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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga
Nitai Gaura Hari Bol


Srimad Bhagavatam
(de Krishna Dwaipayana Vyasa - Srila Vyasadeva)

pela Divina Graça
de
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

(Original Sem "correções")

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Primeiro Canto - "Criação"

Capítulo Quinze - Os Pandavas Se Retiram em Tempo

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Capítulo Quinze

Os Pandavas Se Retiram em Tempo

Verso 1

süta uväca
evaà kåñëa-sakhaù kåñëo
bhräträ räjïä vikalpitaù
nänä-çaìkäspadaà rüpaà
kåñëa-viçleña-karçitaù

Suta Goswami disse: Arjuna, o célebre amigo do Senhor Krishna, estava desolado por causa de seu forte sentimento de separação de Krishna, acima e além de todas perguntas especulativas de Maharaja Yudhisthira.

Iluminação de Srila Prabhupada:
Como estava muito desolado, Arjuna estava praticamente em estado de choque, por isso não foi possível responder propriamente as várias perguntas especulativas de Maharaja Yudhisthira.

Verso 2

çokena çuñyad-vadana-
håt-sarojo hata-prabhaù
vibhuà tam evänusmaran
näçaknot pratibhäñitum

Por causa da tristeza, a boca e o coração de lótus de Arjuna secaram. Por isso, seu corpo perdeu todo brilho. Agora, na lembrança do Supremo Senhor, ele mal podia pronunciar uma palavra de resposta.

Verso 3

kåcchreëa saàstabhya çucaù
päëinämåjya netrayoù
parokñeëa samunnaddha-
praëayautkaëöhya-kätaraù

Ele controlava as lágrimas de tristeza que molhavam seus olhos com muita dificuldade. Ele estava muito desolado porque o Senhor Krishna não era mais visível, e sentia uma afeição crescente por Ele.

Verso 4

sakhyaà maitréà sauhådaà ca
särathyädiñu saàsmaran
nåpam agrajam ity äha
bäñpa-gadgadayä girä

Com a lembrança do Senhor Krishna e Sua amizade, benefícios, parentesco íntimo e condução da quadriga, Arjuna, desnorteado e com a respiração pesada, começou a falar.

Iluminação de Srila Prabhupada:
O Ser Vivo Supremo é perfeito em todas relações com Seus devotos puros. Sri Arjuna é um dos devotos puros típicos do Senhor correspondente à relação fraterna, e o relacionamento do Senhor com Arjuna é uma demonstração da amizade em sua perfeição mais elevada. Ele não é apenas um bom amigo de Arjuna mas um verdadeiro bem feitor, e para aperfeiçoar ainda mais, o Senhor o atou numa relação familiar por arranjar o casamento de Subhadra com ele. E acima de tudo, o Senhor concordou em ser o condutor da quadriga de Arjuna a fim de proteger Seu amigo dos perigos da guerra, e o Senhor ficou realmente muito feliz quando restabeleceu os Pandavas no governo do mundo. Arjuna se lembrava de tudo isso repetidamente, e assim ficou desnorteado com tais pensamentos.

Verso 5

arjuna uväca
vaïcito haà mahä-räja
hariëä bandhu-rüpiëä
yena me pahåtaà tejo
deva-vismäpanaà mahat

Arjuna disse: Ó Rei! a Suprema Personalidade de Deus, Hari, que me tratava exatamente como um amigo íntimo, me abandonou. Por isso, meu poder admirável, que maravilhava até os semideuses, não está mais comigo.

Iluminação de Srila Prabhupada:
O Senhor diz no Bhagavad-gita (10.41): "Qualquer um que seja especificamente poderoso e opulento em riqueza, força, beleza, conhecimento e tudo que é materialmente desejável deve ser considerado como um produto duma parte insignificante da totalidade plena da Minha energia". Portanto, ninguém pode ser poderoso independente em qualquer medida, sem ser dotado pelo Senhor. Quando o Senhor descende na Terra junto com Seus companheiros liberados eternos, Ele não só exibe a energia divina que possui como também dá o poder a Seus devotos associados com a energia necessária para a execução da missão de Sua encarnação. O Bhagavad-gita (4.5) também afirma que o Senhor e Seus companheiros eternos descendem à Terra muitas vezes, mas o Senhor lembra de todas as atuações das encarnações, enquanto os companheiros, pela Sua vontade suprema, esquecem. Similarmente, o Senhor leva embora Consigo todos Seus companheiros quando desaparece da Terra. O poder e energia concedidos a Arjuna foram necessários para o cumprimento da missão do Senhor, mas quando Sua missão foi cumprida, os poderes de emergência foram tirados de Arjuna, porque os poderes maravilhosos de Arjuna, que atraíam a admiração até dos habitantes celestiais, não eram mais necessários, e não eram destinados à volta para o Lar, a volta ao Supremo. Se a concessão e retirada de poderes pelo Senhor são possíveis até mesmo para um devoto como Arjuna, ou mesmo os semideuses do céu, o que falar então sobre seres vivos ordinários que são insignificantes quando comparados a tais grandes almas. Portanto, a lição é que ninguém deve ficar orgulhoso com seus poderes emprestados pelo Senhor. A pessoa sã deve preferivelmente ser grata ao Senhor por tais benefícios e deve utilizar esse poder no serviço ao Senhor. O poder pode ser retirado a qualquer momento pelo Senhor, por isso o melhor uso de tal poder e opulência é ocupá-los no serviço ao Senhor.

Verso 6

yasya kñaëa-viyogena
loko hy apriya-darçanaù
ukthena rahito hy eña
måtakaù procyate yathä

Eu acabei de perdê-Lo, e a separação Dele mesmo por um momento torna todos os universos desfavoráveis e vazios, como corpos sem vida.

Iluminação de Srila Prabhupada:
Na verdade, não existe ninguém mais querido por um ser vivo do que o Senhor. O Senhor Se expande em inumeráveis partes e parcelas como swamsha e vibhinnamsha. Paramatma é a parte swamsha do Senhor, enquanto as partes vibhinnamsha são os seres vivos. Assim como o ser vivo é o fator importante do corpo material, pois o corpo material sem o ser vivo não tem valor, similarmente sem Paramatma, o ser vivo não tem status quo. Da mesma forma, Brahman e Paramatma não têm locus standi sem o Supremo Senhor Krishna. Isso é plenamente explicado no Bhagavad-gita. Todos são interligados entre Si, ou fatores interdependentes, assim em última instância o Senhor é o summum bonum e portanto o princípio vital de tudo.

Verso 7

yat-saàçrayäd drupada-geham upägatänäà
räjïäà svayaàvara-mukhe smara-durmadänäm
tejo håtaà khalu mayäbhihataç ca matsyaù
sajjékåtena dhanuñädhigatä ca kåñëä

Somente por Seu poder misericordioso fui capaz de vencer todos os príncipes luxuriosos reunidos no palácio do Rei Drupada para a seleção do noivo. Com o arco e flecha, pude acertar o peixe alvo e conquistar a mão de Draupadi.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Draupadi era a filha mais linda do Rei Drupada, e quando era jovem, todos os príncipes desejavam sua mão. Mas Drupada Maharaja decidiu dar a mão de sua filha somente a Arjuna e planejou um jeito peculiar para isso. Havia um peixe no alto do teto do salão da assembléia protegido por uma roda de quadriga. A condição era que um príncipe tinha que acertar o olho do peixe através do orifício da roda de proteção, e ninguém podia olhar direto para o alvo. Tinha um recipiente com água no chão que refletia o alvo e a roda, e ninguém podia mirar diretamente no alvo e sim olhar para a água trepidante do recipiente no chão. Maharaja Drupada sabia bem que só Arjuna e alternativamente Karna poderiam ter sucesso nesse plano. Mas mesmo assim, queria dar a mão de sua filha a Arjuna. Então, na assembléia dos príncipes, quando Dristadyumna, o irmão de Draupadi, apresentou todos os príncipes à sua irmã mais velha, Karna também estava presente na disputa. Mas Draupadi rejeitou Karna com esperteza como rival de Arjuna, pois disse a seu irmão Dristadyumna que não seria capaz de aceitar ninguém que não fosse pelo menos um kshatriya. Os vaishyas e shudras estão abaixo dos kshatriyas. Karna era conhecido como filho dum shudra. Assim Draupadi evitou Karna com essa exigência. Arjuna disfarçado como um brâmane pobre acertou o alvo difícil para o espanto de todos, e os príncipes, especialmente Karna, entraram em combate com Arjuna, mas como de costume pela graça do Senhor Krishna, ele venceu com sucesso o combate com os príncipes e ganhou a valiosa mão de Krishná, ou Draupadi. Arjuna lamentava com a lembrança do incidente na ausência do Senhor, por cujo poder unicamente ele era tão poderoso.

Verso 8

yat-sannidhäv aham u khäëòavam agnaye däm
indraà ca sämara-gaëaà tarasä vijitya
labdhä sabhä maya-kåtädbhuta-çilpa-mäyä
digbhyo haran nåpatayo balim adhvare te

Por Ele estar ao meu lado, foi possível que eu conquistasse com muita destreza o poderoso Rei do céu, Indradeva, junto com seus companheiros semideuses e consegui que o deus do fogo devastasse a floresta Khandava. E somente por Sua graça, o demônio Maya foi salvo do incêndio da floresta Khandava, assim pudemos construir nossa casa de assembléia com sua maravilhosa obra prima de arquitetura, onde todos os príncipes se reuniram durante a realização do Rajasuya yajña e lhe ofereceram homenagens.

Iluminação de Srila Prabhupada:
O demônio Maya Danava era morador da floresta Khandava, e quando a floresta foi incendiada, pediu proteção a Arjuna. Arjuna salvou sua vida, assim o demônio ficou grato. Ele retribuiu com a construção da maravilhosa casa de assembléia dos Pandavas, que atraía a atenção de todos príncipes soberanos. Eles perceberam o poder sobrenatural dos Pandavas, assim se submeteram e prestaram homenagens ao Imperador. Os demônios possuem poderes maravilhosos e sobrenaturais para a criação de maravilhas materiais. Mas sempre são elementos de perturbação para a sociedade. Os demônios modernos são os cientistas materiais nocivos que criam alguma maravilha material para a perturbação da sociedade. Por exemplo, a criação de armas nucleares que causam pânico na sociedade humana. Maya também era um materialista assim, e conhecia a arte de criar tais coisas maravilhosas. Por isso, o Senhor Krishna queria matá-lo. Quando foi perseguido pelo fogo e pelo disco do Senhor Krishna, abrigou-se no grande devoto Arjuna, que o salvou do fogo da ira do Senhor Sri Krishna. Portanto, os devotos são mais misericordiosos do que o Senhor, e no serviço devocional, a misericórdia dum devoto é mais valiosa do que a misericórdia do Senhor. Tanto o fogo como o disco do Senhor pararam de perseguir o demônio quando viram que o demônio se abrigou num grande devoto como Arjuna. O demônio se sentiu obrigado a Arjuna e queria prestar-lhe algum serviço em retribuição para mostrar sua gratidão, mas Arjuna recusou em aceitar qualquer coisa em troca. O Senhor Sri Krishna entretanto ficou satisfeito com o demônio que se abrigou em Seu devoto, e pediu a ele para prestar serviço ao Rei Yudhisthira com a construção da casa de assembléia maravilhosa. O processo é que pela graça do devoto se obtém a graça do Senhor, e pela misericórdia do Senhor se obtém uma chance de servir ao devoto do Senhor. A maça de Bhimasena também foi presente de Maya Danava.

Verso 9

yat-tejasä nåpa-çiro-ìghrim ahan makhärtham
äryo nujas tava gajäyuta-sattva-véryaù
tenähåtäù pramatha-nätha-makhäya bhüpä
yan-mocitäs tad-anayan balim adhvare te

Seu venerável irmão mais novo, que possui a força de dez mil elefantes, por Sua graça, matou Jarasandha, cujos pés são adorados por muitos reis. Esses reis foram presos para serem sacrificados no sacrifício Mahabhairava-yajña de Jarasandha, mas eles foram devidamente libertados. Depois, prestaram as devidas homenagens à Vossa Majestade.

Iluminação de Srila Prabhupada:
Jarasandha era um rei muito poderoso de Magadha, e a história de seu nascimento e atividades também é muito interessante. Seu pai, Rei Brihadratha, também era um rei de Magadha muito próspero e poderoso, mas não tinha filhos, apesar de casar com as duas filhas do rei de Kashi. Desapontado por não ter filhos com suas duas rainhas, o rei foi com as duas esposas para a floresta para a prática de austeridades, onde foi abençoado por um grande rishi para ter um filho, ele lhe deu uma manga para ser comida pelas rainhas. As rainhas fizeram isso e logo ficaram grávidas. O rei ficou muito feliz ao ver as rainhas grávidas, mas quando chegou a hora, as rainhas deram à luz uma criança dividida em duas partes, cada uma do ventre de cada rainha. As duas partes foram jogadas na floresta onde vivia uma grande demônia, e ela ficou muito contente em ter aquela carne delicada junto com o sangue do recém-nascido. Mas por curiosidade, ela juntou as duas partes, assim a criança ficou completa e ganhou vida. A demônia era conhecida como Jara, e sentiu pena do rei que não tinha filhos, então foi até ele e o presenteou com a bela criança. O rei ficou muito contente com a demônia e queria recompensá-la conforme seu desejo. A demônia expressou seu desejo de que a criança tivesse seu nome, assim recebeu o nome Jarasandha, aquele que foi juntado por Jara, a demônia. De fato, esse Jarasandha nasceu como uma das partes e parcelas do demônio Viprachitti. O santo que abençoou as rainhas para terem um filho era Chandra Kaushika, que profetizou sobre a criança para seu pai Brihadratha.

Como possuía qualidades demoníacas desde o nascimento, tornou-se naturalmente um grande devoto do Senhor Shiva, que é o senhor de todas pessoas fantasmagóricas e demoníacas. Ravana era um grande devoto do Senhor Shiva e assim também o Rei Jarasandha. Ele costumava sacrificar todos os reis capturados ao Senhor Mahabhairava (Shiva) e com seu poder militar derrotou muitos pequenos reis os quais prendeu para sacrificar a Mahabhairava. Há muitos devotos do Senhor Mahabhairava, ou Kalabhairava, na atual província de Bihar, antiga Magadha. Jarasandha era parente de Kamsa, o tio materno de Krishna, por isso, depois da morte de Kamsa, o Rei Jarasandha se tornou um grande inimigo de Krishna, e aconteceram muitas batalhas entre Jarasandha e Krishna. O Senhor Krishna queria matá-lo, mas também queria que os homens que o serviam nas forças armadas não fossem mortos. Assim fizeram um plano para matá-lo. Krishna, Bhima e Arjuna foram juntos até Jarasandha disfarçados como brâmanes pobres para pedir doações a ele. Jarasandha nunca recusava caridade aos brâmanes, e também realizava muitos sacrifícios, mesmo assim não tinha nenhuma relação com o serviço devocional. O Senhor Krishna, Bhima e Arjuna pediram a Jarasandha a gentileza de lutar com ele, e foi decidido que Jarasandha lutaria somente com Bhima. Assim eles eram convidados e combatentes de Jarasandha ao mesmo tempo. Bhima e Jarasandha lutaram todos os dias durante vários dias. Bhima ficou desapontado, mas Krishna lhe deu indicações como Jarasandha foi juntado na infância, assim Bhima o separou novamente e assim o matou. Todos os reis que estavam presos no campo de concentração para serem mortos perante Mahabhairava foram assim libertados por Bhima. Agradecidos aos Pandavas, eles prestaram homenagens ao Rei Yudhisthira.

Verso 10

patnyäs tavädhimakha-kÿpta-mahäbhiñeka-
çläghiñöha-cäru-kabaraà kitavaiù sabhäyäm
spåñöaà vikérya padayoù patitäçru-mukhyä
yas tat-striyo kåta-hateça-vimukta-keçäù

Foi somente Ele que soltou o cabelo das esposas dos canalhas que ousaram desmanchar o penteado de sua rainha, que estava tão bem vestida e santificada para a grande cerimônia do sacrifício Rajasuya. Nessa vez, ela caiu aos pés de lótus do Senhor Krishna com lágrimas nos olhos.

Iluminação de Srila Prabhupada:
A rainha Draupadi tinha um belo penteado que foi santificado na realização da cerimônia do Rajasuya yajña. Mas quando foi perdida numa aposta, Dushasana tocou seu cabelo santificado para insultá-la. Draupadi então caiu aos pés de lótus do Senhor Krishna, e o Senhor Krishna decidiu que todas esposas de Dushasana e companhia tivessem seus cabelos soltos como resultado da batalha de Kurukshetra. Assim, depois da batalha de Kurukshetra, quando todos filhos e netos de Dhritarastra morreram na batalha, todas esposas da família foram obrigadas a soltar seus cabelos como viúvas. Em outras palavras, todas esposas da família Kuru ficaram viúvas por causa do insulto de Dushasana a uma grande devota do Senhor. O Senhor pode tolerar insultos para Si mesmo de qualquer canalha pois o pai tolera até mesmo os insultos do filho. Mas Ele nunca tolera insultos a Seus devotos. Ao insultar uma grande alma, a pessoa perde todos os resultados de atos piedosos bem como das bênçãos também.

Verso 11

yo no jugopa vana etya duranta-kåcchräd
durväsaso ri-racitäd ayutägra-bhug yaù
çäkänna-çiñöam upayujya yatas tri-lokéà
tåptäm amaàsta salile vinimagna-saìghaù

Durante nosso exílio, Durvasa Muni, que come com seus dez mil discípulos, conspirou com nossos inimigos para nos colocar numa situação perigosa. Nesse momento, Ele (Senhor Krishna) apenas aceitou os restos da comida e nos salvou. Quando aceitou os restos da comida, os munis reunidos que se banhavam no rio, sentiram-se suntuosamente alimentados. E todos os três mundos também se sentiram satisfeitos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Durvasa Muni: Um poderoso brâmane místico determinado a observar os princípios religiosos com grandes votos e sob severas austeridades. Seu nome está associado a vários eventos históricos, e parece que o grande místico podia ser satisfeito facilmente e aborrecido facilmente, como o Senhor Shiva. Quando ficava satisfeito, podia conceder um grande benefício para o servidor, mas se ficasse insatisfeito, podia causar a maior calamidade. Kumari Kunti, na casa de seu pai, costumava administrar todo tipo de serviço aos grandes brâmanes, Durvasa Muni ficou satisfeito com sua boa recepção e a abençoou com o poder de chamar o semideus que desejasse. Deve-se saber que ele é uma encarnação plenária do Senhor Shiva, e por isso ele podia ser tanto facilmente satisfeito quanto irritado. Ele era um grande devoto do Senhor Shiva, e pela ordem do Senhor Shiva ele aceitou a direção sacerdotal do Rei Swataketu na realização do sacrifício de cem anos do Rei. Às vezes, ele visitava a assembléia parlamentar do reino celestial de Indradeva. Ele podia viajar pelo espaço graças a seus grandes poderes místicos, e entende-se que ele viajava por grandes distâncias no espaço, e até os planetas de Vaikuntha além do espaço material. Ele viajou essas grandes distâncias durante um ano quando se desentendeu com o Rei Ambarisha, um grande devoto e Imperador do mundo.

Ele tinha cerca de dez mil discípulos, sempre que visitava e era convidado dos grandes reis kshatriya, costumava estar acompanhado de inúmeros seguidores. Certa vez, visitou a casa de Duryodhana, o primo inimigo de Maharaja Yudhisthira. Duryodhana foi inteligente o bastante para satisfazer o brâmane de todas as formas, e o grande rishi queria dar alguma bênção a Duryodhana. Duryodhana conhecia seus poderes místicos, e também sabia que o brâmane místico, se insatisfeito, podia causar um grande dano se insatisfeito, assim planejou fazer o brâmane mostrar sua ira para seus primos inimigos, os Pandavas. Quando o brâmane quis dar uma bênção a Duryodhana, este desejou que ele visitasse a casa de Maharaja Yudhisthira, que era o mais velho e líder de todos os primos. Mas seu pedido era que ele fosse visitá-lo depois de terminar sua refeição com sua rainha, Draupadi. Duryodhana sabia que depois da refeição com Draupadi seria impossível para Yudhisthira receber um número tão grande de convidados brâmanes, assim o rishi ficaria insatisfeito e causaria algum problema para seu primo Maharaja Yudhisthira. Esse foi o plano de Duryodhana. Durvasa Muni concordou com a proposta, e se aproximou do Rei no exílio, conforme o plano de Duryodhana, depois que o Rei e Draupadi terminaram sua refeição.

Quando chegou à porta de Maharaja Yudhisthira, foi muito bem recebido de imediato, e o Rei pediu para ele terminar seus rituais religiosos do meio-dia no rio, enquanto a comida seria preparada. Durvasa Muni foi para o rio com seus incontáveis discípulos para se banharem, e Maharaja Yudhisthira ficou muito ansioso por causa dos convidados. Enquanto Draupadi não tivesse terminado sua refeição, a comida podia ser servida para qualquer número de convidados, mas o rishi, segundo o plano de Duryodhana, chegou lá depois que Draupadi acabou sua refeição.

Quando os devotos estão em dificuldade, têm a grande oportunidade de lembrar o Senhor com atenção concentrada. Assim, Draupadi pensou no Senhor Krishna por estar naquela situação perigosa, e o Senhor onipresente soube imediatamente da situação perigosa de Seus devotos. Então Ele apareceu imediatamente na cena e pediu a Draupadi para Lhe dar qualquer comida que tinha guardado. Quando fez esse pedido, Draupadi ficou muito triste porque o Supremo Senhor lhe pediu alguma comida e ela não era capaz de suprir naquele momento. Ela disse ao Senhor que o recipiente mágico que ganhou do deus do Sol podia suprir qualquer quantidade de comida até que ela não tivesse comido. E naquele dia, ela já tinha feito sua refeição, por isso estavam em perigo. Ela começou a chorar enquanto expressava sua dificuldade para o Senhor, do jeito que só uma mulher faz numa situação como essa. Entretanto, o Senhor pediu a Draupadi para trazer as panelas da comida para ver se havia alguma migalha que sobrou. Draupadi fez isso, e o Senhor encontrou uma partícula de vegetal grudada no pote. O Senhor a pegou e comeu imediatamente. Depois que fez isso, o Senhor pediu a Draupadi para chamar seus convidados, a comitiva de Durvasa.

Bhima foi mandado ao rio para chamá-los. Bhima disse: "Por que demoram, senhores? Venham que sua comida está pronta". Mas os brâmanes, porque o Senhor Krishna aceitou uma partícula da comida, sentiam-se alimentados suntuosamente, quando ainda estavam na água. Eles acharam que Maharaja Yudhisthira tinha preparado vários pratos saborosos para eles, e como não estavam com fome e não conseguiriam comer, o Rei ia ficar triste, portanto era melhor não irem lá. Assim decidiram ir embora.

Esse incidente prova que o Senhor é o maior místico, e por isso é conhecido como Yogeshvara. Outra instrução é que todo chefe de família deve oferecer a comida ao Senhor, e o resultado será que todos, mesmo uma comitiva de dez mil convidados, ficarão satisfeitos porque o Senhor estará satisfeito. Assim é o caminho do serviço devocional.

Verso 12

yat-tejasätha bhagavän yudhi çüla-päëir
vismäpitaù sagirijo stram adän nijaà me
anye pi cäham amunaiva kalevareëa
präpto mahendra-bhavane mahad-äsanärdham

Somente por Sua influência que numa luta pude atrair a admiração da Personalidade de Deus Senhor Shiva e Sua esposa, a filha do Monte Himalaia. Assim, Ele (Senhor Shiva) ficou satisfeito comigo e me concedeu Sua própria arma. Outros semideuses também me deram suas armas respectivas, além do mais, pude alcançar os planetas celestiais com este corpo presente e me foi concedido um assento meio elevado.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Pela graça da Suprema Personalidade de Deus Sri Krishna, todos semideuses, inclusive o Senhor Shiva, ficaram satisfeitos com Arjuna. A idéia é que quando alguém é favorecido pelo Senhor Shiva ou qualquer outro semideus não é necessariamente favorecido pelo Supremo Senhor Sri Krishna. Ravana era com certeza um grande devoto do Senhor Shiva, mas não pôde ser salvo da ira da Suprema Personalidade de Deus Senhor Ramachandra. Há muitas ocorrências parecidas nos Puranas. Mas aqui vemos um exemplo onde podemos ver o Senhor Shiva ficar satisfeito numa luta com Arjuna. Os devotos do Supremo Senhor sabem como respeitar os semideuses, mas os devotos dos semideuses às vezes por estupidez pensam que a Suprema Personalidade de Deus não é maior que os semideuses. Com esse conceito, a pessoa se torna uma ofensora e no fim se depara com o mesmo destino de Ravana e outros. As ocorrências descritas por Arjuna durante seu relacionamento amigável com o Senhor Sri Krishna são instrutivas para todos que podem ser convencidos pelas lições de que se pode obter todos favores simplesmente por satisfazer o Supremo Senhor Sri Krishna, enquanto os devotos ou adoradores dos semideuses só alcançam benefícios parciais, que também são perecíveis, como os próprios semideuses são.

Outro significado deste verso é que Arjuna, pela graça do Senhor Sri Krishna, foi capaz de alcançar os planetas celestiais em seu corpo atual e foi honrado pelo semideus celestial Indradeva, com um assento meio elevado ao seu lado. Pode-se alcançar os planetas celestiais com atos piedosos recomendados nos shastras na categoria das atividades lucrativas. Como o Bhagavad-gita (9.21) afirma, quando as reações dessas atividades piedosas se esgotam, o desfrutador se degrada novamente aos planetas terrestres. A Lua também está no nível dos planetas celestiais, e somente pessoas que realizam virtudes, ou seja, execução de sacrifícios, caridade e prática de austeridades severas, têm permissão para entrar nos planetas celestiais depois que encerrar a duração da vida neste corpo. Arjuna teve permissão para entrar nos planetas celestiais no mesmo corpo unicamente pela graça do Senhor, senão seria impossível fazer isso. As tentativas atuais de alcance dos planetas celestiais pelos cientistas modernos certamente serão frustradas pois esses cientistas não estão no nível de Arjuna. Eles são seres humanos ordinários, sem nenhuma qualificação de sacrifício, caridade ou austeridade. O corpo material é influenciado pelos três modos da natureza material, chamados bondade, paixão e ignorância, e os sintomas dessa influência são exibidos ao se tornarem muito luxuriosos e gananciosos. Tais indivíduos degradados mal podem se aproximar dos sistemas planetários superiores. Acima dos planetas celestiais, existem muitos outros planetas também, que somente aqueles influenciados pela bondade podem alcançar. Nos planetas celestiais e outros dentro do universo, os habitantes são todos muito inteligentes, muito mais que os seres humanos, e todos eles são piedosos no maior e mais elevado modo da bondade. Todos são devotos do Senhor, apesar de sua bondade não ser imaculada, ainda assim são considerados semideuses que possuem a máxima quantidade de boas qualidades dentro do universo material.

Verso 13

tatraiva me viharato bhuja-daëòa-yugmaà
gäëòéva-lakñaëam aräti-vadhäya deväù
sendräù çritä yad-anubhävitam äjaméòha
tenäham adya muñitaù puruñeëa bhümnä

Quando fiquei durante alguns dias como convidado nos planetas celestiais, todos os semideuses celestiais, inclusive o Rei Indradeva, refugiaram-se em meus braços, que tinham as marcas do arco Gandiva, para matar o demônio chamado Nivatakavacha. Ó Rei, descendente de Ajamidha, no presente momento, estou sem a Suprema Personalidade de Deus, por cuja influência eu era tão poderoso.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os semideuses celestiais são com certeza mais inteligentes, poderosos e belos, ainda assim tiveram que pedir ajuda a Arjuna por causa de seu arco Gandiva, que era dotado de poder pela graça do Senhor Krishna. O Senhor é onipotente e por Sua graça, Seu devoto puro pode ter tanto poder quanto Ele desejar, e sem limite. E quando o Senhor retira Seu poder de qualquer um, ele fica impotente pela vontade do Senhor.

Verso 14

yad-bändhavaù kuru-baläbdhim ananta-päram
eko rathena tatare ham atérya-sattvam
pratyähåtaà bahu dhanaà ca mayä pareñäà
tejäspadaà maëimayaà ca håtaà çirobhyaù

A força militar dos Kauravas era como um oceano onde viviam muitas existências invencíveis, por isso era insuperável. Mas por causa de Sua amizade, eu, sentado na quadriga, fui capaz de atravessá-lo. E somente por Sua graça, consegui recuperar as vacas e também tirar à força muitos elmos dos reis que eram cravejados de jóias que eram fontes de muito brilho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

No lado Kaurava, havia muitos comandantes bravos como Bhisma, Drona, Kripa e Karna, e seu poderio militar era tão insuperável quanto o grande oceano. Mesmo assim, pela graça do Senhor Krishna, Arjuna sozinho, em sua quadriga, pôde atuar para vencê-los um depois do outro sem dificuldade. Aconteceram várias trocas de comandantes no outro lado, mas no lado dos Pandavas, Arjuna sozinho na quadriga dirigida pelo Senhor Krishna pôde gerenciar toda a responsabilidade da grande guerra. Do mesmo modo, quando os Pandavas viveram incógnitos no palácio de Virata, os Kauravas tiveram uma desavença com o Rei Virata e decidiram levar embora seu grande número de vacas. Enquanto levavam as vacas embora, Arjuna lutou contra eles incógnito e conseguiu recuperar as vacas junto com um prêmio tirado à força - as jóias encravadas nos turbantes da classe real. Arjuna lembrou que tudo isso foi possível pela graça do Senhor.

Verso 15

yo bhéñma-karëa-guru-çalya-camüñv adabhra-
räjanya-varya-ratha-maëòala-maëòitäsu
agrecaro mama vibho ratha-yüthapänäm
äyur manäàsi ca dåçä saha oja ärcchat

Foi somente Ele quem retirou a duração de vida de todos, e quem retirou o poder especulativo e a força do entusiasmo da grande falange militar organizada pelos Kauravas no campo de batalha, liderados por Bhisma, Karna, Drona, Shalya, etc.. A organização deles era perfeita e mais do que adequada, mas Ele (Senhor Sri Krishna), enquanto seguia em frente, fez tudo isso.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A Suprema Personalidade de Deus Absoluta, Senhor Sri Krishna, expande-Se em Sua porção plenária Paramatma no coração de todos, e assim Ele dirige todos em relação à lembrança, esquecimento, conhecimento, ausência de inteligência e todas atividades psicológicas (Bg. 15.15). Por ser o Supremo Senhor, Ele pode aumentar ou diminuir a duração de vida de um ser vivo. Assim, o Supremo Senhor conduziu a batalha de Kurukshetra de acordo com Seu próprio plano. Ele queria a batalha para estabelecer Yudhisthira como o Imperador deste planeta, e para facilitar essa ação transcendental, Ele matou todos que eram do partido adversário por Sua vontade onipotente. O partido oposto era equipado com toda força militar apoiada por grandes generais como Bhisma, Drona e Shalya, e seria fisicamente impossível para Arjuna vencer a batalha se o Senhor não o ajudasse com todos tipos de táticas. Essas táticas são praticadas em geral por todos chefes de estado, mesmo na guerra moderna, mas são todas feitas materialmente por altas espionagens, táticas militares e manobras diplomáticas. Como Arjuna era um devoto muito querido do Senhor, o Senhor fez tudo pessoalmente sem nenhuma ansiedade pessoal para Arjuna. Assim é o caminho do serviço devocional ao Senhor.

Verso 16

yad-doùñu mä praëihitaà guru-bhéñma-karëa-
naptå-trigarta-çalya-saindhava-bählikädyaiù
asträëy amogha-mahimäni nirüpitäni
nopaspåçur nåhari-däsam iväsuräëi

Grandes generais como Bhisma, Drona, Karna, Bhurishrava, Susharma, Shalya, Jayadratha e Balika lançaram suas armas invencíveis contra mim. Mas por Sua (Senhor Krishna) graça, eles não tocaram em um só fio de cabelo da minha cabeça. Similarmente, Prahlada Maharaja, o devoto supremo do Senhor Nrisimhadeva, não foi ferido pelas armas dos demônios usadas contra ele.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A história de Prahlada Maharaja, o grande devoto de Nrisimhadeva, é narrada no Sétimo Canto do Srimad Bhagavatam. Prahlada Maharaja, uma criança de apenas cinco anos de idade, virou objeto de inveja de seu grande pai, Hiranyakashipu, só porque se tornou um devoto puro do Senhor. O pai demônio usou todas suas armas para matar seu filho devoto, Prahlada, mas pela graça do Senhor, ele foi salvo de todos tipos de ações perigosas de seu pai. Ele foi jogado no fogo, em óleo fervente, do topo duma montanha, sob as patas dum elefante, e também foi envenenado. No fim, o próprio pai pegou um cutelo para matar seu filho, quando Nrisimhadeva apareceu e matou o pai perverso na presença do filho. Portanto, ninguém pode matar o devoto do Senhor. Similarmente, Arjuna também foi salvo pelo Senhor, apesar de todas armas perigosas usadas pelos seus grandes adversários como Bhisma.

Karna: Nasceu de Kunti pelo deus do Sol antes do casamento dela com Maharaja Pandu, Karna nasceu com braceletes e brincos, sinais extraordinários dum herói destemido. No começo, seu nome era Vasusena, quando cresceu, deu seus brincos e braceletes naturais de presente para Indradeva, e daí em diante ficou conhecido como Vaikartana. Depois de seu nascimento da donzela Kunti, foi jogado no Ganges. Então foi pego por Adhiratha, e ele com sua esposa Radha o criaram como se fosse seu próprio filho. Karna era muito caridoso, especialmente com os brâmanes. Não havia nada que ele negasse a um brâmane. Com esse mesmo espírito caridoso, ele deu em caridade seus braceletes e brincos naturais a Indradeva, que ficou muito contente com ele, e retribuiu com sua grande arma chamada Shakti. Ele foi admitido como um dos alunos de Dronacharya, e desde o início, surgiu uma rivalidade entre ele e Arjuna. Quando viu essa rivalidade com Arjuna, Duryodhana o aceitou como seu companheiro, o que se desenvolveu gradualmente numa grande intimidade. Ele também estava presente na grande assembléia da cerimônia do swayamvara de Draupadi, e quando tentou exibir sua habilidade nessa ocasião, o irmão de Draupadi declarou que Karna não podia participar da competição por ser filho dum shudra carpinteiro. Apesar de ser rejeitado na competição, quando Arjuna acertou o peixe alvo no teto com sucesso e Draupadi pôs o colar de flores em Arjuna, Karna e os outros príncipes desapontados tentaram impedir Arjuna com violência quando saia com Draupadi. Especialmente, Karna brigou com ele bem bravo, mas todos foram derrotados por Arjuna. Duryodhana gostava muito de Karna por causa de sua constante rivalidade com Arjuna, e quando assumiu o poder, nomeou Karna como rei do estado de Anga. Quando fracassou na sua tentativa de conquistar Draupadi, Karna aconselhou Duryodhana a atacar o Rei Drupada, pois achava que depois de derrotá-lo, Arjuna e Draupadi podiam ser presos. Mas Dronacharya censurou essa conspiração deles, assim desistiram da ação. Karna foi derrotado muitas vezes, não apenas por Arjuna mas também por Bhimasena. Ele também era soberano dos reinos da Bengala, Orissa e Madras combinados. Mais tarde, ele participou do sacrifício Rajasuya de Maharaja Yudhisthira, e quando houve o jogo entre os irmãos rivais, planejado por Shakuni, Karna participou do jogo, e ficou muito contente quando Draupadi foi oferecida como aposta no jogo. Isso alimentou seu ódio antigo. Quando Draupadi foi perdida no jogo, ele ficou muito entusiasmado para dar a notícia, foi ele quem ordenou a Dushasana para tirar as roupas dos Pandavas e de Draupadi. Ele pediu a Draupadi para escolher outro marido pois foi perdida pelos Pandavas e se tornou escrava dos Kurus. Ele sempre foi inimigo dos Pandavas, e sempre que tinha uma oportunidade, tentava reprimi-los de todas as formas. Durante a batalha de Kurukshetra, ele previu o resultado final, e expressou sua opinião de que Arjuna venceria a batalha porque o Senhor Krishna era o condutor da quadriga de Arjuna. Ele sempre discordava de Bhisma, e às vezes era tão arrogante que dizia poder acabar com os Pandavas em cinco dias, se Bhisma não interferisse em seu plano de ação. Mas ficou muito comovido quando Bhisma morreu. Ele matou Ghatotkacha com a arma Shakti que ganhou de Indradeva. Seu filho, Vrishasena, foi morto por Arjuna. Ele matou o maior número de soldados Pandavas. E no fim, houve um combate terrível com Arjuna, e somente ele foi capaz de derrubar o elmo de Arjuna. Mas também aconteceu da roda de sua quadriga atolar na lama do campo de batalha, quando teve que descer para tentar desatolar a roda, Arjuna aproveitou a oportunidade para matá-lo, apesar dele pedir para Arjuna não fazer isso.

Napta, ou Bhurishrava: Bhurishrava era filho de Somadatta, um membro da família Kuru. Shalya era seu irmão. Tanto os irmãos quanto o pai participaram da cerimônia swayamvara de Draupadi. Todos apreciaram o poder maravilhoso de Arjuna por ser um devoto amigo do Senhor, portanto Bhurishrava aconselhou os filhos de Dhritarastra a não se desentenderem ou lutarem contra eles. Todos eles também participaram do Rajasuya yajña de Maharaja Yudhisthira. Ele possuía um regimento akshauhini militar completo com infantaria, cavalaria, elefantes e quadrigas, que foi totalmente usado na batalha de Kurukshetra em benefício do partido de Duryodhana. Ele era considerado por Bhima como um dos yutha-patis. Na batalha de Kurukshetra, ele se ocupou especialmente no combate contra Satyaki, e matou os dez filhos de Satyaki. Mais tarde, Arjuna cortou suas mãos, e ele foi morto finalmente por Satyaki. Quando morreu, fundiu-se na existência de Visvadeva.

Trigarta, ou Susharma: Filho do Maharaja Vridhakshetra, era o Rei de Trigartadesha, e também estava presente na cerimônia swayamvara de Draupadi. Era um dos aliados de Duryodhana, e aconselhou Duryodhana a atacar Matsyadesha (Darbhanga). Na ocasião do roubo das vacas em Virata-nagara, ele conseguiu capturar Maharaja Virata, mas depois Maharaja Virata foi libertado por Bhima. Ele também lutou com muita bravura na batalha de Kurukshetra, mas foi morto por Arjuna no fim.

Jayadratha: Outro filho de Maharaja Vridhakshetra. Ele era Rei de Sindhudesha (atual província de Sindh no Paquistão). Sua esposa era Dushala. Ele também estava presente na cerimônia swayamvara de Draupadi, e queria muito conquistar a mão dela, mas falhou na competição. Desde então, ele sempre procurava uma oportunidade de se aproximar de Draupadi. Quando foi casar em Shalyadesha, no caminho para Kamyavana, viu Draupadi novamente e ficou muito atraído por ela. Os Pandavas e Draupadi estavam no exílio, depois que perderam o império num jogo, e Jayadratha achou bom mandar notícias para Draupadi de forma ilícita através de Kotishashya, um de seus assessores. Draupadi recusou com veemência a proposta de Jayadratha, mas ele estava muito apaixonado pela beleza de Draupadi, e tentou várias vezes. Todas as vezes foi rejeitado por Draupadi. Tentou pegá-la à força em sua quadriga, e primeiro Draupadi lhe deu um golpe forte, e ele caiu como uma árvore arrancada pela raiz. Mas não desanimou e conseguiu botar Draupadi sentada em sua quadriga à força. O incidente foi visto por Dhaumya Muni, que condenou severamente a atitude de Jayadratha. Ele também seguiu a quadriga, e o fato chegou a Maharaja Yudhisthira por meio de Dhatreyika. Os Pandavas então atacaram os soldados de Jayadratha e mataram todos, no fim, Bhima capturou Jayadratha e lhe deu uma boa surra, quase até a morte. Cortaram seu cabelo e deixaram só cinco fios, depois foi levado perante todos os reis e apresentado como escravo de Maharaja Yudhisthira. Ele foi forçado a admitir que era escravo de Maharaja Yudhisthira perante toda a classe real, assim foi trazido perante Maharaja Yudhisthira nessa condição. Maharaja Yudhisthira era tão bom que o libertou, quando concordou em ser um príncipe súdito de Maharaja Yudhisthira, a rainha Draupadi também desejou libertá-lo.

Depois desse incidente, permitiram que ele voltasse para seu país. Por ser tão insultado, foi para Gangatri no Himalaia e praticou um tipo severo de penitência para agradar o Senhor Shiva. Então pediu a bênção de derrotar todos os Pandavas, pelo menos um de cada vez. Quando a batalha de Kurukshetra começou, ficou no lado de Duryodhana. Nos primeiros dias de batalha, combateu Maharaja Drupada, depois Virata e Abhimanyu em seguida. Abhimanyu ia ser morto, cercado sem piedade por sete grandes generais, os Pandavas vieram ajudá-lo, mas Jayadratha os repeliu com muita habilidade, pela graça do Senhor Shiva. Nesse momento, Arjuna jurou matá-lo. Quando soube disso, Jayadratha quis deixar o campo de batalha e pediu permissão aos Kauravas para esse ato covarde. Mas não teve a permissão. Pelo contrário, foi obrigado a lutar com Arjuna, e durante o combate, o Senhor Krishna lembrou Arjuna que a bênção de Shiva para Jayadratha era que quem fizesse sua cabeça cair no chão morreria imediatamente. Ele aconselhou Arjuna a atirar a cabeça de Jayadratha direto no colo de seu pai, que praticava penitências no lugar sagrado de peregrinação Samanta-panchaka. Arjuna fez realmente desse jeito. O pai de Jayadratha ficou surpreso de ver a cabeça decapitada em seu colo, e a jogou no chão de imediato. O pai morreu instantaneamente, com sua testa estourada em sete pedaços.

Verso 17

sautye våtaù kumatinätmada éçvaro me
yat-päda-padmam abhaväya bhajanti bhavyäù
mäà çränta-väham arayo rathino bhuvi-ñöhaà
na präharan yad-anubhäva-nirasta-cittäù

"Foi somente por sua misericórdia que meus inimigos não me mataram quando desci da minha quadriga para dar água a meus cavalos sedentos. E foi por minha falta de consideração por meu Senhor que ousei ocupá-Lo como condutor da minha quadriga, Ele que é adorado e oferecido serviços pelas melhores pessoas para alcançar salvação".

Iluminação de Srila Prabhupada:

"O Supremo Senhor, a Suprema Personalidade de Deus Sri Krishna, é o objeto de adoração tanto dos impersonalistas quando dos devotos do Senhor. Os impersonalistas adoram Seu brilho radiante que emana de Seu corpo transcendental de forma eterna, bem-aventurado e pleno de conhecimento, e os devotos O adoram como a Suprema Personalidade de Deus. Quem está até abaixo dos impersonalistas O considera como uma das grandes personalidades históricas. O Senhor entretanto descende para atrair todos com Seus passatempos transcendentais específicos, assim Ele faz o papel do mais perfeito mestre, amigo, filho e amante. Sua relação transcendental com Arjuna é de amizade, portanto o Senhor atuou nesse papel perfeitamente, do mesmo modo como fez com Seus pais, amantes e esposas. Quando Ele atua nessa relação transcendental perfeita, o devoto esquece, pela ação da potência interna do Senhor, que seu amigo ou filho é a Suprema Personalidade de Deus, apesar de algumas vezes o devoto ficar confuso com as ações do Senhor. Depois da partida do Senhor, Arjuna tinha consciência de seu grande amigo, mas não houve nenhum erro de Arjuna, nem qualquer má consideração do Senhor. As pessoas inteligentes sentem atração pela atuação transcendental do Senhor com um devoto puro e imaculado como Arjuna.

A escassez de água no campo de guerra é um fato bem conhecido. A água é bem rara ali, tanto para os amimais quanto para as pessoas, o trabalho árduo no campo de batalha requer água constantemente para saciar a sede deles. Principalmente soldados e generais feridos sentem muita sede na hora da morte, e às vezes acontece da pessoa morrer simplesmente por falta de água. Mas essa escassez de água foi resolvida na batalha de Kurukshetra com a perfuração do solo. Pela graça de Deus, a água pode ser facilmente obtida em qualquer lugar por meio da perfuração do solo. O sistema moderno funciona com o mesmo princípio da perfuração do solo, mas os engenheiros modernos ainda são incapazes de perfurar imediatamente onde é necessário. Vemos na história entretanto que na época antiga dos Pandavas, grandes generais como Arjuna podiam suprir água imediatamente até para os cavalos, o que falar dos soldados, ao trazer a água embaixo do chão duro simplesmente por perfurar o estrato sedimentar com uma flecha afiada, um método ainda desconhecido para os cientistas modernos".

Verso 18

narmäëy udära-rucira-smita-çobhitäni
he pärtha he 'rjuna sakhe kuru-nandaneti
saïjalpitäni nara-deva hådi-spåçäni
smartur luöhanti hådayaà mama mädhavasya

Ó Rei! Sua fala bem humorada e franca era muito agradável e belamente decorada com sorrisos. Ele me chamava: Ó filho de Pritha, ó amigo, ó filho da dinastia Kuru, agora lembro desse grande afeto, e fico desnorteado.

Verso 19

çayyäsanäöana-vikatthana-bhojanädiñv
aikyäd vayasya åtavän iti vipralabdhaù
sakhyuù sakheva pitåvat tanayasya sarvaà
sehe mahän mahitayä kumater aghaà me

Na maior parte do tempo, nós dois costumávamos viver juntos, dormíamos, descansávamos e viajávamos juntos. E na hora de aconselhar alguém nos atos de cavalheirismo, caso houvesse qualquer irregularidade, eu costumava repreendê-Lo e dizia: "Meu amigo, Você é muito sincero". Mesmo nesses momentos quando Seu valor era minimizado, Ele, que é a Alma Suprema, costumava tolerar todas minhas expressões, e me perdoava exatamente como um amigo de verdade perdoa seu amigo de verdade, ou um pai perdoa seu filho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A Suprema Personalidade de Deus é plenamente perfeita, por isso Seus passatempos transcendentais com Seus devotos puros não carecem de nada em nenhum aspecto, tanto como amigo, filho ou amante. O Senhor aprecia as repreensões dos amigos, pais ou noivas muito mais do que os hinos Védicos que Lhe são oferecidos por grandes sábios e religiosos eruditos de uma forma oficial.

Verso 20

so 'haà nåpendra rahitaù puruñottamena
sakhyä priyeëa suhådä hådayena çünyaù
adhvany urukrama-parigraham aìga rakñan
gopair asadbhir abaleva vinirjito 'smi

Ó Imperador, agora estou separado do meu amigo e mais querido benquerente, a Suprema Personalidade de Deus, por isso meu coração parece estar completamente vazio. Na Sua ausência, fui derrotado por alguns pastores de vaca infiéis quando guardava os corpos de todas esposas de Krishna.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O ponto importante desse verso é como foi possível Arjuna ser derrotado por um bando de pastores ordinários e como tais pastores mundanos puderam tocar os corpos das esposas do Senhor Krishna, que estavam sob a proteção de Arjuna. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura justificou a contradição com uma pesquisa no Vishnu Purana e Brahma Purana. Esses Puranas afirmam que certa vez, as belas habitantes dos planetas celestiais agradaram Astavakra Muni com seu serviço dedicado e foram abençoadas pelo muni para terem o Supremo Senhor como seu esposo. Astavakra Muni era curvado em oito juntas do corpo, por isso andava de forma curvada peculiar. As filhas dos semideuses não conseguiram evitar o riso ao verem os movimentos do muni, por isso ele ficou irado e as amaldiçoou para serem raptadas por bandidos, mesmo se elas conseguissem obter o Senhor como seu esposo. Mais tarde, as meninas agradaram o muni com preces novamente, e ele as abençoou que recuperariam seu esposo mesmo depois do rapto pelos bandidos. Assim, para cumprir a palavra do grande muni, o Senhor em pessoa raptou Suas esposas da proteção de Arjuna, senão elas teriam desaparecido de cena imediatamente ao serem tocadas pelos bandidos. Além do mais, algumas gopis que oraram para se tornarem esposas do Senhor, voltaram para suas posições respectivas depois que seu desejo foi satisfeito. Após a partida do Senhor Krishna, Ele queria toda Sua companhia de volta ao Supremo, e todos foram chamados de volta em diferentes situações apenas.

Verso 21

tad vai dhanus ta iñavaù sa ratho hayäs te
so 'haà rathé nåpatayo yata änamanti
sarvaà kñaëena tad abhüd asad éça-riktaà
bhasman hutaà kuhaka-räddham ivoptam üñyäm

Eu tinha o mesmo arco Gandiva, as mesmas flechas, a mesma quadriga puxada pelos mesmos cavalos, e as usei como o mesmo Arjuna que todos os reis prestavam suas homenagens devidas. Mas na ausência do Senhor Krishna, tudo isso, num único momento, tornou-se inútil e nulo. Do mesmo modo como oferecer manteiga clarificada para as cinzas, acumular dinheiro com uma varinha mágica ou plantar sementes na terra estéril.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como já discutimos várias vezes, não se deve ficar orgulhoso por causa de plumas emprestadas. Todas energias e potências são derivadas da fonte suprema, o Senhor Krishna, que atuam no tempo que Ele deseja e cessam sua função tão logo que Ele retire. Todas energias elétricas vêm da usina de força, no momento que a usina pára de fornecer energia, as lâmpadas não têm mais utilidade. Apenas em um instante, essas energias podem ser geradas ou retiradas pela vontade suprema do Senhor. A civilização materialista sem as bênçãos do Senhor não passa de brincadeira infantil. Enquanto os pais permitem que a criança brinque, está tudo bem. Logo que os pais impedem, a criança tem que parar. A civilização humana portanto deve se encaixar nas bênçãos supremas do Senhor, pois sem as bênçãos do Supremo Senhor, todo avanço da civilização humana é como a decoração num corpo morto. É dito que uma civilização morta e suas atividades são algo como a manteiga clarificada nas cinzas, ou o acúmulo de dinheiro por uma varinha mágica ou a plantação de sementes na terra estéril.

Versos 22 e 23

räjaàs tvayänupåñöänäà
suhådäà naù suhåt-pure
vipra-çäpa-vimüòhänäà
nighnatäà muñöibhir mithaù

väruëéà madiräà pétvä
madonmathita-cetasäm
ajänatäm ivänyonyaà
catuù-païcävaçeñitäù

Ó Rei, você me perguntou sobre nossos amigos e parentes da cidade de Dwaraka, informo que todos foram amaldiçoados por brâmanes, e como resultado, ficaram embriagados com vinho feito com arroz putrefato e lutaram entre si com lanças, sem mesmo reconhecer um ao outro. Agora, só quatro ou cinco deles que não morreram e se foram.

Verso 24

präyeëaitad bhagavata
éçvarasya viceñöitam
mitho nighnanti bhütäni
bhävayanti ca yan mithaù

Na verdade, tudo isso aconteceu pela vontade suprema do Senhor, a Personalidade de Deus. Às vezes, pessoas matam umas às outras, e outras vezes, protegem umas às outras.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Segundo os antropólogos, existe a lei natural da luta pela existência e sobrevivência dos mais fortes. Mas não sabem que por trás da lei da natureza está a direção suprema da Suprema Personalidade de Deus. O Bhagavad-gita confirma que a lei da natureza se realiza sob a direção do Senhor. Portanto, deve-se saber que quando há paz no mundo, é devido à boa vontade do Senhor. E sempre que há revolta no mundo também é devido à vontade suprema do Senhor. Nem uma folha de grama se move sem a vontade do Senhor. Assim, quando há desobediência das regras estabelecidas pelo Senhor, acontece a guerra entre pessoas e nações. A forma mais certa do caminho da paz é então a adaptação de tudo às regras estabelecidas pelo Senhor. A regra estabelecida é que tudo que fazemos, tudo que comemos, todo sacrifício que realizamos ou tudo que damos em caridade deve ser feito para a satisfação plena do Senhor. Ninguém deve fazer nada, comer nada, sacrificar nada ou dar qualquer caridade contra a vontade do Senhor. A prudência é a melhor parte do valor, a pessoa tem que aprender a discriminar entre as ações que podem agradar o Senhor e as que podem não agradá-Lo. Portanto, uma ação é julgada por agradar ou desagradar o Senhor. Essa atenção se chama yogah karmasu kausalam (Bg. 2.50), ou ações realizadas que estão ligadas com o Supremo Senhor. Assim é a arte de fazer algo de forma perfeita.

Versos 25 e 26

jalaukasäà jale yadvan
mahänto 'danty aëéyasaù
durbalän balino räjan
mahänto balino mithaù

evaà baliñöhair yadubhir
mahadbhir itarän vibhuù
yadün yadubhir anyonyaà
bhü-bhärän saïjahära ha

Ó Rei, assim como no oceano os seres aquáticos maiores e mais fortes engolem os menores e mais fracos, a Suprema Personalidade de Deus, para aliviar o peso da Terra, fez com que os mais fortes da dinastia Yadu matassem os mais fracos, e os maiores da dinastia Yadu matassem os menores.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A luta pela existência e sobrevivência dos mais fortes no mundo material é lei porque no mundo material existe a desigualdade entre os seres condicionados, pois todos querem dominar os recursos materiais. Essa mesma mentalidade de domínio da natureza material é a causa básica da vida condicionada. E para facilitar a vida de tais falsos senhores, a energia ilusória do Senhor criou a desigualdade entre os seres vivos condicionados por criar o mais forte e o mais fraco em todas espécies de vida. A mentalidade de domínio sobre a natureza material e a criação criou uma desigualdade natural e em conseqüência, a lei de luta pela existência. No mundo espiritual não existe tal desigualdade, nem existe tal luta pela existência. No mundo espiritual, não há luta pela existência pois todos que estão lá vivem eternamente. Não há desigualdade pois todos querem prestar serviço ao Supremo Senhor, e ninguém quer imitar o Senhor para se tornar o beneficiário. O Senhor, criador de tudo, inclusive dos seres vivos, é o verdadeiro proprietário e desfrutador de tudo que existe. Mas no mundo material, pelo encanto de maya, ou ilusão, há o esquecimento dessa relação eterna com a Suprema Personalidade de Deus, por isso o ser vivo fica condicionado à lei da luta pela existência e sobrevivência do mais forte.

Verso 27

deça-kälärtha-yuktäni
håt-täpopaçamäni ca
haranti smarataç cittaà
govindäbhihitäni me

Agora, sinto atração pelas instruções que a Suprema Personalidade de Deus (Govinda) me transmitiu porque estão impregnadas com instruções para o alívio do ardor do coração em todas as circunstâncias de tempo e espaço.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Aqui, Arjuna se refere às instruções do Bhagavad-gita, que foram transmitidas a ele pelo Senhor no Campo de Batalha em Kurukshetra. O Senhor deixou os ensinamentos do Bhagavad-gita não somente para o benefício de Arjuna, mas também para todo tempo em todo lugar. O Bhagavad-gita, falado pela Suprema Personalidade de Deus, é a essência de toda sabedoria Védica. Foi muito bem apresentado pelo Senhor em pessoa para todos que têm pouco tempo para atravessar a vastidão da literatura Védica como os Upanishads, Puranas e Vedanta-sutras. Foi colocado dentro do estudo do grande épico histórico Mahabharata, que foi preparado especialmente para as classes de pessoas menos inteligentes como mulheres, trabalhadores e os descendentes indignos dos brâmanes, kshatriyas e setores elevados dos vaishyas. O problema que surgiu no coração de Arjuna no Campo de Batalha em Kurukshetra foi solucionado com os ensinamentos do Bhagavad-gita. Novamente, depois da partida do Senhor da visão das pessoas mundanas, quando Arjuna se deparou com a aniquilação de seu poder e proeminência adquiridos, quis lembrar de novo os grandes ensinamentos do Bhagavad-gita apenas para ensinar a todos aflitos que o Bhagavad-gita pode ser consultado em todos momentos críticos, não apenas para o consolo de todos tipos de agonias mentais, mas também como escapar dos grandes embaraços que podem complicar a pessoa em alguma hora crítica.

O Senhor misericordioso deixou Seus grandes ensinamentos do Bhagavad-gita para que a pessoa tenha as instruções do Senhor mesmo sem Ele estar visível para os olhos materiais. Os sentidos materiais não podem ter nenhuma estimativa sobre o Supremo Senhor, mas pelo Seu poder inconcebível, o Senhor pode encarnar pessoalmente para a percepção sensorial dos seres condicionados de forma adequada com a agência da matéria, que também é outra forma da energia manifestada do Senhor. Portanto, o Bhagavad-gita, ou qualquer outra representação sonora autêntica do Senhor, também é uma encarnação do Senhor. Não existe nenhuma diferença entre a representação sonora do Senhor e o Senhor Ele mesmo. Pode-se obter o mesmo benefício do Bhagavad-gita igual Arjuna teve na presença pessoal do Senhor.

O ser humano sincero que deseja se liberar das garras da existência material pode aproveitar a vantagem do Bhagavad-gita com muita facilidade, pois com essa intenção, o Senhor instruiu Arjuna como se Arjuna precisasse disso. O Bhagavad-gita explica cinco fatores importantes do conhecimento que se referem a, (1) o Supremo Senhor, (2) o ser vivo, (3) natureza, (4) tempo e espaço, (5) o processo da atividade. Desses, o Supremo Senhor e o ser vivo são iguais em qualidade. A diferença entre os dois é analisada como a diferença entre o todo e a parte e parcela. Natureza é a matéria inerte que exibe a interação dos três modos diferentes, e tempo eterno e espaço ilimitado são considerados além da existência da natureza material. Atividades dos seres vivos são diferentes variedades de atitudes que prendem ou liberam o ser vivo dentro ou fora da natureza material. Todos esses assuntos são discutidos concisamente no Bhagavad-gita, e posteriormente, os assuntos são bem elaborados no Srimad Bhagavatam para a melhor compreensão. Desses cinco assuntos, o Supremo Senhor, o ser vivo, natureza e tempo e espaço são eternos, mas o ser vivo, natureza e tempo estão sob a direção do Supremo Senhor, que é absoluto e plenamente independente de qualquer controle. O Supremo Senhor é o supremo controlador. A atividade material do ser vivo é sem início, mas pode ser retificada pela transferência à realidade espiritual. Assim pode cessar suas reações materiais qualitativas. Tanto o Senhor quanto o ser vivo são cognitivos, e ambos têm o senso de identificação, por serem conscientes como uma força viva. Mas o ser vivo sob o condicionamento da natureza material, chamada mahat-tattva, se identifica de forma errada como diferente do Senhor. Todo o esquema da sabedoria Védica é direcionado para a erradicação desse conceito errado e assim liberar o ser vivo da ilusão da identificação material. Quando essa ilusão é erradicada pelo conhecimento e renúncia, os seres vivos viram atores e desfrutadores responsáveis também. O senso de desfrute no Senhor é real, mas esse senso num ser vivo é apenas um tipo de desejo ansioso. Essa diferença de consciência é a distinção entre as duas identidades, o Senhor e o ser vivo. De outra forma, não há diferença entre o Senhor e o ser vivo. Portanto, o ser vivo é eternamente uno e diferente simultaneamente. Toda a instrução do Bhagavad-gita se baseia nesse princípio.

O Bhagavad-gita descreve tanto o Senhor como o ser vivo como sanatana, ou eterno, e o reino do Senhor, muito além do céu material, também é descrito como sanatana. O ser vivo é convidado a viver na existência sanatana do Senhor, e o processo que pode ajudar o ser vivo a se aproximar do reino do Senhor, onde se exibe a atividade liberada da alma, é chamado sanatana-dharma. Porém, ninguém pode alcançar a morada eterna do Senhor sem estar livre do conceito errado da identificação material, e o Bhagavad-gita nos dá a iluminação para alcançar esse estágio de perfeição. O processo de se liberar do conceito errado da identificação material se chama, em diferentes estágios, atividade lucrativa, conhecimento empírico e serviço devocional, até a realização transcendental. Tal realização transcendental só é possível com a dedicação de todos esses itens na relação com o Senhor. Os deveres prescritos do ser humano, como indicado nos Vedas, podem purificar gradualmente a mente pecaminosa da alma condicionada e elevá-la ao estágio do conhecimento. O estágio purificado da aquisição de conhecimento se torna a base do serviço devocional ao Senhor. Enquanto a pessoa está ocupada na pesquisa para a solução dos problemas da vida, seu conhecimento se chama jñana, ou conhecimento purificado, mas quando realiza a solução verdadeira da vida, a pessoa fica situada no serviço devocional ao Senhor. O Bhagavad-gita começa com os problemas da vida por diferenciar a alma dos elementos da matéria e provar com toda razão e argumento que a alma é indestrutível em todas circunstâncias, e que a cobertura externa da matéria, o corpo e a mente, muda para outro termo de existência material cheio de misérias. Por isso, o Bhagavad-gita se destina ao extermínio de todos diferentes tipos de miséria, e Arjuna se abrigou nesse grande conhecimento, que foi dado a ele durante a batalha de Kurukshetra.

Verso 28

süta uväca
evaà cintayato jiñëoù
kåñëa-päda-saroruham
sauhärdenätigäòhena
çäntäséd vimalä matiù

Suta Goswami disse: Assim absorto profundamente em pensar nas instruções do Senhor, que foram dadas na grande intimidade da amizade, e em pensar em Seus pés de lótus, a mente de Arjuna se acalmou e se livrou de toda contaminação material.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como o Senhor é absoluto, a meditação profunda Nele é tão boa quanto o transe de yoga. O Senhor não é diferente de Seu nome, forma, qualidade, passatempos, companhia e ações específicas. Arjuna começou a pensar nas instruções do Senhor para ele no campo de batalha em Kurukshetra. Apenas essas instruções começaram a eliminar as manchas de contaminação material na mente de Arjuna. O Senhor é como o Sol, o aparecimento do Sol dissipa a escuridão de imediato, ou ignorância, e o aparecimento do Senhor dentro da mente do devoto pode expulsar os efeitos materiais miseráveis imediatamente. Por isso, o Senhor Chaitanya recomendou o cantar constante do nome do Senhor para a proteção de toda contaminação do mundo material. O sentimento de separação do Senhor é com certeza muito doloroso para o devoto, mas por que está em conexão com o Senhor, há um efeito transcendental específico que acalma o coração. Sentimentos de separação também são fontes de bem-aventurança transcendental, e nunca são comparados aos sentimentos de separação material contaminados.

Verso 29

väsudeväìghry-anudhyäna-
paribåàhita-raàhasä
bhaktyä nirmathitäçeña-
kañäya-dhiñaëo 'rjunaù

A lembrança de Arjuna dos pés de lótus do Senhor Sri Krishna rapidamente incrementou sua devoção, e como resultado todo o lixo em seus pensamentos diminuiu.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Desejos materiais na mente são o lixo da contaminação material. Por causa dessa contaminação, o ser vivo se depara com tantas coisas compatíveis e incompatíveis que desencorajam a própria existência da identidade espiritual. A alma condicionada fica presa nascimento após nascimento com tantos elementos agradáveis e desagradáveis, que são todos falsos e temporários. Eles se acumulam devido às nossas reações a desejos materiais, mas quando entramos em contato com o Senhor transcendental em Suas energias variadas por meio do serviço devocional, as formas nuas de todos desejos materiais se manifestam, e a inteligência do ser vivo se acalma em sua cor verdadeira. Logo que Arjuna voltou sua atenção às instruções do Senhor, como descritas no Bhagavad-gita, a cor verdadeira de sua associação eterna com o Senhor se manifestou, assim ele se sentiu livre de todas contaminações materiais.

Verso 30

gétaà bhagavatä jïänaà
yat tat saìgräma-mürdhani
käla-karma-tamo-ruddhaà
punar adhyagamat prabhuù

Por causa dos passatempos e atividades do Senhor e por causa de Sua ausência, pareceu que Arjuna esqueceu as instruções deixadas pela Personalidade de Deus. Mas na verdade, não foi esse o caso, e ele se tornou novamente o senhor de seus sentidos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A alma condicionada fica presa em suas atividades lucrativas pela força do tempo eterno. Mas o Supremo Senhor, quando encarna na Terra, não é influenciado por kala, ou o conceito material de passado, presente e futuro. As atividades do Senhor são eternas, e são manifestações de Sua atma-maya, ou potência interna. Todos passatempos ou atividades do Senhor são de natureza espiritual, mas para o leigo, parecem estar no mesmo nível das atividades materiais. Assim, parecia que Arjuna e o Senhor estavam empenhados na Batalha de Kurukshetra do mesmo modo como o partido oposto também estava empenhado, mas na realidade, o Senhor executou Sua missão da encarnação e associação com Seu amigo eterno Arjuna. Por isso, tais atividades materiais aparentes de Arjuna não o tiraram de sua posição transcendental, pelo contrário, reviveram sua consciência sobre os cantos do Senhor, como Ele cantou pessoalmente. Esse restabelecimento da consciência é assegurado pelo Senhor no Bhagavad-gita (18.65) como se segue:

man-mana bhava mad-bhakto
mad-yaji mam namaskuru
mam evaisyasi satyam te
pratijane priyo 'si me

Deve-se pensar no Senhor sempre, a mente nunca deve esquecê-Lo. deve-se tornar um devoto do Senhor e prestar reverências a Ele. Quem vive dessa forma se torna sem dúvida abençoado com as graças do Senhor por alcançar o abrigo de Seus pés de lótus. Não há nenhuma dúvida quanto a essa verdade absoluta. Porque Arjuna era Seu amigo confidencial, o segredo foi revelado a ele.

Arjuna não tinha desejo de lutar contra seus parentes, mas lutou pela missão do Senhor. Ele estava sempre ocupado exclusivamente na realização da missão do Senhor, por isso que depois do desaparecimento do Senhor ele permaneceu na mesma posição transcendental, mesmo se pareceu que ele esqueceu todas instruções do Bhagavad-gita. Portanto, deve-se ajustar as atividades da vida no compasso da missão do Senhor, assim é certo que a pessoa voltará para o Lar, de volta ao Supremo. Essa é a perfeição mais elevada da vida.

Verso 31

viçoko brahma-sampattyä
saïchinna-dvaita-saàçayaù
léna-prakåti-nairguëyäd
aliìgatväd asambhavaù

Como possuía qualidades espirituais, as dúvidas da dualidade foram erradicadas plenamente. Assim ele se livrou dos três modos da natureza material e se situou na transcendência. Não havia mais chance dele se enredar em nascimento e morte, pois estava livre da forma material.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Dúvidas da dualidade começam com o conceito errado do corpo material, o qual é aceito como o eu por pessoas menos inteligentes. A parte mais tola de nossa ignorância é nossa identificação deste corpo material com o eu. Tudo em relação ao corpo é aceito de forma ignorante como nossa propriedade. Dúvidas devido ao conceito errado de "eu" e "meu", em outras palavras, "meu corpo", "meus parentes", "minha propriedade", "minha esposa", "meus filhos", "minha riqueza", "meu país", "minha comunidade", e centenas de milhares de contemplações ilusórias similares, causam a confusão da alma condicionada. Quando a pessoa assimila as instruções do Bhagavad-gita, é certo que ficará livre dessa confusão porque o verdadeiro conhecimento é saber que a Suprema Personalidade de Deus, Vasudeva, Senhor Krishna, é tudo, inclusive o próprio eu. Tudo é uma manifestação de Sua potência como parte e parcela. A potência e o potente não são diferentes, assim o conceito de dualidade é mitigado imediatamente com a obtenção do conhecimento perfeito. Assim que Arjuna aceitou as instruções do Bhagavad-gita, especialista como era, pôde erradicar de imediato o conceito material sobre o Senhor Krishna, seu amigo eterno. Ele pôde realizar que o Senhor ainda estava presente perante ele por meio de Suas instruções, por Sua forma, por Seus passatempos, por Suas qualidades e tudo mais em relação a Ele. Ele pôde realizar que o Senhor Krishna, seu amigo, ainda estava presente perante ele por Sua presença transcendental nas diferentes energias não duais, e não havia necessidade de obter a associação do Senhor por outra troca de corpo sob a influência de tempo e espaço. Com a obtenção do conhecimento absoluto, a pessoa pode estar na companhia do Senhor constantemente, mesmo na vida presente, simplesmente por ouvir, cantar, lembrar e adorar o Supremo Senhor. A pessoa pode vê-Lo, pode sentir Sua presença mesmo na vida presente simplesmente por entender o Senhor adwaya-jñana, ou Senhor Absoluto, pelo processo do serviço devocional, que começa com ouvir sobre Ele. O Senhor Chaitanya afirma que simplesmente por cantar o Santo Nome do Senhor, a pessoa pode lavar de imediato a poeira do espelho da consciência pura, e logo que a poeira é removida, a pessoa se livra imediatamente de todos condicionamentos materiais. Livrar-se dos condicionamentos materiais significa liberar a alma. Portanto, assim que a pessoa se situa no conhecimento absoluto, seu conceito material é removido, ou ela emerge do conceito falso da vida. Assim a função da alma pura se revive na realização espiritual. Essa realização prática do ser vivo se torna possível por ele ficar livre da reação dos três modos da natureza material, a saber, bondade, paixão e ignorância. Pela graça do Senhor, um devoto puro se eleva de imediato ao local do Absoluto, e não há mais chance do devoto se enredar materialmente novamente na vida condicionada. A pessoa não é capaz de sentir a presença do Senhor em todas circunstâncias até que seja dotada com a visão transcendental necessária que só é possível pelo serviço devocional prescrito nas escrituras reveladas. Arjuna alcançou esse estágio muito antes no Campo de Batalha em Kurukshetra, e quando pareceu que sentiu a falta do Senhor, ele se abrigou de imediato nas instruções do Bhagavad-gita, assim foi colocado novamente em sua posição original. Essa é a posição vishoka, ou o estágio de estar livre de todo pesar e ansiedades.

Verso 32

niçamya bhagavan-märgaà
saàsthäà yadu-kulasya ca
svaù-pathäya matià cakre
nibhåtätmä yudhiñöhiraù

Depois de ouvir sobre o retorno do Senhor Krishna para Seu reino, e depois de entender o fim da manifestação terrestre da dinastia Yadu, Maharaja Yudhisthira decidiu ir de volta ao Lar, de volta ao Supremo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Maharaja Yudhisthira também voltou sua atenção às instruções do Bhagavad-gita depois de ouvir sobre a partida do Senhor da visão das pessoas terrestres. Ele começou a deliberar sobre o modo do aparecimento e partida do Senhor. A missão do aparecimento e desaparecimento do Senhor no universo mortal depende plenamente de Sua vontade suprema. Ele não é forçado a aparecer ou desaparecer por nenhuma energia superior, como os seres vivos aparecem e desaparecem, forçados pelas leis da natureza. Sempre que o Senhor quiser, pode aparecer de qualquer lugar em qualquer lugar sem perturbar Seu aparecimento e desaparecimento em qualquer outro lugar. Ele é como o Sol. O Sol aparece e desaparece por sua própria conta em qualquer lugar sem perturbar sua presença em outros locais. O Sol aparece de manhã na Índia sem desaparecer do hemisfério ocidental. O Sol está presente em todo e qualquer lugar do sistema solar, mas também parece que num lugar específico, o Sol aparece de manhã e também desaparece num determinado horário à noite. Mesmo a limitação de tempo para o Sol não tem significância, o que falar então sobre o Supremo Senhor que é o criador e controlador do Sol. Portanto, o Bhagavad-gita afirma que qualquer pessoa que entende o aparecimento e desaparecimento transcendentais do Senhor por meio de Sua energia inconcebível se torna liberada das leis de nascimento e morte e é colocada no céu espiritual eterno onde os planetas Vaikuntha estão. Lá, tais pessoas liberadas podem viver eternamente sem as dores de nascimento, morte, velhice e doença. O Senhor e aqueles que estão eternamente dedicados ao serviço amoroso transcendental no céu espiritual são eternamente jovens pois lá não existe velhice ou doença e não existe morte. Como não existe morte, não existe nascimento. Portanto, a conclusão é que simplesmente por entender o aparecimento e o desaparecimento do Senhor realmente, a pessoa pode alcançar o estágio perfeito da vida eterna. Por isso, Maharaja Yudhisthira também começou a considerar sua ida de volta ao Supremo. O Senhor aparece na Terra ou qualquer outro planeta mortal junto com Seus companheiros que vivem com Ele eternamente, e os membros da dinastia Yadu que estavam dedicados em ajudarem os passatempos do Senhor não são outros senão Seus companheiros eternos, e assim também, Maharaja Yudhisthira e seus irmãos, sua mãe, e os demais. Como o aparecimento e o desaparecimento do Senhor e Seus companheiros eternos são transcendentais, não se deve ficar confuso sobre os aspectos externos desse aparecimento e desaparecimento.

Verso 33

påthäpy anuçrutya dhanaïjayoditaà
näçaà yadünäà bhagavad-gatià ca täm
ekänta-bhaktyä bhagavaty adhokñaje
niveçitätmopararäma saàsåteù

Kunti, depois de ouvir Arjuna falar sobre o fim da dinastia Yadu e o desaparecimento do Senhor Krishna, dedicou-se ao serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus transcendental com atenção plena e assim obteve alívio do curso da existência material.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O pôr-do-sol não significa o fim do Sol. Significa que o Sol está fora de nossa visão. Similarmente, o fim da missão do Senhor num planeta ou universo específico significa apenas que Ele está fora de nossa visão. O fim da dinastia Yadu também não significa que foi aniquilada. Ela desapareceu, junto com o Senhor, de nossa visão. Maharaja Yudhisthira decidiu se preparar para ir de volta ao Supremo, e Kunti também decidiu, assim se dedicou plenamente ao serviço devocional transcendental ao Senhor que garante o passaporte para ir de volta ao Supremo depois de deixar o corpo material presente. O início do serviço devocional ao Senhor é o começo da espiritualização do corpo presente, deste modo o devoto puro do Senhor perde todo contato material no corpo presente. O reino do Senhor não é um mito, como os descrentes ou pessoas ignorantes pensam, porém ninguém pode chegar lá por meio de recursos materiais como um "sputinik" ou cápsula espacial. Contudo, a pessoa pode chegar lá com certeza depois de deixar o corpo material presente, por isso tem que se preparar para voltar ao Supremo com a prática do serviço devocional. Ele garante o passaporte para ir de volta ao Supremo, e Kunti o adotou.

Verso 34

yayäharad bhuvo bhäraà
täà tanuà vijahäv ajaù
kaëöakaà kaëöakeneva
dvayaà cäpéçituù samam

O supremo não nascido, Senhor Sri Krishna, fez com que os membros da dinastia Yadu abandonassem seus corpos, e assim Ele aliviou o peso sobre o mundo. Essa ação foi como tirar um espinho com outro espinho, apesar de ambos serem iguais para o controlador.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Srila Visvanatha Chakravarti Thakura sugere que os rishis como Shaunaka e outros que ouviam o Srimad Bhagavatam de Suta Goswami em Naimisharanya não ficaram felizes quando ouviram que os Yadus morreram por causa da loucura causada pela embriaguez. Para aliviá-los da agonia mental, Suta Goswami assegurou que o Senhor causou o abandono do corpo dos membros da dinastia Yadu pelos quais eles tinham que tirar o fardo pesado do mundo. O Senhor e Seus companheiros eternos apareceram na Terra para ajudarem os semideuses administrativos a erradicarem a carga pesada do mundo. Por isso, Ele chamou alguns semideuses de confiança para aparecerem na família Yadu e servi-Lo em Sua grande missão. Depois que a missão foi cumprida, os semideuses, pela vontade do Senhor, abandonaram seus corpos físicos por lutarem entre si na loucura da embriaguez. Os semideuses estão acostumados a tomarem a bebida soma-rasa, por isso que beber vinho, ou embriaguez, não é desconhecido para eles. Às vezes, eles entram em situações difíceis por se entregarem à intoxicação. Certa vez, os filhos de Kuvera foram vítimas da ira de Narada por estarem embriagados, mas depois recuperaram suas formas originais pela graça do Senhor Sri Krishna. Encontraremos essa história no Décimo Canto. Para o Supremo Senhor, tanto os asuras quanto os semideuses são iguais, mas os semideuses são obedientes ao Senhor, enquanto os asuras não. Deste modo, o exemplo de usar um espinho para retirar outro espinho é bem adequado. Um espinho, que penetra na perna do Senhor, com certeza perturba o Senhor, e o outro espinho, que retira os elementos que perturbam, com certeza prestam serviço ao Senhor. Desta forma, apesar de todo ser vivo ser parte e parcela do Senhor, aquele que é uma espetada para o Senhor se chama asura, e aquele que é um servidor voluntário do Senhor se chama devata, ou semideus. No mundo material, os devatas e os asuras sempre brigam, e os devatas são sempre salvos das mãos dos asuras pelo Senhor. Ambos estão sob o controle do Senhor. O mundo está repleto dos dois tipos de seres vivos, e a missão do Senhor é sempre proteger os devatas e destruir os asuras, sempre que há essa necessidade no mundo, e para fazer o bem para ambos.

Verso 35

yathä matsyädi-rüpäëi
dhatte jahyäd yathä naöaù
bhü-bhäraù kñapito yena
jahau tac ca kalevaram

O Supremo Senhor abandonou o corpo que manifestou para diminuir a carga pesada da Terra. Do mesmo modo como um mágico, Ele abandonou um corpo para aceitar outros diferentes, como a encarnação peixe e outras.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A Suprema Personalidade de Deus não é impessoal nem sem forma, mas Seu corpo não é diferente Dele, e por isso Ele é conhecido como a personificação da eternidade, conhecimento e bem-aventurança. O Brihad-vaishnava Tantra menciona claramente que quem considera a forma do Senhor Krishna como feita de energia material deve ser execrado de qualquer jeito. Se acontecer de ver a face de tal infiel, a pessoa deve se purificar por pular no rio com roupa e tudo. O Senhor é descrito como amrita, ou imortal, porque Ele não tem corpo material. Nessas circunstâncias, a morte do Senhor ou Ele deixar Seu corpo é como a prestidigitação dum mágico. O mágico exibe por meio de suas mágicas que seu corpo foi cortado em pedaços, queimado até as cinzas ou ficou inconsciente pela influência hipnótica, mas são exibições falsas apenas. Na realidade, o mágico não é queimado em cinzas nem cortado em pedaços, nem morre ou fica inconsciente em qualquer estágio de sua demonstração mágica. Similarmente, o Senhor possui Suas formas eternas com variedade ilimitada, as quais foram exibidas neste universo material como a encarnação peixe é uma delas. Como existem inumeráveis universos, em algum outro lugar, a encarnação peixe manifesta Seus passatempos sem cessar. Este verso usa a palavra específica dhatte ("aceitado eternamente" e não a palavra dhitva, "aceitado para a ocasião") é usada. A idéia é que o Senhor não criou a encarnação peixe, Ele tem essa forma eternamente, e o aparecimento e desaparecimento dessa encarnação serve a um propósito particular. O Senhor diz no Bhagavad-gita (7.24-25): "Os impersonalistas pensam que Eu não tenho forma, que sou sem forma, mas no presente, aceitei uma forma que serve a um propósito, e estou manifesto agora. Mas tais especuladores são na verdade sem inteligência aguçada. Apesar de poderem ser bem versados nas literaturas Védicas, são praticamente ignorantes sobre Minhas energias inconcebíveis e Minhas formas eternas de personalidade. O motivo é que Eu reservo o poder de não ser exposto para os não devotos pela Minha cortina mística. Deste modo, os tolos menos inteligentes portanto não têm ciência sobre Minha forma eterna, que nunca é aniquilada e é não nascida". O Padma Purana diz sobre os que têm inveja do Senhor e estão sempre com raiva do Senhor não têm capacidade para conhecer a forma verdadeira e eterna do Senhor. O Srimad Bhagavatam também afirma que o Senhor aparece como um raio para aqueles que são adversários. Shishupala, na hora que foi morto pelo Senhor, não pôde vê-Lo como Krishna, ofuscado pelo brilho do brahmajyoti. Logo, a manifestação temporária do Senhor como um relâmpago para os adversários designados por Kamsa, ou a aparência brilhante do Senhor perante Shishupala, foi abandonada pelo Senhor, mas o Senhor como um mágico existe eternamente e nunca é aniquilado em nenhuma circunstância. Tais formas são mostradas temporariamente para os asuras apenas, e quando essas exibições são retiradas, os asuras pensam que o Senhor não existe mais, da mesma forma que a platéia tola pensa que o mágico foi queimado em cinzas ou cortado em pedaços. A conclusão é que o Senhor não tem corpo material, e por isso Ele nunca é morto ou mudado de Seu corpo transcendental.

Verso 36

yadä mukundo bhagavän imäà mahéà
jahau sva-tanvä çravaëéya-sat-kathaù
tadähar eväpratibuddha-cetasäm
abhadra-hetuù kalir anvavartata

Quando a Suprema Personalidade de Deus, Senhor Krishna, deixou este planeta terrestre em Sua própria forma, nesse mesmo dia, Kali, que tinha aparecido parcialmente, ficou plenamente manifesto para criar condições não auspiciosas para aqueles dotados com um pobre fundo de conhecimento.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A influência de Kali só pode ser forçada àqueles que não têm a consciência de Deus plenamente desenvolvida. Pode-se neutralizar os efeitos de Kali por se manter plenamente sob o cuidado supremo da Personalidade de Deus. A era de Kali começou logo após a batalha de Kurukshetra, mas não pôde exercer sua influência por causa da presença do Senhor. Porém, o Senhor deixou este planeta terrestre em Seu próprio corpo transcendental, e logo que Ele partiu, os sintomas de kali-yuga, como observados por Maharaja Yudhisthira antes da chegada de Arjuna de Dwaraka, começaram a se manifestar, e Maharaja Yudhisthira presumiu corretamente a partida do Senhor da Terra. Como já explicamos, o Senhor deixou nossa visão do mesmo modo quando o Sol se põe fica fora de nossa visão.

Verso 37

yudhiñöhiras tat parisarpaëaà budhaù
pure ca räñöre ca gåhe tathätmani
vibhävya lobhänåta-jihma-hiàsanädy-
adharma-cakraà gamanäya paryadhät

Maharaja Yudhisthira era inteligente o bastante para entender a influência da era de Kali, caracterizada pelo aumento da avareza, falsidade, enganação e violência por toda capital, estado, lares e entre indivíduos. Por isso, com sabedoria, ele se preparou para deixar o lar, e se vestiu de acordo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A era atual é influenciada pelas qualidades específicas de Kali. Desde os dias da batalha de Kurukshetra, cerca de cinco mil anos atrás, a influência da era de Kali começou a se manifestar, e aprendemos das escrituras autênticas que a era de Kali ainda tem mais 427.000 anos. Os sintomas de kali-yuga, como mencionado acima, são avareza, falsidade, diplomacia, enganação, nepotismo, violência e esses tipos de coisas, que já estão em voga, e ninguém pode imaginar o que acontecerá gradualmente com mais aumento da influência de Kali até o dia da aniquilação. Nós já aprendemos que a influência da era de Kali se destina para pessoas ateístas supostamente civilizadas. Quem está sob a proteção do Senhor não tem nada o que temer desta era horrível. Maharaja Yudhisthira era um grande devoto do Senhor, e não tinha necessidade de temer a era de Kali, mas ele preferiu se retirar da vida familiar ativa e se preparar para voltar ao Lar, de volta ao Supremo. Os Pandavas são companheiros eternos do Senhor, e por isso estão interessados na companhia do Senhor mais do que qualquer outra coisa. Além do mais, por ser um rei ideal, Maharaja Yudhisthira queria se retirar apenas para dar exemplo aos demais. Logo que haja algum jovem para cuidar dos assuntos da família, deve-se retirar da vida familiar a fim de se elevar para a realização espiritual. Não se deve apodrecer no poço escuro da vida familiar até ser arrancado fora pela vontade de Yamaraja. Os políticos modernos deveriam aprender a lição com Maharaja Yudhisthira sobre a aposentadoria voluntária da vida ativa e deixar espaço para a geração mais jovem. Os cavalheiros idosos aposentados também devem aprender a lição dele e deixar o lar para a realização espiritual antes de ser arrancado à força para encontrar a morte.

Verso 38

sva-räö pautraà vinayinam
ätmanaù susamaà guëaiù
toya-névyäù patià bhümer
abhyañiïcad gajähvaye

Depois disso, ele coroou seu neto na capital Hastinapura, que era educado e igualmente qualificado, como o imperador e senhor de toda a Terra banhada pelos oceanos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Toda terra na Terra banhada pelos oceanos estava sob o governo do rei de Hastinapura. Maharaja Yudhisthira educou seu neto, Maharaja Parikshit, que era igualmente qualificado, em administração pública nos termos da obrigação do rei com os cidadãos. Parikshit então foi coroado no trono de Maharaja Yudhisthira antes de sua partida de volta ao Supremo. A palavra específica usada a respeito de Maharaja Yudhisthira, vinayinam, é significativa. Por que o rei de Hastinapura, pelo menos na época de Maharaja Parikshit, era aceito como o Imperador do mundo? A única razão era que as pessoas do mundo estavam felizes por causa da boa administração do imperador. A felicidade dos cidadãos era devido à ampla produção dos bens naturais como grãos, frutas, leite, ervas, pedras preciosas, minerais e tudo mais que as pessoas precisam. Todos inclusive estavam livres das misérias corpóreas, ansiedades mentais, e perturbações causadas por fenômenos naturais e outros seres vivos. Porque todos estavam felizes em todos aspectos, não havia ressentimento, apesar de acontecerem às vezes batalhas entre reis de países por questões políticas e de soberania. Todos eram educados para a obtenção do objetivo da vida, por isso as pessoas eram iluminadas o suficiente para não brigarem por trivialidades. A influência da era de Kali se infiltrou gradualmente nas boas qualidades tanto dos reis como dos cidadãos, deste modo uma situação tensa se desenvolveu entre o governante e o governado, mas mesmo nesta era de desigualdade entre governante e governado, pode haver proveito espiritual e consciência de Deus. Essa é uma prerrogativa especial.

Verso 39

mathuräyäà tathä vajraà
çürasena-patià tataù
präjäpatyäà nirüpyeñöim
agnén apibad éçvaraù

Depois, ele coroou Vajra, filho de Aniruddha (neto do Senhor Krishna), em Mathura como rei de Shurasena. Em seguida, Maharaja Yudhisthira realizou o sacrifício Prajapatya e pôs o fogo em si mesmo para deixar a vida familiar.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Maharaja Yudhisthira, depois de estabelecer Maharaja Parikshit no trono imperial de Hastinapura, e depois de nomear Vajra, bisneto do Senhor Krishna, como rei de Mathura, aceitou a ordem de vida renunciada. O sistema de quatro ordens de vida e quatro castas em termos de qualidade e trabalho, conhecido como varnashrama-dharma, é o começo da verdadeira vida humana, e Maharaja Yudhisthira, como protetor do sistema de atividades humanas, retirou-se em tempo da vida ativa como sannyasi, e transmitiu o encargo da administração ao príncipe treinado, Maharaja Parikshit. O sistema científico de varnashrama-dharma divide a vida humana em quatro divisões de ocupação e quatro ordens de vida. As quatro ordens de vida brahmachari, grihastha, vanaprastha e sannyasi devem ser seguidas por todos, sem importar a divisão ocupacional. Os políticos modernos não querem se retirar da vida ativa, mesmo quando estão bem velhos, mas Yudhisthira Maharaja, como rei ideal, retirou-se voluntariamente da vida administrativa ativa para se preparar para a próxima vida. A vida de todos deve ser organizada para que o último estágio da vida, pelo menos os últimos quinze ou vinte anos antes da morte, seja absolutamente dedicado ao serviço devocional do Senhor para a obtenção da perfeição mais elevada da vida. É realmente tolice dedicar todos dias da vida ao trabalho lucrativo para o prazer material, porque enquanto a mente estiver absorta no trabalho lucrativo para o desfrute material, não haverá chance de sair da vida condicionada, ou cativeiro material. Ninguém deve adotar a política suicida de negligenciar a tarefa suprema que é obter a perfeição mais elevada da vida, a saber, a volta ao Lar, a volta ao Supremo.

Verso 40

visåjya tatra tat sarvaà
duküla-valayädikam
nirmamo nirahaìkäraù
saïchinnäçeña-bandhanaù

Maharaja Yudhisthira abandonou de imediato todas suas vestes, cinto e ornamentos da classe nobre e ficou plenamente desinteressado e desapegado de tudo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Ficar purificado da contaminação material é a qualificação necessária para se tornar um dos companheiros do Senhor. Ninguém pode se tornar um companheiro do Senhor ou voltar ao Supremo sem essa purificação. Maharaja Yudhisthira, desta forma, para se tornar puro espiritualmente, abandonou sua opulência real de imediato, por deixar suas vestes e ornamentos reais. Kashaya, ou roupa simples da cor açafrão do sannyasi, indica liberdade de todas vestimentas materiais atraentes, por isso ele trocou a roupa de acordo. Ele ficou desinteressado pelo seu reino e família e assim se tornou livre de toda contaminação material, ou designação material. As pessoas geralmente estão apegadas a vários tipos de designações, as designações da família, sociedade, país, ocupação, riqueza, posição e muitas outras. Quando a pessoa está apegada a essas designações, é considerada materialmente impura. Os assim chamados líderes humanitários da era moderna são apegados à consciência nacional, mas não sabem que essa consciência falsa também é outra designação da alma condicionada materialmente, a pessoa tem que abandonar tais designações materiais antes de se tornar elegível para voltar ao Supremo. Pessoas tolas adoram esses homens que morrem pela consciência nacional, mas aqui temos um exemplo de Maharaja Yudhisthira, um nobre rei que se preparou para deixar este mundo sem essa consciência nacional. Mesmo assim, ele é lembrado até hoje porque era um grande rei piedoso, quase no mesmo nível da Suprema Personalidade de Deus Sri Rama. Porque as pessoas do mundo eram governadas por tais reis piedosos, eram felizes em todos aspectos, o que tornava bem possível para esses grandes imperadores governarem o mundo.

Verso 41

väcaà juhäva manasi
tat präëa itare ca tam
måtyäv apänaà sotsargaà
taà païcatve hy ajohavét

Então, ele amalgamou todos os órgãos dos sentidos na mente, depois a mente na vida, a vida na respiração, sua existência total na incorporação dos cinco elementos, e seu corpo dentro da morte. Desta forma, como eu puro, ele se tornou livre do conceito material de vida.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Maharaja Yudhisthira, como seu irmão Arjuna, começou a se concentrar e se livrou gradualmente de todo cativeiro material. Primeiro ele concentrou todas ações dos sentidos e as amalgamou dentro da mente, ou em outras palavras, ele voltou sua mente para o serviço transcendental do Senhor. Ele rogou que como todas atividades materiais são executadas pela mente em termos de ações e reações dos sentidos materiais, e como ele ia voltar ao Supremo, a mente ia interromper suas atividades materiais e se voltar em direção ao serviço transcendental do Senhor. Não havia mais necessidade de atividades materiais. Na verdade, as atividades da mente não podem ser interrompidas, pois são um reflexo da alma eterna, mas a qualidade das atividades pode ser mudada de matéria para serviço transcendental do Senhor. A cor material da mente muda quando a pessoa a lava das contaminações da respiração vital e em conseqüência a livra da contaminação de repetidos nascimentos e mortes e a situa na vida espiritual pura. Tudo isso se manifesta pela incorporação temporária do corpo material, que é um produto da mente no momento da morte, e a mente se purifica pelo serviço amoroso transcendental do Senhor e fica constantemente ocupada no serviço dos pés de lótus do Senhor, não há mais chance para a mente produzir outro corpo material depois da morte. Ela ficará livre da absorção na contaminação material. A alma pura ficará apta a voltar para o Lar, de volta ao Supremo.

Verso 42

tritve hutvä ca païcatvaà
tac caikatve 'juhon muniù
sarvam ätmany ajuhavéd
brahmaëy ätmänam avyaye

Desta forma aniquilou o corpo grosseiro de cinco elementos dentro dos três modos qualitativos da natureza material, e os fundiu em uma ignorância e depois absorveu essa ignorância no eu, Brahman, que é inesgotável em todas circunstâncias.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Tudo que é manifesto no mundo material é produto do mahat-tattva-avyakta, e as coisas que são visíveis para nossa visão material são nada mais além de combinações e permutações de tais produtos materiais variados. Mas o ser vivo é diferente desses produtos materiais. É devido ao esquecimento do ser vivo de sua natureza eterna como servo eterno do Senhor, e seu conceito falso de ser o suposto senhor da natureza material, que o obrigam a entrar na existência do falso prazer sensual. Deste modo, a geração simultânea de energias materiais é a causa principal da mente ficar afetada materialmente. O corpo material de cinco elementos é produzido dessa forma. Maharaja Yudhisthira reverteu a ação e fundiu os cinco elementos do corpo nos três modos da natureza material. A distinção qualitativa do corpo ser bom, mau ou medíocre foi extinta, e as manifestações qualitativas foram novamente fundidas na energia material, que é produto do senso falso do ser vivo puro. Quando a pessoa tem a tendência para se tornar um companheiro do Supremo Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, em um dos inumeráveis planetas do céu espiritual, especialmente em Goloka Vrindavana, tem que pensar sempre que é diferente da energia material, não tem nada a ver com isso, e tem que realizar que é espírito puro, Brahman, qualitativamente igual ao Brahman Supremo (Parameshvara). Maharaja Yudhisthira, depois que entregou seu reino a Parikshit e Vajra, não pensava que era o imperador do mundo ou o líder da dinastia Kuru. Esse senso de liberdade das relações materiais, bem como a liberdade do cativeiro material do envolvimento grosseiro e sutil, tornam a pessoa livre para agir como um servidor do Senhor, mesmo se está dentro do mundo material. Esse estágio se chama jivan-mukta, ou estágio liberado, mesmo no mundo material. Assim é o processo de acabar com a existência material. A pessoa não só tem que pensar que é Brahman, mas tem que agir como Brahman. Aquele que acha que é Brahman é um impersonalista. E aquele que age como Brahman é o devoto puro.

Verso 43

céra-väsä nirähäro
baddha-väì mukta-mürdhajaù
darçayann ätmano rüpaà
jaòonmatta-piçäcavat
anavekñamäëo niragäd
açåëvan badhiro yathä

Depois disso, Maharaja Yudhisthira se vestiu com roupas velhas, deixou de comer comida sólida, tornou-se mudo voluntariamente e deixou seus longos cabelos soltos. Tudo isso fez com que parecesse um maltrapilho ou louco sem nenhuma ocupação. Ele não dependia de seus irmãos para nada. E como um surdo, não ouvia nada.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Assim quando ficou livre de todos negócios materiais, não tinha mais nada com a vida imperial ou prestígio familiar, e para fins práticos começou a atuar exatamente como um maltrapilho louco inerte e não falava de assuntos materiais. Ele não dependia de seus irmãos, que o ajudavam até então. Esse estágio de independência plena de tudo se chama estágio purificado do destemor.

Verso 44

udécéà praviveçäçäà
gata-pürväà mahätmabhiù
hådi brahma paraà dhyäyan
nävarteta yato gataù

Então, ele partiu para o norte, pelo caminho aceito pelos seus antepassados e grandes homens, para se dedicar plenamente à lembrança da Suprema Personalidade de Deus. E vivia dessa forma onde quer que estivesse.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Entendemos neste verso que Maharaja Yudhisthira seguiu os passos de seus ancestrais e grandes devotos do Senhor. Nós já discutimos várias vezes sobre esse sistema varnashrama-dharma, que era seguido estritamente pelos habitantes do mundo, especialmente pelos habitantes da província Aryavarta do mundo, com ênfase na importância de deixar todas conexões familiares em certo estágio da vida. O treinamento e educação eram dados dessa forma, em conseqüência uma pessoa respeitável como Maharaja Yudhisthira tinha que deixar toda conexão familiar para a auto-realização e ir de volta ao Supremo. Nenhum rei ou pessoa respeitável continuava na vida familiar até o fim, porque isso era considerado suicídio e contra o interesse da perfeição da vida humana. A fim de se livrar das incumbências familiares e se dedicar cem por cento ao serviço devocional do Senhor Krishna, esse sistema é sempre recomendado para todos porque é o caminho da autoridade. O Senhor instrui no Bhagavad-gita (18.62) que a pessoa deve se tornar devota do Senhor pelo menos no último estágio da sua vida. Uma alma sincera como Maharaja Yudhisthira deve cumprir as instruções do Senhor para seu próprio bem.

As palavras específicas brahma param indicam o Senhor Sri Krishna. Como é confirmado no Bhagavad-gita (10.13) por Arjuna em referência a grandes autoridades como Asita, Devala, Narada e Vyasa. Desta forma, Maharaja Yudhisthira quando deixou o lar e foi para o norte, lembrou o Senhor Sri Krishna constantemente dentro de si, assim seguiu os passos de seus ancestrais bem como dos grandes devotos de todos os tempos.

Verso 45

sarve tam anunirjagmur
bhrätaraù kåta-niçcayäù
kalinädharma-mitreëa
dåñövä spåñöäù prajä bhuvi

Os irmãos mais novos de Maharaja Yudhisthira observaram que a era de Kali já tinha chegado ao mundo inteiro e os cidadãos do reino foram afetados pela prática da irreligião. Por isso, decidiram seguir os passos de seu irmão mais velho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os irmãos mais novos de Maharaja Yudhisthira já eram seguidores obedientes do grande Imperador, e foram educados o bastante para saberem o objetivo supremo da vida. Desta forma, seguiram seu irmão mais velho com determinação para a dedicação no serviço devocional do Senhor Sri Krishna. Segundo os princípios de sanatana-dharma, a pessoa deve se retirar da vida familiar depois que acabar metade da duração da vida e deve se dedicar à auto-realização. Mas a questão de se dedicar não é sempre decidida. Às vezes, as pessoas aposentadas ficam confusas sobre como se ocuparem nos últimos dias da vida. Aqui está uma decisão de autoridades como os Pandavas. Todos eles se dedicaram favoravelmente ao cultivo do serviço devocional do Senhor Sri Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. De acordo com Swami Sridhara, dharma, artha, kama e moksha, ou atividades lucrativas, especulações filosóficas e salvação, como concebido por muitas pessoas, não são o objetivo último da vida. São praticadas mais ou menos por pessoas que não têm informação sobre o objetivo último da vida. O objetivo último da vida já foi indicado pelo Senhor em Pessoa no Bhagavad-gita (18.64), e os Pandavas eram inteligentes o bastante para seguirem sem hesitação.

Verso 46

te sädhu-kåta-sarvärthä
jïätvätyantikam ätmanaù
manasä dhärayäm äsur
vaikuëöha-caraëämbujam

Todos eles realizaram todos princípios da religião, e como resultado decidiram corretamente que os pés de lótus do Senhor Sri Krishna são a meta suprema da vida. Desta forma, meditaram em Seus pés sem interrupção.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor afirma no Bhagavad-gita (7.28) que somente as pessoas que fizeram ações piedosas em suas vidas prévias e se tornaram livres dos resultados dos atos impiedosos podem se concentrar nos pés de lótus do Supremo Senhor Sri Krishna. Os Pandavas, não apenas nesta vida como também em suas vidas prévias, sempre realizaram o trabalho piedoso supremo, e por isso estão sempre livres de todas reações do trabalho impiedoso. Portanto, é bem lógico que concentraram suas mentes nos pés de lótus do Supremo Senhor Sri Krishna. Segundo Sri Visvanatha Chakravarti os princípios de dharma, artha, kama e moksha são aceitos por pessoas que não estão livres dos resultados das ações impiedosas. Essas pessoas afetadas pelas contaminações dos quatro princípios mencionados acima não podem aceitar imediatamente os pés de lótus do Senhor no céu espiritual. O mundo Vaikuntha está muito além do céu material. O céu material está sob a direção de Durga Devi, ou energia material do Senhor, mas o mundo Vaikuntha é dirigido pela energia pessoal do Senhor.

Versos 47 e 48

tad-dhyänodriktayä bhaktyä
viçuddha-dhiñaëäù pare
tasmin näräyaëa-pade
ekänta-matayo gatim

aväpur duraväpäà te
asadbhir viñayätmabhiù
vidhüta-kalmañä sthänaà
virajenätmanaiva hi

Assim, com a consciência pura devido à lembrança devocional constante, eles alcançaram o céu espiritual, que é governado pelo Supremo Narayana, Senhor Krishna. Isto só é conseguido pelos que meditam no único Supremo Senhor sem desvio. A morada do Senhor Sri Krishna, conhecida como Goloka Vrindavana, não pode ser alcançada por pessoas que estão absortas no conceito de vida material. Mas os Pandavas, limpos de toda contaminação material, alcançaram essa morada em seus mesmos corpos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

De acordo com Srila Jiva Goswami, a pessoa livre dos três modos da natureza, chamados bondade, paixão e ignorância, e situada na transcendência pode alcançar a perfeição mais elevada da vida sem mudar de corpo. Srila Sanatana Goswami afirma em seu Hari-bhakti-vilasa que uma pessoa, seja lá quem for, pode alcançar a perfeição do brâmane duas vezes nascido por se submeter às ações disciplinadoras espirituais sob a guia de um mestre espiritual fidedigno, exatamente como um químico pode transformar bronze em ouro com a manipulação química. Portanto, essa é a orientação verdadeira que importa sobre o processo de como se tornar um brahmana, mesmo sem mudar de corpo, ou para ir de volta ao Supremo sem mudar de corpo. Srila Jiva Goswami enfatiza que a palavra hi usada a esse respeito afirma positivamente essa verdade, e não há dúvida sobre essa posição verdadeira. O Bhagavad-gita (14.26) também confirma essa afirmação de Srila Jiva Goswami onde o Senhor diz que qualquer pessoa que executa serviço devocional sistematicamente sem desvio pode obter a perfeição de Brahman por superar a contaminação dos três modos da natureza material, e quando a perfeição Brahman avança mais ainda pela mesma realização do serviço devocional, não há nenhuma dúvida que a pessoa pode alcançar o planeta espiritual supremo, Goloka Vrindavana, sem mudar de corpo, como já discutimos em conexão com a volta do Senhor para Sua morada sem mudança de corpo.

Verso 49

viduro 'pi parityajya
prabhäse deham ätmanaù
kåñëäveçena tac-cittaù
pitåbhiù sva-kñayaà yayau

Vidura, enquanto peregrinava, deixou seu corpo em Prabhasa. Porque estava absorto na lembrança do Senhor Krishna, foi recebido pelos habitantes do planeta Pitriloka, onde retornou a seu posto original.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A diferença entre os Pandavas e Vidura é que os Pandavas são companheiros eternos do Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, enquanto Vidura é um dos semideuses administrativos encarregado do planeta Pitriloka e é conhecido como Yamaraja. As pessoas têm medo de Yamaraja porque ele é o único que executa a punição dos pecadores no mundo material, mas quem é devoto do Senhor não precisa ter medo dele. Para os devotos, ele é um amigo cordial, mas para os não devotos, é o medo personificado. Como já discutimos, sabemos que Yamaraja foi amaldiçoado por Mundaka Muni para se degradar como um shudra, desta forma, Vidura era uma encarnação de Yamaraja. Como é um servidor eterno do Senhor, ele demonstrou suas atividades devocionais com muito ardor e viveu uma vida de pessoa piedosa, tanto que um materialista como Dhritarastra também obteve a salvação com suas instruções. Assim por causa de suas atividades piedosas no serviço devocional do Senhor, ele era capaz de lembrar sempre os pés de lótus do Senhor, assim se purificou de toda a contaminação da sua vida com nascimento como shudra. E no fim, foi recebido novamente pelos habitantes de Pitriloka e restabelecido em sua posição original. Os semideuses também são companheiros do Senhor sem o contato pessoal, enquanto os companheiros diretos do Senhor estão em contato constante com Ele. O Senhor e Seus companheiros pessoais encarnam constantemente nos vários universos sem cessar. O Senhor lembra tudo, enquanto os companheiros esquecem por serem partes e parcelas ínfimas do Senhor, por serem infinitesimais, têm a tendência de esquecer esses incidentes. O Bhagavad-gita (4.5) confirma.

Verso 50

draupadé ca tadäjïäya
paténäm anapekñatäm
väsudeve bhagavati
hy ekänta-matir äpa tam

Draupadi também viu que seus esposos, sem se importarem com ela, deixaram o lar. Ela sabia bem sobre o Senhor Vasudeva, Krishna, a Personalidade de Deus. Tanto ela quanto Subhadra se absorveram na lembrança de Krishna e alcançaram os mesmos resultados de seus esposos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Ao pilotar um avião, a pessoa não pode cuidar de outros aviões. Cada um tem que cuidar de seu próprio avião, e se houver algum perigo, nenhum outro avião pode ajudar o outro nessa situação. Similarmente, no fim da vida, quando a pessoa tem que voltar ao Lar, de volta ao Supremo, cada um tem que cuidar de si mesmo sem a ajuda prestada por outros. Entretanto, a ajuda é oferecida no chão antes do vôo no espaço. Similarmente, o mestre espiritual, o pai, a mãe, os parentes, o cônjuge e outros podem prestar ajuda durante a vida da pessoa, mas quando atravessa o oceano, a pessoa tem que cuidar de si mesma e utilizar as instruções recebidas anteriormente. Draupadi tinha cinco esposos, e nenhum pediu a Draupadi para vir, Draupadi teve que cuidar de si mesma sem contar com seus grandes esposos. E como já era bem treinada, concentrou-se de imediato nos pés de lótus do Senhor Vasudeva, Krishna, a Personalidade de Deus. As esposas também obtiveram o mesmo resultado que seus esposos, da mesma forma, ou seja, elas alcançaram o destino do Supremo sem mudança de corpo. Srila Visvanatha Chakravarti Thakura indica que tanto Draupadi quanto Subhadra, apesar de seu nome não ser mencionado aqui, obtiveram o mesmo resultado. Nenhuma das duas teve que deixar o corpo.

Verso 51

yaù çraddhayaitad bhagavat-priyäëäà
päëòoù sutänäm iti samprayäëam
çåëoty alaà svastyayanaà pavitraà
labdhvä harau bhaktim upaiti siddhim

O tema da partida dos filhos de Pandu para a meta suprema da vida, de volta ao Supremo, é plenamente auspicioso e perfeitamente puro. Por isso, qualquer pessoa que ouve esta narração com fé devocional obtém com certeza o serviço devocional do Senhor, a perfeição mais elevada da vida.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Srimad Bhagavatam é a narração sobre a Personalidade de Deus e os devotos do Senhor como os Pandavas. A narração sobre a Suprema Personalidade de Deus e Seus devotos é absoluta em si, por isso que ouvi-la com uma atitude devocional é se associar com o Senhor e os companheiros constantes do Senhor. Pelo processo de ouvir o Srimad Bhagavatam a pessoa pode alcançar a perfeição mais elevada da vida, a saber, voltar ao Lar, de volta ao Supremo, sem falha.

Assim terminam os significados Bhaktivedanta do Primeiro Canto, Décimo Quinto Capítulo, do Srimad Bhagavatam, intitulado "Os Pandavas Se Retiram em Tempo".

 

     

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