração ardia por dentro, ele sentiu a sensação da pele queimar. Tudo isso foi devido ao conceito de vida material.

Arjuna começa a se lamentar para Krishna

Verso 30

na ca saknomy avasthatum
bhramativa ca me manah
nimittani ca pasyami
viparitani kesava

Tradução

Agora, sou incapaz de ficar em pé. Esqueço-me de mim mesmo, e minha mente vacila. Prevejo unicamente o mal, ó matador do demônio Keshi.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna era incapaz de permanecer no campo de batalha devido à impaciência, e se esquecia dele mesmo por causa da fraqueza em sua mente. O apego excessivo por coisas materiais deixa a pessoa numa condição de existência confusa. Bhayam dvitiyabhinivesatah syat (Bhag. 11.2.37): Esse temor e a perda do equilíbrio mental acontecem em pessoas muito afetadas pelas condições materiais. Arjuna previa somente tristeza no campo de batalha, ele não ficaria feliz nem com a vitória sobre o inimigo. A palavra nimitta é significativa. Quando a pessoa enxerga apenas frustração em suas expectativas, pensa, "Por que estou aqui"? Todos têm interesse em si mesmos e em seu próprio bem estar. Ninguém tem interesse no Eu Supremo. Arjuna deveria mostrar desprezo pelo auto-interesse por submissão à vontade de Krishna, que é o auto-interesse real de todos. O ser condicionado esquece isso, e por isso sofre as dores materiais. Arjuna pensou que sua vitória na batalha seria apenas causa de lamentação para ele.

Verso 31

na ca sreyo 'nupasyami
hatva sva-janam ahave
na kankse vijayam krsna
na ca rajyam sukhani ca

Tradução

Não vejo como algum benefício pode vir da matança de meus próprios familiares nesta batalha, nem posso eu, meu querido Krishna, desejar qualquer vitória, reino ou felicidade subseqüentes.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Sem saber que o auto-interesse da pessoa está em Vishnu (ou Krishna), os seres condicionados são atraídos a relacionamentos corpóreos, com a esperança de serem felizes nessas situações. Sob ilusão, esquecem que Krishna é também a causa de toda felicidade material. Arjuna parece que esqueceu até mesmo dos códigos morais do kshatriya. É dito que dois tipos de homens, a saber, o kshatriya que morre diretamente na frente do campo de batalha sob a ordem pessoal de Krishna e a pessoa na ordem renunciada de vida que está absolutamente devotada à cultura espiritual, que são elegíveis para entrar no globo do Sol, que é tão poderoso e ardente. Arjuna relutava em matar até mesmo seus inimigos, o que falar de seus parentes. Ele achava que por matar seus parentes não haveria felicidade em sua vida, e por isso não queria lutar, do mesmo modo que uma pessoa sem fome não tem vontade de cozinhar. Ele decidiu agora ir para a floresta e viver uma vida de reclusão em frustração. Mas como um kshatriya, precisava de um reino para sua subsistência, porque os kshatriyas não podem se ocupar em nenhuma outra ocupação. Mas Arjuna não tinha reino. A única oportunidade de Arjuna obter um reino estava na luta com seus primos e irmãos, e reclamar o reino herdado de seu pai, o que não queria fazer. Por isso, ele se achava digno de ir para a floresta e viver uma vida de reclusão em frustração.

Versos 32-35

kim no rajyena govinda
kim bhogair jivitena va
yesam arthe kanksitam no
rajyam bhogah sukhani ca

ta ime 'vasthita yuddhe
pranams tyaktva dhanani ca
acaryah pitarah putras
tathaiva ca pitamahah

matulah svasurah pautrah
syalah sambandhinas tatha
etan na hantum icchami
ghnato 'pi madhusudana

api trailokya-rajyasya
hetoh kim nu mahi-krte
nihatya dhartarastran nah
ka pritih syaj janardana

Tradução

Ó Govinda, qual a utilidade de reinos, felicidade ou mesmo a própria vida para nós quando todos por quem podemos desejá-los agora estão enfileirados neste campo de batalha? Ó Madhusudana, quando professores, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e todos parentes estão prontos para dar suas vidas e propriedades e estão perante mim, por que desejaria matá-los, apesar de eu poder sobreviver? Ó mantenedor de todas criaturas, não estou preparado para lutar com eles mesmo em troca dos três mundos, o que dizer desta Terra.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna chamou o Senhor Krishna de Govinda porque Krishna é o objeto de todos prazeres das vacas e dos sentidos. Com o uso dessa palavra significativa, Arjuna indica o que satisfará seus sentidos. Embora Govinda não se destine a satisfazer nossos sentidos, se tentarmos satisfazer os sentidos de Govinda, então todos nossos sentidos ficarão satisfeitos automaticamente. Materialmente, todos desejam satisfazer seu prazer sensual, e querem que Deus seja o fornecedor dessa satisfação. O Senhor satisfaz os sentidos dos seres vivos na medida em que merecem, e não na quantidade que podem cobiçar. Mas quando a pessoa segue o caminho oposto, a saber, quando tenta satisfazer os sentidos de Govinda sem desejar satisfazer seu próprio prazer sensual, então, pela graça de Govinda, todos desejos do ser vivo são satisfeitos. A afeição profunda de Arjuna pela comunidade e membros familiares é exibida aqui parcialmente devido à sua compaixão natural por eles. Ele portanto não está pronto para lutar. Todos querem exibir sua opulência para os amigos e parentes, mas Arjuna teme que todos seus parentes e amigos sejam mortos no campo de batalha, e ele não poderá compartilhar sua opulência depois da vitória. Esse é um cálculo típico da vida materialista. A vida transcendental, entretanto, é diferente. Como o devoto deseja satisfazer os desejos do Senhor, ele pode, pela vontade do Senhor, aceitar todos os tipos de opulência para o serviço ao Senhor, e se o Senhor não desejar, ele não aceitará nem um centavo. Arjuna não queria matar seus familiares, e se houvesse alguma necessidade de matá-los, ele queria que Krishna os matasse pessoalmente. Até esse ponto, ele não sabia que Krishna já tinha matado todos antes de virem para o campo de batalha, e que ele deveria ser apenas um instrumento de Krishna. Esse fato é revelado nos próximos capítulos. Como um devoto natural do Senhor, Arjuna não queria retaliar contra seus primos e irmãos infames, mas o plano do Senhor era que todos eles deveriam ser mortos. O devoto do Senhor não retalia contra malfeitores, mas o Senhor não tolera nenhum mal feito ao devoto pelos malfeitores. O Senhor pode perdoar uma pessoa em relação a Si mesmo, mas Ele não perdoa ninguém que fez mal a Seus devotos. Por isso que o Senhor estava determinado a matar todos malfeitores, apesar de Arjuna querer perdoá-los.

Verso 36

papam evasrayed asman
hatvaitan atatayinah
tasman narha vayam hantum
dhartarastran sa-bandhavan
sva-janam hi katham hatva
sukhinah syama madhava

Tradução

O pecado nos dominará se matarmos esses agressores. Por isso não é correto que matemos os filhos de Dhritarastra e nossos amigos. O que ganharemos, ó Krishna, esposo da deusa da fortuna, e como poderemos ser felizes se matarmos nossos familiares?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Segundo as leis Védicas, há seis tipos de agressores: 1) quem dá veneno, 2) quem põe fogo na casa, 3) quem ataca com armas letais, 4) quem rouba os bens, 5) quem ocupa a terra de outro, e 6) quem rapta a esposa. Tais agressores podem ser mortos de imediato, e não há pecado em matar tais agressores. Matar esses agressores é próprio de pessoas comuns, mas Arjuna não é uma pessoa comum. Ele possui caráter santificado, por isso queria lidar com eles em santidade. Mas esse tipo de santidade entretanto não é própria para um kshatriya. Embora uma pessoa responsável na administração do estado precise ser piedosa, não deve ser covarde. Por exemplo, o Senhor Rama era tão piedoso que as pessoas ansiavam viver em Seu reino (rama-rajya), mas o Senhor Rama nunca demonstrou nenhuma covardia. Ravana foi um agressor contra Rama porque raptou a esposa de Rama, Sita, mas o Senhor Rama lhe deu bastantes lições, sem paralelo na história do mundo. No caso de Arjuna, entretanto, devemos considerar o tipo especial de agressores, a saber, seu próprio avô, próprio professor, amigos, filhos, netos, e assim por diante. Por causa deles, Arjuna achava que não deveria tomar medidas severas necessárias contra agressores ordinários. Além disso, pessoas santas são aconselhadas a perdoar. Tais leis para pessoas santas são muito mais importantes do que qualquer emergência política. Arjuna considerou que em vez de matar seus próprios familiares por motivos políticos, seria melhor perdoá-los com base na religião e comportamento santificado. Ele não considerou portanto tal matança lucrativa simplesmente por questão de felicidade corpórea temporária. No fim de tudo, reinos e prazeres derivados disso não são permanentes, então por que arriscar sua vida e salvação eterna por matar seus próprios familiares? Arjuna chamar Krishna de "Madhava", ou o esposo da deusa da fortuna, também é significativo nesse contexto. Ele queria indicar a Krishna que como esposo da deusa da fortuna não deveria induzir Arjuna a assumir uma ação que em última instância causaria infortúnio. Krishna, entretanto, nunca causa infortúnio a ninguém, o que dizer de Seus devotos.

Versos 37-38

yady apy ete na pasyanti
lobhopahata-cetasah
kula-ksaya-krtam dosam
mitra-drohe ca patakam

katham na jneyam asmabhih
papad asman nivartitum
kula-ksaya-krtam dosam
prapasyadbhir janardana

Tradução

Ó Janardana, apesar destes homens, dominados pela ganância, não verem falta em matar seus próprios familiares ou lutar contra amigos, por que nós, com conhecimento sobre pecado, devemos nos empenhar nesses atos?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Um kshatriya não deve recusar combater ou jogar quando é assim convidado por algum grupo rival. Com essa obrigação, Arjuna não podia recusar lutar porque foi desafiado pelo grupo de Duryodhana. A esse respeito, Arjuna considerou que o outro grupo podia estar cego sobre os efeitos desse desafio. O dever é realmente obrigatório quando o efeito é bom, mas quando o efeito é contrário, então ninguém tem obrigação. Arjuna considerou todos esses prós e contras, e decidiu não lutar.

Verso 39

kula-ksaye pranasyanti
kula-dharmah sanatanah
dharme naste kulam krtsnam
adharmo 'bhibhavaty uta

Tradução

Com a destruição da dinastia, a tradição familiar eterna se arruína, e assim o resto da família se torna envolvida em prática irreligiosa.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem muitos princípios de tradições religiosas no sistema da instituição varnashrama para ajudar os membros da família a progredirem adequadamente e alcançarem os valores espirituais. Os membros mais velhos são responsáveis por esses processos purificatórios na família, a começar do nascimento até a morte. Mas com a morte dos membros mais velhos, essas tradições familiares de purificação podem parar, e os membros mais novos da família que permanecem podem desenvolver hábitos irreligiosos e por conseguinte perderem a chance de salvação espiritual. Assim, por nenhum motivo, os membros mais velhos da família devem ser mortos.

Verso 40

adharmabhibhavat krsna
pradusyanti kula-striyah
strisu dustasu varsneya
jayate varna-sankarah

Tradução

Quando a irreligião se torna proeminente na família, ó Krishna, as mulheres da família se tornam corruptas, e da degradação da mulher, ó descendente de Vrishni, surge a prole indesejada.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Boa população na sociedade humana é o princípio básico para paz, prosperidade e progresso espiritual na vida. Os princípios da religião varnashrama foram assim projetados para que a boa população prevaleça na sociedade para o progresso espiritual geral do estado e da comunidade. Essa população depende da castidade e fidelidade de suas mulheres. Do mesmo modo como as crianças são muito propensas à má conduta, as mulheres são similarmente muito propensas à degradação. Por isso, tanto as crianças quanto as mulheres requerem proteção dos membros mais velhos da família. A mulher dedicada a várias práticas religiosas não se degradará no adultério. Segundo Chanakya Pandita, as mulheres geralmente não são muito inteligentes e portanto não confiáveis. Por conseguinte, as várias tradições familiares das atividades religiosas as deixam sempre ocupadas, e assim sua castidade e devoção darão à luz boa população capaz de participar do sistema varnashrama. A falha desse sistema varnashrama-dharma fará naturalmente que as mulheres fiquem livres para agir e se misturar com homens, então o adultério acontece com o risco de população indesejada. Homens irresponsáveis também provocam o adultério na sociedade, assim filhos indesejados enchem a raça humana com o risco de guerra e epidemia.

Verso 41

sankaro narakayaiva
kula-ghnanam kulasya ca
patanti pitaro hy esam
lupta-pindodaka-kriyah

Tradução

Quando há aumento da população indesejada, cria-se uma situação infernal tanto para a família quanto para aqueles que destroem a tradição familiar. Nessas famílias corruptas, não há oferendas de oblações de comida e água para os antepassados.

Iluminação de Srila Prabhupada:

De acordo com as regras e regulamentos das atividades lucrativas, há a necessidade de oferecer periodicamente comida e água para os antepassados da família. Essa oferenda é realizada pela adoração a Vishnu, porque comer os restos de comida oferecida a Vishnu pode liberar a pessoa de todos tipos de reações pecaminosas. Às vezes, os antepassados podem sofrer por causa de vários tipos de reações pecaminosas, e às vezes, alguns deles não podem nem mesmo obter um corpo material grosseiro e são forçados a permanecerem em corpos sutis como fantasmas. Assim, quando os restos do alimento prasadam são oferecidos aos antepassados pelos descendentes, os antepassados se libertam do plano fantasma e outros tipos de vida miserável. Essa ajuda prestada aos antepassados é uma tradição familiar, e a pessoa que não está na vida devocional é obrigada a realizar esses rituais. A pessoa dedicada à vida devocional não é obrigada a realizar essas ações. Simplesmente por realizar o serviço devocional, a pessoa pode liberar centenas de milhares de antepassados de todos tipos de sofrimento. Como o Bhagavatam (11.5.41) afirma:

devarsi-bhutapta-nrnam pitrnam
na kinkaro nayam rni ca rajan
sarvatmana yah saranam saranyam
gato mukundam parihrtya kartam

"Qualquer pessoa que se abrigou nos pés de lótus de Mukunda, aquele que concede a liberação, abandona todos tipos de obrigações, e segue esse caminho com toda sinceridade, não tem quaisquer deveres ou obrigações com os semideuses, sábios, seres vivos em geral, membros familiares, humanidade ou antepassados". Tais obrigações são automaticamente cumpridas na realização do serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus.

Verso 42

dosair etaih kula-ghnanam
varna-sankara-karakaih
utsadyante jati-dharmah
kula-dharmas ca sasvatah

Tradução

Por causa das más ações dos destruidores da tradição familiar, todos tipos de projetos comunitários e atividades para o bem estar familiar são devastados.

Iluminação de Srila Prabhupada:

As quatro ordens da sociedade humana, combinadas com as atividades para o bem estar familiar como são estabelecidas na instituição sanatana-dharma ou varnashrama-dharma, são designadas para capacitarem o ser humano a alcançar sua salvação definitiva. Por isso que a quebra da tradição sanatana-dharma por líderes irresponsáveis da sociedade causa o caos nessa sociedade, e em conseqüência as pessoas esquecem o objetivo da vida, Vishnu. Tais líderes são considerados cegos, e as pessoas que seguem esses líderes serão conduzidas com certeza ao caos.

Verso 43

utsanna-kula-dharmanam
manusyanam janardana
narake niyatam vaso
bhavatity anususruma

Tradução

Ó Krishna, mantenedor das pessoas, eu ouvi da sucessão discipular que quem destrói as tradições familiares mora no inferno para sempre.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna baseia seu argumento não apenas em sua experiência pessoal, mas no que ouviu das autoridades. Esse é o caminho para receber conhecimento verdadeiro. A pessoa não pode chegar ao ponto real do conhecimento verdadeiro sem receber a ajuda da pessoa correta que já está estabelecida nesse conhecimento. Existe um sistema na instituição varnashrama pelo qual a pessoa tem que se submeter a um processo de expiação antes da morte por causa de suas atividades pecaminosas. A pessoa sempre envolvida em atividades pecaminosas deve utilizar o processo de expiação chamado prayascitta. Se não fizer isso, com certeza será transferida aos planetas infernais e se submeter a vidas de sofrimento como resultado de suas atividades pecaminosas.

Verso 44

aho bata mahat papam
kartum vyavasita vayam
yad rajya-sukha-lobhena
hantum sva-janam udyatah

Tradução

Ai de mim, como é estranho que nos preparamos para cometer atos tão pecaminosos, compelidos pelo desejo de aproveitar a felicidade régia.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa compelida por motivos egoístas pode ficar propensa a tais ações pecaminosas como matar seu próprio irmão, pai ou mãe. Existem muitos casos assim na história do mundo. Mas como Arjuna é um devoto santo do Senhor, tem sempre consciência sobre os princípios morais, e por isso toma cuidado para evitar tais atividades.

Verso 45

yadi mam apratikaram
asastram sastra-panayah
dhartarastra rane hanyus
tan me ksemataram bhavet

Tradução

Considero melhor os filhos de Dhritarastra me matarem desarmado e sem resistência, do que lutar contra eles.

Iluminação de Srila Prabhupada:

É costume, segundo os princípios de luta dos kshatriyas, que um inimigo desarmado e sem vontade de lutar não deve ser atacado. Arjuna, entretanto, nessa posição tão enigmática, decidiu que não lutaria mesmo se fosse atacado pelo inimigo. Ele não considerou quanto o outro partido estava propenso à luta. Todos esses sintomas são devidos à bondade como resultado de ser um grande devoto do Senhor.

Bhagavad-gita - Krishna e Arjuna

Verso 46

sanjaya uvaca
evam uktvarjunah sankhye
rathopastha upavisat
visrjya sa-saram capam
soka-samvigna-manasah

Tradução

Sanjaya disse: Arjuna, depois de falar desse jeito no campo de batalha, pôs seu arco e flechas de lado e se sentou na quadriga, com sua mente dominada pela aflição.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Enquanto observava a situação de seu inimigo, Arjuna ficou em pé na quadriga, mas ficou tão afligido pela lamentação que se sentou novamente, e pôs de lado seu arco e flechas. Uma boa pessoa tão bondosa assim, no serviço devocional ao Senhor, é digna de receber autoconhecimento.

 

Assim terminam os Significados Bhaktivedanta do Primeiro Capítulo do Srimad Bhagavad-gita sobre o assunto Visualização dos Exércitos no Campo de Batalha em Kurukshetra.

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Bhagavad-gita Como Ele É

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

 

Capítulo 2

Resumo do Conteúdo do Gita

 

Srimad Bhagavad-gita - Krishna e Arjuna

 

Verso 1

sanjaya uvaca
tam tatha krpayavistam
asru-purnakuleksanam
visidantam idam vakyam
uvaca madhusudanah

Tradução

Sanjaya disse: Ao ver Arjuna tomado pela compaixão e tão triste, com seus olhos cheios de lágrimas, Madhusudana, Krishna, falou as seguintes palavras.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Compaixão material, lamentação e lágrimas são todos sinais de ignorância sobre o verdadeiro eu. Compaixão pela alma eterna é auto-realização. A palavra "Madhusudana" é significativa neste verso. O Senhor Krishna matou o demônio Madhu, e agora Arjuna queria que Krishna matasse o demônio da confusão mental que o dominou no cumprimento de seu dever. Ninguém sabe onde a compaixão deve ser aplicada. Compaixão pela roupa de uma pessoa que se afoga não tem sentido. A pessoa caída no oceano da ignorância não pode ser salva simplesmente pelo resgate da sua vestimenta externa, o corpo material grosseiro. A pessoa que não sabe isso e lamenta pela vestimenta externa é considerada um shudra, ou aquele que se lamenta sem necessidade. Arjuna era um kshatriya, e não se esperava essa conduta dele. O Senhor Krishna, entretanto, pode dissipar a lamentação de uma pessoa ignorante, por isso, o Bhagavad-gita foi cantado por Ele. Este capítulo nos instrui sobre auto-realização por meio do estudo analítico do corpo material e da alma espiritual, como explicado pela autoridade suprema, o Senhor Sri Krishna. Essa realização se torna possível pelo trabalho de situar o ser aproveitador no conceito fixo do eu real.

Verso 2

sri bhagavan uvaca
kutas tva kasmalam idam
visame samupasthitam
anarya-justam asvargyam
akirti-karam arjuna

Tradução

A Pessoa Suprema (Bhagavan) disse: Meu querido Arjuna, como essas impurezas surgiram em você? Elas não são dignas de uma pessoa que conhece os valores progressivos da vida. Elas não conduzem aos planetas superiores, mas à infâmia.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Krishna e a Suprema Personalidade de Deus são idênticos. Por isso que o Senhor Krishna é chamado de "Bhagavan" em todo o Gita. Bhagavan é o supremo na Verdade Absoluta. A Verdade Absoluta possui três fases de entendimento, a saber, Brahman, ou o espírito onipresente impessoal; Paramatma, ou o aspecto localizado do Supremo dentro do coração de todos seres vivos; e Bhagavan, ou a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Krishna. O Srimad Bhagavatam (1.2.11) explica esse conceito da Verdade Absoluta da seguinte forma:

vadanti tat tattva-vidas
tattvam yaj jnanam advayam
brahmeti paramatmeti
bhagavan iti sabdyate

"A Verdade Absoluta se realiza em três fases de compreensão pelo conhecedor da Verdade Absoluta, e todas são idênticas. Essas fases da Verdade Absoluta se expressam como Brahman, Paramatma e Bhagavan".

Esses três aspectos divinos podem ser explicados com o exemplo do Sol, que também tem três aspectos diferentes, a saber, o brilho do Sol, a superfície do Sol e o planeta em si. A pessoa que estuda apenas o brilho do Sol é um estudante primário. A pessoa que entende a superfície do Sol é mais avançada. E a pessoa que pode entrar no planeta Sol é a mais elevada. Estudantes ordinários que se satisfazem apenas pela compreensão do brilho do Sol, sua penetração universal e brilho resplandecente de sua natureza impessoal, podem ser comparados àqueles que realizam apenas o aspecto Brahman da Verdade Absoluta. O estudante que consegue avançar mais um pouco pode conhecer o disco do Sol, que é comparado ao conhecimento do aspecto Paramatma da Verdade Absoluta. E o estudante que pode entrar dentro do coração do planeta Sol é comparado àqueles que realizam os aspectos pessoais da Suprema Verdade Absoluta. Por conseguinte, os bhaktas, ou os transcendentalistas que realizaram o aspecto Bhagavan da Verdade Absoluta, são os transcendentalistas mais elevados, apesar de todos estudantes dedicados ao estudo da Verdade Absoluta estarem empenhados na mesma matéria. O brilho do Sol, o disco solar e os fatos internos do planeta Sol não podem ser separados um do outro, ainda assim os estudantes das três fases diferentes não estão na mesma categoria.

A palavra sânscrita bhagavan é explicada pela grande autoridade, Parashara Muni, o pai de Vyasadeva. A Personalidade Suprema que possui todas riquezas, todo poder, toda fama, toda beleza, todo conhecimento e toda renúncia se chama Bhagavan. Existem muitas pessoas que são muito ricas, muito poderosas, muito belas, muito famosas, muito eruditas, e muito desapegadas, mas nenhuma pode alegar que possui todas riquezas, todo poder, etc., totalmente. Só Krishna pode reivindicar isso porque Ele é a Suprema Personalidade de Deus. Nenhum ser vivo, inclusive Brahma, Senhor Shiva, ou Narayana, pode possuir opulências tão plenamente quanto Krishna. Portanto, há a conclusão no Brahma-samhita pelo próprio senhor Brahma, que o Senhor Krishna é a Suprema Personalidade de Deus. Ninguém é igual ou superior a Ele. Ele é o Senhor primordial, ou Bhagavan, conhecido como Govinda, e Ele é a suprema causa de todas as causas:

isvarah paramah krsnah
sac-cid-ananda-vigrahah
anadir adir govindah
sarva-karana-karanam

"Existem muitas personalidades que possuem as qualidades de Bhagavan, mas Krishna é o Supremo pois ninguém pode superá-Lo. Ele é a Pessoa Suprema, e Seu corpo é eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurança. Ele é o Senhor Govinda primordial e a causa de todas as causas" (Brahma-samhita 5.1).

Há também no Srimad Bhagavatam uma lista de várias encarnações da Suprema Personalidade de Deus, mas Krishna é descrito como a Personalidade de Deus original, de quem muitas e muitas encarnações e Personalidades de Deus se expandem:

ete camsa-kalah pumsah
krsnas tu bhagavan svayam
indrari-vyakulam lokam
mrdayanti yuge yuge

"Todas as listas das encarnações do Supremo descritas aqui ou são expansões plenárias ou partes das expansões plenárias do Deus Supremo, mas Krishna é a própria Suprema Personalidade de Deus em pessoa" (Bhag. 1.3.28).

Então, Krishna é a Suprema Personalidade de Deus original, a Verdade Absoluta, a fonte tanto da Superalma quanto do Brahman impessoal.

A lamentação de Arjuna pelos seus familiares na presença da Suprema Personalidade de Deus é com certeza inconveniente, por isso que Krishna expressa Sua surpresa com a palavra kutas, "de onde veio". Nunca se esperam tais sentimentos covardes de uma pessoa que pertence à classe humana civilizada conhecida como Ariana. A palavra Ariano se aplica a pessoas que conhecem o valor da vida e têm uma civilização baseada na realização espiritual. Pessoas que são conduzidas pelo conceito material de vida não sabem que o objetivo da vida é a realização da Verdade Absoluta, Vishnu, ou Bhagavan, e ficam cativadas pelos aspectos externos do mundo material, logo, não sabem o que é liberação. As pessoas que não têm conhecimento sobre liberação são chamadas de não-Arianas. Apesar de Arjuna ser um kshatriya, desviava-se de seus deveres prescritos por se negar a lutar. Esse ato de covardia é descrito como digno de não-Arianos. Esse desvio do dever não ajuda a pessoa no progresso da vida espiritual, nem dá a oportunidade de ficar famosa neste mundo. O Senhor Krishna não aprovou a dita compaixão de Arjuna por seus familiares.

Verso 3

klaibyam ma sma gamah partha
naitat tvayy upapadyate
ksudram hrdaya-daurbalyam
tyaktvottistha parantapa

Tradução

Ó filho de Pritha, não ceda a essa impotência degradante. Não é digna de você. Abandone essa fraqueza mesquinha de coração e levante-se, ó castigador do inimigo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna é chamado de "filho de Pritha", que é irmã do pai de Krishna, Vasudeva. Portanto, Arjuna tinha parentesco sangüíneo com Krishna. Se o filho de um kshatriya se recusar a lutar, é um kshatriya de nome apenas. Tais kshatriyas e brahmanas são filhos indignos de seus pais, por isso, Krishna não queria que Arjuna se tornasse um filho indigno de kshatriya. Arjuna era o amigo mais íntimo de Krishna, e Krishna o orientava diretamente na quadriga, mas apesar de todas essas vantagens, se Arjuna abandonasse a batalha, cometeria um ato infame, por isso Krishna disse que essa atitude de Arjuna não era própria da sua personalidade. Arjuna podia argumentar que abandonaria a batalha com base na sua atitude magnânima com seus familiares mais respeitáveis como Bhisma, mas Krishna considerou essa atitude magnânima não aprovada pela autoridade. Assim, esse tipo de magnanimidade ou dita não-violência tinha de ser abandonada por pessoas como Arjuna sob a orientação direta de Krishna.

Verso 4

arjuna uvaca
katham bhismam aham sankhye
dronam ca madhusudana
isubhih pratiyotsyami
pujarhav ari-sudana

Tradução

Arjuna disse: Ó matador do demônio Madhu (Krishna), como posso atacar com flechas na batalha homens como Bhisma e Drona, que são dignos da minha adoração?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Superiores respeitáveis como o patriarca Bhisma e o professor Dronacharya são sempre adoráveis. Mesmo se atacarem, não devem ser retaliados. A etiqueta geral afirma que os superiores não devem ser retaliados nem mesmo verbalmente. Mesmo se às vezes tiverem comportamento grosseiro, não devem ser tratados com grosseria. Então, como era possível Arjuna atacá-los? Será que Krishna atacaria alguma vez seu próprio avô, Ugrasena, ou Seu professor, Sandipani Muni? Esses são alguns dos argumentos de Arjuna para Krishna.

Verso 5

gurun ahatva hi mahanubhavan
sreyo bhoktum bhaiksyam apiha loke
hatvartha-kamams tu gurun ihaiva
bhunjiya bhogan rudhira-pradigdhan

Tradução

Melhor viver neste mundo por mendigar do que viver a custo das vidas de grandes almas que são meus professores. Mesmo que eles sejam avarentos, ainda assim são superiores. Se forem mortos, nosso espólio será manchado com sangue.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Segundo os códigos das escrituras, um professor que pratica uma ação abominável e perde seu senso de discriminação é digno de ser abandonado. Bhisma e Drona foram obrigados a ficar do lado de Duryodhana por causa de sua assistência financeira, apesar de que não aceitaram essa posição apenas por considerações financeiras. Nessas circunstâncias, eles perderam sua respeitabilidade como professores. Mas Arjuna acha que mesmo assim eles permanecem seus superiores, e por conseguinte, aproveitar ganhos materiais depois de matá-los seria desfrutar espólios manchados de sangue.

Verso 6

na caitad vidmah kataran no gariyo
yad va jayema yadi va no jayeyuh
yan eva hatva na jijivisamas
te 'vasthitah pramukhe dhartarastrah

Tradução

Nem sabemos o que é melhor, conquistá-los ou sermos conquistados por eles. Os filhos de Dhritarastra, os quais se matarmos não nos importará viver mais, agora estão perante nós neste campo de batalha.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna não sabia se devia lutar e se arriscar em violência desnecessária, apesar da luta ser dever dos kshatriyas, ou se devia evitar e viver como mendigo. Se ele não vencesse o inimigo, a mendicância seria seu único meio de sobrevivência. Nem havia certeza de vitória, porque qualquer lado podia ser vitorioso. Mesmo se a vitória os aguardava (e sua causa era justa), ainda assim, se os filhos de Dhritarastra morressem na batalha, seria muito difícil viver com sua ausência. Nessas circunstâncias, seria outro tipo de derrota para eles. Todas essas considerações de Arjuna provam definitivamente que ele não é apenas um grande devoto do Senhor e também é altamente iluminado como tem controle pleno de sua mente e sentidos. Seu desejo de viver como mendigo, apesar de nascer num lar da realeza, é outro sinal de desapego. Ele é virtuoso verdadeiramente, como essas qualidades, combinadas com sua fé nas palavras de orientação de Sri Krishna (seu mestre espiritual), indicam. A conclusão é que Arjuna estava bem pronto para a liberação. A menos que os sentidos estejam sob controle, não há chance de elevação para a plataforma do conhecimento, e sem conhecimento e devoção não há chance de liberação. Arjuna era competente em todos esses atributos, além e acima de seus enormes atributos nas suas relações materiais.

Verso 7

karpanya-dosopahata-svabhavah
prcchami tvam dharma-sammudha-cetah
yac chreyah syan niscitam bruhi tan me
sisyas te 'ham sadhi mam tvam prapannam

Tradução

Agora estou confuso sobre meu dever e perdi a compostura por causa da fraqueza. Nessa condição, peço a Você que me diga claramente o que é melhor para mim. Agora sou Seu discípulo, e uma alma rendida a Você. Por favor, instrua-me.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Por causa do próprio estilo da natureza, o sistema completo das atividades materiais é uma fonte de perplexidade para todos. Existe perplexidade em cada passo, e isso capacita a pessoa a se aproximar de um mestre espiritual genuíno que pode orientá-la corretamente para a execução do propósito da vida. Todas literaturas Védicas aconselham a nos aproximarmos de um mestre espiritual genuíno para nos livrarmos das perplexidades da vida que acontecem sem o nosso desejo. Elas são como um incêndio na floresta que começa a queimar de alguma forma sem ninguém atear fogo. Similarmente, a situação mundial é tal que as perplexidades da vida aparecem automaticamente, sem que esperemos essa confusão. Ninguém quer incêndio, mesmo assim acontece, e nós ficamos perplexos. A sabedoria Védica portanto nos aconselha que para resolver as perplexidades da vida e entender a ciência da solução, a pessoa tem que se aproximar de um mestre espiritual que está na sucessão discipular. A pessoa que tem um mestre espiritual genuíno é considerada como conhecedora de tudo. Portanto, a pessoa não deve permanecer nas perplexidades materiais e sim se aproximar do mestre espiritual. Esse é o significado deste verso.

Quem é a pessoa que está nas perplexidades materiais? É aquela que não entende os problemas da vida. O Garga Upanishad descreve a pessoa perplexa como se segue: yo va etad aksaram gargy aviditvasmal lokat praiti sa krpanah. "É miserável a pessoa que não soluciona os problemas da vida como um ser humano e que dessa forma deixa este mundo como gatos e cães, sem entender a ciência da auto-realização". Esta forma humana de vida é o recurso mais valioso para o ser vivo que pode utilizá-lo para resolver os problemas da vida, portanto, quem não utiliza esta oportunidade propriamente é um miserável. No outro extremo, está o brahmana, ou aquele que é inteligente o bastante para utilizar seu corpo para solucionar todos problemas da vida.

Os kripanas, ou pessoas miseráveis [ou sofredoras], desperdiçam seu tempo por serem demasiadamente afeiçoados a família, sociedade, país, etc., no conceito material de vida. A pessoa é geralmente apegada à vida familiar, a saber, esposa, filhos e outros membros, com base em "doença de pele". O kripana pensa que é capaz de proteger seus membros familiares da morte; ou o kripana pensa que sua família ou sociedade pode salvá-lo da beira da morte. Esse apego familiar pode ser encontrado até mesmo em animais inferiores que também cuidam de seus filhos. Como é inteligente, Arjuna pôde entender que sua afeição pelos membros familiares e seu desejo de protegê-los da morte eram as causas de suas perplexidades. Apesar de poder entender que seu dever de lutar esperava por ele, ainda assim, por causa da fraqueza miserável, não podia cumprir seus deveres. Assim, ele pede ao Senhor Krishna, o mestre espiritual supremo, que dê uma solução definitiva. Ele se oferece a Krishna como discípulo. Ele quer parar as conversas amigáveis. Conversas entre mestre e discípulo são sérias, e agora Arjuna quer falar com muita seriedade perante o mestre espiritual reconhecido. Portanto, Krishna é o mestre espiritual original da ciência do Bhagavad-gita, e Arjuna é o primeiro discípulo a entender o Gita. Como Arjuna entende o Bhagavad-gita é afirmado no próprio Gita. Mesmo assim, acadêmicos mundanos tolos explicam que ninguém precisa se submeter a Krishna como uma pessoa, mas ao "Krishna não-nascido interior". Não há diferença entre o interior e o exterior de Krishna. E a pessoa que não tem noção dessa compreensão é a maior tola que tenta entender o Bhagavad-gita.

Verso 8

na hi prapasyami mamapanudyad
yac chokam ucchosanam indriyanam
avapya bhumav asapatnam rddham
rajyam suranam api cadhipatyam

Tradução

Não consigo encontrar algum meio para afastar este pesar que seca meus sentidos. Não serei capaz de destruí-lo mesmo se conquistar um reino inigualável na Terra com soberania igual aos semideuses no céu.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Apesar de Arjuna expressar tantos argumentos com base nos princípios da religião e códigos morais, parece que era incapaz de resolver seu verdadeiro problema sem a ajuda do mestre espiritual, o Senhor Sri Krishna. Ele pôde entender que seu dito conhecimento era inútil para eliminar seus problemas, que secavam toda sua existência; e era impossível para ele resolver tamanhas perplexidades sem a ajuda de um mestre espiritual como o Senhor Krishna. Conhecimento acadêmico, erudição, posição elevada, etc., são todos inúteis para a solução dos problemas da vida, a ajuda só pode ser dada por um mestre espiritual como Krishna. Logo, a conclusão é que o mestre espiritual o qual é cem por cento consciente de Krishna é o mestre espiritual autêntico, porque ele pode solucionar os problemas da vida. O Senhor Chaitanya afirmou que a pessoa mestra na ciência da Consciência de Krishna, sem importar sua posição social, é o verdadeiro mestre espiritual.

kiba vipra, kiba nyasi, sudra kene naya
yei krsna-tattva-vetta, sei 'guru' haya

"Não importa se a pessoa é um vipra (sábio erudito na sabedoria Védica) ou nasceu numa família inferior, ou esteja na ordem renunciada de vida; se for mestra na ciência de Krishna, ela é o mestre espiritual perfeito e autêntico" (Sri Chaitanya Charitamrita, Madhya 8.128). Logo, sem ser um mestre na ciência da Consciência de Krishna, ninguém é um mestre espiritual fidedigno. As literaturas Védicas também afirmam:

sat-karma-nipuno vipro
mantra-tantra-visaradah
avaisnavo gurur na syad
vaisnavah sva-paco guruh

"Um brahmana erudito, perito em todas matérias do conhecimento Védico, não é digno de se tornar um mestre espiritual se não for um Vaishnava, ou perito na ciência da Consciência de Krishna. Mas a pessoa nascida numa família de casta inferior pode se tornar um mestre espiritual se for Vaishnava, ou consciente de Krishna" (Padma Purana).

Os problemas da existência material; nascimento, velhice, doença e morte; não podem ser combatidos com acumulo de riqueza e desenvolvimento econômico. Em várias partes do mundo, há países que são repletos de todas facilidades da vida, e são cheios de riqueza e desenvolvimento econômico, mesmo assim os problemas da existência material ainda estão presentes. Eles procuram a paz de várias formas, mas só poderão alcançar a felicidade real se consultarem Krishna, ou o Bhagavad-gita e o Srimad Bhagavatam, que constituem a ciência de Krishna, ou o representante autêntico de Krishna, a pessoa em Consciência de Krishna.

Se desenvolvimento econômico e confortos materiais pudessem eliminar as lamentações da pessoa devido aos transtornos de família, ou sociais, nacionais ou internacionais, então Arjuna não diria que mesmo com um reino sem igual na Terra ou supremacia como a dos semideuses nos planetas celestiais não seria capaz de eliminar suas lamentações. Portanto, ele procurou refúgio na Consciência de Krishna, e esse é o caminho certo para paz e harmonia. Desenvolvimento econômico ou supremacia sobre o mundo pode acabar a qualquer momento devido aos cataclismos da natureza material. Mesmo a elevação para situação planetária superior, como o homem procura agora um lugar no planeta Lua, também pode acabar com um único golpe. O Bhagavad-gita confirma isso: ksine punye martya-lokam visanti. "Quando os resultados das atividades piedosas terminam, a pessoa cai novamente do topo da felicidade para o estágio de vida mais baixo". Vários políticos do mundo caíram dessa forma. Tais quedas apenas constituem mais causas para lamentação.

Portanto, se queremos erradicar a lamentação para sempre, então temos que nos abrigar em Krishna, como Arjuna procura fazer. Assim, Arjuna pediu a Krishna para resolver seu problema definitivamente, e esse é o caminho da Consciência de Krishna.

Verso 9

sanjaya uvaca
evam uktva hrsikesam
gudakesah parantapah
na yotsya iti govindam
uktva tusnim babhuva ha

Tradução

Sanjaya disse: Depois de falar assim, Arjuna, o castigador dos inimigos, disse a Krishna, "Govinda, não lutarei", e ficou em silêncio.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Dhritarastra deve ter ficado feliz ao saber que Arjuna não ia lutar e em vez disso, ia deixar o campo de batalha para seguir a profissão de mendigo. Mas Sanjaya o desapontou novamente ao relatar que Arjuna era competente para matar seus inimigos (parantapah). Apesar de Arjuna estar, por enquanto, transtornado devido à falsa tristeza por causa da afeição familiar, ele se rendeu a Krishna, o mestre espiritual supremo, como um discípulo. Isso indica que logo se livraria da lamentação falsa resultante da afeição familiar e seria iluminado com o conhecimento perfeito da auto-realização, ou Consciência de Krishna, e depois lutaria com certeza. Assim, a alegria de Dhritarastra foi frustrada, pois Arjuna ia ser iluminado por Krishna e lutaria até o fim.

Verso 10

tam uvaca hrsikesah
prahasann iva bharata
senayor ubhayor madhye
visidantam, idam vacah

Tradução

Ó descendente de Bharata, nesse momento, Krishna sorriu, no meio dos dois exércitos, e falou as seguintes palavras a Arjuna dominado pela tristeza.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A conversa acontecia entre amigos íntimos, a saber, o Hrishikesha e o Gudakesha. Como amigos, os dois estavam no mesmo nível, mas um deles voluntariamente se tornou um aluno do outro. Krishna sorriu porque um amigo escolheu se tornar um discípulo. Como o Senhor de tudo, Ele está sempre na posição superior como o mestre de todos, mesmo assim, o Senhor aceita alguém que deseja ser um amigo, um filho, uma amante ou um devoto, ou quem deseja que Ele faça esse papel. Mas quando foi aceito como o mestre, assumiu o papel de imediato e falou com o discípulo como um mestre, com gravidade, como é exigido. Parece que a conversa entre mestre e discípulo foi compartilhada abertamente na presença de ambos exércitos para que todos recebessem o benefício. Logo, os diálogos do Bhagavad-gita não são para uma pessoa, sociedade ou comunidade em particular, mas são para todos, e tanto amigos quanto inimigos são igualmente autorizados para ouvir.

Verso 11

sri bhagavan uvaca
asocyan anvasocas tvam
prajna-vadams ca bhasase
gatasun agatasums ca
nanusocanti panditah

Tradução

O Abençoado Senhor disse: Enquanto fala palavras eruditas, você lamenta pelo que não é digno de pesar. Quem é sábio não lamenta pelos vivos nem pelos mortos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor assumiu a posição de professor imediatamente e repreendeu o aluno, por chamá-lo, indiretamente, de tolo. O Senhor disse: "Você fala como uma pessoa educada, mas não sabe que quem é educado, quem sabe o que é corpo e o que é alma, não lamenta por nenhum estágio do corpo, nem pela condição de vivo nem de morto". Como os capítulos seguintes explicarão, ficará bem claro que conhecimento significa conhecer matéria e espírito e o controlador de ambos. Arjuna argumentou que princípios religiosos são mais importantes do que política ou sociologia, mas não sabia que esse conhecimento sobre matéria, alma e o Supremo é mais importante do que fórmulas religiosas. E, como era carente sobre esse conhecimento, não deveria se apresentar como uma pessoa muito educada. Como não era o caso de ser uma pessoa muito educada, conseqüentemente se lamentava por algo que não é digno de lamentação. O corpo nasce e é destinado ao desaparecimento hoje ou amanhã, logo, o corpo não é tão importante quanto a alma. Quem sabe isso é o verdadeiro sábio, e para ele não há causa de lamentação, qualquer que seja a condição do corpo material.

Verso 12

na tv evaham jatu nasam
na tvam neme janadhipah
na caiva na bhavisyamah
sarve vayam atah param

Tradução

Nunca houve um tempo em que Eu não existi, nem você, nem todos esses reis; nem no futuro nenhum de nós deixará de existir.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Nos Vedas, no Katha Upanishad bem como no Swetasvatara Upanishad, é dito que a Suprema Personalidade de Deus é o mantenedor de inumeráveis seres vivos, em termos de suas diferentes situações de acordo com o trabalho individual e a reação do trabalho. A Suprema Personalidade de Deus está também, por meio de Suas porções plenas, vivo no coração de todo ser vivo. Somente as pessoas santas que podem ver, internamente e externamente, o mesmo Supremo Senhor, conseguem alcançar a paz perfeita e eterna. (Katha Upanishad 2.2.13):

nityo nityanam cetanas cetananam
eko bahunam yo vidadhati kaman
tam atmastham ye 'nupasyanti dhiras
tesam santih sasvati netaresam

A mesma verdade Védica dada a Arjuna é dada a todas pessoas do mundo que se apresentam como muito educadas mas na realidade possuem um pobre fundo de conhecimento. O Senhor diz claramente que Ele próprio, Arjuna, e todos os reis reunidos no campo de batalha, são seres individuais eternamente e o Senhor é eternamente o mantenedor dos seres vivos individuais tanto em seu estado condicionado quanto em seu estado liberado. A Suprema Personalidade de Deus é a pessoa suprema individual, e, Arjuna, companheiro eterno do Senhor, e todos os reis reunidos são pessoas individuais eternas. Não é que não existiam como indivíduos no passado, e não é que não permanecerão pessoas eternas. Sua individualidade existia no passado, e sua individualidade continuará no futuro sem interrupção. Logo, não há motivo para lamentar por ninguém.

A teoria Mayavadi de que após a liberação da alma individual, separada pela cobertura de maya ou ilusão, se fundirá no Brahman impessoal e perderá sua existência não é apoiada aqui pelo Senhor Krishna, a autoridade suprema. Nem a teoria de que nós pensamos em individualidade somente no estado condicionado é apoiada aqui. Krishna afirma claramente aqui que também no futuro a individualidade do Senhor e dos outros, como confirmado nos Upanishads, continua eternamente. Essa afirmação de Krishna é autorizada porque Krishna não pode ser sujeito à ilusão. Se a individualidade não fosse um fato, Krishna não a teria enfatizado tanto, mesmo no futuro. O Mayavadi pode argumentar que a individualidade falada por Krishna não é espiritual, mas material. Mesmo se aceitarmos o argumento de que a individualidade é material, como poderemos distinguir a individualidade de Krishna? Krishna afirma Sua individualidade no passado e confirma Sua individualidade no futuro também. Ele confirmou Sua individualidade de várias formas, e o Brahman impessoal foi declarado como subordinado a Ele. Krishna mantém a individualidade espiritual sempre; se Ele for aceito como uma alma condicionada ordinária com consciência individual, então Seu Bhagavad-gita não tem valor como escritura autorizada. Uma pessoa comum com as quatro falhas da humanidade não é capaz de ensinar o que é digno de se ouvir. O Gita está acima dessa literatura. Nenhum livro mundano se compara ao Bhagavad-gita. Quando a pessoa aceita Krishna como um ser humano ordinário, o Gita perde toda sua importância. O Mayavadi argumenta que a pluralidade mencionada neste verso é convencional e se refere ao corpo. Mas o verso anterior a este já condenou tal conceito corpóreo. Depois de condenar o conceito corpóreo dos seres vivos, como é possível que Krishna faça uma proposta convencional sobre o corpo novamente? Logo, a individualidade é mantida com bases espirituais e é assim confirmada por grandes acharyas como Sri Ramanuja e outros. Vários trechos do Gita mencionam claramente que a individualidade espiritual é compreendida pelas pessoas que são devotas do Senhor. As pessoas que têm inveja de Krishna como a Suprema Personalidade de Deus não têm acesso fidedigno a esta grande literatura. A aproximação do não-devoto aos ensinamentos do Gita é algo como abelhas a lamber uma garrafa de mel. A pessoa não pode saborear o mel a menos que abra a garrafa. Similarmente, o misticismo do Bhagavad-gita só pode ser compreendido pelos devotos, e ninguém mais pode saboreá-lo, como afirma o Quarto Capítulo do livro. Nem o Gita pode ser tocado por pessoas que invejam a própria existência do Senhor. Portanto, a explicação Mayavadi do Gita é a apresentação mais pervertida de toda a verdade. O Senhor Chaitanya nos proibiu de ler comentários feitos pelos Mayavadis e nos alerta que se a pessoa se vale desse entendimento da filosofia Mayavadi, perde todo o poder para compreender o mistério real do Gita. Se individualidade se refere ao universo empírico, então não tem necessidade do ensinamento do Senhor. A pluralidade da alma individual e do Senhor é um fato eterno, e é confirmada pelos Vedas como mencionado acima.

Verso 13

dehino 'smin yatha dehe
kaumaram yauvanam jara
tatha dehantara-praptir
dhiras tatra na muhyati

Tradução

Do mesmo modo como a alma corporificada passa, neste corpo, da infância à juventude e à velhice, similarmente a alma passa para outro corpo na morte. A alma auto-realizada não se confunde com essa mudança.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como todo ser vivo é uma alma individual, cada um muda seu corpo a cada momento, manifesta-se às vezes como uma criança, às vezes como um jovem, e às vezes como um idoso. Ainda assim, a mesma alma espiritual está lá e não sofre nenhuma mudança. Essa alma individual finalmente muda o corpo na morte e transmigra para outro corpo; e como é certo ter outro corpo no próximo nascimento, tanto material quanto espiritual, não havia motivo para Arjuna se lamentar por causa da morte, nem por Bhisma nem por Drona, pelos quais estava tão preocupado. Em vez disso, devia se alegrar por eles trocarem os corpos velhos por novos, e assim rejuvenescer sua energia. Tais mudanças de corpo justificam variedades de prazer ou sofrimento, de acordo com o trabalho da pessoa durante a vida. Assim, Bhisma e Drona, como eram almas nobres, com certeza teriam seus corpos espirituais na próxima vida, ou no mínimo, vida em corpos celestiais para o desfrute superior da existência material. Logo, em qualquer caso, não havia motivo para lamentação.

Qualquer pessoa que tem conhecimento perfeito sobre a constituição da alma individual, a Superalma e a natureza, tanto material quanto espiritual, é chamada dhira ou uma pessoa altamente sóbria. Tal pessoa nunca se ilude com a mudança de corpos. A teoria Mayavadi da unidade da alma espiritual não pode ser considerada com base de que a alma espiritual não pode ser cortada em pedaços como uma parte fragmentada. Esse corte em diferentes almas individuais faria com que o Supremo fosse divisível ou mutável, contra o princípio de que a Alma Suprema é imutável. Como o Gita confirma, as partes fragmentadas do Supremo existem eternamente (sanatana) e se chamam kshara; isto é, têm a tendência de cair na natureza material. Essas porções fragmentadas são eternamente assim, e mesmo depois da liberação, a alma individual permanece a mesma, fragmentada. Mas quando é liberada, vive uma vida eterna em bem-aventurança e conhecimento com a Personalidade de Deus. A teoria do reflexo pode ser aplicada à Superalma, que está presente em cada e todo corpo individual e é conhecida como Paramatma, que é diferente do ser vivo individual. Quando o céu reflete na água, os reflexos representam tanto o Sol quanto a Lua e as estrelas também. As estrelas podem ser comparadas aos seres vivos e o Sol e a Lua ao Supremo Senhor. A alma espiritual individual fragmentada é representada por Arjuna, e a Alma Suprema é a Personalidade de Deus Sri Krishna. Eles não estão no mesmo nível, como será visível no começo do Quarto Capítulo. Se Arjuna está no mesmo nível de Krishna, e Krishna não é superior a Arjuna, então sua relação de instrutor e instruído se torna sem sentido. Se os dois estão iludidos pela energia ilusória (maya), não existe necessidade de um ser o instrutor e o outro o instruído. Essa instrução seria inútil porque, nas garras de maya, ninguém pode ser um instrutor autorizado. Nessas circunstâncias, admite-se que o Senhor Krishna é o Supremo Senhor, superior em posição ao ser vivo, Arjuna, que é uma alma no esquecimento iludida por maya.

Verso 14

matra-sparsas tu kaunteya
sitosna-sukha-duhkha-dah
agamapayino 'nityas
tams titiksasva bharata

Tradução

Ó filho de Kunti, o aparecimento não permanente de felicidade e tristeza, e seu desaparecimento no devido curso, são como o aparecimento e desaparecimento das estações de inverno e verão. Surgem da percepção sensorial, ó descendente de Bharata, e a pessoa tem que aprender a tolerá-los sem se perturbar.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa no cumprimento correto do dever tem que aprender a tolerar os aparecimentos e desaparecimentos de felicidade e tristeza. Segundo a regra Védica, a pessoa tem que tomar banho de manhã cedo mesmo durante o mês de Magha (janeiro-fevereiro) [inverno no hemisfério norte]. Faz muito frio nessa época, mas apesar disso a pessoa que segue os princípios religiosos não hesita em tomar seu banho. Similarmente, a mulher não hesita em cozinhar dentro da cozinha nos meses de maio e junho [verão no hemisfério norte], a parte mais quente da estação do verão. A pessoa tem que cumprir seu dever apesar das inconveniências climáticas. Similarmente, lutar é o princípio religioso dos kshatriyas, e mesmo se tem que lutar contra alguns amigos ou parentes, não deve se desviar de seu dever prescrito. A pessoa tem que seguir as regras e regulamentos prescritos pelos princípios religiosos a fim de se elevar à plataforma do conhecimento porque somente por conhecimento e devoção que a pessoa pode se liberar das garras de maya (ilusão).

Os dois nomes diferentes como Arjuna é chamado também são significativos. Chamá-lo de Kaunteya significa sua alta relação sangüínea do lado de sua mãe; e chamá-lo de Bharata significa sua grandeza por parte de pai. Ele é considerado como de alta linhagem dos dois lados. Uma alta descendência traz responsabilidade no que se refere ao cumprimento correto dos deveres; por isso, ele não podia evitar a luta.

Verso 15

yam hi na vyathayanty ete
purusam purusarsabha
sama-duhkha-sukham dhiram
so 'mrtatvaya kalpate

Tradução

Ó melhor dos homens (Arjuna), a pessoa que não se perturba com felicidade e tristeza e é sóbria em ambas é certamente elegível para a liberação.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Qualquer pessoa constante em sua determinação para o estágio avançado da realização espiritual e que pode tolerar os ataques da tristeza e da felicidade é com certeza uma pessoa elegível para a liberação. O quarto estágio de vida na instituição varnashrama, chamado ordem da renúncia (sannyasa), é uma situação meticulosa. Mas a pessoa séria em tornar sua vida perfeita seguramente adota a ordem de vida sannyasa apesar de todas dificuldades. As dificuldades geralmente surgem por ter que servir às relações familiares, abandonar a conexão com esposa e filhos. Mas se for capaz de tolerar essas dificuldades, certamente seu caminho para a realização espiritual está completo. Similarmente, Arjuna no cumprimento de seus deveres como kshatriya é aconselhado a perseverar, mesmo se for difícil lutar com seus membros familiares ou pessoas igualmente queridas. O Senhor Chaitanya aceitou sannyasa com vinte e quatro anos de idade, e Seus dependentes, jovem esposa bem como mãe idosa, não tinham ninguém mais para cuidar delas. Mesmo assim, por uma causa superior, Ele aceitou sannyasa e era firme no cumprimento dos deveres superiores. Esse é o caminho para alcançar a liberação do cativeiro material.

Verso 16

nasato vidyate bhavo
nabhavo vidyate satah
ubhayor api drsto 'ntas
tv anayos tattva-darsibhih

Tradução

Aqueles que são videntes da verdade concluíram que não há duração para o inexistente, e que não há cessação para o existente. Esses videntes concluíram pelo estudo da natureza de ambos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Não há duração para o corpo mutável. O corpo muda a todo momento pelas ações e reações de várias células como a ciência médica moderna admite; por isso que crescimento e velhice acontecem no corpo. Mas a alma espiritual existe permanentemente, e permanece a mesma apesar de todas mudanças do corpo e da mente. Essa é a diferença entre matéria e espírito. Por natureza, o corpo muda sempre, e a alma é eterna. Essa conclusão é estabelecida por todos tipos de videntes da verdade, tanto impersonalista quanto personalista. O Vishnu Purana (2.12.38) afirma que Vishnu e Suas moradas todos têm existência espiritual auto-iluminada (jyotimsi visnur bhuvanani visnuh). As palavras existente e inexistente se referem unicamente a espírito e matéria. Essa é a versão de todos videntes da verdade.

Esse é o início da instrução do Senhor para os seres vivos que estão confusos devido à influência da ignorância. Remoção da ignorância envolve o restabelecimento da relação eterna do adorador com o adorado, e o entendimento conseqüente da diferença entre os seres vivos partes e parcelas e a Suprema Personalidade de Deus. A pessoa pode entender a natureza do Supremo pelo estudo completo de si mesma, a diferença entre si mesma e o Supremo compreendida como a relação entre a parte e o todo. Nos Vedanta-sutras, bem como no Srimad Bhagavatam, o Supremo é aceito como a origem de todas emanações. Essas emanações são experimentadas pelas seqüências naturais superior e inferior. Os seres vivos pertencem à natureza superior, como será revelado no Sétimo Capítulo. Apesar de não ter diferença entre a energia e o energético, o energético é aceito como o Supremo, e a energia ou natureza é aceita como a subordinada. Os seres vivos, portanto, são sempre subordinados ao Supremo Senhor, como no caso do mestre com o servo, ou do professor com o aluno. É impossível entender esse conhecimento claro sob o encanto da ignorância, e para eliminar essa ignorância, o Senhor ensina o Bhagavad-gita para a iluminação de todos seres vivos em todos os tempos.

Verso 17

avinasi tu tad viddhi
yena sarvam idam tatam
vinasam avyayasyasya
na kascit kartum arhati

Tradução

Saiba que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Este verso explica ainda mais claro a natureza real da alma, que se difunde por todo o corpo. Qualquer um pode entender o que se difunde por todo o corpo; é a consciência. Todo mundo é consciente das dores e prazeres do corpo em parte ou como um todo. Essa difusão da consciência se limita dentro do próprio corpo. As dores e prazeres de um corpo são desconhecidos por outro. Logo, todo e cada corpo é a corporificação da alma individual, e o sintoma da presença da alma se percebe como a consciência individual. Essa alma é descrita como a décima milésima parte do tamanho da ponta de um fio de cabelo. O Swetasvatara Upanishad (5.9) confirma isso:

balagra-sata-bhagasya
satadha kalpitasya ca
bhago jivah vijneyah
sa canantyaya kalpate

"Quando a ponta superior de um fio de cabelo é dividida em cem partes e novamente cada uma dessas partes é dividida em cem partes, cada parte dessas é a medida da dimensão da alma espiritual". Similarmente, a mesma versão é confirmada:

kesagra-sata-bhagasya
satamsah sadrsatmakah
jivah suksma-svarupo 'yam
sankhyatito hi cit-kanah

"Existem inumeráveis partículas de átomos espirituais, que são medidas como a décima milésima parte da ponta superior de um fio de cabelo".

Logo, a partícula individual da alma espiritual é um átomo espiritual menor do que os átomos materiais, e esses átomos são inumeráveis. Essa mesma pequena centelha espiritual é o princípio básico do corpo material, e a influência dessa centelha espiritual se espalha por todo o corpo da mesma forma como o princípio ativo de alguns remédios se espalha por todo o corpo. Essa corrente da alma espiritual se sente em todo o corpo como a consciência, e essa é a prova da presença da alma. Qualquer leigo pode entender que o corpo material menos a consciência é um corpo morto, e essa consciência não pode ser revivida no corpo por nenhum meio de administração material. Portanto, consciência não é devida a nenhuma quantidade de combinação material, mas devida à alma espiritual. O Mundaka Upanishad (3.1.9) explica mais ainda a medida da alma espiritual atômica:

eso 'nuratma cetasa veditavyo
yasmin pranah pancadha samvivesa
pranais cittam sarvam otam prajanam
yasmin visuddhe vibhavaty esa atma

"A alma tem tamanho atômico e pode ser percebida pela inteligência perfeita. Essa alma atômica flutua em cinco tipos de ar (prana, apana, vyana, samana e udana), situa-se no coração, e propaga sua influência por todo o corpo dos seres vivos corporificados. Quando a alma se purifica da influência da contaminação dos cinco tipos de ar material, sua influência espiritual se exibe".

O sistema de hata-yoga se destina ao controle dos cinco tipos de ar que envolvem a alma pura por meio de vários tipos de posturas do corpo; não para qualquer ganho material, mas para a liberação da alma minúscula do enredamento da atmosfera material.

Assim, a constituição da alma atômica é admitida em todas literaturas Védicas, e também é sentida realmente na experiência prática de qualquer pessoa sã. Somente a pessoa insana acha que a alma atômica é vishnu-tattva todo-penetrante.

A influência da alma atômica pode se espalhar por todo um corpo particular. Segundo o Mundaka Upanishad, a alma atômica se situa no coração de cada ser vivo, e como a medida da alma atômica está além do poder de apreciação dos cientistas materiais, alguns deles afirmam tolamente que não existe alma. A alma atômica individual está definitivamente lá no coração junto com a Superalma, e assim, todas as energias do movimento corpóreo emanam dessa parte do corpo. Os glóbulos que carregam o oxigênio dos pulmões obtêm energia da alma. Quando a alma sai dessa posição, a atividade sangüínea, por gerar fusão, cessa. A ciência médica aceita a importância dos glóbulos vermelhos, mas não pode determinar que a fonte de energia é a alma. Entretanto, a ciência médica admite que o coração é o assento de todas energias do corpo.

Essas partículas atômicas do todo completo são comparadas às moléculas do brilho solar. Há inumeráveis moléculas radiantes no brilho solar. Similarmente, as partes fragmentadas do Supremo Senhor são centelhas atômicas dos raios do Supremo Senhor, chamadas pelo nome de prabha, ou energia superior. Nem o conhecimento Védico nem a ciência moderna negam a existência da alma espiritual dentro do corpo, e a ciência da alma é descrita explicitamente no Bhagavad-gita pela Personalidade de Deus em pessoa.

Verso 18

antavanta ime deha
nityasyoktah saririnah
anasino 'prameyasya
tasmad yudhyasva bharata

Tradução

Somente o corpo material do ser vivo indestrutível, imensurável e eterno está sujeito à destruição; portanto, lute, ó descendente de Bharata.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O corpo material é perecível por natureza. Pode perecer imediatamente, ou pode perecer depois de centenas de anos. É apenas uma questão de tempo. Não existe possibilidade de mantê-lo indefinidamente. Mas a alma espiritual é tão minúscula que não pode nem mesmo ser vista por um inimigo, o que falar de ser morta. Como o verso anterior mencionou, é tão pequena que ninguém faz idéia de como medir sua dimensão. Assim, dos dois pontos de vista, não há motivo para lamentação porque o ser vivo não pode ser morto em sua essência, nem o corpo material, que não pode ficar a salvo por qualquer extensão de tempo, pode ser protegido permanentemente. A partícula diminuta do espírito total adquire seu corpo material de acordo com seu trabalho, e para isso deve-se utilizar a observação dos princípios religiosos. Os Vedanta-sutras qualificam o ser vivo como luz por que é parte e parcela da luz suprema. Do mesmo modo como a luz solar mantém o universo inteiro, a luz da alma mantém este corpo material. Logo que a alma sai deste corpo material, o corpo começa a se decompor; por isso é a alma espiritual que mantém este corpo. O corpo em si não tem importância. Arjuna recebeu o conselho para lutar e sacrificar o corpo material pela causa da religião.

Verso 19

ya enam vetti hantaram
yas cainam manyate hatam
ubhau tau na vijanito
nayam hanti na hanyate

Tradução

Quem pensa que o ser vivo é o matador ou é morto, não entende. Quem tem conhecimento sabe que o eu não mata nem é morto.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Quando um ser vivo corporificado é ferido por armas letais, deve-se saber que o ser vivo dentro do corpo não é morto. A alma espiritual é tão pequena que é impossível matá-la com qualquer arma material, como ficou evidente no verso anterior. Nem o ser vivo pode ser morto, somente o corpo. Isso, entretanto, não é para encorajar a matança do corpo de jeito nenhum. A lei Védica afirma ma himsyat sarva bhutani: Nunca cometa violência contra ninguém. Nem dá a entender que o ser vivo não morre para encorajar a matança de animais. Matar qualquer corpo, seja lá qual for, sem autoridade é abominável e sujeito à punição pela lei do estado bem como pela lei do Senhor. Arjuna, entretanto, tem o compromisso de matar pelo princípio da religião, e não por capricho.

Verso 20

na jayate mriyate va kadacin
nayam bhutva bhavita va na bhuyah
ajo nityah sasvato 'yam purano
na hanyate hanyamane sarire

Tradução

Para a alma não existe nascimento ou morte. Nem, depois que começou a existir, nunca mais deixará de existir. É não-nascida, eterna, sempre existente, imortal e primordial. Não é morta quando o corpo é morto.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Qualitativamente, a minúscula parte fragmentada atômica do Espírito Supremo é una com o Supremo. Não se submete a mudanças como o corpo. A alma é chamada às vezes de constante, ou kutastha. O corpo está sujeito a seis tipos de transformações. Nasce de dentro do ventre da mãe, permanece por algum tempo, cresce, produz alguns efeitos, degenera-se gradualmente, e por último perece no esquecimento. A alma, entretanto, não passa por essas mudanças. A alma não nasce, mas, porque ela assume um corpo material, o corpo nasce. A alma não nasce aí, e a alma não morre. Tudo que nasce também morre. E porque a alma não tem nascimento, conseqüentemente não tem passado, presente e futuro. É eterna, sempre existente, e primordial, ou seja, não há registro na história de quando começou a existir. Sob a impressão do corpo, procuramos a história do nascimento, etc., da alma. A alma em nenhum tempo fica velha, como o corpo fica. As ditas pessoas idosas, por isso, sentem-se com o mesmo espírito como em sua infância ou juventude. As mudanças do corpo não afetam a alma. A alma não se deteriora como uma árvore, ou nada material. A alma também não tem nenhum subproduto. Os subprodutos do corpo, a saber, filhos, também são almas individuais diferentes; e, como possuem corpo, parecem ser filhos de uma pessoa em particular. O corpo se desenvolve por causa da presença da alma, mas a alma não tem ramos nem mudanças. Logo, a alma é livre das seis mudanças do corpo.

No Katha Upanishad (1.2.18) também encontramos uma passagem similar que diz:

na jayate mriyate va vipascin
nayam kutascin na vibhuva kascit
ajo nityah sasvato 'yam purano
na hanyate hanyamane sarire

O sentido e significado desse verso é o mesmo do Bhagavad-gita, mas aqui nesse verso há uma palavra especial, vipascit, que significa educado ou com conhecimento.

A alma é plena de conhecimento, ou sempre cheia de consciência. Portanto, consciência é o sintoma da alma. Mesmo se alguém não encontra a alma dentro do coração, onde está situada, ainda pode entender a presença da alma simplesmente pela presença da consciência. Às vezes não achamos o Sol no céu por causa das nuvens, ou por alguma outra razão, mas a luz do Sol está sempre lá, e por isso temos certeza que é dia. Logo que surge um pouco de luz no céu de manhã, podemos entender que o Sol está no céu. Do mesmo modo, como há consciência em todos os corpos, seja humano ou animal, podemos entender a presença da alma. Essa consciência da alma, entretanto, é diferente da consciência do Supremo porque a consciência suprema tem conhecimento total; passado, presente e futuro. A consciência da alma individual é propensa ao esquecimento. Quando esquece sua natureza verdadeira, obtém educação e iluminação das lições superiores de Krishna. Mas Krishna não é como a alma esquecida. Se fosse assim, os ensinamentos de Krishna no Bhagavad-gita seriam inúteis.

Existem dois tipos de almas, a saber, a partícula minúscula alma (anu-atma) e a Superalma (vibhu-atma). O Katha Upanishad (1.2.20) também confirma isso, como se segue:

anor aniyan mahato mahiyan
atmasya jantor nihito guhayam
tam akratuh pasyati vita-soko
dhatuh prasadan mahimanam atmanah

"Tanto a Superalma (Paramatma) quanto a alma atômica (jivatma) estão situadas na mesma árvore do corpo dentro do mesmo coração do ser vivo, e somente a pessoa que se livrou de todos desejos materiais bem como das lamentações, pela graça do Supremo, pode entender as glórias da alma". Krishna também é a fonte original da Superalma, como será revelado nos próximos capítulos, e Arjuna é a alma atômica, esquecido de sua verdadeira natureza; por isso ele precisa ser iluminado por Krishna, ou por Seu representante autêntico (o mestre espiritual).

Verso 21

vedavinasinam nityam
ya enam ajam avyayam
katham sa purusah partha
kam ghatayati hanti kam

Tradução

Ó Partha, como pode uma pessoa ciente de que a alma é indestrutível, não-nascida, eterna e imutável, matar alguém ou causar a morte de alguém?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Tudo tem sua própria utilidade, e a pessoa situada em conhecimento completo sabe como e onde aplicar uma coisa conforme sua utilidade adequada. Similarmente, violência também tem sua utilidade, e como aplicar violência cabe à pessoa em conhecimento. Apesar da justiça de paz aplicar pena capital a uma pessoa condenada por assassinato, a justiça de paz não pode ser culpada por ordenar violência a outra pessoa de acordo com as leis da justiça. No Manu-samhita, o livro da lei para a humanidade, sustenta que um assassino deve ser condenado à morte para que em sua próxima vida não tenha que sofrer por causa do grande pecado que cometeu. Portanto, a punição de enforcamento que um rei dá a um assassino é na realidade benéfica. Do mesmo modo, quando Krishna ordena a luta, devemos concluir que a violência é para a justiça suprema, e, assim, Arjuna tem que seguir a instrução, por saber bem que essa violência, cometida na ação de lutar por Krishna, não é violência de jeito nenhum, em nenhuma escala, porque a pessoa, ou melhor, a alma, não pode ser morta; por conseguinte, para a administração da justiça, a dita violência é permitida. Uma operação cirúrgica não se destina a matar o paciente, mas sim curá-lo. Portanto, a luta a ser executada por Arjuna sob a instrução de Krishna é com conhecimento pleno, assim não existe possibilidade de reação pecaminosa.

Verso 22

vasamsi jirnani yatha vihaya
navani grhnati naro 'parani
tatha sarirani vihaya jirnany
anyani samyati navani dehi

Tradução

Da mesma forma como uma pessoa veste roupas novas, e descarta as velhas, a alma aceita novos corpos materiais, depois de descartar os velhos e inúteis.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A mudança de corpo pela alma individual atômica é um fato aceito. Mesmo alguns cientistas modernos que não acreditam na existência da alma, mas ao mesmo tempo não podem explicar a fonte de energia do coração, têm que aceitar as mudanças contínuas do corpo que surgem da infância para a adolescência e da adolescência para a juventude e novamente da juventude para a velhice. Da velhice, a mudança se transfere para outro corpo. Isso já foi explicado no verso anterior.

A transferência da alma individual atômica para outro corpo se torna possível pela graça da Superalma. A Superalma satisfaz o desejo da alma atômica como um amigo satisfaz o desejo do outro. Os Vedas, como o Mundaka Upanishad, bem como o Swetasvatara Upanishad, comparam a alma e a Superalma a dois pássaros amigos pousados na mesma árvore. Um dos pássaros (a alma atômica individual) come os frutos da árvore, e o outro pássaro (Krishna) apenas observa Seu amigo. Sobre esses dois pássaros, apesar de serem iguais em qualidade, um é cativado pelos frutos da árvore material, enquanto o outro apenas testemunha as atividades de Seu amigo. Krishna é o pássaro testemunha, e Arjuna é o pássaro que come. Apesar de serem amigos, um ainda é o mestre e o outro é o servo. O esquecimento da alma atômica sobre essa relação é a causa da mudança da pessoa de sua posição de uma árvore para outra ou de um corpo para outro. A alma jiva luta arduamente na árvore do corpo material, mas logo que concorda em aceitar outro pássaro como o mestre espiritual supremo, como Arjuna concordou em fazer por se render a Krishna voluntariamente para receber instruções, o pássaro subordinado se torna livre de todas lamentações imediatamente. Tanto o Mundaka Upanishad (3.1.2) quanto o Swetasvatara Upanishad (4.7) confirmam isso:

samane vrkse puruso nimagno
'nisaya socati muhyamanah
justam yada pasyaty anyam isam
asya mahimanam iti vita-sokah

"Apesar dos dois pássaros estarem na mesma árvore, o pássaro que come fica totalmente absorto em ansiedade e morosidade como o desfrutador dos frutos da árvore. Mas se de alguma forma ou outra, voltar sua face para seu amigo que é o Senhor e reconhecer Suas glórias, o pássaro sofredor de imediato fica livre de todas ansiedades". Arjuna agora virou sua face em direção a seu amigo eterno, Krishna, e recebe o entendimento do Bhagavad-gita Dele. E assim, por ouvir de Krishna, ele pode entender as glórias supremas do Senhor e ficar livre da lamentação.

Arjuna é aconselhado daqui para frente pelo Senhor a não lamentar pela mudança corpórea de seus velhos avô e professor. Ele deve ao invés ficar feliz por matar seus corpos numa luta justa para que possam ficar limpos de uma vez de todas reações de várias atividades corpóreas. Quem deixa a vida no altar de sacrifício, ou num campo de batalha digno, fica limpo de imediato de todas reações corpóreas e é promovido a um estágio de vida superior. Logo, não havia motivo para a lamentação de Arjuna.

Verso 23

nainam chindanti sastrani
nainam dahati pavakah
na cainam kledayanty apo
na sosayati marutah

Tradução

A alma nunca pode ser cortada em pedaços por nenhuma arma, nem queimada pelo fogo, nem molhada pela água, nem seca pelo vento.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Todos tipos de armas, espadas, chamas, chuvas, tornados, etc., são incapazes de matar a alma espiritual. Parece que existiam muitos tipos de armas feitas de terra, água, ar, éter, etc., além das modernas armas de fogo. Mesmo as armas nucleares da Era contemporânea são classificadas como armas de fogo, mas antigamente existiam outras armas feitas com todos tipos de elementos materiais. Armas de fogo eram combatidas com armas de água, que são desconhecidas para a ciência moderna. Nem os cientistas modernos têm conhecimento sobre armas de tornado. Entretanto, a alma nunca pode ser cortada em pedaços, nem aniquilada por qualquer número de armas, qualquer que seja o dispositivo científico.

Nem nunca foi possível cortar almas individuais a partir da Alma original. O Mayavadi, entretanto, não pode descrever como a alma individual se desdobrou na ignorância e conseqüentemente ficou coberta pela energia ilusória. Porque são almas atômicas individuais (sanatana) eternamente, são sujeitas a serem cobertas pela energia ilusória, e assim ficam separadas da companhia do Supremo Senhor, da mesma forma como as centelhas do fogo, apesar de qualitativamente iguais ao fogo, são sujeitas à extinção quando fora do fogo. Os seres vivos são descritos no Varaha Purana como partes e parcelas separadas do Supremo. São assim eternamente, de acordo com o Bhagavad-gita também. Logo, mesmo depois de se livrar da ilusão, o ser vivo permanece uma identidade separada, como fica evidente nos ensinamentos do Senhor para Arjuna. Arjuna se tornou liberado pelo conhecimento recebido de Krishna, mas nunca se tornou uno com Krishna.

Verso 24

acchedyo 'yam adahyo 'yam
akledyo 'sosya eva ca
nityah sarva-gatah sthanur
acalo 'yam sanatanah

Tradução

Essa alma individual é indivisível e insolúvel, e não pode ser queimada nem seca. É sempre existente, todo-penetrante, imutável, imóvel e eternamente a mesma.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Todas essas qualificações da alma atômica provam definitivamente que a alma individual é eternamente a partícula atômica do espírito total, e permanece o mesmo átomo eternamente, sem mudança. A teoria do monismo [impersonalismo] é muito difícil de se aplicar nesse caso, porque não se espera que a alma individual se torne una homogeneamente. Depois da liberação da contaminação material, a alma atômica pode preferir permanecer como uma centelha espiritual nos raios brilhantes da Suprema Personalidade de Deus, mas as almas inteligentes entram nos planetas espirituais para se associarem com a Personalidade de Deus.

A palavra sarva-gata ("todo-penetrante") é significativa porque não há dúvida de que os seres vivos estão todos acima da criação de Deus. Eles vivem sobre a terra, na água, no ar, dentro da terra e até mesmo dentro do fogo. A crença de que são esterilizados no fogo não é aceita, porque aqui se afirma claramente que a alma não pode ser queimada pelo fogo. Logo, não há dúvida de que existem seres vivos também no planeta Sol com corpos adequados para viver lá. Se o globo solar não for habitado, então a palavra sarva-gata; "vivem em toda parte"; torna-se sem sentido.

Verso 25

avyakto 'yam acintyo 'yam
avikaryo 'yam ucyate
tasmad evam viditvainam
nanusocitum arhasi

Tradução

É dito que a alma é invisível, inconcebível, imutável e invariável. Ao saber disso, você não deve ficar triste pelo corpo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como foi descrido anteriormente, a magnitude da alma é tão pequena para nosso cálculo material que não pode ser vista nem com o microscópio mais potente; logo, é invisível. No que se refere à existência da alma, ninguém pode estabelecer sua existência experimentalmente além da prova do shruti, ou sabedoria Védica. Temos que aceitar essa verdade, porque não existe outra fonte para a compreensão da existência da alma, apesar de ser realidade pela percepção. Existem muitas coisas que temos de aceitar somente com base na autoridade superior. Ninguém pode negar a existência de seu pai, com base na autoridade da sua mãe. Similarmente, não existe nenhuma fonte para a compreensão da alma exceto o estudo dos Vedas. Em outras palavras, a alma é inconcebível para o conhecimento humano empírico. A alma é consciência e consciente; assim é também a afirmação dos Vedas, e temos que aceitar. Ao contrário das mudanças corpóreas, não existe mudança na alma. Como é invariável eternamente, a alma permanece atômica em relação à Alma Suprema infinita. A Alma Suprema é infinita, e a alma atômica é infinitesimal. Por conseguinte, a alma infinitesimal, por ser invariável, nunca pode ser igual à alma infinita, ou a Suprema Personalidade de Deus. Esse conceito se repete nos Vedas de várias formas justamente para confirmar a estabilidade do conceito da alma. A repetição de algo é necessária a fim de que possamos entender o assunto perfeitamente, sem erro.

Verso 26

atha cainam nitya-jatam
nityam va manyase mrtam
tathapi tvam maha-baho
nainam socitum arhasi

Tradução

Se, entretanto, você acha que a alma nasce perpetuamente e sempre morre, ainda assim, não tem motivo para lamentar, ó possuidor de braços poderosos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existe uma classe de filósofos, quase similar aos budistas, que não acreditam na existência separada da alma além do corpo. Quando o Senhor Krishna falou o Bhagavad-gita, parece que esses filósofos já existiam, e eram conhecidos como lokayatikas e vaibhashikas. Esses filósofos defendem que os sintomas da vida, ou alma, acontecem em certa condição madura de combinação material. Os cientistas materialistas modernos e filósofos materialistas também pensam de forma similar. Segundo eles, o corpo é uma combinação de elementos físicos, e os sintomas da vida se desenvolvem num certo estágio pela interação do corpo físico e elementos químicos. A ciência da Antropologia se baseia nessa filosofia. Atualmente, muitas pseudo-religiões, que agora estão na moda na América, também aderem a essa filosofia, bem como as seitas budistas niilistas não-devocionais.

Mesmo se Arjuna não acreditasse na existência da alma, como na filosofia vaibhashika, não haveria motivo para lamentação. Ninguém lamenta a perda de um monte de substâncias químicas e pára de cumprir seu dever prescrito. Por outro lado, na ciência moderna e guerra científica, muitas toneladas de substâncias químicas são desperdiçadas para conseguir a vitória sobre o inimigo. De acordo com a filosofia vaibhashika, a assim chamada alma ou atma desaparece junto com a deterioração do corpo. Por isso que em qualquer caso, se Arjuna aceitava a conclusão Védica de que existe uma alma atômica, ou se não acreditava na existência da alma, não tinha motivo para lamentar. Segundo essa teoria, como existem tantos seres vivos gerados pela matéria em qualquer momento, e tantos deles desaparecem em qualquer momento, não há motivo para ficar triste por causa desse incidente. Entretanto, como não corria o risco do renascimento da alma, Arjuna não tinha motivo para temer ser afetado pelas reações pecaminosas por matar seu avô e professor. Mas ao mesmo tempo, Krishna chamou Arjuna de maha-bahu, dotado com braços poderosos, com sarcasmo, porque Ele, pelo menos, não aceitava a teoria dos vaibhashikas, que deixa a sabedoria Védica de lado. Como kshatriya, Arjuna pertencia à cultura Védica, e convinha que continuasse a seguir seus princípios.

Verso 27

jatasya hi dhruvo mrtyur
dhruvam janma mrtasya ca
tasmad apariharye 'rthe
na tvam socitum arhasi

Tradução

Para quem nasceu, a morte é certa; e para quem morreu, o nascimento é certo. Portanto, no inevitável cumprimento do seu dever, não deve lamentar.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa tem que nascer conforme as atividades de sua vida. E, depois de terminar seu termo de atividades, tem que morrer para aceitar seu próximo nascimento. Dessa forma, o ciclo de nascimento e morte revolve, um depois do outro sem liberação. Esse ciclo de nascimento e morte, entretanto, não apóia assassinato, matança e guerra desnecessários. Mas ao mesmo tempo, violência e guerra são fatores inevitáveis na sociedade humana para a manutenção da lei e da ordem.

A batalha de Kurukshetra, pela vontade do Senhor, era um evento inevitável, e lutar pela causa justa é o dever de um kshatriya. Por que deveria ele temer ou ficar triste com a morte de seus parentes por cumprir seu próprio dever? Ele não ia infringir a lei, e por isso, ficar sujeito às reações de atos pecaminosos, de que tanto temia. Se evitasse cumprir seu próprio dever, não seria capaz de impedir a morte de seus parentes, e se degradaria por sua escolha de seguir o caminho errado.

Verso 28

avyaktadini bhutani
vyakta-madhyani bharata
avyakta-nidhanany eva
tatra ka paridevana

Tradução

Todos os seres criados são não-manifestos em seu começo, manifestos no estado interino, e não-manifestos novamente quando são aniquilados. Portanto, qual a necessidade de lamentação?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Se aceitarmos que existem duas classes de filósofos, uma que acredita na existência da alma e outra que não acredita na existência da alma, não há motivo para lamentação em nenhum caso. Quem não acredita na existência da alma é chamado de ateísta pelos seguidores da sabedoria Védica. Mesmo assim, para fins de argumentação, se aceitarmos a teoria ateísta, não há motivo para lamentação. À parte da existência separada da alma, os elementos materiais permanecem não-manifestos antes da criação. Desse estado sutil de não-manifestação, vem a manifestação, da mesma forma como do éter, ar é gerado; do ar, fogo é gerado; do fogo, água é gerada; e da água, terra é manifesta. Da terra, muitas variedades de manifestações acontecem. Veja, por exemplo, um grande arranha-céu manifesto da terra. Quando é demolido, a manifestação se torna novamente não-manifesta e permanece como átomos no último estágio. A lei da conservação da energia permanece, mas no curso do tempo, as coisas são manifestas e não-manifestas, essa é a diferença. Então, qual o motivo para lamentação tanto no estágio da manifestação quanto da não-manifestação? Em qualquer caso, mesmo no estágio não-manifesto, as coisas não se perdem. Tanto no começo quanto no fim, todos elementos permanecem não-manifestos, e somente se manifestam no meio, e isso não faz nenhuma diferença material real.

E se aceitarmos a conclusão Védica como afirmado no Bhagavad-gita (antavanta ime dehah) que estes corpos materiais são perecíveis no devido curso do tempo (nityasyoktah saririnah) mas a alma é eterna, então temos de lembrar sempre que o corpo é como uma roupa; logo, por que lamentar a troca de roupa? O corpo material não tem existência efetiva em relação à alma eterna. É algo como um sonho. No sonho, podemos achar que voamos no céu, ou sentamos numa carruagem como um rei, mas quando acordamos, vemos que não estamos nem no céu nem sentados numa carruagem. A sabedoria Védica encoraja a auto-realização com base na inexistência do corpo material. Assim, em qualquer caso, se a pessoa acredita na existência da alma, ou não acredita na existência da alma, não há motivo para lamentação pela perda do corpo.

Verso 29

ascarya-vat pasyati kascid enam
ascarya-vad vadati tathaiva canyah
ascarya-vac cainam anyah srnoti
srutvapy enam veda na caiva kascit

Tradução

Alguns vêem a alma como surpreendente, alguns a descrevem como surpreendente, e alguns ouvem sobre ela como surpreendente, enquanto outros, depois de ouvir sobre ela, não conseguem entendê-la de nenhum jeito.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como o Gitopanishad é amplamente baseado nos Upanishads, não é surpresa encontrarmos esta passagem no Katha Upanishad (1.2.7):

sravanayapi bahubhir yo na labhyah
srnvanto 'pi bahavo yam na vidyuh
ascaryo vakta kusalo 'sya labdha
ascaryo 'sya jnata kusalanusistah

O fato de que a alma está dentro do corpo de um animal gigantesco, no corpo de uma figueira-sagrada gigantesca, e também em germes microscópicos, milhões e bilhões que ocupam um centímetro de espaço, é com certeza muito surpreendente. Pessoas com um pobre fundo de conhecimento e pessoas que não são austeras não podem entender as maravilhas da centelha atômica individual do espírito, mesmo se explicadas pelas maiores autoridades do conhecimento, que dão aulas até mesmo para Brahma, o primeiro ser vivo do universo. Devido ao conceito grosseiro das coisas, a maioria das pessoas desta Era não pode imaginar como uma partícula tão pequena pode se tornar ao mesmo tempo tão grande e tão pequena. Por isso que as pessoas olham para a alma como espantosa, tanto pela constituição quanto pela descrição. Iludidas pela energia material, as pessoas estão tão absortas na matéria da satisfação sensual que têm muito pouco tempo para compreender a questão do auto-entendimento, mesmo que seja um fato, sem esse auto-entendimento todas atividades resultam em derrota final na luta pela existência. Talvez a pessoa não tenha noção de que deve pensar na alma, e assim encontrar a solução para todas misérias materiais.

Algumas pessoas que têm inclinação para ouvir sobre a alma podem assistir a palestras, em boa associação, mas às vezes, devido à ignorância, são desencaminhadas por aceitarem a Superalma e a alma atômica como unas sem distinção de magnitude. É muito difícil encontrar alguém que compreende perfeitamente a posição da alma; a Superalma, a alma atômica, suas funções respectivas, relações e todos os outros detalhes maiores e menores. E é mais difícil ainda encontrar alguém que obteve realmente benefício pleno do conhecimento sobre a alma, e que é capaz de descrever a posição da alma em diferentes aspectos. Mas, de uma forma ou outra, se a pessoa for capaz de entender a matéria da alma, sua vida é bem sucedida. O processo mais fácil para entender a matéria sobre o eu, entretanto, é aceitar as afirmações do Bhagavad-gita faladas pela maior autoridade, o Senhor Krishna, sem ser desorientado por outras teorias. Mas isso também requer uma grande quantidade de penitência e sacrifício, ou nesta vida ou nas vidas prévias, antes que a pessoa seja capaz de aceitar Krishna como a Suprema Personalidade de Deus. Todavia, Krishna pode ser conhecido dessa forma pela misericórdia sem causa do devoto puro e de nenhum outro jeito.

Verso 30

dehi nityam avadhyo 'yam
dehe sarvasya bharata
tasmat sarvani bhutani
na tvam socitum arhasi

Tradução

Ó descendente de Bharata, aquele que mora no corpo é eterno e nunca pode ser morto. Por isso que você não deve se preocupar com nenhuma criatura.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor agora conclui o capítulo com a instrução sobre a alma espiritual imutável. Com a descrição da alma imortal de várias formas, o Senhor Krishna estabelece que a alma é imortal e o corpo é temporário. Logo, Arjuna como kshatriya não devia abandonar seu dever por medo de que seu avô e professor, Bhisma e Drona, morressem na batalha. Com a autoridade de Sri Krishna, deve-se acreditar que existe uma alma diferente do corpo material, e não que não existe algo como a alma, ou que os sintomas vitais se desenvolvem num certo estágio de maturidade material resultante da interação de substâncias químicas. Apesar da alma ser imortal, não se encoraja a violência, mas na hora da guerra, não é desencorajada quando há necessidade real dela. Essa necessidade tem que ser justificada em termos da sanção do Senhor, e não por capricho.

Verso 31

svadharmam api caveksya
na vikampitum arhasi
dharmyad dhi yuddhac chreyo 'nyat
ksatriyasya na vidyate

Tradução

Considere seu dever específico como kshatriya, e saiba que não há ocupação melhor para você do que lutar por princípios religiosos; assim, não há necessidade de hesitação.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Das quatro ordens da administração social, a segunda ordem, para fins de boa administração, chama-se kshatriya. Kshat quer dizer dor. Aquele que dá proteção contra o mal se chama kshatriya (trayate = dar proteção). Os kshatriyas são treinados para matar na floresta. Um kshatriya tem que ir para a floresta e desafiar um tigre cara a cara e lutar com o tigre com sua espada. Quando o tigre é morto, recebe a honra real de ser cremado. Esse sistema é seguido até o presente pelos reis kshatriyas do estado de Jaipur. Os kshatriyas recebem treinamento especial para desafiar e matar porque a violência religiosa é às vezes um fator necessário. Portanto, os kshatriyas não são destinados a aceitar diretamente a ordem de renúncia, sannyasa. Não violência na política pode ser diplomacia, mas nunca é um fator ou princípio. Os livros de leis religiosas afirmam:

ahavesu mitho 'nyonyam
jighamsanto mahiksitah
yuddhamanah param saktya
svargam yanty aparanmukhah

yajnesu pasavo brahman
hanyante satatam dvijaih
samskrtah kila mantrais ca
te 'pi svargam avapnuvan

"No campo de batalha, um rei ou kshatriya, no combate contra outro rei que tem inveja dele, é elegível para alcançar os planetas celestiais depois da morte, do mesmo modo como os brahmanas também alcançam os planetas celestiais com o sacrifício de animais no fogo de sacrifício". Desse modo, matar no campo de batalha sob princípios religiosos e matar animais no fogo de sacrifício não são considerados atos de violência, porque todos recebem o benefício por meio dos princípios religiosos envolvidos. O animal sacrificado recebe um corpo humano imediatamente sem se submeter ao processo evolucionário de uma forma a outra, e os kshatriyas mortos no campo de batalha também alcançam os planetas celestiais assim como os brahmanas que alcançam por oferecerem sacrifício.

Há dois tipos de svadharmas, deveres específicos. Enquanto a pessoa não estiver liberada, tem que executar os deveres de seu corpo específico de acordo com os princípios religiosos a fim de alcançar liberação. Quando a pessoa é liberada, seu svadharma, dever específico, torna-se espiritual e não está no conceito corpóreo material. Há diferentes deveres específicos no conceito de vida corpóreo para brahmanas e kshatriyas respectivamente, e esses deveres são inevitáveis. Svadharma é ordenado pelo Senhor, e isso ficará claro no Quarto Capítulo. No plano corpóreo, svadharma se chama varnashrama-dharma, ou a pedra fundamental para o entendimento espiritual da humanidade. A civilização humana começa no estágio do varnashrama-dharma, ou deveres específicos em termos dos modos específicos da natureza do corpo obtido. Realizar seu dever específico em qualquer campo de ação de acordo com varnashrama-dharma serve para elevar a pessoa a um estágio de vida superior.

Verso 32

yadrcchaya copapannam
svarga-dvaram apavrtam
sukhinah ksatriyah partha
labhante yuddham idrsam

Tradução

Ó Partha, felizes os kshatriyas para quem essas oportunidades de combate surgem sem que procurem, as quais abrem as portas dos planetas celestiais para eles.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como o professor supremo do mundo, o Senhor Krishna condena a atitude de Arjuna que disse: "Não vejo nenhum bem nesse combate. Causará habitação perpétua no inferno". Essas afirmações de Arjuna se devem somente à ignorância. Ele queria se tornar não violento no cumprimento de seu dever específico. Para um kshatriya, estar no campo de batalha e se tornar não violento é filosofia de tolos. O Parashara-smriti, ou leis religiosas feitas por Parashara, o grande sábio e pai de Vyasadeva, afirma:

ksatriyo hi praja raksan
sastra-panih pradandayan
nirjitya parasainyadi
ksitim dharmena palayet

"O dever do kshatriya é proteger os cidadãos de todos tipos de dificuldades, e para isso, tem que aplicar violência em casos apropriados para a lei e a ordem. Dessa forma, tem que conquistar os soldados dos reis inimigos, e assim, com princípios religiosos, deve governar o mundo".

Ao considerar todos aspectos, Arjuna não tinha motivo para evitar o combate. Se conquistasse seus inimigos, desfrutaria o reino; e se morresse em batalha, seria elevado aos planetas celestiais cujas portas estariam escancaradas para ele. O combate seria para seu bem em qualquer caso.

Verso 33

atha cet tvam imam dharmyam
sangramam na karisyasi
tatah svadharmam kirtim ca
hitva papam avapsyasi

Tradução

Porém, se você não lutar nesta guerra religiosa, incorrerá em pecados com certeza por negligenciar seus deveres e assim perderá sua reputação como grande guerreiro.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Arjuna era um guerreiro famoso, e conquistou essa fama por lutar contra grandes semideuses, inclusive até mesmo o Senhor Shiva. Depois de lutar e derrotar o Senhor Shiva disfarçado como caçador, Arjuna satisfez o Senhor e recebeu como recompensa uma arma chamada pashupata-astra. Todos sabiam que ele era um grande guerreiro. Até mesmo Dronacharya lhe deu suas bênçãos e lhe concedeu uma arma especial com a qual poderia matar até mesmo seu professor. Assim, ele tinha o crédito de tantos certificados militares de muitas autoridades, inclusive de seu pai adotado, Indra, o rei celestial. Mas se abandonasse a batalha, ele não apenas negligenciaria seu dever como kshatriya, como perderia toda fama e bom nome, assim prepararia sua estrada real para o inferno. Em outras palavras, ele iria para o inferno, não por lutar, mas por abandonar a batalha.

Verso 34

akirtim capi bhutani
kathayisyanti te 'vyayam
sambhavitasya cakirtir
maranad atiricyate

Tradução

As pessoas sempre falarão sobre sua infâmia, e para quem recebeu honra, desonra é pior do que a morte.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como amigo e filósofo de Arjuna, o Senhor Krishna agora dá seu veredicto final sobre Arjuna se recusar a lutar. O Senhor diz: "Arjuna, se deixar o campo de batalha, as pessoas o chamarão de covarde mesmo com seus combates reais anteriores. E se pensa que as pessoas o chamarão de nomes feios mas que salvará sua vida por fugir do campo de batalha, então Meu conselho é melhor você morrer na batalha. Porque para uma pessoa respeitável como você, a má fama é pior do que a morte. Por isso, você não deve fugir com medo por sua vida; melhor morrer na batalha. Isso o salvará da má fama de abusar da Minha amizade e perder seu prestígio na sociedade".

Assim, o veredicto final do Senhor era para Arjuna morrer na batalha e não se retirar.

Verso 35

bhayad ranad uparatam
mamsyante tvam maha-rathah
yesam ca tvam bahu-mato
bhutva yasyasi laghavam

Tradução

Os grandes generais que têm seu nome e fama em alta estima pensarão que você deixou o campo de batalha somente por medo, e por isso o considerarão um covarde.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor Krishna continuou a dar Seu veredicto a Arjuna: "Não pense que grandes generais como Duryodhana, Karna, e outros contemporâneos pensarão que você deixou o campo de batalha devido à compaixão por seus irmãos e avô. Eles pensarão que você saiu por causa do medo por sua vida. Assim, a alta estima deles por sua personalidade irá para o inferno".

Verso 36

avacya-vadams ca bahun
vadisyanti tavahitah
nindantas tava samarthyam
tato duhkhataram nu kim

Tradução

Seus inimigos descreverão você com muitas palavras grosseiras e zombarão de sua habilidade. O que seria mais penoso para você?

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor Krishna ficou atônito no começo com a não esperada apelação de Arjuna por compaixão, e descreveu sua compaixão como digna de não-arianos. Agora com muitas palavras, Ele provou sua afirmação contra a assim chamada compaixão de Arjuna.

Verso 37

hato va prapsyasi svargam
jitva va bhoksyase mahim
tasmad uttistha kaunteya
yuddhaya krta-niscayah

Tradução

Ó filho de Kunti, ou você morre no campo de batalha e alcança os planetas celestiais, ou você vence e desfruta o reino terrestre. Portanto, levante-se e lute com determinação.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Mesmo se não houvesse certeza de vitória para o lado de Arjuna, ainda assim teria que lutar; porque mesmo se fosse morto, seria elevado aos planetas celestiais.

Verso 38

sukha-duhkhe same krtva
labhalabhau jayajayau
tato yuddhaya yujyasva
naivam papam avapsyasi

Tradução

Lute com o objetivo de lutar, sem considerar felicidade ou tristeza, perda ou ganho, vitória ou derrota, e, assim, nunca incorrerá em pecado.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor Krishna diz diretamente agora que Arjuna deve lutar com o objetivo de lutar porque Ele deseja a batalha. Não existe consideração de felicidade ou tristeza, lucro ou ganho, vitória ou derrota nas atividades da Consciência de Krishna. Que tudo deve ser realizado para o propósito de Krishna é consciência transcendental; assim não há reação de atividades materiais. Quem age para sua própria satisfação sensual, tanto em bondade quanto em paixão, está sujeito a reação, boa ou má. Mas quem se rendeu plenamente às atividades da Consciência de Krishna não tem mais obrigação com ninguém, nem deve nada a ninguém, como no curso ordinário das atividades. É dito:

devarsi-bhutapta-nrnam pitrnam
na kinkaro nayam rni ca rajan
sarvatmana yah saranam saranyam
gato mukundam parihrtya kartam

"Qualquer um que se rendeu plenamente a Krishna, Mukunda, e abandonou todos os outros deveres, não é mais devedor, nem tem mais obrigação com ninguém, nem com os semideuses, nem com os sábios, nem com as pessoas em geral, nem com os familiares, nem com a humanidade, nem com os antepassados" (Bhag. 11.5.41). Essa é a sugestão indireta que Krishna dá para Arjuna neste verso, e a matéria será explicada com mais clareza nos versos seguintes.

Verso 39

esa te 'bhihita sankhye
buddhir yoge tv imam srnu
buddhya yukto yaya partha
karma-bandham prahasyasi

Tradução

Eu descrevi para você até aqui o conhecimento analítico da filosofia sankhya. Agora ouça o conhecimento do yoga no qual a pessoa trabalha sem resultado lucrativo. Ó filho de Pritha, quando você age com essa inteligência, pode se livrar do cativeiro do trabalho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Segundo o Nirukti, ou dicionário Védico, sankhya significa aquilo que descreve o fenômeno em detalhe, e sankhya se refere à filosofia que descreve a verdadeira natureza da alma. E yoga envolve o controle dos sentidos. A proposta de Arjuna para não lutar tinha como base a satisfação sensual. Esquecido de seu dever principal, ele queria evitar a luta porque pensou que se não matasse seus parentes e familiares seria mais feliz do que desfrutar um reino com a conquista de seus primos e irmãos, os filhos de Dhritarastra. Nos dois caminhos, os princípios básicos eram para satisfação sensual. Felicidade da conquista e felicidade derivada de ver seus familiares vivos são ambas com base na satisfação sensual pessoal, pois há um sacrifício da sabedoria e do dever. Por isso, Krishna queria explicar a Arjuna que matar o corpo de seu avô não significava matar a alma, e Ele explicou que todas as pessoas individuais, inclusive o próprio Senhor, são indivíduos eternos; eram indivíduos no passado, são indivíduos no presente, e continuarão a permanecerem indivíduos no futuro, porque todos nós somos almas individuais eternamente, e apenas mudamos a vestimenta corpórea de maneiras diferentes. O Senhor Krishna explicou de forma bem ilustrada um estudo analítico sobre a alma e o corpo. E esse conhecimento descritivo da alma e do corpo sob diferentes ângulos de visão é descrito aqui como sankhya, em termos do dicionário Nirukti. Esta sankhya não tem nada a ver com a filosofia sankhya do ateísta Kapila. Muito antes da sankhya do impostor Kapila, a filosofia sankhya foi exposta no Srimad Bhagavatam pelo verdadeiro Senhor Kapila, a encarnação do Senhor Krishna, que a explicou à Sua mãe, Devahuti. Ele explicou claramente que purusha, ou o Supremo Senhor, é ativo e que Ele cria por meio de Seu olhar sobre a prakriti. Isso é aceito pelos Vedas e pelo Gita. A descrição nos Vedas indica que o Senhor lança Seu olhar sobre a prakriti, ou natureza, e a impregna com almas individuais atômicas. Todos esses indivíduos trabalham no mundo material pela satisfação sensual, e sob o encanto da energia material, pensam que são os desfrutadores. Essa mentalidade se arrasta até o último ponto da liberação quando o ser vivo quer se tornar uno com o Senhor. Essa é a última armadilha de maya, ou ilusão da satisfação sensual, e somente depois de muitos e muitos nascimentos com tais atividades de desfrute sensual que uma grande alma se rende a Vasudeva, o Senhor Krishna, e desse modo satisfaz a procura pela verdade suprema.

Arjuna já tinha aceitado Krishna como seu mestre espiritual ao se render a Ele: sisyas te 'ham sadhi mam tvam prapannam. Por conseguinte, Krishna agora vai lhe falar sobre o processo de trabalho em buddhi-yoga, ou karma-yoga, ou em outras palavras, a prática do serviço devocional exclusivamente para a satisfação dos sentidos do Senhor. Esse buddhi-yoga é claramente explicado no Capítulo Dez, verso dez, como uma comunhão direta com o Senhor, que está situado como Paramatma no coração de todos. Mas essa comunhão não acontece sem serviço devocional. Logo, aquele que está situado em serviço amoroso devocional ou transcendental ao Senhor, ou, em outras palavras, em Consciência de Krishna, alcança esse estado de buddhi-yoga pela graça especial do Senhor. O Senhor diz, portanto, que somente aqueles que estão sempre dedicados ao serviço devocional com amor transcendental que Ele concede o conhecimento puro da devoção com amor. Dessa forma, o devoto pode alcançá-Lo facilmente no sempre bem-aventurado reino de Deus.

Assim, buddhi-yoga mencionado neste verso é o serviço devocional ao Senhor, e a palavra sankhya mencionada aqui não tem nada a ver com o sankhya-yoga ateísta enunciado pelo Kapila impostor. Portanto, não se deve confundir que o sankhya-yoga mencionado aqui tenha alguma conexão com o sankhya ateísta. Nem que essa filosofia tivesse alguma influência naquela época; nem que o Senhor Krishna se preocuparia em mencionar tais especulações filosóficas atéias. A verdadeira filosofia sankhya é descrita pelo Senhor Kapila no Srimad Bhagavatam, mas mesmo essa filosofia sankhya não tem nada a ver com estes tópicos. Aqui, sankhya quer dizer descrição analítica do corpo e da alma. O Senhor Krishna fez uma descrição analítica da alma apenas para trazer Arjuna ao ponto de buddhi-yoga, ou bhakti-yoga. Portanto, a sankhya do Senhor Krishna e a sankhya do Senhor Kapila, como descrita no Bhagavatam, são iguais e a mesma. Todas são bhakti-yoga. Por isso, Ele diz que somente a classe de pessoas menos inteligentes fazem distinção entre sankhya-yoga e bhakti-yoga.

Claro que o sankhya-yoga ateísta não tem nada a ver com bhakti-yoga, mesmo assim, pessoas não inteligentes alegam que o sankhya-yoga ateísta é mencionado no Bhagavad-gita.

Por conseguinte, deve-se entender que buddhi-yoga significa trabalhar em Consciência de Krishna, em bem-aventurança e conhecimento plenos do serviço devocional. A pessoa que trabalha para a satisfação do Senhor somente, por mais difícil que esse trabalho possa ser, trabalha sob os princípios de buddhi-yoga e sempre se situa em bem-aventurança transcendental. Com essa dedicação transcendental, a pessoa alcança todas qualidades transcendentais automaticamente, pela graça do Senhor, e assim sua liberação é completa em si mesma, sem precisar fazer esforços extrínsecos para obter conhecimento. Existe uma grande diferença entre trabalho em Consciência de Krishna e trabalho para resultados lucrativos, especialmente no caso da satisfação sensual para alcançar resultados em termos de família ou felicidade material. Buddhi-yoga é portanto a qualidade transcendental do trabalho que realizamos.

Verso 40

nehabhikrama-naso 'sti
pratyavayo na vidyate
svalpam apy asya dharmasya
trayate mahato bhayat

Tradução

Nesse empenho, não existe perda ou diminuição, e um pequeno avanço nesse caminho pode proteger a pessoa do mais perigoso tipo de medo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Atividade em Consciência de Krishna, ou agir para o benefício de Krishna sem expectativa de satisfação sensual, é a qualidade mais transcendental do trabalho. Mesmo um pequeno começo nessa atividade não encontra nenhum impedimento, nem esse pequeno começo pode se perder em qualquer estágio. Qualquer trabalho começado no plano material tem que ser completado, senão toda a tentativa será um fracasso. Mas qualquer trabalho começado em Consciência de Krishna tem um efeito permanente, mesmo se não acabado. O realizador desse trabalho portanto não perde nada mesmo se seu trabalho em Consciência de Krishna estiver incompleto. Um por cento feito em Consciência de Krishna produz resultados permanentes, assim o próximo começará a partir de dois por cento; enquanto na atividade material, se não houver cem por cento de sucesso, não há lucro. Ajamila realizou seu dever com alguma porcentagem de Consciência de Krishna, mas o resultado que aproveitou no fim foi de cem por cento, pela graça do Senhor. Há um belo verso a esse respeito no Srimad Bhagavatam (1.5.17):

tyaktva sva-dharmam caranambujam harer
bhajann apakvo 'tha patet tato yadi
yatra kva vabhadram abhud amusya kim
ko vartha apto 'bhajatam sva-dharmatah

"Se uma pessoa abandona as perseguições por satisfação sensual e trabalha em Consciência de Krishna, e então cai por não ter completado seu trabalho, que perda terá? E, o que pode ganhar a pessoa que realiza suas atividades materiais perfeitamente"? Ou, como os Cristãos dizem: "Qual o lucro da pessoa que ganha o mundo inteiro mas perde sua alma eterna"?

Atividades materiais e seus resultados terminam com o corpo. Mas o trabalho em Consciência de Krishna leva a pessoa novamente para a Consciência de Krishna, mesmo depois da perda do corpo. Pelo menos, a pessoa tem a certeza de obter uma chance na próxima vida de nascer novamente como ser humano, ou na família de um grande brahmana culto ou numa família aristocrática rica, que lhe dará uma nova chance para a elevação. Assim é a qualidade única do trabalho feito em Consciência de Krishna.

Verso 41

vyavasayatmika buddhir
ekeha kuru-nandana
bahu-sakha hy anantas ca
buddhayo 'vyavasayinam

Tradução

Aqueles que estão nesse caminho são resolutos em propósito, e seu objetivo é um. Ó querido filho dos Kurus, a inteligência daqueles que são irresolutos é muito ramificada.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A forte fé em Consciência de Krishna de que a pessoa será elevada à perfeição mais elevada da vida se chama inteligência vyavasayatmika. O Sri Chaitanya Charitamrita (Madhya 22.62) afirma:

'sraddha'-sabde visvasa kahe sudrdha niscaya
krsne bhakti kaile sarva-karma krta haya

Fé significa confiança inabalável em algo sublime. Quando a pessoa está dedicada aos deveres da Consciência de Krishna, não precisa agir em relação ao mundo material com obrigações para as tradições familiares, humanidade ou nacionalidade. Atividades lucrativas são ocupações das reações da pessoa relativas a feitos passados bons ou maus. Quando a pessoa desperta em Consciência de Krishna, não precisa mais se esforçar por bons resultados em suas atividades. Quando a pessoa está situada em Consciência de Krishna, todas suas atividades estão no plano absoluto, porque não estão mais sujeitas a dualidades como bem e mal. A perfeição máxima da Consciência de Krishna é a renúncia ao conceito de vida material. Alcança-se esse estado automaticamente pela Consciência de Krishna progressiva. O propósito resoluto de uma pessoa em Consciência de Krishna se baseia em conhecimento, vasudevah sarvam iti sa mahatma su-durlabhah, com o qual a pessoa vem a saber perfeitamente que Vasudeva, ou Krishna, é a raiz de todas causas manifestas. Do mesmo modo com a água na raiz de uma árvore é distribuída automaticamente para as folhas e ramos, na Consciência de Krishna, a pessoa pode prestar o serviço mais elevado a todos, a saber, família, sociedade, país, humanidade, e assim por diante. Se Krishna ficar satisfeito com as atividades da pessoa, então todos ficarão satisfeitos.

O serviço em Consciência de Krishna entretanto é mais bem praticado sob a guia capaz de um mestre espiritual que é um representante fidedigno de Krishna, que conhece a natureza do aluno e que pode guiá-lo para agir em Consciência de Krishna. Logo, para ser bem versado em Consciência de Krishna, a pessoa tem que agir firmemente e obedecer ao representante de Krishna, e a pessoa deve aceitar a instrução do mestre espiritual fidedigno como a missão de sua vida. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura nos instrui, em suas famosas preces para o mestre espiritual, como se segue:

yasya prasadad bhagavat-prasado
yasyaprasadan na gatih kuto 'pi
dhyayan stuvams tasya yasas tri-sandhyam
vande guroh sri-caranaravindam

"Pela satisfação do mestre espiritual, a Suprema Personalidade de Deus fica satisfeita. E sem a satisfação do mestre espiritual, não há chance de ser promovido ao plano da Consciência de Krishna. Portanto, devo meditar e orar pela misericórdia dele três vezes por dia, e prestar minhas respeitosas reverências a ele, meu mestre espiritual".

O processo inteiro, entretanto, depende do conhecimento perfeito da alma além do conceito do corpo, não teoricamente mas praticamente, quando não há mais chance de satisfação sensual manifesta em atividades lucrativas. A pessoa que não tem a mente firmemente fixa é distraída por vários tipos de atividades lucrativas.

Versos 42-43

yam imam puspitam vacam
pravadanty avipascitah
veda-vada-ratah partha
nanyad astiti vadinah

kamatmanah svarga-para
janma-karma-phala-pradam
kriya-visesa-bahulam
bhogaisvarya-gatim prati

Tradução

Pessoas com pouco conhecimento sentem muita atração pelas palavras floreadas dos Vedas, que recomendam vários tipos de atividades lucrativas para a elevação a planetas celestiais, que resultam em bom nascimento, poder, e assim por diante. Com muito desejo por desfrute sensual e vida opulenta, elas dizem que não existe nada mais além disso.

Iluminação de Srila Prabhupada:

As pessoas em geral não são muito inteligentes, e por causa de sua ignorância, são extremamente apegadas a atividades lucrativas recomendadas nas partes karma-kanda dos Vedas. Elas não querem nada mais além das propostas por satisfação sensual para desfrute no céu, onde mulheres e vinho estão disponíveis, e a opulência material é muito comum. Os Vedas recomendam muitos sacrifícios para a elevação aos planetas celestiais, especialmente os sacrifícios jyotistoma. De fato, afirmam que qualquer pessoa desejosa de se elevar aos planetas celestiais precisa realizar esses sacrifícios, e pessoas com pouco conhecimento pensam que esse é todo o propósito da sabedoria Védica. É muito difícil para essas pessoas inexperientes se situarem numa determinada ação em Consciência de Krishna. Da mesma forma como tolos se atraem pelas flores de árvores venenosas sem saber os resultados de tais atrações, similarmente, pessoas pouco esclarecidas ficam atraídas a essa opulência celestial e satisfação sensual conseqüente.

A seção karma-kanda dos Vedas diz que quem realiza as quatro penitências mensais se torna elegível para beber a bebida somarasa a fim de se tornar forte e apta para desfrutar os prazeres sensuais. Essas pessoas não têm fé na liberação do cativeiro material, e têm muita atração pelas cerimônias pomposas dos sacrifícios Védicos. São geralmente sensuais, e não desejam nada além da vida de prazeres celestiais. Sabe-se que existem jardins chamados nandana-kanana nos quais há boa oportunidade para a companhia de belas mulheres angelicais e com um suprimento profuso de vinho somarasa. Essa felicidade corpórea é certamente sensual; por isso que existem pessoas que são puramente atraídas à felicidade material temporária, como senhores do mundo material.

Verso 44

bhogaisvarya-prasaktanam
tayapahrta-cetasam
vyavasayatmika buddhih
samadhau na vidhiyate

Tradução

Nas mentes das pessoas que são muito apegadas a desfrute sensual e opulência material, e que estão confusas por tais coisas, a determinação resoluta para o serviço devocional ao Supremo Senhor não acontece.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Samadhi significa "mente fixa". O dicionário Védico, Nirukti, afirma, samyag adhiyate 'sminn atma-tattva-yathatmyam: "Quando a mente está fixa no entendimento do eu, isso se chama samadhi". Samadhi nunca é possível para pessoas interessadas em desfrute sensual, nem para quem está confuso por tais coisas temporárias. Elas estão mais ou menos condenadas pelo processo da energia material.

Verso 45

trai-gunya-visaya veda
nistrai-gunyo bhavarjuna
nirdvandvo nitya-sattva-stho
niryoga-ksema atmavan

Tradução

Os Vedas tratam principalmente da matéria dos três modos da natureza material. Eleve-se acima desses modos, ó Arjuna. Seja transcendental a eles. Livre-se de todas dualidades e todas ansiedades por ganho e segurança, e se estabeleça no eu.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Todas atividades materiais envolvem ações e reações nos três modos da natureza material. Elas se destinam a resultados lucrativos, que causam cativeiro no mundo material. Os Vedas se destinam a atividades lucrativas a fim de elevar o público em geral gradualmente do campo do prazer sensual para uma posição no plano transcendental. Arjuna, como aluno e amigo do Senhor Krishna, recebe o conselho para se elevar à posição transcendental da filosofia Vedanta; no começo, há brahma-jijñasa, ou questões sobre a transcendência suprema. Todos os seres vivos que estão no mundo material lutam muito arduamente pela existência. Para eles, o Senhor, depois da criação do mundo material, deu a sabedoria Védica com conselhos sobre como viver e se livrar do enredamento material. Quando as atividades para o desfrute sensual, chamado capítulo karma-kanda, terminam, aí a chance para a realização espiritual é oferecida na forma dos Upanishads, que fazem parte de diferentes Vedas, como o Bhagavad-gita faz parte do quinto Veda, chamado Mahabharata. Os Upanishads marcam o começo da vida transcendental.

Enquanto o corpo material existir, existem ações e reações nos modos materiais. A pessoa tem que aprender a tolerar as dualidades de felicidade e tristeza, ou frio e calor, e com a tolerância dessas dualidades, torna-se livre das ansiedades relativas a ganho e perda. Essa posição transcendental se alcança com a Consciência de Krishna plena quando a pessoa fica completamente dependente da boa vontade de Krishna.

Verso 46

yavan artha udapane
sarvatah samplutodake
tavan sarvesu vedesu
brahmanasya vijanatah

Tradução

Todos os propósitos satisfeitos por uma pequena lagoa podem ser satisfeitos de imediato por grandes reservatórios de água. Similarmente, todos os propósitos dos Vedas podem ser satisfeitos pela pessoa que conhece o propósito por trás deles.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os rituais e sacrifícios mencionados na divisão karma-kanda da literatura Védica são para encorajar a auto-realização gradual. E o propósito da auto-realização é claramente afirmado no Capítulo Quinze do Bhagavad-gita (15.15): O propósito de estudar os Vedas é conhecer o Senhor Krishna, a causa primordial de tudo. Logo, auto-realização significa compreender Krishna e sua relação eterna com Ele. A relação dos seres vivos com Krishna também é mencionada no Capítulo Quinze do Bhagavad-gita (15.7). Os seres vivos são partes e parcelas de Krishna; portanto, o restabelecimento da Consciência de Krishna pelo ser vivo individual é o estágio de perfeição mais elevado do conhecimento Védico. O Srimad Bhagavatam (3.33.7) confirma, como se segue:

aho bata svapaco 'to gariyan
yaj-jihvagre vartate nama tubhyam
tepus tapas te juhuvuh sasnur arya
brahmanucur nama grnanti ye te

"Ó meu Senhor, a pessoa que canta Seu santo nome, mesmo se nasceu numa família inferior como um chandala (comedor de cachorro), está situada na plataforma mais elevada da auto-realização. Essa pessoa deve ter realizado todos tipos de penitências e sacrifícios de acordo com os rituais Védicos e estudado as muitas literaturas Védicas, muitas e muitas vezes depois de se banhar em todos locais sagrados de peregrinação. Tal pessoa é considerada a melhor da família ariana".

Assim, a pessoa tem que ser inteligente o suficiente para entender o propósito dos Vedas, sem ficar atraída apenas pelos rituais, e precisa não desejar ser elevada aos reinos celestiais por uma melhor qualidade de desfrute sensual. Não é possível para as pessoas comuns desta Era seguirem todas regras e regulamentos dos rituais Védicos e as leis do Vedanta e dos Upanishads. Isso requer muito tempo, energia, conhecimento e recursos para a realização dos propósitos dos Vedas. Isso é dificilmente possível nesta Era. O melhor propósito da cultura Védica é satisfeito, entretanto, por meio do cantar do santo nome do Senhor, como recomendado pelo Senhor Chaitanya, o salvador das almas caídas. Quando o Senhor Chaitanya foi questionado por um grande erudito Védico, Prakashananda Sarasvati, por que Ele, o Senhor, cantava o santo nome do Senhor como um sentimentalista em vez de estudar a filosofia Vedanta, o Senhor respondeu que Seu mestre espiritual achava que Ele era um grande tolo e pediu-Lhe para cantar o santo nome do Senhor Krishna. Ele assim fez, e entrou em êxtase como um louco. Nesta Era de Kali, a maioria da população é tola e não tem educação adequada para entender a filosofia Vedanta; o melhor propósito da filosofia Vedanta é satisfeito pelo cantar sem ofensas do santo nome do Senhor. Vedanta é a última palavra em conhecimento Védico, e o autor e conhecedor da filosofia Vedanta é o Senhor Krishna; e o melhor Vedantista é a grande alma que sente prazer em cantar o santo nome do Senhor. Esse é o propósito último de todo o misticismo Védico.

Verso 47

karmany evadhikaras te
ma phalesu kadacana
ma karma-phala-hetur bhur
ma te sango 'stv akarmani

Tradução

Você tem direito de realizar seu dever prescrito, mas não tem autoridade sobre os frutos da ação. Nunca se considere a causa dos resultados de suas atividades, e nunca fique apegado a não cumprir seu dever.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Há três considerações aqui: Deveres prescritos, trabalho caprichoso, e inação. Deveres prescritos se referem a atividades realizadas enquanto a pessoa estiver nos modos da natureza material. Trabalho caprichoso significa ações sem a sanção da autoridade, e inação significa a não realização dos seus deveres prescritos. O Senhor aconselha Arjuna a não ser inativo, mas que realize seu dever prescrito sem ficar apegado ao resultado. A pessoa apegada ao resultado de seu trabalho também é a causa da ação. Por isso que será a desfrutadora ou sofredora do resultado dessas ações.

No que diz respeito a deveres prescritos, podem ser classificados em três subdivisões, chamadas trabalho de rotina, trabalho de emergência e atividades desejáveis. Trabalho de rotina, em termos das leis das escrituras, é feito sem desejar os resultados. Como a pessoa tem que fazê-lo, trabalho obrigatório está no modo da bondade. Trabalho com resultados se torna a causa do cativeiro; por isso que esse trabalho não é auspicioso. Todos têm seus direitos de propriedade em relação aos deveres prescritos, mas devem agir sem apego ao resultado; esses deveres obrigatórios desinteressados conduzem sem dúvida ao caminho da liberação.

Assim, Arjuna recebeu o conselho do Senhor para lutar como dever sem apego ao resultado. Sua não participação na batalha é outro lado do apego. Esse apego nunca conduz a pessoa ao caminho da salvação. Qualquer apego, positivo ou negativo, é causa de cativeiro. Inação é pecaminosa. Portanto, lutar como dever era o único caminho auspicioso de salvação para Arjuna.

Verso 48

yoga-sthah kuru karmani
sangam tyaktva dhananjaya
siddhy-asiddhyoh samo bhutva
samatvam yoga ucyate

Tradução

Seja fixo em yoga, ó Arjuna. Execute seu dever e abandone todo apego por sucesso e fracasso. Esse equilíbrio da mente se chama yoga.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Krishna diz para Arjuna que deve agir em yoga. E o que é esse yoga? Yoga significa concentrar a mente no Supremo por meio do controle dos sentidos sempre perturbados. E o que é o Supremo? O Supremo é o Senhor. E porque Ele mesmo diz pessoalmente para Arjuna lutar, Arjuna não tem nada a ver com os resultados da luta. Ganho ou vitória dizem respeito a Krishna; Arjuna é simplesmente aconselhado a agir de acordo com a ordem de Krishna. Seguir a ordem de Krishna é o verdadeiro yoga, e é praticado por meio do processo chamado Consciência de Krishna. Somente pela Consciência de Krishna que a pessoa pode abandonar o senso de propriedade. A pessoa tem que se tornar serva de Krishna, ou serva do servo de Krishna. Esse é o caminho certo para realizar o dever em Consciência de Krishna, que é a única forma de ajudar a pessoa a agir em yoga.

Arjuna é um kshatriya, e por isso tem que participar da instituição varnashrama-dharma. O Vishnu Purana afirma que no varnashrama-dharma, todo o objetivo é satisfazer Vishnu. Ninguém deve se satisfazer, como é a regra no mundo material, mas deve satisfazer Krishna. Assim, a menos que pessoa satisfaça Krishna, não poderá observar corretamente os princípios do varnashrama-dharma. Indiretamente, Arjuna recebeu o conselho para agir como Krishna lhe disse.

Verso 49

durena hy avaram karma
buddhi-yogad dhananjaya
buddhau saranam anviccha
krpanah phala-hetavah

Tradução

Ó Dhananjaya, livre-se de todas atividades lucrativas por meio do serviço devocional, e se renda plenamente à essa consciência. Aqueles que desejam aproveitar os frutos de seu trabalho são miseráveis.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa que realmente vem a conhecer sua posição constitucional como servidor eterno do Senhor, abandona todos afazeres exceto o trabalho em Consciência de Krishna. Como já foi explicado, buddhi-yoga significa serviço amoroso transcendental ao Senhor. Esse serviço devocional é o curso correto de ação para o ser vivo. Só os miseráveis desejam aproveitar o fruto de seu próprio trabalho, apenas para ficarem mais enredados no cativeiro material. Exceto o trabalho em Consciência de Krishna, todas atividades são abomináveis porque prendem o trabalhador continuamente ao ciclo de nascimento e morte. A pessoa portanto nunca deve desejar ser a causa do trabalho. Tudo deve ser feito em Consciência de Krishna, para a satisfação de Krishna. Miseráveis não sabem como utilizar os recursos das riquezas que adquirem pela boa fortuna ou pelo trabalho árduo. A pessoa deve gastar todas energias no trabalho em Consciência de Krishna, e isso fará sua vida bem sucedida. Do mesmo modo como os miseráveis, pessoas desafortunadas não empregam sua energia humana no serviço ao Senhor.

Verso 50

buddhi-yukto jahatiha
ubhe sukrta-duskrte
tasmad yogaya yujyasva
yogah karmasu kausalam

Tradução

A pessoa dedicada ao serviço devocional se livra tanto das boas quanto das más ações mesmo nesta vida. Por isso, empenhe-se por yoga, ó Arjuna, que é a arte de todo trabalho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Desde tempos imemoráveis cada ser vivo acumulou as várias reações de seu trabalho bom e mau. Assim, ele é continuamente ignorante sobre sua posição constitucional real. A ignorância da pessoa pode ser removida com a instrução do Bhagavad-gita que ensina a pessoa a se render ao Senhor Sri Krishna em todos aspectos e se tornar liberada de ser vítima da cadeia de ação e reação, nascimento após nascimento. Arjuna portanto recebe o conselho para agir em Consciência de Krishna, o processo purificatório da ação resultante.

Verso 51

karma-jam buddhi-yukta hi
phalam tyaktva manisinah
janma-bandha-vinirmuktah
padam gacchanty anamayam

Tradução

As pessoas sábias, dedicadas ao serviço devocional, refugiam-se no Senhor, e se livram do ciclo de nascimento e morte por meio da renúncia aos frutos da ação no mundo material. Dessa forma, alcançam o estado além de todas misérias.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os seres vivos liberados procuram esse lugar onde não existem misérias materiais. O Srimad Bhagavatam (10.14.58) afirma:

samasrita ye pada-pallava-plavam
mahat-padam punya-yaso murareh
bhavambudhir vatsa-padam param padam
padam padam yad vipadam na tesam

"Para a pessoa que aceitou os pés de lótus do Senhor, que é o abrigo da manifestação cósmica e é famoso como Mukunda, ou aquele que dá mukti [liberação], o oceano do mundo material é como a água contida dentro de uma pegada de bezerro. Param padam, ou o lugar onde não existem misérias materiais, ou Vaikuntha, é o objetivo, não o lugar onde há perigo a cada passo da vida".

Devido à ignorância, a pessoa não sabe que este mundo material é um lugar miserável onde existe perigo a cada passo. Somente por causa da ignorância, pessoas menos inteligentes tentar ajustar a situação com atividades lucrativas, por acharem que as ações resultantes as farão felizes. Elas não sabem que nenhum tipo de corpo material em qualquer parte dentro do universo pode dar vida sem misérias. As misérias da vida, a saber, nascimento, morte, velhice e doenças, estão presentes em toda parte dentro do mundo material. Mas a pessoa que compreende sua posição constitucional real como servidora eterna do Senhor, e assim conhece a posição da Personalidade de Deus, dedica-se ao serviço amoroso transcendental ao Senhor. Por conseguinte, torna-se qualificada para entrar nos planetas Vaikuntha, onde não existe nem vida miserável material, nem a influência do tempo e da morte. Conhecer a própria posição constitucional significa conhecer também a posição sublime do Senhor. A pessoa que pensa erroneamente que a posição do ser vivo e a posição do Senhor estão no mesmo nível está com certeza na escuridão e por isso não tem capacidade para se dedicar ao serviço devocional ao Senhor. Ela se torna um senhor de si mesma e assim pavimenta o caminho para a repetição de nascimento e morte. A pessoa, depois de compreender que sua posição é servir, que se transfere para o serviço ao Senhor, torna-se de imediato elegível para Vaikunthaloka. Serviço para a causa do Senhor se chama karma-yoga ou buddhi-yoga, ou em palavras claras, serviço devocional ao Senhor.

Verso 52

yada te moha-kalilam
buddhir vyatitarisyati
tada gantasi nirvedam
srotavyasya srutasya ca

Tradução

Quando sua inteligência atravessar a densa floresta da desilusão, ficará indiferente a tudo que foi ouvido e tudo que há para ser ouvido.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Há muitos bons exemplos de vidas de grandes devotos do Senhor que se tornaram indiferentes aos rituais dos Vedas simplesmente por meio do serviço devocional ao Senhor. Quando a pessoa entende realmente Krishna e sua relação com Krishna, naturalmente se torna plenamente indiferente aos rituais das atividades lucrativas, mesmo um brahmana experiente. Sri Madhavendra Puri, um grande devoto e acharya na linha dos devotos, afirma:

sandhya-vandana bhadram astu bhavato bhoh snana tubhyam namo
bho devah pitaras ca tarpana-vidhau naham ksamah ksamyatam
yatra kvapi nisadya yadava-kulottamasya kamsa-dvisah
smaram smaram agham harami tad alam manye kim anyena me

"Ó Senhor, em minhas preces três vezes por dia, toda glória a Você. No banho, ofereço minhas reverências a Você. Ó semideuses! Ó antepassados! Por favor, desculpem-me por minha incapacidade em oferecer meus respeitos a vocês. Agora, em qualquer lugar que sento, posso lembrar o grande descendente da dinastia Yadu (Krishna), o inimigo de Kamsa, e desse modo, posso me livrar de todo cativeiro pecaminoso. Acho que isso é suficiente para mim".

Os ritos e rituais Védicos são imperativos para neófitos: Compreendem todos tipos de preces três vezes por dia, tomar banho de manhã cedo, oferecer respeitos aos antepassados, etc.. Mas, quando a pessoa está plenamente em Consciência de Krishna e está dedicada a Seu serviço amoroso transcendental, fica indiferente a todos esses princípios reguladores porque já alcançou a perfeição. Se a pessoa pode alcançar a plataforma de compreensão por meio do serviço ao Supremo Senhor Krishna, não precisa mais realizar diferentes tipos de penitências e sacrifícios como recomendado nas escrituras reveladas. E, similarmente, se a pessoa não entendeu que o propósito dos Vedas é alcançar Krishna e simplesmente se dedica a rituais, etc., apenas desperdiça seu tempo inutilmente nesses compromissos. As pessoas em Consciência de Krishna transcendem o limite de shabda-brahma, ou o alcance dos Vedas e Upanishads.

Verso 53

sruti-vipratipanna te
yada sthasyati niscala
samadhav acala buddhis
tada yogam avapsyasi

Tradução

Quando sua mente não estiver mais perturbada pela linguagem floreada dos Vedas, e quando ela estiver fixa no transe da auto-realização, então você alcançou a consciência divina.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Dizer que alguém está em samadhi quer dizer que realizou plenamente a Consciência de Krishna; ou seja, a pessoa em samadhi pleno realizou Brahman, Paramatma e Bhagavan. A perfeição mais elevada da auto-realização é compreender que é eternamente um servidor de Krishna e que seu único trabalho é cumprir seus deveres em Consciência de Krishna. Uma pessoa consciente de Krishna, ou um devoto resoluto do Senhor, não deve ficar perturbado pela linguagem floreada dos Vedas nem se dedicar a atividades lucrativas para promoção ao reino celestial. Em Consciência de Krishna, a pessoa chega diretamente à comunhão com Krishna, e assim todas orientações de Krishna devem ser entendidas nesse estado transcendental. É certeza que a pessoa consegue os resultados com essas atividades e alcança o conhecimento conclusivo. A pessoa tem apenas que obedecer às ordens de Krishna ou de Seu representante, o mestre espiritual.

Verso 54

arjuna uvaca
sthita-prajnasya ka bhasa
samadhi-sthasya kesava
sthita-dhih kim prabhaseta
kim asita vrajeta kim

Tradução

Arjuna disse: Ó Krishna, quais são os sintomas da pessoa cuja consciência se absorveu assim na transcendência? Como ela fala, e qual é sua linguagem? Como ela se senta, e como ela caminha?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Da mesma forma como há sintomas para cada e toda pessoa, em termos de sua situação particular, similarmente, a pessoa que é consciente de Krishna tem sua natureza particular; falar, andar, pensar, sentir, etc.. Como uma pessoa rica tem seus sintomas com os quais é reconhecida como uma pessoa rica, como uma pessoa doente tem seus sintomas, com os quais se sabe que é doente, ou como uma pessoa sábia tem seus sintomas, da mesma forma a pessoa em consciência de Krishna transcendental tem sintomas específicos em vários procedimentos. Podemos saber seus sintomas específicos por meio do Bhagavad-gita. O mais importante é como a pessoa em Consciência de Krishna fala, pois a fala é a qualidade mais importante de uma pessoa. É dito que um tolo é desvendado logo que começa a falar, ele se revela imediatamente. O sintoma imediato da pessoa consciente de Krishna é que ela fala só sobre Krishna ou sobre assuntos em relação a Ele. Os outros sintomas seguem automaticamente, como afirmado em seguida.

Verso 55

sri bhagavan uvaca
prajahati yada kaman
sarvan partha mano-gatan
atmany evatmana tustah
sthita-prajnas tadocyate

Tradução

O bem-aventurado Senhor disse: Ó Partha, quando a pessoa abandona todas variedades de desejo sensual que surgem da concepção mental, e quando sua mente encontra satisfação somente no eu, então é dito que está em consciência transcendental pura.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Bhagavatam afirma que qualquer pessoa que está plenamente em Consciência de Krishna, ou serviço devocional ao Senhor, tem todas as boas qualidades dos grandes sábios, enquanto a pessoa que não está assim situada em transcendência não possui nenhuma boa qualificação, porque com certeza se refugia em suas próprias concepções mentais. Por conseguinte, aqui se afirma claramente que a pessoa tem que abandonar todos tipos de desejos sensuais manufaturados pela concepção mental. Artificialmente, esses desejos sensuais não podem ser impedidos. Mas se a pessoa se ocupar em Consciência de Krishna, então, automaticamente, os desejos sensuais cessam sem esforços estranhos. Por isso, a pessoa tem que se dedicar à Consciência de Krishna sem hesitação, porque esse serviço devocional vai ajudá-la instantaneamente a subir na plataforma da consciência transcendental. A alma altamente desenvolvida sempre fica satisfeita intimamente quando se realiza como uma servidora eterna do Supremo Senhor. Tal pessoa situada em transcendência não tem desejos sensuais resultantes do materialismo mesquinho; em vez disso, permanece sempre feliz em sua posição natural de servir eternamente o Supremo Senhor.

Verso 56

duhkhesv anudvigna-manah
sukhesu vigata-sprhah
vita-raga-bhaya-krodhah
sthita-dhir munir ucyate

Tradução

A pessoa que não se perturba apesar das três misérias, que não se exalta quando há felicidade, e que está livre do apego, medo e ira, é chamada de sábia com mente sóbria.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A palavra muni quer dizer aquele que pode agitar sua mente de várias formas para especulação mental sem chegar a uma conclusão efetiva. É dito que cada muni tem um ângulo de visão diferente, e a menos que um muni discorde dos outros munis, não pode ser chamado de muni no sentido estrito do termo. Nasav rsir yasya matam na bhinnam (Mahabharata, Vana-parva 313.117). Mas um sthita-dhir muni, como o Senhor menciona aqui, é diferente do muni ordinário. O sthita-dhir muni está sempre em Consciência de Krishna, porque esgotou todos seus trabalhos de especulação criativa. Ele superou o estágio de especulações mentais e chegou à conclusão que o Senhor Sri Krishna, ou Vasudeva, é tudo (vasudevah sarvam iti sa mahatma su-durlabhah). Ele é chamado de muni com mente fixa. Tal pessoa plenamente consciente de Krishna não fica perturbada de jeito nenhum com os ataques das três misérias, pois aceita todas misérias como misericórdia do Senhor, e se considera digna de ter mais problemas apenas por causa de seus maus feitos passados; e vê que suas misérias, pela graça do Senhor, são diminuídas ao mínimo. Similarmente, quando está feliz, dá o crédito ao Senhor, pois se acha indigna para a felicidade; ela realiza que somente pela graça do Senhor é que está em tal condição confortável e capaz de prestar melhor serviço ao Senhor. E, para o serviço ao Senhor, está sempre animada e ativa, e nunca influenciada pelo apego ou aversão. Apego significa aceitar coisas para o próprio desfrute sensual, e desapego é a ausência desse apego sensual. Mas a pessoa fixa em Consciência de Krishna não tem apego nem desapego porque sua vida é dedicada ao serviço do Senhor. Por conseguinte, nunca fica irada mesmo se suas tentativas não forem bem sucedidas. A pessoa consciente de Krishna é sempre firme na sua determinação.

Verso 57

yah sarvatranabhisnehas
tat tat prapya subhasubham
nabhinandati na dvesti
tasya prajna pratisthita

Tradução

Aquele que é sem apego, que não se regozija quando obtém o bem, nem se lamenta quando obtém o mal, é firmemente fixo em conhecimento perfeito.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Sempre existe uma revolta no mundo material que pode ser boa ou má. Quem não fica agitado com essas revoltas, que não é afetado por bem e mal, deve ser considerado como fixo em Consciência de Krishna. Enquanto a pessoa estiver no mundo material sempre existe a possibilidade de bem e mal porque este mundo é cheio de dualidade. Mas a pessoa que é fixa em Consciência de Krishna não é afetada pelo bem e mal, porque se preocupa somente com Krishna, que é o bem total absoluto. Essa consciência em Krishna situa a pessoa na posição transcendental perfeita chamada, tecnicamente, samadhi.

Verso 58

yada samharate cayam
kurmo 'nganiva sarvasah
indriyanindriyarthebhyas
tasya prajna pratisthita

Tradução

A pessoa que é capaz de retrair seus sentidos dos objetos sensuais, como a tartaruga retrai seus membros dentro do casco, deve ser considerada como verdadeiramente situada em conhecimento.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O teste de um yogi, devoto, ou alma auto-realizada, é que tem a capacidade de controlar seus sentidos de acordo com seu plano. A maioria das pessoas, entretanto, é serva dos sentidos e assim é dirigida pelas ordens dos sentidos. Essa é a resposta sobre como o yogi está situado. Os sentidos são comparados a serpentes venenosas. Eles querem agir bem soltos e sem restrição. O yogi, ou devoto, tem que ser muito forte para controlar as serpentes, como o encantador de serpentes. Ele nunca permite que elas ajam, independentemente. Existem muitas leis nas escrituras reveladas; algumas delas são do tipo "não faça", e outras delas são do tipo "faça". A menos que a pessoa seja capaz de seguir os faça e não faça, por se restringir do desfrute sensual, não é possível ser firmemente fixa em Consciência de Krishna. O melhor exemplo, dado aqui, é a tartaruga. A tartaruga pode a qualquer momento recolher seus sentidos e exibi-los novamente a qualquer momento para propósitos particulares. Similarmente, os sentidos das pessoas conscientes de Krishna são usados apenas para algum propósito particular no serviço ao Senhor e são recolhidos de outro modo. Manter os sentidos sempre no serviço ao Senhor é o exemplo dado com a analogia da tartaruga, que mantém os sentidos recolhidos.

Verso 59

visaya vinivartante
niraharasya dehinah
rasa-varjam raso 'py asya
param drstva nivartate

Tradução

A alma corporificada pode se restringir do desfrute sensual, apesar do gosto pelos objetos sensuais permanecer. Mas, quando cessa essas atividades pela experiência de um sabor superior, fica fixa em consciência.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A menos que a pessoa esteja situada na transcendência, não é possível que cesse o desfrute sensual. O processo de se restringir do desfrute sensual por meio de regras e regulamentos é algo como restringir uma pessoa doente de certos tipos de comestíveis. O paciente, entretanto, não gosta dessas restrições nem perde o gosto pelos comestíveis. Similarmente, restrição sensual por meio de algum processo espiritual como astanga-yoga, na matéria de yama, niyama, asana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana, etc., é recomendado para pessoas menos inteligentes que não têm conhecimento melhor. Mas a pessoa que saboreou a beleza do Supremo Senhor Krishna, no curso de seu avanço na Consciência de Krishna, não tem mais gosto por coisas materiais mortas. Portanto, restrições existem para neófitos menos inteligentes no avanço espiritual da vida, mas essas restrições só são boas se a pessoa tem verdadeiro gosto pela Consciência de Krishna. Quando a pessoa é consciente de Krishna de verdade, automaticamente perde seu gosto por coisas pálidas.

Verso 60

yatato hy api kaunteya
purusasya vipascitah
indriyani pramathini
haranti prasabham manah

Tradução

Os sentidos são tão fortes e impetuosos, ó Arjuna, que levam embora à força até mesmo a mente de uma pessoa de discriminação que se esforça para controlá-los.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem muitos sábios eruditos, filósofos e transcendentalistas que tentam conquistar os sentidos, mas apesar de seus esforços, mesmo o maior deles às vezes cai vítima do desfrute sensual material por causa da mente agitada. Até mesmo Visvamitra, um grande sábio e yogi perfeito, foi desencaminhado por Menaka para o desfrute sexual, apesar do yogi se esforçar para controlar os sentidos com severos tipos de penitência e prática de yoga. E, é claro, há muitos casos similares na história do mundo. Por conseguinte, é muito difícil controlar a mente e sentidos sem ser plenamente consciente de Krishna. Sem ocupar a mente em Krishna, a pessoa não pode cessar essas atividades materiais. Há um exemplo prático dado por Sri Yamunacharya, um grande santo e devoto, que diz:

yad-avadhi mama cetah krsna-padaravinde
nava-nava-rasa-dhamany udyatam rantum asit
tad-avadhi bata nari-sangame smaryamane
bhavati mukha-vikarah susthu nisthivanam ca

"Desde que minha mente se dedicou ao serviço dos pés de lótus do Senhor Krishna, e eu desfruto um humor transcendental sempre novo, sempre que penso em vida sexual com uma mulher, minha face se volta contra isso, e cuspo no pensamento".

A Consciência de Krishna é uma coisa transcendental tão boa que automaticamente o desfrute material se torna desagradável. É como se uma pessoa faminta satisfizesse sua fome com uma quantidade suficiente de comestíveis nutritivos. Maharaja Ambarisha também conquistou um grande yogi, Durvasa Muni, simplesmente porque sua mente estava dedicada à Consciência de Krishna (sa vai manah krsna-padaravindayor vacamsi vaikuntha-gunanuvarnane).

Verso 61

tani sarvani samyamya
yukta asita mat-parah
vase hi yasyendriyani
tasya prajna pratisthita

Tradução

Quem restringe seus sentidos e fixa sua consciência em Mim, é conhecida como uma pessoa de inteligência sóbria.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A concepção mais elevada de perfeição do yoga é Consciência de Krishna como este verso explica claramente. E, a menos que a pessoa seja consciente de Krishna, não é possível controlar seus sentidos. Como foi citado acima, o grande sábio Durvasa Muni teve uma desavença com Maharaja Ambarisha, e Durvasa Muni ficou irado desnecessariamente por causa do orgulho e por isso não pôde controlar seus sentidos. Por outro lado, o rei, apesar de não ser um yogi tão poderoso quanto o sábio, mas um devoto do Senhor, tolerou silenciosamente todas injustiças do sábio e assim emergiu vitorioso. O rei foi capaz de controlar seus sentidos por causa das seguintes qualificações, como mencionado no Srimad Bhagavatam (9.4.18-20):

sa vai manah krsna-padaravindayor
vacamsi vaikuntha-gunanuvarnane
karau harer mandira-marjanadisu
srutim cakaracyuta-sat-kathodaye

mukunda-lingalaya-darsane drsau
tad-bhrtya-gatra-sparse 'nga-sangamam
ghranam ca tat-pada-saroja-saurabhe
srimat-tulasya rasanam tad-arpite

padau hareh ksetra-padanusarpane
siro hrsikesa-padabhivandane
kamam ca dasye na tu kama-kamyaya
yathottama-sloka-janasraya ratih

"O rei Ambarisha fixou sua mente nos pés de lótus do Senhor Krishna, dedicou suas palavras em descrever a morada do Senhor, suas mãos em limpar o templo do Senhor, seus ouvidos em ouvir os passatempos do Senhor, seus olhos em ver a forma do Senhor, seu corpo em tocar o corpo do devoto, suas narinas em cheirar o aroma das flores oferecidas aos pés de lótus do Senhor, sua língua em saborear as folhas de Tulasi oferecidas a Ele, suas pernas em viajar ao local sagrado onde o templo está situado, sua cabeça em prestar reverências ao Senhor, seus desejos em satisfazer os desejos do Senhor... e todas essas qualificações o tornaram digno de se tornar um devoto mat-para do Senhor".

A palavra mat-para é muito significativa a esse respeito. Como a pessoa pode se tornar mat-para é descrito na vida de Maharaja Ambarisha. Srila Baladeva Vidyabhushana, um grande erudito e acharya na linha dos mat-para, observa: mad-bhakti-prabhavena sarvendriya-vijaya-purvika svatma-drstih sulabheti bhavah. "Os sentidos só podem ser controlados plenamente pelo poder do serviço devocional a Krishna". Também, às vezes é dado o exemplo do fogo: "Do mesmo modo com as pequenas chamas queimam tudo dentro de um quarto, similarmente, o Senhor Vishnu, situado no coração do yogi, queima todos tipos de impurezas". O Yoga-sutra também prescreve a meditação em Vishnu, e não a meditação no vazio. Os assim chamados yogis que meditam em algo que não é a forma de Vishnu simplesmente desperdiçam seu tempo na busca em vão de alguma fantasmagoria. Temos que ser conscientes de Krishna, devotados à Personalidade de Deus. Esse é o objetivo do verdadeiro yoga.

Verso 62

dhyayato visayan pumsah
sangas tesupajayate
sangat sanjayate kamah
kamat krodho 'bhijayate

Tradução

Ao contemplar os objetos dos sentidos, a pessoa desenvolve apego por eles, e desse apego, a luxúria se desenvolve, e da luxúria, surge a ira.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa que não é consciente de Krishna está sujeita aos desejos materiais enquanto contempla os objetos dos sentidos. Os sentidos requerem ocupações verdadeiras, e se não estiverem ocupados no serviço amoroso transcendental ao Senhor, eles com certeza procurarão ocupação no serviço do materialismo. No mundo material todo mundo, inclusive o Senhor Shiva e o senhor Brahma, para não falar de outros semideuses nos planetas celestiais, está sujeito à influência dos objetos dos sentidos, o único método para se livrar do enigma da existência material é se tornar consciente de Krishna. O Senhor Shiva estava absorto em meditação, mas quando sua esposa Parvati o agitou para o prazer sensual, concordou com a proposta, e como resultado, Kartikeya nasceu. Quando Haridasa Thakura era um jovem devoto do Senhor, foi similarmente seduzido pela encarnação de Mayadevi, mas Haridasa passou no teste facilmente por causa de sua devoção pura pelo Senhor Krishna. Como ilustrado no verso acima de Sri Yamunacharya, um devoto sincero do Senhor evita todo desfrute sensual material devido a seu gosto superior pelo desfrute espiritual na companhia do Senhor. Esse é o segredo do sucesso. A pessoa que não é consciente de Krishna, portanto, por mais poderosa que possa ser no controle dos sentidos pela repressão artificial, com certeza falhará no fim, porque o menor pensamento de prazer sensual irá agitá-la para satisfazer seus desejos.

Verso 63

krodhad bhavati sammohah
sammohat smrti-vibhramah
smrti-bhramsad buddhi-naso
buddhi-nasat pranasyati

Tradução

Da ira, surge a desilusão, e da desilusão, a confusão da memória. Quando a memória fica confusa, perde-se a inteligência, e quando a inteligência se perde, a pessoa cai novamente no charco material.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Pelo desenvolvimento da Consciência de Krishna, a pessoa pode saber que tudo tem sua utilidade no serviço ao Senhor. Aqueles que não têm conhecimento sobre a Consciência de Krishna tentam evitar artificialmente objetos materiais, e como resultado, apesar de desejarem a liberação do cativeiro material, não alcançam o estágio da renúncia perfeita. Por outro lado, a pessoa em Consciência de Krishna sabe como usar tudo no serviço ao Senhor; portanto não se torna vítima da consciência material. Por exemplo, para um impersonalista, o Senhor, ou o Absoluto, como é impessoal, não pode comer. Apesar do impersonalista tentar evitar comidas gostosas, o devoto sabe que Krishna é o supremo desfrutador e que Ele come tudo que é oferecido a Ele com devoção. Assim, depois de oferecer comidas gostosas ao Senhor, o devoto come os restos, chamados prasadam. Dessa forma tudo se torna espiritualizado e não há perigo de queda. Os devotos aceitam prasadam em Consciência de Krishna, enquanto os não-devotos rejeitam com se fosse material. O impersonalista, portanto, não pode desfrutar a vida devido à sua renúncia artificial; por esse motivo, uma pequena agitação da mente o arrasta para baixo novamente no charco da existência material. É dito que essa alma, mesmo com a elevação ao ponto da liberação, cai novamente porque não tem o apoio do serviço devocional.

Verso 64

raga-dvesa-vimuktais tu
visayan indriyais caran
atma-vasyair vidheyatma
prasadam adhigacchati

Tradução

A pessoa que pode controlar seus sentidos pela prática dos princípios reguladores da liberdade pode obter a misericórdia plena do Senhor e assim se tornar livre de todo apego e aversão.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Já foi explicado que a pessoa pode controlar os sentidos externamente por meio de algum processo artificial, mas a menos que os sentidos estejam ocupados no serviço transcendental ao Senhor, há toda chance de cair. Apesar da pessoa em plena Consciência de Krishna possa estar aparentemente no plano sensual, porque é consciente de Krishna, não tem apego por atividades sensuais. A pessoa consciente de Krishna se preocupa somente com a satisfação de Krishna, e nada mais. Logo, é transcendental a todo apego. Se Krishna quiser, o devoto pode fazer tudo que é indesejável ordinariamente; e se Krishna não quiser, não fará o que faria ordinariamente para sua própria satisfação. Por conseguinte, agir ou não agir está sob seu controle porque age somente sob a direção de Krishna. Essa consciência se chama misericórdia do Senhor, que o devoto pode alcançar apesar de estar apegado à plataforma sensual.

Verso 65

prasade sarva-duhkhanam
hanir asyopajayate
prasanna-cetaso hy asu
buddhih paryavatisthate

Tradução

Para a pessoa que está situada na consciência Divina, as três misérias da existência material não existem mais; em tal estado feliz, sua inteligência logo se torna sóbria.

Verso 66

nasti buddhir ayuktasya
na cayuktasya bhavana
na cabhavayatah santir
asantasya kutah sukham

Tradução

A pessoa que não está na consciência transcendental nunca pode ter uma mente controlada nem inteligência sóbria, sem as quais não existe possibilidade de paz. E como pode haver qualquer felicidade sem paz?

Iluminação de Srila Prabhupada:

A menos que a pessoa seja consciente de Krishna não existe possibilidade de paz. Isso é confirmado no Quinto Capítulo (5.29), somente quando a pessoa entende que Krishna é o único desfrutador de todos bons resultados de sacrifício e penitência, e que Ele é o proprietário de todas manifestações universais, que Ele é o verdadeiro amigo de todos seres vivos, poderá haver paz verdadeira. Perturbação é devido à falta de um objetivo supremo, e quando a pessoa tem certeza que Krishna é o desfrutador, proprietário e amigo de todos e tudo, pode, com a mente sóbria, gerar a paz. Assim, a pessoa que está ocupada sem um relacionamento com Krishna com certeza está sempre aflita e sem paz, seja lá quanto fizer de exibição de paz e avanço espiritual na vida. Consciência de Krishna é uma condição pacífica automanifesta que só pode ser alcançada no relacionamento com Krishna.

Verso 67

indriyanam hi caratam
yan mano 'nuvidhiyate
tad asya harati prajnam
vayur navam ivambhasi

Tradução

Do mesmo modo como um barco na água é arrastado por um vento forte, até mesmo um só dos sentidos que a mente focalize pode arrastar a inteligência de uma pessoa.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A menos que todos sentidos estejam ocupados no serviço ao Senhor, até mesmo um só deles ocupado em desfrute sensual pode desviar o devoto do caminho para o avanço transcendental. Como mencionado na vida de Maharaja Ambarisha, todos sentidos têm que estar ocupados em Consciência de Krishna, porque essa é a técnica correta para controlar a mente.

Verso 68

tasmad yasya maha-baho
nigrhitani sarvasah
indriyanindriyarthebhyas
tasya prajna pratisthita

Tradução

Portanto, ó possuidor de braços poderosos, a pessoa cujos sentidos estão retraídos de seus objetos é certamente de inteligência sóbria.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Do mesmo modo como inimigos são dominados por uma força superior, similarmente os sentidos, não podem ser dominados por nenhum esforço humano, mas somente por mantê-los ocupados no serviço ao Senhor. A pessoa que entendeu isso, que somente com a Consciência de Krishna a pessoa realmente se estabelece em inteligência e que tem de praticar essa arte sob a guia de um mestre espiritual fidedigno, é camada de sadhaka, ou um candidato certo para liberação.

Verso 69

ya nisa sarva-bhutanam
tasyam jagarti samyami
yasyam jagrati bhutani
sa nisa pasyato muneh

Tradução

O que é noite para todos os seres é hora de despertar para o autocontrolado; e o que é hora de despertar para todos os seres é noite para o sábio introspectivo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Há dois tipos de pessoas inteligentes. Uma tem inteligência para atividades materiais de desfrute sensual, e a outra é introspectiva e ciente sobre o cultivo da auto-realização. Atividades do sábio introspectivo, a pessoa consciente, são "noite" para pessoas absortas na matéria. Pessoas materialistas dormem nessa noite por causa de sua ignorância sobre auto-realização. O sábio introspectivo permanece alerta na "noite" das pessoas materialistas. A pessoa sábia sente prazer transcendental com o avanço gradual da cultura espiritual, enquanto a materialista, dormente para auto-realização, sonha com uma variedade de prazeres sensuais, às vezes fica feliz e outras, infeliz, em sua condição sonolenta. A pessoa introspectiva é sempre indiferente à felicidade ou tristeza materiais. Ela continua suas atividades de auto-realização sem se perturbar com reações materiais.

Verso 70

apuryamanam acala-pratistham
samudram apah pravisanti yadvat
tadvat kama yam pravisanti sarve
sa santim apnoti na kama-kami

Tradução

A pessoa que não se perturba com o incessante fluxo de desejos, que entram como rios dentro do oceano que é sempre cheio mas sempre permanece inalterado, somente ela pode alcançar a paz, e não a pessoa que luta para satisfazer esses desejos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Apesar do vasto oceano ser sempre cheio de água, sempre, especialmente na época das chuvas, recebe muito mais água. Mas o oceano permanece o mesmo, invariável; não fica agitado nem passa do limite da sua margem. Isso também é verdade para uma pessoa fixa em Consciência de Krishna. Enquanto a pessoa tiver um corpo material, as demandas dos sentidos por desfrute sensual continuarão. O devoto, entretanto, não tem necessidade de nada porque o Senhor satisfaz suas necessidades materiais. Por isso, ele é como o oceano, sempre satisfeito consigo mesmo. Os desejos podem chegar a ele assim como as águas dos rios que fluem para dentro do oceano, mas ele é constante em suas atividades, e não é perturbado nem um pouco pelos desejos de desfrute sensual. Essa é a prova de uma pessoa consciente de Krishna, aquele que perdeu todas inclinações por desfrute sensual material, apesar dos desejos estarem presentes. Porque permanece satisfeita com o serviço amoroso transcendental ao Senhor, pode permanecer constante, como o oceano, e assim desfrutar da paz plena. Outras, entretanto, que satisfazem os desejos até o limite da liberação, o que falar do sucesso material, nunca alcançam a paz. Os trabalhadores lucrativos, os salvacionistas, e também os yogis que procuram poderes místicos, todos são infelizes por causa da não satisfação de seus desejos. Mas a pessoa em Consciência de Krishna é feliz no serviço ao Senhor, e não tem desejos para satisfazer. De fato, ela nem mesmo deseja a liberação do assim chamado cativeiro material. Os devotos de Krishna não têm desejos materiais, e por isso estão em perfeita paz.

Verso 71

vihaya kaman yah sarvan
pumams carati nihsprhah
nirmamo nirahankarah
sa santim adhigacchati

Tradução

A pessoa que abandonou todos desejos por desfrute sensual, que vive livre de desejos, que deixou todo senso de propriedade e é desprovida de ego falso, somente ela pode alcançar a paz verdadeira.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Tornar-se sem desejos significa não desejar nada para o desfrute sensual. Em outras palavras, desejo de se tornar consciente de Krishna é na realidade não ter desejos. Entender sua verdadeira posição como servidor eterno de Krishna, sem clamar falsamente que este corpo material é seu eu e sem clamar falsamente propriedade de nada neste mundo, é o estágio perfeito da Consciência de Krishna. A pessoa que está situada nesse estágio perfeito sabe que porque Krishna é o proprietário de tudo, então tudo deve ser usado para a satisfação de Krishna. Arjuna não queria lutar para sua própria satisfação sensual, mas quando se tornou plenamente consciente de Krishna, lutou porque Krishna queria que ele lutasse. Ele mesmo não tinha nenhum desejo de lutar, mas por Krishna, o mesmo Arjuna lutou com o melhor de sua habilidade. Desejo pela satisfação de Krishna é na realidade não ter desejos; não é uma tentativa artificial de abolir os desejos. O ser vivo não pode ser sem desejos ou sem sentidos, mas tem que mudar a qualidade de seus desejos. Uma pessoa sem desejos materialmente com certeza sabe que tudo pertence a Krishna (isavasyam idam sarvam), e por isso não clama falsamente propriedade de nada. Esse conhecimento transcendental se baseia na auto-realização, ou seja, saber perfeitamente bem que todo ser vivo é parte e parcela eterna de Krishna na identidade espiritual, e por isso a posição eterna do ser vivo nunca está no nível de Krishna ou mais do que Ele. Essa compreensão da Consciência de Krishna é o princípio básico da paz real.

Verso 72

esa brahmi sthitih partha
nainam prapya vimuhyati
sthitvasyam anta-kale 'pi
brahma-nirvanam rcchati

Tradução

Esse é o caminho da vida espiritual e divina, e a pessoa depois de alcançá-la nunca fica confusa. Situada assim, até mesmo na hora da morte, a pessoa pode entrar no reino de Deus.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa pode alcançar a Consciência de Krishna ou vida divina imediatamente, em um segundo, ou a pessoa pode não alcançar esse estado mesmo depois de milhões de nascimentos. É só uma questão de entender e aceitar o fato. Khatwanga Maharaja alcançou esse estado de vida apenas poucos minutos antes de sua morte, por se render a Krishna. Nirvana significa terminar o processo de vida materialista. Segundo a filosofia budista, existe só o vazio depois do término desta vida material, mas o Bhagavad-gita ensina diferente. A verdadeira vida começa depois do término da vida material. Para o materialista grosseiro, é suficiente saber que é preciso terminar o modo materialista de vida, mas para pessoas que são avançadas espiritualmente, existe outra vida depois desta vida materialista. Antes de encerrar esta vida, se a pessoa se tornar consciente de Krishna pela boa fortuna, atinge imediatamente o estágio de brahmanirvana. Não há diferença entre o reino de Deus e o serviço devocional ao Senhor. Como ambos estão no plano absoluto, estar dedicado ao serviço amoroso transcendental do Senhor é alcançar o reino espiritual. No mundo material há atividades de desfrute sensual, enquanto no mundo espiritual há atividades da Consciência de Krishna. Alcançar a Consciência de Krishna mesmo durante esta vida é alcançar imediatamente o Brahman, e a pessoa situada em Consciência de Krishna com certeza já entrou no reino de Deus.

Brahman é justamente o oposto de matéria. Portanto, brahmi sthiti significa "não está na plataforma das atividades materiais". Serviço devocional ao Senhor é aceito no Bhagavad-gita como o estágio liberado (sa gunan samatityaitan brahma-bhuyaya kalpate). Logo, brahmi sthiti é liberação do cativeiro material.

Srila Bhaktivinoda Thakura resumiu este Segundo Capítulo do Bhagavad-gita como o conteúdo do texto inteiro. As matérias do Bhagavad-gita são karma-yoga, jñana-yoga, e bhakti-yoga. O Segundo Capítulo discute claramente sobre karma-yoga e jñana-yoga, e também dá uma visão rápida sobre bhakti-yoga, como o conteúdo do texto completo.

 

Assim terminam os Significados Bhaktivedanta do Segundo Capítulo do Srimad Bhagavad-gita sobre a matéria de Seu Conteúdo.

 

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Bhagavad-gita Como Ele É

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

 

Capítulo 3

Karma-yoga

 

Bhagavad-gita - Krishna instrui Arjuna

 

Verso 1

arjuna uvaca
jyayasi cet karmanas te
mata buddhir janardana
tat kim karmani ghore mam
niyojayasi kesava

Tradução

Arjuna disse: Ó Janardhana, ó Keshava, por que me força a lutar nesta guerra terrível, se acha que inteligência é melhor do que trabalho lucrativo?

Iluminação de Srila Prabhupada:

A Suprema Personalidade de Deus Sri Krishna descreveu em detalhes a constituição da alma no capítulo anterior, com a intenção de liberar Seu amigo íntimo Arjuna do oceano de tristeza material. E recomendou o caminho da realização: buddhi-yoga, ou Consciência de Krishna. Às vezes, a Consciência de Krishna é confundida com inércia, e a pessoa com essa má idéia geralmente se retira para um local recluso a fim de se tornar plenamente consciente de Krishna por meio do canto do santo nome do Senhor Krishna. Mas sem ter treinamento na filosofia da Consciência de Krishna, não é aconselhável cantar o santo nome de Krishna num local recluso, onde a pessoa obterá apenas adoração barata do público inocente. Arjuna também achava que Consciência de Krishna, ou buddhi-yoga, ou inteligência para o avanço espiritual do conhecimento, é algo como o retiro da vida ativa para a prática de penitência e austeridade num lugar recluso. Em outras palavras, ele queria evitar a luta espertamente com o uso da Consciência de Krishna como desculpa. Mas como um aluno sincero, pôs a matéria perante seu mestre e perguntou a Krishna sobre qual o melhor curso de ação para ele. Como resposta, o Senhor Krishna explicou em detalhes karma-yoga, ou o trabalho em Consciência de Krishna, neste Terceiro Capítulo.

Verso 2

vyamisreneva vakyena
buddhim mohayasiva me
tad ekam vada niscitya
yena sreyo 'ham apnuyam

Tradução

Minha inteligência está confusa por Suas instruções ambíguas. Portanto, diga-me decisivamente por favor o que é mais benéfico para mim.

Iluminação de Srila Prabhupada:

No capítulo anterior, como um prelúdio do Bhagavad-gita, vários caminhos diferentes foram explicados, como sankhya-yoga, buddhi-yoga, controle dos sentidos pela inteligência, trabalho sem desejo lucrativo, e a posição do neófito. Tudo isso foi apresentado de forma não sistemática. É necessária uma descrição mais organizada para a ação e a compreensão. Arjuna, portanto, queria esclarecer esses assuntos aparentemente confusos para que as pessoas comuns os aceitem sem má interpretação. Apesar de Krishna não querer confundir Arjuna com qualquer jogo de palavras, Arjuna não conseguiu acompanhar o processo da Consciência de Krishna; tanto o por inércia quanto o por serviço ativo. Em outras palavras, com suas perguntas, ele esclarece o caminho da Consciência de Krishna para todos estudantes que desejam seriamente compreender o mistério do Bhagavad-gita.

Verso 3

sri bhagavan uvaca
loke 'smin dvi-vidha nistha
pura prokta mayanagha
jnana-yogena sankhyanam
karma-yogena yoginam

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó Arjuna impecável, Eu já disse que existem duas classes de pessoas que tentam realizar o Eu. Algumas têm inclinação para entendê-Lo por meio da especulação filosófica empírica, e outras têm inclinação para conhecê-Lo por meio do trabalho devocional.

Iluminação de Srila Prabhupada:

No Segundo Capítulo, verso 39, o Senhor explicou dois tipos de procedimentos, chamados sankhya-yoga e karma-yoga, ou buddhi-yoga. Neste verso, o Senhor explica o mesmo com mais clareza. Sankhya-yoga, ou estudo analítico da natureza do espírito e da matéria, é matéria para pessoas inclinadas a especularem e entenderem as coisas por meio de conhecimento e filosofia experimentais. A outra classe de pessoas trabalha em Consciência de Krishna, como foi explicado no verso 61 do Segundo Capítulo. O Senhor também explicou no verso 39 que por meio dos princípios de buddhi-yoga, ou Consciência de Krishna, a pessoa pode se livrar dos cativeiros da ação; e, além do mais, não existe fracasso no processo. O mesmo princípio é explicado com mais clareza no verso 61; esse processo de buddhi-yoga significa depender plenamente do Supremo (ou mais especificamente, de Krishna), e dessa forma, todos sentidos podem ser controlados com muita facilidade. Portanto, ambos yogas são independentes, como religião e filosofia. Religião sem filosofia é sentimentalismo, ou às vezes fanatismo, enquanto filosofia sem religião é especulação mental. O objetivo último é Krishna, porque os filósofos que também procuram sinceramente pela Verdade Absoluta chegam à Consciência de Krishna no fim. Isso também é afirmado no Bhagavad-gita. O processo inteiro é compreender a posição real do eu em relação com o Supereu. O processo indireto é a especulação mental, pelo qual, gradualmente, a pessoa pode chegar ao ponto da Consciência de Krishna; e o outro processo é se conectar diretamente com tudo em Consciência de Krishna. Desses dois, o caminho da Consciência de Krishna é melhor porque não depende da purificação dos sentidos por meio de um processo filosófico. Consciência de Krishna já é o processo purificatório, e pelo método direto do serviço devocional é simultaneamente fácil e sublime.

Verso 4

na karmanam anarambhan
naiskarmyam puruso 'snute
na ca sannyasanad eva
siddhim samadhigacchati

Tradução

Não meramente por se abster do trabalho que a pessoa pode alcançar a liberdade da reação, nem somente pela renúncia que a pessoa pode alcançar a perfeição.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A ordem de vida renunciada pode ser aceita depois de ser purificada por meio do cumprimento da forma prescrita de deveres que são estabelecidos justamente para purificar os corações das pessoas materialistas. Sem purificação, a pessoa não pode alcançar o sucesso por meio da adoção abrupta da quarta ordem de vida (sannyasa). Segundo os filósofos empíricos, simplesmente com a adoção de sannyasa, ou retiro das atividades lucrativas, a pessoa se torna tão boa quanto Narayana imediatamente. Mas o Senhor Krishna não aprova esse princípio. Sem a purificação do coração, sannyasa é só uma perturbação à ordem social. Por outro lado, se a pessoa aceita o serviço transcendental ao Senhor, mesmo sem cumprir os deveres prescritos, seja qual for o avanço que for capaz de conseguir nessa causa será aceito pelo Senhor (buddhi-yoga). Sv-alpam apy asya dharmasya trayate mahato bhayat. Mesmo um mínimo desempenho desse princípio capacita a pessoa a superar grandes dificuldades.

Verso 5

na hi kascit ksanam api
jatu tisthaty akarma-krt
karyate hy avasah karma
sarvah prakrti-jair gunaih

Tradução

Todas pessoas são forçadas a agir desesperadamente de acordo com os impulsos nascidos dos modos da natureza material; portanto, ninguém pode evitar fazer alguma coisa, nem mesmo por um momento.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Não é algo da vida corporificada, mas é a natureza da alma ser sempre ativa. Sem a presença da alma espiritual, o corpo material não pode se mover. O corpo é apenas um veículo morto a ser operado pela alma espiritual, que é sempre ativa e não pode parar nem mesmo por um momento. Assim, a alma espiritual tem que se ocupar no bom trabalho da Consciência de Krishna, senão será ocupada em ocupações ditadas pela energia ilusória. A alma espiritual em contato com a energia material adquire modos materiais, e para purificar a alma dessas afinidades é necessário se ocupar com os deveres prescritos estabelecidos nos shastras. Mas se a alma se dedicar à sua função natural da Consciência de Krishna, qualquer coisa que for capaz de fazer será bom para ela. O Srimad Bhagavatam (1.5.17) afirma:

tyaktva sva-dharmam caranambujam harer
bhajann apakvo 'tha patet tato yadi
yatra kva vabhadram abhud amusya kim
ko vartha apto 'bhajatam sva-dharmatah

"Se alguém aceitar a Consciência de Krishna, mesmo se não seguir os deveres prescritos dos shastras nem executar o serviço devocional propriamente, e mesmo se cair do padrão, não existe perda ou mal para ele. Mas se cumprir todas as regras de purificação dos shastras, o que obterá se não for consciente de Krishna"? Por isso, o processo de purificação é necessário para chegar a esse ponto da Consciência de Krishna. Assim, sannyasa, ou qualquer processo purificatório, é para ajudar a alcançar o objetivo último de se tornar consciente de Krishna, sem o qual, tudo é considerado falho.

Verso 6

karmendriyani samyamya
ya aste manasa smaran
indriyarthan vimudhatma
mithyacarah sa ucyate

Tradução

Aquele que contém os sentidos e os órgãos de ação, mas cuja mente habita nos objetos sensuais, certamente ilude a si mesmo e é chamado de pretensioso.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem muitos pretensiosos que se recusam a trabalhar em Consciência de Krishna mas fazem uma exibição de meditação, enquanto na realidade habitam em seu interior mental dentro do desfrute sensual. Tais pretensiosos também podem falar filosofia seca a fim de enganar seguidores sofisticados, mas de acordo com este verso, eles são os maiores enganadores. Para o desfrute sensual, a pessoa pode agir em qualquer capacidade da ordem social, mas se segue as regras e regulamentos de seu status particular, pode progredir gradualmente na purificação de sua existência. Mas aquele que faz uma exibição de ser um yogi, enquanto na realidade busca os objetos para desfrute sensual, pode ser chamado de maior enganador, mesmo se fala sobre filosofia de vez em quando. Seu conhecimento não tem valor porque os efeitos do conhecimento de tal pessoa pecaminosa são levados embora pela energia ilusória do Senhor. A mente desse pretensioso é sempre impura, e por isso sua exibição de meditação em yoga não tem valor de jeito nenhum.

Verso 7

yas tv indriyani manasa
niyamyarabhate 'rjuna
karmendriyaih karma-yogam
asaktah sa visisyate

Tradução

Por outro lado, aquele que controla os sentidos com a mente e ocupa seus órgãos ativos em trabalhos de devoção, sem apego, é muito mais superior.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Em vez de se tornar um pseudo transcendentalista para fins de vida devassa e desfrute sensual, é muito melhor permanecer em seu próprio trabalho e executar o propósito da vida, que é se livrar do cativeiro material e entrar no reino de Deus. O svartha-gati primordial, ou objetivo do auto-interesse, é alcançar Vishnu. Toda a instituição de varna e ashrama é projetada para nos ajudar a alcançar esse objetivo da vida. Um pai de família também pode alcançar esse destino por meio do serviço regulado em Consciência de Krishna. Para a auto-realização, a pessoa pode viver uma vida controlada, como prescrito nos shastras, e continuar a realizar seus trabalhos sem apego, e fazer progresso dessa forma. Tal pessoa sincera que segue esse método é muito melhor situada do que o falso pretensioso que adota o espiritualismo de exibição para enganar o público inocente. Um varredor de ruas é muito melhor do que o meditador charlatão que medita apenas com o propósito de ganhar seu sustento.

Verso 8

niyatam kuru karma tvam
karma jyayo hy akarmanah
sarira-yatrapi ca te
na prasiddhyed akarmanah

Tradução

Realize seus deveres prescritos, porque ação é melhor do que inação. A pessoa não pode nem mesmo manter seu corpo físico sem trabalho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem muitos falsos meditadores que se apresentam de forma deturpada como pertencentes a uma alta ascendência, e são grandes profissionais que exibem falsamente que sacrificaram tudo com o propósito de avanço espiritual. O Senhor Krishna não queria que Arjuna se tornasse um pretensioso, mas que realizasse seus deveres prescritos como estabelecidos para os kshatriyas. Arjuna era um pai de família e um general militar, e por isso era melhor que ele permanecesse assim e executasse seus deveres religiosos como prescritos para um pai de família kshatriya. Essas atividades gradualmente limpam o coração de uma pessoa mundana e a livram da contaminação material. Assim chamada renúncia com propósito de subsistência nunca é aprovada pelo Senhor, nem por nenhuma escritura religiosa. Acima de tudo, a pessoa tem que manter seu corpo e alma juntos por meio de algum trabalho. O trabalho não deve ser abandonado por capricho, sem a purificação das propensões materialistas. Qualquer pessoa no mundo material possui com certeza a propensão impura de dominar a natureza material, ou, em outras palavras, para o desfrute sensual. Essas propensões poluídas têm que ser limpas. Sem agir assim, por meio dos deveres prescritos, a pessoa nunca deve tentar se tornar um assim chamado transcendentalista, renunciar ao trabalho e viver à custa de outros.

Verso 9

yajnarthat karmano 'nyatra
loko 'yam karma-bandhanah
tad-artham karma kaunteya
mukta-sangah samacara

Tradução

Trabalho feito como sacrifício a Vishnu tem que ser realizado, senão o trabalho prende a pessoa neste mundo material. Portanto, ó filho de Kunti, faça seus deveres prescritos para a satisfação Dele, e assim você permanecerá sempre desapegado e livre do cativeiro.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como a pessoa precisa trabalhar até mesmo para a simples manutenção do corpo, os deveres prescritos de uma posição e qualidade sociais específicas são feitas assim para que esse propósito seja satisfeito. Yajña quer dizer Senhor Vishnu, ou realizações de sacrifícios. Todas realizações de sacrifícios também são destinadas à satisfação do Senhor Vishnu. Os Vedas afirmam: yajño vai visnuh. Em outras palavras, o mesmo propósito é satisfeito se a pessoa realizar yajñas prescritos ou servir diretamente ao Senhor Vishnu. Consciência de Krishna é portanto a realização de yajña como prescrito neste verso. A instituição varnashrama também almeja essa satisfação do Senhor Vishnu. Varnasramacaravata purusena parah puman visnur aradhyate (Vishnu Purana 3.8.8). Por conseguinte, deve-se trabalhar para a satisfação de Vishnu. Qualquer outro trabalho feito neste mundo material será causa de cativeiro, porque tanto o bom quanto o mau trabalho tem suas reações, e qualquer reação prende o executor. Logo, a pessoa tem que trabalhar em Consciência de Krishna para a satisfação de Krishna (ou Vishnu); e enquanto realiza essas atividades, a pessoa está no estágio liberado. Essa é a grande arte de realizar trabalho, e esse processo requer orientação bem especializada no começo. A pessoa deve portanto agir com muito zelo, sob a guia especial do devoto do Senhor Krishna, ou sob a instrução direta do Senhor Krishna em pessoa (sob o qual Arjuna teve a oportunidade de trabalhar). Nada deve ser feito para o desfrute sensual, mas tudo deve ser feito para a satisfação de Krishna, Essa prática não apenas salvará a pessoa da reação do trabalho, mas também a elevará gradualmente ao serviço amoroso transcendental do Senhor, que é o único meio de elevar a pessoa ao reino de Deus.

Verso 10

saha-yajnah prajah srstva
purovaca prajapatih
anena prasavisyadhvam
esa vo 'stv ista-kama-dhuk

Tradução

No começo da criação, o Senhor de todas criaturas enviou gerações de humanos e semideuses, junto com sacrifícios para Vishnu, e os abençoou ao dizer: "Sejam felizes com este yajña (sacrifício) porque sua realização concederá a todos vocês todas as coisas desejáveis".

Iluminação de Srila Prabhupada:

A criação material pelo Senhor de todas criaturas (Vishnu) é a chance oferecida às almas condicionadas de voltarem ao lar, de volta ao Supremo. Todos seres vivos dentro da criação material são condicionados pela natureza material por causa do esquecimento de seu relacionamento com Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Os princípios Védicos são para nos ajudar a entender essa relação eterna, como o Bhagavad-gita afirma: vedais ca sarvair aham eva vedyah. O Senhor afirma que o propósito dos Vedas é compreendê-Lo. Os hinos Védicos dizem: patim visvasyatmesvaram. Portanto, o Senhor dos seres vivos é a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu. Srila Shukadeva Goswami também descreve o Senhor como pati de várias formas no Srimad Bhagavatam (2.4.20):

sriyah patir yajna-patih praja-patir
dhiyam patir loka-patir dhara-patih
patir gatis candhaka-vrsni-satvatam
prasidatam me bhagavan satam patih

O praja-pati é o Senhor Vishnu, e Ele é o Senhor de todas criaturas vivas, de todos mundos, e de todas belezas, e o protetor de todos. O Senhor criou este mundo material para as almas condicionadas aprenderem como realizar yajñas (sacrifícios) para a satisfação de Vishnu, para que enquanto estiverem no mundo material possam viver confortavelmente sem ansiedade e depois do fim deste corpo material, possam entrar no reino de Deus. Esse é o programa completo para a alma condicionada. Por meio da realização de yajña, as almas condicionadas se tornam gradualmente conscientes de Krishna e se tornam divinas em todos aspectos. Na Era de Kali, as escrituras Védicas recomendam o sankirtana-yajña (cantar os nomes de Deus), e esse sistema transcendental foi introduzido pelo Senhor Chaitanya para a liberação de todas pessoas desta Era. Sankirtana-yajña e Consciência de Krishna combinam bem juntos. O Senhor Krishna em Sua forma devocional (como o Senhor Chaitanya) é mencionado no Srimad Bhagavatam (11.5.32) como se segue, com referência especial ao sankirtana-yajña:

krsna-varnam tvisakrsnam
sangopangastra-parsadam
yajnaih sankirtana-prayair
yajanti hi su-medhasah

"Nesta Era de Kali, as pessoas dotadas com inteligência suficiente adorarão o Senhor, que está acompanhado pelos Seus companheiros, por meio da realização do sankirtana-yajña". Outros yajñas prescritos nas literaturas Védicas não são fáceis de executar nesta Era de Kali, mas o sankirtana-yajña é fácil e sublime para todos os propósitos.

Verso 11

devan bhavayatanena
te deva bhavayantu vah
parasparam bhavayantah
sreyah param avapsyatha

Tradução

Os semideuses, satisfeitos com os sacrifícios, também os satisfarão; assim, com a nutrição mútua, a prosperidade geral reinará para todos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os semideuses são administradores que recebem poder para os assuntos materiais. O fornecimento de ar, luz, água e todas as outras bênçãos para a manutenção do corpo e da alma de todo ser vivo é confiado aos semideuses, que são assistentes inumeráveis em várias partes do corpo da Suprema Personalidade de Deus. Satisfação e desgosto deles dependem da realização de yajñas pelos seres humanos. Alguns yajñas se destinam à satisfação de semideuses específicos; mas mesmo assim, o Senhor Vishnu é adorado em todos os yajñas como o beneficiário principal. O Bhagavad-gita também afirma que Krishna em pessoa é o beneficiário de todos tipos de yajñas: bhoktaram yajna-tapasam. Portanto, a satisfação última do yajña-pati é o propósito principal de todos os yajñas. Quando esses yajñas são realizados perfeitamente, naturalmente os semideuses encarregados dos vários departamentos de fornecimento ficam satisfeitos, e não existe escassez de suprimentos de produtos naturais.

A realização de yajñas tem benefícios de vários aspectos, que conduzem ultimamente à liberação do cativeiro material. Por meio da realização de yajñas, todas atividades ficam purificadas, como os Vedas afirmam:

ahara-suddhau sattva-suddhih sattva-suddhau
dhruva smrtih smrti-lambhe sarvagranthinam vipramoksah

Como os versos seguintes explicam, por meio da realização de yajñas, os comestíveis da pessoa se tornam santificados, e ao comer alimentos santificados, a própria existência da pessoa se torna purificada; com a purificação da existência, os tecidos refinados da memória se tornam santificados, e quando a memória é santificada, a pessoa pode pensar no caminho da liberação, e tudo isso junto combinado conduz à Consciência de Krishna, a grande necessidade da sociedade dos dias de hoje.

Verso 12

istan bhogan hi vo deva
dasyante yajna-bhavitah
tair dattan apradayaibhyo
yo bhunkte stena eva sah

Tradução

Os semideuses encarregados das várias necessidades da vida, satisfeitos com a realização de yajña (sacrifício), fornecem todas necessidades dos humanos. Mas quem desfruta esses presentes sem oferecê-los de volta aos semideuses é com certeza um ladrão.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os semideuses são os agentes fornecedores autorizados em nome da Suprema Personalidade de Deus, Vishnu. Por isso que eles precisam ser satisfeitos com a realização de yajñas prescritos. Existem vários tipos de yajñas prescritos nos Vedas para diferentes tipos de semideuses, mas todos são oferecidos ultimamente à Suprema Personalidade de Deus. Para quem não consegue entender o que é a Personalidade de Deus, recomenda-se sacrifício aos semideuses. De acordo com as várias qualidades materiais das pessoas, os Vedas recomendam diferentes tipos de yajñas. A adoração a vários semideuses também está na mesma base, a saber, de acordo a qualidades diferentes. Por exemplo, recomenda-se que os comedores de carne adorem a deusa Kali, a forma terrível da natureza material, e o sacrifício de animais é recomendado perante a deusa. Mas para quem está no modo da bondade, recomenda-se a adoração transcendental ao Senhor Vishnu. Mas em última instância, todos os yajñas são destinados à promoção gradual à posição transcendental. Para as pessoas ordinárias, pelo menos cinco yajñas, conhecidos como pañcha-maha-yajña, são necessários.

Deve-se entender, entretanto, que todas as necessidades da vida que a sociedade humana precisa são fornecidas pelos semideuses agentes do Senhor. Ninguém pode manufaturar nada. Como por exemplo, todos comestíveis da sociedade humana. Esses comestíveis incluem cereais, frutas, legumes, leite, açúcar etc., para pessoas no modo da bondade, e também comestíveis para não vegetarianos, como carnes etc., nenhum deles pode ser manufaturado pelo homem. Depois novamente, vejam o exemplo do calor, luz, água, ar etc., que também são necessidades da vida, nenhum pode ser manufaturado pela sociedade humana. Sem o Supremo Senhor, não pode haver profusos luz solar, luz lunar, chuvas, brisa etc., sem os quais ninguém pode viver. É obvio que nossa vida depende dos suprimentos do Senhor. Mesmo em nossas empreitadas de manufaturas, precisamos de tantas matérias primas como metais, enxofre, mercúrio, magnésio, e tantos elementos essenciais, todos os quais são supridos pelos agentes do Senhor, com o propósito de que possamos fazer uso adequado deles para nos manter capazes e saudáveis para o objetivo da auto-realização, com a condução para a meta última da vida, chamada liberação da árdua luta pela existência material. Essa meta da vida é alcançada com a realização de yajñas. Se esquecemos o objetivo da vida humana e simplesmente pegamos os suprimentos dos agentes do Senhor para o desfrute sensual e nos tornamos mais e mais enredados na existência material, que não é o propósito da criação, com certeza nos tornamos ladrões, e por isso somos punidos pelas leis da natureza material. Uma sociedade de ladrões nunca pode ser feliz porque não têm nenhum objetivo na vida. Os ladrões materialistas grosseiros não têm objetivo último da vida. São simplesmente dirigidos pelo desfrute sensual, nem têm conhecimento sobre como realizar yajñas. O Senhor Chaitanya, entretanto, inaugurou a realização mais fácil de yajña, chamada sankirtana-yajña, que pode ser executada por qualquer um que aceite os princípios da Consciência de Krishna.

Verso 13

yajna-sistasinah santo
mucyante sarva-kilbisaih
bhunjate te tv agham papa
ye pacanty atma-karanat

Tradução

Os devotos do Senhor se libertam de todos tipos de pecados porque comem a comida que foi oferecida primeiro em sacrifício. Outros, que preparam comida para o desfrute sensual pessoal, com certeza só comem pecado.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os devotos do Supremo Senhor, ou as pessoas que estão em Consciência de Krishna, são chamados santas, pois estão sempre em amor com o Senhor como descrito no Brahma-samhita (5.38): premanjana-cchurita-bhakti-vilocanena santah sadaiva hrdayesu vilokayanti. Os santas, sempre em amor sólido com a Suprema Personalidade de Deus, Govinda (aquele que concede todos prazeres), ou Mukunda (aquele que dá liberação), ou Krishna (a pessoa todo-atraente), não podem aceitar nada sem primeiro oferecer à Pessoa Suprema. Assim, esses devotos sempre realizam yajñas em vários modos de serviço devocional, como sravanam, kirtanam, smaranam, arcanam, etc., e essas realizações de yajñas os mantêm sempre longe de todos tipos de contaminação da associação pecaminosa neste mundo material. Outros, que preparam comida para o desfrute sensual pessoal, não são somente ladrões, como também são comedores de todos tipos de pecados. Como uma pessoa pode ser feliz se é tanto ladra quanto pecadora? Não é possível. Portanto, para que as pessoas sejam felizes em todos aspectos, precisam ser ensinadas a realizar o processo fácil de sankirtana-yajña, em Consciência de Krishna plena. Senão, não pode haver paz ou felicidade no mundo.

Verso 14

annad bhavanti bhutani
parjanyad anna-sambhavah
yajnad bhavati parjanyo
yajnah karma-samudbhavah

Tradução

Todos corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que são produzidos pelas chuvas. Chuvas são produzidas pela realização de yajña (sacrifício), e yajña nasce dos deveres prescritos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Srila Baladeva Vidyabhushana, um grande comentador do Bhagavad-gita, escreve como se segue: ye indrady-angatayavasthitam yajnam sarvesvaram visnum abhyarcya tac-chesam asnanti tena tad deha-yatram sampadayanti, te santah sarvesvarasya yajna-purusasya bhaktah sarva-kilbisair anadi-kala-vivrddhair atmanubhava-prati bandhakair nikhilaih papair vimucyante. O Supremo Senhor, que é conhecido como yajña-purusha, o beneficiário pessoal de todos os sacrifícios, é o mestre de todos semideuses, que O servem da mesma forma como vários membros do corpo servem o todo. Semideuses como Indra, Chandra, Varuna etc. são executivos indicados que administram os assuntos materiais, e os Vedas ordenam sacrifícios para a satisfação desses semideuses para que fiquem felizes e forneçam ar, luz e água suficientes para a produção de grãos alimentícios. Quando o Senhor Krishna é adorado, os semideuses, que são vários membros do Senhor, também são adorados automaticamente; assim não existe necessidade de adorar os semideuses separadamente. Por esse motivo, os devotos do Senhor, que estão em Consciência de Krishna, oferecem comida a Krishna e depois comem; um processo que nutre o corpo espiritualmente. Com essa ação, não unicamente as reações pecaminosas passadas do corpo são eliminadas, como o corpo se torna imune a todas contaminações da natureza material. Quando existe uma doença epidêmica, a vacina anti-séptica protege a pessoa do ataque dessa epidemia. Similarmente, comida oferecida ao Senhor Vishnu e depois aceita por nós, faz com que fiquemos bastante resistentes à afeição material, e a pessoa acostumada a essa prática se chama devota do Senhor. Assim, a pessoa em Consciência de Krishna, que só come comida oferecida a Krishna, pode contra-atacar todas reações das infecções materiais passadas, que são impedimentos ao progresso da auto-realização. Por outro lado, a pessoa que não faz isso continua a incrementar o volume de ação pecaminosa, e isso prepara o próximo corpo a parecer como porcos e cães, para sofrer as ações resultantes de todos pecados. O mundo material é cheio de contaminações, e a pessoa imunizada por aceitar prasadam do Senhor (comida oferecida a Vishnu) é salva do ataque, enquanto aquela que não faz isso fica sujeita à contaminação.

Grãos ou vegetais são comestíveis efetivos. Os seres humanos comem vários tipos de grãos alimentícios, legumes, frutas etc., e os animais comem o refugo dos grãos alimentícios e vegetais, grama, plantas etc.. Seres humanos acostumados a comerem carne e gordura também dependem da produção de vegetação a fim de alimentar os animais. Assim, em última análise, temos que depender da produção do campo e não da produção de grandes fábricas. A produção do campo se deve à chuva suficiente que cai do céu, e essas chuvas são controladas por semideuses como Indra, Sol, Lua etc., e todos eles são servos do Senhor. O Senhor pode ser satisfeito por meio de sacrifícios; portanto, quem não pode executá-los vai se encontrar em escassez; assim é a lei da natureza. Yajña, especificamente o sankirtana-yajña prescrito para esta Era, tem que ser realizado para nos salvar pelo menos da escassez de fornecimento de comida.

Verso 15

karma brahmodbhavam viddhi
brahmaksara-samudbhavam
tasmat sarva-gatam brahma
nityam yajne pratisthitam

Tradução

Os Vedas prescrevem atividades reguladas, e os Vedas se manifestam diretamente da Suprema Personalidade de Deus. Por conseguinte, a Transcendência todo-penetrante se situa eternamente nos atos de sacrifício.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Yajñartha-karma, ou a necessidade de trabalhar para a satisfação de Krishna unicamente, é afirmada de forma mais explícita neste verso. Se tivermos que trabalhar para a satisfação do yajña-purusha, Vishnu, então precisamos encontrar a direção do trabalho em Brahman, ou os Vedas transcendentais. Os Vedas são portanto códigos de direções de trabalho. Tudo que é realizado sem a direção dos Vedas se chama vikarma, ou trabalho desautorizado ou pecaminoso. Assim, é preciso sempre aceitar a direção dos Vedas para se salvar da reação do trabalho. Da mesma forma como se tem que trabalhar sob a direção do estado na vida ordinária, similarmente, deve-se trabalhar sob a direção do estado supremo do Senhor. Essas direções dos Vedas se manifestam diretamente da respiração da Suprema Personalidade de Deus. É dito: asya mahato bhutasya nisvasitam etad yad rg-vedo yajur-vedah samavedo 'tharvangirasah. "Os quatro Vedas, chamados Rg Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda, todos são emanações da respiração da grande Personalidade de Deus" (Brihad-aranyaka Upanishad 4.5.11). O Senhor, como é onipotente, pode falar por meio do ar da respiração, como é confirmado no Brahma-samhita, porque o Senhor tem a onipotência de realizar por meio de cada um de Seus sentidos as ações dos outros sentidos. Em outras palavras, o Senhor pode falar por Sua respiração, e pode fecundar com Seus olhos. De fato, é dito que Ele olha para a natureza material e assim gera todos seres vivos. Depois de criar ou fecundar as almas condicionadas no ventre da natureza material, Ele deu Suas direções na sabedoria Védica sobre como as almas condicionadas podem retornar ao lar, de volta ao Supremo. Devemos sempre lembrar que as almas condicionadas na natureza material estão sempre ávidas por desfrute material. Mas as direções dos Vedas são feitas para que a pessoa possa satisfazer seus desejos pervertidos, e assim retornar ao Supremo, com o término de seu assim chamado desfrute. É uma chance para as almas condicionadas alcançarem a liberação; por isso que as almas condicionadas devem tentar seguir o processo de yajña por se tornarem conscientes de Krishna. Mesmo as pessoas que não conseguem seguir os regulamentos Védicos podem adotar os princípios da Consciência de Krishna, que isso irá tomar o lugar da realização de yajñas Védicos, ou karmas.

Verso 16

evam pravartitam cakram
nanuvartayatiha yah
aghayur indriyaramo
mogham partha sa jivati

Tradução

Meu querido Arjuna, a pessoa que não segue esse sistema Védico de sacrifício prescrito com certeza leva uma vida de pecado, porque a pessoa que se deleita somente com os sentidos vive em vão.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A filosofia mamonista [indivíduo em busca de riqueza de forma gananciosa] de trabalhar arduamente para desfrutar prazer sensual é condenada aqui pelo Senhor. Por isso, para quem quer desfrutar deste mundo material, o ciclo de realização de yajñas mencionado acima é absolutamente necessário. A pessoa que não segue esses regulamentos vive uma vida de alto risco, e é condenada cada vez mais. Segundo a lei da natureza, esta forma humana de vida é destinada especificamente à auto-realização, em uma das três formas, chamadas karma-yoga, jñana-yoga ou bhakti-yoga. Não há necessidade de seguir rigidamente as execuções de yajñas prescritos para transcendentalistas que estão acima de vício e virtude; mas aqueles que estão dedicados ao desfrute sensual requerem purificação por meio do ciclo de realizações de yajña acima mencionado. Existem diferentes tipos de atividades. Aqueles que não são conscientes de Krishna estão com certeza dedicados à consciência sensorial; por isso que precisam realizar trabalho piedoso. O sistema yajña é planejado de tal forma que as pessoas de consciência sensorial possam satisfazer seus desejos sem se tornarem enredadas nas reações do trabalho para desfrute sensual. A prosperidade do mundo não depende de nossos esforços pessoais mas do arranjo invisível do Supremo Senhor, executado diretamente pelos semideuses. Portanto, os yajñas se destinam diretamente ao semideus específico mencionado nos Vedas. Indiretamente, é a prática da Consciência de Krishna, porque quando a pessoa domina a realização de yajñas, vai se tornar consciente de Krishna com certeza. Mas se com a realização de yajñas a pessoa não se tornar consciente de Krishna, esses princípios são considerados apenas como códigos morais. A pessoa não deve, portanto, limitar seu progresso apenas até o ponto dos códigos morais, mas deve transcendê-los, para alcançar a Consciência de Krishna.

Verso 17

yas tv atma-ratir eva syad
atma-trptas ca manavah
atmany eva ca santustas
tasya karyam na vidyate

Tradução

A pessoa que, entretanto, sente prazer no eu, que é iluminada dentro do eu, que regozija e se satisfaz unicamente com o eu, plenamente saciada; para ela não existe dever.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa que é plenamente consciente de Krishna, e está plenamente satisfeita com seus atos em Consciência de Krishna, não tem mais nenhum dever a cumprir. Porque é consciente de Krishna, toda impiedade interior fica limpa instantaneamente, um efeito de muitos e muitos milhares de realizações de yajña. Com essa limpeza de consciência, a pessoa se torna plenamente confiante sobre sua posição eterna em relação com o Supremo. Seu dever se torna auto-iluminado pela graça do Senhor, e por isso que não tem mais quaisquer obrigações com os regulamentos Védicos. Tal pessoa consciente de Krishna não se interessa mais por atividades materiais e não sente mais prazer em arranjos materiais como vinho, sexo e loucuras similares.

Verso 18

naiva tasya krtenartho
nakrteneha kascana
na casya sarva-bhutesu
kascid artha-vyapasrayah

Tradução

A pessoa auto-realizada não tem nenhum propósito para satisfazer no cumprimento de seus deveres prescritos, nem tem nenhum motivo para não realizar esse trabalho. Nem tem necessidade de depender de qualquer outro ser vivo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa auto-realizada não tem mais obrigação de cumprir nenhum dever prescrito, salvo e exceto atividades em Consciência de Krishna. Consciência de Krishna tampouco é inatividade, como será explicado nos versos seguintes. A pessoa consciente de Krishna não se abriga em qualquer outra pessoa, humana ou semideus. Qualquer coisa que faça em Consciência de Krishna é suficiente para o cumprimento de sua obrigação.

Verso 19

tasmad asaktah satatam
karyam karma samacara
asakto hy acaran karma
param apnoti purusah

Tradução

Portanto, sem estar apegada aos frutos das atividades, a pessoa deve agir por uma questão de dever; porque se trabalhar sem apego, a pessoa alcança o Supremo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Supremo é a Personalidade de Deus para os devotos, e a liberação para o impersonalista. A pessoa, portanto, que age para Krishna, ou em Consciência de Krishna, sob a guia apropriada e sem apego ao resultado do trabalho, com certeza faz progresso em direção à meta suprema da vida. Arjuna recebe o conselho de que deve lutar na batalha de Kurukshetra para o interesse de Krishna porque Krishna queria que ele lutasse. Ser uma boa pessoa ou não violenta é um apego pessoal, mas agir por interesse do Supremo é agir sem apego por resultado. Essa é ação perfeita do mais alto grau, recomendada pela Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna.

Rituais Védicos, como sacrifícios prescritos, são realizados para a purificação das atividades impiedosas que são executadas no campo do desfrute sensual. Mas ação em Consciência de Krishna é transcendental às reações do trabalho bom ou mal. A pessoa consciente de Krishna não tem apego pelo resultado mas age pelo interesse de Krishna unicamente. Ela se ocupa em todos tipos de atividades, mas é plenamente sem apego.

Verso 20

karmanaiva hi samsiddhim
asthita janakadayah
loka-sangraham evapi
sampasyan kartum arhasi

Tradução

Reis como Janaka e outros alcançaram o estágio de perfeição com a realização dos deveres prescritos. Portanto, somente com o propósito de educar o povo em geral, você deve realizar seu trabalho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Reis como Janaka e outros são todos almas auto-realizadas; por conseguinte não têm obrigação de executarem os deveres prescritos dos Vedas. Entretanto, realizaram todas atividades prescritas somente a fim de servir de exemplo para o povo em geral. Janaka era o pai de Sita e o grande sogro do Senhor Sri Rama. Por ser um grande devoto do Senhor, estava situado na transcendência, mas como era o rei de Mithila (uma subdivisão da província de Bihar na Índia), tinha que ensinar seus súditos como lutar com honra na batalha. Ele e seus súditos lutaram para ensinar o povo em geral que violência também é necessária numa situação onde bons argumentos falham. Antes da batalha de Kurukshetra, foram feitos todos esforços para evitar a guerra, até mesmo pela Suprema Personalidade de Deus, porém o outro partido estava determinado a lutar. Assim, por essa causa justa, existe necessidade de luta. Apesar da pessoa que está situada em Consciência de Krishna não ter nenhum interesse neste mundo, ela ainda assim trabalha para ensinar o público como viver e como agir. Pessoas experientes em Consciência de Krishna podem agir de tal forma que os outros vão segui-las, e isso é explicado no verso seguinte.

Verso 21

yad yad acarati sresthas
tat tad evetaro janah
sa yat pramanam kurute
lokas tad anuvartate

Tradução

Qualquer ação realizada por um grande homem, as pessoas comuns seguem seus passos. E qualquer padrão que ele estabeleça com seus atos exemplares, o mundo inteiro segue.

Iluminação de Srila Prabhupada:

As pessoas em geral sempre precisam de um líder que possa ensinar o público com comportamento prático. Um líder não pode ensinar o público a parar de fumar se ele mesmo fuma. O Senhor Chaitanya afirmou que um professor deve se comportar corretamente mesmo antes de começar a ensinar. Aquele que ensina dessa forma se chama acharya, ou o professor ideal. Assim, um professor tem que seguir os princípios do shastra (escritura) para alcançar as pessoas comuns. O professor não pode manufaturar regras contra os princípios das escrituras reveladas. As escrituras reveladas, como o Manu-samhita e outras similares, são consideradas os registros do padrão a ser seguido pela sociedade humana. Por isso que os ensinamentos do líder têm que se basear nos princípios dessas regras padrão como são praticadas pelos grandes professores. O Srimad Bhagavatam também afirma que se deve seguir os passos dos grandes devotos, e esse é o modo do progresso no caminho da realização espiritual. O rei ou o chefe executivo do estado, o pai e o professor escolar são todos considerados líderes naturais das pessoas inocentes em geral. Esses líderes naturais têm uma grande responsabilidade com seus dependentes; por isso que devem ser versados nos livros padrões dos códigos morais e espirituais.

Verso 22

na me parthasti kartavyam
trisu lokesu kincana
nanavaptam avaptavyam
varta eva ca karmani

Tradução

Ó filho de Pritha, não existe trabalho prescrito para Mim dentro de todos os três sistemas planetários. Nem Eu preciso de qualquer coisa, nem Eu tenho necessidade de obter qualquer coisa; mesmo assim Eu Me ocupo em trabalho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A Suprema Personalidade de Deus é descrita nas literaturas Védicas como se segue:

tam isvaranam paramam mahesvaram
tam devatanam paramam ca daivatam
patim patinam paramam parastad
vidama devam bhuvanesam idyam

na tasya karyam karanam ca vidyate
na tat-samas cabhyadhikas ca drsyate
parasya saktir vividhaiva sruyate
svabhaviki jnana-bala-kriya ca

"O Supremo Senhor é o controlador de todos os outros controladores, e Ele é o maior de todos os vários líderes planetários. Todos estão sob Seu controle. Todas entidades são delegadas com um poder específico unicamente pelo Supremo Senhor; elas não são supremas por si mesmas. Ele também é adorado por todos semideuses e é o diretor supremo de todos diretores. Assim, Ele é transcendental a todos tipos de líderes e controladores materiais e é adorável por todos. Não existe ninguém superior a Ele, e Ele é a causa suprema de todas as causas".

"Ele não possui forma corpórea como a dos seres vivos ordinários. Não há diferença entre Seu corpo e Sua alma. Ele é absoluto. Todos Seus sentidos são transcendentais. Qualquer um dos Seus sentidos pode executar a ação de qualquer outro sentido. Portanto, ninguém é maior do que Ele ou igual a Ele. Suas potências são múltiplas, e por isso Seus feitos são realizados automaticamente como uma seqüência natural" (Swetasvatara Upanishad 6.7-8).

Como tudo é pleno de opulência na Personalidade de Deus e existe em verdade plena, não existe nenhum dever para a Suprema Personalidade de Deus executar. Quem precisa receber os resultados do trabalho tem algum dever designado, mas quem não tem nada a alcançar dentro dos três sistemas planetários com certeza não tem nenhum dever. Mesmo assim, o Senhor Krishna está empenhado no campo de batalha em Kurukshetra como líder dos kshatriyas porque os kshatriyas têm a obrigação de dar proteção aos aflitos. Apesar de Ele estar acima de todos regulamentos das escrituras reveladas, Ele não faz nada que viole as escrituras reveladas.

Verso 23

yadi hy aham na varteyam
jatu karmany atandritah
mama vartmanuvartante
manusyah partha sarvasah

Tradução

Porque se Eu não Me ocupasse em trabalho, ó Partha, todas pessoas com certeza seguiriam Meu caminho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A fim de manter o equilíbrio da tranqüilidade social para o progresso na vida espiritual, existem costumes familiares tradicionais para cada pessoa civilizada. Apesar dessas regras e regulamentos serem para as almas condicionadas e não para o Senhor Krishna, porque Ele descende para estabelecer os princípios da religião, Ele segue as regras prescritas. Senão, as pessoas comuns seguiriam Seus passos, porque Ele é a maior autoridade. Entendemos no Srimad Bhagavatam que o Senhor Krishna realizou todos deveres religiosos tanto em casa quanto fora de casa, como é exigido para um pai de família.

Verso 24

utsideyur ime loka
na kuryam karma ced aham
sankarasya ca karta syam
upahanyam imah prajah

Tradução

Se Eu parasse de trabalhar, então todos estes mundos entrariam em ruína. Eu também seria causa da geração de população indesejada, e dessa forma, Eu destruiria a paz de todos seres sensíveis.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Varna-sankara é população indesejada que destrói a paz da sociedade em geral. Para parar essa perturbação social, existem regras e regulamentos prescritos com os quais a população pode se tornar automaticamente pacífica e organizada para o progresso espiritual da vida. Quando o Senhor Krishna descende, naturalmente Ele trata dessas regras e regulamentos a fim de manter o prestígio e a necessidade dessas realizações importantes. O Senhor é o pai de todos seres vivos, e se os seres vivos estão desorientados, a responsabilidade vai para o Senhor indiretamente. Assim, sempre que há um desprezo geral pelos princípios reguladores, o Senhor em pessoa descende e corrige a sociedade. Nós devemos, entretanto, observar com cuidado que apesar de termos de seguir os passos do Senhor, ainda assim devemos lembrar que não podemos imitá-Lo. Seguir e imitar não estão no mesmo nível. Não podemos imitar o Senhor e levantar a colina de Govardhana, como o Senhor fez em Sua infância. Isso é impossível para qualquer ser humano. Temos que seguir Suas instruções, mas não podemos imitá-Lo em nenhum momento. O Srimad Bhagavatam (10.33.30-31) afirma:

naitat samacarej jatu
manasapi hy anisvarah
vinasyaty acaran maudhyad
yatha 'rudro 'bdhi-jam visam

isvaranam vacah satyam
tathaivacaritam kvacit
tesam yat sva-vaco-yuktam
buddhimams tat samacaret

"Deve-se seguir as instruções do Senhor e de Seus servos dotados de poder. Suas instruções são plenamente boas para nós, e qualquer pessoa inteligente as realizará como foi instruído. Entretanto, deve-se prevenir quanto a tentar imitar Suas ações. Não se deve tentar beber o oceano de veneno para imitar o Senhor Shiva".

Devemos sempre considerar a posição dos isvaras, ou aqueles que podem controlar realmente os movimentos do Sol e da Lua, como superiores. Sem esse poder, ninguém pode imitar os isvaras, que são super poderosos. O Senhor Shiva bebeu veneno na extensão de engolir um oceano, mas se uma pessoa comum tentar beber mesmo um fragmento desse veneno, morrerá. Existem muitos pseudodevotos do Senhor Shiva que querem se entregar ao consumo de gañja (maconha) e drogas entorpecentes similares, por esquecerem que a imitação dos atos do Senhor Shiva traz a morte para muito perto. Similarmente, existem alguns pseudodevotos do Senhor Krishna que preferem imitar o Senhor em Seu rasa-lila, ou dança do amor, por esquecerem sua inabilidade para levantar a colina de Govardhana. O melhor, portanto, é não tentar imitar o poderoso, mas simplesmente seguir Suas instruções; nem se deve tentar ocupar Seus postos sem qualificação. Existem também tantas "encarnações" de Deus sem o poder do Deus Supremo.

Verso 25

saktah karmany avidvamso
yatha kurvanti bharata
kuryad vidvams tathasaktas
cikirsur loka-sangraham

Tradução

Do mesmo modo como o ignorante realiza seus deveres com apego pelos resultados, similarmente, o sábio também pode agir, mas sem apego, com a finalidade de conduzir o povo no caminho certo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A pessoa em consciência de Krishna e a pessoa que não está em consciência de Krishna se diferenciam por vários desejos. A pessoa consciente de Krishna não faz nada que não conduza ao desenvolvimento da Consciência de Krishna. Ela pode até mesmo agir exatamente como a pessoa ignorante, que é muito apegada às atividades materiais, mas se dedica a essas atividades para a satisfação de seu desfrute sensual, enquanto a outra se dedica à satisfação de Krishna. Por conseguinte, a pessoa consciente de Krishna é necessária para mostrar ao povo como agir e como dedicar os resultados da ação para o propósito da Consciência de Krishna.

Verso 26

na buddhi-bhedam janayed
ajnanam karma-sanginam
josayet sarva-karmani
vidvan yuktah samacaran

Tradução

Que o sábio não corrompa as mentes dos ignorantes que estão apegados à ação lucrativa, eles não devem ser encorajados a evitar o trabalho, mas a se dedicar ao trabalho com espírito de devoção.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Vedais ca sarvair aham eva vedyah: Esse é o fim de todos rituais Védicos. Todos rituais, todas realizações de sacrifícios, e tudo que está nos Vedas, inclusive toda direção para atividades materiais, são destinados à compreensão de Krishna, que é a meta última da vida. Mas porque as almas condicionadas não conhecem nada além do desfrute sensual, estudam os Vedas com essa finalidade. Por meio do regulamento sensual, entretanto, a pessoa se eleva gradualmente à Consciência de Krishna. Logo, uma alma realizada em Consciência de Krishna não deve perturbar outros em suas atividades ou entendimento, mas deve agir para mostrar como os resultados do trabalho podem ser dedicados ao serviço de Krishna. A pessoa consciente de Krishna educada pode agir de forma que a pessoa ignorante que trabalha para o desfrute sensual possa aprender como agir e como se comportar. Apesar de que não se deve perturbar a pessoa ignorante em suas atividades, ainda assim, a pessoa com um pouco de desenvolvimento em Consciência de Krishna pode se ocupar diretamente no serviço ao Senhor sem esperar por outras fórmulas Védicas. Essa pessoa afortunada não tem necessidade de seguir rituais Védicos, porque na Consciência de Krishna direta, ela pode ter todos resultados simplesmente por seguir os deveres prescritos de uma pessoa específica.

Verso 27

prakrteh kriyamanani
gunaih karmani sarvasah
ahankara-vimudhatma
kartaham iti manyate

Tradução

A alma espiritual confusa, sob a influência dos três modos da natureza material, acha que é a realizadora das atividades, que não verdade são executadas pela natureza.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Duas pessoas, uma em Consciência de Krishna e outra em consciência material, que trabalham no mesmo nível, podem parecer que trabalham na mesma plataforma, mas existe um grande abismo de diferença entre suas posições respectivas. A pessoa em consciência material é convencida pelo ego falso de que é a realizadora de tudo. Ela não sabe que o mecanismo do corpo é produzido pela natureza material, que trabalha sob a supervisão do Supremo Senhor. A pessoa materialista não tem conhecimento de que em última instância está sob o controle de Krishna. A pessoa no ego falso aceita todo o crédito por fazer tudo independentemente, e esse é o sintoma da ignorância. Ela não sabe que este corpo grosseiro e sutil é criação da natureza material, sob a ordem da Suprema Personalidade de Deus, e por isso suas atividades corpóreas e mentais devem ser dedicadas ao serviço de Krishna, em Consciência de Krishna. A pessoa ignorante esquece que a Suprema Personalidade de Deus é conhecida como Hrishikesha, ou o mestre dos sentidos do corpo material, por causa de seu longo mau uso dos sentidos em desfrute sensual, ela na verdade fica confusa pelo ego falso, que a faz esquecer sua relação eterna com Krishna.

Verso 28

tattva-vit tu maha-baho
guna-karma-vibhagayoh
guna gunesu vartanta
iti matva na sajjate

Tradução

A pessoa que tem conhecimento da Verdade Absoluta, ó dotado de braços poderosos, não se dedica aos sentidos e ao desfrute dos sentidos, pois sabe bem as diferenças entre trabalho em devoção e trabalho por resultados lucrativos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O conhecedor da Verdade Absoluta está convencido sobre sua posição embaraçosa na associação material. Ele sabe que é parte e parcela da Suprema Personalidade de Deus, Krishna, e que sua posição não deve ser na criação material. Ele conhece sua verdadeira identidade como parte e parcela do Supremo, que é bem-aventurança e conhecimento eternos, e realiza que de alguma forma ou outra está enredado no conceito material de vida. Em seu estado puro de existência, é destinado a devotar suas atividades em serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, Krishna. Ele portanto se dedica às atividades da Consciência de Krishna e se torna naturalmente desapegado das atividades dos sentidos materiais, que são todas circunstanciais e temporárias. Ele sabe que sua condição material de vida está sob o controle supremo do Senhor; por conseguinte, ele não se perturba com nenhum tipo de reações materiais, que considera ser a misericórdia do Senhor. De acordo com o Srimad Bhagavatam, aquele que conhece a Verdade Absoluta em três aspectos diferentes, a saber, Brahman, Paramatma e a Suprema Personalidade de Deus, é chamado de tattva-vit, porque também sabe sua posição verdadeira na relação com o Supremo.

Verso 29

prakrter guna-sammudhah
sajjante guna-karmasu
tan akrtsna-vido mandan
krtsna-vin na vicalayet

Tradução

Confusos pelos modos da natureza, os ignorantes se dedicam plenamente a atividades materiais e se tornam apegados. Mas o sábio não os perturbam, apesar desses deveres serem inferiores devido à falta de conhecimento do executor.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Pessoas que não têm conhecimento se identificam falsamente com a consciência material grosseira e são cheias de designações materiais. Este corpo é um presente da natureza material, e a pessoa que é muito apegada à consciência corpórea se chama mandan, ou preguiçosa sem compreensão sobre a alma espiritual. Pessoas ignorantes pensam que o corpo é o eu; conexões corpóreas com outros são aceitas como parentesco, a terra onde o corpo foi obtido é objeto de adoração; e as formalidades dos rituais religiosos são consideradas os objetivos finais em si. Trabalho social, nacionalismo e altruísmo são atividades para essas pessoas designadas materialmente. Sob o encanto dessas designações, estão sempre ocupadas no campo material; para elas, a realização espiritual é só um mito e por isso não têm nenhum interesse. Essas pessoas confusas podem até estar engajadas nesses princípios morais primários como não-violência e trabalho benevolente materialmente similar. Entretanto, aqueles que são iluminados na vida espiritual, não devem tentar agitar essas pessoas materialmente grosseiras. Melhor prosseguir suas próprias atividades espirituais silenciosamente.

Pessoas que são ignorantes não podem apreciar as atividades em Consciência de Krishna, e por isso que o Senhor Krishna nos aconselha a não perturbá-las e simplesmente desperdiçar tempo valioso. Mas os devotos são mais bondosos do que o Senhor porque entendem o propósito do Senhor. Por conseguinte, submetem-se a todos tipos de riscos, mesmo a ponto de se aproximarem das pessoas ignorantes para tentar ocupá-las em atos da Consciência de Krishna, que são absolutamente necessários para os seres humanos.

Verso 30

mayi sarvani karmani
sannyasyadhyatma-cetasa
nirasir nirmamo bhutva
yudhyasva vigata-jvarah

Tradução

Portanto, ó Arjuna, após render todos seus trabalhos a Mim, com a mente absorta em Mim, e sem desejo por ganho e livre do egoísmo e da letargia, lute.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Este verso indica claramente o propósito do Bhagavad-gita. O Senhor instrui que a pessoa deve se tornar plenamente consciente de Krishna para cumprir seus deveres, como na disciplina militar. Essa ordem pode tornar as coisas um pouco difíceis; entretanto, deveres têm que ser cumpridos, com dependência em Krishna, porque essa é a posição constitucional do ser vivo. O ser vivo não pode ser feliz independente da cooperação do Supremo Senhor porque a posição constitucional eterna do ser vivo é se tornar subordinado aos desejos do Senhor. Arjuna, portanto, recebeu a ordem de Sri Krishna para lutar como se o Senhor fosse seu comandante militar. A pessoa tem que sacrificar tudo para a boa vontade do Supremo Senhor, e ao mesmo tempo cumprir deveres prescritos sem reivindicar propriedade. Arjuna não tinha que considerar a ordem do Senhor; ele tinha apenas que executar Sua ordem. O Supremo Senhor é a alma de todas almas; assim, a pessoa que depende unicamente e completamente da Alma Suprema sem consideração pessoal, ou em outras palavras, a pessoa que é plenamente consciente de Krishna, chama-se adhyatma-chetasa. Nirashih significa que a pessoa tem que agir sob a ordem do superior. A pessoa nem deve esperar resultados lucrativos. O caixa pode contar milhões de dólares para seu patrão, mas não reivindica nem um centavo para si. Similarmente, a pessoa tem de realizar que nada no mundo pertence a qualquer pessoa individual, mas que tudo pertence ao Supremo Senhor. Esse é o verdadeiro significado de mayi, ou "a Mim". E quando a pessoa age nessa Consciência de Krishna, com certeza não reivindica a propriedade de qualquer coisa. Essa consciência se chama nirmama, ou "nada é meu". E, se houver qualquer relutância para executar essa ordem severa que é sem consideração de assim chamados parentesco e relacionamento corpóreo, essa relutância deve ser jogada fora; dessa forma, a pessoa pode se tornar vigata-jwara ou sem mentalidade febril ou letargia. Todos, conforme sua qualidade e posição, têm um tipo particular de trabalho a realizar, e todos esses deveres devem ser executados em Consciência de Krishna, como descrito acima. Isso conduzirá a pessoa ao caminho da liberação.

Verso 31

ye me matam idam nityam
anutisthanti manavah
sraddhavanto 'nasuyanto
mucyante te 'pi karmabhih

Tradução

A pessoa que executa seus deveres de acordo com Minhas ordens e segue este ensinamento fervorosamente, sem inveja, torna-se livre do cativeiro das ações lucrativas.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A ordem da Suprema Personalidade de Deus, Krishna, é a essência de toda sabedoria Védica, e por isso é verdade eternamente sem exceção. Como os Vedas são eternos, esta verdade da Consciência de Krishna também é eterna. A pessoa tem que ter fé firme nessa ordem, sem invejar o Senhor. Existem muitos filósofos que escrevem comentários sobre o Bhagavad-gita mas não têm fé em Krishna. Eles nunca ficarão livres do cativeiro da ação lucrativa. Mas uma pessoa ordinária com fé firme nas ordens eternas do Senhor, mesmo se não for capaz de executar essas ordens, torna-se liberada do cativeiro da lei do karma. No começo da Consciência de Krishna, a pessoa pode não executar plenamente as ordens do Senhor, mas porque não tem ressentimento desse princípio e trabalha sinceramente sem consideração de derrota e desamparo, com certeza será promovida ao estágio da Consciência de Krishna pura.

Verso 32

ye tv etad abhyasuyanto
nanutisthanti me matam
sarva-jnana-vimudhams tan
viddhi nastan acetasah

Tradução

Mas aqueles que por inveja desprezam estes ensinamentos e não os praticam regularmente são considerados desprovidos de todo conhecimento, ludibriados e condenados à ignorância e cativeiro.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A falha de não ser consciente de Krishna é afirmada aqui claramente. Do mesmo modo como existe punição para a desobediência da ordem do chefe executivo, com certeza existe punição para a desobediência da ordem da Suprema Personalidade de Deus. A pessoa desobediente, por maior que seja, é ignorante sobre seu próprio eu, sobre o Brahman Supremo, Paramatma e a Personalidade de Deus, devido a um coração vago. Por isso que não existe esperança de perfeição da vida para ela.

Verso 33

sadrsam cestate svasyah
prakrter jnanavan api
prakrtim yanti bhutani
nigrahah kim karisyati

Tradução

Mesmo a pessoa com conhecimento age de acordo com sua própria natureza, porque todos seguem sua natureza. O que a repressão pode realizar?

Iluminação de Srila Prabhupada:

A menos que a pessoa esteja situada na plataforma transcendental da Consciência de Krishna, não pode se livrar da influência dos modos da natureza material, como confirmado pelo Senhor no Sétimo Capítulo (7.14). Portanto, mesmo para a pessoa mais altamente educada no plano mundano, é impossível sair do enredamento de maya apenas com conhecimento teórico, ou com a separação da alma do corpo. Existem muitos assim chamados espiritualistas que se apresentam externamente como avançados em ciência, mas interiormente ou privadamente estão completamente sob os modos particulares que são incapazes de superar. Academicamente, a pessoa pode ser muito erudita, mas por causa de sua longa associação com a natureza material, está no cativeiro. A Consciência de Krishna ajuda a pessoa a sair do enredamento material, mesmo se estiver dedicada a seus deveres prescritos. Portanto, sem estar plenamente em Consciência de Krishna, ninguém deve abandonar seus deveres prescritos de súbito e se tornar um assim chamado yogi ou transcendentalista artificialmente. É melhor ficar situado em sua posição e tentar alcançar a Consciência de Krishna sob treinamento superior. Assim a pessoa pode se livrar das garras de maya.

Verso 34

indriyasyendriyasyarthe
raga-dvesau vyavasthitau
tayor na vasam agacchet
tau hy asya paripanthinau

Tradução

Atração e repulsão pelos objetos dos sentidos são sentidas pelos seres corporificados, mas a pessoa não deve cair sob o controle dos sentidos e objetos dos sentidos porque são obstáculos no caminho da auto-realização.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Aqueles que estão em Consciência de Krishna são naturalmente relutantes em se ocuparem no desfrute sensual material. Mas aqueles que não estão nessa consciência devem seguir das regras e regulamentos das escrituras reveladas. Desfrute sensual irrestrito é a causa da prisão material, mas quem segue as regras e regulamentos das escrituras reveladas não fica enredado pelos objetos dos sentidos. Por exemplo, prazer sexual é uma necessidade para a alma condicionada, e o prazer sexual é permitido sob a licença dos laços matrimoniais. Por exemplo, segundo as leis das escrituras, é proibido ter relações sexuais com qualquer outra mulher que não seja a sua esposa. Todas as outras mulheres devem ser consideradas como a própria mãe. Mas, apesar dessas leis, um homem ainda tem tendência para ter relações sexuais com outras mulheres. Essas tendências devem ser refreadas; senão serão obstáculos no caminho da auto-realização. Durante a existência do corpo material, as necessidades do corpo material são permitidas, mas com regras e regulamentos. Ainda assim, não devemos confiar no controle dessas permissões. A pessoa deve seguir essas regras e regulamentos, desapegada delas, porque a prática do desfrute sensual sob regulamentos também pode conduzir à perdição; pois sempre há chance de ocorrer um acidente, mesmo nas estradas reais. Apesar de terem uma manutenção muito cuidadosa, ninguém pode garantir que não haverá perigo mesmo na estrada mais segura. O espírito de desfrute sensual está corrente há muito e muito tempo, devido à associação material. Portanto, apesar do desfrute sensual regulado, existe toda chance de cair; por isso que qualquer apego por desfrute sensual regulado deve ser evitado de toda forma. Mas ação no serviço amoroso de Krishna desapega a pessoa de todos tipos de atividades sensoriais. Por conseguinte, ninguém deve tentar se desapegar da Consciência de Krishna em qualquer estágio da vida. Todo propósito de se desapegar de todos tipos de apego sensual é ultimamente se tornar situado na plataforma da Consciência de Krishna.

Verso 35

sreyan sva-dharmo vigunah
para-dharmat sv-anusthitat
sva-dharme nidhanam sreyah
para-dharmo bhayavahah

Tradução

É muito melhor cumprir seus deveres prescritos, mesmo que possam ser falhos, do que os deveres de outro. Destruição no curso da realização de seu próprio dever é melhor do que se ocupar nos deveres de outro, porque seguir o caminho de outro é perigoso.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Deve-se portanto cumprir seus deveres prescritos em Consciência de Krishna plena em vez daqueles prescritos para outros. Deveres prescritos complementam a condição psicofísica da pessoa, sob o encanto dos modos da natureza material. Deveres espirituais são do modo ordenado pelo mestre espiritual, para o serviço transcendental a Krishna. Mas tanto materialmente quanto espiritualmente, a pessoa deve se fixar em seus deveres prescritos mesmo até a morte, do que imitar os deveres prescritos de outro. Deveres na plataforma espiritual e deveres na plataforma material podem ser diferentes, mas o princípio de seguir a direção autorizada é sempre bom para o executor. Quando a pessoa está sob o encanto dos modos da natureza material, deve seguir as regras prescritas para situações específicas e não deve imitar outros. Por exemplo, um brahmana, que está no modo da bondade, é não-violento, enquanto um kshatriya, que está no modo da paixão, tem permissão para ser violento. Assim, é melhor para um kshatriya ser vencido enquanto segue as regras da violência do que imitar um brahmana que segue os princípios da não-violência. Todos têm que limpar seu coração pelo processo gradual, não abruptamente. Entretanto, quando a pessoa transcende os modos da natureza material e está situada plenamente em Consciência de Krishna, pode executar qualquer coisa e tudo sob a direção de um mestre espiritual fidedigno. Nesse estágio completo de Consciência de Krishna, o kshatriya pode agir como um brahmana, ou um brahmana pode agir como um kshatriya. No estágio transcendental, as direções do mundo material não se aplicam. Por exemplo, Visvamitra era um kshatriya originalmente, mas depois atuou como um brahmana, enquanto Parashurama era um brahmana, mas depois agiu como um kshatriya. Como estavam situados em transcendência, puderam fazer isso; mas enquanto a pessoa estiver na plataforma material, deve executar seus deveres de acordo com os modos da natureza material. Ao mesmo tempo, deve ter senso pleno da Consciência de Krishna.

Verso 36

arjuna uvaca
atha kena prayukto 'yam
papam carati purusah
anicchann api varsneya
balad iva niyojitah

Tradução

Arjuna disse: Ó descendente de Vrishni, por que a pessoa é impelida a atos pecaminosos, mesmo sem desejar, como se comprometida à força?

Iluminação de Srila Prabhupada:

O ser vivo, como parte e parcela do Supremo, é originalmente espiritual, puro, e livre de todas contaminações materiais. Por conseguinte, por natureza não é sujeito aos pecados do mundo material. Mas quando está em contato com a natureza material, age de muitas formas pecaminosas sem hesitação, e às vezes contra sua própria vontade. Assim, a pergunta de Arjuna para Krishna é muito sangüínea, sobre a natureza pervertida dos seres vivos. Apesar do ser vivo às vezes não querer agir em pecado, ainda assim é forçado a agir. Ações pecaminosas, entretanto, não são impelidas pela Superalma interior, mas são devidas a outra causa, como o Senhor explica no próximo verso.

Verso 37

sri bhagavan uvaca
kama esa krodha esa
rajo-guna-samudbhavah
mahasano maha-papma
viddhy enam iha vairinam

Tradução

O bem-aventurado Senhor disse: É somente por causa da luxúria, Arjuna, que nasce do contato com o modo material da paixão e depois se transforma em ira, a qual é a inimiga devoradora total e pecaminosa deste mundo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Quando o ser vivo entra em contrato com a criação material, seu amor eterno por Krishna se transforma em luxúria, na associação com o modo da paixão. Ou, em outras palavras, o senso de amor por Deus se torna transformado em luxúria, do mesmo modo como o leite em contato com tamarindo azedo se transforma em iogurte. Depois novamente, quando a luxúria fica insatisfeita, transforma-se em ira; ira se transforma em ilusão, e ilusão continua a existência material. Portanto, luxúria é o maior inimigo do ser vivo, e unicamente a luxúria que induz o ser vivo puro a permanecer enredado no mundo material. Ira é a manifestação do modo da ignorância; esses modos se exibem como ira e outros corolários. Se, entretanto, o modo da paixão, em vez de se degradar ao modo da ignorância, elevar-se para o modo da bondade pelo método prescrito de viver e agir, a pessoa pode ser salva da degradação da ira pelo apego espiritual.

A Suprema Personalidade de Deus Se expande muitas vezes para Sua bem-aventurança espiritual sempre crescente, e os seres vivos são partes e parcelas dessa bem-aventurança espiritual. Eles também têm independência parcial, mas por causa do mau uso dessa independência, quando a atitude de serviço se transforma na propensão ao desfrute sensual, entram sob o controle da luxúria. Esta criação material é criada pelo Senhor para facilitar às almas condicionadas a chance de satisfazerem suas propensões luxuriosas, e quando ficam completamente frustradas com as atividades luxuriosas prolongadas, os seres vivos começam a indagar sobre sua posição real.

Essa indagação é o começo dos Vedanta-sutras, onde está afirmado: athato brahma-jijñasa: é preciso indagar sobre o Supremo. E o Supremo é definido no Srimad Bhagavatam como janmady asya yato 'nvayad itaratas ca, ou, "A origem de tudo é o Brahman Supremo". Portanto, a origem da luxúria também é o Supremo. Se, entretanto, luxúria é transformada em amor pelo Supremo, ou transformada em Consciência de Krishna, ou, em outras palavras, desejar tudo para Krishna, tanto a luxúria quanto a ira podem ser espiritualizadas. Hanuman, o maior servo do Senhor Rama, dedicou sua ira contra seus inimigos para a satisfação do Senhor. Por conseguinte, luxúria e ira, quando empregadas na Consciência de Krishna, tornam-se nossas amigas ao invés de nossas inimigas.

Verso 38

dhumenavriyate vahnir
yathadarso malena ca
yatholbenavrto garbhas
tatha tenedam avrtam

Tradução

Da mesma forma como fogo é coberto pela fumaça, como um espelho é coberto pela poeira, ou como o embrião é coberto pelo útero, similarmente, o ser vivo é coberto por diferentes graus dessa luxúria.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem três graus de cobertura do ser vivo pela qual sua consciência pura fica obscurecida. Essa cobertura é somente a luxúria sob diferentes manifestações como fumaça no fogo, poeira no espelho, e o útero sobre o embrião. Quando a luxúria é comparada à fumaça, entende-se que o fogo da centelha viva pode ser percebido um pouco. Em outras palavras, quando o ser vivo exibe sua Consciência de Krishna levemente, pode ser comparado ao fogo coberto pela fumaça. Apesar do fogo ser necessário onde há fumaça, não existe manifestação evidente do fogo no estágio primitivo. Esse estágio é como o começo da Consciência de Krishna. A poeira no espelho se refere ao processo de limpeza do espelho da mente por meio dos muitos métodos espirituais. O melhor processo é cantar os santos nomes do Senhor. O embrião coberto pelo útero é uma analogia para ilustrar uma situação desamparada, porque a criança no útero é tão desamparada que não pode nem se mover. Esse estágio de condição de vida pode ser comparado ao das árvores. As árvores também são seres vivos, mas foram colocadas nessa situação de vida por causa de uma grande exibição de luxúria que as fez quase desprovidas de toda consciência. O espelho coberto pode ser comparado aos pássaros e animais, e a fumaça que cobre o fogo se compara aos seres humanos. Na forma de um ser humano, o ser vivo pode reviver um pouco da Consciência de Krishna, e se desenvolver mais, o fogo da vida espiritual pode ser aceso na forma humana de vida. O trato cuidadoso da fumaça no fogo pode transformar o fogo em chama. Por isso, a forma humana de vida é uma chance para o ser vivo escapar do enredamento da existência material. Na forma humana de vida, a pessoa pode conquistar o inimigo, luxúria, pelo cultivo da Consciência de Krishna sob a orientação competente.

Verso 39

avrtam jnanam etena
jnanino nitya-vairina
kama-rupena kaunteya
duspurenanalena ca

Tradução

Assim, a consciência pura da pessoa fica coberta pelo seu inimigo eterno na forma da luxúria, que nunca fica satisfeita e queima como fogo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Manu-smriti afirma que a luxúria não pode ser satisfeita com qualquer quantidade de desfrute sensual, do mesmo modo como o fogo nunca pode ser extinto com um suprimento constante de combustível. No mundo material, o centro de todas atividades é o sexo, e por isso este mundo material se chama maithunya-agara, ou as algemas da vida sexual. Na prisão ordinária, os criminosos são mantidos atrás das grades; similarmente, os criminosos que são desobedientes às leis do Senhor são algemados com a vida sexual. Avanço da civilização material com base no desfrute sensual significa incremento da duração da existência do ser vivo. Portanto, essa luxúria é o símbolo da ignorância pela qual o ser vivo é mantido dentro do mundo material. Enquanto a pessoa desfruta o prazer sensual, pode ser que haja algum sentimento de felicidade, mas na realidade esse assim chamado sentimento de felicidade é o maior inimigo do desfrutador sensual.

Verso 40

indriyani mano buddhir
asyadhisthanam ucyate
etair vimohayaty esa
jnanam avrtya dehinam

Tradução

Os sentidos, a mente e a inteligência são os locais de reunião dessa luxúria, que encobre o conhecimento real do ser vivo e o confunde.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O inimigo capturou várias posições estratégicas no corpo da alma condicionada, e por isso que o Senhor Krishna dá sugestões sobre esses lugares, para a pessoa que deseja conquistar o inimigo possa saber onde ele pode ser encontrado. A mente é o centro de todas ações dos sentidos, assim a mente é o reservatório de todas idéias de desfrute sensual; e, como resultado, a mente e os sentidos se tornam os depósitos da luxúria. Depois, o departamento da inteligência se torna a capital dessas propensões luxuriosas. Inteligência é o vizinho imediato da alma espiritual. Inteligência luxuriosa influencia a alma espiritual a adquirir o ego falso e a se identificar com a matéria, e assim com a mente e os sentidos. A alma espiritual se torna viciada no desfrute dos sentidos materiais e confunde isso com verdadeira felicidade. Essa identificação falsa da alma espiritual é muito bem explicada no Srimad Bhagavatam (10.84.13):

yasyatma-buddhih kunape tri-dhatuke
sva-dhih kalatradisu bhauma ijya-dhih
yat-tirtha-buddhih salile na karhicij
janesv abhijnesu sa eva go-kharah

"O ser humano que identifica este corpo feito de três elementos com seu eu, que considera os subprodutos do corpo como familiares, que considera a terra onde nasceu como adorável, e que vai aos locais de peregrinação apenas para tomar banho em vez de encontrar as pessoas com conhecimento transcendental de lá, é considerada como um asno ou uma vaca".

Verso 41

tasmat tvam indriyany adau
niyamya bharatarsabha
papmanam prajahi hy enam
jnana-vijnana-nasanam

Tradução

Portanto, ó Arjuna, melhor dos Bharatas, logo no começo, refreie esse grande símbolo do pecado (luxúria) por meio da regulação dos sentidos, e mate esse destruidor do conhecimento e da auto-realização.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor aconselha Arjuna a regular os sentidos desde o começo para que possa refrear o maior inimigo pecaminoso, luxúria, que destrói o anseio pela auto-realização e especificamente o conhecimento do eu. Jñana se refere ao conhecimento do eu como distinto do não-eu, ou em outras palavras, conhecimento de que a alma espiritual não é o corpo. Vijñana se refere ao conhecimento específico da alma espiritual e conhecimento da posição constitucional da pessoa e sua relação com a Alma Suprema. Isso é explicado no Srimad Bhagavatam (2.9.31):

jnanam parama-guhyam me
yad vijnana-samanvitam
sa-rahasyam tad-angam ca
grhana gaditam maya

"O conhecimento do eu e do Eu Supremo é muito confidencial e misterioso, por ser coberto por maya, mas esse conhecimento e realização específica podem ser compreendidos se explicados pelo Senhor em pessoa". O Bhagavad-gita nos dá esse conhecimento, especificamente o conhecimento do eu. Os seres vivos são partes e parcelas do Senhor, e por isso são simplesmente destinados a servir o Senhor. Essa consciência se chama Consciência de Krishna. Assim, desde o começo da vida, a pessoa tem que aprender essa Consciência de Krishna, e desse modo pode se tornar plenamente consciente de Krishna e agir de acordo.

Luxúria é apenas o reflexo pervertido do amor por Deus que é natural para todo ser vivo. Mas se a pessoa for educada em Consciência de Krishna desde o começo, esse amor natural não pode se deteriorar em luxúria. Quando o amor por Deus se deteriora em luxúria, é muito difícil voltar à condição normal. Entretanto, Consciência de Krishna é tão poderosa que mesmo um iniciante atrasado pode se tornar um amante de Deus por seguir os princípios reguladores do serviço devocional. Logo, em qualquer estágio da vida, ou do tempo da compreensão de sua urgência, a pessoa pode começar a regulação dos sentidos em Consciência de Krishna, serviço devocional ao Senhor, e transformar a luxúria em amor por Deus; o estágio de perfeição mais elevado da vida humana.

Verso 42

indriyani parany ahur
indriyebhyah param manah
manasas tu para buddhir
yo buddheh paratas tu sah

Tradução

Os sentidos de trabalho são superiores à matéria grosseira; a mente é superior aos sentidos; a inteligência e ainda superior à mente; e ela (a alma) é até mais superior do que a inteligência.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os sentidos são diferentes saídas para as atividades da luxúria. Luxúria é reservada dentro do corpo, mas tem vazão através dos sentidos. Logo, os sentidos são superiores ao corpo como um todo. Essas saídas não estão em uso quando há consciência superior, ou Consciência de Krishna. A alma em Consciência de Krishna faz uma conexão direta com a Suprema Personalidade de Deus; assim, as funções corpóreas, como descrito acima, terminam ultimamente na Alma Suprema. Ação corpórea quer dizer as funções dos sentidos, e parar os sentidos quer dizer parar todas ações corpóreas. Mas como a mente é ativa, então, mesmo que o corpo esteja silencioso e em descanso, a mente agirá; como faz durante o sonho. Mas, acima da mente existe a determinação da inteligência, e acima da inteligência está a própria alma. Se, portanto, a alma está dedicada diretamente ao Supremo, naturalmente todos outros subordinados, chamados inteligência, mente e sentidos, estarão automaticamente dedicados. Há uma passagem no Katha Upanishad, na qual é dito que os objetos do desfrute sensual são superiores aos sentidos, e a mente é superior aos objetos dos sentidos. Se, portanto, a mente está diretamente dedicada ao serviço do Senhor constantemente, não existe chance dos sentidos se tornarem ocupados de outras formas. Essa atitude mental já foi explicada. Se a mente está dedicada ao serviço transcendental do Senhor, não há chance de ser ocupada em propensões inferiores. A alma é descrita no Katha Upanishad como mahan, a grande. Por conseguinte, a alma está acima de tudo, a saber, os objetos dos sentidos, os sentidos, a mente e a inteligência. Portanto, compreensão direta da posição constitucional da alma é a solução de todo o problema.

A pessoa tem que procurar a posição constitucional da alma com a inteligência e depois sempre dedicar a mente à Consciência de Krishna. Isso resolve todo o problema. Um espiritualista neófito geralmente é aconselhado a se manter afastado dos objetos dos sentidos. A pessoa tem que fortalecer a mente com o uso da inteligência. Se com a inteligência, a pessoa dedica sua mente à Consciência de Krishna, por se render plenamente à Suprema Personalidade de Deus, então, automaticamente, a mente se torna mais forte, e mesmo se os sentidos forem muito fortes, como serpentes, não serão mais efetivos do que serpentes com presas quebradas. Mas mesmo se a alma é mestre da inteligência e da mente, e dos sentidos também, ainda assim, a menos que seja fortalecida pela associação com Krishna em Consciência de Krishna, existe toda chance de cair devido à mente agitada.

Verso 43

evam buddheh param buddhva
samstabhyatmanam atmana
jahi satrum maha-baho
kama-rupam durasadam

Tradução

Assim, por saber que o eu é transcendental aos sentidos, mente e inteligência materiais, a pessoa deve controlar o eu inferior com o eu superior, e assim, com a força espiritual, conquistar esse inimigo insaciável conhecido como luxúria.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Este Terceiro Capítulo do Bhagavad-gita conduz conclusivamente à Consciência de Krishna por meio do conhecimento do eu como servidor eterno da Suprema Personalidade de Deus, sem consideração pelo vazio impessoal como fim último. Na existência de vida material, a pessoa com certeza é influenciada pelas propensões por luxúria e desejo de dominar os recursos da natureza material. Desejo de dominar e desfrute sensual são os maiores inimigos da alma condicionada; mas com a força da Consciência de Krishna, a pessoa pode controlar os sentidos, a mente e a inteligência materiais. A pessoa não deve abandonar trabalho e deveres prescritos de súbito; mas com o desenvolvimento gradual da Consciência de Krishna, a pessoa pode se situar na posição transcendental sem ser influenciada pelos sentidos e a mente materiais; por meio da inteligência direcionada em direção à sua identidade pura. Esse é o resumo completo deste capítulo. No estágio imaturo da existência material, especulações filosóficas e tentativas artificiais de controlar os sentidos com ditas práticas de posturas de yoga nunca podem ajudar a pessoa em direção à vida espiritual. Ela tem que ser treinada em Consciência de Krishna por uma inteligência superior.

 

Assim terminam os Significados Bhaktivedanta do Terceiro Capítulo do Srimad Bhagavad-gita sobre a matéria de Karma-yoga, ou o Cumprimento dos Deveres Prescritos da Pessoa em Consciência de Krishna.

 

 

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