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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

     

Volume 1

     

São Paulo, segunda-feira, 30 de novembro de 2020
(Purnima)
Versão em Português
Visvavandya Dasa

         

         

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Fundador Acharya da Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna

 

Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada!

Todas as Glórias à Sua Divina Graça Visvavarenya Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacharya Ashtottara-shata Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Srila Prabhupada Thakur Mahashaya.

 

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Índice

Prefácio

Prólogo de Bhaktivinoda Thakura
[Este relato apareceu originalmente numa pequena obra de Srila Bhaktivinoda Thakura intitulada, "Sri Chaitanya Mahaprabhu: Sua Vida e Preceitos". (20 de agosto de 1896)]

Missão do Senhor Chaitanya - Shikshastaka

Introdução
[Proferida originalmente como cinco aulas matinais sobre o Chaitanya Charitamrita - a biografia autorizada do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, por Krishnadasa Kaviraja Goswami - perante a International Society for Krishna Consciousness, Cidade de Nova York, 10 a 14 de abril de 1967].

Capítulo Um
Ensinamentos para Rupa Goswami

Capítulo Dois
Sanatana Goswami

Capítulo Três
Ensinamentos para Sanatana Goswami

Capítulo Quatro
O Homem Sábio

Capítulo Cinco
Como Se Aproximar de Deus

Capítulo Seis
Suas Formas são Uma e a Mesma

Capítulo Sete
Ilimitadas Formas do Supremo

Capítulo Oito
Os Avataras

Capítulo Nove
As Opulências de Krishna

Capítulo Dez
A Beleza de Krishna

Capítulo Onze
Serviço para o Senhor

Capítulo Doze
O Devoto

Capítulo Treze
Serviço Devocional em Apego

Capítulo Quatorze
O Êxtase do Senhor e Seus Devotos

     

Volume 2

Capítulo Quinze
Explicação do Verso Atmarama no Srimad Bhagavatam

Capítulo Dezesseis
Conclusão dos Ensinamentos para Sanatana Goswami

Capítulo Dezessete
Senhor Chaitanya, a Personalidade de Deus Original

Capítulo Dezoito
As Conversações com Prakashananda

Capítulo Dezenove
Mais Conversas com Prakashananda

Capítulo Vinte
O Objetivo do Estudo do Vedanta

Capítulo Vinte e Um
Os Filósofos Mayavadi são Convertidos

Capítulo Vinte e Dois
O Srimad Bhagavatam

Capítulo Vinte e Três
Por que estudar o Vedanta-sutra

Capítulo Vinte e Quatro
Conversas com Sarvabhauma Bhattacharya

Capítulo Vinte e Cinco
Realização Pessoal e Impessoal

Capítulo Vinte e Seis
Bhattacharya é Convertido

Capítulo Vinte e Sete
O Senhor Chaitanya e Ramananda Raya

Capítulo Vinte e Oito
Relacionamento com o Supremo

Capítulo Vinte e Nove
Amor Puro por Krishna

Capítulo Trinta
Os Passatempos Transcendentais de Radha e Krishna

Capítulo Trinta e Um
A Perfeição Suprema

Capítulo Trinta e Dois
Conclusão

     

         

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"

 

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

 

(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

 

Prefácio

Não há diferença entre os ensinamentos do Senhor Chaitanya apresentados aqui e os ensinamentos do Senhor Krishna no Bhagavad-gita. Os ensinamentos do Senhor Chaitanya são demonstrações práticas dos ensinamentos do Senhor Krishna. A instrução última do Senhor Krishna no Bhagavad-gita é que todos devem se render a Ele, Senhor Krishna. Krishna promete tomar cuidado imediato de tal alma rendida. O Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, já é o responsável pela manutenção desta criação em virtude de Sua expansão plenária, Kshirodakashayi Vishnu, mas essa manutenção não é direta. Entretanto, o Senhor diz que Ele assume o controle de Seu devoto puro, na realidade Ele assume o controle direto. Um devoto puro é uma alma que é para sempre rendida ao Senhor, justamente igual uma criança é rendida a seus pais ou um animal a seu dono. No processo de rendição, a pessoa deve: (1) aceitar coisas favoráveis para executar serviço devocional, (2) rejeitar coisas desfavoráveis, (3) acreditar firmemente na proteção do Senhor, (4) sentir-se dependente exclusivamente da misericórdia do Senhor, (5) não ter interesse separado além do interesse do Senhor, e (6) sempre sentir-se tranqüilo e humilde.

O Senhor demanda que a pessoa se renda a Ele por seguir essas seis diretrizes, mas os assim chamados eruditos pouco inteligentes do mundo mal interpretam essas demandas e instigam a massa de pessoas em geral a rejeitá-las. Na conclusão do Nono Capítulo do Bhagavad-gita, o Senhor Krishna diz diretamente: "Ocupe sua mente sempre em pensar em Mim, ofereça reverências e Me adore. Quando estiver completamente absorto em Mim, certamente você virá a Mim". (Bg. 9.34). Entretanto, os demônios eruditos desencaminham as massas de pessoas por dirigi-las à verdade impessoal, não manifesta, eterna, não nascida em vez da Personalidade de Deus. Os filósofos Mayavadi impersonalistas não aceitam que o aspecto último da Verdade Absoluta é a Suprema Personalidade de Deus. Se alguém deseja entender o Sol como ele é, tem que primeiro olhar o brilho solar, depois o globo solar e, depois de entrar dentro desse globo, ficar face a face com a deidade predominante do Sol. Devido a um pobre fundo de conhecimento, os filósofos Mayavadis não podem ir além da refulgência Brahman, que pode ser comparada ao brilho solar. Os Upanishads confirmam que a pessoa tem que penetrar a refulgência deslumbrante do Brahman antes que possa ver a face real da Personalidade de Deus.

O Senhor Chaitanya portanto ensina adoração direta do Senhor Krishna, que apareceu como criança adotada do Rei de Vraja. Ele também sugere que o lugar conhecido como Vrindavana é tão bom quanto o Senhor Krishna porque não há diferença entre o nome, qualidade, forma, passatempos, ambiente e parafernália do Senhor Krishna e o Senhor Krishna em Pessoa. Assim é a natureza absoluta da Verdade Absoluta.

O Senhor Chaitanya também recomendou que o modo de adoração mais elevado no estágio de perfeição mais elevado é o método praticado pelas meninas de Vraja. Essas meninas (gopis, ou meninas pastoras de vacas) simplesmente amavam Krishna sem nenhum motivo por ganho material ou espiritual. Chaitanya também recomendou Srimad Bhagavatam como a narração imaculada do conhecimento transcendental, e Ele enfatizou que o objetivo mais elevado da vida humana é desenvolver amor imaculado por Krishna, a Suprema Personalidade de Deus.

Os ensinamentos do Senhor Chaitanya são idênticos àqueles dados pelo Senhor Kapila, o proponente original do sankhya-yoga, o sistema de filosofia sankhya. Esse sistema de yoga autorizado recomenda meditação na forma transcendental do Senhor. Não há questão de meditar em algo vazio ou impessoal. Pode-se meditar na forma transcendental do Senhor Vishnu mesmo sem envolver prática de posturas sentadas. Essa meditação é chamada samadhi perfeito. Esse samadhi perfeito é verificado no fim do Sexto Capítulo do Bhagavad-gita onde o Senhor Krishna diz: "E de todos os yogis, aquele que sempre permanece em Mim com grande fé, e Me adora em serviço amoroso transcendental, é o mais intimamente unido Comigo em yoga e é o mais elevado de todos". (Bg. 6.47).

O Senhor Chaitanya instruiu a massa de pessoas na filosofia sankhya de acintya-bhedabheda-tattva, a qual mantém que o Supremo Senhor é simultaneamente uno com e diferente de Sua criação. O Senhor Chaitanya ensinou essa filosofia através do cantar do santo nome do Senhor. Ele ensinou que o santo nome do Senhor é a encarnação de som do Senhor e porque o Senhor é o todo absoluto, não há diferença entre Seu santo nome e Sua forma transcendental. Assim por cantar o santo nome do Senhor a pessoa pode diretamente se associar com o Supremo Senhor por vibração sonora. À medida que alguém pratica essa vibração sonora, passa através de três estágios de desenvolvimento: o estágio ofensivo, o estágio de limpeza e o estágio transcendental. No estágio ofensivo, pode-se desejar todos os tipos de felicidade material, mas no segundo estágio a pessoa se torna limpa de toda contaminação material. Quando alguém está situado no estágio transcendental, obtém a posição mais cobiçada - o estágio de amar Deus. O Senhor Chaitanya ensinou que esse é o estágio mais elevado de perfeição para seres humanos.

Prática de yoga é essencialmente destinada para controle dos sentidos. O fator de controle central de todos os sentidos é a mente; portanto deve-se primeiro praticar controle da mente por se dedicar à Consciência de Krishna. As atividades grosseiras da mente são expressas através dos sentidos externos, ou para aquisição de conhecimento ou o funcionamento dos sentidos de acordo com a vontade. As atividades sutis da mente são pensar, sentir e desejar. De acordo com a própria consciência, o indivíduo ou é poluído ou limpo. Se sua mente está fixa em Krishna (Seu nome, qualidade, forma, passatempos, ambiente e parafernália), todas as atividades pessoais - tanto grosseiras quanto sutis - tornam-se favoráveis. O processo de purificação da consciência do Bhagavad-gita é o processo de fixar a mente em Krishna por falar de Suas atividades transcendentais, limpar o templo, ir ao templo, ver a bela forma transcendental do Senhor belamente decorada, ouvir Suas glórias transcendentais, saborear comida oferecida para Ele, associar-se com devotos, cheirar as flores e folhas de tulasi oferecidas a Ele, dedicar-se nas atividades para o interesse do Senhor, etc.. Ninguém pode trazer as atividades da mente e sentidos a uma parada, mas pode-se purificar essas atividades por meio de uma mudança na consciência. Essa mudança é indicada no Bhagavad-gita quando Krishna conta a Arjuna sobre o conhecimento do yoga pelo qual pode-se trabalhar sem resultados lucrativos. "Ó filho de Pritha, quando você age com essa inteligência, pode se livrar do cativeiro dos trabalhos". (Bg. 2.39). Um ser humano às vezes fica restrito na satisfação sensual devido a certas circunstâncias tais quais doenças, etc., mas essa não é a regra. Sem saber o processo verdadeiro pelo qual a mente e sentidos podem ser controlados, pessoas menos inteligentes ou tentam parar a mente e sentidos à força, ou se entregam a eles e são levados pelas ondas do prazer sensual.

Os princípios reguladores e as regras do yoga, as várias posturas sentadas e exercícios de respiração executados numa tentativa de retirar os sentidos dos objetos dos sentidos são métodos destinados àqueles que estão demasiadamente absortos no conceito corpóreo de vida. O homem inteligente que está situado em Consciência de Krishna não tenta forçosamente impedir seus sentidos de agirem. Ao invés, ele dedica seus sentidos no serviço de Krishna. Ninguém pode impedir uma criança de brincar por deixá-la inativa. Uma criança pode ser impedida de se engajar em tolice por ocupar-se em atividades superiores. A repressão à força das atividades dos sentidos pelos oito princípios do yoga é recomendada para homens inferiores. Dedicados às atividades superiores da Consciência de Krishna, homens superiores se retiram naturalmente das atividades inferiores da existência material.

Desse modo o Senhor Chaitanya ensina a ciência da Consciência de Krishna. Esta ciência é absoluta. Especuladores mentais secos tentam se restringir do apego material, mas é geralmente encontrado que a mente é muito forte para ser controlada e que ela os arrasta para baixo nas atividades sensuais. Uma pessoa em Consciência de Krishna não corre esse risco. A pessoa tem que dedicar sua mente e sentidos nas atividades da Consciência de Krishna, e o Senhor Chaitanya ensina como fazer isso na prática.

Antes de aceitar sannyasa (a ordem da renúncia), o Senhor Chaitanya era conhecido como Visvambhara. A palavra visvambhara se refere àquele que mantém o universo inteiro e que lidera todos os seres vivos. O mantenedor e líder apareceu como Senhor Sri Krishna Chaitanya para dar à humanidade estes ensinamentos sublimes. O Senhor Chaitanya é o professor ideal das necessidades primordiais da vida. Ele é o mais magnânimo doador do amor de Krishna. Ele é o reservatório completo de todas as misericórdias e boa sorte. Como está confirmado no Srimad Bhagavatam, Bhagavad-gita, Mahabharata e os Upanishads, Ele é a Suprema Personalidade de Deus, Krishna em Pessoa, e Ele é adorável por todos nesta era de desavença. Todos podem aderir a Seu movimento sankirtana. Nenhuma qualificação prévia é necessária, justamente por seguir Seus ensinamentos, qualquer pessoa pode se tornar um ser humano perfeito. Se a pessoa for afortunada o suficiente para ser atraída por Suas características, ela é certa de ser bem sucedida na missão de sua vida. Em outras palavras, aqueles que estão interessados em obter existência espiritual podem facilmente serem libertados das garras de maya pela graça do Senhor Chaitanya. Estes ensinamentos apresentados neste livro não são diferentes do Senhor.

Por estar absorta no corpo material, a alma condicionada incrementa as páginas da história por todos os tipos de atividades materiais. Os Ensinamentos do Senhor Chaitanya podem ajudar a sociedade humana parar tais atividades desnecessárias e temporárias. Com estes ensinamentos, a humanidade pode ser elevada à plataforma mais alta de atividade espiritual. Essas atividades espirituais na verdade começam depois da liberação do cativeiro material. Essas atividades liberadas em Consciência de Krishna constituem o objetivo da perfeição humana. O prestígio falso que alguém obtém por tentar dominar a natureza material é ilusório. Conhecimento que ilumina pode ser adquirido dos ensinamentos do Senhor Chaitanya, e por este conhecimento pode-se avançar na existência espiritual.

Todos têm que sofrer ou desfrutar os frutos de sua atividade; ninguém pode impedir as leis da natureza material que governam essas coisas. Enquanto a pessoa está engajada em atividade lucrativa, é certeza que será frustrada numa tentativa de alcançar o objetivo último da vida. Eu sinceramente tenho esperança que por entender os Ensinamentos do Senhor Chaitanya, a sociedade humana experimentará uma nova luz de vida espiritual que abrirá o campo da atividade para a alma pura.

om tat sat

A. C. Bhaktivedanta Swami

14 de março de 1968

Aniversário do Senhor Chaitanya

Templo Sri-Sri-Radha-Krishna

Nova York, NY, EUA

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

 

Prólogo

de

Bhaktivinoda Thakura

[Este relato apareceu originalmente numa pequena obra de Srila Bhaktivinoda Thakura intitulada, "Sri Chaitanya Mahaprabhu: Sua Vida e Preceitos". (20 de agosto de 1896)]

Chaitanya Mahaprabhu nasceu em Mayapur na cidade de Nadia justamente depois do pôr-do-sol na noite de 23 Phalguna 1407 Shakabda, correspondente a 18 de fevereiro de 1486, da Era Cristã. A Lua estava em eclipse na hora do seu nascimento, e a população de Nadia estava engajada, como de costume nessas ocasiões, em se banhar no Bhagirathi com altos gritos de Haribol. Seu pai, Jagannatha Mishra, um pobre brahmana da ordem Védica, e Sua mãe, Shachi-devi, um modelo de boa mulher, ambos eram descendentes de linhagem brahmana originalmente residentes em Sylhet. Mahaprabhu era uma bela criança, e as senhoras da cidade vinham vê-lo com presentes. O pai de sua mãe, Pandita Nilambara Chakravarti, astrólogo renomado, predisse que a criança seria um grande personagem no devido tempo; e, por isso, ele lhe deu o nome Visvambhara. As senhoras da vizinhança o chamavam de Gaurahari por causa de sua tonalidade dourada, e sua mãe o chamava Nimai por causa da árvore nimba perto da qual ele nasceu. Belo como o menino era, todos adoravam vê-lo todo dia. À medida que crescia ele se tornava um menino caprichoso e divertido. Depois de seu quinto ano, ele foi admitido num pathasala onde captou Bengali em muito pouco tempo. A maioria de seus biógrafos contemporâneos mencionaram certas anedotas a respeito de Chaitanya que são registros simples de seus primeiros milagres. É dito que quando era um bebê no colo de sua mãe, ele chorava continuamente, e quando as senhoras da vizinhança gritavam Haribol ele costumava parar. Assim havia sempre a pronúncia de Haribol na casa, o que antevia a missão futura do herói. Também foi afirmado quando sua mãe certa vez deu doces para ele comer, ele comeu barro em vez da comida. Sua mãe perguntou qual a razão disso, ele respondeu que cada doce era nada mais do que barro transformado, assim ele também podia comer barro. Sua mãe que também era a consorte de um pandita, explicou que cada artigo num estado especial foi adaptado para um uso especial. Terra, quando no estado de uma jarra, podia ser usada como um pote de água, mas no estado de um tijolo, tal uso não era possível. Barro, portanto, na forma de doces era útil como comida, mas barro em seus outros estados não era. O menino foi convencido e admitiu sua estupidez em comer barro e concordou em evitar o erro no futuro. Outro ato milagroso foi relatado. É dito que um brahmana em peregrinação se tornou um hóspede em sua casa, ele cozinhou comida e deu graça com meditação em Krishna. Nesse meio tempo, o menino veio e comeu o arroz cozido. O brahmana, abismado com a atitude do menino, cozinhou novamente a pedido de Jagannatha Mishra. O menino novamente comeu o arroz cozido enquanto o brahmana oferecia o arroz para Krishna com meditação. O brahmana foi persuadido a cozinhar pela terceira vez. Dessa vez, todos os habitantes da casa caíram no sono, e o menino se revelou como Krishna para o viajante e o abençoou. O brahmana então se perdeu no êxtase com o aparecimento de seu objeto de adoração. Também é dito que dois ladrões roubaram o menino da porta de seu pai com o objetivo de roubar suas jóias e lhe deram doces pelo caminho. O menino exercitou sua energia ilusória e desviou os ladrões de volta para sua própria casa. Os ladrões, com medo da prisão, deixaram o menino e fugiram. Outro ato milagroso descrito foi quando o menino exigiu e pegou de Hiranya e Jagadisha todas as oferendas que eles coletaram para adorar Krishna no dia de Ekadashi. Quando ele tinha apenas quatro anos de idade, sentou em cima de panelas de barro descartadas que eram consideradas ímpias por sua mãe. Ele explicou para sua mãe que não há questão de santidade e impiedade no que diz respeito a panelas de barro jogadas fora depois que o cozimento acabou. Essas anedotas relatam sua tenra idade até o quinto ano.

Em seu oitavo ano, ele foi admitido no tola de Gangadasa Pandita em Ganganagara perto da vila de Mayapur. Em dois anos ele se tornou bem versado em gramática sânscrita e retórica. Seus estudos depois disso foram da natureza autodidata em sua própria casa, onde ele encontrou todos os livros os mais importantes pertencentes a seu pai, que era um autêntico pandita. Parece que ele leu o smrti em seu próprio estudo, e o nyaya também, em competição com seus amigos, que então estudavam com o célebre Pandita Raghunatha Shiromani.

Agora, depois do décimo ano de sua idade, Chaitanya se tornou um erudito reconhecido em gramática, retórica, o smrti e o nyaya. Foi depois disso que seu irmão mais velho Visvarupa deixou sua casa e aceitou o asrama (status) de um sannyasi (asceta). Chaitanya, apesar de ser um rapaz muito jovem, consolou seus pais, disse que ele os serviria com um objetivo de satisfazer Deus. Logo depois disso, seu pai deixou este mundo. Sua mãe ficou excessivamente triste, e Mahaprabhu, com sua aparência satisfeita de costume, consolou sua mãe viúva.

Foi com a idade de 14 ou 15 que Mahaprabhu foi casado com Lakshmidevi, a filha de Vallabhacharya, também de Nadia. Ele era nessa idade considerado um dos melhores eruditos de Nadia, o renomado berço da filosofia nyaya e erudição sânscrita. O que dizer dos smarta panditas, todos os Naiyayikas tinham medo de confrontá-lo em discussões literárias. Por ser um homem casado, ele foi para a Bengala Ocidental nas margens do Padma para aquisição de riqueza. Lá ele exibiu sua erudição e obteve uma boa soma de dinheiro. Foi nesse tempo que ele pregou Vaishnavismo nos intervalos. Depois de lhe ensinar os princípios do Vaishnavismo, ele ordenou Tapana Mishra para ir e viver em Benares. Durante sua residência na Bengala Ocidental, sua esposa Lakshmidevi deixou este mundo por causa dos efeitos de uma picada de serpente. Quando retornou para casa, ele encontrou sua mãe em estado de luto. Ele a consolou com uma aula sobre a incerteza dos assuntos humanos. E foi a pedido de sua mãe que ele casou com Vishnupriya, a filha do Raja Pandita Sanatana Mishra. Seus colegas se uniram a ele no seu retorno de pravasa ou afastamento. Agora ele era tão renomado que era considerado o melhor pandita de Nadia. Keshava Mishra de Kashmir, que chamou a si mesmo de Grande Digvijayi, veio a Nadia com o objetivo de discutir com os Panditas do lugar. Com medo do assim chamado pandita conquistador, os professores do tola de Nadia deixaram sua cidade com o pretexto de um Convite. Keshava encontrou Mahaprabhu no Barokona-ghata em Mayapur, e depois de uma discussão muito curta dos dois, ele foi derrotado pelo rapaz, e a mortificação o obrigou a fugir. Nimai Pandita agora era o mais importante erudito de seus tempos.

Foi com a idade de 16 ou 17 que ele viajou para Gaya com um grupo para cantar o santo nome de Hari nas ruas e bazares. Isso criou uma sensação e despertou diferentes sentimentos em bairros diferentes. Os bhaktas ficaram muito felizes. Os smarta brahmanas ficaram com inveja do sucesso de Nimai Pandita e reclamaram com o Chand Kazi contra o caráter de Chaitanya como não Hindu. O Kazi foi à casa de Shrivasa Pandita e quebrou uma mrdanga (tambor khola) lá e declarou a menos que Nimai Pandita cessasse de fazer barulho sobre sua religião esquisita, ele seria obrigado a impor Islamismo para ele e seus seguidores. Isso chegou ao conhecimento de Mahaprabhu. Ele ordenou a todas pessoas da cidade para aparecerem à noite cada um com uma tocha em sua mão. Houve o agrupamento, e em sua chegada à casa do Kazi, ele teve uma longa conversa com o Kazi e no fim comunicou dentro do coração dele sua influência Vaishnava por tocar o corpo dele. O Kazi então chorou e admitiu que sentiu uma influência espiritual intensa que clareou suas dúvidas e produziu dentro dele um sentimento religioso que lhe deu o êxtase mais elevado. O Kazi então aderiu ao grupo de sankirtana. O mundo estava abismado com o poder espiritual do Grande Senhor, e centenas e centenas de hereges se converteram e aderiram à bandeira de Visvambhara depois desse acontecimento.

Foi depois disso que alguns dos brahmanas invejosos e mesquinhos de Kulia provocaram uma desavença com Mahaprabhu e reuniram um partido para se opor a ele. Nimai Pandita era naturalmente uma pessoa de bom coração, apesar de vigoroso em seus princípios. Ele declarou que sentimentos partidários e sectarismo eram os dois grandes inimigos do progresso e enquanto ele tivesse que continuar a ser um habitante de Nadia pertencente a uma certa família, sua missão não encontraria o sucesso completo. Ele então resolveu ser um cidadão do mundo por cortar sua conexão com seus família, casta e credo particulares, e com essa resolução ele abraçou a posição de um sannyasi em Katwa, sob a guia de Keshava Bharati dessa cidade, no 24º ano de sua idade. Sua mãe e esposa choraram amargamente por sua separação, mas nosso herói, apesar de bom coração, era uma pessoa vigorosa em princípio. Ele deixou seu pequeno mundo em sua casa para o ilimitado mundo espiritual de Krishna com a humanidade em geral.

Depois de seu sannyasa, ele foi induzido a visitar a casa de Adwaita Prabhu em Shantipura. Adwaita organizou para convidar todos os seus amigos e admiradores de Nadia e trouxe Shachidevi para ver seu filho. Tanto o prazer quanto a dor invadiram seu coração quando ela viu seu filho na atitude de um sannyasi. Em sannyasi, Krishna Chaitanya usava nada mais do que uma kaupina e um bahirvasa (cobertura externa). Sua cabeça estava sem cabelo, e suas mãos seguravam uma danda (bastão) e um kamandalu (pote de água do eremita). O filho sagrado caiu aos pés de sua mãe amada e disse, "Mãe! Este corpo é seu, e eu devo obedecer suas ordens. Permita-me ir a Vrindavana para minhas realizações espirituais". A mãe, em consulta com Adwaita e outros, pediu a seu filho para residir em Puri (a cidade de Jagannatha) para que ela pudesse ter informação sobre ele agora e depois. Mahaprabhu concordou com a proposta e em poucos dias ele deixou Shantipura para Orissa. Seus biógrafos descreveram a jornada de Krishna Chaitanya (esse foi o nome que recebeu depois de seu sannyasa) de Shantipura para Puri em grande detalhe. Ele viajou ao longo do lado do Bhagirathi até Chatrabhoga, situada agora em Thana Mathurapura, Diamond Harbour, 24 Parganas. Lá, ele pegou um barco e foi até Prayaga-ghata no Distrito de Midnapura. De lá, ele andou através de Balasore e Cuttack para Puri, e viu o templo de Bhuvanesvara em seu caminho. Depois de sua chegada em Puri, ele viu Jagannatha no templo e residiu com Sarvabhauma a pedido do último. Sarvabhauma era um pandita gigantesco da época. Seus estudos não tinham fronteiras. Ele era o melhor naiyayika dos tempos e era conhecido como o mais erudito intelectual na filosofia Vedanta da escola de Shankaracharya. Ele nasceu em Nadia (Vidyanagara) e ensinou para inumeráveis pupilos a filosofia nyaya em seu tola de lá. Ele partiu para Puri algum tempo antes do nascimento de Nimai Pandita. Seu cunhado Gopinatha Mishra apresentou nosso novo sannyasi para Sarvabhauma, que estava impressionado com sua beleza pessoal e ficou temeroso que seria difícil para o homem jovem manter sannyasa-dharma durante a longa jornada da sua via. Gopinatha, que conhecia Mahaprabhu de Nadia, tinha muita reverência por ele e declarou que o sannyasi não era um ser humano comum. Nesse ponto, Gopinatha e Sarvabhauma tiveram uma discussão quente. Sarvabhauma então pediu a Mahaprabhu para ouvir sua recitação dos Vedanta-sutras, e o último se submeteu tácito. Chaitanya ouviu em silêncio o que o grande Sarvabhauma recitou com gravidade por sete dias, e no fim disso o último disse, "Krishna Chaitanya! Eu acho que você não entende o Vedanta, porque você não diz nada depois de ouvir minha recitação e explicações". A resposta de Chaitanya foi que ele entendia os sutras muito bem, mas não pôde decifrar o que Shankaracharya quis dizer com seus comentários. Abismado com isso, Sarvabhauma disse, "Por que você entende os significados dos sutras e não entende os comentários que explicam os sutras? Tudo bem! Se você entende os sutras, por favor deixe que eu tenha suas interpretações". Mahaprabhu então explicou todos os sutras de seu próprio modo sem tocar no comentário panteísta de Shankara. O entendimento perspicaz de Sarvabhauma viu a verdade, beleza e harmonia dos argumentos nas explicações dadas por Chaitanya e que o obrigou a declarar que foi a primeira vez que ele encontrou alguém que pudesse explicar os Brahma-sutras de uma maneira tão simples. Ele também admitiu que os comentários de Shankara nunca deram explicações tão naturais dos Vedanta-sutras como ele obteve de Mahaprabhu. Ele então se submeteu como um defensor e seguidor. Em poucos dias, Sarvabhauma se transformou num dos melhores Vaishnavas da época. Quando os relatos sobre isso surgiram, toda Orissa cantou o louvor de Krishna Chaitanya, e centenas e centenas vieram a ele e se tornaram seus seguidores. Nesse meio tempo, Mahaprabhu pensou em visitar a Índia do Sul, e ele partiu com o Krishnadasa Brahmana para a jornada.

Seus biógrafos nos deram um detalhe da jornada. Ele foi primeiro a Kurmakshetra, onde realizou um milagre por curar um leproso chamado Vasudeva. Ele encontrou Ramananda Raya, o Governador de Vidyanagara, nas margens do Godavari e teve uma conversa filosófica com ele sobre o assunto de prema-bhakti. Ele operou outro milagre por tocar (fez elas desaparecem imediatamente) as sete árvores tala através das quais Ramachandra, o filho de Dasharatha, disparou sua flexa e matou o grande Bali Raja. Ele pregou Vaishnavismo e nama-sankirtana por toda a jornada. Em Rangakshetra, ele permaneceu por quatro meses na casa do Venkata Bhatta a fim de passar a estação de chuva. Lá ele converteu toda a família de Venkata do Vaishnavismo Ramanuja para Krishna-bhakti, junto com o filho de Venkata, um menino de dez anos chamado Gopala, que depois veio para Vrindavana e se tornou um dos seis Goswamis ou profetas servidores sob seu líder Sri Krishna Chaitanya. Treinado em sânscrito por seu tio Prabodhananda Sarasvati, Gopala escreveu vários livros sobre Vaishnavismo.

Chaitanya visitou numerosos locais no Sul da Índia até o Cabo Comorin e retornou para Puri em dois anos por Pandepura sobre o Bhima [rio]. Nesse último lugar ele espiritualizou um certo Tukarama, que então se tornou um pregador religioso ele mesmo. Esse fato foi admitido em seus abhangas [poemas devocionais] que foram coletados em um volume pelo Sr. Satyendra Nath Tagore do Bombay Civil Service. Durante sua jornada, ele teve discussões com Budistas, os Jains e os Mayavadis em diversos lugares e converteu seus oponentes ao Vaishnavismo.

Depois de seu retorno a Puri, Raja Prataparudra-deva e diversos brahmanas pandita aderiram à bandeira de Chaitanya Mahaprabhu. Ele estava agora com vinte e sete anos de idade. Em seu vigésimo oitavo ano ele foi para Bengala até Gauda em Malda. Lá ele resgatou dois grandes personagens chamados Rupa e Sanatana. Apesar de descenderem das linhagens dos brahmanas Karnatic, esses dois irmãos se tornaram meio-islâmicos por seu contato contínuo com Hussain Shah, o então Imperador de Gauda. Seus nomes foram mudados pelo Imperador para Dabira Khasa e Sakara Mallika, e seu senhor os amava de coração porque os dois eram versados em Persa, Árabe e Sânscrito e eram servos leais do estado. Os dois cavalheiros não encontraram um caminho para voltarem a ser Hindus regulares e escreveram para Mahaprabhu por ajuda espiritual enquanto ele estava em Puri. Mahaprabhu escreveu em resposta que iria até eles e os desenredaria de suas dificuldades espirituais. Agora que ele veio a Gauda, ambos irmãos apareceram perante ele com seu louvor de longa duração. Mahaprabhu os ordenou para irem a Vrindavana e encontrá-lo lá.

Chaitanya retornou a Puri através de Shantipura, onde ele novamente encontrou sua querida mãe. Depois de uma curta estadia em Puri ele partiu para Vrindavana. Dessa vez, ele estava acompanhado do Balabhadra Bhattacharya. Ele visitou Vrindavana e desceu para Prayaga (Allahabad), e converteu um grande número de Islamitas para o Vaishnavismo com argumento do Alcorão. Os descendentes desses convertidos ainda são conhecidos como Pathana Vaishnavas. Rupa Goswami se encontrou com ele em Allahabad. Chaitanya o treinou em espiritualidade por dez dias e o direcionou para ir a Vrindavana em missões. Sua primeira missão era escrever obras teológicas para explicar cientificamente bhakti e prema puros. A segunda missão era reviver os locais onde Krishnachandra no fim de Dwapara-yuga exibiu Seu lila espiritual (passatempos) para o benefício do mundo religioso. Rupa Goswami partiu de Allahabad para Vrindavana, e Mahaprabhu veio para baixo a Benares. Lá ele residiu na casa de Chandrashekhara e aceitou sua bhiksa (refeição) diária na casa de Tapana Mishra. Ali que Sanatana Goswami se uniu a ele e recebeu instrução por dois meses em assuntos espirituais. Os biógrafos, especialmente Krishnadasa Kaviraja, nos deram detalhes dos ensinamentos de Chaitanya para Rupa e Sanatana. Krishnadasa não era um escritor contemporâneo, mas ele coletou sua informação dos Goswamis em pessoa, os discípulos diretos de Mahaprabhu. Jiva Goswami, que era um primo de Sanatana e Rupa e foi quem nos deixou sua obra inestimável o Sat-sandarbha, filosofou sobre os preceitos de seu grande líder. Nós coletamos e sumarizamos os preceitos de Chaitanya dos livros desses grandes escritores.

Enquanto em Benares, Chaitanya teve uma entrevista com os sannyasis eruditos dessa cidade na casa de um brahmana Maratha que convidou todos os sannyasis para entretenimento. Nessa entrevista, Chaitanya exibiu um milagre que atraiu todos os sannyasis para ele. Então assegurou conversação recíproca. Os sannyasis eram liderados pelo seu mais erudito líder Prakashananda Sarasvati. Depois de uma pequena controvérsia, eles se submeteram a Mahaprabhu e admitiram que foram desviados pelos comentários de Shankaracharya. Era impossível até mesmo para intelectuais eruditos se oporem a Chaitanya por um longo tempo, pois havia algum encanto nele que tocava seus corações e os fazia chorar por causa de seu aperfeiçoamento espiritual. Os sannyasis de Benares logo caíram aos pés de Chaitanya e pediram por sua graça (krpa). Chaitanya então pregou bhakti pura e induziu em seus corações amor espiritual por Krishna que os obrigou a abandonar sentimentos sectários. Toda a população de Benares, nessa maravilhosa conversação dos sannyasis, converteram-se Vaishnavas, e fizeram um sankirtana mestre com seu novo Senhor. Depois de mandar Sanatana para Vrindavana, Mahaprabhu foi para Puri novamente através das selvas com seu camarada Balabhadra. Balabhadra relatou que Mahaprabhu exibiu uns bons muitos milagres em seu caminho para Puri, tais quais fazer tigres e elefantes dançarem ao ouvirem o nome de Krishna.

Desse tempo, é isso, a partir de seu 31º ano, Mahaprabhu continuamente viveu em Puri na casa do Kashi Mishra até seu desaparecimento em seu quadragésimo oitavo ano na hora do sankirtana no templo de Tota-gopinatha. Durante esses dezoito anos sua vida era unicamente amor e piedade fixos. Ele estava rodeado de inúmeros seguidores, todos os quais eram da mais alta ordem dos Vaishnavas e eram distintos das pessoas comuns por seu caráter do mais puro e conhecimento, princípios religiosos firmes e amor espiritual de Radha-Krishna. Swarupa Damodara, que era conhecido como Purushottamacharya enquanto estava em Nadia, se juntou a ele em Benares e aceitou serviço como seu secretário. Nenhuma produção de qualquer poeta ou filósofo podia ser levada a Mahaprabhu a menos que Swarupa a aprovasse como pura e útil. Raya Ramananda era seu segundo companheiro. Tanto ele quanto Swarupa cantavam enquanto Mahaprabhu expressava seus sentimentos num certo ponto de adoração. Paramananda Puri era seu ministro em matérias de religião. Existem centenas de anedotas descritas por seus biógrafos as quais não achamos que seja adequado reproduzi-las aqui. Mahaprabhu dormia pouco. Seus sentimentos o carregavam longe e amplamente no firmamento da espiritualidade cada dia e noite, todos os seus admiradores o observavam por toda parte. Ele adorava, comunicava-se com seus missionários de Vrindavana, e conversava com aqueles homens religiosos que vinham recentemente para visitá-lo. Ele cantava e dançava, não cuidava de si mesmo e freqüentemente se perdia em beatitude religiosa. Todos que vinham a ele acreditavam nele como o todo-belo Deus que apareceu no mundo inferior para o benefício da humanidade. Ele amava sua mãe durante todo o tempo e mandava mahaprasada para ela agora e sempre por aqueles que iam para Nadia. Ele era o mais amável por natureza. Humildade era personificada nele. Sua doce aparência dava alegria para todos que vinham em contato com ele. Ele nomeou Prabhu Nityananda como o missionário encarregado da Bengala. Ele despachou seis discípulos (Goswamis) para Vrindavana para pregar amor na parte interior do país. Ele puniu todos os seus discípulos que se desviaram da vida sagrada. Isso ele acentuadamente fez no caso de Haridasa Júnior. Ele nunca faltou em dar instruções próprias na vida para aqueles que as solicitaram. Isso será visto nos seus ensinamentos para Raghunatha dasa Goswami. Seu tratamento para Haridasa (sênior) mostrará como ele amava homens espirituais e como ele desafiou distinção de casta na irmandade espiritual.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

 

Missão do Senhor Chaitanya

O Senhor Chaitanya Mahaprabhu instruiu Seus discípulos para escreverem livros sobre a Ciência de Krishna, uma tarefa a qual aqueles que O seguem continuam a cumprir até o dia presente. As elaborações e exposições sobre a filosofia ensinada pelo Senhor Chaitanya são de fato as mais volumosas, exatas e consistentes devido ao sistema de sucessão discipular. Apesar do Senhor Chaitanya ser amplamente renomado como intelectual em Sua juventude, Ele deixou somente oito versos, chamados Shikshastaka. Esses oito versos claramente revelam Sua missão e preceitos. Estas preces supremamente preciosas são traduzidas aqui.

1.

Glória a Sri Krishna sankirtana, que limpa o coração de toda poeira acumulada por anos e extingue o fogo da vida condicionada, de repetido nascimento e morte. Este movimento sankirtana é a bênção primordial para humanidade em geral porque propaga os raios da lua da bênção. É a vida do conhecimento transcendental. Ele incrementa o oceano de bem-aventurança transcendental, e nos habilita a saborear plenamente o néctar pelo qual nós estamos sempre ansiosos.

2.

Ó meu Senhor, somente Seu santo nome pode conceder toda bênção para os seres vivos, e assim Você possui centenas de milhões de nomes tais quais Krishna e Govinda. Nesses nomes transcendentais Você investiu todas Suas energias transcendentais. Nem mesmo existem regras rígidas e difíceis para cantar esses nomes. Ó meu Senhor, por Sua bondade, Você nos capacita a nos aproximarmos de Você pelos Seus santos nomes, mas eu sou tão desafortunado que não tenho nenhuma atração por eles.

3.

Deve-se cantar o santo nome do Senhor num estado mental humilde, por se considerar mais inferior que a palha na rua; deve-se ser mais tolerante do que uma árvore, desprovido de todo senso de prestígio falso e deve estar pronto para oferecer todo respeito aos outros. Nesse estado mental pode-se cantar o santo nome do Senhor constantemente.

4.

Ó Senhor todo-poderoso, não tenho desejo de acumular riqueza, nem desejo belas mulheres, nem eu quero nenhum número de seguidores. Eu só quero Seu serviço devocional sem causa nascimento após nascimento.

5.

Ó filho de Maharaja Nanda [Krishna], sou Seu servo eterno, mesmo assim de uma forma ou outra eu caí no oceano de nascimento e morte. Por favor resgate-me deste oceano de morte e coloque-me como um dos átomos em Seus pés de lótus.

6.

Ó meu Senhor, quando meus olhos estarão decorados com lágrimas de amor a fluir constantemente quando eu cantar Seu santo nome? Quando minha voz ficará embargada, quando os pêlos do meu corpo se arrepiarão com a recitação do Seu nome?

7.

Ó Govinda! Por sentir Sua separação, eu considero um momento igual a doze anos ou mais. Lágrimas escorrem dos meus olhos como torrentes de chuva, e eu sinto tudo vazio no mundo na Sua ausência.

8.

Eu não conheço ninguém além de Krishna como Meu Senhor, e Ele permanecerá assim mesmo se Ele me tratar proximamente com Seu abraço ou partir meu coração por não estar presente perante mim. Ele é completamente livre para fazer qualquer coisa e tudo, porque Ele é sempre meu Senhor adorado incondicionalmente.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Introdução

[Proferida originalmente como cinco aulas matinais sobre o Chaitanya Charitamrita - a biografia autorizada do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, por Krishnadasa Kaviraja Goswami - perante a International Society for Krishna Consciousness, Cidade de Nova York, 10 a 14 de abril de 1967].

A palavra caitanya significa força viva. Porque somos seres vivos, podemos nos mover, mas uma mesa não pode porque não possui força viva. Movimento e atividades podem ser considerados sinais ou sintomas de força viva. De fato, pode-se dizer que não pode haver nenhuma atividade sem a força viva. Apesar da força viva estar presente na condição material, não é amrta, imortal. As palavras caitanya-caritamrta, então, podem ser traduzidas como "o caráter da força viva em imortalidade".

Mas como essa força viva exibiu imortalidade? Não é exibida por humano ou qualquer outra criatura neste universo material, porque nenhum de nós é imortal nestes corpos. Nós possuímos a força viva, nós executamos atividades, e nós somos imortais por natureza e constituição, mas a condição material na qual fomos postos não permite que a nossa imortalidade seja exibida. É afirmado no Katha Upanishad que eternidade e força viva pertencem tanto a nós mesmos quanto a Deus. Apesar de ser verdade que ambos Deus e nós mesmos somos imortais, existe uma diferença. Como seres vivos, nós executamos muitas atividades, mas nós temos uma tendência para cair dentro da natureza material. Deus não tem essa tendência. Porque é todo-poderoso, Ele nunca vem sob o controle da natureza material. Na realidade, natureza material é apenas um exibição de Suas energias inconcebíveis.

Do chão, nós só podemos ver nuvens no céu, mas se voarmos acima das nuvens, podemos ver o Sol brilhar. Do céu, arranha-céus e cidades são vistos muito pequenos; similarmente da posição de Deus esta criação material inteira é insignificante. A tendência do ser vivo condicionado é descer das alturas de onde tudo pode ser visto em perspectiva. Deus, entretanto, não tem essa tendência. O Supremo Senhor não é sujeito a queda na ilusão (maya) não mais que o Sol é sujeito a cair abaixo das nuvens. Porque o Supremo Senhor não é sujeito a ilusão, Ele é incondicionado; porque nós, somos propensos a cair na ilusão, nós somos chamados condicionados. Filósofos impersonalistas (Mayavadi) mantêm que ambos o ser vivo e o Próprio Deus estão sob o controle de maya quando vêm a este mundo material. Isso pode ser verdade para o ser vivo, mas não é verdade para Deus, porque em todas as instâncias a energia material trabalha sob Sua direção. Aqueles que consideram o Supremo Senhor como sujeito ao condicionamento material são chamados de tolos pelo Próprio Krishna no Bhagavad-gita:

Bg. 9.11
avajananti mam mudha
manusim tanum asritam
param bhavam ajananto
mama bhuta-mahesvaram

"Os tolos Me menosprezam quando Eu descendo em forma humana. Eles não conhecem Minha natureza transcendental e Meu domínio supremo sobre tudo que existe".

O Senhor Chaitanya Mahaprabhu não deve ser considerado um de nós. Ele é o Próprio Krishna, o ser vivo supremo, e por isso Ele nunca vem abaixo da nuvem de maya. Krishna, Suas expansões, e mesmo Seus devotos superiores nunca caem nas garras da ilusão. O Senhor Chaitanya veio à Terra simplesmente para pregar Krishna-bhakti, amor de Krishna. Em outras palavras, Ele é o Senhor Krishna em Pessoa que ensina os seres vivos o modo apropriado de se aproximar de Krishna. Ele é como um professor que, ao ver um estudante indo mal, pega o lápis e escreve, e diz, "Faça assim desse jeito: A, B, C". Por isso, ninguém deve pensar tolamente que o professor está aprendendo seu ABC. Apesar de Ele aparecer no disfarce de um devoto, nós temos que lembrar sempre que o Senhor Chaitanya é Krishna (Deus) em Pessoa que nos ensina como nos tornarmos conscientes de Krishna, e devemos estudá-Lo nessa luz.

No Bhagavad-gita o Senhor Krishna apresenta o princípio religioso mais elevado deste modo:

Bg. 18.66
sarva-dharman parityajya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah

"Abandone todas variedades de religião e simplesmente se renda a Mim. Eu vou libertá-lo de toda reação pecaminosa. Não tema".

Isso pode parecer uma instrução simples para seguir, mas invariavelmente nossa reação é, "Ó, render-se? Abandonar? Mas eu tenho tantas responsabilidades". E maya, ilusão, nos diz, "Não faça isso, ou você ficará fora das minhas garras. Justamente fique em minhas garras, e eu o chutarei". É um fato que estamos sempre sendo chutados por maya, justamente igual o asno macho que recebe coices na face da fêmea asno quando ele vem para sexo. Similarmente, gatos e cães sempre brigam e ganem quando têm sexo. Esses são os embustes da natureza. Até mesmo um elefante na selva é capturado pelo uso de uma elefanta treinada que o conduz a um fosso. Maya tem muitas atividades, e no mundo material sua algema mais forte é a fêmea. Claro que na realidade nós não somos nem feminino nem masculino, porque essas designações se referem somente à vestimenta externa, o corpo. Nós somos na realidade servos de Krishna. Na vida condicionada, entretanto, nós somos algemados com as correntes de ferro que tomam a forma de belas mulheres. Por isso todo macho é preso pela vida sexual, e por isso quando alguém tenta obter liberação das garras materiais, deve primeiro aprender a controlar o desejo sexual. Sexo irrestrito põe a pessoa plenamente nas garras da ilusão. O Senhor Chaitanya Mahaprabhu oficialmente renunciou essa ilusão com a idade de vinte e quatro, apesar de Sua esposa ter dezesseis e Sua mãe setenta, e Ele era o único membro masculino da família. Apesar de Ele ser um brahmana e não era rico, Ele aceitou sannyasa, a ordem de vida da renúncia, e assim Se libertou do enredamento familiar.

Se desejamos nos tornar plenamente conscientes de Krishna, temos que abandonar as algemas de maya, ou, se nós permanecemos com maya, devemos viver de modo tal que não seremos sujeitos à ilusão. Não é necessário a pessoa abandonar sua família, porque havia muitos casados entre os devotos mais íntimos do Senhor Chaitanya. O que tem de ser renunciada é a propensão para desfrute material. Apesar do Senhor Chaitanya ter aprovado um pai de família ter sexo regulado no casamento, Ele era muito estrito com aqueles na ordem da renúncia, e Ele até mesmo baniu Haridasa júnior por olhar luxuriosamente para uma jovem mulher. O ponto é que a pessoa tem que seguir um caminho particular e fixar-se nele, por obedecer as regras e regulamentos necessários para o sucesso na vida espiritual. Era a missão do Senhor Chaitanya que Ele ensinasse o caminho da Consciência de Krishna para toda a humanidade e assim habilitá-los a compartilhar a imortalidade da vida espiritual.

Do Chaitanya Charitamrita nós aprendemos como Chaitanya ensinou as pessoas a se tornarem imortais, e por isso o título pode ser propriamente traduzido como "o caráter imortal da força viva". A suprema força viva é a Suprema Personalidade de Deus. Ele também é a entidade suprema. Existem inúmeros seres vivos, e todos eles são individuais. Isto é muito fácil de entender: Nós somos todos individuais em pensamento e desejos, e o Supremo Senhor também é uma pessoa individual. Ele é diferente, apesar, em que Ele é o líder, aquele o qual ninguém pode excedê-Lo. Entre os seres vivos criados, um ser pode superar outro em uma capacidade ou outra. O Senhor é um indivíduo, justamente igual os seres vivos são individuais, mas Ele é diferente porque Ele é o supremo individual. Deus também é infalível, no Bhagavad-gita o Senhor é chamado de Achyuta, significa que, "Ele nunca cai". Isso é indicado porque no Bhagavad-gita Arjuna caiu em ilusão mas Krishna não. Nós ouvimos com freqüência que Deus é infalível, e no Bhagavad-gita Krishna afirma:

Bg. 14.19
nanyam gunebhyah kartaram
yada drastanupasyati
gunebhyas ca param vetti
mad-bhavam so 'dhigacchati

"Quando você enxergar que não existe nada além desses modos da natureza em todas atividades e que o Supremo Senhor é transcendental a todos esses modos, então poderá conhecer Minha natureza espiritual".

Assim nós não devemos pensar que Krishna é dominado pela potência material quando Ele está no mundo material. Krishna e Suas encarnações não estão sob o controle da natureza material. Eles são totalmente livres. Na verdade, no Srimad Bhagavatam aquele que possui uma natureza divina é realmente definido como aquele que não é afetado pelos modos da natureza material, embora na natureza material. Se até mesmo um devoto pode alcançar essa liberdade, o que falar então do Supremo?

A questão real é como nós podemos permanecer impolutos pela contaminação material enquanto no mundo material. Foi Rupa Goswami quem explicou que nós podemos permanecer incontaminados enquanto no mundo se nós simplesmente fizermos nossa ambição servir Krishna. Pode-se então perguntar justificadamente, "Como posso servir"? Obviamente isso não é simplesmente uma matéria de meditação, que é justamente uma atividade da mente, mas de trabalho prático. Amor pelo serviço de Krishna só pode ser obtido por trabalhar para Krishna. Nesse trabalho, não devemos deixar nenhum recurso sem ser usado. Qualquer coisa que esteja lá, qualquer coisa que tenhamos, deve ser usada para Krishna. Nós podemos até mesmo usar máquinas de escrever, automóveis, aviões, mísseis - qualquer coisa. Se nós simplesmente falarmos para as pessoas sobre Consciência de Krishna, nós também prestamos serviço. Se nossas mentes, sentidos, fala, dinheiro e energias estão assim dedicados no serviço de Krishna, não podemos ser considerados como existentes na natureza material. Por virtude da consciência espiritual, ou Consciência de Krishna, nós transcendemos a plataforma da natureza material. É um fato que Krishna, Suas expansões e Seus devotos - isto é, aqueles que trabalham para Ele - não estão na natureza material, apesar de pessoas com um pobre fundo de conhecimento acharem que estão.

O Chaitanya Charitamrita ensina que a alma espiritual é imortal e que nossas atividades no mundo espiritual também são imortais. Os Mayavadis, que sustentam a visão de que o Absoluto é impessoal e sem forma, argumentam que uma alma auto-realizada não tem necessidade de falar. Todavia, os Vaishnavas, que são devotos de Krishna, defendem que quando alguém alcança o estágio da realização, ele realmente começa a falar. "Previamente nós só falávamos de absurdos", diz o Vaishnava. "Agora, comecemos nossas verdadeiras falas, falas sobre Krishna". Os Mayavadis também gostam do exemplo do pote de água, que mantém quando um pote não está cheio de água, ele produz um som, mas quando está cheio, ele não produz nenhum som. Mas nós somos potes de água? Como podemos ser comparados a eles? Uma boa analogia utiliza o máximo de similaridades possíveis entre dois objetos. Um pote de água não é uma força viva ativa, mas nós somos. Meditação silenciosa perene pode ser adequada para um pote de água, mas não para nós. De fato, quando alguém realizou que tem tanto para dizer sobre Krishna, vinte e quatro horas por dia não é suficiente. O tolo que é celebrado enquanto ele não falar, mas quando ele quebra seu silêncio, sua carência de conhecimento é exposta. O Chaitanya Charitamrita mostra que existem muitas coisas maravilhosas para descobrir por glorificar o Supremo.

No começo do Chaitanya Charitamrita, Krishnadasa Kaviraja Goswami escreve: "Eu ofereço meus respeitos aos meus mestres espirituais". Ele usa o plural aqui para indicar a sucessão discipular. Não é que ele oferece reverências a seu mestre espiritual somente mas para o parampara inteiro, a corrente de sucessão discipular que começa com o Próprio Senhor Krishna. Por isso o guru é chamado no plural para mostrar o grande respeito do autor por todos os Vaishnavas. Depois de oferecer reverências à sucessão discipular, o autor presta reverências para todos os outros devotos, irmãos espirituais, as expansões do Supremo e a primeira manifestação da energia de Krishna. O Senhor Chaitanya Mahaprabhu (às vezes chamado de Krishna Chaitanya) é a corporificação de todos esses; Ele é Deus, guru, devoto e expansão de Deus. Como Seu associado, Nityananda, Ele é a primeira manifestação de energia; como Adwaita, Ele é uma encarnação; como Gadadhara, Ele é a potência interna; e como Shrivasa, Ele é o ser vivo marginal. Assim Krishna não deve nunca ser considerado sozinho mas deve ser considerado como eternamente existente com todas Suas manifestações, como descrito por Ramanujacharya. Na filosofia visistadvaita, as energias de Deus, expansões e encarnações são consideradas unidade na diversidade. Em outras palavras, Deus não é separado dessas energias, tudo junto é Deus.

Na realidade, o Chaitanya Charitamrita não é destinado ao noviço, porque é o estudo pós-graduado do conhecimento espiritual. Idealmente, começa-se com e avança-se através do Srimad Bhagavatam para o Chaitanya Charitamrita. Apesar de todas essas grandes escrituras estarem no nível absoluto, para o propósito de estudo comparativo o Chaitanya Charitamrita é considerado como situado na plataforma mais elevada. Cada verso em si é perfeitamente composto. De fato, o Senhor Chaitanya e Nityananda são comparados ao Sol e à Lua no sentido que Eles dissipam a escuridão do mundo material. Nesse exemplo, tanto o Sol quanto a Lua surgiram juntos, e é apropriado oferecer reverências diretamente para o Senhor Chaitanya e Nityananda.

No mundo Ocidental onde as glórias do Senhor Chaitanya são relativamente desconhecidas, pode-se perguntar, "Quem é Krishna Chaitanya"? A conclusão das escrituras em resposta a essa pergunta é que Ele é a Suprema Personalidade de Deus. Geralmente nos Upanishads a Suprema Verdade Absoluta é descrita de uma forma impessoal, mas o aspecto pessoal da Verdade Absoluta é mencionado no Ishopanishad, onde, depois de uma descrição do todo-penetrante, encontramos o seguinte verso:

hiranmayena patrena
satyasyapihitam mukham
tat tvam pusann apavrnu
satya-dharmaya drstaye

"Ó meu Senhor, sustentador de todas as vidas, Sua verdadeira face está coberta por Seu esplendor deslumbrante. Bondosamente remova essa cobertura e exiba-Se para Seu devoto puro". (Sri Ishopanishad, Mantra 15)

Os impersonalistas não têm o poder para ir além da refulgência de Deus e chegar à personalidade de quem essa refulgência emana. No fim do Ishopanishad, todavia, há um hino para a Personalidade de Deus. Não é que o Brahman impessoal é negado; também é descrito, mas esse Brahman é considerado como a refulgência deslumbrante do corpo de Chaitanya. Em outras palavras, Krishna Chaitanya é a base do Brahman impessoal. Também é afirmado por Krishna no Bhagavad-gita que o Brahman impessoal repousa Nele (brahmano hi pratisthaham, Bg. 14.27). O Paramatma, ou Superalma, que está presente dentro do coração de todos os seres vivos e dentro de cada átomo do universo, é somente a representação parcial de Chaitanya. Krishna Chaitanya é portanto a base do Brahman e também a Suprema Personalidade de Deus. Como o Supremo, Ele é pleno em seis opulências: riqueza, fama, poder, beleza, conhecimento e renúncia. Em resumo, nós devemos saber que Ele é Krishna, Deus, e nada é igual ou maior que Ele. Não existe nenhum superior para ser concebido. Ele é a Pessoa Suprema.

Foi Rupa Goswami, um devoto confidencial ensinado por mais de dez dias continuamente pelo Senhor Chaitanya, quem escreveu:

namo maha-vadanyaya
krsna-prema-pradaya te
krsnaya krsna-caitanya-
namne gaura-tvise namah
[Cc. Madhya 19.53]

"Eu ofereço minhas respeitosas reverências ao Supremo Senhor Sri Krishna Chaitanya, que é mais magnânimo do que qualquer outro avatara, mesmo o Próprio Krishna, porque Ele concede livremente o que ninguém mais nunca deu - amor puro de Krishna".

Não é que Chaitanya ensina um longo e elaborado caminho de realização de Deus. Ele é completamente espiritual, e Ele começa do ponto da rendição a Krishna. Ele não segue os caminhos de karma-yoga ou jñana-yoga ou hata-yoga mas começa no fim da existência material, no ponto onde se abandona todo apego material. No Bhagavad-gita Krishna começa Seus ensinamentos por distinguir a alma da matéria e no Décimo Oitavo Capítulo conclui no ponto onde a alma se rende a Ele em devoção. Os Mayavadis têm toda fala cessada aí, mas nesse ponto a verdadeira discussão somente começa. É o Vedanta-sutra que começa: athato brahma jijñasa: "Agora deixe-nos inquirir sobre a Suprema Verdade Absoluta". Rupa Goswami assim elogia Chaitanya como a encarnação mais magnânima de todas, porque Ele dá o maior dos presentes por indicar a mais elevada forma de serviço devocional. Em outras palavras, Ele responde as mais importantes perguntas que qualquer um possa fazer.

Existem diferentes estágios de serviço devocional e realização de Deus. Para falar estritamente, qualquer um que aceite a existência de Deus está situado em serviço devocional. Reconhecer que Deus é grande já é alguma coisa, mas não é muito. Chaitanya, que prega como um acarya, um grande professor, ensinou que nós podemos entrar dentro de um relacionamento com Deus e realmente nos tornarmos amigo de Deus. No Bhagavad-gita Krishna mostrou Sua forma universal porque Arjuna era Seu "muito querido amigo". Mas ao ver Krishna como o Senhor dos universos, todavia, Arjuna realmente pediu para Krishna perdoar sua familiaridade com seu amigo. Chaitanya vai além desse ponto. Através do Senhor Chaitanya nós podemos nos tornar amigo de Krishna, e não há limite para essa amizade. Nós podemos nos tornar amigos de Krishna não em reverência e adoração mas em completa liberdade. Nós podemos até nos relacionar com Deus como Seu pai. Essa não é somente a filosofia do Chaitanya Charitamrita mas do Srimad Bhagavatam também. Não existem outras literaturas no mundo nas quais Deus é tratado como o filho de um devoto. Geralmente Deus é visto como o Pai todo-poderoso que supri as demandas de Seus filhos. Os grandes devotos, entretanto, às vezes tratam Deus como um filho na sua execução do serviço devocional. O filho demanda, e o pai supri, e por suprir para Krishna o devoto se torna igual um pai. Em vez de tirar de Deus, nós damos para Deus. Foi nesse relacionamento que a mãe de Krishna, Yashoda, falou para o Senhor, "Aqui, coma isso ou Você morrerá. Coma bem". Desse modo Krishna, apesar de proprietário de tudo, depende da misericórdia de Seu devoto. Isso é um nível excepcionalmente alto de amizade no qual o devoto realmente acredita que ele é mesmo o pai de Krishna.

Contudo, a maior dádiva do Senhor Chaitanya foi Seu ensinamento que Krishna pode ser tratado realmente como seu próprio amante. Nesse relacionamento o Senhor fica tão apegado que Ele expressa Sua inabilidade para reciprocar. Krishna tinha tanta gratidão pelas gopis, as meninas pastoras de vacas de Vrindavana, que Ele se sentia incapaz de retribuir o amor delas. "Eu não posso retribuir o amor de vocês", Ele disse a elas. "Eu não tenho mais nenhum recurso para retribuir". Assim o serviço devocional é executado nessa plataforma excelente, e conhecimento da relação do devoto com Krishna como amante e amado foi dado por Chaitanya Mahaprabhu. Nunca foi dado antes por nenhuma encarnação prévia ou acarya. Assim Rupa Goswami escreveu sobre Chaitanya: "Serviço devocional em si é a plataforma mais elevada, a gloriosa plataforma que Você contribuiu. Você é Krishna numa tonalidade amarela, Você é Shachinandana, o filho da mãe Shachi. Aqueles que ouvem Chaitanya Charitamrita manterão Você dentro de seus corações. Será fácil entender Krishna através de Você". Assim Chaitanya Mahaprabhu veio para entregar Krishna. Seu método de libertação não foi meditação, atividades lucrativas ou estudo das escrituras, mas amor.

Nós ouvimos freqüentemente a frase "amor de Deus". Quão longe esse amor de Deus pode realmente ser desenvolvido, pode ser aprendido da filosofia Vaishnava. Conhecimento teórico do amor de Deus pode ser encontrado em muitos lugares e em muitas escrituras, mas o que esse amor de Deus realmente é e como é desenvolvido pode ser encontrado nas literaturas Vaishnavas. É o único e mais elevado desenvolvimento do amor de Deus que foi dado por Chaitanya Mahaprabhu.

Mesmo neste mundo material nós podemos ter um pequeno senso de amor. Como isso é possível? Isso é devido ao amor que é encontrado no Supremo. Qualquer coisa que encontrarmos dentro de nossa experiência dentro desta vida condicionada está situada no Supremo Senhor, que é a fonte última de tudo. Em nossa relação original com o Supremo Senhor existe amor de verdade, e esse amor é refletido pervertidamente através das condições materiais. Nosso amor real é contínuo e infindável, mas porque esse amor é refletido pervertidamente neste mundo material, ele carece de continuidade e é inebriante. Se nós queremos verdadeiro amor transcendental, nós temos que transferir o nosso amor para o supremo objeto adorável - a Suprema Personalidade de Deus. Esse é o princípio básico da Consciência de Krishna.

Na consciência material nós tentamos amar aquilo que não é nenhum pouco adorável. Nós damos o nosso amor para cães e gatos, e corremos o risco de na hora da morte podemos pensar neles e conseqüentemente nascer numa família de gatos ou cães. Assim o amor que não tem Krishna como seu objeto conduz para baixo. Não é que Krishna ou Deus é algo obscuro ou algo que somente algumas pessoas escolhidas podem alcançar. Chaitanya Mahaprabhu nos informa que em cada país e em cada escritura há indicação do amor de Deus. Infelizmente ninguém sabe o que o amor de Deus é realmente. As escrituras Védicas, entretanto, são diferentes porque podem direcionar o indivíduo para o caminho próprio do amor de Deus. Outras escrituras não dão informação sobre como alguém pode amar Deus, nem elas definem realmente ou descrevem o que ou quem o Supremo realmente é. Apesar de promoverem oficialmente amor de Deus, não têm idéia de como executar isso. Mas Chaitanya Mahaprabhu dá uma demonstração prática de como amar Deus numa relação conjugal. Por adotar o papel de Radharani, Chaitanya tenta amar Krishna como Radharani amava Ele. Krishna estava sempre abismado com o amor de Radharani. "Como é que Radharani Me dá tanto prazer"? Ele perguntava. A fim de estudar Radharani, Krishna viveu no papel Dela e tentou entender Ele mesmo. Esse é o segredo da encarnação do Senhor Chaitanya. Chaitanya é Krishna, mas Ele assumiu o modo ou papel de Radharani para nos mostrar como amar Krishna. Assim Ele é chamado: "Ofereço minhas respeitosas reverências ao Supremo Senhor que está absorto nos pensamentos de Radharani".

Isso traz a questão de quem é Radharani e o que é Radha-Krishna. Na realidade, Radha-Krishna é o intercâmbio do amor. Não é amor ordinário, Krishna tem potências imensas, das quais três são principais: interna, externa e marginal. Na potência interna existem três divisões: samvit, hladini e sandhini. A potência hladini é a potência de prazer. Todos os seres vivos possuem essa potência de busca por prazer, porque todos os seres tentam ter prazer. Essa é a própria natureza do ser vivo. No presente nós tentamos desfrutar nossa potência de prazer por meio do corpo nesta condição material. Pelo contato corpóreo nós tentamos obter prazer dos objetos sensuais materiais. Nós não devemos pensar, entretanto, que Krishna, que é sempre espiritual, tenta obter prazer neste mundo material igual a nós. Krishna descreve o universo material como um lugar não permanente cheio de misérias. Por que, então, Ele procuraria prazer na forma material? Ele é a Superalma, o espírito supremo, e Seu prazer está além da concepção material.

A fim de aprender como o prazer de Krishna pode ser obtido, devemos ler o Décimo Canto do Srimad Bhagavatam no qual a potência de prazer de Krishna é exibida nos Seus passatempos com Radharani e as donzelas de Vraja. Infelizmente, pessoas pouco inteligentes vão imediatamente ao divertimento de Krishna no Dashama-skandha, o Décimo Canto. Krishna abraçar Radharani ou Sua dança com as meninas pastoras de vacas na dança rasa são geralmente não entendidos por pessoas ordinárias porque consideram esses passatempos sob a luz da luxúria mundana. Elas incorretamente acham que Krishna é igual a elas e que Ele abraça as gopis justamente igual um homem ordinário abraça uma jovem moça. Algumas pessoas por isso ficam interessadas em Krishna porque acham que a religião Dele permite satisfação sexual. Isso não é Krishna-bhakti, amor de Krishna, mas prakrta-sahajiya, luxúria material.

A fim de evitar esses erros, nós devemos entender o que Radha-Krishna realmente é. Radha e Krishna exibem Seus passatempos através da energia interna de Krishna. A potência de prazer da energia interna de Krishna é um assunto muito difícil, e a menos que a pessoa entenda o que é Krishna, não pode entendê-la. Krishna não obtém nenhum prazer deste mundo material, mas Ele tem uma potência de prazer. Porque nós somos parte e parcela de Krishna, a potência de prazer está dentro de nós também, mas nós tentamos exibir essa potência de prazer na matéria. Krishna, entretanto, não faz essa tentativa tão vã. O objeto da potência de prazer de Krishna é Radharani, e Ele exibe Sua potência ou Sua energia como Radharani e então se absorve em relacionamentos amorosos com Ela. Em outras palavras, Krishna não obtém prazer dentro desta energia externa mas exibe Sua energia interna, Sua potência de prazer, como Radharani. Assim Krishna Se manifesta como Radharani a fim de exibir Sua potência de prazer interna. Das muitas extensões, expansões e encarnações do Senhor, a potência de prazer é a principal e líder.

Não é que Radharani é separada de Krishna. Radharani também é Krishna, porque não existe diferença entre a energia e o energético. Sem energia, não há sentido para o energético, e sem energético, não há energia. Similarmente, sem Radha não há sentido para Krishna, e sem Krishna, não há sentido para Radha. Por causa disso, a filosofia Vaishnava primeiro presta reverências para e adora a potência de prazer interna do Supremo Senhor. Assim o Senhor e Sua potência são sempre referidos como Radha-Krishna. Similarmente, aqueles que adoram o nome de Narayana em primeiro lugar pronunciam o nome de Lakshmi, Lakshmi-Narayana. Similarmente, aqueles que adoram o Senhor Rama primeiro pronunciam o nome de Sita. Em qualquer caso - Sita-Rama, Radha-Krishna, Lakshmi-Narayana - a potência sempre vem primeiro.

Radha e Krishna são um, e quando Krishna quer desfrutar prazer, Ele Se manifesta como Radharani. A troca espiritual de amor entre Radha e Krishna é a verdadeira exibição da potência de prazer interna de Krishna. Apesar de falarmos de "quando" Krishna deseja, justamente quando Ele desejou não podemos dizer. Nós só falamos desse jeito porque na vida condicionada nós consideramos que tudo tem um começo; entretanto, no absoluto ou vida espiritual não tem nem começo nem fim. Mesmo assim com o propósito de entender que Radha e Krishna são um e Eles também ficaram divididos, a questão "Quando"? automaticamente vem à mente. Quando Krishna desejou desfrutar Sua potência de prazer, Ele Se manifestou na forma separada de Radharani, e quando Ele quis entender Ele mesmo através da agência de Radha, Ele Se uniu a Radharani, e essa unificação se chama Senhor Chaitanya.

Por que Krishna assume a forma de Chaitanya Mahaprabhu? É explicado que Krishna desejou conhecer a glória do amor de Radha. "Por que Ela é tão apaixonada por Mim"? Krishna perguntou. "Qual é a Minha qualificação especial que A atrai tanto? E qual o verdadeiro modo com o qual Ela Me ama"? Pode parecer estranho que Krishna, que é o Supremo, fique atraído pelo amor de alguém. Nós procuramos o amor de uma mulher ou de um homem porque somos imperfeitos e falta algo. O amor de uma mulher, essa potência e prazer, é ausente no homem, portanto um homem quer uma mulher, mas esse não é o caso com Krishna, que é pleno em Si mesmo. Por isso Krishna expressou surpresa: "Por que estou atraído a Radharani? E quando Radharani sente Meu amor, o que Ela realmente sente"? Com o propósito de saborear a essência desse caso amoroso, Krishna apareceu justamente igual a Lua aparece no horizonte do mar. Justamente igual a Lua foi produzida do bater do oceano, pelo bater dos casos amorosos espirituais a Lua de Chaitanya Mahaprabhu apareceu. De fato, a tonalidade de Chaitanya era dourada, igual à Lua. Apesar de ser em linguagem figurada, transmite o significado por trás do aparecimento de Chaitanya Mahaprabhu. O significado completo de Seu aparecimento será explicado em capítulos posteriores.

As manifestações do Supremo também são explicadas no Chaitanya Charitamrita. Depois de oferecer respeitos ao Senhor Chaitanya, Krishnadasa Kaviraja depois os oferece a Nityananda. Ele explica que Nityananda é uma manifestação de Sankarshana, que é a origem de Maha-Vishnu. A primeira manifestação de Krishna é Balarama e depois Sankarshana, e depois de Sankarshana Ele é manifesto como Pradyumna. Dessa forma tantas expansões acontecem. Apesar de existirem muitas expansões, o Senhor Sri Krishna é a origem, como confirmado no Brahma-samhita. Ele é a vela original de onde muitos milhares e milhões de velas são acesas. Apesar de qualquer número de velas poder ser aceso, a vela original ainda mantém sua identidade como a origem. Desse modo, Krishna Se expande em tantas luzes, e todas essas expansões são chamadas Vishnu-tattva. Vishnu é uma luz grandiosa, e nós somos pequenas luzes, mas todos são expansões de Krishna.

Quando é necessário criar o universo material, Vishnu Se expande como Maha-Vishnu. Esse Maha-Vishnu deita no Oceano Causal e exala todos os universos de Suas narinas. Assim de Maha-Vishnu e do Oceano Causal todos os universos brotam, e todos esses universos flutuam no Oceano Causal. A esse respeito existe a história de Vamana, que, quando Ele deu três passos, tocou Seu pé através da cobertura do universo. Água do Oceano Causal fluiu pelo buraco que Seu pé fez, e é dito que esse fluxo de água se tornou o Rio Ganges. Por isso o Ganges é aceito como a mais sagrada água de Vishnu e é adorado por todos Hindus desde os Himalayas abaixo até a Baía da Bengala.

Esse Maha-Vishnu que deita no Oceano causal é na realidade uma expansão de Balarama, que é a primeira expansão de Krishna, e nos passatempos de Vrindavana, é o irmão de Krishna. No maha-mantra Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, a palavra Rama se refere a Balarama. Porque Nityananda é uma expansão de Balarama, Rama também se refere ao Senhor Nityananda. Assim Hare Krishna, Hare Rama chamam não somente Krishna e Balarama mas também o Senhor Chaitanya e Nityananda.

O assunto do Chaitanya Charitamrita primeiramente lida com o que está além desta criação material. A expansão cósmica material se chama maya porque não tem existência eterna. Porque é às vezes manifesta e às vezes não manifesta, é considerada ilusória. Mas além desta manifestação temporária existe uma natureza superior, como indicado no Bhagavad-gita:

paras tasmat tu bhavo 'nyo
'vyakto 'vyaktat sanatanah
yah sa sarvesu bhutesu
nasyatsu na vinasyati

"Todavia, existe outra natureza, que é eterna e é transcendental a esta matéria manifesta e não manifesta. É suprema e nunca é aniquilada. Quando tudo neste mundo é aniquilado, aquela parte permanece como é". (Bg. 8.20).

Essa natureza superior está além da manifesta (vyaktah) e imanifesta (avyaktah). Essa natureza superior que está além tanto da criação quanto da aniquilação é a força viva que é manifesta nos corpos de todos os seres vivos. O corpo em si é composto de natureza inferior, matéria, mas é a natureza superior que faz o corpo mover. O sintoma dessa natureza superior é consciência. Assim no mundo espiritual, onde tudo é composto de natureza superior, tudo é consciente. No mundo material objetos inanimados não são conscientes, mas no mundo espiritual não é assim. Lá uma mesa é consciente, a terra é consciente, as árvores são conscientes - tudo é consciente.

Não é possível imaginar quão longe esta manifestação material se estende. No mundo material tudo é calculado por imaginação ou por algum método imperfeito, mas literaturas Védicas dão informação do que está além do universo material. Aqueles que acreditam em conhecimento experimental podem duvidar das conclusões Védicas, porque eles não podem calcular nem mesmo quão longe este universo se estende, nem eles podem alcançar longe dentro do próprio universo em si. Não é possível obter informação de nada além desta natureza material por meios experimentais. Aquilo que está além do nosso poder de concepção se chama acintya, inconcebível. É inútil argumentar ou especular sobre o que é inconcebível. Se é verdadeiramente inconcebível, não é sujeito a especulação ou experimentação. Nossa energia é limitada, e nossa percepção sensorial é limitada; portanto nós devemos contar com as conclusões Védicas a respeito desse assunto que é inconcebível. Conhecimento da natureza superior deve simplesmente ser aceito sem argumento. Como é possível argumentar sobre algo que nós não temos acesso? O método para compreender assunto transcendental é dado pelo Senhor Krishna Pessoalmente no Bhagavad-gita, onde Krishna diz para Arjuna no começo do Quarto Capítulo:

sri bhagavan uvaca
imam vivasvate yogam
proktavan aham avyayam
vivasvan manave praha
manur iksvakave 'bravit

"Eu ensinei esta ciência imperecível do yoga ao deus do Sol, Vivasvan, e Vivasvan a ensinou para Manu, o pai da humanidade, e Manu por sua vez a ensinou para Iksvaku". (Bg. 4.1).

Esse é o método de parampara, ou sucessão discipular. Similarmente, no Srimad Bhagavatam, Krishna transmitiu conhecimento dentro do coração de Brahma, a primeira criatura criada dentro do universo. Brahma transmitiu aquelas lições a seu discípulo Narada, e Narada transmitiu esse conhecimento para seu discípulo, Vyasadeva. Vyasadeva o transmitiu para Madhwacharya, e de Madhwacharya o conhecimento veio abaixo até Madhavendra Puri, para Ishvara Puri e dele para Chaitanya Mahaprabhu.

Pode-se perguntar se Chaitanya Mahaprabhu é o Próprio Krishna, então por que Ele precisou de um mestre espiritual? É claro que Ele não precisava de um mestre espiritual, mas porque Ele fazia o papel de acarya (aquele que ensina pelo exemplo), aceitou um mestre espiritual. Mesmo o Próprio Krishna aceitou um mestre espiritual, porque assim é o sistema. Desse modo o Senhor estabelece o exemplo para a humanidade. Nós não devemos pensar, entretanto, que o Senhor aceita um mestre espiritual porque está com falta de conhecimento. Ele simplesmente enfatiza a importância da aceitação de um mestre espiritual. O conhecimento dessa sucessão discipular na realidade vem do Senhor em Pessoa, e se o conhecimento descende intacto, é perfeito. Apesar de não estarmos em contato com a personalidade original que primeiro transmitiu o conhecimento, nós podemos receber o mesmo conhecimento por esse processo de transmissão. No Srimad Bhagavatam, é afirmado que Krishna, a Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, transmitiu conhecimento dentro do coração de Brahma. Esse então é um modo que o conhecimento é recebido - através do coração. Então existem dois processos pelos quais se pode receber conhecimento: Um depende da Suprema Personalidade de Deus, que está situado como a Superalma dentro do coração de todos os seres vivos, e o outro depende do guru ou mestre espiritual, que é uma expansão de Krishna. Assim Krishna transmite informação tanto de dentro quanto de fora. Nós simplesmente temos que recebê-la. Se conhecimento é recebido desse modo, não importa se é inconcebível ou não.

No Srimad Bhagavatam há uma grande quantidade de informação dada sobre os sistemas planetários Vaikuntha que estão além do universo material. Similarmente, uma grande quantidade de informação inconcebível é dada no Chaitanya Charitamrita. Qualquer tentativa de chegar até essa informação através de conhecimento experimental não é possível. O conhecimento simplesmente tem que ser aceito. De acordo com o método Védico, sabda, ou som transcendental, é considerado evidência. Som é muito importante no entendimento Védico, porque, se for puro, é aceito como autoridade. Mesmo no mundo material nós aceitamos uma grande quantidade de informação que é enviada milhares de milhas por telefone ou rádio. Dessa forma nós também aceitamos som como evidência em nossas vidas diárias. Apesar de não podermos ver o informante, nós aceitamos a informação como válida com base do som. Vibração sonora portanto é muito importante na transmissão do conhecimento Védico.

Os Vedas nos informam que além da manifestação cósmica existem planetas extensos e o céu espiritual. Esta manifestação material é considerada como só uma porção pequena da criação total. A manifestação material inclui não somente este universo mas inumeráveis outros universos também, porém todos os universos materiais combinados compreendem só uma fração da criação total. A maioria da criação está situada no céu espiritual. Nesse céu, inumeráveis planetas flutuam, e são chamados Vaikunthalokas. Em cada Vaikunthaloka, Narayana preside na forma de Suas expansões com quatro braços: Sankarshana, Pradyumna, Aniruddha e Vasudeva.

Como afirmado antes, os universos materiais são manifestos pelo Senhor na forma de Maha-Vishnu. Justamente igual um esposo e esposa combinam para gerar descendência, o Maha-Vishnu combina com Sua esposa Maya, ou natureza material. Isso também é confirmado no Bhagavad-gita onde Krishna afirma:

sarva-yonisu kaunteya
murtayah sambhavanti yah
tasam brahma mahad yonir
aham bija-pradah pita

"Deve-se entender que todas espécies de vida, ó filho de Kunti, tornam-se possíveis pelo nascimento nesta natureza material, e Eu sou o pai que dá a semente". (Bg. 14.4)

Vishnu fecunda Maya ou natureza material simplesmente por olhar para ela. Esse é o método espiritual. Materialmente nós somos limitados a fecundar por só uma parte particular do nosso corpo, mas o Supremo Senhor, Krishna ou Maha-Vishnu, pode fecundar qualquer parte por qualquer parte. Simplesmente por olhar, o Senhor pode conceber incontáveis seres vivos no ventre da natureza material. O Brahma-samhita também confirma que o corpo espiritual do Supremo Senhor é tão poderoso que qualquer parte de Seu corpo pode executar as funções de qualquer outra parte. Nós só podemos tocar com nossas mãos ou pele, mas Krishna pode tocar simplesmente por olhar. Nós só podemos ver com nossos olhos, não podemos tocar ou cheirar com eles. Krishna, entretanto, pode cheirar e comer com Seus olhos. Quando alimentos são oferecidos para Krishna, nós não vemos Ele comer, mas Ele come simplesmente por olhar para a comida. Nós não podemos imaginar como as coisas funcionam no mundo espiritual onde tudo é espiritual. Não é que Krishna não come ou que nós imaginamos que Ele come; Ele realmente come, mas o comer Dele é diferente do nosso. Nosso processo de comer será similar ao Dele quando estivermos completamente na plataforma espiritual. Nessa plataforma, cada parte do corpo pode atuar em benefício de qualquer outra parte.

Vishnu não requer qualquer coisa a fim de criar. Ele não precisa da deusa Lakshmi a fim de dar nascimento a Brahma, porque Brahma nasce de uma flor de lótus que cresce do umbigo de Vishnu. A deusa Lakshmi senta aos pés de Vishnu e O serve. Neste mundo material sexo é requerido para produzir filhos, mas no mundo espiritual pode-se produzir quantas crianças quiser sem ter a ajuda de sua esposa. Porque não temos experiência com energia espiritual, pensamos que o nascimento de Brahma do umbigo de Vishnu é simplesmente uma história de ficção. Não somos cientes que a energia espiritual é tão poderosa que pode fazer qualquer coisa e tudo. Energia material depende de certas leis, mas energia espiritual é plenamente independente.

Brahma nasce do umbigo de Garbhodakashayi Vishnu, que é apenas uma manifestação parcial de Maha-Vishnu. Incontáveis universos residem iguais a sementes dentro dos poros da pele de Maha-Vishnu, e quando Ele exala, todos eles são manifestos. No mundo material, nós não temos experiência de algo assim, mas nós experimentamos um reflexo pervertido no fenômeno da transpiração. Não podemos imaginar, entretanto, a duração de uma respiração de Maha-Vishnu, porque dentro de uma respiração todos os universos são criados e aniquilados. O Senhor Brahma vive somente pela duração de uma respiração, e de acordo com nossa escala de tempo 4.320.000.000 anos constituem só doze horas de Brahma, e Brahma vive cem dos seus anos. Ainda assim, a vida inteira de Brahma é contada dentro de uma respiração de Maha-Vishnu. Por isso não é possível para nós imaginarmos o poder de respiração do Supremo Senhor. Esse Maha-Vishnu é apenas uma manifestação parcial de Krishna.

Assim Krishnadasa Kaviraja Goswami discute o Senhor Chaitanya Mahaprabhu como o Próprio Sri Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, e o Senhor Nityananda como Balarama, a primeira expansão de Krishna. Adwaitacharya, outro discípulo principal do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, é aceito como uma expansão de Maha-Vishnu, Assim Adwaitacharya também é o Senhor, ou, mais precisamente, uma expansão do Senhor. A palavra advaita significa não dual, e o nome dele é assim porque ele não é diferente do Supremo Senhor. Ele também é chamado acarya, professor, porque ele disseminou a Consciência de Krishna. Dessa forma, ele é justamente igual Chaitanya Mahaprabhu. Apesar de Chaitanya ser Sri Krishna em Pessoa, Ele aparece como um devoto para ensinar as pessoas em geral como amar Krishna. Similarmente, Adwaitacharya apareceu justamente para distribuir o conhecimento da Consciência de Krishna. Assim também ele é o Senhor encarnado como devoto. Krishna é manifesto em cinco diferentes expansões, e Ele e todos os Seus associados aparecem como devotos do Supremo Senhor na forma Sri Krishna Chaitanya, Nityananda, Adwaitacharya, Gadadhara, Shrivasa e outros. Em todos os casos, Chaitanya Mahaprabhu é a fonte de energia para todos Seus devotos. Porque esse é o caso, se nos abrigarmos em Chaitanya Mahaprabhu para a execução bem sucedida da Consciência de Krishna, nós faremos progresso com certeza. Uma canção devocional de Narottama dasa Thakura afirma: "Meu querido Senhor Chaitanya, por favor, tenha misericórdia de mim. Não existe ninguém que é tão misericordioso como Você. Meu apelo é muito urgente porque Sua missão é liberar almas caídas, e ninguém é mais caído do que eu. Eu imploro prioridade".

O autor do Sri Chaitanya Charitamrita, Krishnadasa Kaviraja Goswami, era um habitante de Vrindavana e um grande devoto. Ele vivia com sua família em Katwa, uma pequena cidade no distrito de Burdwan na Bengala. Sua família também adorava Radha-Krishna, e certa vez quando houve algum desentendimento na sua família sobre serviço devocional, Krishnadasa Kaviraja Goswami foi aconselhado por Nityananda Prabhu num sonho para deixar o lar e ir para Vrindavana. Quando ele estava lá, ele encontrou alguns dos Goswamis, discípulos principais do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Ele foi solicitado a escrever Sri Chaitanya Charitamrita pelos devotos de Vrindavana. Apesar de começar essa obra com idade muito avançada, pela graça do Senhor Chaitanya ele a acabou. Hoje permanece o livro mais autorizado sobre a filosofia e a vida de Chaitanya.

Quando Krishnadasa Kaviraja Goswami viveu em Vrindavana, não havia muitos templos. Naquela época, Madana-mohana, Govindaji e Gopinatha eram os três templos principais. Como residente de Vrindavana, ele ofereceu seus respeitos para as Deidades nesses templos e pediu o favor de Deus: "Meu progresso na vida espiritual é muito lento, por isso eu peço Sua ajuda". No Chaitanya Charitamrita, Krishnadasa primeiro oferece suas reverências a Madana-mohana vigraha, a Deidade que pode nos ajudar em Consciência de Krishna. Na execução da Consciência de Krishna, nossa primeira obrigação é conhecer Krishna e nossa relação com Ele. Para conhecer Krishna é conhecer a si mesmo, e conhecer a si mesmo é conhecer sua relação pessoal com Krishna. Porque essa relação pode ser aprendida por adorar Madana-mohana vigraha, Krishnadasa Kaviraja Goswami primeiro estabelece sua relação com Ele.

Quando isso é estabelecido, Krishnadasa começa a adorar a Deidade funcional, Govinda. Govinda reside eternamente em Vrindavana. No mundo espiritual de Vrindavana as construções são feitas de pedra filosofal, as vacas conhecidas como surabhi, dão leite em abundância, e as árvores são conhecidas como árvores que satisfazem os desejos. porque elas produzem qualquer coisa que alguém desejar. Em Vrindavana, Krishna pastoreia as vacas surabhi, e Ele é adorado por centenas de milhares de gopis, meninas pastoras de vacas, que são todas deusas da fortuna. Quando Krishna descende no mundo material, essa mesma Vrindavana descende justamente igual um séquito acompanha um personagem importante. Porque quando Krishna vem, Sua terra também vem, Vrindavana não é considerada como existente no mundo material. Assim devotos se abrigam em Vrindavana na Índia, que é considerada como uma réplica da Vrindavana original. Apesar de alguém poder reclamar que nenhuma kalpa-vrksa, árvores que satisfazem desejos, existe lá, quando os Goswamis estavam lá, a kalpa-vrksa estava presente. Não é que alguém pode simplesmente ir até tal árvore e fazer demandas, ele deve primeiro se tornar um devoto. Os Goswamis viviam embaixo de uma árvore por uma noite apenas, e as árvores satisfaziam todos os desejos deles. Para um humano comum tudo isso pode parecer muito espantoso, mas à medida que que se faz progresso no serviço devocional, tudo isso pode ser realizado.

Vrindavana é realmente experimentada como ela é por pessoas que pararam de tentar obter prazer do desfrute material. "Quando minha mente ficará limpa de toda ânsia por desfrute material para que eu seja capaz de ver Vrindavana"? Um grande devoto pergunta. Quanto mais conscientes de Krishna nos tornamos e quanto mais nós avançamos, quanto mais tudo é revelado como espiritual. Assim Krishnadasa Kaviraja Goswami considerou Vrindavana na Índia como tão boa como a Vrindavana no céu espiritual, e no Chaitanya Charitamrita, ele descreve Radharani e Krishna sentados em baixo de uma árvore que satisfaz desejos em Vrindavana num trono decorado com jóias preciosas. Os amigos queridos de Krishna, os meninos pastores de vacas e as gopis, servem Radha e Krishna por cantar, dançar, oferecer nozes de bétel e refrescos e decorar Suas Divindades com flores. Mesmo hoje em dia na Índia pessoas decoram tronos e recriam essa cena durante o mês de julho. Geralmente nessa época as pessoas vão a Vrindavana para oferecer seus respeitos às Deidades de lá.

Krishnadasa Kaviraja Goswami mantém que as Deidades de Radha e Krishna nos mostram como servir Radha e Krishna. As Deidades Madana-mohana simplesmente estabelecem que "eu sou Seu servo eterno". Com Govinda, entretanto, há aceitação real do serviço, e portanto Ele é chamado de Deidade funcional. A Deidade Gopinatha é Krishna como mestre e proprietário das gopis. Ele atraiu todas as gopis, ou meninas pastoras de vacas, pelo som da Sua flauta, e quando elas vieram, Ele dançou com elas. Todas essas atividades são descritas no Décimo Canto do Srimad Bhagavatam. Essas gopis eram amigas de infância de Krishna, e todas elas eram casadas, porque na Índia as meninas são casadas com a idade de doze anos. Os meninos, entretanto, não se casam antes dos dezoito anos assim Krishna, que tinha quinze ou dezesseis na época, não era casado. Todavia Ele chamou essas meninas de seus lares e as convidou para dançar com Ele. Essa dança se chama a dança rasa-lila, e é o mais elevado de todos os passatempos de Vrindavana. Krishna por isso é chamado de Gopinatha porque Ele é o mestre adorado das gopis.

Krishnadasa Kaviraja Goswami suplica as bênçãos do Senhor Gopinatha. "Que esse Gopinatha, o mestre das gopis, Krishna, abençoe você. Que você seja abençoado por Gopinatha". Justamente igual Krishna atrai as gopis pelo doce som de Sua flauta, o autor do Chaitanya Charitamrita ora que Ele também atraia a mente do leitor por Sua vibração transcendental. Esse é o propósito deste livro, Ensinamentos do Senhor Chaitanya, transmitir a essência dessa vibração num estudo resumido de fácil leitura.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Um

Ensinamentos para Rupa Goswami

Srila Rupa Goswami, o irmão mais novo de Sanatana Goswami, foi para Prayaga, a cidade moderna de Allahabad, com seu irmão mais novo Vallabha. Quando os dois irmãos ouviram que o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu estava lá, ambos ficaram muito felizes e foram ver o Senhor. Nesse momento, o Senhor estava em Seu caminho para visitar o templo Bindumadhava. No caminho para o templo, o Senhor cantava e dançava, e milhares de pessoas O seguiam. Algumas dessas pessoas choravam, e algumas sorriam. Algumas dançavam e algumas cantavam, e algumas caíam no chão, para oferecer reverências ao Senhor. Em todos os casos, todas elas cantavam o nome de Krishna em altos brados. É dito que apesar de estar na confluência dos rios Ganges e Yamuna, Prayaga nunca inundou até o aparecimento de Chaitanya Mahaprabhu, tempo quando a cidade foi inundada pelo amor de Krishna.

Os dois irmãos, Rupa Goswami e Vallabha, ficaram afastados num local sem aglomeração e testemunharam a grande multidão e cena maravilhosa. Quando o Senhor dançava, Ele levantava Seus braços e gritava "Haribol! Haribol"! Todas as pessoas encantadas com Ele estavam admiradas de ver Suas atividades maravilhosas. Depois de visitar o templo, o Senhor aceitou prasada (comida oferecida à Deidade) na casa de um brahmana Deccanista (do Sul). Enquanto estava na casa do brahmana, o Senhor foi visitado por Rupa Goswami e Vallabha. De uma distância, os dois irmãos caíram no chão para oferecer reverências, e eles cantaram muitos versos em sânscrito das escrituras. Quando o Senhor viu Rupa Goswami prestar reverências perante Ele, Ele ficou muito feliz e pediu-lhe para levantar. O Senhor então informou Rupa Goswami da misericórdia sem causa de Krishna para ele, porque Krishna acabou de liberá-lo do modo de vida materialista simplesmente sobre dinheiro-moeda-centavo [pound-shilling-pence].

O Senhor aceitou os dois irmãos como Seus próprios devotos, e Ele citou um verso das escrituras o qual afirma ser possível um brahmana, que estudou os quatro Vedas, não seja aceito como um devoto do Senhor e que um devoto puro pode ter vindo de uma família de classe baixa mas mesmo assim foi aceito por Ele. Então o Senhor abraçou os dois irmãos, e, por Sua misericórdia sem causa, tocou as cabeças deles com Seus pés de lótus. Abençoados desse modo, os irmãos ofereceram preces ao Senhor com suas próprias palavras. As preces indicavam que o Senhor Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu era o Próprio Krishna, que Ele assumiu a forma e semblante esplêndido de Chaitanya e por isso era conhecido como Gauranga (o dourado), e que Ele era a encarnação mais magnânima de Krishna porque distribuía amor de Krishna. Sri Rupa Goswami também citou um verso que posteriormente foi encontrado no livro Govinda-lilamrita (1.2):

yo 'jñana-mattam bhuvanam dayalur
ullaghayann apy akarot pramattam
svaprema-sampat-sudhayadbhuteham
sri-krsna-caitanyam amum prapadye

"Que eu me renda aos pés de lótus de Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, que é a mais misericordiosa Personalidade de Deus. Ele libera aquelas almas que estão submersas na ignorância e oferece a elas o presente supremo, amor de Krishna, e assim as deixa loucas pela Consciência de Krishna".

Depois desse incidente, Vallabha Bhatta convidou o Senhor para ir ao outro lado do Ganges, e o Senhor foi. Desse momento em diante, onde quer que o Senhor ia, Rupa Goswami O seguia e ficava com Ele. Porque o Senhor Se sentiu incomodado em locais com aglomeração, Ele pediu a Rupa Goswami para acompanhá-Lo até um local na margem do Ganges conhecido como Dashashvamedha-ghata. Por dez dias, Ele instruiu Rupa Goswami sobre a verdade de Krishna, os princípios do serviço devocional e a relação transcendental com Krishna. Tudo isso foi descrito em detalhes plenos para que no futuro Rupa Goswami pudesse distribuir esta ciência de Krishna em seu livro Bhakti-rasamrita-sindhu. De fato, Srila Rupa Goswami descreveu esse incidente no primeiro verso do Bhakti-rasamrita-sindhu, no qual ele fala sobre a misericórdia sem causa do Senhor sobre ele.

O Supremo Senhor é onisciente e todo-poderoso, e por Sua misericórdia sem causa Ele dota de poder um ser vivo para receber Sua misericórdia. Sob o encanto da vida condicionada, as pessoas em geral são aversas a prestar serviço devocional e praticar Consciência de Krishna. De fato, a maioria das pessoas não tem conhecimento dos ensinamentos principais da Consciência de Krishna a respeito da sua relação eterna com a Suprema Personalidade de Deus e o objetivo último da vida, que é retornar ao lar, de volta ao Supremo. Nem as pessoas têm conhecimento sobre o processo pelo qual podem retornar ao mundo espiritual. Porque esses assuntos importantes são desconhecidos para a alma condicionada, o Senhor Chaitanya, por Sua misericórdia sem causa, instruiu Rupa Goswami sobre os princípios do serviço devocional. Depois, para o bem da população em geral, Rupa Goswami distribuiu essa informação da ciência do serviço devocional.

No prólogo do Bhakti-rasamrita-sindhu (1.1.2), Rupa Goswami escreveu o seguinte:

hrdi yasya preranaya
pravartito 'ham varaka-rupo 'pi
tasya hareh pada kamalam
vande caitanyadevasya

"Eu ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, conhecido como Senhor Chaitanyadeva, por causa da inspiração Dele, eu sinto o desejo dentro do meu coração de escrever algo sobre serviço devocional. Por essa razão, eu estou dedicado a escrever este livro sobre a ciência da devoção conhecido como Bhakti-rasamrita-sindhu".

Quando Chaitanya começou Suas instruções para Rupa Goswami, Ele primeiro disse a ele, "Meu querido Rupa, a ciência do serviço devocional é justamente igual o grande oceano, e não é possível mostrar a você todo o seu comprimento e largura. Entretanto, Eu tentarei explicar a natureza do oceano por pegar apenas uma gota dele. Dessa forma você poderá saboreá-lo e entender o que o oceano do serviço devocional realmente é".

O Senhor então explicou que dentro deste brahmanda, ou universo, existem inumeráveis seres vivos que, de acordo com suas atividades lucrativas, transmigram de uma espécie a outra e de um planeta a outro. Desse modo, seu encarceramento na existência material continua desde tempos imemoráveis. Na realidade, esses seres vivos são partes e parcelas atômicas do espírito supremo. É dito no Srimad Bhagavatam que o comprimento e largura da alma individual é aproximadamente 1/10.000 parte da ponta de um cabelo - em outras palavras, é tão pequena que é invisível. Isso também é confirmado no Shwetashvatara Upanishad. No Décimo Canto do Srimad Bhagavatam, um dos quatro Kumaras, conhecido como Sanandana, fez o seguinte discurso durante a realização de um grande sacrifício: "Ó Suprema Verdade! Se os seres vivos não fossem fagulhas infinitesimais do espírito supremo, cada fagulha minúscula seria todo-penetrante e não seria controlada por um poder superior. Mas se o ser vivo for aceito como uma parte e parcela minúscula do Supremo Senhor, ele automaticamente se torna controlado por uma energia superior ou poder. A última é a sua verdadeira posição constitucional, e se ele permanecer nessa posição, pode alcançar liberdade plena". (Bhag. 10.87.30). Se alguém por engano considera sua posição como igual da Suprema Personalidade de Deus, torna-se contaminado pela doutrina da não dualidade, e seus esforços na vida transcendental se tornam ineficazes.

O Senhor Chaitanya elaborou sobre esses ensinamentos do Srimad Bhagavatam por apontar que existem dois tipos de seres vivos - o eternamente liberado e o eternamente condicionado. Os seres vivos eternamente condicionados podem ser divididos em dois tipos - móveis e não móveis. Aqueles seres que não podem se mover - como árvores, por exemplo - permanecem num lugar e são classificados como seres não móveis, e os que se movem - como os pássaros e animais - são chamados jangama (seres móveis) e são divididos mais ainda em três categorias: aqueles que voam no céu, aqueles que nadam na água, e os que andam sobre a terra. De muitos milhões e trilhões de seres vivos sobre a terra, seres humanos compreendem somente uma pequena porção. Desse número pequeno de seres humanos, a maioria é totalmente ignorante sobre vida espiritual, não são limpos em seus hábitos e não têm fé na existência da Suprema Personalidade de Deus. Em resumo, a maioria dos seres humanos vive como animais. Isso pode ser realmente deduzido do número de seres humanos que compreendem vida humana ou civilizada. É muito difícil encontrar poucos seres humanos que acreditam nas escrituras e na existência de Deus, ou, para esse propósito, em comportamento apropriado. Aqueles que acreditam no valor dessas coisas são conhecidos como arya, uma palavra que denota aqueles que acreditam no avanço da vida espiritual. Desses que acreditam no valor das escrituras e no avanço da civilização humana, existem duas classes - os justos e os injustos. Aqueles que são justos geralmente executam atividades lucrativas a fim de obter algum resultado benéfico para satisfação sensual, somente poucos chegam a saber sobre a Verdade Absoluta. Esses são chamados jñanis, filósofos empíricos. Entre muitas centenas e milhares desses filósofos empíricos, somente um punhado realmente alcança liberação. Quando alguém é liberado, ele teoricamente entende que o ser vivo não é composto de elementos materiais mas é alma espiritual, distinta da matéria. Por entender teoricamente essa doutrina, a pessoa pode ser liberada, mas na realidade um mukta, ou alma liberada, é aquela que entende sua posição constitucional como um servo eterno do Senhor. Essas almas liberadas se dedicam com fé e devoção no serviço do Senhor, e elas são chamadas krsna-bhaktas, ou pessoas conscientes de Krishna.

Os krsna-bhaktas estão livres de todos desejos materiais. Aqueles que são liberados teoricamente por conhecerem simplesmente que o ser vivo não é material, ainda podem ter desejos materiais, apesar que eles podem ser classificados tecnicamente entre as almas liberadas. Seu desejo principal é se tronarem unos com a Suprema Personalidade de Deus. Geralmente essas pessoas são muito apegadas a rituais Védicos e atividades justas, que eles as realizam a fim de desfrutar prosperidade material. Mesmo quando algum deles transcende desfrute material, eles ainda tentam desfrutar o mundo espiritual por imergirem na existência do Supremo Senhor. Alguns deles também desejam obter poderes místicos através da execução de yoga. Enquanto esses desejos estiverem dentro do coração da pessoa, ela não pode entender a natureza do serviço devocional puro. Quando alguém é constantemente agitado por esses desejos, não é tranqüilo. De fato, enquanto houver qualquer desejo por perfeição material em tudo, a pessoa não pode ficar em paz. Porque os devotos do Senhor Krishna não desejam nada material, eles são as únicas pessoas tranqüilas dentro deste mundo material. Isso é confirmado no Srimad Bhagavatam:

muktanam api siddhanam
narayana-parayanah
sudurlabhah prasantatma
koisv api mahamune

"Ó grande sábio, de muitos milhões de pessoas liberadas e pessoas que alcançaram sucesso no yoga místico, aquela que está completamente devotada à Suprema Personalidade de Deus e que está plena de paz é muito difícil de encontrar". (Bhag. 6.14.5).

Desse modo, o Senhor Chaitanya explicou que de muitos milhares e milhões de seres vivos que vagueiam no mundo material, aquele que pela graça do Senhor Krishna e do mestre espiritual obtém a semente do serviço devocional é muito raro e afortunado. Uma pessoa piedosa ou religiosa é geralmente inclinada a adorar deidades em vários templos, mas se por acaso, mesmo sem seu conhecimento, oferecer suas reverências ao Senhor Vishnu ou receber um favor de um Vaishnava, um devoto do Senhor, nesse momento ela adquire a habilidade necessária para se aproximar da Suprema Personalidade de Deus. Entende-se isso claramente na história da vida do grande sábio Narada, que é relatada no Srimad Bhagavatam. Por servir Vaishnavas em sua vida prévia, Narada foi favorecido pelos devotos do Senhor e se tornou um grande sábio. De fato, entre os sábios, Narada Muni é considerado o maior.

Vaishnavas, ou devotos, geralmente são muito compassivos com as almas condicionadas. Mesmo sem ser convidado, um devoto vai de porta em porta para iluminar as pessoas e trazê-las para fora da escuridão da ignorância por injetar conhecimento da posição constitucional do ser vivo como um servo do Senhor Krishna. Tais devotos recebem o poder do Senhor para distribuir consciência devocional, ou Consciência de Krishna, para as pessoas em geral. Eles são conhecidos como mestres espirituais autorizados, e é pela misericórdia deles que uma alma condicionada obtém a semente do serviço devocional. A misericórdia sem causa da Suprema Personalidade de Deus é primeiramente apreciada quando a pessoa entra em contato com um mestre espiritual fidedigno que pode trazer a alma condicionada para a posição mais elevada do serviço devocional. Por isso o Senhor Chaitanya disse que pela misericórdia do mestre espiritual a pessoa pode alcançar a misericórdia sem causa do Senhor, e pela misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, a pessoa pode alcançar a misericórdia do mestre espiritual fidedigno.

Assim, pela misericórdia do mestre espiritual e Krishna, a pessoa recebe a semente do serviço devocional. Ela tem apenas que semear a semente no campo do seu coração, justamente igual um jardineiro semeia a semente de uma árvore preciosa. Depois de semear a semente, a pessoa tem que regá-la na forma do cantar e ouvir o santo nome do Supremo Senhor ou por participar de discussões sobre a ciência do serviço devocional numa sociedade de devotos puros. Quando a planta do serviço devocional brota da semente da devoção, começa a crescer livremente. Quando está plenamente crescida, sobrepassa a largura e comprimento deste universo e entra na atmosfera transcendental, onde tudo é banhado pela refulgência do brahmajyoti. A planta até mesmo penetra esse brahmajyoti e gradualmente entra no planeta conhecido como Goloka Vrindavana. Lá a planta se abriga nos pés de lótus de Krishna. Esse é o objetivo último do serviço devocional. Depois de alcançar essa posição, a planta produz fruto, que é conhecido como o fruto do amor de Deus. Entretanto, é necessário para o devoto, ou jardineiro transcendental, regar com água a planta diariamente por cantar e ouvir. A menos que a pessoa regue a planta por cantar e ouvir, há todas as chances dela secar.

O Senhor Chaitanya alertou Rupa Goswami que há um certo perigo a ser encontrado enquanto se rega a raiz da planta devocional. Depois que a planta crescer um pouco, um animal pode vir e comê-la ou destruí-la. Quando as folhas verdes são tiradas por algum animal, a planta geralmente morre. O animal mais perigoso é o elefante enfurecido, porque se um elefante enfurecido entrar num jardim, ele causará tremendos danos para plantas e árvores. Uma ofensa para um devoto puro do Senhor se chama vaisnavaparadha, a ofensa do elefante enfurecido. Na execução do serviço devocional, uma ofensa aos pés de lótus de um devoto puro pode criar destruição. Assim a pessoa deve defender a planta de bhakti por cuidar dela propriamente e tomar cuidado para não cometer ofensas. Se a pessoa for cautelosa, a planta pode prosperar propriamente.

Existem dez ofensas principais que podem ser cometidas contra o santo nome. A primeira é blasfemar os grandes devotos que tentaram propagar as glórias do santo nome por todo o mundo. O santo nome não é diferente de Krishna, e aquele que tenta propagar os santos nomes por todo o mundo é muito benquisto por Ele. Krishna Mesmo não tolera ofensas contra Seus devotos puros. A segunda ofensa é negar que o Senhor Vishnu é a Verdade Absoluta. Não há diferença entre Seu nome, qualidade, forma, passatempos e atividades, e aquele que vê uma diferença é considerado um ofensor. O Senhor é Supremo, ninguém é igual ou maior que Ele. Conseqüentemente se alguém pensar que os nomes do Senhor não são diferentes dos nomes dos semideuses, é um ofensor. O Supremo Senhor e os semideuses nunca devem ser considerados no mesmo nível.

A terceira ofensa é considerar o mestre espiritual fidedigno como um humano comum. A quarta ofensa é blasfemar a literatura Védica e escrituras autorizadas como os Puranas. A quinta ofensa é considerar as glórias atribuídas aos santos nomes como exageros. A sexta ofensa é inventar teorias pervertidas sobre o santo nome. A sétima ofensa é cometer atividades pecaminosas sob o poder do cantar do santo nome. Entende-se que por cantar os santos nomes a pessoa fica livre de reações pecaminosas, mas isso não significa que deve-se agir pecaminosamente sob o poder do cantar. Isso é uma grande ofensa. A oitava ofensa é considerar rituais religiosos, austeridade, sacrifícios ou outras formas de renúncia iguais ao cantar do santo nome. Cantar os santos nomes é tão bom quanto se associar com a Suprema Personalidade de Deus. Atividades piedosas são apenas meios de abordagem da Suprema Personalidade de Deus, e elas podem até ser executadas por alguma razão material. A nona ofensa é pregar as glórias do santo nome de Deus para uma pessoa sem fé que não está interessada em ouvi-las. A décima e última ofensa é manter apego material mesmo depois de ouvir e cantar os santos nomes de Deus. A idéia é que por cantar o santo nome sem ofensa, pode-se obter elevação para a plataforma liberada. Na plataforma liberada, a pessoa fica livre de todo apego material. Por isso que se alguém canta os santos nomes e ainda tem apegos materiais, ele deve cometer alguma ofensa.

Existem também outros fatores que perturbam a planta do serviço devocional. Junto com essa planta, as ervas daninhas dos desejos materiais também crescem. Quando a pessoa avança em bhakti, é natural que muitas pessoas venham até ele pedir para se tornarem seus discípulos e lhe oferecerão alguns ganhos materiais. Se alguém estiver atraído a um grande número de discípulos e conveniências materiais oferecidas por esses discípulos e esquece seu dever como um mestre fidedigno, o crescimento da planta é impedido. Simplesmente por aproveitar a vantagem das conveniências materiais, pode-se ficar viciado em desfrutar os confortos materiais.

Também é considerado desvantajoso desejar liberação. O único desejo tem que ser o desejo de prestar serviço. Negligenciar restrições e proibições também é desvantajoso. As proibições são mencionadas nas escrituras autorizadas: A pessoa não deve se entregar à vida sexual ilícita, intoxicação, comer carne ou jogos de azar. Essas coisas são proibidas para alguém que tenta o serviço devocional. Se a pessoa não segue esses princípios estritamente, pode ocorrer uma perturbação severa na execução do serviço devocional.

Se a pessoa não for particularmente cuidadosa, mesmo se continua a regar a planta do serviço devocional, ervas daninhas desnecessárias crescerão e impedirão o progresso. A idéia é quando alguém rega um jardim, não somente a planta desejada cresce mais rápido, mas as plantas indesejadas também crescem. Se o jardineiro não enxergar esses impedimentos e removê-los, eles cobrirão e sufocarão a planta da devoção. Se, entretanto, a pessoa for cuidadosa em proteger contra o crescimento de plantas indesejadas, a planta da devoção cresce exuberantemente e alcança o objetivo último, Goloka Vrindavana. Quando o ser vivo dedicado ao serviço devocional saboreia o fruto do amor do Supremo, ele esquece todos os rituais religiosos e melhorias em sua condição econômica. Ele não deseja mais satisfazer seus sentidos, e ele não mais deseja se tornar uno com o Supremo Senhor por imergir em Sua refulgência.

Existem muitas fases do conhecimento espiritual e bem-aventurança transcendental. Em uma plataforma, existem os sacrifícios ritualísticos recomendados nos Vedas, a execução de austeridades e deveres piedosos, e a prática do yoga místico. Todos esses concedem diferentes resultados para seu realizador. As recompensas dessas práticas, entretanto, parecem ser muito glamorosas enquanto a pessoa não está elevada para o serviço amoroso transcendental do Senhor. Amor de Deus está dormente em todos, e pode ser despertado de sua posição dormente pela execução do serviço devocional puro, justamente igual uma pessoa picada por uma serpente pode ser despertada com amônia.

Depois de falar desse modo sobre serviço devocional, o Senhor Chaitanya começou a descrever serviço devocional e seus sintomas para Rupa Goswami. Ele explicou que em serviço devocional puro não pode haver nenhum desejo outro do que o desejo de avançar em Consciência de Krishna. Em Consciência de Krishna não há escopo para adoração de nenhum semideus ou qualquer outra forma de Krishna, nem há espaço para se entregar a filosofia empírica especulativa, nem se entregar a atividades lucrativas. A pessoa tem que estar livre de todas essas contaminações. Um devoto deve aceitar somente aquelas coisas que são favoráveis para manter seu corpo e alma juntos e deve rejeitar aquelas coisas que incrementam as demandas do corpo. Somente as necessidades básicas para a manutenção corpórea devem ser aceitas. Por minimizar necessidades corpóreas, a pessoa pode primeiramente devotar seu tempo para o cultivo da Consciência de Krishna por meio do cantar dos santos nomes de Deus. Serviço devocional puro significa dedicar todos os sentidos do corpo no serviço do Senhor. No presente momento, nossos sentidos estão todos designados porque o corpo é designado. Conseqüentemente nós pensamos que este corpo pertence a uma sociedade particular ou um país particular ou uma família particular. Desse modo, o corpo é limitado por muitas designações. Similarmente, os sentidos pertencem ao corpo, e quando o corpo está sujeito a essas designações, os sentidos também estão. Assim os sentidos se dedicam em prol de família, sociedade, nação e assim por diante. Quando estão assim dedicados, não podem cultivar Consciência de Krishna. Os sentidos precisam ser purificados, isso é possível quando a pessoa entende puramente que ela pertence a Krishna e que sua vida pertence a Krishna. Desse modo, a pessoa pode dedicar seus sentidos no serviço do Senhor. Tal dedicação se chama serviço devocional puro.

Um devoto puro aceita o serviço amoroso transcendental do Senhor mas rejeita todos os tipos de liberação para seu prazer sensual pessoal. No Srimad Bhagavatam (3.29.11-13), o Senhor Kapila explica, logo que um devoto puro ouve as glórias e qualidades transcendentais da Suprema Personalidade de Deus, que está sentado no coração de todos, sua mente imediatamente flui em direção ao Senhor, justamente igual a água do Ganges flui em direção ao mar. Essa atração espontânea para o serviço da Suprema Personalidade de Deus é o mais importante para serviço devocional puro. Serviço devocional é puro quando a pessoa se dedica no serviço do Supremo Senhor sem nenhum motivo e sem ser dificultado por impedimentos materiais. O devoto puro não deseja viver no mesmo planeta que o Supremo Senhor, nem deseja a mesma opulência do Senhor, nem deseja ter a mesma forma do Senhor, nem viver com Ele lado a lado, nem imergir na existência Dele, etc.. Mesmo se foram oferecidas essas recompensas ao devoto pelo Senhor, ele as rejeita. O ponto é que um devoto é tão absorto no serviço amoroso transcendental do Senhor que não tem tempo para pensar em qualquer benefício além de sua ocupação imediata. Justamente igual um homem de negócios materialista ordinário pensa em nada mais quando está absorto em seu trabalho, um devoto puro, quando dedicado no serviço do Senhor, não pensa em nada além dessa ocupação.

Se alguém está absorto na prestação do serviço, deve ser entendido como elevado à posição mais alta de bhakti. Por esse serviço amoroso transcendental somente a pessoa sobrepassa a influência de maya e saboreia amor puro de Deus. Logo que alguém deseja benefício material ou liberação, que são chamadas as duas bruxas da sedução, não pode saborear o serviço amoroso transcendental para o Supremo Senhor.

Existem três estágios do serviço devocional. O primeiro é o estágio inicial de cultivo, o segundo é a realização do serviço, e o terceiro, o estágio supremo, é a realização do amor de Deus. Existem nove métodos de cultivo do serviço devocional - tais quais ouvir, cantar, lembrar, etc. - e todos esses processos são empregados no primeiro estágio. Se a pessoa se dedicar a ouvir e cantar com devoção e fé, suas apreensões materiais gradualmente se tornam aniquiladas. À medida que sua fé no serviço devocional incrementa, ela fica assegurada com uma posição de perfeição mais elevada. Desse modo, a pessoa pode ficar firmemente fixa na devoção, incrementar seu gosto por ela, tornar-se apegada e sentir êxtase. Esse êxtase ocorre no estágio preliminar de amor do Supremo. A obtenção do êxtase é produzida pela execução do serviço devocional. Quando a pessoa continua o processo de ouvir e cantar, o apego cresce e assume o nome de amor de Deus.

Quando a pessoa atinge o terceiro estágio do amor de Deus transcendental, ocorrem mais desenvolvimentos conhecidos como afeição, emoção, êxtase, e apego extremo e intenso transcendentais. Esses são conhecidos tecnicamente pelos termos raga, anuraga, bhava e mahabhava. O progresso de um estágio a outro pode ser comparado a engrossar o caldo de cana-de-açúcar. No primeiro estágio, o caldo de cana-de-açúcar é igual a um líquido ralo. Depois, pela evaporação, ele se torna mais e mais espesso, e se transforma em melado. Finalmente, ele se transforma em grânulos e se torna açúcar, cubos de açúcar e assim por diante. Justamente igual o caldo de cana-de-açúcar progride de um estágio a outro, similarmente amor transcendental pelo Supremo Senhor se desenvolve por estágios.

Quando a pessoa se torna realmente situada na plataforma transcendental, ela se torna fixa. A menos que esteja assim situada, sua posição pode não ser firme e ela pode cair. Esse estágio de compreensão é tecnicamente chamado sthayi-bhava. Existem estágios ainda além dessa posição, são conhecidos como vibhava, anubhava, sattvika e vyabhicari. Depois que a pessoa atinge esses, existe realmente um intercâmbio de rasa, ou atividade transcendental com o Supremo Senhor. Esse intercâmbio em reciprocidade amorosa entre o amante e o amado é geralmente chamado de krsna-bhakti-rasa. Deve-se notar que os intercâmbios amorosos transcendentais ficam na posição firme de sthayi-bhava, como explicado antes. Esse princípio básico de vibhava é sthayi-bhava, e todas as outras atividades são auxiliares para o desenvolvimento do amor transcendental.

O êxtase do amor transcendental tem dois componentes - o contexto e a causa da excitação. O contexto também é divido em duas partes - o sujeito e o objeto. O intercâmbio do serviço devocional é o sujeito, e Krishna é o objeto. As qualidades transcendentais são a causa da excitação. Isso significa que as qualidades transcendentais de Krishna excitam o devoto a servi-Lo. Os filósofos impersonalistas (Mayavadi) dizem que a Verdade Absoluta não tem qualidades específicas, mas os filósofos Vaishnavas dizem que a Verdade Absoluta é descrita como nirguna (sem qualidades) porque Ele não tem qualidades materiais. Isso não quer dizer que Ele não tem qualidades espirituais. Na realidade, as qualidades espirituais do Senhor são tão grandiosas e tão encantadoras que podem atrair até mesmo uma pessoa liberada. Isso é explicado no verso atmarama do Srimad Bhagavatam onde está dito, aqueles que já estão situados na plataforma da auto-realização são atraídos pelas qualidades transcendentais de Krishna. Isso significa que as qualidades de Krishna não são materiais e sim puras e transcendentais.

O estágio mais elevado de êxtase pode ser caracterizado pelas seguintes treze atividades transcendentais: (1) dançar, (2) rolar no chão, (3) cantar, (4) bater palmas, (5) arrepio dos pêlos do corpo, (6) brado retumbante, (7) bocejar, (8) respiração pesada, (9) esquecimento de convenções sociais, (10) salivar, (11) rir, (12) aflição, (13) tosse. Todos esses sintomas não são despertos simultaneamente, eles atuam de acordo com o intercâmbio das relações transcendentais. Às vezes, um sintoma é proeminente, e em outro momento, outro é proeminente.

Os rasas transcendentais, ou relações, podem ser divididos em cinco. O estágio inicial é chamado santa-rati, onde alguém que é liberado da contaminação material aprecia a grandeza da Suprema Personalidade de Deus. Alguém que alcança esse estágio não exatamente se dedica ao serviço amoroso transcendental do Senhor, pois esse é um estágio neutro. No segundo estágio, que é chamado dasya-rati, uma pessoa aprecia sua posição de ser para sempre subordinada ao Supremo Senhor, e ela entende que é eternamente dependente da misericórdia sem causa da Pessoa Suprema. Ao mesmo tempo há um despertar da afeição natural, igual a sentida por um filho que cresce e começa a apreciar as bênçãos de seu pai. Nesse estágio, o ser vivo quer servir o Supremo Senhor em vez de servir maya, ilusão. No terceiro estágio, chamado sakhya-rati, o amor transcendental é desenvolvido, e a pessoa se associa com o Supremo num nível igual de amor e respeito. Quando esse estágio se desenvolve mais, há brincadeiras e intercâmbios descontraídos desse modo tais quais rir e assim por diante. Nesse nível, existem intercâmbios fraternos com a Pessoa Suprema, e a pessoa fica livre de todo o cativeiro. Nesse estágio a pessoa praticamente esquece sua posição inferior como ser vivo, mas ao mesmo tempo ela tem o maior respeito pela Pessoa Suprema.

No quarto estágio, chamado vatsalya-rati, a afeição fraternal evidenciada no estágio precedente desenvolve em afeição paternal. Nesse momento, o ser vivo tenta ser pai ou mãe de Deus. Em vez de adorar o Senhor, o ser vivo, como pai ou mãe do Supremo, torna-se um objeto de adoração da Pessoa Suprema. Nesse estágio, o Senhor depende da misericórdia de Seu devoto puro e Se coloca sob o controle do devoto para ser criado. O devoto nesse estágio alcança a posição onde pode abraçar o Supremo Senhor e até mesmo beijá-Lo na cabeça. No quinto estágio, chamado madhura-rati, existe um verdadeiro intercâmbio transcendental de amor conjugal entre a amante e o amado. É nesse estágio que Krishna e as donzelas de Vraja olhavam um para o outro, porque nessa plataforma existe uma troca de olhares amorosos, movimentos dos olhos, palavras agradáveis, sorrisos atraentes, etc..

Além desses cinco rasas primários, ou relacionamentos, existem sete rasas secundários que consistem em rir, ter visões maravilhosas, entrar numa relação cavalheiresca, experimentar dó, sentir raiva e experimentar pavor e devastação. Por exemplo, Bhisma se relacionou com Krishna como um guerreiro em rasa cavalheiresca. Hiranyakashipu, entretanto, experimentou um intercâmbio dos rasas de pavor e devastação. Os cinco primeiros rasas permanecem constantemente dentro do coração do devoto puro, e os sete rasas secundários às vezes aparecem e desaparecem para enriquecer os sabores e gostos dos primeiros. Depois de enriquecerem os rasas primários, eles desaparecem.

Exemplos de santa-bhaktas, ou devotos no estágio neutro, são os nove yogis chamados Kavi, Havi, Antariksha, Prabuddha, Pippalayana, Avirhotra, Dravida ou Drumila, Chamasa e Karabhajana. Os quatro Kumaras (Sanaka, Sanandana, Sanatkumara e Sanatana) também são exemplos desse estágio. Exemplos de devotos no segundo estágio, o estágio dasya de servidão, são Raktaka, Chitraka e Patraka no rasa de Gokula. Todos esses têm a função de servos de Krishna. Em Dwaraka, há Daruka, e nos planetas Vaikuntha há Hanuman e outros. Devotos no terceiro estágio, o estágio da amizade, estão Shridama em Vrindavana, e Bhima e Arjuna em Dwaraka e no campo de batalha em Kurukshetra. Também existem muitos outros. No que diz respeito àqueles com relação de amor paternal e maternal com Krishna, inclui devotos como Yashoda e Maharaja Nanda - ou seja, pai, mãe, tio e parentes similares. No amor conjugal, existem as donzelas de Vraja, Vrindavana, e as rainhas e deusas da fortuna em Dwaraka. Ninguém pode contar o vasto número de devotos nesse rasa.

O apego a Krishna também pode ser quebrado em duas categorias. Numa plataforma existe apego com reverência e veneração. Esse tipo de apego pode ser caracterizado por uma certa carência de liberdade, e é exibido em Mathura e nos planetas Vaikuntha. Nessas moradas do Senhor, o espírito do serviço amoroso transcendental é restrito. Entretanto, em Gokula Vrindavana, o amor é intercambiado livremente, e apesar dos meninos pastores de vacas e as donzelas de Vrindavana saberem que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, eles não mostram reverência e veneração por causa da grande intimidade da sua relação com Ele. Nos cinco principais relacionamentos transcendentais, reverência e veneração às vezes são impedimentos que obscurecem a verdadeira grandeza do Senhor e às vezes impedem realmente o serviço da pessoa para o Senhor. Quando existe amizade, afeição paternal maternal e amor conjugal, todavia, essa reverência e veneração são reduzidas. Por exemplo, quando Krishna apareceu como filho de Vasudeva e Devaki, Seus pais oraram ao Senhor com reverência e veneração porque eles entenderam que o Supremo Senhor Krishna ou Vishnu apareceu perante eles como seu pequeno filho. Isso é confirmado no Srimad Bhagavatam (10.44.51). Apesar do Supremo Senhor estar presente perante eles como seu filho, Devaki e Vasudeva começaram a orar para Ele. Similarmente, quando Arjuna viu a forma universal do Senhor, ele ficou com tanto medo que implorou perdão por seus relacionamentos com Krishna como seu amigo íntimo. Como um amigo, Arjuna freqüentemente se comportava sem cerimônia com o Senhor, e quando viu a impressionante forma universal, Arjuna disse:

sakheti matva prasabham yad uktam
he krsna he yadava he sakheti
ajanata mahimanam tavedam
maya pramadat pranayena vapi

yac cavahasartham asatkrto 'si
vihara-sayyasana-bhojanesu
eko 'thavapy acyuta tat-samaksam
tat ksamaye tvam aham aprameyam

"Anteriormente no passado, eu O chamei "ó Krishna", "ó Yadava", "ó meu amigo", sem conhecer Suas glórias. Por favor perdoe qualquer coisa que fiz por loucura ou por amor. Eu O desrespeitei tantas vezes enquanto relaxava ou enquanto deitava na mesma cama ou comíamos juntos, às vezes sozinho e às vezes na frente de muitos amigos. Por favor me perdoe por todas minhas ofensas". (Bg. 11.41-42).

Similarmente, quando Krishna fez brincadeiras com Rukmini, ela temia que Krishna poderia deixá-la e ficou tão perturbada que largou o abano com que O abanava e desmaiou, caiu inconsciente no chão. Em relação a Yashoda, a mãe de Krishna em Vrindavana, está afirmado no Srimad Bhagavatam (Bhag. 10.8.45):

trayya copanisadbhis ca
sankhya-yogais ca satvataih
upagiyamana-mahatmyam
harim samanyatatmajam

A Personalidade de Deus, que é adorada por todos os Vedas e Upanishads, e também pelo sistema de filosofia sankhya e todas as escrituras autorizadas, foi considerado como nascido do ventre dela. Também é dito (Bhag. 10.9.12) que Mãe Yashoda amarrou a criança Krishna com uma corda, como se Ele fosse uma criança ordinária nascida do seu corpo. Similarmente, há outras descrições de Krishna sendo tratado como uma pessoa ordinária (Bhag. 10.18.24). De fato, quando Ele era derrotado em jogos com Seus amigos, os meninos pastores de vacas, Krishna os carregava - notavelmente Shridama - em Seus ombros.

Sobre os relacionamentos das gopis com Sri Krishna em Vrindavana, é descrito (Bhag. 10.30.36-40) que quando Sri Krishna levou Srimati Radhika sozinha da dança rasa, Ela pensou que Krishna deixou todas as outras gopis. Apesar de todas serem igualmente lindas, Ele A satisfez desse modo, e Ela começou a pensar orgulhosamente, "Meu querido Senhor Krishna deixou as lindas gopis, e Ele está satisfeito Comigo sozinha". Na floresta, Ela disse para Krishna, "Meu querido Krishna, Eu não consigo mais Me mover. Agora se Você quiser, pode Me levar para onde Você desejar". Krishna respondeu, "Venha e encoste no Meu ombro", e logo que disse isso, Ele desapareceu, e por isso Srimati Radhika lamentou imensamente.

Quando Krishna desapareceu da cena na dança rasa, todas as gopis começaram a se arrepender, e disseram, "Querido Krishna! Nós viemos aqui e deixamos de lado nossos esposos, filhos, familiares, irmãos e amigos! Negligenciamos os conselhos deles, e viemos até Você, e Você sabe muito bem a razão de nós virmos aqui. Você sabe que nós viemos porque estamos cativadas pelo som doce da Sua flauta. Mas Você é tão ardiloso que na calada da noite, Você abandonou meninas e mulheres como nós! Isso não é muito bom para Você".

A palavra sama significa controlar a mente e mantê-la de ser divergida em vários modos por fixá-la na Suprema Personalidade de Deus. Quando a mente da pessoa está fixa no Supremo Senhor, ela é reconhecida como situada na plataforma sama. Nessa plataforma, o devoto entende que Krishna é o princípio básico por trás de tudo que está dentro da sua experiência. Isso também é explicado no Bhagavad-gita (Bg. 7.19). Essa pessoa pode entender que Krishna está presente em tudo e é distribuído por toda a manifestação cósmica. Apesar de tudo estar sob o controle do Supremo Senhor e estar situado em Sua energia, tudo é no entanto diferente de Krishna em Sua forma pessoal. Também é afirmado no Bhakti-rasamrita-sindhu aquele que entende isso, cuja inteligência está fixa em Krishna, alcançou a plataforma de sama. Mais ainda, a Suprema Personalidade de Deus diz: samo mannisthata buddheh: A menos que a pessoa seja elevada à plataforma de santa-rati, não pode ser fixa no conhecimento da grandeza de Krishna ou da difusão de Suas diferentes energias, que são a causa de todas as manifestações. Esse mesmo ponto é explicado no Srimad Bhagavatam (Bhag. 11.19.36):

samo mannisthata buddheh
dama indriya-samyamah
titiksa duhkha-sammarso
jihvooastha jayo dhrtih

Estabilidade da mente pode ser alcançada por quem concluiu que a Suprema Personalidade de Deus é a fonte original de tudo. E quando a pessoa pode controlar seus sentidos, isso se chama sama. Quando a pessoa está pronta para tolerar todos os tipos de sofrimento a fim de controlar seus sentidos e manter a mente firme, isso se chama titiksa, ou tolerância. E quando alguém pode controlar os impulsos da língua e genitais, isso se chama dhrtih. De dhrtih, a pessoa se torna dhira, pacificada. Uma pessoa pacificada nunca é perturbada pelos impulsos da língua e dos genitais.

Se a pessoa puder fixar sua mente em Krishna sem desvio, pode alcançar uma posição firme em Consciência de Krishna, santa-rasa. Quando alguém alcança santa-rasa, fé inabalável em Krishna é estabelecida, e todos os desejos materiais cessam. Essas características específicas de santa-rasa - fé inabalável em Krishna e cessação de todos desejos materiais que não estão conectados com Krishna - são comuns para todos os outros rasas também, justamente igual o som é geralmente presente em todos os outros elementos (ar, fogo, água e terra) porque é produzido do céu. Similarmente, essas duas características de santa-rasa estão presentes em todas as relações transcendentais, como dasya (servidão), sakhya (fraternidade), vatsalya (afeição maternal paternal), e madhura-rasa (amor conjugal).

Quando falamos sobre não-Krishna, ou desejo que não tem conexão com Krishna, isso não significa que qualquer coisa exista sem Krishna. Na realidade, não pode existir nada "não-Krishna" porque tudo é produto da energia de Krishna. Porque Krishna e Suas energias são idênticos, tudo é Krishna indiretamente. Por exemplo, consciência é comum para todo ser vivo, mas quando a consciência é puramente centrada em Krishna (Consciência de Krishna), é pura, e quando a consciência é centrada em algo mais além de Krishna, ou quando é direcionada para prazer sensual, pode ser chamada de consciência de não-Krishna. Por isso que é no estado poluído que o conceito de não-Krishna vem. No estado puro, entretanto, não existe nada além da Consciência de Krishna.

Interesse ativo em Krishna - a compreensão de que Krishna é meu ou que eu sou de Krishna e que portanto minha obrigação é satisfazer os sentidos de Krishna - é típico de um estágio mais elevado do que a neutralidade de santa-rasa. Simplesmente por compreender a grandeza de Krishna, pode-se conquistar o status de santa-rasa, no qual o objeto adorado pode ser o Brahman impessoal ou Paramatma. Adoração do Brahman impessoal ou Paramatma é conduzida por aqueles engajados em especulação filosófica empírica e yoga místico. Todavia, quando se desenvolve mais ainda na Consciência de Krishna, ou compreensão espiritual, pode-se apreciar que o Paramatma, a Superalma, é o objeto adorável eterno, e se rende a Ele. Bahunam janmanam ante jñanavan mam prapadyate (Bg. 719): "Depois de muitos e muitos nascimentos de adoração a Brahman e Paramatma, quando a pessoa se rende a Vasudeva como o mestre supremo e se aceita como um servo eterno de Vasudeva, torna-se uma grandiosa alma realizada transcendentalmente". Nesse momento, devido à sua sólida e refinada relação com a Suprema Verdade Absoluta, a pessoa começa a render algum tipo de serviço amoroso transcendental à Suprema Personalidade de Deus. Assim a relação neutra conhecida como santa-rasa se transforma em dasya-rasa, servidão.

Na plataforma de dasya-rasa, a grande quantidade de reverência e veneração do Supremo Senhor é exibida. Isso é, no dasya-rasa, a grandeza do Supremo Senhor é apreciada. Deve-se notar aqui que na plataforma de santa-rasa não existe atividade espiritual, mas na plataforma de dasya-rasa, o serviço começa. Assim no dasya-rasa a qualidade de santa-rasa é exibida e, em adição, existe consciência do sabor transcendental do serviço.

Qualidades transcendentais estão certamente presentes em santa-rasa e dasya-rasa, mas além dessas existe outra qualidade, apego confidencial, que é amor transcendental puro. Essa confiança amorosa na Suprema Personalidade é tecnicamente conhecida como visrambha. Na plataforma de visrambha, fraternidade, não existe senso de reverência e veneração para a Suprema Personalidade de Deus. Assim na relação fraternal transcendental conhecida como sakhya-rasa, existem três características transcendentais: o senso de grandeza, o senso de serviço, e o senso de intimidade sem reverência ou veneração. Assim no sakhya-rasa, o relacionamento de fraternidade, as qualidades transcendentais são incrementadas mais ainda.

Similarmente, na plataforma de afeição maternal paternal (vatsalya-rasa) existem quatro qualidades. Em adição às três qualidades já mencionadas, existe o senso de que o Supremo Senhor é dependente da misericórdia do devoto. Como um pai ou mãe da Suprema Personalidade de Deus, o devoto às vezes castiga o Senhor e se considera como o mantenedor do Senhor. Esse senso transcendental de ser o mantenedor do supremo mantenedor é muito agradável tanto para o devoto quanto para o Supremo Senhor.

O Senhor instruiu Srila Rupa Goswami a escrever a literatura transcendental chamada Bhakti-rasamrita-sindhu, a ciência do serviço devocional, e indicou aqui a essência desses cinco relacionamentos transcendentais. É explicado nessa grandiosa literatura como o relacionamento transcendental de santa-rasa, que toma a forma de fé inabalável em Krishna, desenvolve-se mais em dasya-rasa com o espírito de serviço, e depois para sakhya-rasa ou fraternidade destemida, e mais ainda na plataforma transcendental de amor maternal paternal, onde a pessoa se sente como o mantenedor do Senhor. Todos esses relacionamentos culminam na plataforma mais elevada do amor conjugal (madhura-rasa), onde todos esses relacionamentos transcendentais existem simultaneamente.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Dois

Sanatana Goswami

vande 'nantadbhutaisvaryam
sri-caitanya-mahaprabhum
nico 'pi yat-prasadat syad
bhakti-sastra-pravartakah

Eu ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Chaitanya Mahaprabhu, por cuja misericórdia mesmo uma pessoa na forma de vida mais baixa pode encontrar direção no serviço devocional transcendental do Senhor. [Cc. Madhya 20.1].

Depois que o Senhor Chaitanya aceitou a ordem de vida da renúncia (sannyasa), Ele viajou por toda a Índia. Durante esse período, Ele foi para Maldah, um distrito na Bengala. Nessa área havia uma vila chamada Ramakeli, onde dois ministros do governo do Nawab Hussain Shah viviam. Esses dois ministros eram Dabira Khasa e Sakara Mallika, que depois foram renomeados Sanatana Goswami e Rupa Goswami. Inspirados pelo Senhor Chaitanya, eles decidiram se retirar do serviço do governo e se juntar a Seu movimento sankirtana.

Ao tomarem essa decisão, os dois irmãos imediatamente deram passos para deixar suas obrigações materiais, e eles nomearam dois brahmanas eruditos para executarem certos rituais religiosos Védicos que os capacitaria a alcançar liberdade completa para o serviço devocional de Krishna. Essas atividades preliminares são conhecidas como purascarya. Essas funções ritualísticas demandam que por três vezes ao dia a pessoa adore e ofereça respeitos a seus antepassados, ofereça oblações ao fogo, e respeitosamente ofereça comida a um brahmana erudito. Cinco itens - adoração, oferecer respeito, oferecer oblação ao fogo e oferecer comida a um brahmana - compreendem purascarya. Esses e outros rituais são mencionados no hari-bhakti-vilasa, o livro autoridade das instruções.

Depois de executarem esses rituais religiosos, o irmão mais novo, Sakara Mallika (Rupa Goswami), voltou para casa com uma imensa quantidade de dinheiro que ele angariou durante seu serviço no governo. De fato, as moedas de prata e ouro que ele trouxe encheram um barco grande. Depois de chegar à sua casa, ele dividiu a riqueza acumulada primeiro ao meio e distribuiu uma parte aos brahmanas e Vaishnavas. Assim para a satisfação da Suprema Personalidade de Deus, ele distribuiu cinqüenta por cento de sua fortuna acumulada para pessoas dedicadas no serviço amoroso transcendental do Supremo Senhor. Brahmanas se destinam a compreender a Verdade Absoluta, logo que compreendem a verdade e realmente se dedicam no serviço amoroso do Senhor, podem ser chamados de Vaishnavas. Tanto os brahmanas quanto os Vaishnavas devem estar plenamente dedicados no serviço transcendental, e Rupa Goswami, por considerar a posição transcendental importante deles, deu-lhes cinqüenta por cento de sua fortuna. Os cinqüenta por cento restantes foram novamente divididos ao meio - ele distribuiu uma parte para seus familiares e membros da família dependentes, e a outra ele manteve para emergências pessoais.

Essa distribuição de fortuna pessoal é muito instrutiva para todos que desejam ser elevados em conhecimento espiritual. Geralmente uma pessoa deixa toda sua fortuna acumulada para seus membros familiares e depois se aposenta das atividades familiares a fim de fazer progresso no conhecimento espiritual. Aqui, todavia, encontramos o comportamento de Rupa Goswami como exemplar; ele doou cinqüenta por cento de sua fortuna para propósitos espirituais. Isso deve servir de exemplo para todos. Os vinte e cinco por cento de sua fortuna acumulada que ele guardou para emergências pessoais foram depositados numa boa empresa de negócios, porque naqueles dias não havia bancos. Dez mil moedas foram depositadas para despesas incorridas pelo seu irmão mais velho, Sanatana Goswami.

Nesse momento, Rupa Goswami recebeu informação que o Senhor Chaitanya Mahaprabhu Se preparava para proceder para Vrindavana de Jagannatha Puri. Rupa Goswami enviou dois mensageiros para obter informação real do itinerário do Senhor, ele fez seus próprios planos para ir a Mathura a fim de encontrar o Senhor. Parece que Rupa Goswami obteve permissão para se unir ao Senhor Chaitanya, mas Sanatana Goswami não conseguiu. Assim Sanatana Goswami confiou as responsabilidades de seu serviço governamental para seus assistentes imediatos, e permaneceu em casa para estudar Srimad Bhagavatam. De fato, ele contratou dez ou dozes brahmanas eruditos e começou um estudo intensivo do Srimad Bhagavatam na companhia deles. Enquanto estava assim ocupado, ele mandava atestados médicos para seu patrão, o Nawab. Contudo, o soberano estava tão ansioso pelo conselho de Sanatana Goswami nos assuntos governamentais que apareceu subitamente na casa dele. Quando o Nawab entrou na casa onde Sanatana Goswami e os brahmanas estavam reunidos, todos eles levantaram para recebê-lo respeitosamente, e ofereceram a ele um lugar para sentar.

"Você enviou atestados médicos", o Nawab disse a Sanatana Goswami: "Mas eu mandei meu médico para examiná-lo, e ele relatou que você não tem nenhuma doença mesmo. Eu não sei porque você mandou atestados médicos e não foi ao seu trabalho, por isso eu vim pessoalmente para vê-lo. Francamente, estou muito preocupado com seu comportamento. Como você sabe, eu sou completamente dependente de você e de seu trabalho responsável no governo. Eu era livre para atuar em outros assuntos porque dependia de você, mas se você não se unir a mim, sua devoção passada será arruinada. Agora, qual é a sua intenção? Diga-me por favor".

Ao ouvir isso, Sanatana Goswami respondeu que estava incapacitado para continuar no trabalho e seria muito gentil do Nawab apontar alguém mais para executar o trabalho que lhe foi confiado. Ao ouvir isso, o Nawab ficou muito bravo e disse, "Seu irmão mais velho vive como um caçador, e se você se retirar da administração, tudo estará acabado". Foi dito que o Nawab costumava tratar Sanatana Goswami como um irmão mais novo. Porque o Nawab estava principalmente engajado em conquistar diferentes partes do país e também em caçar, ele dependia imensamente de Sanatana Goswami para a administração governamental. Assim ele implorou a ele: "Se você também se retirar do serviço governamental, como será a administração"?

"Você é o governador de Gauda", Sanatana Goswami respondeu gravemente, "e você pune diferentes tipos de criminosos de diferentes modos. Assim você tem liberdade para punir qualquer um de acordo com sua atividade". Com essa resposta, Sanatana Goswami indicava porque o governador estava engajado e caçar animais e em matar pessoas para expandir seu reino, que ambos então sofressem pelos atos que realizavam.

O Nawab era inteligente, e ele entendeu o propósito de Sanatana Goswami. Ele saiu da casa num humor raivoso, e pouco tempo depois, saiu para conquistar Orissa. Ele ordenou a prisão de Sanatana Goswami e mandou que ficasse detido até seu retorno. Depois de saber que seu irmão mais velho foi preso pelo Nawab, Rupa Goswami mandou a informação que dez mil moedas estavam mantidas em custódia dum comerciante em Gauda (Bengal) e esse dinheiro poderia ser usado como resgate para seu irmão. Sanatana também ofereceu cinco mil moedas para o carcereiro da cadeia onde ele era mantido em custódia. Ele avisou o carcereiro para aceitar felizmente as cinco mil moedas dele e deixá-lo ir porque ao aceitar o dinheiro ele não apenas seria materialmente beneficiado mas também agiria muito nobremente por libertar Sanatana para propósitos espirituais.

"Claro que posso deixar você ir", o carcereiro respondeu, "porque você prestou muitos serviços para mim, e você está no serviço governamental. Entretanto, tenho medo do Nawab. O que fará ele quando souber que você está livre? Terei que explicar tudo a ele. Como posso aceitar esta proposta"? Sanatana então inventou uma história que o carcereiro podia contar para o Nawab - de como ele tinha escapado - e ele elevou sua oferta para dez mil moedas. Ganancioso pelo dinheiro, o carcereiro concordou com a proposta e o deixou ir. Nesse meio tempo, Rupa Goswami, com seu irmão mais novo Sri Vallabha, partiram para Vrindavana a fim de encontrar Chaitanya Mahaprabhu.

Sanatana então procedeu para ver o Senhor. Ele não viajou por estradas abertas mas através das selvas até que chegou a um lugar em Bihar chamado Patada. Lá, descansou num hotel, mas o hoteleiro foi informado por um empregado astrólogo que Sanatana Goswami tinha algumas moedas de ouro com ele. O hoteleiro, desejoso de pegar o dinheiro, falou para Sanatana com aparente respeito.

"Justamente descanse essa noite", disse a ele, "e na manhã arranjarei para você sair desta armadilha de selva". Todavia, Sanatana suspeitou do comportamento dele, e perguntou a seu servo Ishana se ele tinha dinheiro, Ishana disse a ele que tinha sete moedas de ouro. Sanatana não gostou da idéia do servo carregar tanto dinheiro. Ele ficou bravo com ele e disse, "Por que você carrega essa sentença de morte na estrada"?

Sanatana imediatamente pegou as moedas de ouro e as ofereceu para o hoteleiro. Então ele pediu para o hoteleiro ajudá-lo através da selva. Ele o informou que estava em viagem especial para o governo e porque não podia viajar em estrada aberta, seria muito bom se o hoteleiro o ajudasse através das selvas e sobre as montanhas.

"Eu entendo que você tinha oito moedas consigo, e eu pensei em matá-los para pegá-las", o hoteleiro confessou. "Mas posso entender que você é uma pessoa tão boa que não precisa me oferecer o dinheiro".

"Se você não aceitar estas moedas, alguém virá tirá-las de mim", Sanatana respondeu. "Alguém me matará por causa delas, por isso é melhor você ficar com elas. Eu as ofereço a você". O hoteleiro então deu a ele assistência, e naquela mesma noite o ajudou a passar pelas colinas.

Quando Sanatana emergiu das colinas, ele pediu que seu servo voltasse para casa com uma moeda que ainda tinha consigo. Pois Sanatana decidiu que iria sozinho. Depois da partida de seu servo, Sanatana sentiu-se completamente livre. Com roupa rasgada e um pote de água na mão, ele começou a proceder em direção ao Senhor Chaitanya Mahaprabhu. No caminho, ele encontrou seu cunhado rico que também estava no serviço governamental e que lhe ofereceu um excelente cobertor, que Sanatana aceitou pelo seu pedido especial. Assim se despediu dele e continuou sozinho para ver Chaitanya Mahaprabhu em Benares.

Quando chegou a Benares, entendeu que o Senhor estava lá, e ficou radiante. Ele foi informado pelas pessoas que o Senhor ficava na casa de Chandrashekhara Acharya, e Sanatana foi para lá. Apesar de Chaitanya Mahaprabhu estar dentro da casa, Ele pôde entender que Sanatana tinha chegado à porta, e Ele pediu a Chandrashekhara para chamar o homem que estava sentado lá. "Ele é um Vaishnava, um grande devoto do Senhor", Chaitanya Mahaprabhu disse. Chandrashekhara veio para fora para ver o homem, mas não viu nenhum Vaishnava na porta. Ele viu só um homem que perecia ser um mendigo. O Senhor então pediu para ver o mendigo, e quando Sanatana entrou no pátio, o Senhor Chaitanya com pressa veio vê-lo e o abraçou. Quando o Senhor o abraçou, Sanatana ficou arrebatado com êxtase espiritual, e ele disse, "Meu querido Senhor, por favor não me toque". Mas cada um deles abraçou o outro e começaram a chorar. Ao ver Sanatana e o Senhor Chaitanya agirem daquela forma, Chandrashekhara ficou admirado. Em seguida, Chaitanya Mahaprabhu pediu para Sanatana sentar com Ele num banco. Ele tocava o corpo de Sanatana com Sua mão, e Sanatana pediu-Lhe novamente, "Meu querido Senhor, por favor não me toque".

"Eu toco em você justamente para Minha purificação", o Senhor respondeu, "porque você é um grande devoto. Pelo seu serviço devocional você pode libertar o universo inteiro e capacitar todos para irem de volta ao Supremo".

O Senhor passou a citar um verso do Srimad Bhagavatam para o efeito de que uma pessoa que é um devoto do Senhor Krishna e é cem por cento dedicada no serviço devocional é muito melhor do que um brahmana versado em todas as literaturas Védicas mas que não se dedica ao serviço devocional do Senhor. Porque ele carrega o Supremo Senhor dentro do seu coração, o devoto pode purificar cada lugar e tudo.

Nas literaturas Védicas também é afirmado que a Suprema Personalidade de Deus não reconhece uma pessoa que é muito erudita em todas as divisões dos Vedas, mas, em vez disso, Ele gosta de uma pessoa que é um devoto, mesmo que ele possa ter nascido numa família baixa. Se alguém oferece caridade a um brahmana que não é um devoto, o Senhor não aceita; mas se algo for oferecido a um devoto, o Senhor aceita. Em outras palavras, qualquer coisa que alguém queira oferecer ao Senhor deve ser dada para Seus devotos. Chaitanya Mahaprabhu também citou o Srimad Bhagavatam para o efeito de que se um brahmana não é um devoto do Supremo Senhor, então ele é o mais baixo dos baixos, mesmo embora ele possa ser qualificado com as doze qualidades brahmanas e nascer numa família de classe alta. Um devoto, apesar de nascer numa família candala (comedor de cachorro), pode purificar toda sua família por cem gerações, passado e futuro, por serviço devocional, enquanto um brahmana orgulhoso não pode purificar nem ele mesmo. É dito no Hari-bhakti-sudhodaya (13.2):

aksnoh phalam tvadrsa-darsanam hi
tanoh phalam tvadrsa-gatra-sangah
jihva-phalam tvadrsa-kirtanam hi
sudurlabha bhagavata hi loke

"Ó devoto do Senhor, vê-lo é a perfeição dos olhos, tocar em seu corpo é a perfeição das atividades corpóreas, e glorificar suas atividades é a perfeição da língua, porque é muito raro encontrar um devoto puro igual a você".

O Senhor então disse a Sanatana que Krishna é muito misericordioso e é o libertador das almas caídas. "Ele salvou você do Maharaurava", disse o Senhor. Esse Maharaurava, ou inferno, é descrito no Srimad Bhagavatam como um lugar destinado a pessoas que estão engajadas na matança de animais, porque é dito lá que os açougueiros ou comedores de animais vão para esse inferno.

"Eu não conheço a misericórdia de Krishna", Sanatana respondeu, "mas eu posso entender que Sua misericórdia sobre mim é sem causa. Você me libertou do enredamento da vida material".

Então o Senhor perguntou: "Como você se livrou da custódia? Eu entendi que você estava preso". Sanatana então narrou toda a história da sua libertação. "Eu vi seus dois irmãos", o Senhor então o informou, "e Eu os aconselhei para procederem em direção a Vrindavana".

O Senhor Chaitanya então apresentou Chandrashekhara e Tapana Mishra para Sanatana, e Tapana Mishra com muito prazer convidou Sanatana para jantar com ele. O Senhor pediu a Chandrashekhara que levasse Sanatana a um barbeiro e o deixasse "cavalheiro", porque Sanatana cresceu uma longa barba que Sri Chaitanya Mahaprabhu não gostou. Ele não só pediu a Chandrashekhara providenciar um banho e barbear mas também uma muda de roupas.

Depois do banho, Chandrashekhara lhe deu algumas boas roupas. Quando o Senhor Chaitanya foi informado que Sanatana não aceitou roupas novas mas depois aceitou apenas algumas roupas usadas de Tapana Mishra, Ele ficou muito feliz. O Senhor foi à casa de Tapana Mishra para almoçar e pediu-lhe para guardar comida para Sanatana. Tapana Mishra não ofereceu a Sanatana comida imediatamente, todavia, mas depois que o Senhor terminou Sua refeição havia alguns restos de Sua comida, e que foi oferecida a Sanatana enquanto o Senhor fazia Seu descanso.

Depois do descanso, o Senhor Chaitanya apresentou um brahmana Maharashtriya, um devoto Dele, para Sanatana, o brahmana Maharashtriya convidou Sanatana para aceitar almoço diariamente em sua casa enquanto permanecesse em Benares.

"Enquanto eu permanecer em Benares, mendigarei de porta em porta", disse Sanatana. "Mas o Senhor será tão bom para aceitar este convite para almoço diário na sua casa".

O Senhor Chaitanya ficou muito feliz com esse comportamento de Sanatana, mas Ele notou o cobertor valioso que lhe foi dado por seu cunhado durante a rota para Benares. Apesar do Senhor Chaitanya fazer vista grossa para o cobertor, Sanatana entendeu que Ele não aprovou uma vestimenta tão valiosa em seu corpo, por isso Sanatana decidiu se livrar dele. Ele imediatamente foi até a margem do Ganges, onde viu um mendigo que lavava uma manta velha. Quando Sanatana lhe pediu para trocar a manta velha pelo cobertor valioso, o pobre mendigo pensou que Sanatana brincava com ele. "Como é isso"? o mendigo o repreendeu. "Você parece ser um fino cavalheiro, mas zomba de mim neste modo malcriado".

"Eu não brinco com você", Sanatana o informou. "Falo muito sério. Você trocará essa manta velha por este cobertor"? Finalmente o mendigo trocou sua manta velha pelo cobertor, e Sanatana retornou para o Senhor.

"Onde está seu cobertor valioso"? o Senhor inquiriu imediatamente. Sanatana O informou sobre a troca, e o Senhor o amou por isso e o agradeceu. "Você é inteligente o suficiente, e agora você esgotou toda a sua atração por riqueza material". Em outras palavras, o Senhor aceita uma pessoa para serviço devocional somente quando ela está completamente livre de todas as posses materiais. O Senhor então disse a Sanatana: "Não pareceria bem para você ser um mendigo e mendigar de porta em porta com um cobertor tão valioso em seu corpo. É contraditório e as pessoas olhariam para isso com repugnância.

"Qualquer coisa que eu fiz para ficar livre do apego material é tudo por Sua misericórdia", Sanatana respondeu. O Senhor estava muito feliz com ele, e os dois juntos discutiram avanço espiritual.

Antes desse encontro entre o Senhor Chaitanya e Sanatana Goswami, o Senhor encontrou um devoto casado chamado Ramananda Raya. Nesse encontro, que é discutido num capítulo posterior, o Senhor Chaitanya fez perguntas a Ramananda Raya, e Ramananda as respondeu como se ele fosse o professor do Senhor. Todavia, nesse caso, Sanatana fez perguntas para o Senhor, e o Senhor as respondeu Ele mesmo.

As instruções e ensinamentos do Senhor Chaitanya são muito importantes para as pessoas em geral. Ele ensina o processo do serviço devocional, que é a ocupação constitucional de todo ser vivo, porque é dever do ser humano avançar na ciência espiritual. Muitos assuntos foram minuciosamente discutidos nas conversas entre o Senhor Chaitanya e Sanatana Goswami. Devido à misericórdia do Senhor Chaitanya, Sanatana foi capaz de pôr questões importantes perante Ele, e essas perguntas foram respondidas corretamente.

Pelo encontro de Sanatana e Senhor Chaitanya, aprendemos que a fim de compreender assuntos espirituais, temos que nos aproximar de um mestre espiritual igual o Senhor Chaitanya Mahaprabhu e fazer perguntas com submissão. Isso também é confirmado no Bhagavad-gita (Bg. 4.34) que uma pessoa tem que se aproximar de um homem de autoridade e aprender a ciência da vida espiritual dele.

      

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Três

Ensinamentos para Sanatana Goswami

Das instruções do Senhor Chaitanya para Sanatana Goswami podemos entender a ciência de Deus no que se relaciona à forma transcendental de Deus, Suas opulências, e Seu serviço devocional. De fato, tudo é explicado para Sanatana Goswami pelo Senhor Ele mesmo. Nesse momento, Sanatana caiu aos pés do Senhor e com grande humildade perguntou sobre sua identidade real. "Eu nasci numa família de classe baixa", disse Sanatana. "Minhas associações são abomináveis, e eu sou caído, o mais desprezível da humanidade. Eu sofria no poço escuro do desfrute material, e eu nunca soube o verdadeiro objetivo da minha vida. Realmente, eu nem mesmo sei o que é benéfico para mim. Apesar de ser aquilo que é conhecido no mundo como um grande homem erudito, eu sou de fato tão tolo que até mesmo penso que sou erudito. Você me aceitou como Seu servo, e Você me libertou do enredamento da vida material. Agora por favor me diga qual é o meu dever neste estado liberado".

Por esse apelo, nós entendemos que liberação não é a palavra final em perfeição. Devem existir atividades na liberação. Sanatana diz claramente, "Você me salvou da existência material. Agora, depois da liberação, qual é meu dever"? Sanatana perguntou mais ainda, "Quem sou eu? Por que as misérias triplas sempre me dão sofrimento? E finalmente, diga-me como posso ser liberado deste enredamento material? Eu não sei como questioná-Lo sobre avanço na vida espiritual, mas imploro que Você gentilmente, misericordiosamente, deixe-me saber tudo que eu preciso saber".

Esse é o processo de aceitar um mestre espiritual. A pessoa deve se aproximar de um mestre espiritual, render-se a ele humildemente e então perguntar-lhe sobre o próprio progresso espiritual.

O Senhor estava feliz com o comportamento submisso de Sanatana, e Ele respondeu, "Você já recebeu a bênção do Senhor Krishna, e por isso você sabe tudo e está livre de todas as misérias". O Senhor indicou mais ainda porque Sanatana estava em Consciência de Krishna, ele era naturalmente, pela graça de Krishna, já proficiente em tudo. "Porque você é um devoto humilde", o Senhor continuou, "você Me pede para confirmar o que você já sabe. Isso é muito bom". Essas são as características de um verdadeiro devoto. No Narada-bhakti-sutra é dito, aquele que é muito sério sobre desenvolver Consciência de Krishna tem seu desejo de compreender Krishna satisfeito muito em breve pela graça do Senhor.

"Você é uma pessoa adequada para proteger o serviço devocional do Senhor", Chaitanya Mahaprabhu continuou, "portanto é Meu dever instruir você na ciência de Deus, e Eu lhe explicarei tudo passo a passo".

É o dever de um discípulo aproximar-se do mestre espiritual para inquirir sobre sua posição constitucional. Em conformidade com o processo espiritual, Sanatana já tinha perguntado, "O que sou eu, e por que sofro as misérias triplas"? As misérias triplas são chamadas adhyatmika, adhibhautika, e adhidaivika. A palavra adhyatmika se refere àquelas misérias causadas pela mente e corpo. Às vezes o ser vivo sofre corporalmente, e às vezes angustiado mentalmente. Ambas são misérias adhyatmika. Nós experimentamos essas misérias mesmo no ventre da nossa mãe. Como bem sabemos, existem muitos tipos de misérias que aproveitam a vantagem do corpo humano delicado para nos causar dor. Misérias infligidas por outros seres vivos são chamadas adhibhautika. Esses seres vivos nem mesmo precisam ser grandes, porque existem muitos - como insetos - que podem nos tornar miseráveis mesmo enquanto dormimos na cama. Existem muitos seres vivos insignificantes, tais quais baratas, que às vezes nos causam dor, e também existem outros seres vivos que nascem em diferentes tipos de planetas e que nos causam misérias. No que se refere às misérias adhidaivika, essas são desastres naturais que são originados pelos semideuses dos planetas superiores. Por exemplo, nós às vezes sofremos por frio severo ou clima quente, por um raio, ou por terremotos, tornados, secas e muitos desastres naturais. Em qualquer caso, nós sempre sofremos tanto por uma ou por uma combinação desses três tipos de misérias.

A pergunta de Sanatana foi portanto uma pergunta inteligente. "Qual é a posição dos seres vivos"? perguntou ele. "Por que sempre se submetem a esses três tipos de misérias"? Sanatana admitiu sua fraqueza. Apesar dele ser conhecido pelas massas de pessoas como um grandioso homem erudito (e realmente ele era um intelectual altamente erudito em sânscrito), e apesar dele aceitar essa designação, ele não sabia na verdade o que era a sua posição constitucional realmente e justamente porque ele era sujeito às misérias triplas.

Aproximar-se de um mestre espiritual não é apenas uma moda mas é uma necessidade para aquele que é seriamente consciente das misérias materiais e quer ser livre delas. É dever dessa pessoa se aproximar de um mestre espiritual. A esse respeito, devemos notar circunstâncias similares no Bhagavad-gita. Quando Arjuna ficou perplexo por tantos problemas que envolvia se lutaria ou não, ele aceitou o Senhor Krishna como seu mestre espiritual. Esse também é um caso do mestre espiritual supremo que instrui Arjuna sobre a posição constitucional do ser vivo.

No Bhagavad-gita, somos informados que a natureza constitucional da entidade individual é alma espiritual. Ela não é matéria. Porque é alma espiritual, é parte e parcela da alma suprema, a Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus. Também aprendemos que é dever da alma espiritual se render, pois somente assim pode ser feliz. A última instrução do Bhagavad-gita é que a alma espiritual se renda completamente à alma suprema, Krishna, e desse modo realizar felicidade.

Aqui também, o Senhor Chaitanya, em resposta às perguntas de Sanatana, repete a mesma verdade. Há uma diferença, entretanto. Aqui o Senhor Chaitanya não dá a informação sobre a alma espiritual que já está no Bhagavad-gita. Em vez disso, Ele começa do ponto onde Krishna terminou Sua instrução. É aceito por grandes devotos que o Senhor Chaitanya é Krishna Ele mesmo, e desse ponto de vista, Ele começa Sua instrução para Sanatana do ponto onde Ele terminou Suas instruções para Arjuna no Bhagavad-gita.

"Sua posição constitucional é que você é uma alva viva pura", o Senhor disse a Sanatana. "Este corpo material não pode ser identificado com seu eu real; nem é sua mente sua identidade real, nem sua inteligência, nem ego falso. Sua identidade é de servo eterno do Supremo Senhor Krishna. Sua posição é que você é transcendental. A energia superior de Krishna é espiritual em constituição, e a energia externa inferior é material. Porque você está entre a energia material e a energia espiritual, sua posição é marginal. Por pertencer à energia marginal de Krishna, você é simultaneamente uno com e diferente de Krishna. Porque você é espírito, você não é diferente de Krishna, e porque você é apenas uma partícula diminuta de Krishna, você é diferente Dele".

Essa unidade e diferença simultâneas sempre existem no relacionamento entre os seres vivos e o Supremo Senhor. Da posição marginal dos seres vivos, esse conceito de "simultaneamente uno e diferente" pode ser entendido. O ser vivo é justamente igual uma partícula molecular do brilho solar, enquanto Krishna pode ser comparado ao próprio Sol radiante, resplandecente. O Senhor Chaitanya comparou os seres vivos a fagulhas ardentes de um fogo e o Supremo Senhor ao fogo radiante do Sol. Sobre essa conexão, o Senhor cita um verso do Vishnu Purana (1.22.52):

eka-desa-sthitasyagner
jyotsna vistarini yatha
parasya brahmanah saktis
tathedam akhikam jagat

"Tudo que é manifesto dentro deste mundo cósmico é somente a energia do Supremo Senhor. Igual o fogo que emana de um lugar difunde sua iluminação e calor por toda a volta, assim o Senhor, apesar de situado em um lugar do mundo espiritual, manifesta Suas diferentes energias em toda parte. De fato, toda a manifestação cósmica é composta de diferentes manifestações da Sua energia".

A energia do Supremo Senhor é transcendental e espiritual, e os seres vivos são parte e parcela dessa energia. Existe outra energia, entretanto, chamada energia material, que é coberta pela nuvem da ignorância. Essa energia, que é a natureza material, é dividida em três modos, ou gunas (bondade, paixão e ignorância). O Senhor Chaitanya citou o Vishnu Purana (1.3.2) para o efeito que todas as energias inconcebíveis residem na Suprema Personalidade do Senhor e que a manifestação cósmica inteira age devido à energia inconcebível do Senhor.

O Senhor também disse que os seres vivos são conhecidos como ksetrajña, ou "conhecedores do campo de atividades". No Décimo Terceiro Capítulo do Bhagavad-gita, o corpo é descrito como o campo de atividades, e o ser vivo como ksetrajña, o conhecedor do campo. Apesar do ser vivo ser constitucionalmente ciente da energia espiritual, ou tem a potência para entender energia espiritual, ele está coberto pela energia material e conseqüentemente identifica o corpo como o eu. Essa identificação falsa é chamada "ego falso". Iludida por esse ego falso, o ser vivo confuso na existência material muda seus diferentes corpos e sofre vários tipos de misérias. Conhecimento da verdadeira posição do ser vivo é possuído para extensões diferentes por diferentes tipos de seres vivos.

Em outras palavras, deve-se entender que o ser vivo é parte e parcela da energia espiritual do Supremo Senhor. Porque a energia material é inferior, seres humanos têm a habilidade de serem descobertos por esta energia material e utilizar a energia espiritual. Está afirmado no Bhagavad-gita que a energia superior é coberta pela energia inferior. Por causa dessa cobertura, o ser vivo fica sujeito às misérias do mundo material, e, em proporção aos diferentes graus de paixão e ignorância, ele sofre misérias materiais. Aqueles que são um pouco iluminados sofrem menos, mas no todo, tudo mundo é sujeito às misérias materiais devido à cobertura da energia material.

Chaitanya Mahaprabhu também citou o Sétimo Capítulo do Bhagavad-gita no qual está afirmado que terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e ego todas se combinam juntas para formar a energia inferior do Supremo Senhor. A energia superior, entretanto, é a verdadeira identidade do ser vivo, e é por causa dessa energia que o mundo material inteiro funciona. A manifestação cósmica, que é feita de elementos materiais, não tem poder para agir a menos que seja movida pela energia superior, o ser vivo. Pode ser dito realmente que a vida condicionada do ser vivo é devida ao esquecimento de seu relacionamento com o Supremo Senhor na energia superior. Quando o relacionamento é esquecido, vida condicionada é o resultado. Somente quando a pessoa revive sua real identidade, essa de servo eterno do Senhor, que se torna liberada.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Quatro

O Homem Sábio

Porque ninguém pode traçar a história do enredamento do ser vivo na energia material, o Senhor diz que é sem começo. Por sem começo, isso significa que a vida condicionada existe antes da criação; é simplesmente manifesta durante e depois da criação. Devido ao esquecimento de sua natureza, o ser vivo, apesar de espírito, sofre todos os tipos de misérias da existência material. Deve-se entender que também existem seres vivos que não estão enredados nesta natureza material mas estão situados no mundo espiritual. Eles são chamados almas liberadas e estão sempre dedicados na Consciência de Krishna, serviço devocional.

As atividades daqueles que são condicionados pela natureza material são levadas em consideração, e em sua próxima vida, de acordo com essas atividades, são oferecidos a eles diferentes tipos de corpos materiais. No mundo material, a alma espiritual condicionada é sujeita a várias recompensas e punições. Quando é recompensada por suas atividades justas, é elevada aos planetas superiores onde se torna um dos muitos semideuses, e quando é punida por atividades abomináveis, é jogada nos planetas infernais onde sofre as misérias da existência material mais agudamente. Chaitanya Mahaprabhu dá um ótimo exemplo dessa punição. Antigamente, um rei costumava punir um criminoso por mergulhá-lo no rio, depois o levantava para respirar e novamente o imergia na água. A natureza material pune e recompensa a entidade individual justamente do mesmo modo. Quando é punida, é imergida na água das misérias materiais, e quando é recompensada, é tirada daí por algum tempo. Elevação aos planetas superiores ou a um status de vida superior nunca é permanente. A pessoa tem que descer novamente para ser submersa na água. Tudo isso acontece constantemente nesta existência material; às vezes a pessoa é elevada aos sistemas planetários superiores, e às vezes é atirada na condição infernal da vida material.

A esse respeito, Chaitanya Mahaprabhu recita um verso do Srimad Bhagavatam tirado das instruções de Narada Muni para Vasudeva, o pai de Krishna (Bhag. 11.2.37):

bhayam dvitiyabhinivesatah syad
isad apetasya viparyayo 'smrtih
tan-mayayato budha abhajet tam
bhaktyaikayesam guru-devatatma

Nessa citação dos nove sábios que instruíam Maharaja Nimi, maya é definida como "esquecimento do relacionamento da pessoa com Krishna". Na realidade, maya significa "aquilo que não é". Não tem existência. Portanto é falso pensar que o ser vivo não tem conexão com o Supremo Senhor. Talvez ele não acredite na existência de Deus, ou ele pode pensar que não tem relacionamento com Deus, mas tudo isso são "ilusões", ou maya. Devido à absorção neste falso conceito de vida, a pessoa está sempre temerosa e cheia de ansiedades. Em outras palavras, um conceito de vida sem Deus é maya. Aquele que é realmente versado nas literaturas Védicas se rende ao Senhor com grande devoção e O aceita como o objetivo supremo. Quando um ser vivo esquece a natureza constitucional de seu relacionamento com Deus, ele é imediatamente confundido pela energia externa. Isso é a causa de seu ego falso, sua identificação do corpo com o eu. De fato, seu conceito inteiro do universo material surge dessa identificação falsa com o corpo, porque ele fica apegado ao corpo e seus subprodutos. Para escapar deste enredamento, ele só tem que executar seu dever e se render ao Supremo Senhor com inteligência e devoção e com Consciência de Krishna sincera.

Uma alma condicionada pensa falsamente que é feliz no mundo material, mas se for favorecida pelas instruções de um devoto puro, abandona seu desejo por desfrute material e se torna iluminada em Consciência de Krishna. Tão logo a pessoa entra em Consciência de Krishna, seu desejo por desfrute material é imediatamente vencido, e ela gradualmente se torna livre do enredamento material. Não existe questão de escuridão onde existe luz, e Consciência de Krishna é a luz que dissipa a escuridão do desfrute sensual material.

Uma pessoa consciente de Krishna nunca está sob o conceito falso de que é una com Deus. Ao saber que nunca será feliz por trabalhar para si mesma, ocupa todas suas energias no serviço do Senhor e assim ganha alívio das garras da energia ilusória material. Nessa conexão, Chaitanya Mahaprabhu cita o seguinte verso do Bhagavad-gita:

daivi hy esa guna-mayi
mama maya duratyaya
mam eva ye prapadyante
mayam etam taranti te

"A Minha energia divina, que consiste dos três modos da natureza material, é difícil de ser superada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem atravessá-la facilmente". (Bg. 7.14)

Chaitanya Mahaprabhu continuou a ensinar, para cada e todo momento que está engajada em alguma atividade lucrativa, a alma condicionada esquece sua identidade real. Às vezes quando está fatigada, quando está cansada das atividades materiais, deseja liberação e anseia se tornar una com o Supremo Senhor, mas em outros momentos acha que por trabalhar duro para satisfazer seus sentidos será feliz. Nos dois casos, está coberta pela energia material. Para a iluminação dessas almas condicionadas confusas, o Supremo Senhor apresentou literaturas Védicas volumosas tais quais os Vedas, os Puranas e Vedanta-sutra. Todas elas são destinadas a guiar o ser humano de volta ao Supremo. Chaitanya Mahaprabhu deu mais instruções por explicar que quando uma alma condicionada é aceita pela misericórdia do mestre espiritual e é guiada pela Superalma e as várias escrituras Védicas, torna-se iluminada e faz progresso na realização espiritual. É porque o Senhor Krishna é sempre misericordioso com Seus devotos que Ele apresentou todas essas literaturas Védicas pelas quais a pessoa pode entender sua relação com Ele e pode agir sobre a base desse relacionamento. Desse modo a pessoa é abençoada com o objetivo último da vida.

Na realidade, todo ser vivo é destinado a alcançar o Supremo Senhor. De fato, é possível para todo mundo entender seu relacionamento com o Supremo. A execução de deveres para alcançar perfeição é conhecida como serviço devocional, e na maturidade esse serviço devocional se torna amor de Deus, o verdadeiro objetivo da vida para todo ser vivo. Realmente, o ser vivo não é destinado a alcançar sucesso em rituais religiosos, desenvolvimento econômico ou desfrute sensual. O ser vivo não deve desejar nem mesmo sucesso na liberação, o que falar de sucesso em religião, economia e desfrute sensual. O verdadeiro desejo deve ser somente alcançar o estágio de serviço amoroso transcendental para o Senhor. As características todo-atrativas do Senhor Krishna ajudam a pessoa a alcançar esse serviço transcendental, e é por esse serviço em Consciência de Krishna que a pessoa realiza o relacionamento entre Krishna e ela mesma.

Sobre a busca humana para o objetivo último da vida, Chaitanya Mahaprabhu relata uma história do comentário de Madhwa que ocorre no Quinto Canto do Srimad Bhagavatam (Madhwa-bhashya) Sarvajña para um homem pobre que veio até ele para ter seu futuro previsto. Quando Sarvajña viu o horóscopo do homem, ficou imediatamente admirado porque o homem era tão pobre, e disse a ele, "Porque você é tão infeliz? Do seu horóscopo eu posso ver que você possui um tesouro escondido deixado para você por seu pai. Todavia, o horóscopo indica que seu pai não pôde revelar isso a você porque morreu num país estrangeiro, mas agora você pode procurar esse tesouro e ser feliz". Essa história é citada porque o ser vivo sofre por causa de sua ignorância sobre o tesouro escondido de seu Pai Supremo, Krishna. O tesouro é amor do Supremo, e em cada escritura Védica a alma condicionada é aconselhada a encontrá-lo. Como está afirmado no Bhagavad-gita, embora a alma condicionada seja o filho da personalidade mais rica - a Personalidade de Deus - ela não realiza isso. Por isso que as literaturas Védicas são dadas a ela para ajudá-la a procurar seu pai e sua propriedade paterna.

O astrólogo Sarvajña aconselhou o homem pobre mais ainda: "Não cave no lado sul da sua casa para encontrar o tesouro, porque se fizer isso será atacado por uma vespa venenosa e ficará frustrado. A procura deve ser conduzida no lado leste onde existe luz verdadeira, que se chama serviço devocional ou Consciência de Krishna. No lado sul existem os rituais Védicos, e no lado oeste existe especulação mental, e no lado norte existe yoga meditativa".

O conselho de Sarvajña deve ser observado cuidadosamente por todos. Se alguém procura pelo objetivo último por meio do processo ritualístico, seguramente será frustrado. Esse processo envolve a realização de rituais sob a guia de um sacerdote que pede dinheiro em troca do serviço. Uma pessoa pode achar que será feliz com a realização desses rituais, mas na verdade se ganhar algum resultado deles, é apenas temporário. Seu sofrimento material continuará. Assim nunca se tornará feliz de verdade por seguir o processo ritualístico. Em vez disso, simplesmente incrementará suas dores materiais mais e mais. O mesmo pode ser dito por cavar no lado norte, ou procurar o tesouro por meio do processo de yoga meditativo. Por esse processo a pessoa pensa em se tornar um com o Supremo Senhor, mas essa fusão no Supremo é como ser engolida por uma grande serpente. Às vezes uma serpente grande engole uma menor, e imergir na existência espiritual do Supremo é análogo. Enquanto a serpente pequena procura pela perfeição, é engolida. Obviamente não há solução aqui. No lado oeste também existe um impedimento na forma de um yaksa, um espírito maligno que protege o tesouro. A idéia é que um tesouro escondido nunca pode ser encontrado por aquele que pede o favor de um yaksa a fim de obtê-lo. O resultado é que a pessoa simplesmente será morta. Esse yaksa é a mente especulativa, e nesse caso o processo especulativo de auto-realização, ou o processo jñana, também é suicida.

A única possibilidade então é procurar o tesouro escondido no lado leste pelo processo do serviço devocional em Consciência de Krishna plena. De fato, o processo do serviço devocional é o tesouro oculto perpétuo, e quando alguém o alcança, torna-se perpetuamente rico. Aquele que é pobre em serviço devocional para Krishna está sempre em necessidade de ganho material. Às vezes, sofre as picadas das criaturas venenosas, e às vezes é frustrado; às vezes segue a filosofia do monismo e assim perde sua identidade, e às vezes é engolido por uma grande serpente. É só por abandonar tudo isso e se tornar fixo em Consciência de Krishna, serviço devocional para o Senhor, que a pessoa pode realmente alcançar a perfeição da vida.

     

      

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

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(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

 

Capítulo Cinco

Como Se Aproximar de Deus

Na realidade todas as literaturas Védicas direcionam o ser humano em direção ao estágio perfeito de devoção. Os caminhos de atividades lucrativas, conhecimento especulativo e meditação não conduzem ninguém ao estágio de perfeição, mas pelo processo do serviço devocional, o Senhor realmente se torna aproximável. Portanto todas as literaturas Védicas recomendam que se aceite esse processo. A esse respeito, Chaitanya Mahaprabhu citou das instruções do Senhor para Uddhava no Srimad Bhagavatam:

na sadhayati mam yogo
na sankhyam dharma uddhava
na svadhyayas tapas tyago
yatha bhaktir mamorjita

"Meu querido Uddhava, nem especulação filosófica, nem yoga meditativa, nem penitências podem Me dar tanto prazer quanto o serviço devocional praticado pelos seres vivos". (Bhag. 11.14.20). Krishna é querido somente pelos devotos, e Ele pode ser alcançado somente por serviço devocional. Se uma pessoa de nascimento baixo for um devoto, automaticamente se torna livre de toda a contaminação. Serviço devocional é o único caminho pelo qual se pode alcançar a Pessoa Suprema. Essa é a única perfeição aceita por toda literatura Védica. Justamente igual um homem pobre que se torna feliz quando recebe algum tesouro, quando alguém alcança serviço devocional, suas dores materiais são automaticamente aniquiladas. À medida que a pessoa avança em serviço devocional, obtém amor de Deus, e à medida que avança nesse amor, ela se torna livre de todo o cativeiro material. Não se deve pensar, entretanto, que o desaparecimento da pobreza e a liberação do cativeiro são os resultados finais do amor de Krishna. É em saborear a reciprocidade do serviço amoroso que o amor de Krishna existe. Em todas as literaturas Védicas encontramos que a obtenção desse relacionamento amoroso entre o Supremo Senhor e os seres vivos é a função do serviço devocional. Nossa função verdadeira é serviço devocional, e nosso objetivo último é amor do Supremo. Em todas as literaturas Védicas pode-se encontrar que Krishna é o centro último, porque através do conhecimento de Krishna todos os problemas da vida são resolvidos.

Chaitanya Mahaprabhu indicou (de acordo com o Padma Purana) apesar de haver diferentes escrituras para adoração de diferentes tipos de semideuses, essas instruções só confundem as pessoas no pensamento de que os semideuses são o supremo. Ainda mais se a pessoa cuidadosamente examinar e estudar os Puranas, encontrará que Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, é o único objeto de adoração. Por exemplo, no Markandeya Purana há menção da adoração a Devi, ou a deusa Durga ou Kali, nessa mesma candika também está afirmado que todos os semideuses - mesmo na forma de Durga ou Kali - são apenas diferentes energias do Vishnu Supremo. Assim o estudo dos Puranas revela Vishnu, a Suprema Personalidade de Deus, como o único objeto de adoração. A conclusão é que diretamente ou indiretamente, todos os tipos de adoração são mais ou menos direcionadas para a Suprema Personalidade de Deus, Krishna. No Bhagavad-gita está confirmado, aquele que adora os semideuses de fato só adora Krishna porque os semideuses são partes diferentes do corpo de Vishnu, ou Krishna. Que essa adoração dos semideuses é irregular, também é afirmado no Bhagavad-gita (Bg. 7.20-23, 9.23). O Srimad Bhagavatam confirma essa irregularidade por fazer a pergunta: "Qual é o objeto de adorar diferentes tipos de semideuses"? Na literatura Védica há várias divisões de atividades ritualísticas; uma é karma-kanda, ou atividades puramente ritualísticas, e outra é jñana-kanda, ou especulação sobre a Verdade Absoluta Suprema. Qual é então o propósito das seções ritualísticas das literaturas Védicas, e qual o propósito de diferentes mantras ou hinos que indicam adoração de vários semideuses? E qual o propósito da especulação filosófica sobre a matéria da Verdade Absoluta? O Srimad Bhagavatam responde que na realidade todos esses métodos definidos nos Vedas indicam a adoração do Supremo Senhor Vishnu. Em outras palavras, são só formas indiretas de adorar a Suprema Personalidade de Deus. Sacrifícios contidos nas porções ritualísticas dessas literaturas são destinados à satisfação do Supremo Senhor Vishnu. De fato, porque yajña, sacrifício, é especialmente destinado para satisfazer Vishnu, outro nome de Vishnu é Yajñesvara, ou o Senhor dos sacrifícios.

Porque os neófitos não estão no mesmo nível transcendental, são aconselhados a adorar diferentes tipos de semideuses de acordo com sua situação nos diferentes modos da natureza material. A idéia é que gradualmente esses neófitos possam se elevar ao plano transcendental e se dedicar no serviço de Vishnu, a Suprema Personalidade de Deus. Por exemplo, alguns neófitos que são apegados a comer carne são aconselhados pelos puranas a comer carne depois de oferecê-la à deidade Kali.

As seções filosóficas dos hinos Védicos são destinadas a capacitar uma pessoa para distinguir o Supremo Senhor de maya. Depois que a pessoa entende a posição de maya, pode se aproximar do Supremo Senhor em serviço devocional puro. Esse é o verdadeiro propósito da especulação filosófica, e isso é confirmado no Bhagavad-gita:

bahunam janmanam ante
jnanavan mam prapadyate
vasudevah sarvam iti
sa mahatma sudurlabhah

"Depois de muitos nascimentos e mortes, aquele que está realmente em conhecimento se rende a Mim, pois sabe que Eu sou a causa de todas as causas e de tudo que existe. Tal grande alma é muito rara". (Bg. 7.19).

Assim pode-se ver que todos os rituais e diferentes tipos de adoração e especulação filosófica ultimamente visam Krishna.

Chaitanya Mahaprabhu então disse a Sanatana Goswami sobre as múltiplas formas de Krishna e Sua opulência ilimitada. Ele também descreveu a natureza da manifestação espiritual, da manifestação material, e da manifestação do ser vivo. Ele também informou Sanatana Goswami que os planetas no céu espiritual, conhecidos como Vaikunthas, e os universos da manifestação material são na realidade diferentes tipos de manifestações porque são manifestações criadas de dois tipos de energia diferentes - a energia material e a energia espiritual. No que diz respeito a Krishna em Pessoa, Ele está diretamente situado na Sua energia espiritual, ou especificamente em Sua potência interna. Para nos ajudar a entender a diferença entre as energias espiritual e material, há uma análise clara das duas no Segundo Canto do Srimad Bhagavatam. Shridhara Swami também dá um estudo analítico claro em seu comentário sobre o primeiro verso do Décimo Canto do Srimad Bhagavatam. Shridhara Swami foi aceito pelo Senhor Chaitanya como um comentador autorizado sobre o Srimad Bhagavatam, e Chaitanya Mahaprabhu citou seus escritos e explicou que no Décimo Canto do Bhagavatam a vida e atividades de Krishna são descritas porque Krishna é o único abrigo de todas as manifestações. Por saber disso, Shridhara Swami adorou e ofereceu suas reverências a Krishna como o abrigo de tudo.

Neste mundo existem dois princípios de operação: Um princípio é a origem ou abrigo de tudo, e o outro princípio é deduzido desse princípio original. A Verdade Suprema é o abrigo de todas as manifestações e se chama asraya. Todos os outros princípios, que permanecem sob o controle do asraya-tattva, ou a Verdade Absoluta, são chamados asrita, ou corolários e reações subordinados. O propósito da manifestação material é dar à alma condicionada uma chance para alcançar liberação e retornar para o asraya-tattva, ou a Verdade Absoluta. Porque tudo na criação cósmica é dependente de asraya-tattva - a manifestação criativa ou a manifestação de Vishnu - os vários semideuses e as manifestações de energia, os seres vivos e todos os elementos materiais são dependentes de Krishna, porque Krishna é a Verdade Suprema. Assim o Srimad Bhagavatam indica que tudo é abrigado por Krishna diretamente e indiretamente. Conseqüentemente conhecimento perfeito só pode ser adquirido por um estudo analítico de Krishna, como confirmado no Bhagavad-gita.

O Senhor Chaitanya então descreveu os diferentes aspectos de Krishna e pediu para Sanatana Goswami ouvir atentamente. Ele então o informou que Krishna, o filho de Nanda Maharaja, é a Verdade Absoluta Suprema, a causa de todas as causas e a origem de todas emanações e encarnações. Ainda mais em Vraja, ou Goloka Vrindavana, Ele é justamente igual um jovem menino e é o filho de Nanda Maharaja. Sua forma, todavia, é eterna, plena de bem-aventurança, e plena de conhecimento absoluto. Ele é tanto o abrigo de tudo quanto o proprietário de tudo.

Chaitanya Mahaprabhu também dá evidência do Brahma-samhita sobre as propriedades transcendentais do corpo do Senhor Krishna:

isvarah paramah krsnah
sac-cid-ananda-vigrahah
anadir adir govindah
sarva-karana-karanam

"Krishna, que é conhecido como Govinda, é a Divindade Suprema. Ele tem um corpo espiritual eterno, bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem nenhuma outra origem, e Ele é a causa primordial de todas as causas". (Bs. 5.1). Desse modo, Chaitanya Mahaprabhu dá evidência que Krishna é a Personalidade de Deus original, plena de todas as seis opulências. É de Sri Krishna cuja morada, conhecida como Goloka Vrindavana, é o sistema planetário mais elevado no céu espiritual.

Em adição, o Senhor Chaitanya também citou um verso do Srimad Bhagavatam (Bhag. 1.3.28):

ete camsa-kalah pumsah
krsnas tu bhagavan svayam
indrari-vyakulam lokam
mrdayani yuge yuge

Todas as encarnações ou são expansões diretas de Krishna ou, indiretamente, expansões das expansões de Krishna. Todavia, o nome de Krishna indica a Personalidade de Deus original. É Ele quem aparece nesta Terra, neste universo ou em qualquer outro universo, quando há um distúrbio criado pelos demônios, que sempre tentam perturbar a administração dos semideuses.

Existem três processos diferentes pelos quais Krishna pode ser entendido: o processo empírico de especulação filosófica, o processo de meditação de acordo com o sistema de yoga místico, e o processo da Consciência de Krishna, ou serviço devocional. Pelo método de especulação filosófica, o aspecto Brahman impessoal de Krishna é entendido. Pelo processo de meditação ou yoga místico, o aspecto da Superalma, a expansão todo-penetrante de Krishna, é entendido. E pelo serviço devocional em Consciência de Krishna plena, a Personalidade de Deus original é realizada. O Senhor Chaitanya também cita um verso do Srimad Bhagavatam (Bhag. 1.2.11):

vadanti tat tattva-vidas
tattvam yaj jñanam advayam
brahmeti paramatmeti
bhaga van iti sabdyate

"Aqueles que são conhecedores da Verdade Absoluta descrevem a Verdade Absoluta em três aspectos como Brahman impessoal, Superalma localizada todo-penetrante, e a Suprema Personalidade de Deus, Krishna". Em outras palavras, Brahman, a manifestação impessoal, Paramatma, a manifestação localizada, e Bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus, são uma e a mesma. Entretanto, de acordo com o processo adotado, Ele é realizado como Brahman, Paramatma e Bhagavan.

Por realizar o Brahman impessoal, a pessoa simplesmente realiza a refulgência que emana do corpo transcendental de Krishna. Essa refulgência é comparada ao brilho solar. Existe o deus do Sol, o Sol em si e o brilho solar que é a refulgência resplandecente do deus do Sol original. Similarmente, a refulgência espiritual (brahmajyoti), Brahman impessoal, é nada mais além da refulgência de Krishna. Para suportar essa análise, o Senhor Chaitanya cita um verso importante do Brahma-samhita no qual o Senhor Brahma diz:

yasya prabha prabhavato jagadanda-koti-
kotisv asesa-vasudhadi-vibhuti-bhinnam
tad-brahma niskalam anantam asesa-bhutam
govindam adi-purusam tam aham bhajami

"Eu adoro a Suprema Personalidade de Deus, por cuja refulgência pessoal o brahmajyoti ilimitado é manifesto. Nesse brahmajyoti existem inumeráveis universos, e cada um é repleto de planetas inumeráveis". (Bs. 5.40).

O Senhor Chaitanya indica mais ainda que o Paramatma, o aspecto todo-penetrante situado no corpo de todos, é apenas uma manifestação ou expansão parcial de Krishna, mas porque Krishna é a alma de todas as almas, Ele é chamado Paramatma, o Eu Supremo. A esse respeito, Chaitanya citou outro verso do Srimad Bhagavatam a respeito das conversas entre Maharaja Parikshit e Shukadeva Goswami. Enquanto ouvia sobre os passatempos transcendentais de Krishna em Vrindavana, Maharaja Parikshit inquiriu de seu mestre espiritual, Shukadeva Goswami, porque os habitantes de Vrindavana eram tão atraídos por Krishna. A essa pergunta, Shukadeva Goswami respondeu:

krsnam enam avehi tvam
atmanam akhilatmanam
jagaddhitaya so 'py atra
dehivabhati mayaya

"Krishna deve ser conhecido como a alma de todas as almas, porque Ele é a alma de todas as almas individuais e a alma do próprio Paramatma localizado também. Em Vrindavana, Ele agia justamente igual um ser humano para atrair pessoas e mostrar que Ele não é sem forma". (Bhag. 10.14.55).

O Supremo Senhor é tão individual quanto outros seres vivos, mas Ele é diferente no sentido de que Ele é o Supremo e todos os outros seres vivos são subordinados a Ele. Todos os outros seres vivos também podem desfrutar bem-aventurança, vida eterna e conhecimento pleno espirituais na associação Dele. O Senhor Chaitanya cita um verso do Bhagavad-gita no qual Krishna, ao falar para Arjuna sobre Suas diferentes opulências, destaca que Ele em Pessoa entra neste universo por uma de Suas porções plenárias, Garbhodakashayi Vishnu, e também entra em cada universo como o Kshirodakashayi Vishnu, e então Se expande como a Superalma no coração de todos. O Senhor Krishna em Pessoa indica que se alguém quer entender a Verdade Absoluta Suprema em perfeição, deve adotar o processo do serviço devocional em plena Consciência de Krishna. Então será possível para ele entender a última palavra da Verdade Absoluta.

     

     

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Capítulo Seis

Suas Formas são Uma e a Mesma

Pelo serviço devocional a pessoa pode entender que Krishna primeiro de tudo Se manifesta como svayam-rupa, Sua forma pessoal, depois como tadekatma-rupa, e então como avesa-rupa. É nesses três aspectos que Ele Se manifesta em Sua forma transcendental. O aspecto svayam-rupa é a forma pela qual Krishna pode ser entendido por quem pode não entender Seus outros aspectos. Em outras palavras, a forma pela qual Krishna é entendido diretamente se chama svayam-rupa, ou Sua forma pessoal. A tadekatma-rupa é a forma que mais se assemelha com a svayam-rupa, mas existem algumas diferenças nas características corpóreas. A tadekatma-rupa é dividida em duas manifestações - a expansão pessoal (svamsa) e a expansão de passatempo (vilasa). No que diz respeito à avesa-rupa, quando Krishna dota de poder algum ser vivo adequado para representá-Lo, esse ser vivo é chamado avesa-rupa, ou saktyavesa-avatara.

A forma pessoal de Krishna pode ser dividida em duas: svayam-rupa e svayam-prakasa. Quanto à Sua svayam-rupa (ou forma de passatempo), é nessa forma que Ele sempre permanece em Vrindavana com os habitantes de Vrindavana. Essa forma pessoal (svayam-rupa) pode ser mais dividida nas formas prabhava e vaibhava. Por exemplo, Krishna Se expandiu em múltiplas formas durante a dança rasa a fim de dançar com cada e toda gopi que participou, e em formas a fim de acomodar Suas 16.108 esposas. Há alguns exemplos de grandes místicos que também expandem seus aspectos corpóreos em diferentes modos, mas Krishna não Se expandiu por nenhum processo de yoga. Cada expansão de Krishna era separada e individual. Na história Védica, Saubhari Rishi, um sábio, expandiu-se em oito formas pelo processo de yoga, mas Saubhari Rishi permaneceu um. Em relação a Krishna, quando Ele Se manifesta em diferentes formas, cada e toda forma era uma parte separada individual. Quando Narada Muni visitou Krishna nos diferentes palácios em Dwaraka, ele ficou admirado com isso, mesmo porque Narada nunca fica admirado ao ver expansões do corpo de um yogi, porque ele mesmo conhece o truque. Ainda assim, no Srimad Bhagavatam está afirmado que Narada ficou realmente admirado de ver as expansões de Krishna. Ele ficou maravilhado de ver como o Senhor estava presente com Suas rainhas em cada e todos os Seus 16.108 palácios. Com cada rainha, Krishna em Pessoa estava numa forma diferente, e agia de modos diferentes. Numa forma Ele estava entretido em brincar com Seus filhos, e ainda em alguma outra Ele realizava alguma tarefa doméstica. Essas diferentes atividades são conduzidas pelo Senhor quando Ele está em Suas formas "emocionais", que são conhecidas como expansões vaibhava-prakasa. Similarmente, existem outras expansões ilimitadas das formas de Krishna, mas mesmo quando estão divididas ou expandidas sem limite, elas ainda são uma e a mesma. Não existe diferença entre uma forma e outra. Essa é a natureza absoluta da Suprema Personalidade de Deus.

No Srimad Bhagavatam está afirmado que quando Akrura acompanhava ambos Krishna e Balarama de Gokula para Mathura, ele entrou nas águas do Rio Yamuna e pôde ver nas águas todos os planetas no céu espiritual. Ele também viu ali o Senhor em Sua forma de Vishnu e também Narada e os quatro Kumaras, que O adoravam. Como está afirmado no Bhagavata Purana (Bhag. 10.40.7):

anye ca samskrtatmano
vidhinabhihitena te
yajanti tvan-mayas tvam vai
bahumurty-ekamurtikam

Existem muitos adoradores que são purificados pelos diferentes processos de adoração - tais quais os Vaishnavas ou os Aryans - que adoram o Supremo Senhor de acordo com suas convicções de entendimento espiritual. Cada processo de adoração envolve a compreensão das diferentes formas do Senhor, como mencionado nas escrituras, mas a idéia última é adorar o Supremo Senhor em Pessoa.

Em Seu aspecto vaibhava-prakasa, o Senhor Se manifesta como Balarama. O aspecto de Balarama é tão bom quanto o Próprio Krishna, a única diferença é que a tonalidade corpórea de Krishna é escura e de Balarama é clara. A forma vaibhava-prakasa também foi exibida quando Krishna apareceu perante Sua Mãe Devaki na forma de quatro mãos de Narayana, justamente quando Ele entrou no mundo. A pedido de Seus pais, todavia, Ele Se transformou numa forma de duas mãos. Assim às vezes Ele manifesta quatro mãos e às vezes duas. A forma de duas mãos é realmente vaibhava-prakasa, e a forma de quatro mãos é prabhava-prakasa. Em Sua forma pessoal, Krishna é justamente igual um menino pastor de vacas, e Ele pensa em Si mesmo desse modo. Mas quando Ele está na forma Vasudeva, Ele pensa em Si mesmo como o filho de um ksatriya e age como um príncipe administrador.

Na forma de duas mãos, como o menino pastor de vacas filho de Nanda Maharaja, Krishna exibe plenamente Sua opulência, forma, beleza, riqueza, atratividade e passatempos. De fato, em algumas literaturas Vaishnavas se encontra que às vezes, na Sua forma de Vasudeva, Ele fica atraído pela forma de Govinda em Vrindavana. Assim como Vasudeva, Ele às vezes deseja desfrutar igual o menino pastor de vacas Govinda faz, apesar da forma Govinda e a forma Vasudeva serem uma e a mesma. Sobre isso, há uma passagem no Quarto Capítulo do Lalita-madhava (4.19), onde Krishna fala com Uddhava como se segue: "Meu querido amigo, a forma de Govinda, o menino pastor de vacas, Me atrai. De fato, Eu desejo ser igual às donzelas de Vraja, que também estão atraídas por essa forma de Govinda". Similarmente, no Oitavo Capítulo, Krishna diz: "Ó quão maravilhoso é isso! Quem é essa pessoa? Depois de vê-Lo, Eu estou tão atraído que agora Eu desejo abraçá-Lo justamente igual Radhika".

Também existem formas de Krishna que são um pouco diferentes, e essas são chamadas de formas tadekatma-rupa. Essas podem ser divididas ainda nas formas vilasa e svamsa, que por sua vez têm muitos aspectos diferentes e podem ser divididas em formas prabhava e vaibhava. Sobre as formas vilasa, existem inumeráveis prabhava-vilasas pelas quais Krishna Se expande como Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna, e Aniruddha. Às vezes o Senhor pensa de Si mesmo como um menino pastor de vacas, e às vezes Ele pensa de Si mesmo como o filho de Vasudeva, um príncipe ksatriya, e esse pensamento de Krishna se chama Seus "passatempos". Na realidade, Ele está na mesma forma em Sua vaibhava-prakasa e prabhava-vilasa, mas Ele aparece diferentemente como Balarama e Krishna. Suas expansões como Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha estão na catur-vyuha original, ou formas de quatro mãos.

Existem inumeráveis manifestações de quatro mãos em diferentes planetas e diferentes locais, e elas são manifestas em Dwaraka e Mathura eternamente. Das quatro formas de quatro mãos originais (Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha) se manifestam as principais vinte e quatro formas chamadas vaibhava-vilasa, e são chamadas diferentemente de acordo com a colocação dos diferentes símbolos (búzio, maça, lótus e disco) em Suas mãos. As quatro manifestações principais de Krishna são encontradas em cada planeta no céu espiritual, e esses planetas são chamados Narayanaloka ou Vaikunthaloka. No Vaikunthaloka Ele é manifesto na forma de quatro mãos de Narayana. De cada Narayana, as quatro formas de Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha são manifestas. Narayana é o centro, e as quatro formas de Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha rodeiam a forma de Narayana. Cada uma dessas quatro formas novamente se expande em três, e todas essas têm diferentes nomes, a começar com Keshava. Essas formas são doze no total, e são conhecidas por diferentes nomes de acordo com a colocação dos símbolos em Suas mãos.

Sobre a forma de Vasudeva, as três expansões manifestas Dele são Keshava, Narayana e Madhava. As três formas de Sankarshana são conhecidas como Govinda, Vishnu e Sri Madhusudana. (Deve-se notar, entretanto, que essa forma Govinda não é a mesma forma Govinda que é manifesta em Vrindavana como o filho de Nanda Maharaja). Similarmente, Pradyumna também é dividido em três formas conhecidas como Trivikrama, Vamana e Shridhara; e as três formas de Aniruddha são conhecidas como Hrishikesha, Padmanabha e Damodara.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Sete

Ilimitadas Formas do Supremo

De acordo com o almanaque Vaishnava, os doze meses do ano são chamados de acordo com as doze formas Vaikuntha do Senhor Krishna, e essas formas são conhecidas como as Deidades predominantes dos doze meses. Esse calendário começa com o mês de Margashirsa, que é equivalente ao fim de outubro e começo de novembro. O restante de novembro é conhecido pelos Vaishnavas como Keshava. Dezembro se chama Narayana, janeiro se chama Madhava, fevereiro é Govinda, março é Vishnu, abril Sri Madhusudana, maio Trivikrama, junho Vamana, julho Shridhara, agosto Hrishikesha, setembro Padmanabha, e o início de outubro é conhecido como Damodara. (O nome Damodara foi dado a Krishna quando Ele foi amarrado por cordas pela Sua mãe, mas a forma Damodara no mês de outubro é uma manifestação diferente). Justamente igual os meses do ano serem conhecidos de acordo com os doze diferentes nomes do Supremo Senhor, a comunidade Vaishnava marca doze partes do corpo de acordo com esses nomes. Por exemplo, a marca de tilaka na testa se chama Keshava, e sobre o estômago, peito e braços os outros nomes também são dados. Esses são os mesmos nomes iguais aos dados para os meses.

As quatro formas (Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha) também são expandidas na vilasa-murti. Elas são oito em número, e seus nomes são Purushottama, Achyuta, Nrisimha, Janardhana, Hari, Krishna, Adhokshaja e Upendra. Dessas oito, Adhokshaja e Purushottama são as formas vilasa de Vasudeva. Similarmente, Upendra e Achyuta são as formas de Sankarshana; Nrisimha e Janardhana são as formas de Pradyumna, e Hari e Krishna são as formas vilasa de Aniruddha. (Esse Krishna é diferente do Krishna original).

Essas vinte e quatro formas são conhecidas como a manifestação vilasa da forma prabhava (quatro mãos), e são chamadas diferentemente de acordo com a posição das representações simbólicas (maça, disco, flor de lótus, e búzio). Dessas vinte e quatro formas existem as formas vilasa e vaibhava. Nomes mencionados aqui, tais quais Pradyumna, Trivikrama, Vamana, Hari e Krishna, também são diferentes em aspectos. Então, as que vêm para prabhava-vilasa de Krishna (inclusive Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha), há um total de vinte variações a mais. Todas essas têm planetas Vaikuntha no céu espiritual e estão situadas em oito direções diferentes. Apesar de cada uma delas estar eternamente no céu espiritual, algumas delas estão no entanto manifestas no mundo material também.

No céu espiritual, todos os planetas denominados pelo aspecto Narayana são eternos. O planeta mais elevado no céu espiritual é chamado Krishnaloka e é dividido em três porções diferentes: Gokula, Mathura e Dwaraka. Na porção Mathura, a forma de Keshava está sempre situada. Ele também é representado neste planeta terrestre. Em Mathura, Índia, a murti Keshava é adorada, e similarmente há uma forma Purushottama em Jagannatha Puri em Orissa. Em Anandaranya há a forma de Vishnu, e em Mayapur, o local de nascimento do Senhor Chaitanya, existe a forma de Hari. Muitas outras formas também estão situadas em vários lugares na Terra. Não só neste universo mas em todos os outros universos também as formas de Krishna estão distribuídas em toda parte. É indicado que esta Terra é dividida em sete ilhas, que são os sete continentes, entende-se que em cada e toda ilha existem formas similares, mas no presente momento elas são encontradas só na Índia. Apesar de pelas literaturas Védicas podermos entender que existem formas em outras partes do mundo, no presente não há informação de sua localização.

As diferentes formas de Krishna são distribuídas por todo o universo para dar prazer aos devotos. Não é que os devotos só nascem na Índia. Existem devotos em todas as partes do mundo, mas eles simplesmente esqueceram sua identidade. Essas formas encarnam não somente para dar prazer ao devoto mas para restabelecer serviço devocional e realizar outras atividades que dizem respeito vitalmente à Suprema Personalidade de Deus. Algumas dessas formas são encarnações mencionadas nas escrituras, tais quais a encarnação Vishnu, encarnação Trivikrama, encarnação Nrisimha e encarnação Vamana.

No Siddhartha-samhita, há uma descrição das vinte e quatro formas de Vishnu, e essas formas são chamadas de acordo com a posição das representações simbólicas em Suas quatro mãos. Quando se descreve as posições dos objetos nas mãos da Vishnu murti, deve-se começar com a mão direita inferior depois mover para a mão direita superior, mão esquerda superior e, finalmente, para a mão esquerda inferior. Desse modo, Vasudeva pode ser descrito como representado pela maça, búzio, disco e flor de lótus. Sankarshana é representado por maça, búzio, flor de lótus e disco. Similarmente, Pradyumna é representado por disco, búzio, maça e flor de lótus. Aniruddha é representado por disco, maça, búzio e flor de lótus. No céu espiritual as representações de Narayana são vinte em número e são descritas a seguir: Sri Keshava (flor, búzio, disco e maça), Narayana (búzio, flor, maça e disco), Sri Madhava (maça, disco, búzio e flor), Sri Govinda (disco, maça, flor e búzio), Vishnu-murti (maça, flor, búzio e disco), Madhusudana (disco, búzio, flor e maça), Trivikrama (flor, maça, disco e búzio), Sri Vamana (búzio, disco, maça e flor), Shridhara (flor, disco, maça e búzio), Hrishikesha (maça, disco, flor e búzio), Padmanabha (búzio, flor, disco e maça), Damodara (flor, disco, maça e búzio), Purushottama (disco, flor, búzio e maça), Achyuta (maça, flor, disco e búzio), Nrisimha (disco, flor, maça e búzio), Janardhana (flor, disco, búzio e maça), Sri Hari (búzio, disco, flor e maça), Sri Krishna (búzio, maça, flor e disco), Adhokshaja (flor, maça, búzio e disco), e Upendra (búzio, maça, disco e flor).

De acordo com o Hayashirsha-pañcharatra, existem dezesseis formas, e essas formas são chamadas conforme as situações do disco e da maça. A conclusão é que a Personalidade de Deus Suprema Original é Krishna. Ele é chamado lila-purusottama, e Ele reside perpetuamente em Vrindavana como o filho de Nanda. Também é sabido do Hayashirsha-pañcharatra que existem nove formas a proteger cada uma das duas Puris conhecidas como Mathura Puri e Dwaraka Puri: Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna e Aniruddha protegem uma, e Narayana, Nrisimha, Hayagriva, Varaha e Brahma - protegem a outra. Essas são diferentes manifestações das formas prakasa e vilasa do Senhor Krishna.

O Senhor Chaitanya também informa Sanatana Goswami que existem diferentes formas de svamsa também, e elas são divididas na divisão Sankarshana e na divisão encarnação. Da primeira divisão vêm os três purusa-avataras - o Karanodakashayi Vishnu, Garbhodakashayi Vishnu e Kshirodakashayi Vishnu - e da outra divisão vêm os lila-avataras, tais quais a encarnação do Senhor como um peixe, tartaruga, etc..

Existem seis tipos de encarnações: (1) o purusa-avatara, (2) o lila-avatara, (3) o guna-avatara, (4) o manvantara-avatara, (5) o yuga-avatara, e (6) o saktyavesa-avatara. Das seis manifestações vilasa de Krishna, existem duas divisões baseadas em Sua idade, e essas são balya e pauganda. Como o filho de Nanda Maharaja, Krishna em Sua forma original desfruta desses dois aspectos de infância - chamados balya e pauganda.

É seguro concluir assim que não há fim para as expansões e encarnações de Krishna. O Senhor Chaitanya explica algumas delas para Sanatana justamente para dar a ele uma idéia de como o Senhor expande e desfruta. Essas conclusões também são confirmadas no Srimad Bhagavatam (1.3.26). Lá está dito que não há limite para as encarnações do Supremo Senhor, justamente como não há limite para as ondas do oceano.

Krishna primeiro encarna como os três purusa-avataras, chamados o Maha-Vishnu ou Karanodakashayi avatara, o Garbhodakashayi avatara e o Kshirodakashayi avatara. Isso é confirmado no Satvata-tantra. As energias de Krishna também podem ser divididas em três: Sua energia de pensar, sentir e agir. Quando Ele exibe Sua energia de pensar, Ele é o Supremo Senhor; quando Ele exibe Sua energia de sentir, Ele é o Senhor Vasudeva; quando Ele exibe Sua energia de ação, Ele é Sankarshana Balarama. Sem Seu pensar, sentir e agir, não haveria possibilidade da criação. Apesar de não existir criação no mundo espiritual - porque lá os planetas são sem começo - existe criação no mundo material. Nos dois casos, todavia, os dois mundos espiritual e material são manifestações da energia de agir, na qual Krishna age na forma de Sankarshana e Balarama.

O mundo espiritual dos planetas Vaikuntha e Krishnaloka, o planeta supremo, está situado em Sua energia de pensar. Apesar de não haver criação no mundo espiritual, que é eterno, deve-se entender ainda que os planetas Vaikuntha dependem da energia de pensar do Supremo Senhor. Essa energia de pensar é descrita no Brahma-samhita (5.2), onde está dito que a morada suprema, conhecida como Goloka, é manifesta como uma flor de lótus com centenas de pétalas. Tudo lá é manifesto por Ananta, a forma Balarama ou Sankarshana. A manifestação cósmica material e seus diferentes universos são manifestos através de maya, ou energia material. Entretanto, não se deve pensar que a natureza material ou energia material é a causa desta manifestação cósmica. Em vez disso, ela é causada pelo Supremo Senhor, que usa Suas diferentes expansões através da natureza material. Em outras palavras, não há possibilidade de nenhuma criação sem a superintendência do Supremo Senhor. A forma pela qual a energia da natureza material trabalha para produzir criação se chama a forma Sankarshana, e compreende-se que esta manifestação cósmica é criada sob a superintendência do Supremo Senhor.

No Srimad Bhagavatam (10.46.31) é dito que Balarama e Krishna são a origem de todos os seres vivos e que essas duas personalidades entram em tudo. Uma lista de encarnações é dada no Srimad Bhagavatam (1.3), e são as seguintes: (1) Kumaras, (2) Narada, (3) Varaha, (4) Matsya, (5) Yajña, (6) Nara-narayana, (7) Kardami Kapila, (8) Dattatreya, (9) Hayashirsha, (10) Hamsa, (11) Dhruvapriya ou Prishnigarbha, (12) Rishabha, (13) Prithu, (14) Nrisimha, (15) Kurma, (16) Dhanvantari, (17) Mohini, (18) Vamana, (19) Bhargava (Parashurama), (20) Raghavendra, (21) Vyasa, (22) Pralambari Balarama, (23) Krishna, (24) Buddha e (25) Kalki. Porque quase todos os lila-avataras aparecem em um dia de Brahma, que se chama um kalpa, são às vezes chamados de kalpa-avataras. Desses, a encarnação de Hamsa e Mohini não são permanentes, mas Kapila, Dattatreya, Rishabha, Dhanvantari e Vyasa são cinco formas eternas, e são mais célebres. As encarnações de tartaruga Kurma, o peixe Matsya, Nara-narayana, Varaha, Hayashirsha, Prishnigarbha, e Balarama são consideradas encarnações de vaibhava. Similarmente, há três guna-avataras, ou encarnações dos modos da natureza qualitativos, e esses são Brahma, Vishnu e Shiva.

Dos manvantara-avataras, existem quatorze: (1) Yajña, (2) Vibhu, (3) Satyasena, (4) Hari, (5) Vaikuntha, (6) Ajita, (7) Vamana, (8) Sarvabhauma, (9) Rishabha, (10) Vishvaksena, (11) Dharmasetu, (12) Sudhama, (13) Yogeshvara, (14) Brihadbhanu. Desses quatorze manvantara-avataras, Yajña e Vamana também são lila-avataras, e os restantes são manvantara-avataras. Esses quatorze manvantara-avataras também são conhecidos como vaibhava-avataras.

Os quatro yuga-avataras também são descritos no Srimad Bhagavatam. Na Satya-yuga, e encarnação de Deus é branca; na Treta-yuga Ele é vermelho; em Dwapara-yuga, Ele é escuro; e em Kali-yuga Ele também é escuro, mas às vezes, numa Kali-yuga especial, Sua cor é amarelada (como é o caso de Chaitanya Mahaprabhu). Sobre os shaktyavesha-avataras, eles incluem Kapila e Rishabha, Ananta, Brahma (às vezes o Senhor em Pessoa Se torna Brahma), Catuhsana (a encarnação de conhecimento), Narada (a encarnação do serviço devocional), Rei Prithu (a encarnação do poder administrativo), e Parashurama (a encarnação que subjuga maus princípios).

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Oito

Os Avataras

O Senhor Chaitanya continuou a explicar para Sanatana Goswami que as expansões do Senhor Krishna que vêm para a criação material são chamadas avataras, ou encarnações. A palavra avatara significa "Aquele que descende", e nesse caso a palavra especificamente se refere àquele que descende do céu espiritual. No céu espiritual existem inumeráveis planetas Vaikuntha, e desses planetas as expansões da Suprema Personalidade de Deus vêm para dentro deste universo.

O primeiro advento da Suprema Personalidade de Deus da expansão de Sankarshana é a encarnação purusa, Maha-Vishnu. Está confirmado no Srimad Bhagavatam (1.3.1) que quando a Suprema Personalidade de Deus descende como a primeira encarnação purusa da criação material, Ele imediatamente manifesta dezesseis energias elementares. Conhecido como o Maha-Vishnu, Ele deita dentro do Oceano Causal, e Ele que é a encarnação original no mundo material. Ele é o Senhor do tempo, natureza, causa e efeito, mente, ego, os cinco elementos, os três modos da natureza material, os sentidos e a forma universal. Apesar de Ele ser o senhor de todos os objetos móveis e imóveis dentro do mundo material, Ele é totalmente independente.

A influência da natureza material não pode alcançar além do Viraja, ou Oceano Causal, como confirmado no Srimad Bhagavatam (2.9.10). Os modos da natureza material (bondade, paixão e ignorância), e também o tempo material, não têm influência nos planetas Vaikuntha. Nesses planetas, os associados liberados de Krishna vivem eternamente, e são adorados tanto pelos semideuses quanto pelos demônios.

A natureza material age em duas capacidades como maya e pradhana. Maya é a causa direta, e pradhana se refere aos elementos da manifestação material. Quando o primeiro purusa-avatara, Maha-Vishnu, olha sobre a natureza material, a natureza material fica agitada, e o purusa-avatara fecunda a matéria com seres vivos. Simplesmente pelo olhar de Maha-Vishnu, a consciência é criada, e essa consciência é conhecida como mahat-tattva. A Deidade predominante do mahat-tattva é Vasudeva. Essa consciência criada é então dividida em três atividades departamentais de acordo com os três gunas, ou modos da natureza material. Consciência no modo da bondade é descrita no Décimo Primeiro Canto do Srimad Bhagavatam. A Deidade predominante do modo da bondade se chama Aniruddha. Consciência no modo material da paixão produz inteligência, e a Deidade predominante nesse caso é Pradyumna. Ele é o mestre dos sentidos. Consciência no modo da ignorância causa a produção do éter, o céu, e o sentido da audição. A manifestação cósmica é uma combinação de todos esses modos, e dessa forma inumeráveis universos são criados. Ninguém pode contar o número de universos.

Esses universos inumeráveis são produzidos dos poros do corpo de Maha-Vishnu. Igual inumeráveis partículas de poeira que passam através de minúsculos orifícios numa tela, similarmente dos poros do corpo de Maha-Vishnu inumeráveis universos emanam. Quando Ele exala a respiração, inumeráveis universos são produzidos, e quando Ele inala, eles são aniquilados. Todas as energias de Maha-Vishnu são espirituais, e não têm nada a ver com a energia material. No Brahma-samhita (5.48) é dito que a deidade predominante de cada universo, Brahma, vive somente durante uma respiração de Maha-Vishnu. Assim Maha-Vishnu é a Superalma original de todos os universos e o senhor de todos os universos também.

A segunda encarnação de Vishnu, o Garbhodakashayi Vishnu, entra em cada e todo universo, derrama água do Seu corpo, e deita sobre essa água. De Seu umbigo, cresce o caule de uma flor de lótus, e sobre essa flor de lótus a primeira criatura, Brahma, nasce. Dentro do caule da flor de lótus existem quatorze divisões de sistemas planetários, que são criados por Brahma. Dentro de cada universo o Senhor está presente como o Garbhodakashayi Vishnu, e Ele mantém cada universo e trata de suas necessidades. Apesar de Ele estar dentro de cada universo material, a influência da energia material não pode tocá-Lo. Quando é requerido, esse mesmo Vishnu toma a forma do Senhor Shiva e aniquila a criação cósmica. As três encarnações secundárias - Brahma, Vishnu e Shiva - são as deidades predominantes dos três modos da natureza material. O mestre do universo, todavia, é o Garbhodakashayi Vishnu, que é adorado como a Superalma Hiranyagarbha. Os hinos Védicos O descrevem como possuidor de milhares de cabeças. Apesar de Ele estar dentro da natureza material, Ele não é tocado por ela.

A terceira encarnação de Vishnu, Kshirodakashayi Vishnu, também é uma encarnação do modo da bondade. Ele também é a Superalma de todos os seres vivos, e Ele reside no oceano de leite dentro do universo. Assim Chaitanya Mahaprabhu descreveu os purusa-avataras.

O Senhor Chaitanya depois descreveu os lila-avataras, ou avataras de "passatempo", e desses o Senhor destaca que não há limite. Todavia, Ele descreve alguns deles - por exemplo, Matsya, Kurma, Raghunatha, Nrisimha, Vamana e Varaha.

Sobre os guna-avataras, ou encarnações qualitativas de Vishnu, elas são três - Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma é um dos seres vivos, mas devido a seu serviço devocional ele é muito poderoso. Esse ser vivo primordial, mestre do modo material da paixão, é diretamente dotado de poder pelo Garbhodakashayi Vishnu para criar inumeráveis seres vivos. No Brahma-samhita (5.49) Brahma é comparado a jóias preciosas influenciadas pelos raios do Sol, e o Sol é comparado ao Supremo Senhor Garbhodakashayi Vishnu. Se em algum kalpa não existir nenhum ser vivo adequado capacitado para agir na capacidade de Brahma, Garbhodakashayi Vishnu em pessoa Se manifesta como Brahma e age de acordo.

Similarmente, por Se expandir como o Senhor Shiva, o Supremo Senhor é engajado quando há uma necessidade de aniquilar o universo. O Senhor Shiva, em associação com maya, possui muitas formas, que geralmente são numeradas em onze. O Senhor Shiva não é um dos seres vivos, ele é, mais ou menos, Krishna em Pessoa. O exemplo do leite e iogurte é usado freqüentemente a esse respeito - iogurte é uma preparação do leite, mesmo assim iogurte não pode ser usado como leite. Similarmente, o Senhor Shiva é uma expansão de Krishna, mas ele não pode agir como Krishna, nem nós podemos obter a restauração espiritual do Senhor Shiva que obtemos de Krishna. A diferença é que o Senhor Shiva tem uma conexão com natureza material, mas Vishnu ou o Senhor Krishna não tem nada a ver com natureza material. No Srimad Bhagavatam (10.88.3) está afirmado que o Senhor Shiva é uma combinação dos três tipos de consciência transformada conhecidos como vaikarika, taijasa e tamasa.

A encarnação Vishnu, apesar de ser o senhor dos modos da bondade dentro de cada universo, está de modo nenhum em toque com a influência da natureza material. Apesar de Vishnu ser igual a Krishna, Krishna é a fonte original. Vishnu é uma parte, mas Krishna é o todo. Essa é a versão dada pelas literaturas Védicas. No Brahma-samhita, o exemplo é dado de uma vela original que acende uma segunda vela. Apesar de ambas as velas serem de mesmo poder, uma é aceita como a original, e a outra é dita como acesa pela original. A expansão Vishnu é igual à segunda vela. Ele é tão poderoso quanto Krishna, mas o Vishnu original é Krishna. Brahma e o Senhor Shiva são serventes obedientes do Supremo Senhor, e o Supremo Senhor como Vishnu é uma expansão de Krishna.

Depois de descrever os Lila e guna-avataras, o Senhor Chaitanya explica os manvantara-avataras para Sanatana Goswami. Ele primeiro afirma que não há possibilidade de contar os manvantara-avataras. Em um kalpa, ou um dia de Brahma, quatorze Manus são manifestos. Um dia de Brahma é calculado em 4 bilhões e 320 milhões de anos, e Brahma vive cem anos nessa escala. Assim se quatorze Manus aparecem em um dia de Brahma, há 420 Manus durante um mês de Brahma, e durante um ano de Brahma há 5.040 Manus. Porque Brahma vive por cem de seus anos, calcula-se que há 504.000 Manus manifestos durante a duração da vida de um Brahma. Porque existem inumeráveis universos, ninguém pode imaginar a totalidade das encarnações manvantara. Porque todos os universos são produzidos simultaneamente pela exalação de Maha-Vishnu, ninguém pode começar a calcular quantos Manus são manifestos de uma vez. Cada Manu, entretanto, é chamado por um nome diferente. O primeiro Manu é chamado Swayambhuva, e ele é o filho de Brahma. O segundo Manu, Swarochisha, é o filho da deidade predominante do fogo. O terceiro Manu é Uttama, e ele é o filho do Rei Priyavrata. O quarto Manu, Tamasa, é o irmão de Uttama. O quinto Manu, chamado Raivata, e o sexto Manu, Chakshusha, são dois irmãos de Tamasa, mas Chakshusha é o filho de Chakshu. O sétimo Manu é chamado Vaivasvata, e ele é o filho do deus do Sol. O oitavo Manu é chamado Savarni, e ele também é um filho do deus do Sol, nascido de uma esposa chamada Chaya. O nono Manu, Dakshasavarni, é o filho de Varuna. O décimo Manu, Brahmasavarni, é o filho de Upashloka. Quatro outros Manus são conhecidos como Rudrasavarni, Dharmasavarni, Devasavarni e Indrasavarni.

Depois de descrever as encarnações Manu, o Senhor Chaitanya explicou os yuga-avataras para Sanatana Goswami. Existem quatro yugas, ou milênios - Satya, Treta, Dwapara, e Kali - e em cada milênio o Supremo Senhor encarna, e cada encarnação tem uma cor diferente de acordo com a yuga. Na Satya-yuga a cor da encarnação principal é branca. Na Treta-yuga a cor é vermelha, e em Dwapara-yuga a cor é escura (Krishna), e em Kali-yuga a cor da encarnação principal é amarela (Chaitanya Mahaprabhu). Isso é confirmado no Srimad Bhagavatam (10.8.13) pelo astrólogo Gargamuni, que calculou o horóscopo de Krishna na casa de Nanda Maharaja.

Na Satya-yuga o processo de auto-realização era meditação, e esse processo é ensinado pela encarnação branca de Deus. Essa encarnação deu uma bênção ao sábio Kardama pela qual ele poderia ter uma encarnação da Personalidade de Deus como seu filho. Em Satya-yuga, todos meditavam em Krishna, e cada e todo ser vivo estava em pleno conhecimento. Nesta era presente, Kali-yuga, pessoas que não estão em conhecimento pleno ainda tentam esse processo meditativo que era recomendado para uma era prévia. O processo para auto-realização recomendado no milênio Treta era a execução de sacrifício, e isso foi ensinado pela encarnação vermelha de Deus. No milênio Dwapara, Krishna estava presente pessoalmente, e Ele era adorado por todos pelo mantra:

namas te vasudevaya
namah sankarsanaya
pradyumnayaniruddhaya
tubhyam bhagavate namah

"Deixe-me oferecer minhas reverências à Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva, Sankarshana, Pradyumna, e Aniruddha". Esse era o processo de auto-realização para a era Dwapara. No próximo milênio - esta presente era de Kali-yuga - o Senhor encarna para pregar o cantar do santo nome de Krishna. Nesta era o Senhor é amarelo (Chaitanya Mahaprabhu), e Ele ensina às pessoas amor de Deus por cantar os nomes de Krishna. Esse ensino é realizado pessoalmente por Krishna, e Ele exibe amor do Supremo por louvar, cantar e dançar com milhares de pessoas que O seguiam. Essa encarnação particular da Suprema Personalidade de Deus é predita no Srimad Bhagavatam (11.5.32):

krsna-varnam tvisakrsnam
sangopangastra-parsadam
yajñaih sankirtana-prayair
yajanti hi sumedhasah

"Na era de Kali o Senhor encarna como um devoto, de cor amarelada, e sempre canta Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Apesar de Ele ser Krishna, Sua tonalidade não é escura como Krishna em Dwapara-yuga mas é dourada. É em Kali-yuga que o Senhor Se dedica à pregação do amor do Supremo através do movimento sankirtana, e os seres vivos que são inteligentes adotam esse processo de auto-realização". Também está afirmado no Srimad Bhagavatam (12.3.52):

krte yad dhyayato visnum
tretayam yajato makhaih
dvapare paricaryayam
kalau taddhari-kirtanat

"A auto-realização que era alcançada no milênio Satya pela meditação, no milênio Treta pela execução de diferentes sacrifícios, e no milênio Dwapara por adorar o Senhor Krishna, pode ser alcançada na era de Kali simplesmente por cantar os santos nomes, Hare Krishna". Isso também está confirmado no Vishnu Purana (6.2.17) onde está afirmado:

dhyayan krte yajan yajñais
tretayam dwapare 'rcayan
yad apnoti tad apnoti
kalau sankirtya kesavam

"Nesta era não existe nenhuma utilidade em meditação, sacrifício e adoração no templo. Simplesmente por cantar o santo nome de Krishna - Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare - pode-se alcançar auto-realização perfeita".

Quando o Senhor Chaitanya descreveu a encarnação para esta era de Kali, Sanatana Goswami, que foi um ministro do governo e era perfeitamente capaz de tirar conclusões, perguntou diretamente ao Senhor, "Como alguém pode entender o advento de uma encarnação"? Pela descrição da encarnação do milênio Kali, Sanatana Goswami pôde entender que o Senhor Chaitanya era de fato essa encarnação de Krishna, e ele pôde entender também que no futuro haveria muitas pessoas que tentariam imitar o Senhor Chaitanya porque o Senhor atuou como um brahmana ordinário, apesar do fato que Seus devotos O aceitam como uma encarnação. Porque Sanatana sabia que haveria muitos pretendentes, ele perguntou ao Senhor, "Como alguém pode entender os sintomas de uma encarnação"?

"Do mesmo modo que alguém pode entender as diferentes encarnações para diferentes milênios por se referir às literaturas Védicas", o Senhor respondeu, "pode-se entender similarmente quem é realmente a encarnação do Supremo nesta era de Kali". Desse modo o Senhor especialmente enfatizou a referência às escrituras autorizadas. Em outras palavras, não se deve aceitar caprichosamente uma pessoa como uma encarnação mas deve-se tentar entender as características de uma encarnação por se referir às escrituras. Uma encarnação do Supremo Senhor nunca Se declara Ele mesmo como uma encarnação, mas Seus seguidores devem averiguar quem é uma encarnação e quem é um pretendente por se referir às escrituras autorizadas.

Qualquer pessoa inteligente pode entender as características de um avatara por entender duas características - a característica principal, chamada personalidade, e as características marginais. Nas escrituras há descrições das características do corpo e das atividades da encarnação, e a descrição do corpo é a principal característica pela qual uma encarnação pode ser identificada. As atividades da encarnação são as características marginais. Isso é confirmado no começo do Srimad Bhagavatam (1.1.1) onde as características de um avatara são muito bem descritas. Nesse verso, os dois termos param e satyam são usados, e o Senhor Chaitanya indica que essas palavras revelam a característica principal de Krishna. As outras características marginais indicam que Ele ensinou conhecimento Védico para Brahma e encarnou como o purusa-avatara para criar a manifestação cósmica. Essas são características ocasionais manifestas para alguns propósitos especiais. Deve-se ser capaz de entender e distinguir as características principal e marginal de um avatara. Ninguém pode se declarar uma encarnação sem se referir a essas duas características. Uma pessoa inteligente não aceitará ninguém como um avatara sem estudar as características principal e marginal. Quando Sanatana Goswami tentou confirmar as características pessoais do Senhor Chaitanya como aquelas da encarnação desta era, o Próprio Senhor Chaitanya indiretamente fez a confirmação por simplesmente dizer, "Vamos deixar de lado todas essas discussões e continuar com uma descrição dos saktyavesa-avataras".

O Senhor então salientou que não há limite para os saktyavesa-avataras e que eles não podem ser contados. Todavia, alguns podem ser mencionados como exemplos. As encarnações saktyavesa são de dois tipos - direto e indireto. Quando o Senhor Ele mesmo vem, Ele é chamado saksat, ou um saktyavesa-avatara direto, quando Ele dota de poder algum ser vivo para representá-Lo, esse ser vivo é chamado uma encarnação indireta ou encarnação avesa. Exemplos de avataras indiretos são os quatro Kumaras, Narada, Prithu e Parashurama. Esses são na realidade seres vivos, mas há um poder específico dado a eles pela Suprema Personalidade de Deus. Quando uma opulência específica do Supremo Senhor é investida em seres específicos, eles são chamados avesa-avataras. Os quatro Kumaras especificamente representam a opulência de conhecimento do Supremo Senhor. Narada representa o serviço devocional do Supremo Senhor. O serviço devocional também é representado pelo Senhor Chaitanya, que é considerado como a representação plena do serviço devocional. Em Brahma a opulência do poder criativo é investida, e no Rei Prithu o poder de manter todos os seres vivos é investido. Similarmente, em Parashurama o poder para matar maus elementos é investido. Sobre vibhati, ou o favor especial da Suprema Personalidade de Deus, é descrito no Décimo Capítulo do Bhagavad-gita que um ser vivo que parece ser especialmente dotado de poder ou belo deve ser conhecido como especialmente favorecido pelo Supremo Senhor.

Exemplos de saksad-avataras são a encarnação Shesha e a encarnação Ananta. Em Ananta o poder de sustentar todos os planetas é investido, e na encarnação Shesha o poder de servir o Supremo Senhor é investido.

Depois de descrever as encarnações saktyavesa, Chaitanya Mahaprabhu começou a falar sobre a idade do Supremo Senhor. Ele disse que o Supremo Senhor Krishna é sempre igual um rapaz de dezesseis anos, e quando Ele descende neste universo, Ele primeiro de tudo manda Seu pai e Sua mãe, que são Seus devotos, e então Ele advém em Pessoa como encarnação, ou Ele vem pessoalmente. Todas as Suas atividades - a começar pela matança da demônia Putana - são exibidas em inúmeros universos, e não há limite para elas. De fato, em cada momento, em cada segundo, Suas manifestações e vários passatempos são vistos em diferentes universos (brahmandas). Assim Suas atividades são justamente iguais às ondas do Rio Ganges. Justamente como não há limite para o fluir das ondas do Ganges, não há cessação para as encarnações do Senhor Krishna em diferentes universos. Desde a infância Ele exibe muitos passatempos, e ultimamente Ele exibe a dança rasa.

É dito que todos os passatempos de Krishna são eternos, e isso é confirmado em cada escritura. Geralmente pessoas não podem entender como Krishna realiza Seus passatempos, mas o Senhor Chaitanya esclareceu isso por comparar Seus passatempos com a órbita da Terra em torno do Sol. De acordo com cálculos astrológicos Védicos, as vinte e quatro horas de um dia e noite são divididas em sessenta dandas. Os dias são divididos novamente em 3.600 palas. O disco solar pode ser percebido em cada uma das sessenta palas, e esse tempo constitui uma danda. Oito dandas fazem uma prahara, e o Sol nasce e se põe dentro de quatro praharas. Similarmente, quatro praharas constituem uma noite, e depois disso o Sol nasce. Similarmente, todos os passatempos de Krishna podem ser vistos em qualquer um dos universos, justamente igual o Sol pode ser visto em seu movimento através de 3.600 palas.

O Senhor Krishna permanece neste universo por apenas 125 anos, mas todos os passatempos desse período são exibidos em cada e todo universo. Esses passatempos incluem Seu aparecimento, Suas atividades de infância, Sua juventude e Seus passatempos depois até os passatempos em Dwaraka. Porque esses passatempos estão presentes em um ou outro de uma miríade de universos a qualquer momento, eles são chamados eternos. O Sol existe eternamente, apesar de que nós o vemos nascer e se pôr, de acordo com nossa posição no planeta. Similarmente, os passatempos do Senhor acontecem, apesar de nós podermos vê-los manifestos neste universo particular somente em certos intervalos. Sua morada é o planeta supremo conhecido como Goloka Vrindavana, e por Sua vontade, esse Goloka Vrindavana é manifesto neste universo e outros universos também. Porque o Senhor está sempre em Sua morada suprema, Goloka Vrindavana, e pela Sua vontade suprema Suas atividades também são manifestas em inumeráveis universos. Quando Ele aparece, Ele aparece nesses locais particulares, e em cada manifestação Suas seis opulências são exibidas.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Nove

As Opulências de Krishna

Porque o Senhor Chaitanya é especialmente misericordioso com pessoas inocentes, não sofisticadas, Seu nome também é Patitapavana, o libertador das almas condicionadas mais caídas. Apesar de uma alma condicionada poder cair para a posição mais baixa, é possível para ela avançar em ciência espiritual se for inocente. Sanatana Goswami era considerado caído de acordo com o sistema social Hindu porque ele estava a serviço do governo islâmico. De fato, ele até foi excomungado da sociedade brahmana devido a seu emprego. Mas porque ele era uma alma sincera, o Senhor Chaitanya mostrou a ele um favor especial por conceder-lhe uma fortuna em informação espiritual.

O Senhor depois explicou a situação de diferentes planetas espirituais no céu espiritual. Os planetas espirituais também são conhecidos como planetas Vaikuntha. Os universos da criação material têm um comprimento e largura limitados, mas no que diz respeito aos planetas Vaikuntha, não há limitação para suas dimensões porque eles são espirituais. O Senhor Chaitanya informou Sanatana Goswami que o comprimento e largura de cada e todos planetas Vaikuntha é de milhões e bilhões de milhas. Cada um desses planetas é expandido ilimitadamente, e em cada e todos eles há residentes que são plenos em todas as seis opulências - riqueza, poder, conhecimento, beleza, fama e renúncia. Em cada e todos esses planetas Vaikuntha uma expansão de Krishna tem Sua residência eterna, e o Próprio Krishna em Pessoa tem Sua residência original, eterna chamada Krishnaloka ou Goloka Vrindavana.

Neste universo, mesmo o maior planeta fica em um canto do espaço sideral. Apesar do Sol ser milhares de vezes maior do que a Terra, ele ainda assim se situa em um canto do espaço sideral. Similarmente, cada um dos planetas infinitos, apesar de ilimitados em comprimento e largura, ficam em um canto do céu espiritual conhecido como brahmajyoti. No Brahma-samhita esse brahmajyoti é descrito como niskalam anantam asesa-bhutam, ou indivisível e ilimitado e sem nenhum traço dos modos da natureza material. Todos os planetas Vaikuntha são como pétalas de uma flor de lótus, e a parte principal desse lótus, chamada Krishnaloka ou Goloka Vrindavana, é o centro de todos os Vaikunthas. Assim as expansões de Krishna em várias formas, como descritas aqui, e também Suas várias residências nos planetas espirituais no céu espiritual, são ilimitadas. Mesmo semideuses como Brahma e Shiva não podem ver nem estimar a extensão dos planetas Vaikuntha. Isso está confirmado no Srimad Bhagavatam (10.14.21): "Ninguém pode estimar o comprimento e largura de todos os planetas Vaikuntha". Aí também está afirmado que não apenas semideuses como Brahma e Shiva são incapazes de fazer tal estimativa, até mesmo Ananta, a própria encarnação da opulência de poder do Senhor, não pode determinar qualquer limite para a potência do Senhor ou para a área dos diferentes planetas Vaikuntha.

As preces de Brahma, mencionadas no Srimad Bhagavatam (10.14.21), são bem convincentes nessa conexão, pois nelas o Senhor Brahma diz:

ko vetti bhuman bhagavan paratman
yogesvarotir bhavatas tri-lokyam
kva va katham va kati va kadeti
vistarayan kridasi yoga-mayam

"Ó meu querido Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus, ó Superalma, ó mestre de todos poderes místicos, ninguém pode conhecer ou explicar Suas expansões, que Você manifesta por Sua energia yogamaya. Essas expansões estendem por todos os três mundos". Brahma também diz em suas preces:

gunatmanas te 'pi gunam vimatum
hitavartinasya ka isire 'sya
kalena yair va vimitah sukalpair
bhu-pamsavah khe mihika dyubhasah

"Cientistas e intelectuais eruditos não podem nem mesmo estimar a constituição atômica de um único planeta. Mesmo se eles pudessem contar as moléculas de neve no céu ou o número de estrelas no espaço, eles não podem estimar como é que Você descende nesta Terra ou neste universo com Suas inúmeras potências, energias e qualidades transcendentais" (Bhag. 10.14.7). O Senhor Brahma informou Narada que nenhum dos grandes sábios, inclusive ele mesmo, podia estimar o poder e energia potenciais do Supremo Senhor. Ele admitiu que mesmo se Ananta com Suas milhares de línguas tentasse estimar as energias do Senhor, Ele falharia. Assim os Vedas personificados também oraram:

dyupataya eva te na yayur antam anantataya
tvam api yad antaranda-nicaya nanu savaranah
kha iva rajamsi vanti vayasa saha yac chrutayas
tvayi hi phalanty atannirasanena bhavan-nidhanah

"Meu Senhor, Você é ilimitado, e ninguém estimou a extensão de Suas potências. Eu acho que mesmo Você não conhece o alcance de Suas energias potenciais. Planetas ilimitados flutuam no céu justamente iguais a átomos, e grandes Vedantistas, que estão dedicados à pesquisa para encontrar Você, descobrem que tudo é diferente de Você. Assim eles finalmente decidem que Você é tudo" (Bhag. 10.87.41).

Quando o Senhor Krishna estava dentro deste universo, Brahma pregou uma peça Nele a fim de confirmar se o menino pastor de vacas em Vrindavana era realmente Krishna em Pessoa. Pelo seu poder místico, Brahma roubou todas as vacas, bezerros e meninos pastores de vacas amigos de Krishna e os esconderam. Entretanto, quando ele voltou para ver o que Krishna fazia sozinho, ele viu que Krishna continuava a brincar ainda com as mesmas vacas, bezerros e meninos pastores de vacas. Em outras palavras, pela Sua potência Vaikuntha, o Senhor Krishna, expandiu todas as vacas, bezerros e meninos pastores de vacas roubados. Na realidade, Brahma viu milhões e bilhões deles, e ele também viu milhões e bilhões de toneladas de caldo de cana e fruta, flor de lótus e chifres. Os meninos pastores de vacas estavam decorados com várias roupas e ornamentos, e ninguém podia contar seu vasto número. De fato, Brahma viu que cada menino pastor de vacas se tornou um Narayana de quatro mãos igual à Deidade predominante de cada brahmanda, e ele também viu inumeráveis Brahmas dedicados em oferecer reverências ao Senhor. Ele viu que todos eles emanavam do corpo de Krishna e, depois de um segundo, também entravam em Seu corpo. O Senhor Brahma ficou admirado e em sua prece admitiu que qualquer um e todos podem dizer que conhecem sobre Krishna, no que diz respeito a ele, ele não sabia nada sobre Ele. "Meu querido Senhor", disse ele, "as potências e opulências que Você justamente exibiu agora estão além da habilidade da minha mente entender".

O Senhor Chaitanya explicou mais ainda que não somente Krishnaloka mas mesmo Vrindavana, a residência do Senhor Krishna neste planeta, não pode ser estimada no que diz respeito à potência. De um ponto de vista, Vrindavana é estimada como trinta e duas milhas quadradas em área, mesmo assim, em uma parte de Vrindavana todos os Vaikunthas existem. A área da presente Vrindavana em milhas de área, e a Cidade de Vrindavana é estimada como dezesseis krosas, ou trinta e duas milhas. Como é que os Vaikunthas existem lá está além do cálculo material. Assim Chaitanya Mahaprabhu proclamou as potências e opulências de Krishna como ilimitadas. Tudo o que Ele disse a Sanatana Goswami era apenas parcial, mas por essa apresentação parcial pode-se tentar imaginar o todo.

Enquanto o Senhor Chaitanya falava para Sanatana Goswami sobre as opulências de Krishna, Ele estava profundamente em êxtase, e nesse estado transcendental Ele citou um verso do Srimad Bhagavatam (3.2.21) no qual Uddhava, depois do desaparecimento de Krishna, disse a Vidura:

svayam tv asamyatisayas tryadhisah
svarajya-laksmyapta-samasta-kamah
balim haradbhis cira-lokapalaih
kirita-kotyedita-padapithah

"Krishna é o mestre dos semideuses, inclusive Senhor Brahma, Senhor Shiva e a expansão de Vishnu dentro deste universo. Portanto ninguém é igual ou maior que Ele, e Ele é pleno das seis opulências. Todos os semideuses engajados na administração de cada universo [brahmanda] oferecem suas respeitosas reverências a Ele. De fato, os elmos em suas cabeças são belíssimos porque estão decorados com as gravuras dos pés de lótus do Supremo Senhor". Está similarmente afirmado no Brahma-samhita (5.1) que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, ninguém pode ser igual ou superior a Ele. Todavia mestres de cada e todo universo, Brahma, Shiva e Vishnu são servos do Supremo Senhor Krishna. Essa é a conclusão. Como a causa de todas as causas, o Senhor Krishna é a causa de Maha-Vishnu, a primeira encarnação e o controlador da criação material. De Maha-Vishnu, o Garbhodakashayi Vishnu e Kshirodakashayi Vishnu vêm; assim Krishna é o mestre do Garbhodakashayi Vishnu e Kshirodakashayi Vishnu, e Ele também é a Superalma dentro de todo ser vivo dentro do universo. No Brahma-samhita (5.48) está afirmado que pela respiração de Maha-Vishnu, inumeráveis universos são produzidos, e em cada universo existem inumeráveis Vishnu-tattvas, mas deve-se entender que Krishna é o mestre de todos eles, e eles são apenas expansões plenárias de Krishna.

Das escrituras reveladas entende-se que Krishna vive em três lugares transcendentais. A residência mais confidencial de Krishna é Goloka Vrindavana. É lá que Ele fica com Seu pai, mãe e amigos, exibe Seus relacionamentos transcendentais e concede Sua misericórdia entre Seus companheiros associados eternos. Lá yogamaya age como Sua criada na dança rasa-lila. Os residentes de Vrajabhumi pensam, "O Senhor é glorificado por partículas de Sua misericórdia e afeição transcendentais, e nós, os residentes de Vrindavana, não temos a menor ansiedade devido à existência misericordiosa Dele". Como Está afirmado no Brahma-samhita (5.43), todos planetas Vaikuntha no céu espiritual (conhecidos como Vishnuloka) estão situados no planeta conhecido como Krishnaloka, Goloka Vrindavana. Nesse planeta supremo o Senhor desfruta Sua bem-aventurança transcendental em múltiplas formas, e todas as opulências dos Vaikunthas são plenamente exibidas nesse mesmo planeta. Os associados de Krishna também são plenos com seis opulências. No Padmottara-kanda (225.57) está afirmado que a energia material e a energia espiritual são separadas pela água conhecida como Rio Viraja. Esse rio flui da transpiração da primeira encarnação purusa. Em uma margem do Viraja está a natureza eterna, ilimitada e todo-bem-aventurada, chamada céu espiritual, e esse é o reino espiritual, ou o reino de Deus. Os planetas espirituais se chamam Vaikunthas porque não existe lamentação ou medo lá; tudo é eterno. O mundo espiritual foi calculado para compreender três quartos das energias do Supremo Senhor, e o mundo material é dito que compreende um quarto de Sua energia, mas ninguém pode entender o que é três quartos, pois mesmo este universo material, que compreende apenas um quarto de Sua energia, não pode ser descrito. Ao tentar transmitir para Sanatana Goswami algo sobre a extensão de um quarto da energia de Krishna, Chaitanya Mahaprabhu citou um incidente do Srimad Bhagavatam no qual Brahma, o senhor do universo, veio ver Krishna em Dwaraka. Quando Brahma se aproximou de Krishna, o porteiro informou Krishna que Brahma tinha chegado para vê-Lo. Ao ouvir isso, Krishna inquiriu sobre qual Brahma veio, e o porteiro retornou a Brahma e perguntou, "Qual Brahma é você? Krishna perguntou".

Brahma ficou espantado. Por que Krishna fez essa pergunta? Ele informou o porteiro, "Por favor, diga a Ele aquele Brahma, que é o pai dos quatro Kumaras e que tem quatro cabeças, veio para vê-Lo".

O porteiro informou Krishna e então pediu a Brahma para entrar. Brahma ofereceu suas reverências aos pés de lótus de Krishna, e depois de recebê-lo com toda honra, Krishna inquiriu sobre o propósito de sua visita.

"Eu Lhe direi do meu propósito em vir aqui", o Senhor Brahma respondeu, "mas primeiro eu tenho uma dúvida que Lhe peço para remover gentilmente. Seu porteiro me disse que Você perguntou qual Brahma veio vê-Lo. Posso perguntar se existem outros Brahmas além de mim"?

Ao ouvir isso, Krishna sorriu e imediatamente chamou muitos Brahmas de muitos universos. O Brahma de quatro cabeças então viu muitos outros Brahmas que vinham ver Krishna e oferecer seus respeitos. Alguns deles tinham dez cabeças, alguns tinham vinte, alguns tinham cem e alguns tinham um milhão de cabeças. De fato, o Brahma de quatro cabeças não podia contar quantos Brahmas vinham para oferecer suas reverências a Krishna. Krishna então chamou vários semideuses de vários universos, e todos eles vieram para oferecer seus respeitos ao Senhor. Depois de ver essa exibição maravilhosa, o Brahma de quatro cabeças ficou nervoso e começou a pensar em si mesmo como não mais do que um mosquito no meio de muitos elefantes. Porque tantos semideuses ofereciam reverências aos pés de lótus de Krishna, Brahma concluiu que a potência ilimitada de Krishna não podia ser estimada. Todos os elmos dos vários semideuses e Brahmas brilhavam intensamente em uma grande assembléia, e as preces dos semideuses fizeram um grande som.

"Querido Senhor", os semideuses disseram, "é Sua grande misericórdia porque Você nos chamou para vê-Lo. Há alguma ordem particular? Se for assim, nós a cumpriremos imediatamente".

"Não há nada requerido especialmente para vocês", o Senhor Krishna respondeu. "Eu só queria ver vocês juntos de uma vez. Eu ofereço Minhas bênçãos a vocês. Não temam os demônios".

"Pela Sua misericórdia, está tudo bem", todos eles responderam. "Não existem perturbações no presente, porque devido à Sua encarnação tudo não auspicioso é aniquilado".

À medida que cada Brahma via Krishna, cada um pensava que Ele estava só dentro do seu universo. Depois desse incidente, Krishna Se despediu de todos os Brahmas, e depois de oferecer respeitos a Ele, eles retornaram a seus respectivos universos. Depois de ver isso, o Brahma de quatro cabeças caiu imediatamente aos pés de Krishna e disse, "O que pensei sobre Você primeiramente era tudo absurdo. Todos podem dizer que conhecem Você em perfeição, mas quanto a mim, eu não posso começar a conceber quão grande Você é. Você está além da minha concepção e entendimento".

"Este universo particular é só quatro mil milhões de milhas de extensão", Krishna então o informou, "mas existem muitos milhões e bilhões de universos que são muito, muito maiores do que este aqui. Alguns deles têm muitos trilhões de milhas de extensão, e todos esses universos requerem Brahmas poderosos, não apenas com quatro cabeças". Krishna informou Brahma mais ainda, "Esta criação material é somente a manifestação de um quarto da Minha potência criativa. Três quartos da Minha potência criativa estão no reino espiritual".

Depois de oferecer reverências, o Brahma de quatro cabeças partiu de Krishna, e ele pôde entender o significado dos "três quartos de energia" do Senhor.

O Senhor é portanto conhecido como Tryadhisvara, um nome que indica Suas residências principais - Gokula, Mathura e Dwaraka. Essas três residências são plenas de opulências, e o Senhor Krishna é o senhor de todas elas. Situado em Sua potência transcendental, o Senhor Krishna é o senhor de todas as energias transcendentais, e Ele é pleno com seis opulências. Porque Ele é o Senhor de todas as opulências, todas as literaturas Védicas aclamam Krishna como a Suprema Personalidade de Deus.

O Senhor Chaitanya então cantou uma bela canção sobre as opulências de Krishna, e Sanatana Goswami ouviu. "Todos os passatempos de Krishna são exatamente iguais às atividades de seres humanos", o Senhor cantou. "Portanto deve-se entender que Sua forma é igual a de um ser humano. De fato, um ser humano é apenas uma imitação de Sua forma. A roupa de Krishna é justamente igual à de um menino pastor de vacas. Ele tem uma flauta em Sua mão, e Ele parece ser justamente igual um jovem novinho. Ele é sempre divertido, e Ele brinca justamente igual um menino ordinário". O Senhor Chaitanya então contou a Sanatana Goswami sobre os belos aspectos de Krishna. Ele disse aquele que entende essas belas qualidades desfruta um oceano de néctar. A potência yogamaya de Krishna é transcendental e além da energia material, mas o Senhor exibe Sua potência transcendental mesmo dentro deste mundo material justamente para satisfazer Seus devotos confidenciais. Assim Ele aparece no mundo material para satisfazer Seus devotos, e Suas qualidades são tão atraentes que o Próprio Krishna fica ansioso para entender Ele Mesmo. Quando Ele está decorado completamente e em pé com Seu corpo curvado em três modos - Suas sobrancelhas sempre em movimento e Seus olhos tão atraentes - as gopis ficam encantadas. Sua residência espiritual está no topo do céu espiritual, e Ele reside lá com Seus associados, os meninos pastores de vacas, as gopis, e todas as deusas da fortuna. É lá que Ele é conhecido como Madana-mohana.

Existem muitos passatempos diferentes de Krishna - tais quais Seus passatempos nas formas de Vasudeva e Sankarshana - e no céu material Seus passatempos são realizados como a primeira encarnação purusa, o criador do mundo material. Existem também passatempos nos quais Ele encarna como um peixe ou uma tartaruga, e há passatempos nos quais Ele assume as formas do Senhor Brahma e Senhor Shiva, como encarnações das qualidades materiais. Nos Seus passatempos como uma encarnação dotada de poder, Ele assume a forma do Rei Prithu, e Ele também realiza Seus passatempos como a Superalma dentro do coração de todos e como o Brahman impessoal também. Apesar de Ele ter passatempos inumeráveis, o mais importante é o de Krishna na forma humana a brincar em Vrindavana, a dançar com as gopis, a atuar com os Pandavas no campo de batalha em Kurukshetra e a atuar em Mathura e Dwaraka. De Seus passatempos na forma humana, os mais importantes são aqueles passatempos nos quais Ele aparece como um menino pastor de vacas, um jovem novinho que toca uma flauta. Deve-se entender que uma mera manifestação parcial de Seus passatempos em Goloka, Mathura e Dwaravati, ou Dwaraka, pode inundar o universo inteiro com amor do Supremo. Todo ser vivo pode ser atraído pelas belas qualidades de Krishna.

A manifestação de Sua potência interna não é nem mesmo exibida no reino de Deus ou nos planetas Vaikuntha, mas Ele exibe essa potência interna dentro do universo quando, por Sua misericórdia inconcebível, Ele descende de Sua residência pessoal. Krishna é tão maravilhoso e atraente que Ele Mesmo se torna atraído pela Sua própria beleza, e essa é a prova que Ele é pleno de todas as potências inconcebíveis. Quanto aos ornamentos de Krishna, quando eles decoram Seu corpo parece que eles não O embelezam, porém os próprios ornamentos se tornam belos simplesmente por estarem em Seu corpo. Quando Ele fica em pé curvado em três modos, Ele atrai todo os seres vivos, inclusive os semideuses. De fato, Ele atrai até mesmo a forma Narayana que preside dentro de cada e todo planeta Vaikuntha.

     

       

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Dez

A Beleza de Krishna

Krishna é conhecido como Madana-mohana porque Ele conquista a mente de Cupido. Ele também é conhecido como Madana-mohana devido à Sua aceitação do serviço devocional das donzelas de Vraja e prestar favores a elas. Depois de conquistar o orgulho de Cupido, o Senhor Se envolve na dança rasa como o novo Cupido. Ele também é conhecido como Madana-mohana por causa de Sua habilidade para conquistar as mentes das mulheres com Suas cinco flechas chamadas forma, sabor, aroma, som e toque. As pérolas do colar que está pendurado no pescoço de Krishna são tão brancas como patos, e a pena de pavão que decora Sua cabeça é colorida como um arco-íris. Sua roupa amarela é como o relâmpago no céu, e o Próprio Krishna é igual às nuvens recém chegadas. As gopis são iguais a guizos de tornozelo em Seus pés, e quando a nuvem despeja chuva nos grãos no campo, parece que Krishna nutre os corações das gopis por invocar Seu passatempo chuva de misericórdia. De fato, patos voam durante a estação da chuva, e os arco-íris também podem ser vistos nessa época. Krishna livremente Se move entre Seus amigos como um menino pastor de vacas em Vrindavana, e quando Ele toca Sua flauta, todas as criaturas, móveis e imóveis, ficam tomadas de êxtase. Elas tremem, lágrimas fluem de seus olhos. Das várias opulências de Krishna, Seu amor conjugal é o acme. Ele é o senhor de todas as riquezas, todo o poder, toda fama, toda beleza, todo conhecimento e toda renúncia, e de todas essas, Sua perfeita beleza é Sua atração conjugal. A forma de Krishna, a beleza conjugal, é eternamente existente em Krishna somente, enquanto Suas outras opulências estão presentes em Sua forma Narayana.

Quando o Senhor Chaitanya descreveu a superexcelência da atração conjugal de Krishna, Ele sentiu êxtase transcendental, e, pegou as mãos de Sanatana Goswami, Ele começou a proclamar quão afortunadas eram as donzelas de Vraja, por recitar um verso do Srimad Bhagavatam (10.44.14):

gopyas tapah kim acaran yad amusya rupam
lavanya-saram asamordh vam ananya-siddham
drgbhih pibanty anusavabhinavam durapam
ekanta-dhama yasasah sriya aisvarasya

"Que grande penitência e austeridade as donzelas de Vrindavana devem ter se submetido, porque elas são capazes de beber o néctar de Krishna, que é todo beleza, todo poder, todo riquezas, todo fama e cujo brilho corpóreo é o centro de toda beleza".

O corpo de Krishna, o oceano da beleza da juventude eterna, pode ser visto a Se mover em ondas de beleza. Há um redemoinho ao som de Sua flauta, e essas ondas e esse redemoinho fazem os corações das gopis palpitarem como folhas secas nas árvores, e quando essas folhas caem nos pés de lótus de Krishna, nunca podem se levantar novamente. Não existe nenhuma beleza para comparar com a de Krishna, porque ninguém possui beleza maior do que ou igual à Dele. Porque Ele é a origem de todas encarnações, inclusive a forma de Narayana, a deusa da fortuna, que é uma companheira constante de Narayana, deixa a associação de Narayana e se dedica em penitência a fim de obter a associação de Krishna. Assim é a grandeza da superexcelente beleza de Krishna, a mina perpétua de toda beleza. É dessa beleza que todas as coisas belas emanam.

A atitude das gopis é como um espelho sobre o qual o reflexo da beleza de Krishna se desenvolve a cada momento. Tanto Krishna quanto as gopis incrementam sua beleza transcendental a cada momento, e sempre existe competição transcendental entre eles. Ninguém pode apreciar a beleza de Krishna por executar propriamente seu dever ocupacional, ou por austeridades, yoga místico, cultivo do conhecimento ou por orações. Somente aqueles que estão na plataforma transcendental do amor de Deus, que por amor se dedicam ao serviço devocional, podem apreciar a beleza transcendental de Krishna. Essa beleza é a essência de todas opulências e só é apreciada em Goloka Vrindavana e em nenhum lugar mais. Na forma de Narayana, as belezas de misericórdia, fama, etc., são todas estabelecidas por Krishna, todavia a gentileza e magnanimidade de Krishna não existem em Narayana. Elas são encontradas somente em Krishna.

O Senhor Chaitanya, que saboreava grandemente todos os versos do Srimad Bhagavatam que Ele explicava para Sanatana, citou outro verso (Bhag. 9.24.65):

yasyananam makara-kundala-caru-karna-
bhrajat-kapola-subhagam savllasa-hasam
nityotsavam na tatrpur drsibhih pibantyo
naryo naras ca muditah kupita nimes ca

"As gopis costumavam saborear a beleza de Krishna como uma cerimônia de desfrute perpétuo. Elas desfrutavam a bela face de Krishna, Suas belas orelhas com brincos, Sua testa larga e Seu sorriso, e quando desfrutavam essa visão da beleza de Krishna, elas costumavam criticar o criador Brahma por causar que sua visão da beleza de Krishna ficasse momentaneamente impedida pelo piscar de suas pálpebras".

Os hinos Védicos conhecidos como kama-gayatri descrevem a face de Krishna como o rei de todas as luas. Na linguagem metafórica, existem muitas luas diferentes, mas todas elas são uma em Krishna. Existe a lua da Sua boca, a lua de Suas bochechas, as manchas de lua da polpa de sândalo sobre Seu corpo, as luas das impressões digitais em Suas mãos e as luas das pontas de Seus dedos dos pés. Desse modo, existem vinte e quatro e meia luas, e Krishna é a figura central de todas elas.

O movimento dançante dos brincos, olhos e sobrancelhas de Krishna é muito atraente para as donzelas de Vraja. Atividades em serviço devocional incrementam o sentido do serviço devocional. O que mais existe para os dois olhos verem além da face de Krishna? Porque alguém não pode ver adequadamente com somente dois olhos, sente-se incapaz e assim fica desolado. Tal desolamento é reduzido levemente quando alguém critica o poder criativo do criador. O vidente insaciado da face de Krishna todavia se lamenta: "Eu não tenho mil olhos, mas somente dois, e eles são perturbados pelos movimentos das minhas pálpebras. Por isso deve-se ser entendido que o criador deste corpo não é muito inteligente. Ele não é familiarizado com a arte do êxtase mas é simplesmente um criador prosaico. Ele não sabe como arranjar as coisas propriamente para que alguém possa só ver Krishna".

As mentes da gopis estão sempre absortas em saborear a doçura do corpo de Krishna. Ele é o oceano de beleza, e Sua bela face e sorriso e brilho do Seu corpo são todo-atrativos para as mentes das gopis. No krsna-karnamrta, Sua face, sorriso e brilho corpóreo foram descritos como doce, mais doce e máximo doce. Um devoto perfeito de Krishna fica enlevado ao ver a beleza do brilho corpóreo de Krishna, Sua face e sorriso, e ele se banha no oceano de convulsões transcendentais. Perante a beleza de Krishna, essas convulsões freqüentemente continuam sem tratamento, justamente igual uma convulsão ordinária que um médico permitirá que continue, até mesmo sem permitir beber água para alívio.

O devoto crescentemente sente a ausência de Krishna, porque sem Ele ninguém pode beber o néctar de Sua beleza. Quando o som transcendental da flauta de Krishna é ouvido, a ansiedade do devoto para continuar a ouvir essa flauta o capacita a penetrar na cobertura do mundo material e entrar no céu espiritual, onde o som transcendental da flauta entra nos ouvidos dos seguidores das gopis. O som da flauta de Krishna sempre reside dentro dos ouvidos das gopis e incrementa o êxtase delas. Quando é ouvido, nenhum outro som pode entrar dentro de seus ouvidos, e entre suas famílias, elas não são capazes de responder às questões propriamente, porque todos esses sons belíssimos vibram dentro de seus ouvidos.

Assim o Senhor Chaitanya explicou a constituição transcendental de Krishna, Suas expansões, Seu brilho corpóreo e tudo conectado a Ele. Em resumo, o Senhor Chaitanya explicou Krishna como Ele é, e também o processo pelo qual alguém pode se aproximar Dele. Sobre isso, Chaitanya Mahaprabhu indicou que serviço devocional a Krishna é o único processo pelo qual Ele pode ser aproximado. Esse é o veredito da literatura Védica. Como os sábios declaram: "Se alguém inquire dentro da literatura Védica para determinar o processo de realização transcendental, ou se alguém consultar os Puranas (que são consideradas literaturas irmãs), encontrará em todas elas a conclusão é que a Suprema Personalidade de Deus Krishna é o único objeto de adoração".

Krishna é a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus, e Ele está situado em Sua potência interna, que é conhecida como svarupa-sakti ou atma-sakti, como descrito no Bhagavad-gita. Ele Se expande em várias formas múltiplas, e algumas delas são conhecidas como Suas formas pessoais e algumas como Suas formas separadas. Assim Ele desfruta de Si Mesmo em todos os planetas espirituais, e também nos universos materiais. As expansões de Suas formas separadas são chamadas seres vivos, e esses seres vivos são classificados conforme as energias do Senhor. Eles são divididos em duas classes - eternamente liberados e eternamente condicionados. Seres vivos eternamente liberados nunca entram em contato com a natureza material, e assim eles não têm nenhuma experiência de vida material. Eles estão eternamente absortos na Consciência de Krishna. Seu prazer, o único desfrute das suas vidas, é derivado por prestar serviço devocional amoroso transcendental para Krishna. Por outro lado, aqueles que são eternamente condicionados estão sempre divorciados do serviço amoroso transcendental de Krishna e por isso são sujeitos às misérias triplas da existência material. Devido à atitude eterna da alma condicionada de separação de Krishna, o encanto da energia material concede a ela dois tipos de existência corpórea - o corpo grosseiro que consiste de cinco elementos, e o corpo sutil que consiste de mente, inteligência e ego. Coberta por esses dois corpos, a alma condicionada eternamente sofre as dores da existência material conhecidas como misérias triplas. Ela também é coberta por seis inimigos (tais quais luxúria, ira, etc.). Assim é a doença perpétua da alma condicionada.

Enfermo e condicionado, o ser vivo transmigra através do universo. Às vezes ele está situado no sistema planetário superior e às vezes no sistema inferior. Desse modo ele conduz sua vida doentia. Sua doença pode ser curada somente quando ele encontra e segue o médico especialista, o mestre espiritual fidedigno. Quando a alma condicionada fervorosamente segue as instruções de um mestre espiritual fidedigno, sua doença material é curada, e ela é promovida ao estágio liberado, e novamente alcança o serviço devocional de Krishna e vai de volta ao lar, de volta a Krishna. Um ser vivo condicionado se torna consciente de sua posição real e deve orar para o Senhor, "Quanto tempo mais estarei sob o controle de todas essas funções corpóreas tais quais luxúria e ira"? Como senhores da alma condicionada, luxúria e ira nunca são misericordiosas. De fato a alma condicionada nunca cessará de prestar serviço para esses senhores maus. Todavia, quando chega à sua consciência real, ou Consciência de Krishna, abandona todos esses maus patrões e se aproxima de Krishna com um coração franco e aberto para alcançar Seu abrigo. Nesse momento, ela ora a Krishna para se dedicar a Seu serviço amoroso transcendental.

Nas literaturas Védicas às vezes atividades lucrativas, yoga místico e a busca especulativa por conhecimento são louvados como diferentes modos de auto-realização, ainda assim apesar de todo esse louvor, em todas literaturas o caminho do serviço devocional é aceito como o principal. Em outras palavras, serviço devocional para o Senhor Krishna é o mais elevado caminho de perfeição para auto-realização, e é recomendado que seja executado diretamente. Atividade lucrativa, meditação mística e especulação filosófica não são métodos diretos de auto-realização. Eles são indiretos porque sem serviço devocional não podem conduzir à perfeição mais elevada da auto-realização. De fato, todos caminhos para auto-realização ultimamente dependem do caminho do serviço devocional.

      

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Onze

Serviço para o Senhor

Quando Vyasadeva não ficou satisfeito mesmo depois de compilar montes de livros de conhecimento Védico, Narada Muni, seu mestre espiritual, explicou que não existe nenhum caminho de auto-realização que pode ser bem sucedido sem ser misturado com serviço devocional. Nesse momento, Vyasadeva estava sentado nas margens do Rio Sarasvati, e ele estava num estado de depressão quando Narada Muni chegou. Ao ver Vyasa tão abatido, Narada explicou porque os vários livros que ele compilou eram deficientes.

"Mesmo conhecimento puro é insuficiente se for desprovido de serviço devocional transcendental", disse Narada. "E o que dizer sobre atividades lucrativas quando são desprovidas de serviço devocional? Como elas podem ser de qualquer benefício para seu executor"?

Existem muitos sábios que são especialistas em execução de austeridades, existem muitos homens que dão muito em caridade, existem muitos homens famosos, eruditos e intelectuais, e existem aqueles que são muito peritos em recitar hinos Védicos. Apesar de tudo isso ser auspicioso, a menos que se utilize seus recursos e execute suas atividades para alcançar serviço devocional para o Senhor, não se pode alcançar os resultados desejados. Portanto no Srimad Bhagavatam (Bhag. 2.4.17) Shukadeva Goswami oferece suas respeitosas reverências ao Supremo Senhor como a única pessoa que pode conceder sucesso.

É aceito por todos os tipos de filósofos e transcendentalistas aquele que carece de conhecimento não pode ser liberado do enredamento material. Mesmo assim conhecimento sem serviço devocional não pode possivelmente conceder liberação. Em outras palavras, quando jñana, ou o cultivo do conhecimento, abre para o caminho do serviço devocional, pode dar liberação à pessoa, mas não caso contrário. Isso também está afirmado por Brahma no Srimad Bhagavatam (Bhag. 10.14.4):

sreyah-srutim bhaktim udasya te vibho
klisyanti ye kevala-bodha-labdhaye
tesam asau klesala eva sisyate
nanyad yatha sthula-tusavaghatinam

"Meu querido Senhor, serviço devocional a Você é o melhor caminho para auto-realização. Se alguém abandona esse caminho e se dedica ao cultivo do conhecimento ou a especulação, simplesmente se sujeitará a um processo problemático e não alcançará os resultados desejados. Uma pessoa que bate uma casca de trigo vazia não obterá grão, e alguém que se dedica simplesmente a conhecimento especulativo não pode alcançar o resultado desejado da auto-realização. O único grão é problema".

No Bhagavad-gita está afirmado (Bg. 7.14) que a natureza material é tão forte que não pode ser superada por nenhum ser vivo ordinário. Somente aqueles que se rendem aos pés de lótus de Krishna podem atravessar o oceano da existência material. O ser vivo esquece que ele é eternamente o servidor de Krishna, e seu esquecimento causa seu cativeiro na vida condicionada e sua atração pela energia material. De fato, essa atração é a algema da energia material. Porque é muito difícil para uma pessoa se tornar livre enquanto ela desejar dominar a natureza material, é recomendado que ela se aproxime de um mestre espiritual que pode treiná-la em serviço devocional e capacitá-la a sair das garras da natureza material e alcançar os pés de lótus de Krishna.

Existem oito divisões da sociedade humana criadas para facilitar a execução do dever (os brahmanas, ou intelectuais; os kshatriyas, ou administradores; os vaisyas, ou comerciantes e fazendeiros; e os sudras, ou trabalhadores - e também os quatro asramas: o brahmacari, ou estudante; o grhastha, ou casado; o vanaprastha, ou pessoa aposentada; e o sannyasi, ou pessoa na vida renunciada), mas se uma pessoa carecer de devoção ou Consciência de Krishna, não poder ser libertada do cativeiro material, mesmo se executar seu dever prescrito. Ao contrário, mesmo por executar seu dever prescrito ela escorregará para dentro do inferno devido à consciência material. Portanto quem quer que esteja engajado em seu dever ocupacional deve simultaneamente cultivar Consciência de Krishna em serviço devocional se quiser liberação das garras materiais.

Sobre isso, o Senhor Chaitanya recitou um verso do Srimad Bhagavatam que foi entregue por Narada Muni para indicar o caminho do cultivo bhagavata. Narada Muni indicou que as quatro divisões da sociedade humana, e também as quatro ordens de vida, nascem da forma gigantesca do Senhor. Os brahmanas nascem da boca da forma universal do Senhor, os kshatriyas nascem dos braços, os vaisyas da cintura, e os sudras das pernas. Assim, eles são qualificados nos diferentes modos da natureza material dentro da forma do virat-purusa. Se uma pessoa não está dedicada no serviço devocional do Senhor, ela cai de sua posição, quer ela execute seu dever prescrito ocupacional ou não.

O Senhor Chaitanya indica ainda mais sobre aqueles que pertencem à escola Mayavadi ou impersonalista consideram eles mesmos como unos com Deus, ou liberados, mas de acordo com Chaitanya Mahaprabhu Ele mesmo e Srimad Bhagavatam, eles não são realmente liberados. Sobre isso Chaitanya Mahaprabhu novamente cita Srimad Bhagavatam (10.2.32):

ye 'nye 'ravindaksa vimukta-maninas
tvayy asta-bhavad avisuddha-buddhayah
aruhya krcchrena param padam tatah
patanty adho 'nadrta-yusmad-anghrayah

"Aqueles que pensam que são liberados de acordo com a filosofia Mayavadi, mas que não adotam o serviço devocional do Senhor, caem por falta de serviço devocional, mesmo depois de se submeterem a severos tipos de penitências e austeridades e mesmo depois de às vezes se aproximarem da posição suprema".

Chaitanya Mahaprabhu explica que Krishna é justamente igual ao Sol, e maya, a energia ilusória material, é justamente igual à escuridão. Aquele que está constantemente no brilho solar de Krishna não pode possivelmente ficar iludido pela escuridão da energia material. Isso é muito claramente explicado nos quatro versos principais do Srimad Bhagavatam e também é confirmado no Srimad Bhagavatam (Bhag. 2.5.13), onde está afirmado: "a energia ilusória, ou maya, tem vergonha de ficar perante o Senhor". No entanto, os seres vivos são constantemente aturdidos por essa mesma energia ilusória. Em seu estado condicionado, o ser vivo descobre muitas formas de malabarismo de palavras a fim de obter aparente liberação das garras de maya, mas se ele sinceramente se render a Krishna por simplesmente dizer uma vez, "Meu querido Krishna, a partir deste dia, eu sou Seu", ele imediatamente sai das garras da energia material. Isso também está confirmado no Ramayana, Lanka-kanda (18.33), onde o Senhor diz:

[NT: É óbvio que foi um erro mecânico, (Bhagavad-gita <=> Srimad Bhagavatam). Óbvio que são os quatro versos principais do Bhagavad-gita (Bg. 10.8-11), muito famosos].

sakrdeva prapanno yas
tavasmiti ca yacate
abhayam sarvada tasmai
dadamy etad vratam mama

"É Minha promessa e dever dar toda proteção àquele que se rende a Mim sem reserva". Alguém pode desfrutar atividades lucrativas, liberação, jñana, ou a perfeição do sistema de yoga místico, mas caso se torne muito inteligente, abandonará todos esses caminhos e se dedicará no serviço devocional sincero para o Senhor. O Srimad Bhagavatam também confirma (2.3.10) mesmo se uma pessoa deseja desfrute material ou liberação, deve se dedicar no serviço devocional. Aqueles que são ambiciosos em obter benefício material do serviço devocional não são devotos puros, mas porque estão engajados no serviço devocional são considerados afortunados. Eles não sabem que o resultado do serviço devocional não é bênção material, mas porque eles se ocupam no serviço devocional do Senhor eles ultimamente vêm a entender que o desfrute material não é o objetivo do serviço devocional. Krishna em Pessoa diz que pessoas desejosas de algum benefício material em troca de serviço devocional são certamente insensatas porque querem algo que é venenoso para elas. O objetivo real do serviço devocional é amor do Supremo, e apesar de uma pessoa poder desejar benefícios materiais de Krishna, o Senhor, porque é todo-poderoso, considera a posição da pessoa e gradualmente a liberta de uma vida ambiciosa materialmente e a ocupa mais em serviço devocional. Quando alguém está realmente dedicado no serviço devocional, esquece suas ambições e desejos materiais. Isso também está confirmado no Srimad Bhagavatam (5.19.27):

satyam disaty arthitam arthito nrnam
naivarthado yat punar arthita yatah
svayam vidhatte bhajatam anicchatam
iccha-pidhanam nija-pada-pallavam

"O Senhor Krishna certamente satisfaz os desejos de Seus devotos que vêm a Ele em serviço devocional, mas Ele não satisfaz desejos que causariam novamente misérias. Apesar de serem materialmente ambiciosos, esses devotos, por prestar serviço transcendental, são purificados gradualmente dos desejos por desfrute material, e eles vêm a desejar o prazer do serviço devocional".

Geralmente pessoas vêm para a associação com devotos a fim de mitigar algumas necessidades materiais, mas a influência de um devoto puro livra a pessoa de todos desejos materiais para que eventualmente venha apreciar o sabor do serviço devocional. Serviço devocional é tão bom e puro que purifica o devoto, e ele esquece todas ambições materiais assim que se dedica plenamente no serviço amoroso transcendental de Krishna. Um exemplo prático é Druva Maharaja, que queria algo material de Krishna e por isso se engajou no serviço devocional. Quando o Senhor apareceu como Vishnu de quatro mãos perante Dhruva, Dhruva disse ao Senhor: "Meu querido Senhor, porque eu me dediquei no Seu serviço devocional com grande austeridade e penitências, agora O vejo. Mesmo grandes semideuses e grandes sábios têm dificuldade de vê-Lo. Agora estou satisfeito, e todos meus desejos estão satisfeitos. Eu não quero nada mais. Eu procurava por algum vidro quebrado, mas em vez disso encontrei uma grande e preciosa jóia". Assim Dhruva Maharaja ficou plenamente satisfeito, e se recusou a pedir qualquer coisa para o Senhor.

O ser vivo, que transmigra através de 8.400.000 espécies de vida, às vezes é comparado a uma tora que desce por um rio. Às vezes, por acaso, uma tora encalha na margem e assim é salva de ser forçada a ser levada pela correnteza. Há um verso no Srimad Bhagavatam (Bhag. 10.38.5) que encoraja cada alma condicionada deste modo: "Ninguém deve ficar deprimido por pensar que nunca sairá das garras da matéria, porque existe toda possibilidade de ser resgatado, exatamente como é possível para uma tora, que flutua num rio, que vem a descansar na margem". Essa oportunidade afortunada também é discutida pelo Senhor Chaitanya. Tais incidentes afortunados são considerados o começo do declínio da vida condicionada da pessoa, e eles ocorrem se houver associação com devotos puros do Senhor. Por se associar com devotos puros, a pessoa desenvolve realmente atração por Krishna. Existem muitos tipos de rituais e atividades, e alguns deles se desenvolvem dentro de desfrute material e alguns dentro de liberação material, mas se um ser vivo adotar essas atividades ritualísticas pelas quais o serviço devocional puro para o Senhor é desenvolvido na associação de devotos puros, então a mente da pessoa fica naturalmente atraída pelo serviço devocional. No Srimad Bhagavatam (10.51.54) está afirmado por Muchukunda:

bhavapavargo bhramato yada bhavej
janasya tarhy acyuta sat-samagamah
sat-sangamo yarhi tadaiva sad-gatau
paravarese tvayi jayate matih

"Meu querido Senhor, enquanto viaja neste mundo material através de diferentes espécies de vida, um ser vivo pode progredir em direção à liberação. Mas se por acaso, ele entrar em contato com um devoto puro, torna-se realmente liberado das garras da energia material e se torna um devoto de Sua Divindade, a Personalidade de Deus".

Quando uma alma condicionada se torna um devoto de Krishna, o Senhor, por Sua misericórdia sem causa, treina a pessoa de dois modos: Ele a treina externamente através do mestre espiritual, e Ele a treina internamente através da Superalma. Como está afirmado no Srimad Bhagavatam (11.29.6): "Meu querido Senhor, mesmo se alguém atingir uma vida tão longa quanto a de Brahma, ele ainda assim será incapaz de expressar sua gratidão pelos benefícios derivados de lembrar Você. Por Sua misericórdia sem causa Você afasta todas condições não auspiciosas, expressa-Se externamente como o mestre espiritual e internamente como a Superalma".

De uma forma ou outra se alguém entra em contato com um devoto puro e assim desenvolve um desejo de prestar serviço devocional para Krishna, gradualmente se eleva para a plataforma de amor do Supremo e assim fica livre das garras da energia material. Isso também está explicado no Srimad Bhagavatam (11.20.8) onde o Senhor em Pessoa diz: "Para aquele que está atraído por Minhas atividades por vontade própria - sem estar nem atraído nem adverso por atividades materiais - o caminho do serviço devocional que conduz para a perfeição do amor de Deus se torna possível". Todavia, não é possível alcançar o estágio de perfeição sem o favor de um devoto puro, ou um mahatma, uma grande alma. Sem a misericórdia de uma grande alma, não se pode nem mesmo ser libertado das garras materiais, e o que dizer de se elevar para a plataforma de amor de Deus. Isso também está confirmado no Srimad Bhagavatam (5.12.12) numa conversa entre o Rei Rahugana da província Sind na Sibéria com o Rei Bharata. Quando o Rei Rahugana expressou surpresa ao ver as conquistas espirituais do Rei Bharata, Bharata respondeu:

raghunaitat tapasa na yati
na cejyaya nirvapanad grhad va
na cchandasa naiva jalagni-suryair
vina mahat-pada-rajo 'bhisekam

"Meu querido Rahugana, ninguém pode alcançar o estágio perfeito de serviço devocional sem ser favorecido por uma grande alma ou um devoto puro. Ninguém pode alcançar os estágios de perfeição simplesmente por seguir princípios reguladores das escrituras, ou por aceitar a ordem renunciada de vida, ou por exercer os deveres prescritos da vida de casado, ou por se tornar um grande estudante da ciência espiritual, ou por aceitar severa austeridade e penitências para realização". Similarmente, quando o pai ateu Hiranyakashipu perguntou a seu filho Prahlada Maharaja como é que ele ficou atraído pelo serviço devocional, o menino respondeu, "Enquanto alguém não for favorecido pela poeira dos pés de devotos puros, não pode nem mesmo tocar no caminho do serviço devocional, que é a solução para todos os problemas da vida material" (Bhag. 7.5.32).

Assim o Senhor Chaitanya disse a Sanatana Goswami que todas as escrituras enfatizam associação com devotos puros do Supremo. A oportunidade de se associar com um devoto puro do Supremo Senhor é o começo da perfeição completa da pessoa. Isso também está confirmado no Srimad Bhagavatam (1.18.13) onde é dito que as facilidades e bênçãos que alguém alcança pela associação com um devoto puro são incomparáveis. Não podem ser comparadas a nada - nem elevação ao reino celestial nem liberação da energia material. O Senhor Krishna também confirma isso na Sua instrução mais confidencial no Bhagavad-gita, onde Ele diz a Arjuna:

man-mana bhava mad-bhakto
mad-yaji mam namaskuru
mam evaisyasi satyam te
pratijane priyo 'si me

"Pense sempre em Mim e se torne Meu devoto. Adore-Me e ofereça suas homenagens a Mim. Assim você virá a Mim sem falha. Eu lhe prometo isto porque você é Meu amigo muito querido" (Bg. 18.65).

Tal instrução direta de Krishna é mais importante do que qualquer instrução Védica ou mesmo serviço regulador. Existem certamente nos Vedas muitas leis, execuções ritualísticas e de sacrifícios, deveres reguladores, técnicas de meditação e processo especulativo para alcançar conhecimento, mas a ordem direta de Krishna - "Pense sempre em Mim e se torne Meu devoto" - deve ser aceita como a ordem final do Senhor e deve ser seguida. Se alguém simplesmente se convence dessa ordem e chega a Seu serviço devocional, ao abandonar todos os outros engajamentos, indubitavelmente alcançará sucesso. Para confirmar essa afirmação, o Srimad Bhagavatam (11.20.9) diz que deve-se seguir outros caminhos para auto-realização somente enquanto não está convencido sobre a ordem direta do Senhor Sri Krishna. É a conclusão do Srimad Bhagavatam e Bhagavad-gita que a ordem direta do Senhor é abandonar tudo e se dedicar no serviço devocional.

A convicção firme para executar a ordem do Senhor é conhecida como fé. Se alguém tem fé, ele está firmemente convencido que simplesmente por prestar serviço devocional para o Senhor Krishna todas as outras atividades são automaticamente realizadas - inclusive deveres ritualísticos, sacrifícios, yoga e perseguição especulativa do conhecimento. Se alguém está convencido que serviço devocional para o Senhor inclui tudo, nenhuma outra atividade é requerida. Como afirmado no Srimad Bhagavatam (4.31.14):

yatha taror mula-nisecanena
trpyanti tat-skandha-bhujopasakhah
pranopaharac ca yathendriyanam
tathaiva sarvarhanam acyutejya

"Por aguar a raiz de uma árvore, automaticamente se nutre os troncos, galhos e frutas, e por suprir comida ao estômago, todos os sentidos ficam satisfeitos. Similarmente, por prestar serviço devocional para Krishna, a pessoa automaticamente satisfaz os requerimentos para todas as outras formas de adoração". Aquele que é fervoroso e firmemente convencido disso é elegível para ser elevado como um devoto puro.

Existem três classes de devotos de acordo com o grau de convicção. O devoto de primeira classe é versado em todos os tipos de literatura Védica e ao mesmo tempo tem a firme convicção mencionada acima. Ele pode libertar todos os outros das dores das misérias materiais. O devoto de segunda classe é firmemente convencido e tem fé forte, mas não tem poder para citar evidência das escrituras reveladas. O devoto de terceira classe é aquele cuja fé não é muito forte, mas, pelo cultivo gradual do serviço devocional, ele eventualmente será elegível a promoção para a posição da segunda ou primeira classe. É dito no Srimad Bhagavatam (11.2.45-47) que o devoto de primeira classe sempre vê o Supremo Senhor como a alma de todos os seres vivos. Assim ao ver todos os seres vivos, ele vê Krishna e nada mais além de Krishna. O devoto de segunda classe coloca sua fé plena na Suprema Personalidade de Deus, faz amizade com os devotos puros, favorece pessoas inocentes e evita aqueles que são ateus ou opostos ao serviço devocional. O devoto de terceira classe se engaja no serviço devocional de acordo com as direções do mestre espiritual, ou se engaja por tradição familiar, ou adora a Deidade do Senhor, mas ele não é culto sobre o conhecimento do serviço devocional, e ele não distingue um devoto de um não devoto. Esse devoto de terceira classe não pode realmente ser considerado um devoto puro; ele está quase na linha devocional, mas sua posição não é muito segura.

Pode-se então concluir que quando uma pessoa exibe amor por Deus e amizade para devotos, mostra misericórdia para os inocentes e é relutante em se associar com não devotos, pode ser considerada um devoto puro. Por desenvolver serviço devocional, essa pessoa pode perceber que todo ser vivo é parte e parcela do Supremo. Em cada e todo ser vivo ela pode ver a Pessoa Suprema, e assim ela se torna altamente desenvolvida na Consciência de Krishna. Nesse estágio ela não distingue entre um devoto e um não devoto, porque ela vê todos no serviço do Senhor. Ela continua a desenvolver todas as grandes qualidades enquanto dedicada na Consciência de Krishna e serviço devocional. Como está afirmado no Srimad Bhagavatam (5.18.12):

yasyasti bhaktir bhagavaty akiñcana
sarvair gunais tatra samasate surah
harav abhaktasya kuto mahad-guna
mano-rathenasati dhavato bahih

"Aquele que alcança serviço devocional puro imaculado para o Supremo Senhor desenvolve todas as boas qualidades dos semideuses, enquanto a pessoa que não desenvolve esse serviço, apesar de todas qualificações materiais, pode se extraviar, porque ela paira na plataforma mental". Portanto qualificações materiais não têm valor sem serviço devocional.

     

     

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Doze

O Devoto

Uma pessoa em Consciência de Krishna que é plenamente devotada para o serviço amoroso transcendental do Senhor desenvolve todas as qualidades divinas dos semideuses. Existem muitas qualidades divinas, mas o Senhor Chaitanya descreve somente algumas delas para Sanatana Goswami. Um devoto do Senhor é sempre bondoso com todos, e ele não provoca brigas. Seu interesse é na essência da vida, que é espiritual. Ele é igual com todos, e ninguém pode encontrar defeito nele. Sua mente magnânima é sempre clara e pura e desprovida de obsessões materiais. Ele é um benfeitor para todos os seres vivos e é pacífico e sempre rendido para Krishna. Ele não tem desejos materiais. Ele é muito humilde e é fixo em seu propósito. Ele é vitorioso sobre as seis qualidades materiais tais quais luxúria e ira, e ele não come mais do que necessita. Ele é sempre sóbrio e respeitoso com os outros, mas ele não requer respeito para si mesmo. Ele é grave, misericordioso, amigável, poético, versado e silencioso.

Há também uma descrição do devoto do Senhor no Srimad Bhagavatam (3.25.21) onde ele é dito como sempre tolerante e misericordioso. Um amigo para todos os seres vivos, ele não tem inimigos. Ele é pacífico e possui todas as boas qualidades. Essas são apenas algumas poucas características de uma pessoa em Consciência de Krishna.

Também é dito no Srimad Bhagavatam que se alguém tiver uma oportunidade de servir uma grande alma - um mahatma - seu caminho para liberação está aberto. Entretanto, aqueles que são apegados a pessoas materialistas estão no caminho da escuridão. Aqueles que são realmente piedosos são transcendentais, serenos, pacíficos, amigáveis com todos os seres vivos e não sujeitos a ira. Simplesmente pela associação com tais homens santificados, a pessoa pode se tornar um devoto consciente de Krishna. De fato, para desenvolver amor de Deus, a associação com devotos santificados é necessária. O caminho do avanço na vida espiritual abre para qualquer um que entra em contato com um homem santificado, e por seguir o caminho do devoto, é certeza que a pessoa desenvolve Consciência de Krishna em serviço devocional pleno.

No Srimad Bhagavatam (11.2.28), Vasudeva, o pai de Krishna, pergunta a Narada Muni sobre o bem-estar de todos os seres vivos, e em resposta Narada Muni cita uma passagem duma discussão entre Maharaja Nimi com os nove sábios. "Ó sábios santificados", disse o Rei Nimi, "eu tento justamente encontrar o caminho do bem-estar para todos os seres vivos. Um momento de associação com homens santificados é a coisa mais valiosa da vida, porque esse momento abre o caminho do avanço na vida espiritual". Isso também é confirmado em outra parte do Srimad Bhagavatam (3.25.25). Por se associar com pessoas santificadas e discutir assuntos transcendentais com elas, fica-se convencido do valor da vida espiritual. Muito em breve, ouvir sobre Krishna torna-se agradável para o ouvido e começa a satisfazer o coração da pessoa. Depois de receber tais mensagens espirituais de pessoas santificadas ou devotos puros, se tentar aplicá-las em sua própria vida, o caminho da Consciência de Krishna naturalmente desenvolve em fé, apego e serviço devocional.

O Senhor então informou Sanatana Goswami sobre o comportamento de um devoto. Aqui o ponto principal é que deve-se sempre permanecer afastado de associação impiedosa. Essa é a soma e substância do comportamento de um devoto. O que é associação impiedosa? É associação com aquele que é muito apegado a mulheres e com aquele que não é um devoto do Senhor Krishna. Essas pessoas são impiedosas. A pessoa é aconselhada a se associar com os devotos piedosos do Senhor e cuidadosamente evitar a associação com não devotos impiedosos. Aqueles que são devotos puros de Krishna são muito cuidadosos para se manterem afastados dos dois tipos de não devotos. No Srimad Bhagavatam (3.31.33-35) é dito que deve-se abandonar toda associação com uma pessoa que é íntimo de mulheres, porque se associar com uma pessoa impiedosa dessas, faz tornar-se desprovido de todas as boas qualidades, tais quais veracidade, limpeza, misericórdia, gravidade, inteligência, recato, beleza, fama, perdão, controle da mente e sentidos e todas as opulências que são automaticamente obtidas por um devoto. Um homem nunca é tão degradado como quando se associa com pessoas que são muito apegadas a mulheres.

Sobre isso, o Senhor Chaitanya também cita um verso do Katyayana-samhita: "Deve-se muito mais tolerar as misérias de estar trancado em uma jaula cheia de fogo em vez de se associar com aqueles que não são devotos do Senhor". Também se aconselha a nem mesmo olhar para as faces de pessoas que são irreligiosas ou que são desprovidas de devoção para o Supremo Senhor. O Senhor Chaitanya recomenda que deve-se escrupulosamente renunciar à associação com pessoas indesejadas e completamente se abrigar no Supremo Senhor Krishna. Essa mesma instrução é dada a Arjuna nos últimos versos do Bhagavad-gita onde Krishna diz: "Simplesmente abandone tudo e se renda a Mim. Eu vou cuidar de você e protegê-lo de todas as reações de atividades pecaminosas" (Bg. 18.66). O Senhor é muito bom com Seus devotos, e Ele é muito grato, ágil e magnânimo. É nosso dever acreditar em Suas palavras, e se formos inteligentes e educados o bastante, seguiremos Suas instruções sem hesitação. No Srimad Bhagavatam (10.48.26) Akrura diz para Krishna:

kah panditas tvad aparam saranam samiyad
bhakta-priyad rta-girah suhrdah krta-jñat
sarvan dadati suhrdo bhajato 'bhikaman
atmanam apy upacayapacayau na yasya

"Quem pode se render a qualquer outro além de Você? Quem é mais querido, sincero, amigável e grato do que Você? Você é tão perfeito e completo que apesar de Você Se entregar para Seu devoto, Você ainda permanece pleno e perfeito. Você pode satisfazer todos os desejos do Seu devoto e até mesmo Se entregar a ele". Uma pessoa que é inteligente e capaz de entender a filosofia da Consciência de Krishna naturalmente abandona tudo e toma o abrigo de Krishna. Sobre isso, o Senhor Chaitanya recita um verso falado por Uddhava no Srimad Bhagavatam (3.2.23): "Como se pode tomar abrigo em qualquer outro além de Krishna? Ele é tão bondoso. Mesmo embora a irmã de Bakasura planejou matar Krishna quando Ele era um bebê por aplicar veneno em seu seio e oferecê-lo a Krishna para sugar e assim morrer, todavia essa mulher hedionda recebeu salvação e foi elevada à mesma plataforma que a própria mãe de Krishna". Esse verso se refere ao tempo quando Putana planejou matar Krishna. Krishna aceitou os seios envenenados daquela mulher demoníaca, e quando Ele sugou o leite dela, Ele sugou para fora a vida dela também. Apesar disso, Putana foi elevada à mesma posição que a própria mãe de Krishna.

Não há diferença essencial entre uma alma plenamente rendida e uma pessoa na ordem de vida renunciada. A única diferença é que uma alma plenamente rendida é completamente dependente de Krishna. Existem seis diretrizes para rendição. A primeira é que deve-se aceitar tudo favorável para a execução do serviço devocional, e deve-se ser determinado para aceitar o processo. A segunda é que deve-se abandonar tudo que é desfavorável para a execução do serviço devocional, e deve-se ser determinado para abandonar tudo isso. A terceira, deve-se estar convencido de que só Krishna pode protegê-lo e deve ter fé plena que o Senhor dará essa proteção. Um impersonalista pensa que sua verdadeira identidade é ser uno com Krishna, mas um devoto não destrói sua identidade desse modo. Ele vive com fé plena que Krishna bondosamente o protegerá em todos aspectos. A quarta, um devoto deve sempre aceitar Krishna como seu mantenedor. Aqueles que estão interessados nos frutos das atividades geralmente esperam proteção dos semideuses, mas um devoto de Krishna não procura por nenhum semideus por proteção. Ele está completamente convencido que Krishna o protegerá de todas as circunstâncias desfavoráveis. Quinta, um devoto está sempre consciente que seus desejos não são independentes; a menos que Krishna os satisfaça, eles não podem ser satisfeitos. Por último, deve-se sempre pensar de si mesmo como o mais caído entre as almas para que Krishna cuide dele.

Uma alma rendida assim deve se abrigar em um local sagrado como Vrindavana, Mathura, Dwaraka, Mayapur, etc., e deve sempre se render ao Senhor, por dizer, "Meu Senhor, a partir de hoje eu sou Seu. Você pode me proteger ou me matar como Você desejar". Um devoto puro se abriga em Krishna desse modo, e Krishna é tão grato que Ele o aceita e dá a ele todos tipos de proteção. Isso é confirmado no Srimad Bhagavatam (11.29.34) onde é dito que se uma pessoa que está para morrer se abriga plenamente no Supremo Senhor e se coloca completamente sob Seu cuidado, ela realmente atinge a imortalidade e se torna elegível para se associar com o Supremo Senhor e desfrutar bem-aventurança transcendental.

O Senhor então explicou a Sanatana Goswami os vários tipos de sintomas do serviço devocional prático. Quando serviço devocional é executado com nossos sentidos presentes, é chamado serviço devocional prático. Na realidade serviço devocional é a vida eterna do ser vivo e está deitado adormecido no coração de todos. A prática que evoca esse serviço devocional adormecido se chama serviço devocional prático. O significado é que o ser vivo é constitucionalmente parte e parcela do Supremo Senhor; o Senhor pode ser comparado ao Sol, e os seres vivos podem ser comparados a moléculas do brilho solar. Sob o encanto da energia ilusória, a centelha espiritual fica quase extinta, mas pelo serviço devocional prático pode-se reviver sua posição constitucional natural. Quando alguém pratica serviço devocional, deve-se entender que ele retorna para sua posição liberada original e normal. Serviço devocional pode ser praticado com os próprios sentidos sob a direção de um mestre espiritual fidedigno.

Começa-se as atividades espirituais para avanço na Consciência de Krishna por ouvir. Ouvir é o método mais importante para avanço, e deve-se ser muito ávido para ouvir favoravelmente sobre Krishna. Por abandonar toda especulação e atividade lucrativa, deve-se simplesmente adorar e desejar alcançar o amor de Deus. Esse amor de Deus existe eternamente dentro de todos; ele simplesmente tem que ser evocado pelo processo de ouvir. Ouvir e cantar são os principais métodos do serviço devocional.

Serviço devocional pode ser regulado ou afetuoso. Aquele que não desenvolveu afeição transcendental por Krishna deve conduzir sua vida de acordo com as direções e regulações das escrituras e do mestre espiritual. No Srimad Bhagavatam (2.1.5) Shukadeva Goswami aconselha Maharaja Parikshit:

tasmad bharata sarvatma
bhagavan isvaro harih
srotavyah kirtitavyas ca
smartavyas cecchatabhayam

"Ó melhor dos Bharatas, é dever principal das pessoas que querem se tornar sem medo ouvir sobre a Suprema Personalidade de Deus, Hari, e cantar sobre Ele e sempre se lembrar Dele. O Senhor Vishnu deve ser sempre lembrado; de fato, Ele não deve ser esquecido nem mesmo por um momento. Ele é a soma e substância de todos princípios reguladores". A conclusão é que quando todas as regras, regulamentos, atividades recomendadas e proibidas reveladas nas escrituras são tomados em conjunto, a lembrança do Supremo Senhor é invariavelmente a essência de tudo. Lembrança da Suprema Personalidade de Deus dentro do seu próprio coração é o objetivo do serviço devocional. Quando o serviço devocional é executado puramente e afeiçoadamente, não há questão de princípios reguladores. Não há faças e não faças.

Todavia, deve-se geralmente aceitar os seguintes princípios para executar propriamente serviço devocional: (1) abrigar-se em um mestre espiritual fidedigno, (2) receber iniciação do mestre espiritual, (3) servir o mestre espiritual, (4) inquirir e aprender amor do mestre espiritual, (5) seguir os passos de pessoas santificadas devotadas ao serviço amoroso transcendental do Senhor, (6) preparar-se para abandonar todos os tipos de prazeres e misérias para a satisfação de Krishna, (7) viver num local onde Krishna teve Seus passatempos, (8) ficar satisfeito com qualquer coisa mandada por Krishna para a manutenção do corpo e não ansiar por mais, (9) observar jejum no dia de Ekadashi (isso acontece no décimo primeiro dia depois da lua cheia e décimo primeiro dia depois da lua nova. Nesses dias, não se come grãos, cereais ou feijões; simplesmente legumes e leite são consumidos moderadamente, e cantar Hare Krishna e leitura das escrituras são incrementados). (10) mostrar respeito aos devotos, vacas e árvores sagradas como a árvore banyan.

É essencial para um devoto neófito que começou a seguir o caminho do serviço devocional observar esses dez princípios. Deve-se também tentar evitar ofensas no serviço ao Senhor e no cantar dos santos nomes. Existem dez tipos de ofensas que se comete enquanto se canta o santo nome, e elas devem ser evitadas. Essas ofensas são: (1) blasfemar um devoto do Senhor, (2) considerar o Senhor e os semideuses no mesmo nível ou pensar que existem muitos deuses, (3) negligenciar as ordens do mestre espiritual, (4) minimizar a autoridade das escrituras (os Vedas), (5) interpretar os santos nomes do Senhor, (6) cometer pecados sob o poder do cantar, (7) instruir sobre as glórias dos nomes do Senhor para o incrédulo, (8) comparar o santo nome com piedade material, (9) ficar desatento enquanto canta o santo nome, (10) permanecer apegado a coisas materiais apesar de cantar os santos nomes. Dez regulamentos adicionais são os seguintes: (1) deve-se tentar evitar ofensas no serviço do Senhor e no cantar dos santos nomes do Senhor; (2) deve-se evitar a associação com não devotos impiedosos; (3) não se deve tentar ter muitos discípulos; (4) não se deve ter o trabalho de entender muitos livros ou entender parcialmente qualquer livro particular, e deve-se evitar discutir diferentes doutrinas; (5) deve-se ser controlado tanto no ganho quanto na perda; (6) não se deve ser sujeito a nenhum tipo de lamentação; (7) não se deve desrespeitar os semideuses ou qualquer outra escritura; (8) não se deve tolerar blasfêmia contra o Supremo Senhor e Seus devotos; (9) deve-se evitar assuntos ordinários de romances e ficção, mas não há nenhuma regra sobre evitar ouvir notícias ordinárias; (10) não se deve causar nenhum sofrimento a nenhuma criatura viva, inclusive um pequeno inseto.

No Bhakti-rasamrita-sindhu compilado por Sri Rupa Goswami é dito que deve-se ser de comportamento muito liberal e deve-se evitar quaisquer atividades indesejadas. Os mais importantes pontos afirmativos são que deve-se aceitar o abrigo de um mestre espiritual fidedigno, ser iniciado por ele e servi-lo.

Em adição a esses, existem trinta e cinco itens do serviço devocional, e podem ser analisados como se segue: (1) ouvir, (2) cantar, (3) lembrar, (4) adorar, (5) orar, (6) servir, (7) dedicar-se como um servidor, (8) ser amigável, (9) oferecer tudo, (10) dançar perante a Deidade, (11) cantar, (12) informar, (13) oferecer reverências, (14) levantar-se para mostrar respeito aos devotos, (15) acompanhar um devoto quando ele se levantar para se dirigir à porta, (16) entrar no templo do Senhor, (17) circungirar o templo do Senhor, (18) oferecer preces, (19) vibrar hinos, (20) realizar sankirtana, ou canto coletivo, (21) cheirar o incenso e flores oferecidos à Deidade, (22) aceitar prasada (alimento oferecido a Krishna), (23) assistir à cerimônia de aratrika, (24) ver a Deidade, (25) oferecer preparações saborosas para o Senhor, (26) meditar, (27) oferecer água para a árvore de tulasi, (28) oferecer respeitos aos Vaishnavas ou devotos avançados, (29) viver em Mathura ou Vrindavana, (30) entender Srimad Bhagavatam, (31) tentar com seu máximo alcançar Krishna, (32) esperar a misericórdia de Krishna, (33) realizar funções cerimoniais com os devotos de Krishna, (34) render-se em todos aspectos, (35) observar diferentes funções cerimoniais. Para esses trinta e cinco itens, pode-se adicionar outros quatro: (1) marcar o corpo com polpa de sândalo para mostrar que é um Vaishnava, (2) pintar o corpo com os santos nomes do Senhor, (3) cobrir o corpo com os restos de cobertas das Deidades, (4) aceitar caranamrta, água que lava a Deidade. Esses quatro itens adicionais fazem trinta e nove itens para o serviço devocional ao todo, e de todos esses, os cinco seguintes são os mais importantes: (1) associar-se com devotos, (2) cantar o santo nome do Senhor, (3) ouvir Srimad Bhagavatam, (4) viver num local sagrado como Mathura e Vrindavana, (5) servir a Deidade com grande devoção. Esses itens são especialmente mencionados por Rupa Goswami em seu livro Bhakti-rasamrita-sindhu. Os trinta e nove itens acima, mais esses cinco, totalizam quarenta e quatro itens. Adicione a esses as vinte ocupações preliminares e dá um total de sessenta e quatro diferentes itens para conduzir serviço devocional. Pode-se adotar os sessenta e quatro itens com seu corpo, mente e sentidos e assim purificar gradualmente seu serviço devocional. Alguns dos itens são completamente diferentes, alguns são idênticos, e outros parecem ser misturados.

Srila Rupa Goswami recomendou que deve-se viver na associação daqueles que são de mesma mentalidade; por isso é necessário formar alguma associação para Consciência de Krishna e viver junto para o cultivo do conhecimento de Krishna e serviço devocional. O item mais importante para viver nessa associação é o entendimento mútuo do Bhagavad-gita e Srimad Bhagavatam. Quando fé e devoção são desenvolvidos, tornam-se transformados na adoração da Deidade, cantar do santo nome e viver num local sagrado como Mathura e Vrindavana.

Os últimos cinco itens - mencionados depois dos primeiros trinta e nove - são muito importantes e essenciais. Se a pessoa puder simplesmente executar esses cinco itens, pode ser elevada ao estágio de perfeição mais elevado, mesmo se não executá-los perfeitamente. A pessoa pode ser capaz de executar um item ou muitos itens, de acordo com sua capacidade, mas é o fator principal de apego completo pelo serviço devocional que faz a pessoa avançar no caminho. Existem muitos devotos na história que alcançaram perfeição no serviço devocional simplesmente por executar os deveres de um item, e existem muitos outros devotos, como Maharaja Ambarisha, que executaram todos os itens. Alguns devotos individuais que alcançaram perfeição em serviço devocional por executarem só um item são: Maharaja Parikshit, que foi liberado e plenamente perfeito simplesmente por ouvir; Shukadeva Goswami que se tornou liberado e alcançou perfeição no serviço devocional simplesmente por cantar; Prahlada Maharaja, que alcançou perfeição por lembrar; Lakshmi, que alcançou perfeição por servir os pés de lótus do Senhor; Rei Prithu, que alcançou a perfeição simplesmente por adorar; Akrura, que alcançou a perfeição simplesmente por orar; Hanuman, que alcançou perfeição simplesmente por se tornar servo do Senhor Rama; Arjuna, que alcançou perfeição simplesmente por ser um amigo de Krishna; e Bali Maharaja que alcançou perfeição por simplesmente oferecer tudo que ele tinha em sua posse. Sobre Maharaja Ambarisha, ele realmente executou todos os itens do serviço devocional. Ele primeiro de tudo absorveu sua mente nos pés de lótus de Krishna. Ele dedicou suas palavras, seu poder de falar, na descrição das qualidades transcendentais da Suprema Personalidade de Deus. Ele dedicou suas mãos em lavar o templo da Deidade, seus ouvidos em ouvir as palavras de Krishna e seus olhos em contemplar a Deidade. Ele dedicou seu sentido de tato em prestar serviço aos devotos, e ele dedicou seu sentido de olfato em apreciar a fragrância das flores oferecidas para Krishna. Ele dedicou sua língua em degustar as folhas de tulasi oferecidas aos pés de lótus de Krishna, suas pernas em ir para o templo de Krishna, e sua cabeça em oferecer reverências à Deidade de Krishna. Porque todos os seus desejos e ambições foram assim dedicados no serviço devocional do Senhor, Maharaja Ambarisha é considerado o líder na execução do serviço devocional em todos os tipos de modos.

Quem quer que se dedica no serviço devocional do Senhor em Consciência de Krishna plena se torna livre de todas as dívidas com os sábios, semideuses e antepassados, com quem todos são geralmente endividados. Isso é confirmado no Srimad Bhagavatam (11.5.41):

devarsi-bhutapta-nrnam pitrnam
na kinkaro nayam rni ca rajan
sarvatmana yah saranam saranyam
gato mukundam parihrtya kartam

"Quem quer que se dedica plenamente no serviço do Senhor, ó Rei, não está mais em débito com os semideuses, os sábios, outros seres vivos, seus familiares, os antepassados ou qualquer humano". Todo humano, justamente após seu nascimento, imediatamente se torna em débito com muitas pessoas, e se espera que a pessoa execute muitos tipos de funções ritualísticas por causa desse endividamento. Todavia, se a pessoa é plenamente rendida a Krishna, não há obrigação. A pessoa fica livre de todas as dívidas.

Deve-se observar cuidadosamente, todavia, que quando uma pessoa abandona todos os outros deveres e simplesmente aceita o serviço transcendental de Krishna, ela não tem nenhum desejo e não está sujeita a ou propensa a executar atividades pecaminosas. Se, entretanto, ela executa atividades pecaminosas (sem querer mas por acaso), Krishna dá a ela toda proteção. Não é necessário para ela purificar-se por qualquer outro método, e isso é confirmado no Srimad Bhagavatam (11.5.42): "Um devoto que está plenamente dedicado no serviço amoroso transcendental do Senhor é protegido pela Pessoa Suprema, mas no caso dele sem querer cometer alguma atividade pecaminosa ou for obrigado a agir pecaminosamente sob certas circunstâncias, Deus, situado dentro do seu coração, dá a ele toda a proteção".

Os processos de conhecimento especulativo e renúncia não são realmente itens principais para elevação no serviço devocional. Não é preciso adotar os princípios de não violência e controle dos sentidos, apesar de existirem regras e regulamentos para adquirir essas qualidades nos outros processos. Sem mesmo praticar esses processos um devoto desenvolve todas boas qualidades simplesmente por executar serviço devocional para o Senhor. No Décimo Primeiro Canto do Srimad Bhagavatam (11.20.31), o Senhor em Pessoa diz que não há necessidade de cultivar conhecimento especulativo e renúncia se a pessoa está realmente dedicada no serviço devocional do Senhor.

      

       

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Treze

Serviço Devocional em Apego

Por puro mal-entendido, alguns transcendentalistas acham que conhecimento e renúncia são necessários para se elevar à plataforma do serviço devocional. Não é assim. O cultivo do conhecimento e a renúncia das atividades lucrativas podem ser necessários para entender sua própria existência espiritual em relação ao conceito material de vida, mas não são parte e parcela do serviço devocional. Os resultados de conhecimento e atividades lucrativas são liberação e prazer sensual material respectivamente. Conseqüentemente, não podem ser parte e parcela do serviço devocional; ao contrário, não têm valor intrínseco na execução do serviço devocional. Quando alguém fica livre do cativeiro dos resultados de conhecimento e atividades lucrativas, pode alcançar serviço devocional. Porque um devoto do Senhor Krishna é por natureza não violento, e desde que sua mente e sentidos são controlados, ele não tem que fazer um esforço especial para adquirir as boas qualidades que resultam de cultivar conhecimento e executar atividades lucrativas.

Quando Uddhava perguntava para Krishna sobre regras e regulações de acordo com as leis Védicas, ele perguntou, "Por que os hinos Védicos encorajam a pessoa ao prazer material, enquanto ao mesmo tempo as instruções Védicas também livram a pessoa de toda ilusão e a encorajam em direção à liberação"? As regras Védicas são supostas de serem ordenadas pela Suprema Personalidade de Deus, mas aparentemente há contradições, e Uddhava estava ansioso para saber como alguém pode ficar livre dessas contradições. Em resposta, o Senhor Krishna o informou sobre a superexcelência do serviço devocional.

"Não é nem prático nem necessário para alguém que já está dedicado no serviço devocional para Mim e cuja mente está fixa em Mim esforçar-se para o cultivo do conhecimento e renúncia". Assim a conclusão do Senhor é que serviço devocional é independente de qualquer processo. O cultivo do conhecimento, renúncia ou meditação podem ser um pouco úteis no começo, mas não podem ser considerados necessários para a execução do serviço devocional. Em outras palavras, serviço devocional pode ser realizado independentemente do cultivo do conhecimento e renúncia. A esse respeito, há um verso do Skanda Purana no qual Parvata Muni disse a um caçador da tribo: "Ó caçador, as qualificações que você acabou de adquirir - tais quais não violência e outras - não são surpreendentes, porque qualquer um que está dedicado no serviço devocional do Supremo Senhor não pode ser uma fonte de sofrimento para ninguém sob nenhuma circunstância".

Depois de discutir esses pontos, o Senhor Chaitanya disse a Sanatana Goswami, "Assim até aqui Eu expliquei serviço devocional de acordo com os princípios reguladores. Agora Eu explicarei serviço devocional a você em termos do apego transcendental".

Os habitantes de Vrindavana, Vrajavasis, são exemplos vivos do serviço devocional. O deles é serviço devocional ideal com apego, e essa devoção só pode ser encontrada em Vrajabhumi, Vrindavana. Se alguém desenvolver serviço devocional e apego por seguir os passos dos Vrajavasis, ele alcança raga-marga-bhakti, ou serviço devocional em apego pelo Senhor. De acordo com o Bhakti-rasamrita-sindhu (1.2.270), "Serviço devocional com apego extático por esse serviço, que se torna natural para o devoto, chama-se raga, ou apego transcendental". Serviço devocional realizado com esse apego se chama ragatmika, e apego profundo com absorção profunda no objeto de amor se chama ragatmika. Exemplos disso podem ser vistos nas atividades dos residentes de Vrajabhumi. Alguém que fica apegado a Krishna por ouvir sobre esse apego é certamente muito afortunado. Quando alguém se torna profundamente afeiçoado pela devoção dos residentes de Vrajabhumi e tenta seguir seus passos, ele não liga para as restrições ou regulamentos das escrituras reveladas. Essa é a característica de alguém que executa raga-bhakti.

Serviço devocional com apego é natural, e aquele que foi atraído por ele não argumenta com aqueles opostos a si mesmo, ainda que outros possam argumentar por apresentar leis das escrituras. A inclinação natural para serviço devocional também é baseada em lei das escrituras, e alguém que tem apego por tal serviço devocional não é requerido a abandoná-lo simplesmente pelo poder de argumento das escrituras. A esse respeito, deve-se notar que uma classe de assim chamados devotos (conhecidos como prakrta-sahajiya) seguem suas próprias idéias inventadas e, por se representarem como Krishna e Radha, entregam-se à devassidão. Um serviço devocional e apego desses são falsos, e aqueles assim engajados, na realidade, escorregam abaixo num caminho infernal. Esse não é o padrão de ragatmika, ou devoção. A comunidade prakrta-sahajiya é na realidade enganada e muito desafortunada.

Serviço devocional com apego pode ser executado de dois modos - externamente e internamente. Externamente o devoto segue estritamente os princípios reguladores a começar por cantar e ouvir, enquanto internamente ele pensa no apego que o atrai para servir o Supremo Senhor. De fato, ele sempre pensa em seu serviço devocional e apego especiais. Esse apego não viola os princípios reguladores do serviço devocional, e um verdadeiro devoto adere a esses princípios estritamente; mesmo assim ele sempre pensa em seu apego particular.

Porque todos os habitantes de Vrajabhumi, Vrindavana, são muito queridos por Krishna, um devoto seleciona um dos habitantes e segue seus passos a fim de ser bem sucedido em seu próprio serviço devocional. Um devoto puro que está apegado ao Senhor sempre segue os passos de uma personalidade de Vrajabhumi. É aconselhado no Bhakti-rasamrita-sindhu (1.2.294) que um devoto puro apegado ao serviço devocional deve sempre lembrar as atividades de um habitante de Vraja particular, mesmo embora ele não tenha condições de viver em Vrajabhumi ou Vrindavana. Desse modo ele pode sempre pensar em Vrajabhumi e Vrindavana.

Os devotos confidenciais apegados ao serviço do Senhor são divididos em várias categorias: alguns deles são servos, alguns são amigos, alguns são pais e mães, e algumas são amantes conjugais. No serviço devocional com apego, deve-se seguir um tipo particular de devoto de Vrajabhumi. No Srimad Bhagavatam (3.25.28) o Senhor diz:

na karhicin mat-parah santa-rupe
nanksyanti no me 'nimiso ledhi hetih
yesam aham priya atma sutas ca
sakha guruh suhrdo daivam istam

"A palavra mat-para é usada para se referir a pessoas que estão satisfeitas com a idéia de se tornarem Meus adeptos exclusivos. Elas consideram que Eu sou sua alma, Eu sou seu amigo, Eu sou seu filho, Eu sou seu mestre, Eu sou seu benquerente, Eu sou seu Deus, e Eu sou sua meta suprema. Minha querida mãe, o tempo não age sobre esses devotos". No Bhakti-rasamrita-sindhu (1.2.308), Rupa Goswami oferece suas respeitosas reverências àqueles que sempre pensam em Krishna como Ele é, e Sua relação como filho, benquerente, irmão, pai, amigo, etc.. Quem quer que siga os princípios do serviço devocional com apego e segue um devoto particular de Vrajabhumi certamente alcança a perfeição mais elevada do amor do Supremo nesse espírito.

Essas são duas características pelas quais as sementes do amor do Supremo podem desenvolver, e elas são conhecidas como rati, ou apego, e bhava, a condição imediatamente que precede amor do Supremo. É com esses apego e bhava que o Supremo Senhor Sri Krishna é conquistado por Seus devotos. Essas duas características estão presentes antes que quaisquer sintomas do amor do Supremo sejam manifestos. Isso tudo foi explicado a Sanatana Goswami pelo Senhor Chaitanya. O Senhor Chaitanya disse a ele porque não há fim realmente para descrever o sistema do serviço devocional com apego, Ele simplesmente tenta oferecer uma amostragem. O Senhor Chaitanya então descreveu o objetivo último do serviço devocional, que é destinado àquele que quer alcançar perfeição. Quando o apego da pessoa se torna muito profundo, ela alcança a condição chamada amor do Supremo. Tal estado de existência é considerado uma situação permanente para um devoto. A esse respeito, Kaviraja Goswami ofereceu suas respeitosas reverências ao Senhor Chaitanya pelos Seus ensinamentos sublimes sobre o amor do Supremo. Como está afirmado no Chaitanya Charitamrita (Madhya 23.1): "Ó Suprema Personalidade de Deus, quem além de Você concedeu tal serviço devocional puro? Ó mais magnânima encarnação da Personalidade de Deus, da minha parte, eu ofereço minhas respeitosas reverências a esta encarnação conhecida como Gaurakrishna".

No Bhakti-rasamrita-sindhu (1.3.1) o estado de estar em amor com o Supremo é comparado ao brilho solar que emana do Sol; esse brilho faz o coração do devoto mais e mais amoroso. O coração de tal devoto está situado numa posição transcendental além até mesmo do modo da bondade. O processo de fazer o coração muito mais esterilizado pelo brilho solar do amor é chamado bhava. Uma descrição de bhava é dada por Rupa Goswami. Bhava é chamada de característica permanente do ser vivo, e o ponto crucial do progresso por bhava é chamado o estado marginal do amor do Supremo. Quando o estado de bhava se torna mais e mais profundo, devotos eruditos chamam isso de amor do Supremo. Como está afirmado no Narada-pañcharatra:

ananya-mamata visnau
mamata prema-sangata
bhaktir ity ucyate bhisma-
prahladoddhava-naradaih

"Quando alguém está firmemente convencido que Vishnu é o único objeto de amor e adoração e não existe ninguém mais - nem mesmo um semideus - digno de receber serviço devocional, ele sente intimidade em sua relação de amor com Deus, e isso é aprovado por personalidades tais quais Bhisma, Prahlada, Uddhava e Narada".

Se, devido a algumas atividades virtuosas que provocam serviço devocional, alguém é influenciado pela atitude de serviço e se abriga em boa associação com devotos puros, desenvolve apego por ouvir e cantar. Por desenvolver cantar e ouvir, pode-se avançar mais e mais em serviço devocional regulado para o Supremo Senhor. À medida que a pessoa avança, seus receios sobre serviço devocional e sua atração pelo mundo material proporcionalmente diminuem. Por avançar em ouvir e cantar, um devoto se torna mais firmemente fixo em sua fé, e gradualmente sua fé inicial desenvolve em um gosto por serviço devocional, e esse gosto gradualmente se desenvolve em apego. Quando o apego se torna puro, exibe as duas características de bhava e rati. Quando rati incrementa, chama-se amor do Supremo, e amor do Supremo é o objetivo último da vida humana.

Esse processo é resumido por Rupa Goswami no Bhakti-rasamrita-sindhu (1.4.15-16): "O primeiro requerimento é fé; é devido à fé que alguém se associa com devotos puros, e por essa associação, desenvolve serviço devocional. À medida que serviço devocional desenvolve, os receios pessoais diminuem. Então a pessoa fica situada em convicção firme, e dessa convicção desenvolve um gosto por serviço devocional e avança para o estágio de apego, pelo qual ela segue os princípios reguladores do serviço devocional. Depois desse ponto, depois de fazer mais progresso, alcança o estado de bhava, que é permanente. Quando esse amor de Deus incrementa, alcança o estágio mais elevado de amor do Supremo".

Em sânscrito esse estágio mais elevado se chama prema, prema pode ser definido como amor de Deus sem nenhuma expectativa de troca ou retorno. Na realidade as palavras prema e amor não são sinônimos, mesmo assim pode-se dizer que prema é o estágio mais elevado do amor. Aquele que alcançou prema é o mais perfeito ser humano. O Srimad Bhagavatam também confirma essa afirmação (Bhag 3.25.25): Somente pela associação com devotos puros que alguém pode desenvolver um gosto pela Consciência de Krishna, e quando tenta aplicar Consciência de Krishna na sua vida, pode alcançar tudo até o estágio de bhava e prema.

O Senhor Chaitanya, ao descrever os sintomas de uma pessoa que se desenvolveu da fé até o estágio de bhava, afirma que essa pessoa nunca fica agitada mesmo se existirem causas para agitação. Nem essa pessoa desperdiça seu tempo mesmo por um momento; ela é sempre ansiosa para fazer algo para Krishna. Mas se não tiver ocupação, encontrará algum trabalho para fazer para a satisfação de Krishna. Nem essa pessoa gosta de nada que não é conectado com Krishna. Apesar de estar situada na melhor posição, não anseia por honra ou respeito pessoal. Ela é confiante em seu trabalho, e nunca fica sob a impressão de que não faz progresso em direção à meta suprema da vida - voltar ao Supremo. Porque está plenamente convencida de seu progresso, é sempre confiante e se mantém ocupada para alcançar o objetivo mais elevado. Ela tem muito apego em satisfazer o Senhor e em cantar ou ouvir sobre o Senhor, e é sempre apegada em descrever as qualidades transcendentais do Senhor. Ela também sempre prefere viver em locais sagrados tais quais Mathura, Vrindavana ou Dwaraka. Essas características são visíveis em quem desenvolveu o estágio de bhava.

O Rei Parikshit proporciona um bom exemplo de bhava. Quando sentado nas margens do Ganges a esperar para encontrar sua morte, ele disse: "Todos os brahmanas presentes aqui, e também a Mãe Ganges, devem saber que eu sou uma alma completamente rendida a Krishna. Eu não me importo se eu for imediatamente picado pela serpente enviada pela maldição do menino brahmana. Deixe a serpente me picar como quiser. Eu ficarei satisfeito se todos vocês presentes aqui continuarem a cantar a mensagem de Krishna". Tal devoto é sempre ansioso para ver se seu tempo não é desperdiçado em nada que não é conectado com Krishna. Conseqüentemente ele não gosta dos benefícios derivados de atividades lucrativas, yoga de meditação ou cultivo do conhecimento. Seu apego é por discursos que são favoravelmente em relação a Krishna. Tais devotos puros do Senhor sempre oram para o Supremo Senhor com lágrimas em seus olhos, suas mentes estão sempre absortas em recordar as atividades do Senhor, e seus corpos estão sempre dedicados a oferecer reverências. Desse modo eles ficam satisfeitos. Qualquer devoto que age em serviço devocional dedica sua vida e corpo para o propósito do Senhor.

O rei Bharata - depois do qual a Índia foi chamada Bharata-varsha - também era um devoto puro, e desde jovem ele deixou sua vida de casado, sua bela esposa devotada, seu filho, amigos e reino justamente como se eles fossem fezes. Isso é típico de uma pessoa que desenvolveu bhava em serviço devocional. Tal pessoa pensa em si mesma como a mais desgraçada, e sua única satisfação é em pensar que em algum dia ou outro Krishna será bondoso o suficiente para favorecê-lo por ocupá-lo no serviço devocional. No Padma Purana outra instância de devoção pura é encontrada. Lá está registrado que o rei, apesar do mais elevado dos seres humanos, mendigava de porta em porta e até mesmo louvava os candalas, os membros mais baixos da sociedade humana.

Foi Sanatana Goswami quem mais tarde compôs este verso:

na prema-sarvanadi-bhaktir api va yogo 'thava vaisnavo
jñanam va subha-karma va kiyad aho saj-jatir apy asti va
hinarthadhika-sadhake tvayi tathapy acchedya-mula sati
he gopijanavallabha vyathayate ha ha madasaiva mam

"Eu sou pobre em amor do Supremo, e eu não tenho nenhuma habilidade para ouvir sobre serviço devocional. Nem eu tenho nenhuma compreensão da ciência do serviço devocional, nem nenhum cultivo de conhecimento, nem quaisquer atividades piedosas para meu crédito. Eu nem mesmo nasci numa família de classe alta. Todavia, ó querido das donzelas de Vraja, eu ainda mantenho esperanças de alcançá-Lo, e essas esperanças sempre me perturbam". Tal devoto, tocado profundamente por tais fortes desejos, sempre canta Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

A esse respeito, o seguinte verso por Bilvamangala aparece no krsna-karnamrta (32):

tvac chaisavam tri-bhuvanadbhutam ity avehi
mac capalam ca tava va mama vadhigamyam
tat kim karomi viralam muralivilasi
mugdhah mukhambujam udiksitum iksanabhyam

"Ó Krishna, ó flautista maravilhoso, a beleza de Suas atividades de infância é muito maravilhosa neste mundo. Você conhece a agitação da minha mente, e eu sei o que Você é. Ninguém sabe quão confidencial nossa relação é. Apesar de meus olhos estarem ansiosos para vê-Lo e Sua face, eu não posso vê-Lo. Por favor me deixe saber o que devo fazer". Uma passagem similar aparece no Bhakti-rasamrita-sindhu (1.3.38) na qual Rupa Goswami afirma:

rodana-bindu-maranda-syandi-
drigindivaradya govinda
tava madhura-svara-kanthi
gayati namavalim bala

"Ó Govinda! Esta jovem menina com lágrimas nos olhos está chorando com uma voz doce, a cantar Suas glórias". Tais devotos puros estão sempre ansiosos para descrever as glórias de Krishna e viver num lugar onde Ele exibiu Seus passatempos. Um verso similar aparece novamente no krsna-karnamrta (92): "O corpo de Krishna é tão lindo, e Sua face é tão bela. Tudo sobre Ele é doce e fragrante". E no Bhakti-rasamrita-sindhu (1.2.156): "Ó Aquele com olhos de lótus, quando eu serei capaz de sempre cantar Seu santo nome, e ser inspirado por esse canto, quando eu serei capaz de dançar nas margens do Yamuna"?

Todas essas descrições do estágio de bhava do serviço devocional foram citados pelo Senhor Chaitanya para Sanatana Goswami. O Senhor Chaitanya então procedeu para descrever os sintomas do verdadeiro amor por Krishna. Ele informou Sanatana Goswami que ninguém pode entender a pessoa que desenvolveu amor de Krishna. Ninguém pode entender suas palavras, suas atividades ou seus sintomas. Mesmo se alguém for erudito, é muito difícil para ele entender um devoto puro que está em amor com o Senhor. Isso também é confirmado no Bhakti-rasamrita-sindhu.

Uma pessoa dedicada no serviço devocional se torna triste quando canta as glórias do Supremo Senhor. Porque o Senhor é muito querido para ela, quando glorifica o nome, fama e assim por diante do Senhor, ela se torna quase igual um homem insano, e nessa condição ela às vezes ri, às vezes chora e às vezes dança. Ela continua desse modo mesmo sem considerar sua situação. Por gradualmente desenvolver seu amor do Supremo, incrementa sua afeição, sua emoção e seu êxtase. Tal apego, mahabhava, é o estágio mais elevado do serviço devocional. Pode ser comparado a açúcar-cande, que é a mais poderosa forma de açúcar. Amor do Supremo pode se desenvolver gradualmente desse modo que o prazer transcendental é incrementado até o estágio mais elevado para o devoto real.

     

         

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

Capítulo Quatorze

O Êxtase do Senhor e Seus Devotos

Os sintomas do serviço devocional altamente desenvolvidos, que são exibidos por devotos puros, às vezes são imitados por aqueles que não são devotos puros de verdade. Isso é descrito no Bhakti-rasamrita-sindhu. Sem serviço devocional para Krishna, alguém pode ter algum motivo para exibir esses sintomas, mas deve-se saber que os sintomas não são de verdade. Às vezes aqueles que não são familiarizados com a ciência do serviço devocional ficam cativados pela exibição de sintomas extáticos, mas aqueles que são em conhecimento da ciência do serviço devocional não aceitam esses sintomas como o tudo por tudo. Esses sintomas somente marcam o começo do serviço devocional. Isso é aceito por devotos eruditos.

De acordo com as várias divisões e graduações de devotos, situações devocionais permanentes podem ser divididas em cinco categorias: (1) tranqüilidade, (2) serviço para Krishna, (3) amizade com Krishna, (4) afeição paternal maternal por Krishna, e (5) amor conjugal por Krishna. Cada divisão tem seu próprio gosto e sabor diferente, e um devoto situado numa divisão particular é feliz nessa posição. Sintomas característicos exibidos por um devoto puro são geralmente rir e chorar; quando emoções são favoráveis, um devoto puro ri, e quando emoções não são favoráveis, ele chora.

Situado acima dessas duas emoções está o amor permanente, que é chamado sthayibhava. Em outras palavras, apego por Krishna é permanente. Essa atitude amorosa permanente é às vezes misturada com diferentes tipos de sabor, chamados vibhava, anubhava e vyabhicari. Vibhava é um gosto particular para apego por Krishna, e pode ser dividido em mais duas categorias - alambana e uddipana. No Agni Purana e outras escrituras autênticas, aquilo que incrementa o amor da pessoa por Krishna é dito como vibhava, e quando Krishna é o objetivo, vibhava é incrementado como alambana. Uddipana é induzido pelas qualidades transcendentais de Krishna, Suas atividades, Sua bela face sorridente e o aroma do Seu corpo, o som da Sua flauta, o som do Seu búzio, as marcas nas solas dos Seus pés, Seu lugar de moradia e Sua parafernália de serviço devocional (tais quais folhas de tulasi, devotos, realizações de cerimônias e Ekadashi). Anubhava ocorre quando sentimentos e emoções dentro de si mesmo são exibidos. Na atitude de anubhava, a pessoa dança e às vezes cai no chão, às vezes canta alto, exibe convulsões, bocejos, e às vezes respira muito pesadamente - tudo sem se preocupar com circunstâncias.

As características externas exibidas nos corpos dos devotos são chamadas udbhasvara. Os sintomas vyabhicari são trinta e três em número, e eles primariamente envolvem palavras pronunciadas pelo devoto e diferentes características físicas. Essas características físicas diferentes - tais quais dançar tremer e rir - quando misturadas com os sintomas vyabhicari são chamadas sancari. Quando os sintomas de bhava, anubhava e vyabhicari são combinados, eles fazem o devoto mergulhar dentro do oceano de imortalidade. Esse oceano é chamado o Bhakti-rasamrita-sindhu, o oceano de néctar puro do serviço devocional, e aquele que mergulhou nesse oceano está sempre extasiado em prazer transcendental nas ondas e sons desse oceano. Os rasas particulares (sabores e gostos) dos devotos que mergulham dentro desse oceano de bhakti-rasamrta são conhecidos como neutralidade, servidão, amizade, paternidade e amor conjugal. Amor conjugal é muito proeminente, e é sintomatizado pela devota decorar seu corpo para atrair Krishna. O sabor da servidão incrementa para incluir afeição, raiva, fraternidade e apego. O sabor da amizade incrementa para incluir afeição, raiva, fraternidade, apego e devoção, e em paternidade o apego incrementa para incluir afeição, raiva, fraternidade, apego, e devoção. Existem também sabores especiais experimentados na amizade com o Supremo Senhor, e esses são manifestos por amigos como Subala, cuja devoção incrementa até o ponto de bhava. Os diferentes rasas também são divididos em dois tipos de êxtase, chamados yoga e viyoga, ou encontro e separação. Em amizade e paternidade, os sentimentos de encontro e separação são vários.

As situações conhecidas como rudha e adhirudha são possíveis no relacionamento conjugal. Amor conjugal exibido pelas rainhas em Dwaraka é chamado rudha, e amor conjugal exibido em Vrindavana pelas donzelas de Vraja é chamado adhirudha. A perfeição mais elevada da afeição adhirudha no amor conjugal envolve encontro (madana) e separação (mohana). No êxtase de madana, encontro, acontece beijar, e no êxtase de mohana, separação, acontece udghurna e citrajalpa. No que diz respeito a citrajalpa, no Srimad Bhagavatam, há uma porção conhecida como Bhramara-gita na qual vários tipos de citra jalpa são mencionados. Udghurna é um sintoma de separação, e também existe um sintoma chamado insanidade transcendental. Nessa insanidade transcendental a pessoa pensa que ela mesma se tornou a Suprema Personalidade de Deus. Nesse êxtase, ela imita os sintomas de Krishna em diferentes modos.

Existem dois tipos de vestimentas usadas nessa relação de amor conjugal, e são chamados sambhoga e vipralambha. Na plataforma sambhoga, as vestimentas são ilimitadas, na vipralambha elas são quatro em número. O êxtase exibido antes do encontro do amante com amada, o êxtase experimentado entre eles depois do encontro, o estado da mente experimentado por não se encontrarem, e o estado da mente depois de se encontrarem com temor da separação são chamados vipralambha. Esse vipralambha serve como elemento de nutrição para futuros encontros. Quando o amante e amada se encontram subitamente e se abraçam, eles sentem um êxtase de felicidade, e o estado da mente que experimentam nesse êxtase é chamado sambhoga. De acordo com a situação, êxtase sambhoga também é conhecido por quatro nomes: (1) sanksipta, (2) sankirna, (3) sampanna, (4) samrddhiman. Esses sintomas também são vistos durante os sonhos.

O estado mental experimentado antes do encontro é chamado purvaraga. Os obstáculos que às vezes impedem o encontro entre amante e amada são chamados mana, ou raiva. Quando o amante e amada estão separados, o estado mental experimentado é chamado pravasa. Sentimentos de separação que estão presentes sob certas condições mesmo quando os amantes se encontram são chamados ansiedades do amor (prema-vaicittya). Essas ansiedades do amor são exibidas no Srimad Bhagavatam (10.90.15) pelas princesas que ficaram noites acordadas e olhavam Krishna dormir. Elas tinham medo de ficarem separadas de Krishna, e elas sempre falavam entre si sobre como ficaram afetadas pelos belos olhos de Krishna e Seu sorriso.

O supremo amante é Krishna, e Ele está situado em Vrindavana, e a suprema amada é Radharani. Krishna tem sessenta e quatro qualificações importantes, e Seu devoto tem prazer transcendental em ouvir sobre elas. Como explicado no Bhakti-rasamrita-sindhu, as características são as seguintes: (1) Seu corpo é bem construído; (2) Seu corpo tem todos sintomas auspiciosos; (3) Seu corpo é lindo; (4) Seu corpo é muito glorioso; (5) Seu corpo é muito forte; (6) Ele sempre parece um rapaz de dezesseis; (7) Ele é bem versado em várias línguas; (8) Ele é sincero; (9) Ele é decorado com palavras agradáveis; (10) Ele é especialista em falar; (11) Ele é muito erudito; (12) Ele é muito inteligente; (13) Ele é influente; (14) Ele é divertido; (15) Ele é ágil; (16) Ele é especialista; (17) Ele é grato; (18) Ele é firmemente convicto; (19) Ele sabe como lidar com circunstâncias diferentes; (20) Ele é sempre versado em leis das escrituras; (21) Ele é limpo; (22) Ele é controlado por Seus devotos; (23) Ele é estável; (24) Ele é auto-controlado; (25) Ele é clemente; (26) Ele é grave; (27) Ele é introspectivo; (28) Ele é justo em Suas relações; (29) Ele é magnânimo; (30) Ele é religioso; (31) Ele é um grande herói; (32) Ele é misericordioso; (33) Ele é respeitoso; (34) Ele é competente; (35) Ele é gentil; (36) Ele é modesto; (37) Ele é o protetor das almas rendidas a Ele; (38) Ele é o libertador; (39) Ele é o amigo dos devotos; (40) Ele é submisso ao amor; (41) Ele é todo-auspicioso; (42) Ele é o mais poderoso; (43) Ele é famoso; (44) Ele é devotado a todos os seres vivos; (45) Ele é adorável por todos; (46) Ele é muito atraente para todas mulheres; (47) Ele é parcial com Seus devotos; (48) Ele é pleno de toda opulência; (49) Ele é o supremo controlador; (50) Ele possui toda honra.

Essas cinqüenta qualidades ou características estão presentes de forma fragmentada em cada ser vivo. Quando estão completamente liberados espiritualmente e situados em sua condição original, todas essas qualidades podem ser percebidas na vida humana em quantidade diminuta. Em Krishna, todavia, elas existem na totalidade. Existem cinco outras qualidades transcendentais (mencionadas abaixo) que podem ser vistas em Vishnu, o Supremo Senhor, e parcialmente no Senhor Shiva também, mas não são visíveis em seres vivos ordinários. Essas características são as seguintes: (1) Ele está sempre situado em Sua condição original; (2) Ele é onisciente; (3) Ele é sempre jovem ou sempre novo; (4) Ele é eternamente bem-aventurado; (5) Ele é versado e é o mestre de toda perfeição. Além dessas cinco características transcendentais, existem cinco outras que podem ser vistas no céu espiritual, especialmente nos planetas Vaikuntha onde Narayana é a Deidade predominante. Elas são: (1) Ele tem qualidades inconcebíveis; (2) Ele é capaz de sustentar inumeráveis universos; (3) Ele é a semente de todas encarnações; (4) Ele concede a perfeição máxima para aqueles inimigos os quais Ele mata; (5) Ele é o mais atraente para pessoas auto-realizadas.

As qualidades e características mencionadas acima, num total de sessenta em número, são visíveis até a plataforma de Narayana. Todavia, Krishna tem quatro qualidades especiais, que são: (1) Ele é capaz de manifestar Seus passatempos maravilhosos; (2) Ele é especialista no toque de flauta transcendental; (3) Ele é rodeado por devotos amorosos; (4) Ele possui beleza pessoal sem paralelo.

Assim Krishna tem sessenta e quatro qualidades transcendentais. Srimati Radharani tem vinte e cinco qualidades transcendentais, mas Ela pode até mesmo controlar Krishna com elas. Suas qualidades transcendentais são as seguintes: (1) Ela é a doçura personificada; (2) Ela é uma jovem menina novinha; (3) Seus olhos sempre se movem; (4) Ela sempre sorri brilhantemente; (5) Ela possui todas marcas auspiciosas no Seu corpo; (6) Ela pode agitar Krishna pelo sabor de Sua pessoa; (7) Ela é especialista na arte de cantar; (8) Ela pode falar muito bem e docemente; (9) Ela é especialista em apresentar atrações femininas; (10) Ela é modesta e gentil; (11) Ela é sempre muito misericordiosa; (12) Ela é transcendentalmente perspicaz; (13) Ela sabe se vestir bem; (14) Ela é sempre recatada; (15) Ela é sempre respeitosa; (16) Ela é sempre paciente; (17) Ela é muito séria; (18) Ela é desfrutada por Krishna; (19) Ela está sempre situada na plataforma devocional mais elevada; (20) Ela é a moradia do amor dos residentes de Gokula; (21) Ela pode dar abrigo a todos os tipos de devotos; (22) Ela é sempre afetuosa com superiores e inferiores; (23) Ela é sempre grata pelas ações de Suas associadas; (24) Ela é a mais grandiosa entre as meninas namoradas de Krishna; (25) Ela sempre mantém Krishna sob Seu controle.

Assim Krishna e Radharani são ambos transcendentalmente qualificados, e os Dois atraem um ao outro. Ainda assim nessa atração transcendental, Radharani é maior do que Krishna, porque a atratividade de Radharani é o sabor transcendental no amor conjugal. Similarmente, existem sabores transcendentais em servidão, amizade e outras relações com Krishna. Isso pode ser descrito com referência ao contexto do Bhakti-rasamrita-sindhu.

Pessoas que foram completamente purificadas pelo serviço devocional e estão sempre felizes, por estarem situadas em consciência elevada, que são muito atraídas pelos estudos do Srimad Bhagavatam, que são sempre animadas na associação dos devotos, que aceitaram os pés de lótus de Krishna como o abrigo último das suas vidas, e que ficam satisfeitas em realizar todos os detalhes do serviço devocional, têm em seus corações puros o êxtase transcendental do apego. Quando esse estado de ser extático é enriquecido com amor de Krishna e a experiência transcendental, a pessoa gradualmente alcança a unidade madura da vida espiritual. Essa vida espiritual não é possível para aqueles que não estão situados em Consciência de Krishna e serviço devocional. Esse fato é mais corroborado no Bhakti-rasamrita-sindhu onde está dito: "É muito difícil para um não devoto entender o sabor do serviço devocional. Somente aquele que se abrigou completamente nos pés de lótus de Krishna e cuja vida está mergulhada no oceano do serviço devocional pode entender esse prazer transcendental".

O Senhor Chaitanya assim explicou brevemente a situação transcendental e desfrute espiritual da vida, e Ele ensinou que o primeiro estágio de perfeição é se tornar um homem religioso no sentido ordinário, como conhecido no mundo material. O segundo estágio de perfeição é se tornar materialmente rico. O terceiro estágio de perfeição material é o alcance do desfrute sensual completo, e no quarto estágio há o conhecimento da liberação. Acima dessa plataforma estão aqueles no quinto estágio que já estão liberados e que estão estabelecidos em Consciência de Krishna ou serviço devocional para o Senhor. Na perfeição mais elevada do serviço devocional em Consciência de Krishna, a pessoa experimenta o gosto do êxtase do sabor espiritual.

O Senhor então disse a Sanatana Goswami que Ele ensinou previamente seu irmão mais novo, Rupa Goswami, em Prayaga (Allahabad). O Senhor assegurou Sanatana Goswami que Ele dotou de poder Rupa Goswami para propagar o conhecimento que Ele lhe deu. O Senhor então similarmente ordenou Sanatana Goswami para escrever livros sobre serviço devocional do Senhor, e Ele o autorizou a escavar os diferentes locais dos passatempos de Krishna no distrito de Mathura. Sanatana Goswami também foi aconselhado a construir templos em Vrindavana e escrever livros sobre os princípios do Vaishnavismo, como autenticado pelo Senhor Chaitanya em Pessoa. Sanatana Goswami executou todos esses desejos do Senhor - ele construiu o templo de Madana-mohana em Vrindavana, e ele escreveu livros sobre os princípios do serviço devocional, como o Hari-bhakti-vilasa. O Senhor Chaitanya mais ainda ensinou Sanatana Goswami como alguém pode viver no mundo material enquanto tem um relacionamento completo com Krishna, e Ele também o ensinou que não existe necessidade de renúncia seca. O significado dessas instruções é que na presente era existem muitas pessoas que aceitam a ordem de vida da renúncia mas não são avançadas espiritualmente. O Senhor Chaitanya não aprovou alguém aceitar sannyasa sem ter conhecimento perfeito da Consciência de Krishna. Na realidade, encontra-se que existem muitos assim chamados sannyasis cujas ações são mais baixas do que aquelas de pessoas ordinárias mas que se passam como pertencentes à ordem de vida da renúncia. O Senhor Chaitanya Mahaprabhu não aceitou essa hipocrisia. Ele ensinou Sanatana Goswami para escrever de forma elaborada sobre a matéria do serviço devocional em seus diferentes livros.

O estágio de perfeição da vida espiritual o qual pode-se experimentar mesmo enquanto se vive dentro do mundo material é descrito no Décimo Segundo Capítulo do Bhagavad-gita como se segue: "Aquele que não é invejoso mas que é um bom amigo para todos os seres vivos, que não se acha o proprietário, que está livre do ego falso e é igual tanto na felicidade quanto na tristeza, que está sempre satisfeito e dedicado no serviço devocional com determinação e cuja mente e inteligência estão de acordo Comigo - ele é muito querido por Mim. Aquele por quem ninguém é posto em dificuldade e que não é perturbado por ansiedade, que fica estável na felicidade e tristeza, é muito querido por Mim. Um devoto que não é dependente do curso ordinário das atividades, que é puro, versado, sem preocupações, livre de todas as dores, e que não ambiciona algum resultado, é muito querido por Mim. Aquele que não se apega nem a prazer ou tristeza, que nem lamenta nem deseja, e que renuncia tanto coisas auspiciosas quanto não auspiciosas, é muito querido por Mim. Aquele que é igual com amigos e inimigos, que é equilibrado na honra e na desonra, calor e frio, felicidade e tristeza, fama e infâmia, que é sempre livre de contaminação, sempre silencioso e satisfeito com qualquer coisa, que não se preocupa com nenhuma residência, que está fixo no conhecimento e dedicado no serviço devocional, é muito querido por Mim. Aquele que segue este caminho imperecível do serviço devocional e que completamente se dedica com fé, por Me tornar o objetivo supremo, é muito, muito querido por Mim". (Bg. 12.13-20).

Mesmo se alguém não estiver situado numa posição transcendental dessa, se ele simplesmente aprova tal vida transcendental, ele também se torna muito querido por Krishna. No Srimad Bhagavatam (2.2.5) está afirmado que um devoto deve sempre permanecer dependente da misericórdia do Supremo Senhor e no que diz respeito às suas necessidades materiais, ele deve ficar satisfeito com qualquer coisa obtida sem muito esforço. A esse respeito, Shukadeva Goswami aconselhou que um devoto nunca deve se aproximar de uma pessoa materialista por nenhum tipo de ajuda. No que diz respeito às necessidades corpóreas, pode-se pegar roupas rasgadas na rua, pode pegar as frutas oferecidas por árvores, pode beber a água que flui dos rios, e pode morar numa caverna construída pela própria natureza. Mesmo se alguém for incapaz de fazer essas coisas, ele deve mesmo assim depender completamente do Supremo Senhor, por entender que o Supremo Senhor provê cada um com comida e abrigo. Deve-se entender que o Senhor nunca falhará em cuidar de Seus devotos que estão plenamente rendidos a Ele. Em qualquer caso, o devoto é sempre protegido, e por isso ele não deve ficar de jeito nenhum ansioso por causa de sua manutenção.

Sanatana Goswami então inquiriu sobre todas as fases do serviço devocional, e o Senhor Chaitanya o ensinou da forma mais confidencial de escrituras autênticas como Srimad Bhagavatam. O Senhor também se referiu à literatura Védica conhecida como Harivamsha, que dá informação sobre a residência transcendental de Krishna. Essa informação foi revelada por Indra quando ele ofereceu suas preces depois de ser derrotado ao desafiar a potência de Krishna. No Harivamsha está afirmado que apesar de pássaros e aeroplanos poderem voar, não podem alcançar os sistemas planetários superiores. Os sistemas planetários superiores começam com o planeta Sol, que está situado no meio do universo. Além do Sol existem outros sistemas planetários onde pessoas que são elevadas por grandes austeridades e penitências estão situadas. O universo material inteiro se chama Devidhama, e acima dele está Shivadhama, onde o Senhor Shiva e sua esposa Parvati residem eternamente. Acima desse sistema planetário está o céu espiritual onde inumeráveis planetas espirituais, conhecidos como Vaikunthas, estão situados. Acima desses planetas Vaikuntha está o planeta de Krishna conhecido como Goloka Vrindavana. A palavra goloka significa "planeta das vacas". Porque Krishna gosta muito de vacas, Sua residência é conhecida como Goloka. Goloka Vrindavana é maior do que todos os planetas materiais e espirituais postos juntos. Na prece contida no Harivamsha, Indra admitiu que não pôde entender a situação de Goloka mesmo ao perguntar para Brahma. Aqueles que são devotos da expansão Narayana de Krishna alcançam os planetas Vaikuntha, mas é muito difícil alcançar Goloka Vrindavana. De fato, esse planeta pode ser alcançado somente por pessoas que são devotas do Senhor Chaitanya ou Senhor Sri Krishna. Foi Indra quem admitiu para o Senhor Krishna: "Você descendeu do planeta Goloka no céu espiritual, e a perturbação que eu criei foi devido à minha loucura". Assim Indra implorou para o Senhor Krishna perdoá-lo.

A última fase dos passatempos do Senhor Krishna é descrita no Srimad Bhagavatam como mausala-lila. Isso inclui o mistério do desaparecimento de Krishna deste mundo material. Nesse passatempo o Senhor representa o papel de ser morto por um caçador. Existem muitas explanações impróprias da última porção dos passatempos do Senhor Krishna (como descrições da encarnação do cabelo de Krishna), mas o Senhor Chaitanya descreveu propriamente esses passatempos e deu-lhes a interpretação certa. No que se refere à encarnação do cabelo de Krishna, há menção no Srimad Bhagavatam, no Vishnu Purana, e no Mahabharata. Está afirmado lá que o Senhor arrancou um cabelo grisalho e um cabelo preto de Sua cabeça e esses dois cabelos entraram nos ventres de duas rainhas da dinastia Yadu, chamadas Rohini e Devaki. Também está afirmado que o Senhor Krishna descende neste mundo material a fim de aniquilar todos os demônios, mas alguns dizem que Krishna é a encarnação do Vishnu que deita no oceano de leite dentro deste universo. Srila Rupa Goswami em seu Laghu-bhagavatamrita e seu comentarista, Sri Baladeva Vidyabhushana, discutiram esses pontos plenamente e estabeleceram a verdade exata. Sri Jiva Goswami também discutiu esses pontos no Krishna-sandarbha.
[Ver Bhag. 1.15."Os Pandavas Se Retiram em Tempo"; Mahabharata para Crianças Capítulos 105, 106, 107 e 108; Cc. Madhya 23.117-118].

Quando o Senhor Chaitanya finalizou Suas instruções para Sri Sanatana Goswami, Sanatana, que estava dotado de poder e iluminado, ficou tão transcendentalmente feliz que caiu imediatamente aos pés do Senhor Chaitanya e disse: "Eu nasci numa família muito baixa, e eu sempre me associei com pessoas baixas, por isso eu sou o mais baixo dos pecadores. Mesmo assim Você é tão bondoso que me ensinou lições que não são entendidas nem mesmo pelo Senhor Brahma, o maior ser dentro deste universo. Por Sua graça eu apreciei as conclusões que Você me ensinou, mas eu sou tão baixo que eu não posso nem mesmo tocar em uma gota do oceano de Suas instruções. Assim se Você quiser que eu, quem não é nada além de um homem aleijado, dance, então por favor dê-me Sua bênção por colocar Seus pés sobre minha cabeça".

Assim Sanatana Goswami rogou pela confirmação do Senhor para que Seus ensinamentos realmente evoluíssem em seu coração por Sua graça. De outro modo, Sanatana sabia que não havia possibilidade que ele fosse capaz de descrever os ensinamentos do Senhor. O significado disso é que os acaryas (mestres espirituais) são autorizados por autoridades superiores. Instrução sozinha não pode tornar alguém um especialista. A menos que alguém seja abençoado pelo mestre espiritual, ou o acarya, esses ensinamentos não podem se tornar plenamente manifestos. Por isso deve-se procurar a misericórdia do mestre espiritual para que as instruções do mestre espiritual possam se desenvolver dentro de si mesmo. Depois de receber as preces de Sanatana Goswami, o Senhor Chaitanya colocou Seus pés sobre a cabeça de Sanatana e deu a ele Suas bênçãos para que todas as Suas instruções se desenvolvessem plenamente.

Assim o Senhor descreveu o estágio último do amor do Supremo. O Senhor Chaitanya disse que essa descrição não pode ser dada de forma muito elaborada mas que Ele o informou na medida do possível. A conclusão é que qualquer um que ouve atentamente esses discursos e instruções do Senhor Chaitanya para Sanatana Goswami muito em breve alcança a Consciência de Krishna e se dedica no serviço devocional do Senhor.

     

         

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"Ensinamentos do Senhor Chaitanya"
(Original Sem "Correções")
de
Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(2ª Impressão de 1975 - 1ª Edição 1968)

 

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