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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

Néctar de Prabhupada

 

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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

Fundador Acharya da Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna

Prabhupada

 

   

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Sri Sri Prapanna-jivanamritam
(Srila Bhaktirakshaka Sridhara Deva Goswami Maharaja Prabhupada)

Verso 2

gaura-vag-vigraham vande
gaurangam gaura-vaibhavam
gaura-sankirtanonmattam
gaura-karunya-sundaram

gaura – Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu; vak – instrução; vigraham – corporificação; vande – ofereço reverências; gaurangam – membros dourados; gaura – Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu; vaibhavam – expansão; gaura – Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu; sankirtana – canto congregacional; unmattam – absorto; gaura – Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu; karunya – compaixão; sundaram – cativante.

Tradução

Ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus de meu mestre espiritual que é a corporificação das instruções do Senhor Gauranga. Ele está sempre intoxicado pela realização constante do canto congregacional do santo nome inaugurado por Sri Chaitanya Mahaprabhu. De fato, o mestre espiritual é a expansão pessoal do Senhor Chaitanya, em Pessoa, e seu brilho corpóreo é da mesma têz dourada. Sua beleza insuperável só é incrementada pelo reservatório de compaixão do Senhor Chaitanya.

São Paulo, 13 de maio de 2014

13/05/14 - terça-feira - Gaura-chaturdashi. Sri Nrisimha-chaturdashi: Aparecimento de Sri Nrisimhadev. Jejum completo até depois do pôr-do-sol, então nenhum grão (anukalpa).

Jaya Jaya Sri Nrisimhadeva Bhagavan - (Sri Nrisimha Purana):

namas te nara-simhaya
prahladahlada-dayine
hiranyakasipor vaksah-
sila-tanka-nakhalaye

"Presto Minhas respeitosas reverências a Você, Senhor Nrisimhadeva. Você que satisfaz Prahlada Maharaj, e Suas garras dilaceram o tórax de Hiranyakashipu assim como uma talhadeira corta a pedra".

ito nrsimhah parato nrsimho
yato yato yami tato nrsimhah
bahir nrsimho hrdaye nrsimho
nrsimham adim saranam prapadye

"O Senhor Nrisimha está lá, o Senhor Nrisimha está aqui. Onde quer que eu vá, o Senhor Nrisimha reside. Ele está dentro de nossos corações bem como fora também. Eu me rendo ao Senhor Nrisimha, a origem e o refúgio supremo de tudo".
(Sri Sri Prapanna-jivanamrtam - 7.9)

Hoje, neste dia mais auspicioso do Aparecimento transcendental do Senhor Nrisimhadeva Bhagavan, o protetor do Movimento Sankirtana do Senhor Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, peço emprestado o Verso maravilhoso de Srila Guru Maharaja Prabhupada, em relação a meu amado Gurudeva Srila Prabhupada, e do próprio Srila Guru Maharaja Prabhupada.

Pela divina graça deles, esta Página de Prabhupada agora tem domínio próprio com boa hospedagem. Também, consegui retomar a Tradução pela Divina Graça deles.

Comecei este NÉCTAR maravilhoso que consiste do Prefácio do Srimad Bhagavatam que Prabhupada escreveu em 1962, e é um assunto mais do que atual e vital para os dias de hoje.

Depois, vem a Introdução onde Prabhupada dá um Resumo da vida do Senhor Chaitanya, e é um NÉCTAR sublime. Depois, os dois primeiros versos do Srimad Bhagavatam com os Significados de Prabhupada.

Vou publicar à medida que ficar pronto.

E outros NÉCTARES estão a caminho.

Nitai Gaura Hari Bol

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Obs.: É logico que toda Literatura Divina de Prabhupada aqui nesta Página de Prabhupada é sempre a Original (antes de 1978) sem as supostas "correções" posteriores. Sempre traduzo do texto original com muito cuidado, capricho, carinho, estudo e pesquisa, e a Divina Graça de nossos Mestres Divinos, não só tenho Autorização Autêntica de Prabhupada bem como a Ordem dele para realizar este trabalho, que se transforma em inspiração, e sem isso não seria possível. Faço essa afirmação com toda a humildade. Sou apenas um insignificante digitador.

O Senhor Sri Krishna está dentro de nosso coração e Ele tem consciência plena de cada segundo de nossas vidas, todo o passado, presente e futuro. Ele sabe tudo, e tem memória perfeita, Ele não esquece. Nós esquecemos, mas Ele não esquece. O Senhor sabe tudo que fizemos, e que faremos.

Grande abração

Visvavandya Dasa
São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
(Krishna-dwitiya)

   

   

   

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

"KRISHNA - A Suprema Personalidade de Deus"

(Original Sem "Correções")

de

Sua Divina Graça
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

   

Srimad Bhagavatam - Sua Divina Graça Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada

Oitavo Canto - Retirada das Criações Cósmicas
Capítulo 1 - Os Manus, Administradores do Universo
(Bhag. 8.1.Sumário)

Primeiro de tudo, deixe-me oferecer minhas humildes, respeitosas reverências aos pés de lótus de meu mestre espiritual, Sua Divina Graça Sri Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Prabhupada. Algum dia no ano de 1935 quando Sua Divina Graça estava em Radha-kunda, fui vê-lo de Bombaim. Dessa vez, ele me deu muitas instruções importantes a respeito de construir templos e publicar livros. Ele me disse pessoalmente que publicar livros é mais importante do que construir templos. É claro, essas mesmas instruções permaneceram dentro da minha mente por muitos anos. Em 1944, comecei a publicar minha "Back to Godhead" ("De Volta ao Supremo"), quando me aposentei da vida familiar em 1958, comecei a publicar o Srimad Bhagavatam em Délhi. Quando três partes do Srimad Bhagavatam foram publicadas na Índia, aí eu parti para os Estados Unidos da América em 13 de agosto de 1965.

Eu tento continuamente publicar livros, como sugerido pelo meu mestre espiritual. Agora, neste ano, 1976, completei o Sétimo Canto do Srimad Bhagavatam, e um sumário do Décimo Canto já foi publicado como Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Ainda, o Oitavo Canto, Nono Canto, Décimo Canto, Décimo Primeiro Canto e Décimo Segundo Canto estão para serem publicados. Nesta ocasião, portanto, eu oro a meu mestre espiritual para me dar força para terminar este trabalho. Eu não sou nem um grande erudito nem um grande devoto; eu sou simplesmente um servo humilde de meu mestre espiritual, e com o melhor da minha habilidade eu tento satisfazê-lo por publicar esses livros, com a cooperação dos meus discípulos na América. Felizmente, eruditos do mundo inteiro apreciam essas publicações. Que todos nós cooperativamente publiquemos mais e mais volumes do Srimad Bhagavatam justamente para satisfazer Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura.

   

  

   

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

 

Srimad Bhagavatam

 

Dedicatória

A Srila Prabhupada

Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Maharaja

Meu Mestre Espiritual

Na 26ª Cerimônia Anual do Dia de Seu Desaparecimento
(01/01/1937)

Ele vive para sempre através de suas instruções divinas

e

o seguidor vive com ele.

 

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Nitai Gaura Hari Bol

 

Srimad Bhagavatam

Primeiro Canto

"Criação"

Prefácio

de

Srila Prabhupada

(Délhi, 15/12/1962)

Precisamos saber a necessidade atual da sociedade humana. E qual é essa necessidade? A sociedade humana é muito mais ampla do que na Idade Média, e a tendência mundial é em direção a uma única sociedade ou só uma sociedade humana. Os ideais do comunismo espiritual, segundo o Srimad Bhagavatam, são baseados mais ou menos na unidade da sociedade humana inteira, não só isso como também toda a energia dos seres vivos. A necessidade de que essa ideologia seja bem sucedida é sentida por grandes pensadores. O Srimad Bhagavatam satisfará essa necessidade da sociedade humana. Ele, portanto, começa com o aforismo da filosofia Vedanta janmady asya yatah para estabelecer o ideal de uma causa comum.

A sociedade humana, no presente momento, não está na escuridão do esquecimento. Progrediu rapidamente no campo dos confortos materiais, educação e desenvolvimento econômico em toda parte do mundo inteiro. Porém, existe uma irritação em algum lugar do corpo social e bem grande, por isso acontecem conflitos em grande escala, mesmo por causa de assuntos menos importantes. Existe a necessidade de uma solução sobre como a humanidade pode se tornar unida em paz, fraternidade e prosperidade com uma causa comum. O Srimad Bhagavatam satisfará essa necessidade porque é um oferecimento cultural para a re-espiritualização de toda a sociedade humana.

O Srimad Bhagavatam também deve ser introduzido nas escolas e faculdades, pois é recomendado pelo grande devoto estudante Prahlada Maharaja para mudar a face demoníaca da sociedade.

kaumara acaret prajnodharman bhagavatan ihadurlabham manusam janmatad apy adhruvam arthadam (Bhag. 7.6.1).

Divergência na sociedade humana é por causa da falta de princípios de uma civilização sem Deus. Deus existe, ou o Todo-poderoso, de quem tudo emana, por quem tudo é mantido e em quem tudo se incorpora para repousar. A ciência material tentou achar a fonte da criação com muita insuficiência, entretanto é um fato que existe uma fonte suprema de tudo o que existe. Essa fonte suprema é explicada racionalmente e com autoridade no belo Bhagavatam, ou Srimad Bhagavatam.

O Srimad Bhagavatam é a ciência transcendental não somente para conhecer a fonte suprema de tudo, mas também para conhecer nossa relação com Ele e nosso dever rumo à perfeição da sociedade humana com base nesse conhecimento perfeito. É uma leitura poderosa no idioma sânscrito, e agora é oferecida em inglês com esmero para que simplesmente com uma leitura cuidadosa a pessoa possa conhecer Deus perfeitamente bem, tanto que o leitor terá instrução suficiente para se defender contra as investidas de ateístas. Além disso, e acima disso, o leitor será capaz de convencer outros a aceitarem Deus como um princípio concreto.

O Srimad Bhagavatam começa com a definição da fonte suprema. É um comentário fidedigno sobre o Vedanta-sutra do mesmo autor, Srila Vyasadeva, e progride em nove cantos até o estágio mais elevado de realização de Deus. A única qualificação que a pessoa precisa para estudar este grande livro de conhecimento transcendental é prosseguir passo a passo cautelosamente e não pular ao acaso como um livro comum. Ele tem que ser lido capítulo por capítulo, um depois do outro. O assunto da leitura é organizado com seu texto original em sânscrito, transliteração em inglês, sinônimos, tradução e significados para que a pessoa se torne com certeza uma alma que realizou Deus no fim do término dos primeiros nove cantos.

O Décimo Canto é distinto dos nove primeiros cantos porque lida diretamente com as atividades transcendentais da Personalidade de Deus Sri Krishna. A pessoa não será capaz de capturar os efeitos do Décimo Canto sem passar pelos primeiros nove cantos. O livro consiste de doze cantos, cada um independente, mas é bom para todos lerem em pequenos fascículos um depois do outro. Tenho que admitir minhas debilidades para apresentar o Srimad Bhagavatam, ainda assim tenho esperança que será bem recebido pelos pensadores e líderes da sociedade com a força da seguinte afirmação do Srimad Bhagavatam (1.5.11):

tad-vag-visargo janatagha-viplavo
yasmin prati-slokam abaddhavaty api
namany anantasya yaso 'nkitani yac
chrnvanti gayanti grnanti sadhavah

"Por outro lado, aquela literatura que é cheia de descrições sobre as glórias do nome, fama, forma e passatempos do Supremo Senhor ilimitado é uma criação transcendental destinada a causar uma revolução nas vidas impiedosas de uma civilização desorientada. Tais literaturas transcendentais, mesmo compostas irregularmente, são ouvidas, cantadas e aceitas por pessoas purificadas que são perfeitamente honestas".

Om tat sat

A. C. Bhaktivedanta Swami

Délhi, 15 de dezembro de 1962

 

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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

     

O Lema

Admite-se mesmo no círculo superior que de fato, toda a raiz e base da Cultura Indiana está envolvida dentro da língua Sânscrita. E nós sabemos que estrangeiros invasores da Índia puderam quebrar algum trabalho monumental de arquitetura da Índia mas eles foram incapazes de quebrar os ideais perfeitos de civilização humana até então mantidos ocultos dentro da língua Sânscrita da sabedoria Védica. O Srimad Bhagavatam é o fruto maduro amadurecido da árvore da literatura Védica (pág. 66). Nós justamente começamos a dá-Lo disponível em Inglês com visão mais ampla e é dever dos Indianos de liderança propagarem a cultura por todo o mundo nesta hora importante de necessidade.

(Srimad Bhagavatam Original de Prabhupada - Antes da Introdução)

     

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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

     

Introdução

     

O conceito de Deus e o conceito de Verdade Absoluta não estão no mesmo nível. O Srimad Bhagavatam acerta o alvo da Verdade Absoluta. O conceito de Deus indica o controlador, enquanto o conceito de Verdade Absoluta indica o summum bonum ou a fonte suprema de todas as energias. Não existe diferença de opinião sobre a figura pessoal de Deus como o controlador porque um controlador não pode ser impessoal. Claro que o governo moderno, especialmente o governo democrático, é impessoal até certo ponto, mas ultimamente, o diretor chefe do executivo é uma pessoa, e o aspecto impessoal do governo é subordinado ao aspecto pessoal. Assim sem dúvida, sempre que nos referimos a controle sobre outros, devemos admitir a existência do aspecto pessoal. Porque existem vários controladores para vários postos de gestão, pode haver vários pequenos deuses. De acordo com o Bhagavad-gita, qualquer controlador que tem algum poder extraordinário específico é chamado de vibhutimat-sattva, ou controlador dotado de poder pelo Senhor. Existem muitos vibhutimat-sattvas, controladores ou deuses com vários poderes específicos, mas a Verdade Absoluta é única e inigualável. Este Srimad Bhagavatam designa a Verdade Absoluta ou o summum bonum como param satyam. O autor do Srimad Bhagavatam, Srila Vyasadeva, primeiro oferece suas respeitosas reverências a param satyam (Verdade Absoluta), e porque param satyam é a fonte suprema de todas as energias, o param satyam é a Pessoa Suprema. Os deuses ou controladores são pessoas sem dúvida, mas o param satyam de quem os deuses recebem poderes de controle é a Pessoa Suprema. A palavra sânscrita isvara (controlador) transmite o significado de Deus, mas a Pessoa Suprema é chamada de paramesvara, ou o isvara supremo. A Pessoa Suprema, ou paramesvara, é a personalidade com consciência suprema, e porque Ele não recebe qualquer poder de nenhuma outra fonte, Ele é supremamente independente. Brahma é descrito nas literaturas Védicas como o deus supremo ou o líder de todos os outros deuses como Indra, Chandra e Varuna, mas o Srimad Bhagavatam confirma que mesmo Brahma não é independente no que diz respeito a seu poder e conhecimento. Ele recebeu conhecimento na forma dos Vedas da Pessoa Suprema que reside no coração de todo ser vivo. Essa Suprema Personalidade conhece tudo direta e indiretamente. Pessoas infinitesimais individuais, que são parte e parcela da personalidade Suprema, podem conhecer direta e indiretamente tudo sobre seus corpos ou características externas, mas a Suprema Personalidade conhece tudo sobre Suas características externas e internas.

As palavras janmady asya sugerem que a fonte de toda produção, manutenção ou destruição é a mesma pessoa com consciência suprema. Mesmo na nossa experiência presente, podemos saber que nada é gerado a partir da matéria inerte, porém a matéria inerte pode ser gerada a partir do ser vivo. Por exemplo, por meio do contato com o ser vivo, o corpo material se desenvolve em uma máquina de trabalho. Pessoas com pobre fundo de conhecimento confundem o maquinário corpóreo com o ser vivo, mas o fato é que o ser vivo é a base da máquina corpórea. A máquina corpórea se torna inútil logo que a centelha viva sai dela. Similarmente, a fonte original de toda a energia material é a Pessoa Suprema. Esse fato é evidente em todas as literaturas Védicas, e todos os expoentes da ciência espiritual aceitaram essa verdade. A força viva se chama Brahman, e um dos grandes acharyas (professores), chamado Sripada Shankaracharya, pregou que Brahman é a substância enquanto mundo cósmico é a categoria. A fonte original de todas as energias é a força viva, e Ele é aceito logicamente como a Pessoa Suprema. Portanto, Ele é consciente de tudo no passado, presente e futuro, e também de cada e todo canto de Suas manifestações, tanto material quanto espiritual. Um ser vivo imperfeito nem mesmo sabe o que acontece dentro de seu próprio corpo pessoal. Ele come sua comida, mas não sabe como essa comida se transforma em energia ou como ela sustenta seu corpo. Quando um ser vivo é perfeito, ele é consciente de tudo o que acontece, e porque a Pessoa Suprema é todo-perfeita, é bem natural que Ele saiba tudo com todos detalhes. Em conseqüência, a personalidade perfeita é tratada no Srimad Bhagavatam como Vasudeva, ou aquele que vive em toda parte com consciência plena e com posse plena de Sua energia completa. Tudo isso é muito bem explicado no Srimad Bhagavatam, e o leitor tem ampla oportunidade de estudar com espírito crítico.

Na era moderna, o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu pregou o Srimad Bhagavatam por meio da demonstração prática. É mais fácil penetrar nos tópicos do Srimad Bhagavatam pelo intermédio da misericórdia sem causa de Sri Chaitanya. Por isso, incluímos aqui um pequeno esboço de Sua vida e preceitos para ajudar o leitor a entender o verdadeiro mérito do Srimad Bhagavatam.

É imperativo aprender o Srimad Bhagavatam da pessoa Bhagavatam. A pessoa Bhagavatam é aquela cuja vida é o Srimad Bhagavatam na prática. E porque Sri Chaitanya Mahaprabhu é a Personalidade de Deus Absoluta, Ele é ao mesmo tempo Bhagavan e Bhagavatam em pessoa e em som. Portanto, Seu processo de aproximação do Srimad Bhagavatam é prático para todas as pessoas no mundo. Foi Seu desejo que o Srimad Bhagavatam fosse pregado em cada canto e rincão do mundo por aqueles que tiveram nascimento na Índia.

O Srimad Bhagavatam é a ciência de Krishna, a Personalidade de Deus Absoluta de quem temos informação prévia no texto do Bhagavad-gita. Sri Chaitanya Mahaprabhu disse que qualquer um, não importa o que ele for, que for bem versado na ciência de Krishna (Srimad Bhagavatam e Bhagavad-gita) pode se tornar um pregador ou preceptor autorizado da ciência de Krishna.

Existe a necessidade da ciência de Krishna na sociedade humana para o bem de toda a humanidade sofredora do mundo, e nós simplesmente pedimos aos líderes das nações que adotem esta ciência de Krishna para seu próprio bem, para o bem da sociedade e para o bem de toda a população mundial.

 

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Um pequeno esboço da vida e ensinamentos do Senhor Chaitanya, o Pregador do Srimad Bhagavatam:

O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu, o grande apóstolo do amor de Deus e o pai do canto coletivo do santo nome do Senhor, adveio pessoalmente em Sridham Mayapur, um bairro da cidade de Navadwip na Bengala, durante a noite de Phalguni Purnima do ano 1407 Shakabda (correspondente a fevereiro de 1486 no calendário cristão).

Seu pai, Sri Jagannatha Mishra, um brahmana erudito do distrito de Sylhet, veio a Navadwip como estudante porque Navadwip naquela época era considerada centro da educação e cultura. Ele fixou residência nas margens do Ganges depois de casar com Srimati Shachidevi, uma das filhas de Srila Nilambara Chakravarti, o grande catedrático erudito de Navadwip.

Jagannatha Mishra teve várias filhas com sua esposa, Srimati Shachidevi, e a maioria delas morreu em idade precoce. Dois filhos sobreviventes, Sri Visvarupa e Visvambhara, foram o objeto de seu amor paterno e materno finalmente. O décimo e filho caçula, que recebeu o nome Visvambhara, ficou conhecido depois como Nimai Pandita e depois, após aceitar a ordem de vida da renúncia, Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu.

O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu exibiu Suas atividades transcendentais durante quarenta e oito anos e então desapareceu no ano 1455 Shakabda em Puri (1534 d.C.).

Durante Seus vinte e quatro primeiros anos, Ele permaneceu em Navadwip como estudante e homem casado. Sua primeira esposa foi Srimati Laksmipriya, que teve morte prematura quando o Senhor estava fora de casa. Quando retornou da Bengala Ocidental, Sua mãe Lhe pediu que aceitasse uma segunda esposa. Sua segunda esposa foi Srimati Vishnupriya Devi, que sofreu a separação do Senhor por toda sua vida porque o Senhor aceitou a ordem sannyasa com a idade de vinte e quatro anos, quando Srimati Vishnupriya Devi tinha apenas dezesseis anos.

Depois que aceitou sannyasa, o Senhor fez Seu quartel-general em Jagannatha Puri devido a um pedido de Sua mãe, Srimati Shachidevi. O Senhor permaneceu durante vinte e quatro anos em Puri. Durante seis anos desse tempo, Ele viajou continuamente por toda a Índia (e especialmente pelo sul da Índia) pregando o Srimad Bhagavatam.

O Senhor Chaitanya não somente pregou o Srimad Bhagavatam como propagou os ensinamentos do Bhagavad-gita na forma mais prática. No Bhagavad-gita, o Senhor é descrito como a Absoluta Personalidade de Deus, e Seu último ensinamento nesse grande livro de conhecimento transcendental instrui que a pessoa deve abandonar todos os modos de atividades religiosas e aceitá-Lo (Senhor Sri Krishna) como o único Senhor adorável. O Senhor então garante que todos Seus devotos ficarão protegidos de todos os tipos de ações pecaminosas e que para eles não há motivo para ansiedade.

Infelizmente, apesar da ordem direta do Senhor Sri Krishna no Bhagavad-gita, pessoas menos inteligentes interpretam erradamente que Ele é nada mais do que uma grande personalidade histórica, por isso não podem aceitá-Lo como a Personalidade de Deus original. Tais pessoas com um pobre fundo de conhecimento são mal guiadas por muitos não devotos. Por isso, os ensinamentos do Bhagavad-gita são mal interpretados mesmo por grandes catedráticos. Depois do desaparecimento do Senhor Sri Krishna, surgiram centenas de comentários sobre o Bhagavad-gita por muitos catedráticos eruditos, e quase todos eram motivados por interesse pessoal.

O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu é o próprio Senhor Sri Krishna. Essa vez, entretanto, Ele apareceu como um grande devoto do Senhor a fim de pregar para as pessoas em geral, bem como para religiosos e filósofos, sobre a posição transcendental de Sri Krishna, o Senhor primordial e a causa de todas as causas. A essência de Sua pregação é que o Senhor Sri Krishna, que apareceu em Vrajabhumi (Vrindavana) como filho do rei de Vraja (Nanda Maharaja), é a Suprema Personalidade de Deus e por isso é adorável por todos. Vrindavana-dhama não é diferente do Senhor porque o nome, fama, forma e local onde o Senhor Se manifesta são idênticos ao Senhor como conhecimento absoluto. Portanto, Vrindavana-dhama é tão adorável quanto o Senhor. A forma mais alta de adoração ao Senhor foi exibida pelas donzelas de Vrajabhumi na forma da afeição pura pelo Senhor, e o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu recomenda esse processo como o modo mais excelente de adoração. Ele aceita o Srimad Bhagavata Purana como a literatura imaculada para o entendimento sobre o Senhor, e Ele prega que o objetivo último da vida para todos os seres humanos é alcançar o estágio de prema, ou amor por Deus.

Muitos devotos do Senhor Chaitanya como Srila Vrindavana dasa Thakura, Sri Lochana dasa Thakura, Srila Krsnadasa Kaviraja Goswami, Sri Kavi-karnapura, Sri Prabodhananda Sarasvati, Sri Rupa Goswami, Sri Sanatana Goswami, Sri Raghunatha Bhatta Goswami, Sri Jiva Goswami, Sri Gopala Bhatta Goswami, Sri Raghunatha dasa Goswami, e nessa última geração de duzentos anos, Sri Visvanatha Chakravarti, Sri Baladeva Vidhyabhushana, Sri Shyamananda Goswami, Sri Narottama dasa Thakura, Sri Bhaktivinoda Thakura e por último, Sri Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura (nosso mestre espiritual) e muitos outros grandes e renomados catedráticos e devotos do Senhor prepararam livros e literatura volumosos sobre a vida e preceitos do Senhor. Essas literaturas são todas baseadas nos shastras como os Vedas, Puranas, Upanishads, Ramayana, Mahabharata e outras histórias e literaturas autênticas aprovadas e reconhecidas pelos acharyas. Elas são únicas em composição e incomparáveis em apresentação, e são repletas de conhecimento transcendental. Infelizmente, as pessoas do mundo ainda são ignorantes sobre elas, mas quando essas literaturas, que são na maioria em sânscrito e bengali ( bengalí ), começarem a iluminar o mundo e forem apresentadas às pessoas que pensam, assim a glória da Índia e a mensagem de amor inundarão este mundo mórbido, que procura futilmente paz e prosperidade por meio de vários métodos ilusórios não aprovados pelos acharyas na corrente de sucessão discipular.

Os leitores desta pequena descrição da vida e preceitos do Senhor Chaitanya lucrarão muito ao apreciarem os livros de Srila Vrindavana dasa Thakura (Sri Chaitanya-bhagavata) e Srila Krishnadasa Kaviraja Goswami (Sri Chaitanya-charitamrita). A vida inicial do Senhor é fascinantemente descrita pelo autor do Sri Chaitanya Bhagavata, e no que se refere aos ensinamentos, são vividamente explicados no Sri Chaitanya Charitamrita. Agora estão disponíveis para o público que fala inglês no nosso "Ensinamentos do Senhor Chaitanya".

A vida inicial do Senhor foi registrada por um de Seus principais devotos e contemporâneos chamado Srila Murari Gupta, um médico da época, e a parte final da vida de Sri Chaitanya Mahaprabhu foi registrada pelo Seu secretário pessoal, Sri Damodara Goswami, ou Srila Swarupa Damodara, que era praticamente companheiro constante do Senhor em Puri. Esses dois devotos registraram praticamente todos os incidentes das atividades do Senhor, e mais tarde, todos os livros que tratam sobre o Senhor, mencionados acima, foram compostos com base em kadachas (anotações) de Srila Damodara Goswami e Murari Gupta.

Assim, o Senhor adveio em Pessoa na noite de Phalguni Purnima (lua cheia) de 1407 Shakabda (fevereiro de 1486 d.C.), e por vontade do Senhor houve um eclipse lunar naquela noite. Durante as horas do eclipse, era costume da população hindu tomar banho no Ganges ou qualquer outro rio sagrado e cantar mantras Védicos para purificação. Quando o Senhor Chaitanya nasceu, toda a Índia retumbava o som sagrado Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Esses dezesseis nomes do Senhor são mencionados em vários Puranas e Upanishads, e são descritos como o Taraka-brahma nama desta era. Os shastras recomendam que o canto sem ofensas desses santos nomes do Senhor pode liberar a alma caída do cativeiro material. Existem inumeráveis nomes do Senhor tanto na Índia quanto em outros lugares, e todos eles são igualmente bons porque todos eles indicam a Suprema Personalidade de Deus. Mas porque esses dezesseis nomes são especialmente recomendados para esta era, as pessoas podem aproveitá-los e seguirem o caminho dos acharyas que alcançaram o sucesso pela prática das regras e regulamentos dos shastras (escrituras reveladas).

A ocorrência simultânea do aparecimento do Senhor e o eclipse lunar indica a missão característica do Senhor. Essa missão era pregar a importância do canto dos santos nomes do Senhor nesta era de Kali (desavença). Nesta era atual, a desavença acontece mesmo por causa de ninharias, e por isso os shastras recomendam para esta era uma plataforma comum para a realização, a saber, cantar os santos nomes do Senhor. As pessoas podem se reunir para glorificar o Senhor em suas línguas respectivas e com canções melodiosas, se essas reuniões forem feitas de forma sem ofensas, é certeza que os participantes alcançarão gradualmente a perfeição espiritual sem precisarem se submeter a métodos mais rigorosos. Nessas reuniões, todos, o educado e o tolo, o rico e o pobre, os hindus e os islâmicos, os ingleses e os indianos, e os chandalas e os brahmanas, podem ouvir os sons transcendentais e assim limparem a poeira da associação material do espelho do coração. Para confirmar a missão do Senhor, todas as pessoas do mundo aceitarão o santo nome do Senhor como a plataforma comum para a religião universal da humanidade. Em outras palavras, o advento do santo nome aconteceu junto com o advento do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu.

Quando o Senhor estava no colo de Sua mãe, parava de chorar imediatamente quando as senhoras que estavam em volta Dele cantavam os santos nomes e batiam palmas. Esse incidente peculiar era observado pelos vizinhos com admiração e veneração. Algumas vezes as meninas mais jovens gostavam de fazer o Senhor chorar para depois fazê-Lo parar com o canto do santo nome. Assim, desde Sua tenra infância o Senhor começou a pregar a importância do santo nome. Durante Sua infância, o Senhor Sri Chaitanya era conhecido como Nimai. Esse nome foi dado por Sua querida mãe porque o Senhor nasceu em baixo de uma árvore nimba (ou nima) no quintal de Sua casa paterna.

Quando houve a oferenda de comida sólida ao Senhor com a idade de seis meses na cerimônia de anna-prasada, o Senhor indicou Suas atividades futuras. Nessa ocasião, era costume oferecer à criança moedas e livros a fim de obter alguma indicação das tendências futuras da criança. Ofereceram ao Senhor num lado as moedas e no outro, o Srimad Bhagavatam. O Senhor aceitou o Srimad Bhagavatam em vez das moedas.

Quando era apenas um bebê que engatinhava no quintal, um dia apareceu uma serpente na frente do Senhor, e o Senhor começou a brincar com ela. Todas as pessoas da casa ficaram apavoradas e aterrorizadas, mas em pouco tempo a serpente foi embora, e o bebê foi pego por Sua mãe. Certa vez, Ele foi levado por um ladrão que queria roubar Seus ornamentos, mas o Senhor fez uma viagem agradável no ombro do ladrão confuso, que procurava um local solitário para roubar o bebê. Aconteceu que o ladrão, que vagava de lá para cá, finalmente chegou bem em frente à casa de Jagannatha Mishra e, com medo de ser pego, deixou o bebê imediatamente. Claro que os pais e parentes aflitos ficaram felizes de verem a criança perdida.

Certa vez, um brahmana peregrino foi recebido na casa de Jagannatha Mishra, e quando foi oferecer comida ao Supremo Senhor, o Senhor apareceu perante ele e compartilhou a comida preparada. Os alimentos tiveram que ser rejeitados pois a criança havia tocado neles, por isso o brahmana teve que fazer outra preparação. Na próxima vez, aconteceu a mesma coisa, e depois que isso aconteceu repetidamente pela terceira vez, o bebê foi finalmente posto no berço. E lá pela meia noite quando todas as pessoas da casa dormiam profundamente dentro de seus quartos fechados, o brahmana peregrino ofereceu seus alimentos especialmente preparados para a Deidade, e, do mesmo jeito, o Senhor bebê apareceu perante o peregrino e estragou suas oferendas. O brahmana então começou a chorar, mas como todos dormiam profundamente, ninguém pôde ouvi-lo. Nesse momento, o Senhor apareceu perante o brahmana afortunado e revelou Sua identidade como o Próprio Krishna. O brahmana foi proibido de revelar esse incidente, e o bebê retornou para o colo de Sua mãe.

Há muitos incidentes similares em Sua infância. Como um menino travesso, Ele às vezes costumava brincar com os brahmanas ortodoxos que tinham o hábito de se banharem no Ganges. Quando os brahmanas reclamavam com Seu pai que Ele espirrava água neles em vez de ir para a escola, o Senhor aparecia subitamente perante Seu pai como se tivesse chegado da escola com todo Seu uniforme escolar e livros. No local de balneário ghata, Ele também costumava brincar com as meninas da vizinhança que se dedicavam à adoração do Senhor Shiva com a esperança de obterem bons esposos. Isso é uma prática comum entre as meninas solteiras de famílias hindus. Enquanto elas se dedicavam a essa adoração, o Senhor aparecia espirituoso perante elas e dizia, "Minhas queridas irmãs, dêem a Mim todas as oferendas que vocês trouxeram agora para o Senhor Shiva. O Senhor Shiva é Meu devoto, e Parvati é Minha serva. Se vocês Me adorarem, o Senhor Shiva e todos os outros semideuses ficarão mais satisfeitos". Algumas delas se recusavam a obedecer ao Senhor espirituoso, e Ele as amaldiçoava por causa de sua recusa a se casarem com homens velhos que já têm sete filhos com suas esposas prévias. Por medo e às vezes por amor, as meninas também ofereciam a Ele vários itens, então o Senhor as abençoava e garantia que elas teriam jovens esposos muito bons e seriam mães de dúzias de filhos. As bênçãos animavam as meninas, mas elas sempre reclamavam a suas mães sobre esses incidentes.

Dessa forma, o Senhor passou Sua infância. Quando tinha apenas dezesseis anos, começou Sua própria chatuspathi (escola do povoado dirigida por um brahmana erudito). Nessa escola, Ele somente explicava Krishna, mesmo nas leituras de gramática. Srila Jiva Goswami, a fim de agradar o Senhor, mais tarde compôs uma gramática em sânscrito, na qual, todas as regras de gramática são explicadas com exemplos que usam os santos nomes do Senhor. Essa gramática ainda está em uso. É conhecida como Hari-namamrita-vyakarana e é prescrita nos programas de estudo das escolas na Bengala.

Naquela época, um grande erudito da Caxemira chamado Keshava Kashmiri veio a Navadwip para presidir discussões sobre os shastras. O pandita da Caxemira era um erudito campeão, e tinha viajado por todos os lugares de conhecimento da Índia. Finalmente, ele veio a Navadwip para confrontar os grandes panditas de lá. Os panditas de Navadwip decidiram confrontar Nimai Pandita (Senhor Chaitanya) com o pandita da Caxemira, pois achavam que se Nimai Pandita fosse derrotado, teriam outra chance de debater com o erudito, porque Nimai Pandita era apenas um menino. E se o pandita da Caxemira fosse derrotado, seriam glorificados mais ainda porque as pessoas iriam proclamar que um simples rapaz de Navadwip derrotou um erudito campeão, famoso na Índia inteira. Aconteceu que Nimai Pandita encontrou Keshava Kashmiri quando passeava na beira do Ganges. O Senhor pediu que ele compusesse um verso em sânscrito em louvor ao Ganges, e o pandita em pouco tempo compôs cem slokas, recitou os versos como uma tempestade e assim exibiu o poder de seu vasto conhecimento. Nimai Pandita memorizou todos os slokas imediatamente sem nenhum erro. Ele citou o sloka sessenta e quatro e apontou certas irregularidades retóricas e literárias. Ele questionou especificamente o uso que o pandita fez da palavra bhavani-bhartuh. Ele mostrou que o uso dessa palavra era redundante. Bhavani significa a esposa do Senhor Shiva, e quem mais pode ser seu bharta, ou esposo? Ele também mostrou várias outras discrepâncias, e o pandita da Caxemira ficou maravilhado. Ele ficou atônito de ver como um mero estudante de gramática pôde apontar os erros literários de um grande catedrático erudito. Apesar dessa ocorrência ter acontecido antes de qualquer encontro público, a notícia se espalhou como fogo selvagem por toda Navadwip. Porém, finalmente, Keshava Kashmiri foi ordenado num sonho por Sarasvati, a deusa do conhecimento, a se render ao Senhor, e assim, o pandita da Caxemira se tornou seguidor do Senhor.

O Senhor então Se casou com grande pompa e alegria, e nessa época, Ele começou a pregar o canto congregacional do santo nome do Senhor em Navadwip. Alguns brahmanas ficaram com inveja da popularidade Dele, por isso colocaram vários obstáculos em Seu caminho. Ficaram com tanta inveja que finalmente levaram o assunto perante o magistrado islâmico de Navadwip. A Bengala era então governada pelos Pathans, e o governador da província era Nawab Hussain Shah. O magistrado islâmico de Navadwip levou a sério as reclamações dos brahmanas, e primeiramente advertiu os seguidores de Nimai Pandita a não cantarem alto o nome de Hari. Mas o Senhor Chaitanya pediu para Seus seguidores desobedecerem às ordens do Kazi, e continuaram com o seu festival sankirtana (canto) como de costume. O magistrado então mandou policiais que interromperam um sankirtana e quebraram algumas mridangas (tambores). Quando Nimai Pandita ouviu sobre esse incidente, organizou um partido para desobediência civil. Ele é o pioneiro do movimento de desobediência civil na Índia pela causa justa. Ele organizou uma procissão de cem mil homens com milhares de mridangas e karatalas (címbalos de mão), e essa procissão passou pelas ruas de Navadwip em desafio ao Kazi que emitiu a ordem. Finalmente a procissão chegou à casa do Kazi, que foi para o andar superior com medo da multidão. A grande multidão reunida em frente à casa do Kazi mostrava um temperamento violento, mas o Senhor pediu que fossem pacíficos. Nesse momento, o Kazi desceu e tentou acalmar o Senhor ao chamá-Lo de sobrinho. Ele observou que Nilambara Chakravarti se referia a ele como um tio, e em conseqüência, Srimati Shachidevi, a mãe de Nimai Pandita, era sua irmã. Ele perguntou ao Senhor se o filho de sua irmã podia ficar bravo com Seu tio materno, e o Senhor respondeu já que o Kazi era Seu tio materno, deveria receber bem seu sobrinho em sua casa. Dessa forma, a questão foi mitigada, e os dois catedráticos eruditos começaram uma longa discussão sobre o Alcorão e os Shastras da Índia. O Senhor levantou a questão da matança da vaca, e o Kazi respondeu propriamente a Ele com referência ao Alcorão. O Kazi por sua vez questionou o Senhor sobre o sacrifício de vacas nos Vedas, e o Senhor respondeu que esse sacrifício mencionado nos Vedas não é matança de vaca realmente. Nesse sacrifício, um touro velho ou vaca velha é sacrificado com o propósito de receber uma nova vida mais jovem pelo poder dos mantras Védicos. Mas em Kali-yuga esses sacrifícios de vaca são proibidos porque não existem brahmanas qualificados capazes de conduzir um sacrifício desses. De fato, em Kali-yuga, todos os yajñas (sacrifícios) são proibidos porque são tentativas inúteis de pessoas tolas. Em Kali-yuga, somente o sankirtana yajña é recomendado para todos os propósitos práticos. Assim, com Suas explicações, o Senhor finalmente convenceu o Kazi, que se tornou Seu seguidor. O Kazi declarou daí em diante que ninguém deveria impedir o movimento sankirtana que foi iniciado pelo Senhor, e o Kazi deixou essa ordem em seu testamento para seus descendentes. O túmulo do Kazi ainda existe na área de Navadwip, e os peregrinos indianos vão lá prestar seus respeitos. Os descendentes do Kazi são residentes, e nunca se opuseram ao sankirtana, mesmo durante os dias de conflito entre indianos e islâmicos.

Esse incidente mostra claramente que o Senhor não era um assim chamado Vaishnava tímido. Um Vaishnava é um devoto destemido do Senhor, e pela causa justa, ele pode tomar qualquer passo adequado ao propósito. Arjuna também era um devoto Vaishnava do Senhor Krishna, e lutou valentemente para a satisfação do Senhor. Similarmente, Vajrangaji, ou Hanuman, também era um devoto do Senhor Rama, e deu lições ao partido de não devotos de Ravana. Os princípios do Vaishnavismo são satisfazer o Senhor por todos os meios. Um Vaishnava é por natureza um ser vivo não violento e pacífico, e possui todas as qualidades de Deus, mas quando um não devoto blasfema o Senhor ou Seu devoto, o Vaishnava nunca tolera tal impudência.

Depois desse incidente, o Senhor começou a pregar e propagar Seu Bhagavata-dharma, ou movimento sankirtana, mais vigorosamente, e quem quer que fosse contra essa propagação do yuga-dharma, ou dever da Era, era propriamente punido com vários tipos de castigo. Dois senhores brahmanas chamados Chapala e Gopala, que também eram tios maternos do Senhor, sofreram com lepra como meio de punição, e mais tarde, quando se arrependeram, foram aceitos pelo Senhor. No curso de Seu trabalho de pregação, Ele costumava mandar diariamente todos os Seus seguidores, inclusive Srila Nityananda Prabhu e Thakura Haridasa, dois condutores principais de Seu partido, de porta em porta para pregarem o Srimad Bhagavatam. Toda Navadwip estava cheia com Seu movimento sankirtana, e Seu quartel general era na casa de Shrivasa Thakura e Sri Adwaita Prabhu, dois de Seus discípulos pais de família principais. Esses dois líderes eruditos da comunidade brahmana eram os sustentadores mais ardentes do movimento do Senhor Chaitanya. Sri Adwaita Prabhu é a causa principal do advento do Senhor. Quando Adwaita Prabhu viu que a totalidade da sociedade humana estava repleta de atividades materialistas e desprovida do serviço devocional, que somente pode salvar a humanidade das três misérias da existência material, Ele, devido à Sua compaixão sem causa pela sociedade humana senil, orou fervorosamente pela encarnação do Senhor e continuamente adorou o Senhor com água do Ganges e folhas da árvore sagrada Tulasi. Em relação ao trabalho no movimento sankirtana, era esperado que todos fizessem sua parte diária de acordo com a ordem do Senhor.

Certa vez, Nityananda Prabhu e Srila Haridasa Thakura andavam por uma rua principal, e viram no caminho uma multidão reunida em alvoroço. Depois de perguntarem a transeuntes, entenderam que os dois irmãos, chamados Jagai e Madhai, causavam uma perturbação pública em estado de embriaguez. Eles também ouviram que esses dois irmãos nasceram numa família brahmana respeitável, mas por causa de companhia inferior, eles se transformaram em libertinos do pior tipo. Eles não eram somente bêbados mas também comedores de carne, caçadores de mulheres, dacoits (ladrões) e pecadores de toda espécie. Srila Nityananda Prabhu ouviu todas essas histórias e decidiu que essas duas almas caídas deveriam ser as primeiras a serem liberadas. Se eles fossem liberados de suas vidas pecaminosas, então o bom nome do Senhor Chaitanya seria glorificado mais ainda. Com essa idéia, Nityananda Prabhu e Haridasa abriram seu caminho na multidão e pediram aos dois irmãos para cantarem o santo nome do Senhor Hari. Os irmãos bêbados ficaram irritados com esse pedido e atacaram Nityananda Prabhu com linguagem obscena. Os dois irmãos os seguiram por uma distância considerável. À noite, o relato do trabalho de pregação foi submetido ao Senhor, e Ele ficou feliz de saber que Nityananda e Haridasa tentaram liberar aquele par de sujeitos estúpidos.

No dia seguinte, Nityananda Prabhu foi ver os dois irmãos, e logo que Se aproximou, um deles atirou um pedaço de pote de barro Nele. Isso acertou Sua testa, e o sangue começou a jorrar imediatamente. Mas Nityananda Prabhu era tão bom que em vez de protestar contra esse ato hediondo, Ele disse, "não importa que vocês atiraram esta pedra em Mim. Eu ainda peço para vocês cantarem o santo nome do Senhor Hari".

Um dos irmãos, Jagai, ficou admirado de ver o comportamento de Nityananda Prabhu, e caiu a Seus pés imediatamente e pediu a Ele que perdoasse seu irmão pecaminoso. Quando Madhai tentou ferir Nityananda Prabhu novamente, Jagai o impediu e implorou que ele caísse aos pé Dele. Nesse momento, a notícia do ferimento de Nityananda chegou ao Senhor, que imediatamente partiu para o local num humor feroz e furioso. O Senhor invocou imediatamente Sua sudarshana-chakra, (a arma suprema do Senhor, que tem forma parecida com uma roda) para matar os pecadores, mas Nityananda Prabhu lembrou o Senhor sobre Sua missão. A missão do Senhor era liberar as almas caídas sem esperança de Kali-yuga, e os irmãos Jagai e Madhai eram dois exemplos típicos dessas almas caídas. Noventa por cento da população desta Era parece com esses irmãos, apesar de alto nascimento e respeitabilidade mundana. Segundo o veredito das escrituras reveladas, a totalidade da população do mundo nesta Era será da qualidade shudra mais baixa, ou mesmo mais baixa ainda. Deve-se notar que Sri Chaitanya Mahaprabhu nunca reconheceu o sistema de casta estereotipado por nascimento; em vez disso, Ele seguiu estritamente o veredito dos shastras sobre o swarupa próprio de cada um, ou identidade real.

Quando o Senhor invocou Sua sudarshana-chakra e Srila Nityananda Prabhu implorou para Ele perdoar os dois irmãos, ambos os irmãos caíram aos pés de lótus do Senhor e imploraram por Seu perdão devido a seu comportamento grosseiro. O Senhor também foi solicitado por Nityananda Prabhu para aceitar essas almas arrependidas, e o Senhor concordou em aceitá-los com uma condição, que de agora em diante abandonassem suas atividades pecaminosas e hábitos depravados. Ambos os irmãos concordaram e prometeram abandonar todos seus hábitos pecaminosos, e o bondoso Senhor os aceitou e nunca mais mencionou os malfeitos passados deles.

Essa é a bondade específica do Senhor Chaitanya. Nesta Era, ninguém pode dizer que está livre do pecado. É impossível que alguém diga isso. Mas o Senhor Chaitanya aceita todos os tipos de pessoas pecaminosas com a única condição de que prometam não ceder mais a hábitos pecaminosos depois de serem iniciadas por um mestre espiritual fidedigno.

Há vários pontos instrutivos para serem observados nesse incidente dos dois irmãos. Nesta Kali-yuga, praticamente todo mundo é da qualidade de Jagai e Madhai. Se quiserem ser aliviados das reações de seus malfeitos, devem se abrigar no Senhor Chaitanya Mahaprabhu e depois da iniciação espiritual, devem abster-se das coisas que são proibidas nos shastras. As regras de proibição são tratadas dentro dos ensinamentos do Senhor para Srila Rupa Goswami.

Durante Sua vida de casado, o Senhor não exibiu muitos milagres como geralmente se espera de tais personalidades, mas certa vez, Ele realizou um maravilhoso milagre na casa de Srinivasa Thakura quando o sankirtana estava no auge do balanço. Ele perguntou o que os devotos queriam comer, e quando foi informado que queriam comer mangas, Ele pediu um caroço da fruta, apesar de estar fora da época. Quando trouxeram o caroço, Ele o semeou no quintal de Srinivasa, e imediatamente começou a crescer um broto do caroço. Em pouco tempo, esse broto virou uma mangueira plenamente crescida, carregada com mais frutas maduras do que os devotos puderam comer. A árvore permaneceu no quintal de Srinivasa, e desde então os devotos costumavam pegar quantas mangas quisessem da mangueira.

O Senhor tinha muita alta estima pela afeição das donzelas de Vrajabhumi (Vrindavana) por Krishna, e em consideração ao serviço imaculado delas para o Senhor, certa vez, Sri Chaitanya Mahaprabhu cantou os nomes das gopis (meninas pastoras de vacas) em vez dos nomes do Senhor. Nesse momento, alguns de Seus alunos, que também eram discípulos, vieram vê-Lo, e viram que o Senhor cantava os nomes das gopis, ficaram surpresos. Por pura tolice, eles questionaram porque o Senhor cantava os nomes das gopis e O advertiram a cantar o nome de Krishna. O Senhor, que estava em êxtase, foi assim perturbado por esses alunos tolos. Ele os repreendeu e os mandou embora. Os alunos tinham quase a mesma idade do Senhor, por isso pensaram erroneamente que o Senhor era um de seus iguais. Eles fizeram uma reunião e decidiram atacar o Senhor se Ele ousasse puni-los novamente dessa forma. Esse incidente provocou comentários maliciosos sobre o Senhor por parte do público em geral.

Quando o Senhor soube disso, começou a considerar os vários tipos de homens encontrados na sociedade. Ele notou que especialmente os estudantes, professores, trabalhadores lucrativos, yogis, não devotos, e vários tipos de ateístas eram todos contrários ao serviço devocional do Senhor. "Minha missão é liberar todas as almas caídas desta Era", pensou Ele, "mas se cometerem ofensas contra Mim, por pensarem que sou um homem ordinário, não serão beneficiadas. Se estão prestes a começar sua vida de realização espiritual, precisam de uma forma ou outra oferecer reverências a Mim". Por isso, o Senhor decidiu aceitar a ordem de vida da renúncia (sannyasa) porque as pessoas em geral eram inclinadas a respeitar um sannyasi.

Quinhentos anos atrás, a condição da sociedade não era tão degradada quanto hoje. Naquela época, as pessoas costumavam respeitar um sannyasi, e o sannyasi era rígido no cumprimento das regras e regulamentos da ordem de vida da renúncia. Sri Chaitanya Mahaprabhu não era muito a favor da ordem de vida da renúncia nesta Era de Kali, isso pelo motivo que apenas poucos sannyasis são capazes de cumprir as regras e regulamentos da vida sannyasa. Sri Chaitanya Mahaprabhu decidiu aceitar a ordem e se tornar um sannyasi ideal para que a população em geral pudesse respeitá-Lo. Todos têm obrigação de respeitar um sannyasi, porque o sannyasi é considerado o mestre de todos os varnas e ashramas.

Enquanto Ele contemplava aceitar a ordem sannyasa, aconteceu que Keshava Bharati, um sannyasi da escola Mayavadi e residente de Katwa (na Bengala), visitou Navadwip e foi convidado a jantar com o Senhor. Quando Keshava Bharati chegou à Sua casa, o Senhor pediu-lhe para conceder a ordem de vida sannyasa a Ele. Isso foi uma questão de formalidade. A ordem sannyasa deve ser aceita de outro sannyasi. Apesar de ser independente em todos os aspectos, mesmo assim, para manter as formalidades dos shastras, o Senhor aceitou a ordem sannyasa de Keshava Bharati, apesar de Keshava Bharati não ser da Vaishnava-sampradaya (escola).

Depois de consultar Keshava Bharati, o Senhor partiu de Navadwip para Katwa a fim de aceitar formalmente a ordem de vida sannyasa. Ele foi acompanhado de Srila Nityananda Prabhu, Chandrashekhara Acharya e Mukunda Datta. Esses três assistiram ao Senhor nos detalhes da cerimônia. O incidente quando o Senhor aceitou a ordem sannyasa é descrito com muito esmero no Chaitanya-bhagavata de Srila Vrindavana dasa Thakura.

Assim, no final de Seu vigésimo quarto ano, o Senhor aceitou a ordem de vida sannyasa no mês de Magha. Depois de aceitar essa ordem, Ele Se tornou um pregador completo do Bhagavata-dharma. Embora fizesse o mesmo trabalho de pregação de Sua vida de casado, quando experimentou alguns obstáculos em Sua pregação, sacrificou até mesmo o conforto de Sua vida doméstica para o bem das almas caídas. Em Sua vida de casado, Seus assistentes principais eram Srila Adwaita Prabhu e Srila Shrivasa Thakura, porém, depois que aceitou a ordem sannyasa, Seus assistentes principais se tornaram Srila Nityananda Prabhu, que foi delegado a pregar especificamente na Bengala, e os seis Goswamis (Rupa Goswami, Sanatana Goswami, Jiva Goswami, Gopala Bhatta Goswami, Raghunatha dasa Goswami e Raghunatha Bhatta Goswami), liderados por Srila Rupa e Sanatana, que foram delegados a irem para Vrindavana a fim de escavar os locais de peregrinação presentes. A presente cidade de Vrindavana e a importância de Vrajabhumi foram reveladas pelo desejo do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu.

O Senhor, depois de aceitar a ordem sannyasa, queria partir imediatamente para Vrindavana. Ele viajou durante três dias seguidos pelo Radha-desha (locais onde o Ganges não flui). Ele estava em pleno êxtase com a idéia de ir para Vrindavana. Entretanto, Srila Nityananda desviou Seu caminho e em vez disso O trouxe à casa de Adwaita Prabhu em Shantipura. O Senhor ficou na casa de Sri Adwaita Prabhu por alguns dias, e por saber muito bem que o Senhor deixava Seu núcleo e lar para sempre, Sri Adwaita Prabhu mandou Seu pessoal a Navadwip a fim de trazer a mãe Shachi para ter um último encontro com seu filho. Algumas pessoas inescrupulosas dizem que o Senhor Chaitanya também encontrou Sua esposa depois de aceitar sannyasa e ofereceu a ela Seus chinelos de madeira para adoração, mas as fontes autênticas não dão nenhuma informação sobre esse suposto encontro. Sua mãe O encontrou na casa de Adwaita Prabhu, e quando viu seu filho em sannyasa, lamentou. E por acordo, ela pediu que seu filho fizesse Seu quartel general em Puri para ela ter fácil acesso a informações sobre Ele. O Senhor concordou com esse último desejo de Sua querida mãe. Depois desse incidente, o Senhor partiu para Puri, e deixou todos os habitantes de Navadwip imersos num oceano de lamentação por causa da separação Dele.

O Senhor visitou muitos lugares importantes no caminho para Puri. Ele visitou o templo de Gopinathaji, que roubou leite condensado para Seu devoto Srila Madhavendra Puri. Desde então, a Deidade de Gopinathaji ficou famosa como Kshira-chora-gopinatha. O Senhor apreciou essa história com grande prazer. A propensão de roubar existe até mesmo na consciência absoluta, mas porque essa propensão é exibida pelo Absoluto, perde sua natureza pervertida e assim se torna adorável até pelo Senhor Chaitanya com base na consideração absoluta que o Senhor e Sua propensão a roubar são o mesmo e idênticos. Essa história interessante de Gopinathaji é explicada vividamente no Chaitanya Charitamrita de Krishnadasa Kaviraja Goswami.

[N.T.: Quero observar que muitos locais da Índia mudaram de nome à medida que foi resgatando sua própria identidade, mas vou manter a fidelidade às descrições de Prabhupada, que descreveu vividamente tão bem os vários locais por onde o Senhor Chaitanya passou, no maravilhoso Sri Chaitanya Charitamrita. Exemplos: Orissa = Odisha; Calcutá = Kolkata; Bombaim = Mumbai; Navadwip = Nabadwip; Kataka = Cuttack; e assim por diante. Hoje em dia, com o Google Maps, é muito fácil ver tudo isso].

Depois de visitar o templo Kshira-chora-gopinatha de Remuna em Balasore, Orissa, o Senhor prosseguiu para Puri e no caminho visitou o templo de Sakshi-gopala, que apareceu como testemunha no caso de uma disputa familiar entre dois brahmanas devotos. O Senhor ouviu a história de Sakshi-gopala com muito prazer porque Ele queria impressionar os ateístas que as Deidades adoradas nos templos aprovadas pelos grandes acharyas não são ídolos, como alegam as pessoas com um pobre fundo de conhecimento. A Deidade no templo é uma encarnação archa da Personalidade de Deus, portanto, a Deidade é idêntica ao Senhor em todos os aspectos. Ele responde na proporção do afeto que o devoto tem por Ele. Na história de Sakshi-gopala, onde houve um desentendimento familiar entre dois devotos do Senhor, o Senhor, a fim de mitigar a confusão e também mostrar favor específico para Seus servidores, viajou de Vrindavana a Vidyanagara, uma vila em Orissa, na forma de Sua encarnação archa. De lá, a Deidade foi trazida para Cuttack, e assim o templo de Sakshi-gopala até hoje é visitado por milhares de peregrinos no caminho para Jagannatha Puri. No caminho, Seu bastão de sannyasi foi quebrado por Nityananda Prabhu. O Senhor ficou aparentemente bravo com Ele por causa disso e foi para Puri sozinho, e deixou Seus companheiros para trás.

Em Puri, quando entrou no templo de Jagannatha, Ele ficou imediatamente saturado de êxtase transcendental e caiu no chão do templo inconsciente. Os zeladores do templo não podiam entender as proezas transcendentais do Senhor, mas havia um grande pandita chamado Sarvabhauma Bhattacharya, que estava presente, e pôde entender que o fato do Senhor perder Sua consciência ao entrar no templo de Jagannatha não era uma coisa comum. Sarvabhauma Bhattacharya, que era o pandita principal indicado na corte pelo rei de Orissa, Maharaja Prataparudra, ficou atraído pelo brilho juvenil do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu e pôde entender que um transe transcendental desse tipo era raramente exibido, e somente pelos devotos mais elevados que já estão no plano transcendental com esquecimento completo da existência material. Somente uma alma liberada poderia exibir tal proeza, e o Bhattacharya, que era altamente erudito, pôde entender isso sob a luz da literatura transcendental com a qual era muito familiarizado. Por isso, ele pediu aos zeladores do templo para não perturbarem o sannyasi desconhecido. Ele pediu que levassem o Senhor para sua casa para que pudesse ser mais bem observado em Seu estado inconsciente. O Senhor foi levado imediatamente para a casa de Sarvabhauma Bhattacharya, que naquela época tinha poder de autoridade suficiente por ser o sabha-pandita, ou catedrático decano oficial das Literaturas em Sânscrito. O pandita erudito queria testar minuciosamente os feitos transcendentais do Senhor Chaitanya porque freqüentemente devotos inescrupulosos imitam proezas físicas com o propósito de ostentar conquistas transcendentais a fim de atrair pessoas inocentes e tirar proveito delas. Um acadêmico erudito como o Bhattacharya pode detectar esses impostores, e quando os descobre, pode rejeitá-los imediatamente.

No caso do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, o Bhattacharya testou todos os sintomas sob a luz dos shastras. Ele testou como um cientista, não como um tolo sentimentalista. Ele observou o movimento do estômago, as batidas do coração e a respiração pelas narinas. Ele também mediu o pulso do Senhor e viu que todas as Suas atividades corpóreas estavam em completa suspensão. Quando pôs uma mecha de algodão perto das narinas, ele viu que havia uma leve respiração pois as fibras finas do algodão se moviam suavemente. Assim, ele soube que o transe inconsciente do Senhor era genuíno, e começou a tratá-Lo do modo prescrito. Mas o Senhor Chaitanya Mahaprabhu só podia ser tratado de forma especial. Ele só respondia ao ressoar dos santos nomes do Senhor pelos Seus devotos. Esse tratamento especial era desconhecido por Sarvabhauma Bhattacharya porque o Senhor ainda era desconhecido para Ele. Quando o Bhattacharya O viu pela primeira vez no templo, apenas O considerou como um dos muitos peregrinos.

Nesse meio tempo, os companheiros do Senhor, que chegaram ao templo logo depois Dele, ouviram sobre os feitos transcendentais do Senhor e que Ele foi levado pelo Bhattacharya. Os peregrinos no templo ainda comentavam sobre o incidente. Mas por acaso, um desses peregrinos se encontrou com Gopinatha Acharya, que era conhecido por Gadadhara Pandita, e dele souberam que o Senhor estava deitado em estado inconsciente na residência de Sarvabhauma Bhattacharya, que por acaso era cunhado de Gopinatha Acharya. Todos os membros do partido foram apresentados por Gadadhara Pandita a Gopinatha Acharya, que levou todos eles à casa do Bhattacharya onde o Senhor estava deitado inconsciente num transe espiritual. Todos os membros então cantaram bem alto o santo nome do Senhor Hari como de costume, e o Senhor recobrou Sua consciência. Depois disso, o Bhattacharya recebeu todos os membros do partido, inclusive o Senhor Nityananda Prabhu, e pediu que se tornassem seus convidados de honra. O partido, inclusive o Senhor, foram tomar um banho de mar, e o Bhattacharya organizou a residência e refeições deles na casa de Kashi Mishra. Gopinatha Acharya, seu cunhado, também ajudou. Houve algumas conversas amigáveis sobre a divindade do Senhor entre os dois cunhados, e nesse argumento Gopinatha Acharya, que conheceu o Senhor antes, agora tentava estabelecer o Senhor como a Personalidade de Deus, e o Bhattacharya tentava estabelecê-Lo como um dos grandes devotos. Ambos argumentavam do ângulo de visão dos shastras autênticos e não pela força da "vox populi" [voz do povo] sentimental. As encarnações de Deus são determinadas nos shastras autênticos e não por votos populares de fanáticos tolos. Porque o Senhor Chaitanya é uma encarnação de Deus de fato, fanáticos tolos proclamam tantas assim chamadas encarnações de Deus nesta Era sem referência às escrituras autênticas. Mas Sarvabhauma Bhattacharya ou Gopinatha Acharya não se entregavam a esse sentimentalismo tolo; ao contrário, ambos tentaram estabelecer ou rejeitar Sua divindade com a força dos shastras autênticos.

Mais tarde, descobriu-se que o Bhattacharya também veio da região de Navadwip, e compreendeu-se dele que Nilambara Chakravarti, o avô materno do Senhor Chaitanya, era colega de classe do pai de Sarvabhauma Bhattacharya. Nesse sentido, o jovem sannyasi Senhor Chaitanya evocou a afeição paternal do Bhattacharya. O Bhattacharya foi professor de muitos sannyasis na ordem da Shankaracharya-sampradaya, e ele próprio pertencia a esse culto. Assim, o Bhattacharya desejou que o jovem sannyasi Senhor Chaitanya também ouvisse dele sobre os ensinamentos do Vedanta.

Aqueles que são seguidores do culto de Shankara geralmente são conhecidos como Vedantistas. Isso não significa, entretanto, que Vedanta é um estudo monopólio da Shankara-sampradaya. O Vedanta é estudado por todas as sampradayas fidedignas, mas cada uma tem suas próprias interpretações. Porém os da Shankara-sampradaya geralmente são conhecidos como ignorantes sobre os Vedantistas Vaishnavas. Por esse motivo, o título Bhaktivedanta foi oferecido primeiro ao autor pelos Vaishnavas.

[N.T.: Jaya Prabhupada! Presto minhas humildes reverências a meu amado Gurudev, Sua Divina Graça Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada, Paramahamsa Thakura Mahashaya. Prabhupada é energia interna do Senhor Chaitanya Mahaprabhu (Shaktyavesha-avatara do Senhor Nityananda Prabhu), ele nos presenteou com o Tesouro inigualável e ilimitado da Consciência de Krishna. Por sua divina graça, podemos ouvir a Verdade Absoluta diretamente da Suprema Personalidade de Deus, Sri Chaitanya Mahaprabhu].

O Senhor concordou em tomar lições do Bhattacharya sobre o Vedanta, e eles se sentaram juntos no templo do Senhor Jagannatha. O Bhattacharya falou continuamente durante sete dias, e o Senhor o ouviu com toda a atenção e não interrompeu. O silêncio do Senhor gerou algumas dúvidas no coração do Bhattacharya, e ele perguntou ao Senhor por que Ele não fez nenhuma pergunta ou comentário sobre suas explicações sobre o Vedanta.

O Senhor Se posicionou perante o Bhattacharya como um estudante tolo que fingiu ouvir o Vedanta dele porque o Bhattacharya achava que isso era dever de um sannyasi. Mas o Senhor não concordava com as aulas dele. Assim, o Senhor indicou que os ditos Vedantistas entre a Shankara-sampradaya, ou qualquer outra sampradaya que não segue as instruções de Srila Vyasadeva, são estudantes mecânicos do Vedanta. Eles não têm ciência plena sobre esse grande conhecimento. A explanação do Vedanta-sutra é dada pelo próprio autor no texto do Srimad Bhagavatam. Quem não tem conhecimento sobre o Bhagavatam dificilmente será capaz de saber o que o Vedanta diz.

O Bhattacharya, como era um homem de conhecimento vasto, conseguiu entender os comentários sarcásticos do Senhor sobre os Vedantistas populares. Por isso, perguntou por que Ele não fez nenhuma pergunta sobre qualquer ponto que não pôde entender. O Bhattacharya conseguiu entender o propósito de Seu silêncio mortal durante os dias que o ouviu. Isso mostrou claramente que o Senhor tinha algo a mais em mente; assim, o Bhattacharya pediu-Lhe para revelar Sua mente.

Com esse pedido, o Senhor falou como se segue: "Meu querido senhor, Eu posso entender o significado de sutras como janmady asya yatah, sastra-yonitvat, e athato brahma jijñasa do Vedanta-sutra, mas quando você os explica do seu jeito fica muito difícil para Eu entendê-los. O propósito dos sutras já está explicado dentro deles, mas suas explicações os encobrem com alguma outra coisa. Você deliberadamente não toma o significado direto dos sutras mas indiretamente dá suas próprias interpretações".

O Senhor assim atacou todos os Vedantistas que interpretam o Vedanta-sutra à sua própria moda, de acordo com seu poder limitado de pensamento, para servir a seus propósitos pessoais. Essas interpretações indiretas das literaturas autênticas como o Vedanta-sutra são condenadas aqui pelo Senhor.

O Senhor continuou: "Srila Vyasadeva resumiu o significado direto dos mantras dos Upanishads no Vedanta-sutra. Infelizmente, você não toma seu significado direto. Você os interpreta de uma forma diferente".

"A autoridade dos Vedas é imutável e determinada sem nenhuma questão de dúvida. E tudo que é afirmado nos Vedas deve ser aceito completamente, senão a pessoa desafia a autoridade dos Vedas".

"O búzio e o estrume da vaca são osso e fezes de dois seres vivos. Entretanto, porque são recomendados nos Vedas como puros, as pessoas os aceitam dessa forma por causa da autoridade dos Vedas".

A idéia é que ninguém pode estabelecer sua razão imperfeita sobre a autoridade dos Vedas. As ordens dos Vedas devem ser obedecidas da forma como se apresentam, sem nenhum raciocínio mundano. Os ditos seguidores dos regulamentos Védicos fazem suas próprias interpretações dos regulamentos Védicos, e assim estabelecem diferentes partidos e seitas da religião Védica. O Senhor Buddha negou diretamente a autoridade dos Vedas, e estabeleceu sua própria religião. E por esse motivo, a religião Budista não é aceita pelos seguidores estritos dos Vedas. Mas aqueles que são ditos seguidores dos Vedas são mais prejudiciais do que os Budistas. Os Budistas têm a coragem de negar os Vedas diretamente, mas os supostos seguidores dos Vedas não têm coragem de negar os Vedas, embora indiretamente desobedeçam a todos regulamentos dos Vedas. O Senhor Chaitanya condenou isso.

O exemplo dado pelo Senhor do búzio e do estrume de vaca é muito apropriado a esse respeito. Alguém pode argumentar se o estrume de vaca é puro, as fezes de um brahmana erudito são mais puras ainda, esse argumento não vai ser aceito. Estrume de vaca é aceito, e fezes de um brahmana de alto posto são rejeitadas. O Senhor continuou:

"Os regulamentos Védicos são auto autorizados, e se alguma criatura mundana ajustar as interpretações dos Vedas, ela desafia sua autoridade. É tolice achar que alguém é mais inteligente do que Srila Vyasadeva. Ele já se expressou em seus sutras, e não há necessidade da ajuda de personalidades de menor importância. Seu trabalho, o Vedanta-sutra, é tão brilhante quanto o sol de meio-dia, e quando alguém tenta dar suas próprias interpretações sobre o brilhante como o sol Vedanta-sutra que tem brilho próprio, tenta cobrir o Sol com a nuvem da sua imaginação".

"Os Vedas e Puranas são únicos e iguais em propósito. Eles determinam a Verdade Absoluta, que é maior do que tudo mais. A Verdade Absoluta é realizada ultimamente como a Absoluta Personalidade de Deus com poder de controle absoluto. Por isso, a Absoluta Personalidade de Deus deve ser completamente plena de opulência, poder, fama, beleza, conhecimento e abnegação. Mesmo assim, a Personalidade de Deus transcendental é espantosamente determinada como impessoal".

"A descrição impessoal da Verdade Absoluta nos Vedas é dada para anular o conceito mundano do todo absoluto. As características pessoais do Senhor são completamente diferentes de todos os tipos de características mundanas. Os seres vivos são todos pessoas individuais, e todos são partes e parcelas do todo supremo. Se as partes e parcelas são seres individuais, a fonte de sua emanação não pode ser impessoal. Ele é a Pessoa Suprema entre todas as pessoas relativas".

"Os Vedas nos informam que Dele (Brahman) tudo emana, e Nele tudo repousa. E depois da aniquilação, tudo se absorve somente Nele. Portanto, Ele é o último receptáculo, causador e conservador, causa de todas as causas. E essas causas não podem ser atribuídas a um objeto impessoal".

"Os Vedas nos informam que somente Ele Se torna muitos, e quando Ele assim deseja, lança Seu olhar sobre a natureza material. Portanto, evidência dos Vedas prova que sem nenhuma dúvida o Senhor tem olhos transcendentais e uma mente transcendental. Eles não são materiais. Sua impessoalidade portanto é uma negação da Sua materialidade, mas não uma negação de Sua personalidade transcendental".

"Brahman se refere finalmente à Personalidade de Deus. Realização do Brahman impessoal é justamente o conceito negativo das criações mundanas. Paramatma é o aspecto localizado do Brahman dentro de todos os tipos de corpos materiais. Em última instância, a realização do Brahman Supremo é a realização da Personalidade de Deus de acordo com toda evidência das escrituras reveladas. Ele é a fonte última dos vishnu-tattvas".

"Os Puranas também são suplementares dos Vedas. Os mantras Védicos são muito difíceis para as pessoas comuns. Mulheres, shudras, e falsos duas-vezes-nascidos de castas superiores são incapazes de penetrar no sentido dos Vedas. Por isso, o Mahabharata bem como os Puranas são feitos de forma fácil para explicar as verdades dos Vedas. Em suas preces perante o menino Sri Krishna, Brahma disse que não há limite para a fortuna dos habitantes de Vrajabhumi liderados por Sri Nanda Maharaja e Yashodamayi porque a Verdade Absoluta eterna Se tornou seu parente íntimo".

"Os mantras Védicos mantêm que a Verdade Absoluta não tem pernas nem mãos e mesmo assim vai mais rápido que todos e aceita tudo que é oferecido a Ele com devoção. As últimas citações sugerem definitivamente os aspectos pessoais do Senhor, embora Suas mãos e pernas sejam distintas das mãos e pernas mundanas e outros sentidos".

"Brahman, portanto, nunca é impessoal, mas quando esses mantras são interpretados indiretamente, pensa-se erroneamente que a Verdade Absoluta é impessoal. A Verdade Absoluta Personalidade de Deus é plena de todas as opulências, e por isso Ele tem uma forma transcendental de existência, conhecimento e bem-aventurança plenos. Como então, alguém pode estabelecer a Verdade Absoluta como impessoal"?

"O Brahman, por ser pleno de opulências, é compreendido como possuidor de muitas energias, e todas essas energias são classificadas em três títulos sob a autoridade do Vishnu Purana (6.7.60), o qual afirma que as energias transcendentais do Senhor Vishnu são três primariamente. Sua energia espiritual e a energia dos seres vivos são classificadas como energia superior, enquanto a energia material é a inferior que brota da ignorância".

"A energia dos seres vivos é tecnicamente chamada de energia kshetrajña. Essa kshetrajña-shakti, embora seja igual em qualidade ao Senhor, torna-se dominada pela energia material por causa da ignorância e por isso sofre todos os tipos de misérias materiais. Em outras palavras, os seres vivos são localizados na energia marginal entre as energias superior (espiritual) e inferior (material), e na proporção do contato do ser vivo com as energias material ou espiritual, o ser vivo está situado proporcionalmente em níveis mais alto ou mais baixo de existência".

"O Senhor está além das energias inferior e marginal como mencionado acima, e Sua energia espiritual é manifesta em três fases: Como existência eterna, bem-aventurança eterna e conhecimento eterno. No que diz respeito à existência eterna, é conduzida pela potência sandhini; similarmente, bem-aventurança e conhecimento são conduzidos pelas potências hladini e samvit respectivamente. Como o Senhor supremo energético, Ele é o supremo controlador das energias espiritual, marginal e material. E todos esses diferentes tipos de energias são conectados ao Senhor com serviço devocional eterno".

"A Suprema Personalidade de Deus assim desfruta em Sua forma transcendental eterna. Não é impressionante que alguém ouse chamar o Supremo Senhor de não energético? O Senhor é o controlador de todas as energias, e os seres vivos são partes e parcelas de uma dessas energias. Portanto, existe um abismo de diferença entre o Senhor e os seres vivos. Como alguém pode dizer que o Senhor e os seres vivos são idênticos e iguais? No Bhagavad-gita também, os seres vivos são descritos como pertencentes à energia superior do Senhor. De acordo com os princípios da correlação íntima entre a energia e o energético, ambos também não são diferentes".

"Terra água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e ego são todas energias inferiores do Senhor; mas as entidades vivas são diferentes de todas como energia superior. Essa é a versão do Bhagavad-gita (7.4)".

"A forma transcendental do Senhor é eternamente existente e plena de bem-aventurança transcendental. Como uma forma dessas pode ser produto do modo da bondade material? Qualquer um, portanto, que não acredita na forma do Senhor é certamente um demônio incrédulo e por isso, intocável, uma "persona non grata" que não deve ser vista, digna de ser punida pelo rei de Plutão".

"Os Budistas são considerados ateístas porque não têm respeito pelos Vedas, mas aqueles que desafiam as conclusões Védicas, como mencionado acima, com o pretexto de serem seguidores dos Vedas, são muito mais perigosos que os Budistas".

"Srila Vyasadeva muito gentilmente compilou o conhecimento Védico em seu Vedanta-sutra, mas se alguém ouvir o comentário da escola Mayavada (como representada pela Shankara-sampradaya) certamente será desviado do caminho da realização espiritual".

"A teoria das emanações é a matéria inicial do Vedanta-sutra. Todas as manifestações cósmicas são emanações da Personalidade de Deus Absoluta por meio de Suas várias energias inconcebíveis. O exemplo da pedra filosofal é aplicável à teoria da emanação. A pedra filosofal pode transformar uma quantidade ilimitada de ferro em ouro, e mesmo assim, a pedra filosofal permanece como ela é. Similarmente, o Supremo Senhor pode produzir todos os mundos manifestos por meio de Suas energias inconcebíveis, e ainda assim Ele é pleno e imutável. Ele é purna (completo), e apesar de vários purnas emanarem Dele, Ele ainda é purna".

"A teoria da ilusão da escola Mayavada é defendida com base que a teoria da emanação causará uma transformação na Verdade Absoluta. Se isso fosse verdade, Vyasadeva estaria errado. Para evitar isso, eles habilmente lançaram a teoria da ilusão. Mas o mundo ou criação cósmica não é falso, como sustentado pela escola Mayavada. Ele simplesmente não tem existência permanente. Algo não permanente, não pode ser chamado de falso ao mesmo tempo. Mas o conceito de que o corpo material é o eu com certeza está errado".

"O pranava (om), ou o omkara nos Vedas, é o hino primordial. Esse som transcendental é idêntico à forma do Senhor. Todos os hinos Védicos são baseados nesse pranava omkara. Tat tvam asi é apenas uma palavra lateral nas literaturas Védicas, e por isso essa palavra não pode ser o hino primordial dos Vedas. Sripada Shankaracharya deu mais ênfase a uma palavra lateral tat tvam asi do que ao princípio primordial omkara".

[N.T.: Essas explicações divinas do Senhor Chaitanya sobre a Verdade Absoluta são descritas vividamente no maravilhoso Sri Chaitanya Charitamrita de Srila Prabhupada, e também no maravilhoso "Ensinamentos do Senhor Chaitanya" de Srila Prabhupada. O maravilhoso Srimad Bhagavatam, também de Prabhupada, descreve em detalhes toda a Filosofia da Verdade Absoluta, achintya-bhedabheda-tattva. Toda essa explicação filosófica maravilhosa do Senhor Chaitanya foi compilada por Prabhupada no "Ensinamentos do Senhor Chaitanya"].

O Senhor então falou dessa forma sobre o Vedanta-sutra e desafiou toda a propaganda da escola Mayavada. O Bhattacharya tentou se defender e sua escola Mayavada com malabarismo de lógica e gramática, mas o Senhor o derrotou com Seus argumentos substanciosos. Ele afirmou que todos nós somos relacionados com a Personalidade de Deus eternamente e o serviço devocional é nossa função eterna nos intercâmbios dos procedimentos de nossas relações. O resultado desses intercâmbios é alcançar prema, ou amor de Deus. Quando o amor de Deus é alcançado, amor por todos os outros seres segue automaticamente porque o Senhor é a soma total de todos os seres vivos.

O Senhor disse que além desses três itens, a saber, relação eterna com Deus, intercâmbio de procedimentos com Ele e o alcance do amor por Ele, tudo que é instruído nos Vedas é supérfluo e forjado.

O Senhor acrescentou mais ainda que a filosofia Mayavada ensinada por Sripada Shankaracharya é uma explicação imaginária dos Vedas, mas teve que ser ensinada por ele (Shankaracharya) porque foi ordenado pela Personalidade de Deus a ensinar isso. O Padma Purana afirma que a Personalidade de Deus ordenou o Senhor Shiva a desviar a raça humana Dele (a Personalidade de Deus). A Personalidade de Deus tinha de ser encoberta dessa forma para que as pessoas fossem encorajadas a gerar mais e mais população. O Senhor Shiva disse à Devi: "Em Kali-yuga, Eu vou pregar a filosofia Mayavada, o que é nada mais do que Budismo disfarçado, na forma de um brahmana".

Depois de ouvir todas essas explicações do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu, o Bhattacharya ficou maravilhado e admirado e olhou para Ele em silêncio mortal. O Senhor então o encorajou e assegurou que não havia motivo para admiração. "Eu digo que serviço devocional à Personalidade de Deus é o objetivo máximo da vida humana". Então, Ele citou um sloka do Bhagavatam e o assegurou que mesmo as almas liberadas que estão absortas no espírito e na realização espiritual também aceitam o serviço devocional do Senhor Hari porque a Personalidade de Deus possui qualidades tão transcendentais que atrai o coração até mesmo das almas liberadas também.

Então o Bhattacharya desejou ouvir a explicação do sloka "atmarama" do Bhagavatam (1.7.10). O Senhor pediu para o Bhattacharya explicar primeiro, para Ele explicar depois. O Bhattacharya então explicou o sloka de forma acadêmica com referência especial à lógica. Ele explicou o sloka de nove formas diferentes principalmente, baseado em lógica porque ele era o mais renomado acadêmico de lógica da época.

O Senhor, depois de ouvir o Bhattacharya, agradeceu-o pela apresentação acadêmica do sloka, e depois, a pedido do Bhattacharya, o Senhor explicou o sloka em sessenta e quatro formas sem tocar nas nove explicações dadas pelo Bhattacharya.

Depois de ouvir a explicação do verso atmarama do Senhor, o Bhattacharya se convenceu que uma apresentação tão erudita assim é impossível para uma criatura terrestre. Anteriormente, Sri Gopinatha Acharya tentou convencê-lo da divindade do Senhor, mas naquele momento, ele não pôde aceitá-Lo dessa forma. Mas o Bhattacharya ficou surpreendido com a exposição do Senhor sobre o Vedanta-sutra e as explicações sobre o sloka atmarama, e assim ele começou a pensar que tinha cometido uma grande ofensa aos pés de lótus do Senhor por não reconhecê-Lo como o Próprio Krishna em pessoa. Então, ele se rendeu ao Senhor, muito arrependido pelo seu comportamento anterior com Ele, e o Senhor foi bondoso o bastante para aceitar o Bhattacharya. Por Sua misericórdia sem causa, o Senhor manifestou perante ele primeiro Sua forma de Narayana com quatro braços e depois novamente o Senhor Krishna de duas mãos com uma flauta em Sua mão.

O Bhattacharya então caiu imediatamente aos pés de lótus do Senhor e compôs muitos slokas em louvor ao Senhor por Sua graça. Ele compôs quase cem slokas em louvor ao Senhor. O Senhor então o abraçou, e por causa do êxtase transcendental, o Bhattacharya perdeu a consciência do estado físico da vida. Lágrimas, tremor, palpitação do coração, transpiração, ondas emocionais, dançar, cantar e chorar, e todos os oito sintomas de transe se manifestaram no corpo do Bhattacharya. Sri Gopinatha Acharya ficou muito feliz e admirado com essa conversão maravilhosa do seu cunhado pela graça do Senhor.

Dos cem slokas célebres compostos pelo Bhattacharya em louvor ao Senhor, os dois seguintes são os mais importantes, estes dois slokas explicam a missão do Senhor em essência:

1. Eu me rendo à Personalidade de Deus que apareceu como o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ele é o oceano de toda a misericórdia e descendeu para nos ensinar desapego material, conhecimento e serviço devocional a Ele próprio.

2. Porque o serviço devocional ao Senhor se perdeu no esquecimento do tempo, o Senhor apareceu para renovar os princípios, e por isso eu presto minhas reverências a Seus pés de lótus.

O Senhor explicou a palavra mukti como equivalente à palavra Vishnu, ou à Personalidade de Deus. Obter mukti, ou liberação do cativeiro da existência material, é obter o serviço ao Senhor.

O Senhor então partiu em direção ao Sul da Índia por algum tempo e converteu todos que encontrou pelo caminho a se tornarem devotos do Senhor Sri Krishna. Esses devotos converteram muitos outros ao culto do serviço devocional, ou o Bhagavata-dharma do Senhor, e assim chegou à beira do Godavari, onde Se encontrou com Srila Ramananda Raya, o governador de Madras nomeado por Maharaja Prataparudra, rei de Orissa. Suas conversas com Ramananda Raya são muito importantes para a realização mais elevada do conhecimento transcendental, e a conversação em si forma um livro pequeno. Entretanto, daremos aqui um resumo da conversa.

[N.T.: Esse encontro divino do Senhor Chaitanya com Srila Ramananda Raya é descrito vividamente no maravilhoso Sri Chaitanya Charitamrita de Srila Prabhupada, que foi publicado mais tarde, em 1975].

Sri Ramananda Raya é uma alma auto-realizada, apesar de externamente pertencer a uma casta inferior à brahmana no status social. Ele não estava na ordem de vida da renúncia, e além do mais, ele era um alto servidor do governo do estado. Mesmo assim, Sri Chaitanya Mahaprabhu o aceitou como uma alma liberada com o poder da alta ordem de sua realização do conhecimento transcendental. Similarmente, o Senhor aceitou Srila Haridasa Thakura, um devoto veterano do Senhor que veio de uma família islâmica. E há também muitos outros grandes devotos do Senhor que vieram de diferentes comunidades, seitas e castas. O único critério do Senhor era o padrão do serviço devocional da pessoa especificamente. Ele não estava preocupado com a vestimenta externa da pessoa; Ele estava preocupado somente com a alma interior e suas atividades. Portanto, deve-se entender que todas as atividades missionárias do Senhor estão no plano espiritual, e assim, o culto de Sri Chaitanya Mahaprabhu, ou o culto de Bhagavata-dharma, não tem nada a ver com assuntos mundanos, sociologia, política, desenvolvimento econômico, ou qualquer coisa dessa esfera de vida. O Srimad Bhagavatam é o anseio transcendental puro da alma.

Quando Ele encontrou Sri Ramananda Raya na margem do Godavari, o varnashrama-dharma seguido pelos indianos foi mencionado pelo Senhor. Srila Ramananda Raya disse que por seguir os princípios do varnashrama-dharma, o sistema de quatro castas e quatro ordens de vida humana, qualquer um pode realizar a Transcendência. Na opinião do Senhor, o sistema de varnashrama-dharma é apenas superficial, e tem muito pouco a ver com a realização mais elevada dos valores espirituais. A perfeição mais elevada da vida é obter desapego do apego material e realizar proporcionalmente o serviço amoroso transcendental ao Senhor. A Personalidade de Deus reconhece um ser vivo que progride nessa linha. Serviço devocional, portanto, é o auge da cultura de todo conhecimento. Quando o Senhor Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, apareceu para liberar todas as almas caídas, Ele aconselhou a liberação de todos os seres vivos como se segue. A Suprema Personalidade Absoluta de Deus, de quem todos os seres vivos emanam, deve ser adorada por meio de todos os seus compromissos respectivos, porque tudo que nós vemos também é a expansão de Sua energia. Esse é o caminho da perfeição verdadeira, e é aprovado por todos os acharyas fidedignos do passado e do presente. O sistema de varnashrama é mais ou menos baseado nos princípios da moral e da ética. Assim, há muito pouca realização da Transcendência, e o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu o rejeitou por ser superficial e pediu a Ramananda Raya para se aprofundar na matéria.

Sri Ramananda Raya então sugeriu renúncia das ações lucrativas ao Senhor. O Bhagavad-gita (9.27) aconselha a esse respeito: "Qualquer coisa que você fizer, qualquer coisa que você comer e qualquer coisa que você der, bem como o que você realizar em penitência, ofereça somente a Mim". Essa dedicação por parte do trabalhador sugere que a Personalidade de Deus é um degrau superior ao do conceito impessoal do sistema varnashrama, mas mesmo assim, a relação do ser vivo com o Senhor não é distinta dessa forma. O Senhor por isso rejeitou essa proposição e pediu para Ramananda Raya ir adiante.

Raya então sugeriu renúncia ao varnashrama-dharma e aceitação do serviço devocional. O Senhor também não aprovou essa sugestão pelo motivo que alguém não pode renunciar de repente sua posição, porque isso pode não trazer o resultado desejado.

Raya sugeriu ainda mais que a obtenção da realização espiritual livre do conceito de vida material é a conquista mais elevada para o ser vivo. O Senhor rejeitou essa sugestão também porque sob o apelo dessa realização espiritual muito dano foi forjado por pessoas inescrupulosas; por isso que de repente não é possível. O Raya então sugeriu a companhia sincera de almas auto-realizadas e ouvir com submissão a mensagem transcendental dos passatempos da Personalidade de Deus. Essa sugestão foi bem-vinda pelo Senhor. Essa sugestão foi feita por seguir os passos de Brahmaji, quem disse que a Personalidade de Deus é conhecida como ajita, ou aquele que não pode ser conquistado ou aproximado por qualquer um. Mas esse ajita também se torna jita (conquistado) por um método, que é muito simples e fácil. O método simples é que a pessoa tem que abandonar a atitude arrogante de se declarar como sendo o próprio Deus. A pessoa tem que ser humilde e submissa e tentar viver em paz por dedicar a audição às palestras das almas auto-realizadas transcendentalmente que pregam a mensagem do Bhagavata-dharma, ou a religião da glorificação ao Supremo Senhor e Seus devotos. Glorificar um grande homem é um instinto natural dos seres vivos, entretanto, eles não aprenderam a glorificar o Senhor. A perfeição da vida é alcançada simplesmente por glorificar o Senhor na companhia de um devoto auto-realizado do Senhor.
("A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna foi fundada para este propósito").

[N.T.: Srila Prabhupada afirmou que a ISKCON, ou International Society for Krishna Consciousness, era seu corpo, e não tem nada a ver com assuntos mundanos, como confirmado acima. Era simplesmente para as pessoas poderem praticar esse método simples da companhia do Devoto Amoroso Eterno do Senhor, e "OUVIR" dele sobre a Consciência de Krishna de Verdade. Hoje, podemos nos associar com os Vaishnavas Superiores (Devotos Premika) pela Divina Graça de Srila Prabhupada, através de Seu SOM DIVINO.
Na verdade, Srila Prabhupada nos ensinou um verso, também de nosso querido tataravô Srila Bhaktivinoda Thakur, composto em inglês, em homenagem a Srila Haridasa Thakura, o Nama-Acharya (mestre do cantar dos Santos Nomes), claro que o verso se aplica a todo o nosso Guru-Varga Sublime também:
Quem diz que um Vaishnava morre, está ruim da cabeça
Quando ainda em som vive!
O Vaishnava morre para viver, e em vida tenta
Propagar o santo nome em toda parte

A real é que todas essas personalidades divinas vivem nos corações dos devotos sinceros, todos eles estão sempre presentes. Também estão sempre presentes em seus livros sublimes, ou seja, em seu Som sublime].

O devoto auto-realizado é aquele que se rendeu plenamente ao Senhor e que não tem apego por prosperidade material. Prosperidade material e desfrute sensual e seu avanço são todas atividades da ignorância na sociedade humana. Paz e fraternidade são impossíveis em uma sociedade desapegada da companhia de Deus e Seus devotos. É imperativo, portanto, que a pessoa procure sinceramente a companhia de devotos puros e ouça [ou LEIA] deles com paciência e submissão de qualquer posição de vida. A posição da pessoa num estado superior ou inferior de vida não dificulta seu caminho para a auto-realização. A única coisa que a pessoa tem de fazer é ouvir [ou LER] de uma alma auto-realizada com um programa de rotina. O professor também pode dar aulas sobre as Literaturas Védicas, fiel aos passos dos acharyas antigos que realizaram a Verdade Absoluta. O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu recomendou esse método simples de auto-realização geralmente conhecido como Bhagavata-dharma. O Srimad Bhagavatam é o guia perfeito para esse propósito.

[N.T.: Temos a boa fortuna de nos associarmos com os devotos premika, companheiros eternos de Sri Chaitanya Mahaprabhu, pela misericórdia de Srila Prabhupada, através de seus livros sublimes, "O Bhagavad-gita como Ele é", Srimad-Bhagavatam, Sri Chaitanya-charitamrita, Néctar da Devoção, Néctar da Instrução, "O Livro de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus", e tantos outros. E também, Prabhupada nos deu o magnífico abrigo premika dos pés de lótus de seu irmão querido Srila Bhakti Rakshak Sridhar Dev-Goswami Maharaj, e todos outros seus irmãos e irmãs queridos, bem como todos meus irmãos e irmãs queridos também.
A instrução básica de Srila Prabhupada sobre o estudo do Shastra é a mesma de Sri Chaitanya Mahaprabhu, o Bhagavad-gita e o Srimad Bhagavatam são fundamentais. Sri Chaitanya Mahaprabhu veio filtrar, iluminar e ensinar o Srimad Bhagavatam na prática. O Sri Chaitanya-charitamrita de Srila Krishnadasa Kaviraja Goswami é reconhecidamente a literatura Gaudiya-Vaishnava principal e mais exaltada. Srila Prabhupada nos concedeu mais essa misericórdia sublime, ele se preocupou em publicar o Sri Chaitanya-charitamrita mesmo antes de completar o Srimad-Bhagavatam. Muitos livros dos acharyas gaudiya-vaishnava são confidenciais, e só podem ser lidos com a autorização do Guru. Srila Bhaktivinoda Thakur fala a esse respeito no seu Sri Chaitanya Shikshamritam: "Nem todos estão autorizados a lerem o Lila diário de Sri Radha-Krishna. Ele é extremamente maravilhoso e misterioso, e deve ser especialmente"...].

Acima desses tópicos discutidos pelo Senhor e Sri Ramananda Raya, ainda há conversas mais elevadas espiritualmente entre essas duas grandes personalidades, e omitimos esses tópicos de propósito no presente porque a pessoa precisa chegar ao plano espiritual primeiro antes de poder ouvir as conversas mais avançadas de Ramananda Raya. Nós apresentamos as conversas avançadas de Sri Ramananda Raya com o Senhor em outro livro (Ensinamentos do Senhor Chaitanya).

Na conclusão desse encontro, Sri Ramananda Raya foi aconselhado pelo Senhor a se aposentar do serviço e ir para Puri para que pudessem viver juntos e saborear uma relação transcendental. Pouco tempo depois, Sri Ramananda Raya se retirou do serviço do governo e recebeu uma pensão do rei. Ele retornou para sua residência em Puri, onde foi um dos devotos mais confidenciais do Senhor. Havia outro cavalheiro em Puri chamado Shikhi Mahiti, que também era um confidente como Ramananda Raya. O Senhor costumava ter conversas confidenciais sobre valores espirituais com três ou quatro companheiros em Puri, e Ele passou dezoito anos dessa forma em transe espiritual. Suas conversas foram registradas pelo Seu secretário particular Sri Damodara Goswami, um dos quatro devotos mais íntimos.

O Senhor viajou extensivamente por toda parte do Sul da Índia. O grande santo de Maharashtra conhecido como São Tukarama também foi iniciado pelo Senhor. São Tukarama, depois de ser iniciado pelo Senhor, inundou a Província de Maharashtra inteira com o movimento sankirtana, e a fluência transcendental ainda rola na parte sudoeste dessa grande península indiana.

O Senhor escavou no Sul da Índia duas literaturas antigas muito importantes, chamadas Brahma-samhita e Krishna-karnamrita, e esses dois livros preciosos são estudos autorizados para a pessoa na linha devocional. O Senhor então voltou para Puri depois de Sua viagem pelo Sul da Índia.

Depois de Sua volta para Puri, todos os devotos do Senhor ansiosos voltaram para suas vidas, e o Senhor permaneceu lá com passatempos contínuos das Suas realizações transcendentais. O incidente mais importante durante esse período foi Ele conceder audiência ao rei Prataparudra. O rei Prataparudra era um grande devoto do Senhor, e ele se considerava como um dos serventes do Senhor encarregado da varredura do templo. Essa atitude submissa do rei foi muito apreciada por Sri Chaitanya Mahaprabhu. O rei pediu a Bhattacharya e Raya para ambos providenciarem seu encontro com o Senhor. Entretanto, quando o Senhor foi solicitado pelos Seus dois grandes devotos, recusou terminantemente atender ao pedido, mesmo que foi feito por companheiros pessoais como Ramananda Raya e Sarvabhauma Bhattacharya. O Senhor sustentou que é perigoso para um sannyasi ter contato íntimo com homens de consciência mundana capitalista e com mulheres. O Senhor era um sannyasi ideal. Nenhuma mulher podia se aproximar do Senhor até mesmo para prestar reverências. Os assentos das mulheres eram acomodados bem longe do Senhor. Como um professor e acharya ideal, Ele era muito estrito no trabalho de rotina de um sannyasi. À parte de ser uma encarnação divina, o Senhor era um personagem ideal como um ser humano. Seu comportamento com outras pessoas também era acima de suspeita. Na Sua atitude como acharya, Ele era mais duro do que um raio e mais macio do que uma rosa. Um de Seus companheiros, Haridasa Júnior, cometeu um grande erro quando olhou com luxúria para uma jovem mulher. O Senhor como a Superalma pôde detectar essa luxúria na mente de Haridasa Júnior, que foi banido imediatamente da companhia do Senhor e nunca mais foi aceito, mesmo que o Senhor foi implorado para perdoar Haridasa pelo erro. Haridasa Júnior depois disso cometeu suicídio por ficar desprovido da companhia do Senhor, e a notícia do suicídio foi devidamente relatada ao Senhor. Mesmo nesse momento, o Senhor não esqueceu a ofensa, e disse que Haridasa tinha encontrado a punição apropriada devidamente.

Em relação aos princípios da vida de renúncia e disciplina, o Senhor não conhecia comprometimento, e por isso, Ele sabia que o rei era um grande devoto, mesmo assim recusou-Se a ver o rei, somente porque o rei era um homem de "dólar e centavo" [capitalista]. Com esse exemplo, o Senhor queria enfatizar o comportamento correto de um transcendentalista. Um transcendentalista não tem nada a ver com mulheres e dinheiro. Ele deve sempre evitar tais relacionamentos íntimos. Porém, o rei foi favorecido pelo Senhor por meio de um arranjo inteligente dos devotos. Isso quer dizer que um devoto querido do Senhor pode favorecer um neófito mais liberalmente do que o Senhor. Devotos puros, portanto, nunca cometem uma ofensa aos pés de outro devoto puro. Uma ofensa aos pés de lótus do Senhor algumas vezes é perdoada pelo Senhor misericordioso, mas uma ofensa aos pés de um devoto é muito perigosa para quem deseja progredir de verdade no serviço devocional.

Enquanto o Senhor permaneceu em Puri, milhares de Seus devotos costumavam vir vê-Lo durante o festival dos carros do Senhor Jagannatha, Ratha-yatra. E durante o festival dos carros, a lavagem do templo Gundicha sob a supervisão do Senhor era uma função muito importante. O movimento sankirtana congregacional do Senhor em Puri era uma exibição única para a massa de pessoas. Assim é o meio para direcionar a mente da massa para a realização espiritual. O Senhor inaugurou esse sistema de sankirtana de massa, e os líderes de todos os países podem aproveitar esse movimento espiritual a fim de manter a massa de pessoas num estado puro de paz e fraternidade um com o outro. Essa é a demanda atual da presente sociedade humana em todo o mundo.

Depois de algum tempo, o Senhor partiu novamente em Sua viagem, em direção ao Norte da Índia, e Ele decidiu visitar Vrindavana e seus lugares vizinhos. Ele passou pelas selvas de Jharikhanda (Madhya Bharata), e todos os animais selvagens também se juntaram ao Seu movimento sankirtana. Animais selvagens como tigres, elefantes, ursos e veados todos juntos acompanhavam o Senhor, e o Senhor os acompanhava em sankirtana. Dessa forma, Ele provou que com a propagação do movimento sankirtana (canto e glorificação congregacional do nome do Senhor) até mesmo os animais selvagens podem viver em paz e amizade, e o que dizer de seres humanos que são supostamente civilizados. Nenhuma pessoa no mundo recusará se juntar ao movimento sankirtana. Nem o movimento sankirtana do Senhor é restrito a qualquer casta, credo, cor ou espécie. Aqui está a evidência da grande missão Dele: Ele permitiu que até animais selvagens participassem de Seu grande movimento.

Em Seu caminho de volta de Vrindavana, Ele passou primeiro por Prayaga, onde Se encontrou com Rupa Goswami junto de seu irmão mais novo, Anupama. Depois Ele desceu para Benares. Por dois meses, Ele instruiu Sri Sanatana Goswami na ciência transcendental. A instrução a Sanatana Goswami é em si uma longa narração, e a apresentação completa da instrução não é possível aqui. As idéias principais são as seguintes.

Sanatana Goswami (anteriormente conhecido como Sakara Mallika) estava no serviço de gabinete do governo da Bengala sob o regime do Nawab Hussain Shah. Ele decidiu se juntar ao Senhor e assim se retirou do serviço. Em Seu caminho de volta de Vrindavana, quando chegou a Varanasi, o Senhor foi convidado de Sri Tapana Mishra e Chandrashekhara, auxiliado por um brahmana de Maharashtra. Naquela época, Varanasi era liderada por um grande sannyasi da escola Mayavada chamado Sripada Prakashananda Sarasvati. Quando o Senhor estava em Varanasi, as pessoas em geral ficaram mais atraídas ao Senhor Chaitanya Mahaprabhu por causa de Seu movimento sankirtana de massa. Qualquer lugar que Ele visitasse, especialmente o templo Visvanatha, milhares de peregrinos O seguiam. Alguns eram atraídos por Suas feições corpóreas, e outros eram atraídos por Suas canções melodiosas em glorificação ao Senhor.

Os sannyasis Mayavadis se designam como Narayana. Varanasi ainda está repleta de sannyasis Mayavadis. Algumas pessoas que viram o Senhor em Seu partido de sankirtana O consideravam como Narayana realmente, e essa notícia chegou ao acampamento do grande sannyasi Prakashananda.

Na Índia, sempre existe um tipo de rivalidade entre as escolas Mayavada e Bhagavata, por isso, quando a notícia do Senhor chegou a Prakashananda, ele sabia que o Senhor era um sannyasi Vaishnava, e assim minimizou o valor do Senhor para os que trouxeram a notícia a ele. Ele desaprovou as atividades do Senhor por causa da pregação de Seu movimento sankirtana, que em sua opinião era nada mais do que sentimentalismo religioso. Prakashananda era um estudante intenso do Vedanta, e aconselhou seus discípulos a prestarem atenção no Vedanta e não cederem ao sankirtana.

Um devoto brahmana, que se tornou devoto do Senhor, não gostou da crítica de Prakashananda, e foi até o Senhor expressar sua indignação. Ele disse ao Senhor que quando pronunciou o nome do Senhor perante o sannyasi Prakashananda, este criticou duramente o Senhor, apesar do brahmana ter ouvido Prakashananda pronunciar o nome Chaitanya várias vezes. O brahmana ficou admirado de ver que o sannyasi Prakashananda não conseguia vibrar o som Krishna nem uma vez, apesar de pronunciar o nome Chaitanya várias vezes.

O Senhor explicou com um sorriso ao devoto brahmana porque o Mayavadi não pode pronunciar o santo nome de Krishna. "Os Mayavadis são ofensores dos pés de lótus de Krishna, apesar de sempre pronunciarem brahma, atma, ou chaitanya, etc.. E porque são ofensores dos pés de lótus de Krishna, eles são na verdade incapazes de pronunciar o santo nome de Krishna. O nome Krishna e a Personalidade de Deus Krishna são idênticos. Não há diferença entre o corpo e a alma para a Personalidade de Deus, Krishna. Assim, Ele é diferente do ser vivo que é sempre diferente de seu corpo externo. Devido à posição transcendental de Krishna, é muito difícil uma pessoa leiga conhecer verdadeiramente a Personalidade de Deus, Krishna, Seu santo nome e fama, etc.. Seu nome, fama, forma e passatempos são todos da mesma identidade transcendental única e igual, e não são concebíveis por meio de exercício dos sentidos materiais".

"A relação transcendental dos passatempos do Senhor é fonte de muito mais bem-aventurança do que alguém pode experimentar com a realização de Brahman ou por se tornar uno com o Supremo. Se não fosse assim, aqueles que já estão situados na bem-aventurança transcendental do Brahman não seriam atraídos à bem-aventurança transcendental dos passatempos do Senhor".

Depois disso, os devotos do Senhor organizaram um grande encontro onde todos os sannyasis foram convidados, inclusive o Senhor e Prakashananda Sarasvati. Nesse encontro, os dois eruditos (o Senhor e Prakashananda) tiveram uma longa conversa sobre os valores espirituais do movimento sankirtana, e damos um resumo abaixo.

O grande sannyasi Mayavadi Prakashananda perguntou ao Senhor qual a razão Dele preferir o movimento sankirtana ao estudo do Vedanta-sutra. Prakashananda disse que é dever de um sannyasi ler o Vedanta-sutra. O que levou o Senhor a se entregar ao sankirtana?

Depois dessa pergunta, o Senhor respondeu submissamente: "Eu adotei o movimento sankirtana em vez de estudar o Vedanta porque sou um grande tolo". O Senhor assim Se apresentou como representante de inumeráveis tolos desta era que são absolutamente incapazes para o estudo da filosofia Vedanta. Quando tolos adotam o estudo do Vedanta, causam muito dano à sociedade. O Senhor então continuou: "E porque Eu sou um grande tolo, Meu mestre espiritual Me proibiu de brincar com a filosofia Vedanta. Ele disse que é melhor Eu cantar o santo nome do Senhor, pois isso vai Me liberar do cativeiro material".

"Nesta era de Kali não existe outra religião além da glorificação do Senhor pela pronúncia de Seu santo nome, e essa é a prescrição de todas as escrituras reveladas. E Meu mestre espiritual Me ensinou um sloka (do Brihan-Naradiya Purana)":

harer nama harer nama harer namaiva kevalam
kalau nasty eva nasty eva nasty eva gatir anyatha
(Cc. Adi 17.21)

"Por isso, pela ordem do Meu mestre espiritual, Eu canto o santo nome de Hari, e agora fiquei louco por esse santo nome. Sempre que pronuncio o santo nome, esqueço-Me de Mim completamente, e às vezes Eu rio, choro e danço como um louco. Eu pensei que tinha enlouquecido de verdade por causa desse processo de cantar, e assim perguntei a Meu mestre espiritual sobre isso. Ele Me informou que assim é o efeito real de cantar o santo nome, que produz uma emoção transcendental que é uma manifestação rara. É o sinal do amor de Deus, que é o objetivo último da vida. Amor de Deus é transcendental à liberação (mukti), e por isso é chamado de quinto estágio da realização espiritual, acima do estágio da liberação. Por cantar o santo nome de Krishna, a pessoa alcança o estágio do amor de Deus, e felizmente foi bom que Eu fui favorecido com essa bênção".

Ao ouvir essa afirmação do Senhor, o sannyasi Mayavadi perguntou ao Senhor qual era o mal de estudar o Vedanta junto do cantar do santo nome. Prakashananda Sarasvati sabia muito bem que o Senhor era conhecido anteriormente como Nimai Pandita, um grande catedrático erudito de Navadwip, e Ele se posicionar como um grande tolo, com certeza tinha algum propósito. Ao ouvir essa pergunta do sannyasi, o Senhor sorriu e disse: "Meu querido Senhor, se não se importa, vou responder sua pergunta".

Todos os sannyasis estavam muito satisfeitos com o Senhor por causa de Sua atitude honesta, e eles responderam unanimemente que não ficariam ofendidos com qualquer resposta que desse. Então o Senhor falou como se segue:

"O Vedanta-sutra consiste de palavras e sons transcendentais pronunciados pela Personalidade de Deus transcendental. Por isso, não pode haver no Vedanta qualquer uma das deficiências humanas como erro, ilusão, engano ou ineficiência. A mensagem dos Upanishads é expressa no Vedanta-sutra, e o que é dito ali diretamente é glorificado com certeza. Quaisquer interpretações dadas por Shankaracharya não têm sustentação direta no sutra, e por isso esse comentário estraga tudo".

"A palavra Brahman indica o maior de todos, que é pleno de opulências transcendentais, superior a todos. Brahman é ultimamente a Personalidade de Deus, e Ele está coberto por interpretações indiretas e estabelecido como impessoal. Tudo que está no mundo espiritual é pleno de bem-aventurança transcendental, inclusive a forma, corpo, local e parafernália do Senhor. Tudo é eternamente conhecedor e bem-aventurado. Não é falta do Acharya Shankara interpretar o Vedanta dessa forma, mas se alguém aceitar isso, então estará arruinado com certeza. Qualquer um que aceita o corpo transcendental da Personalidade de Deus como algo mundano certamente comete a maior blasfêmia".

O Senhor então falou para o sannyasi quase do mesmo jeito que Ele falou para o Bhattacharya de Puri, e com argumentos substanciosos Ele nulificou as interpretações Mayavada do Vedanta-sutra. Todos os sannyasis clamaram que o Senhor era os Vedas personificados e a Personalidade de Deus. Todos os sannyasis foram convertidos ao culto de bhakti, todos eles aceitaram o santo nome do Senhor Sri Krishna, e eles jantaram juntos com o Senhor no meio deles. Depois dessa conversão dos sannyasis, a popularidade do Senhor incrementou em Varanasi, e milhares de pessoas se reuniam para ver o Senhor em pessoa. O Senhor então estabeleceu a importância primeira do Srimad Bhagavata-dharma, e Ele derrotou todos os outros sistemas de realização espiritual. Depois disso, todo mundo em Varanasi ficou extasiado com o movimento sankirtana transcendental.

[N.T.: Quero lembrar que todos esses passatempos transcendentais do Senhor Chaitanya Mahaprabhu são descritos vividamente em detalhes no maravilhoso Sri Chaitanya Charitamrita de Srila Prabhupada, que foi publicado depois em 1975. Até a história completa de Haridasa Júnior, que depois foi "aliviado" pelo Senhor misericordioso. Aqui Srila Prabhupada dá ênfase ao exemplo pessoal do Senhor Chaitanya. O Senhor Chaitanya Mahaprabhu veio para ensinar pelo Seu exemplo pessoal].

 

Quando o Senhor estava acampado em Varanasi, Sanatana Goswami também chegou depois de se aposentar do gabinete. Ele foi anteriormente um dos ministros de estado do governo da Bengala, sob o regime do Nawab Hussain Shah. Ele teve um pouco de dificuldade para se livrar do serviço público, pois o Nawab foi relutante em autorizá-lo a sair. Porém depois, chegou a Varanasi, e o Senhor ensinou a ele os princípios do serviço devocional. Ele lhe ensinou sobre a posição constitucional do ser vivo, a causa de seu cativeiro sob condições materiais, sua relação eterna com a Personalidade de Deus, a posição transcendental da Suprema Personalidade de Deus, Suas expansões em diferentes porções plenárias de encarnações, Seu controle sobre as diferentes partes do universo, a natureza de Sua morada transcendental, atividades devocionais, seus diferentes estágios de desenvolvimento, as regras e regulamentos para o alcance dos estágios graduais da perfeição espiritual, os sintomas das encarnações nas diferentes eras, e como detectá-las com referência ao contexto das escrituras reveladas.

Os ensinamentos do Senhor a Sanatana Goswami formam um grande capítulo no texto do Sri Chaitanya Charitamrita, e explicar o texto inteiro em detalhes de minuto vai precisar de um volume próprio. Isso é tratado em detalhe no nosso livro Ensinamentos do Senhor Chaitanya.

Em Mathura, o Senhor visitou todos locais importantes; depois Ele chegou a Vrindavana. O Senhor Chaitanya apareceu na família de um brahmana de alta casta, e muito acima disso como sannyasi Ele era o preceptor de todos os varnas e ashramas. Mas Ele costumava aceitar refeições de todas as classes de Vaishnavas. Em Mathura, os brahmanas Sanodiya são considerados do status social inferior, mas o Senhor aceitou refeições na família desse brahmana também porque Seu anfitrião era nada menos do que um discípulo da família de Madhavendra Puri.

Em Vrindavana, o Senhor Se banhou em vinte e quatro locais de banho importantes e ghatas. Ele viajou por todas as doze vanas (florestas) importantes. Nessas florestas, todas as vacas e pássaros vinham Lhe dar as boas-vindas, como se Ele fosse seu velho amigo. O Senhor também começou a abraçar todas as árvores dessas florestas, e ao fazer isso, Ele sentia os sintomas do êxtase transcendental. Às vezes, Ele caia inconsciente, mas recobrava a consciência com o canto do santo nome de Krishna. Os sintomas transcendentais que eram vistos no corpo do Senhor durante Sua viagem dentro da floresta de Vrindavana eram todos únicos e inexplicáveis, e nós só demos uma sinopse.

[N.T.: Só para observar que o Senhor Chaitanya viajava a pé, descalço].

Alguns dos locais importantes visitados pelo Senhor em Vrindavana foram Kamyavana, Adishvara, Pavana-sarovara, Khadiravana, Sheshashayi, Khela-tirtha, Bhandiravana, Bhadravana, Shrivana, Lauhavana, Mahavana, Gokula, Kaliya-hrada, Dvadashaditya, Keshi-tirtha, etc.. Quando Ele viu o local onde a dança rasa acontecia, Ele caiu imediatamente em transe. Enquanto permaneceu em Vrindavana, Ele fez Seu quartel general em Akrura-ghata.

De Vrindavana, Seu ajudante pessoal Krishnadasa Vipra O induziu a voltar para Prayaga e tomar banho durante o Magha-mela. O Senhor aceitou essa proposta, e eles partiram para Prayaga. No caminho, encontraram alguns Pathans, entre os quais estava um Moulana erudito. O Senhor teve algumas conversas com o Moulana e seus companheiros, e o Senhor convenceu o Moulana que no Alcorão também há descrições do Bhagavata-dharma e Krishna. Todos os Pathans foram convertidos a Seu culto do serviço devocional.

Quando voltou a Prayaga, Srila Rupa Goswami e seu irmão mais novo O encontraram perto do templo Bindu-madhava. Dessa vez, o Senhor foi bem-vindo pelo povo de Prayaga mais respeitosamente. Vallabha Bhatta, que morava na outra margem de Prayaga na vila de Adaila, ia recebê-Lo em seu lar, mas quando ia para lá, o Senhor mergulhou no rio Yamuna. Com muita dificuldade, Ele foi resgatado em estado inconsciente. Finalmente, Ele visitou o local de Vallabha Bhatta. Esse Vallabha Bhatta era um dos Seus principais admiradores, porém mais tarde ele inaugurou seu próprio partido, a Vallabha-sampradaya.

Na margem do Dashashvamedha-ghata em Prayaga, por dez dias continuamente, o Senhor instruiu Rupa Goswami na ciência do serviço devocional ao Senhor. Ele ensinou ao Goswami as divisões das criaturas vivas em 8.400.000 espécies de vida. Depois Ele ensinou-lhe sobre as espécies humanas. Dessas, Ele discutiu os seguidores dos princípios Védicos, entre essas os trabalhadores lucrativos, entre essas os filósofos empíricos, e entre essas as almas liberadas. Ele disse que existem apenas muito poucos que são realmente devotos puros do Senhor Sri Krishna.

Srila Rupa Goswami era irmão mais novo de Sanatana Goswami, e quando ele se retirou do serviço, trouxe consigo dois barcos cheios de moedas de ouro. Isso quer dizer que trouxe consigo algumas centenas de milhares de Rúpias acumuladas pelo labor de seu serviço. E antes de deixar o lar para seguir o Senhor Chaitanya Mahaprabhu, ele dividiu a riqueza como se segue: cinqüenta por cento para o serviço do Senhor e Seus devotos, vinte e cinco por cento para seus familiares e vinte e cinco por cento para suas necessidades pessoais no caso de emergência. Dessa forma, ele estabeleceu um exemplo para todos os chefes de família.

O Senhor ensinou ao Goswami sobre serviço devocional, em comparação com uma planta, e o aconselhou a proteger a planta de bhakti muito cuidadosamente contra o elefante louco da ofensa contra os devotos puros. Além disso, a planta tem que ser protegida dos desejos por prazer sensual, liberação monista e perfeição do sistema hatha-yoga. Todos esses são prejudiciais no caminho do serviço devocional. Similarmente, violência contra seres vivos, e desejo de ganância mundana, acolhimento mundano e fama mundana são prejudiciais ao progresso de bhakti, ou Bhagavata-dharma.

Serviço devocional puro tem que ser livre de todos desejos por satisfação sensual, aspirações lucrativas e cultura do conhecimento monista. A pessoa tem que estar livre de todos os tipos de designações, e quando ela é assim convertida à pureza transcendental, poderá então servir ao Senhor com sentidos purificados.

Enquanto houver o desejo de desfrutar sensualmente ou se tornar uno com o Supremo ou possuir os poderes místicos, não há questão de alcançar o estágio de serviço devocional puro.

Serviço devocional é conduzido sob duas categorias, chamadas prática primária e emoção espontânea. Quando a pessoa pode se elevar à plataforma de emoção espontânea, pode fazer mais progresso pelo apego espiritual, sentimento, amor, e muitos estágios mais elevados da vida devocional para os quais não existem palavras em inglês [e português]. Nós tentamos explicar a ciência do serviço devocional em nosso livro "O Néctar da Devoção", baseado na autoridade do Bhakti-rasamrita-sindhu de Srila Rupa Goswami.

Serviço devocional transcendental tem cinco estágios de reciprocidade:

1. O estágio de auto-realização logo após a liberação do cativeiro material se chama shanta, ou estágio neutro.

2. Depois desse, quando acontece o desenvolvimento do conhecimento transcendental das opulências internas do Senhor, o devoto se ocupa no estágio dasya.

3. Quando o estágio dasya se desenvolve mais, uma fraternidade respeitosa com o Senhor se desenvolve, e acima disso, um sentimento de amizade em termos iguais se torna manifesto. Esses dois estágios se chamam estágio sakhya, ou serviço devocional em amizade.

4. Acima desse está o estágio de afeição paternal pelo Senhor, e é chamado de estágio vatsalya.

5. E acima desse está o estágio de amor conjugal, e esse estágio é chamado de estágio mais elevado do amor de Deus, embora não haja diferença em qualidade de qualquer estágio acima. O último estágio de amor conjugal por Deus se chama estágio madhurya.

Assim Ele instruiu Rupa Goswami na ciência devocional e o delegou a Vrindavana para escavar os locais perdidos dos passatempos transcendentais do Senhor. Depois disso, o Senhor retornou a Varanasi e liberou os sannyasis, e instruiu o irmão mais velho de Rupa Goswami. Já discutimos isso.

O Senhor deixou apenas oito slokas de Suas instruções por escrito, e eles são conhecidos como o Shikshastaka. Todas as outras literaturas do Seu culto divino foram escritas extensivamente pelos Seus seguidores principais, os seis Goswamis de Vrindavana, e seus seguidores. O culto da filosofia de Chaitanya é mais rico do que qualquer outro, e é admitido como a religião viva do presente com a potência para propagar visva-dharma, ou religião universal. Ficamos felizes que a matéria foi adotada por alguns sábios entusiastas como Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Maharaja e seus discípulos. Nós esperaremos ansiosamente pelos dias felizes de Bhagavata-dharma, ou prema-dharma, inaugurada pelo Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu.

[N.T.: Todas as Glórias à Sua Divina Graça Visvavarenya Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacharya Ashtottara-shata Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Srila Prabhupada Thakur Mahashaya, a encarnação do Senhor Nityananda Prabhu que presenteou o Mundo com a Consciência de Krishna do movimento sankirtana do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu].

[N.T.: Srila Bhaktivinoda Thakura ensina no Sri Chaitanya Shikshamritam que a "Era Dourada" do Senhor Chaitanya já começou há 530 anos, aproximadamente, só que por enquanto, no plano físico, é só para quem quer].

Os oito slokas escritos pelo Senhor são:

1

Glória ao sankirtana de Sri Krishna, que limpa o coração de toda poeira acumulada durante anos e extingue o fogo da vida condicionada, de repetidos nascimento e morte. Este movimento sankirtana é a bênção máxima para a humanidade em larga escala porque ele espalha os raios da Lua da bendição. É a vida de todo conhecimento transcendental. Incrementa o oceano de bem-aventurança transcendental, e nos capacita a saborear plenamente o néctar pelo qual estamos sempre ansiosos.

2

Ó meu Senhor, somente Seu santo nome pode conceder toda bênção para os seres vivos, e por isso o Senhor tem centenas de milhões de nomes como Krishna e Govinda. O Senhor investiu todas as Suas energias transcendentais nesses nomes transcendentais. E nem mesmo existem regras difíceis ou rígidas para cantar esses nomes. Ó meu Senhor, por Sua bondade nos capacitou a nos aproximar facilmente de Você por cantar Seus santos nomes, mas eu sou tão desventurado que não tenho atração por eles.

3

Deve-se cantar o santo nome do Senhor num estado mental de humildade, por considerar-se inferior a uma palha na rua; deve-se ser mais tolerante do que uma árvore, desprovido de todo senso de falso prestígio, e pronto para oferecer todo respeito aos outros. Nesse estado mental, a pessoa pode cantar o santo nome do Senhor constantemente.

4

Ó Senhor todo-poderoso, não tenho desejo de acumular riqueza, nem desejo belas mulheres, nem quero nenhum número de seguidores. Só quero Seu serviço devocional incondicionado nascimento após nascimento.

5

Ó filho de Nanda Maharaja (Krishna), sou Seu servo eterno, mas por algum motivo, caí no oceano de nascimento e morte, por favor, pegue-me deste oceano de morte e coloque-me como um dos átomos de Seus pés de lótus.

6

Ó meu Senhor, quando meus olhos ficarão decorados com lágrimas de amor a fluir constantemente quando eu cantar Seu santo nome? Quando minha voz ficará embargada, e quando os cabelos do meu corpo se arrepiarão com a recitação do Seu nome?

7

Ó Govinda! Por sentir Sua separação, considero um momento como doze anos ou mais. Lágrimas fluem de meus olhos como torrentes de chuva, e eu sinto tudo vazio no mundo na Sua ausência.

8

Não conheço ninguém além de Krishna como meu Senhor, e Ele permanecerá assim mesmo se me apertar fortemente com Seu abraço ou partir meu coração por não estar presente diante de mim. Ele é completamente livre para fazer qualquer coisa e tudo, porque Ele é sempre o meu Senhor adorável incondicionalmente.

 

[N.T.: Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada!].

Fim da Introdução

 

-.-

 

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Srimad Bhagavatam

(de Krishna Dwaipayana Vyasa - Srila Vyasadeva)

pela Divina Graça

de

Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

(Original Sem "Correções")

 

 

Primeiro Canto

"Criação"

Capítulo UM

Perguntas dos Sábios

 

Verso 1

om namo bhagavate vasudevaya
janmady asya yato 'nvayad itaratas carthesv abhijnah svarat
tene brahma hrda ya adi-kavaye muhyanti yat surayah
tejo-vari-mrdam yatha vinimayo yatra tri-sargo 'mrsa
dhamna svena sada nirasta-kuhakam satyam param dhimahi

Tradução

Ó meu Senhor, Sri Krishna, filho de Vasudeva, ó Personalidade de Deus todo-penetrante, eu ofereço minhas respeitosas reverências a Você. Eu medito no Senhor Sri Krishna porque Ele é a Verdade Absoluta e a causa primordial de todas as causas da criação, sustentação e destruição dos universos manifestos. Ele é consciente direta e indiretamente de todas as manifestações, e Ele é independente porque não existe nenhuma outra causa além Dele. Foi Ele quem primeiro concedeu o conhecimento Védico ao coração de Brahmaji, o ser vivo original. Por Ele, mesmo grandes sábios e semideuses são postos em ilusão, da mesma forma como alguém fica confuso pelas representações ilusórias de água vista no fogo, ou de terra vista na água. Somente por causa Dele, os universos materiais, temporariamente manifestos pelas reações dos três modos da natureza, parecem reais, apesar de irreais. Portanto, eu medito Nele, Senhor Sri Krishna, que é eternamente existente na morada transcendental, que é para sempre livre de todas as representações ilusórias do mundo material. Eu medito Nele, porque Ele é a Verdade Absoluta.

 

Iluminação de Srila Prabhupada:

Reverências à Personalidade de Deus, Vasudeva, indica diretamente o Senhor Sri Krishna, que é o filho divino de Vasudeva e Devaki. Esse fato será explicado mais explicitamente no texto desta obra. Sri Vyasadeva declara aqui que Sri Krishna é a Personalidade de Deus original, e todos os outros são direta ou indiretamente Suas porções plenárias ou porções da porção. Srila Jiva Goswami explicou ainda mais explicitamente essa matéria em seu Krishna-sandarbha. E Brahma, o ser vivo original, explicou o assunto sobre Sri Krishna substancialmente em sua obra chamada Brahma-samhita. No Sama-veda Upanishad, também é afirmado que o Senhor Sri Krishna é o filho divino de Devaki. Portanto, nesta prece, a primeira proposição sustenta que o Senhor Sri Krishna é o Senhor primordial, e se qualquer nomenclatura transcendental for entendida como pertencente à Personalidade de Deus Absoluta, deve ser o nome indicado pela palavra Krishna, que quer dizer o todo-atrativo. No Bhagavad-gita, em várias partes, o Senhor declara ser a Personalidade de Deus original, e isso é confirmado por Arjuna, e também por grandes sábios como Narada, Vyasa, e muitos outros. No Padma Purana, também é afirmado que dos inumeráveis nomes do Senhor, o nome de Krishna é o principal. Vasudeva indica a porção plenária da Personalidade de Deus, e todas as diferentes formas do Senhor, que são idênticas a Vasudeva, são indicadas neste verso. O nome Vasudeva indica particularmente o filho divino de Vasudeva e Devaki. Sri Krishna é sempre meditado pelos paramahamsas, que são os perfeitos entre aqueles que estão na ordem de vida renunciada. Vasudeva, ou Senhor Sri Krishna, é a causa de todas as causas. Tudo que existe emana do Senhor. Como isso é feito é explicado nos capítulos posteriores desta obra. Esta obra é descrita por Mahaprabhu Sri Chaitanya como o Purana imaculado porque contém a narração transcendental sobre a Personalidade de Deus Sri Krishna. A história do Srimad Bhagavatam também é muito gloriosa. A obra foi compilada por Sri Vyasadeva depois que atingiu a maturidade no conhecimento transcendental. Ele escreveu esta obra sob as instruções de Sri Naradaji, seu mestre espiritual. Vyasadeva compilou todas as literaturas Védicas, que contêm as quatro divisões dos Vedas, os Vedanta-sutras (ou os Brahma-sutras), os Puranas, o Mahabharata, e assim por diante. Mesmo assim, ele não estava satisfeito. Sua insatisfação foi observada por seu mestre espiritual, e por isso Narada o aconselhou a escrever sobre as atividades transcendentais do Senhor Sri Krishna. Essas atividades transcendentais são descritas especificamente no Décimo Canto desta obra. Porém, para alcançar essa substância, a pessoa tem que progredir gradualmente por desenvolver conhecimento das categorias.

É natural que uma mente filosófica queira saber sobre a origem da criação. À noite, ele vê as estrelas no céu, e naturalmente especula sobre seus habitantes. Essas indagações são naturais para os seres humanos porque o homem possui uma consciência desenvolvida que é superior à dos animais. O autor do Srimad Bhagavatam dá uma resposta direta para essas indagações. Ele afirma que o Senhor Sri Krishna é a origem de todas as criações. Ele não é somente o criador do universo, mas o destruidor também. A natureza cósmica manifesta é criada em certo período pela vontade do Senhor. É mantida por algum tempo, e depois é aniquilada por Sua vontade. Portanto, a vontade suprema está por trás de todas atividades cósmicas. Claro que há ateístas de várias categorias que não acreditam num criador, mas isso é por causa de seu pobre fundo de conhecimento. Os cientistas modernos, por exemplo, criaram satélites espaciais, e com algum arranjo ou outro, os satélites são lançados no espaço exterior para voarem por algum tempo sob o controle do cientista que está bem longe. Similarmente, todos os universos com inumeráveis estrelas e planetas são controlados pela inteligência da Personalidade de Deus.

As literaturas Védicas afirmam que a Verdade Absoluta, Personalidade de Deus, é o líder entre todas as personalidades vivas. Todos os seres vivos, a começar pelo primeiro ser vivo criado, Brahma, até a formiga mais insignificante, são seres vivos individuais. E acima de Brahma, ainda existem outros seres vivos com capacidades individuais, e a Personalidade de Deus também é um ser vivo similar. E Ele é um indivíduo da mesma forma que os outros seres vivos são. Mas o Supremo Senhor, ou o supremo ser vivo, possui a maior inteligência, e Ele possui as mais excelentes energias inconcebíveis de todas as diferentes variedades. Se o cérebro de uma pessoa pode produzir um satélite espacial, qualquer um pode imaginar facilmente que cérebros superiores ao humano podem produzir coisas maravilhosas desse tipo que são muito superiores. A pessoa sensata aceitará esse argumento facilmente, mas existem ateístas teimosos que nunca concordarão. Srila Vyasadeva, entretanto, aceita a inteligência suprema como o paramesvara. Ele presta suas respeitosas reverências à inteligência suprema denominada para ou o paramesvara ou a Suprema Personalidade de Deus. E esse paramesvara é Sri Krishna, como o Bhagavad-gita admite e outras escrituras concedidas por Sri Vyasadeva e especificamente neste Srimad Bhagavatam. No Bhagavad-gita, o Senhor diz que não existe outro para-tattva (summum bonum) do que Ele mesmo. Assim, Sri Vyasadeva imediatamente adora o para-tattva, Sri Krishna, cujas atividades transcendentais são descritas no Décimo Canto. Pessoas inescrupulosas vão imediatamente ao Décimo Canto e especialmente aos cinco capítulos que descrevem a dança rasa do Senhor. Essa parte do Srimad Bhagavatam é a parte mais confidencial desta grande literatura. A menos que a pessoa seja completamente realizada no conhecimento transcendental do Senhor, com certeza vai entender mal os passatempos transcendentais adoráveis chamados dança rasa e Seus casos amorosos com as gopis. Esse assunto é altamente espiritual, e só as pessoas liberadas que alcançaram gradualmente o estágio de paramahamsa podem apreciar transcendentalmente essa dança rasa. Srila Vyasadeva portanto dá ao leitor a chance de desenvolver realização espiritual antes de apreciar de verdade a essência dos passatempos do Senhor. Por isso, ele invoca um Gayatri mantra, dimahi. Esse Gayatri mantra é destinado a pessoas avançadas espiritualmente. Quando a pessoa é bem sucedida no cantar do Gayatri mantra, pode entrar na posição transcendental do Senhor. Por isso, a pessoa tem que adquirir qualidades dos brahmanas ou estar perfeitamente situada na qualidade da bondade a fim de cantar o Gayatri mantra com sucesso e assim alcançar o estágio de realizar transcendentalmente o Senhor, Seu nome, Sua fama, Suas qualidades e assim por diante.

O Srimad Bhagavatam é a narração do swarupa do Senhor manifestado pela Sua potência interna, e sua potência é distinta da potência externa que manifestou o mundo cósmico, que está dentro da nossa experiência. Srila Vyasadeva faz uma distinção clara entre as duas neste sloka. Sri Vyasadeva diz aqui que a potência interna manifesta é real, enquanto a energia externa manifesta na forma da existência material é somente temporária e ilusória como a miragem no deserto. Na miragem do deserto, não tem água de verdade. Existe apenas a aparência da água. A água de verdade está em outro lugar. A criação cósmica manifesta aparenta ser a realidade. Mas a realidade, da qual é apenas uma sombra, está no mundo espiritual. A Verdade Absoluta está no céu espiritual, não no céu material. No céu material, tudo é verdade relativa. Isso quer dizer que uma verdade depende de algo mais. Esta manifestação cósmica resulta da interação dos três modos da natureza, e as manifestações temporárias são criadas para apresentar uma realidade ilusória à mente confusa da alma condicionada, que aparece em tantas espécies de vida, inclusive nos semideuses mais elevados, como Brahma, Indra, Chandra, e assim por diante. Na verdade, não existe realidade no mundo manifesto. Parece ser realidade, porém, por causa da verdadeira realidade que existe no mundo espiritual, onde a Personalidade de Deus existe eternamente com Sua parafernália transcendental.

O engenheiro chefe de uma construção complicada não participa pessoalmente da construção, mas ele conhece cada canto e esquina porque tudo é feito sob sua direção. Ele sabe tudo sobre a construção, tanto direta quanto indiretamente. Similarmente, a Personalidade de Deus, que é o engenheiro supremo desta criação cósmica, conhece cada canto e esquina, apesar dos afazeres serem executados pelos semideuses. A começar de Brahma até a formiga insignificante, ninguém é independente na criação material. A mão do Senhor é vista em toda parte. Todos os elementos materiais bem como todas centelhas espirituais emanam somente Dele. E qualquer coisa criada neste mundo material é somente a interação de duas energias, a material e a espiritual, que emanam da Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, Sri Krishna. Um químico pode manufaturar água em um laboratório por misturar hidrogênio com oxigênio. Mas, na realidade, o ser vivo trabalha no laboratório sob a direção do Senhor. E os materiais com os quais trabalha também são supridos pelo Senhor. O Senhor sabe tudo direta e indiretamente, e Ele é ciente de todos os mínimos detalhes, e Ele é plenamente independente. Ele é comparado a uma mina de ouro, e as criações cósmicas em tantas formas diferentes são comparadas aos objetos feitos de ouro, como brincos de ouro, colares e assim por diante. O anel de ouro e o colar de ouro são qualitativamente um com o ouro na mina, mas quantitativamente o ouro na mina é diferente. Por isso, a Verdade Absoluta é simultaneamente uma e diferente. Nada é igual à Verdade Absoluta, mas ao mesmo tempo, nada é independente da Verdade Absoluta.

Almas condicionadas, a começar por Brahma, que é o engenheiro projetista do universo inteiro, até a formiga insignificante, todas estão criando, mas nenhuma delas é independente do Supremo Senhor. O materialista pensa erroneamente que não existe um criador além dele próprio. Isso se chama maya, ou ilusão. Por causa de seu pobre fundo de conhecimento, o materialista não pode ver além do alcance de seus sentidos imperfeitos, e por isso ele acha que a matéria toma sua própria forma automaticamente sem ajuda de uma inteligência superior. Isso é rejeitado neste sloka por Srila Vyasadeva: "Porque o todo completo ou a Verdade Absoluta é a fonte de tudo, nada pode ser independente do corpo da Verdade Absoluta". Qualquer coisa que aconteça com o corpo se torna conhecida rapidamente para o corporificado. Similarmente, a criação é o corpo do todo absoluto. Portanto, o Absoluto conhece tudo direta e indiretamente que acontece na criação.

No shruti-mantra, também é dito que o todo absoluto ou Brahman é a fonte última de tudo. Tudo emana Dele, e tudo é mantido por Ele. E no fim, tudo entra Nele. Essa é a lei da natureza. No smriti-mantra, o mesmo é confirmado. É dito que a fonte de onde tudo emana no começo do milênio de Brahma e o reservatório onde tudo entra ultimamente, é a Verdade Absoluta ou Brahman. Cientistas materiais tomam como certo que a fonte última do sistema planetário é o Sol, mas são incapazes de explicar a origem do Sol. Aqui, a fonte última é explicada. Segundo as literaturas Védicas, Brahma, que pode ser comparado ao Sol, não é o criador último. É dito neste sloka que Brahma foi ensinado sobre o conhecimento Védico pela Personalidade de Deus. Alguém pode argumentar que Brahma, por ser o ser vivo original, não podia ser inspirado porque não havia nenhum outro ser vivo naquele tempo. Aqui é dito que o Supremo Senhor inspirou o segundo criador, Brahma, para que Brahma pudesse realizar suas funções criativas. Assim, a inteligência suprema por trás de todas as criações é o Supremo Absoluto, Sri Krishna. No Bhagavad-gita, o Senhor Sri Krishna afirma que Ele é o único que superintende a energia criativa, prakriti, que constitui a totalidade da matéria. Portanto, Sri Vyasadeva não adora Brahma, e sim o Supremo Senhor que dirige Brahma em suas atividades criativas. Neste sloka, as palavras específicas abhijnah e svarat são significativas. Essas duas palavras distinguem o Supremo Senhor de todos os outros seres vivos. Nenhum outro ser vivo é ou abhijnah ou svarat. Ou seja, ninguém é ou plenamente ciente ou plenamente independente. Mesmo Brahma tem que meditar no Supremo Senhor para poder criar. Então o que falar de grandes cientistas como Einstein! Os cérebros de um cientista desses com certeza não são produtos de nenhum ser humano. Cientistas não podem manufaturar um cérebro desses, e o que dizer de ateístas tolos que desafiam a autoridade do Senhor? Mesmo os impersonalistas Mayavadis que se gabam de poderem se tornar um com o Senhor não são nem abhijnah nem svarat. Esses impersonalistas se submetem a severas austeridades para adquirirem conhecimento para se tornarem um com o Senhor. Mas no fim eles se tornam dependentes de algum discípulo rico que lhes fornece dinheiro para a construção de monastérios e templos. Ateístas como Ravana e Hiranyakashipu tiveram que se submeter a penitências severas antes que pudessem zombar da autoridade do Senhor. Mas finalmente, eles ficaram desamparados e não puderam se salvar quando o Senhor apareceu perante eles na forma da morte cruel. Esse é o caso também dos ateístas modernos que também se atrevem a zombar da autoridade do Senhor. Tais ateístas serão tratados similarmente, pois a história se repete. Sempre que os humanos negligenciam a autoridade do Senhor, a natureza e suas leis existem para penalizá-los. Isso é confirmado no Bhagavad-gita no famoso verso yada yada hi dharmasya glanih. "Sempre que há um declínio de dharma e um aumento de adharma, ó Arjuna, então Eu encarno em Pessoa". (Bg. 4.7).

Se o Supremo Senhor é todo-perfeito, é confirmado em todos os shruti-mantras. É dito nos shruti-mantras que o Senhor todo-perfeito lançou um olhar sobre a matéria e assim criou todos os seres vivos. Os seres vivos são parte e parcela do Senhor, e Ele impregna a vasta criação material com as sementes das centelhas espirituais, e assim as energias criativas são postas em movimento para encenar tantas criações maravilhosas. Um ateu pode argumentar que Deus não é mais esperto do que um relojoeiro, mas é claro que Deus é maior porque Ele pode criar máquinas em formas duplas masculina e feminina. As formas masculina e feminina dos diferentes tipos de maquinarias continuam a produzir inumeráveis máquinas similares sem precisar mais da atenção de Deus. Se um humano pudesse manufaturar tal conjunto de máquinas que podem produzir outras máquinas sem atenção, então poderia se aproximar da inteligência de Deus. Mas isso não é possível, porque cada máquina tem que ser operada individualmente. Portanto, ninguém pode criar tão bem quanto Deus. Outro nome de Deus é asamaurdhva, significa que ninguém é igual ou maior que Ele. Param satyam, ou a Verdade Suprema, é Ele que não tem igual ou superior. Isso é confirmado nos shruti-mantras. É dito que antes da criação do universo material só existia o Senhor, que é o mestre de todos. O Senhor instruiu Brahma no conhecimento Védico. Esse Senhor tem que ser obedecido em todos os aspectos. Qualquer pessoa que deseja se livrar do enredamento material tem que se render a Ele. Isso também é confirmado no Bhagavad-gita.

A menos que a pessoa se renda aos pés de lótus do Supremo Senhor, com certeza ficará confusa. Quando uma pessoa inteligente se rende aos pés de lótus de Krishna e sabe completamente que Krishna é a causa de todas as causas, como confirmado no Bhagavad-gita, somente então essa pessoa inteligente pode se tornar um mahatma, ou grande alma. Mas tal grande alma é muito rara de ser vista. Somente os mahatmas podem entender que o Supremo Senhor é a causa primordial de todas as criações. Ele é parama ou verdade última porque todas as outras verdades são relativas a Ele. Ele é onisciente. Para Ele, não existe ilusão.

Alguns eruditos Mayavadis argumentam que o Srimad Bhagavatam não foi compilado por Sri Vyasadeva. E alguns sugerem que este livro é uma criação moderna escrita por alguém chamado Vopadeva. A fim de refutar tais argumentos sem sentido, Sri Sridhara Swami observa que existe referência ao Bhagavatam em muitos Puranas mais antigos. Este primeiro sloka do Bhagavatam começa com o Gayatri mantra. Há referência a isso no Matsya Purana, que é o Purana mais velho. Nesse Purana, é dito com referência ao Gayatri mantra do Bhagavatam que existem muitas narrações de instruções espirituais que começam com o Gayatri mantra. E existe a história de Vritrasura. Qualquer pessoa que presentear esta grande obra num dia de lua cheia alcança a perfeição mais elevada da vida por retornar ao Supremo. Há referência do Bhagavatam em outros Puranas também, onde está claramente afirmado que esta obra foi completada em doze cantos, que incluem dezoito mil slokas. No Padma Purana também há referência do Bhagavatam numa conversa entre Gautama e Maharaja Ambarisha. O rei foi avisado ali para ler regularmente o Srimad Bhagavatam se desejasse liberação do cativeiro material. Sob as circunstâncias, não há dúvida sobre a autoridade do Bhagavatam. Nos últimos quinhentos anos, muitos catedráticos eruditos e acharyas como Jiva Goswami, Sanatana Goswami, Visvanatha Chakravarti, Vallabhacharya, e muitos outros catedráticos distintos mesmo depois do tempo do Senhor Chaitanya fizeram comentários elaborados sobre o Bhagavatam. E o estudante sério fará bem se tentar passar por eles para melhor apreciar as mensagens transcendentais.

Srila Visvanatha Chakravarti Thakura lida especificamente com a original e pura psicologia do sexo (adi-rasa), desprovida de toda embriaguez mundana. Toda a criação material se move sob o princípio da vida sexual. Na civilização moderna, vida sexual é o ponto central de todas atividades. Para onde a pessoa olha, vê vida sexual predominante. Assim, vida sexual não é irreal. Sua realidade é experimentada no mundo espiritual. A vida sexual material é só um reflexo pervertido do fato original. O fato original está na Verdade Absoluta, e por isso a Verdade Absoluta não pode ser impessoal. Não é possível ser impessoal e conter vida sexual pura. Conseqüentemente, os filósofos impersonalistas deram um ímpeto indireto para a vida sexual mundana abominável porque supervalorizaram a impessoalidade da verdade última. Conseqüentemente, pessoa sem informação sobre a forma espiritual verdadeira do sexo aceitou a vida sexual material pervertida como tudo em tudo. Há uma distinção entre vida sexual na condição material doentia e vida sexual espiritual.

Este Srimad Bhagavatam elevará gradualmente o leitor imparcial ao estágio de perfeição da transcendência mais elevado. E vai capacitá-lo a transcender os três modos das atividades materiais: ações lucrativas, filosofia especulativa, e adoração a deidades funcionais como inculcado nos versos Védicos.

 

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Verso 2

dharmah projjhita-kaitavo 'tra paramo nirmatsaranam satam
vedyam vastavam atra vastu sivadam tapa-trayonmulanam
srimad-bhagavate maha-muni-krte kim va parair isvarah
sadyo hrdy avarudhyate 'tra krtibhih susrusubhis tat-ksanat

Tradução

Este Bhagavata Purana rejeita completamente todas as atividades religiosas que são motivadas materialmente, este Bhagavata Purana propõe a verdade suprema, que é compreendida por aqueles devotos que são plenamente puros de coração. A verdade suprema é realidade distinta da ilusão para o benefício de todos. Esta verdade erradica as três misérias. Este belo Bhagavatam, compilado pelo sábio Vyasadeva (em sua maturidade), é suficiente por si só para a realização de Deus. Qual a necessidade de qualquer outra escritura? Tão logo a pessoa ouça com atenção e submissão a mensagem do Bhagavatam, por meio dessa cultura de conhecimento, o Supremo Senhor se estabelece dentro do seu coração.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Religião inclui quatro matérias primárias, chamadas atividades piedosas, desenvolvimento econômico, satisfação dos sentidos, e finalmente liberação do cativeiro material. Vida irreligiosa é uma condição bárbara. De fato, vida humana começa quando religião começa. Comer, dormir, temer, e acasalar são os quatro princípios da vida animal. Esses princípios são comuns tanto para animais quanto para seres humanos. Mas religião é a função extra do ser humano. Sem religião, vida humana não é melhor do que vida animal. Por isso, nas sociedades humanas existe alguma forma de religião que se destina à auto-realização e que faz referência à relação eterna do ser humano com Deus.

Em estágios inferiores de civilização humana, sempre há competição para dominar a natureza material ou, em outras palavras, há uma rivalidade contínua para satisfazer os sentidos. Guiada por essa consciência, a pessoa se volta à religião. Ela então realiza atividades piedosas ou funções religiosas a fim de ganhar algo material. Mas se tais ganhos materiais forem obtidos de outras formas, a dita religião é negligenciada. Assim é a situação na civilização moderna. A humanidade prospera economicamente, por isso no presente, não está interessada em religião. Igrejas, mesquitas e templos agora estão praticamente vazios. As pessoas estão mais interessadas em fábricas, shoppings, e cinemas do que em locais religiosos que foram erigidos por seus antepassados. Essa é a prova prática de que religião é praticada por alguns ganhos econômicos. Ganhos econômicos são necessários para satisfação sensual. Freqüentemente, quando a pessoa se frustra na busca pelo prazer sensual, adota a salvação e tenta se tornar una com o Supremo Senhor. Conseqüentemente, todos esses estados são simplesmente diferentes tipos de prazer sensual.

Nos Vedas, as quatro atividades mencionadas acima são prescritas de forma regulada para que não haja nenhuma competição indevida por prazer sensual. Mas o Srimad Bhagavatam é transcendental a todas essas atividades para prazer sensual. É literatura transcendental pura que só pode ser entendida pelos devotos puros do Senhor que são transcendentais ao prazer sensual competitivo. No mundo material, há competição violenta entre animal com animal, homem com homem, comunidade com comunidade, nação com nação. Mas os devotos do Senhor se elevam acima dessas competições. Eles não competem com o materialista porque estão no caminho de volta ao Supremo onde a vida é eterna e bem-aventurada. Esses transcendentalistas são livres de inveja e puros de coração. No mundo material, todo mundo tem inveja de alguém mais, e por isso há competição. Mas os devotos transcendentais do Senhor não somente estão livres de inveja material como são benquerentes de todos, e eles lutam para o estabelecimento de uma sociedade sem competitividade com Deus no centro. O conceito socialista contemporâneo de uma sociedade sem competitividade é artificial porque no estado socialista existe competição pelo posto de ditador. Do ponto de vista dos Vedas ou do ponto de vista das atividades humanas comuns, prazer sensual é a base da vida material. Existem três caminhos mencionados nos Vedas. Um envolve atividades lucrativas para ganhar promoção a planetas melhores. O outro envolve adoração a diferentes semideuses para promoção aos planetas dos semideuses, e o outro envolve realizar a Verdade Absoluta e Seu aspecto impessoal e se tornar uno com Ele.

O aspecto impessoal da Verdade Absoluta não é o mais elevado. Acima do aspecto impessoal está o aspecto Paramatma, e acima desse está o aspecto pessoal da Verdade Absoluta, ou Bhagavan. O Srimad Bhagavatam dá informação sobre a Verdade Absoluta em Seu aspecto pessoal. É mais elevado que as literaturas impersonalistas e mais elevado do que a divisão jñana-kanda dos Vedas. É mais elevado ainda do que a divisão karma-kanda, e mais elevado até que a divisão upasana-kanda, porque recomenda a adoração à Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna. Na karma-kanda, existe competição para alcançar os planetas celestiais para melhor prazer sensual, e há competição similar na jñana-kanda e na upasana-kanda. O Srimad Bhagavatam é superior a todas essas porque se destina à Verdade Suprema que é a substância ou raiz de todas as categorias. A substância é a Verdade Absoluta, o Supremo Senhor, e todas emanações são formas relativas de energia.

Nada é à parte da substância, porém ao mesmo tempo as energias são diferentes da substância. Essa concepção não é contraditória. O Srimad Bhagavatam promulga esta filosofia do "simultaneamente-uno-e-diferente" do Vedanta-sutra, que começa com o sutra "janmady asya".

Este conhecimento de que a energia do Senhor é simultaneamente una com e diferente do Senhor é uma resposta à tentativa dos especuladores mentais de estabelecer a energia como o Absoluto. Quando este conhecimento é realmente entendido, a pessoa vê as concepções do monismo e do dualismo como imperfeitas. O desenvolvimento dessa consciência transcendental baseada na concepção de simultaneamente-uno-e-diferente conduz a pessoa imediatamente ao estágio de liberdade das misérias triplas. As misérias triplas são as seguintes, (1) as misérias que surgem da mente e do corpo, (2) as misérias infligidas por outros seres vivos, e (3) as misérias que surgem de catástrofes naturais que a pessoa não tem controle. O Srimad Bhagavatam começa com a rendição do devoto à Pessoa Absoluta. O devoto é plenamente ciente de que é uno com o Absoluto e ao mesmo tempo está na posição eterna de servo do Absoluto. Na concepção material, a pessoa pensa falsamente que é senhora de tudo que avista, e por isso está sempre perturbada pelas três misérias da vida. Mas logo quando a pessoa vem a saber sua posição real como servo transcendental, imediatamente se torna livre de todas as misérias. Enquanto o ser vivo tentar dominar a natureza material, não há possibilidade de se tornar servo do Supremo. Serviço ao Supremo é prestado com a consciência pura da identidade espiritual; pelo serviço, a pessoa fica livre imediatamente de todos os estorvos materiais.

Muito acima disso, o Srimad Bhagavatam é um comentário pessoal sobre o Vedanta-sutra de Sri Vyasadeva. Sri Vyasadeva é a encarnação autorizada de Narayana, a Personalidade de Deus. Por isso, não há questão de sua autoridade. Ele é o autor de todas as outras literaturas Védicas, mesmo assim, ele recomenda o estudo do Srimad Bhagavatam acima de todas as outras. Nos outros Puranas, há diferentes métodos estabelecidos para que cada um possa adorar os semideuses. Mas no Bhagavatam, somente o Supremo Senhor é mencionado. O Supremo Senhor é o corpo total, e os semideuses são as diferentes partes desse corpo. Conseqüentemente, ao adorar o Supremo Senhor, a pessoa não precisa adorar os semideuses. O Supremo Senhor se torna fixo no coração do devoto imediatamente. O Senhor Chaitanya Mahaprabhu recomendou o Srimad Bhagavatam como o Purana imaculado e distinto de todos os outros Puranas.

O método próprio para receber esta mensagem transcendental é ouvir submissamente. Uma atitude de desafio não pode ajudar a pessoa a realizar esta mensagem transcendental. Uma palavra em particular é usada aqui para guia apropriada. Esta palavra é shushrushu. A pessoa tem que estar ansiosa para ouvir [ler] esta mensagem transcendental. O desejo de ouvir sinceramente é a primeira qualificação.

Pessoas menos afortunadas não estão interessadas de jeito nenhum em ouvir o Srimad Bhagavatam. O processo é simples, mas a aplicação é difícil. Pessoas desafortunadas acham tempo suficiente para ouvir conversações sociais e políticas, mas quando convidadas para assistir a um encontro dos devotos para ouvir o Srimad Bhagavatam elas imediatamente se tornam relutantes. Às vezes, leitores profissionais do Bhagavatam saltam imediatamente para os tópicos confidenciais dos passatempos do Supremo Senhor, que eles interpretam aparentemente como literatura sexual. O Srimad Bhagavatam é destinado a ser ouvido desde o início. Aqueles que são capazes de assimilar esta obra são mencionados neste sloka: "A pessoa se torna qualificada para ouvir o Srimad Bhagavatam depois de muitos feitos piedosos". A pessoa inteligente, com discrição consciente, está assegurada pelo sábio Vyasadeva que pode realizar a Suprema Personalidade diretamente por ouvir o Srimad Bhagavatam. Sem ter que se submeter aos diferentes estágios de realização estabelecidos nos Vedas, a pessoa pode se elevar imediatamente à posição de paramahamsa simplesmente por concordar em receber esta mensagem.

 

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Verso 3

nigama-kalpa-taror galitam phalam
suka-mukhad amrta-drava-samyutam
pibata bhagavatam rasam alayam
muhur aho rasika bhuvi bhavukah

Tradução

Ó seres humanos versados e pensadores, saboreiem o Srimad Bhagavatam, o fruto maduro da árvore dos desejos das literaturas Védicas. Ele emanou dos lábios de Sri Shukadeva Goswami. Portanto, este fruto ficou ainda mais saboroso, apesar de seu suco nectáreo já ser apreciável por todos, inclusive as almas liberadas.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Nos dois slokas anteriores, foi provado definitivamente que o Srimad Bhagavatam é a literatura sublime que ultrapassa todas as outras literaturas Védicas devido a suas qualidades transcendentais. É transcendental a todas atividades mundanas e conhecimento mundano. Neste sloka, é afirmado que o Srimad Bhagavatam não é somente uma literatura superior mas também o fruto maduro de todas as literaturas Védicas. Em outras palavras, é o creme de todo conhecimento Védico. Por considerar tudo isso, ouvir com paciência e submissão é essencial definitivamente. Com grande respeito e atenção, a pessoa deve receber a mensagem e lições dadas pelo Srimad Bhagavatam.

Os Vedas são comparados à árvore dos desejos porque contêm todas as coisas conhecíveis pelo homem. Eles lidam com as necessidades mundanas bem como a realização espiritual. Os Vedas contêm princípios reguladores de conhecimento que cobrem matérias sociais, políticas, religiosas, econômicas, militares, medicinais, químicas, físicas e metafísicas e tudo isso pode ser necessário para manter o corpo e a alma juntos. Acima e além de tudo isso estão as orientações específicas para a realização espiritual. Conhecimento regulado envolve uma elevação gradual do ser vivo à plataforma espiritual, e a realização espiritual mais elevada é conhecimento da Personalidade de Deus como o reservatório de todos sabores espirituais, ou rasas.

Todo ser vivo, a começar por Brahma, o primeiro ser nascido dentro do universo material, abaixo até a formiga insignificante, deseja saborear algum tipo de sabor derivado das percepções sensoriais. Esses prazeres sensuais são tecnicamente chamados de rasas. Esses rasas são de diferentes variedades. Nas escrituras reveladas as seguintes doze variedades de rasas são enumeradas: (1) raudra (ira), (2) adbhuta (admiração), (3) shringara (amor conjugal), (4) hasya (comédia), (5) vira (cavalheirismo), (6) daya (misericórdia), (7) dasya (servidão), (8) sakhya (fraternidade), (9) bhayanaka (horror), (10) bibhatsa (choque), (11) shanta (neutralidade), (12) vatsalya (paternidade/maternidade).

A soma total de todos esses rasas se chama afeição ou amor. Primariamente, esses sinais de amor são manifestados em adoração, serviço, amizade, afeição paternal, e amor conjugal. E quando esses cinco estão ausentes, o amor está presente indiretamente em ira, admiração, comédia, cavalheirismo, medo, choque, e assim por diante. Por exemplo, quando um homem está apaixonado por uma mulher, o rasa é chamado de amor conjugal. Mas quando esses casos amorosos são perturbados pode haver admiração, ira, choque, até mesmo horror. Algumas vezes, casos amorosos entre duas pessoas culminam em cenas de assassinato medonhas. Esses rasas são exibidos entre homem e homem e entre animal e animal. Não há possibilidade de intercâmbio ou rasa entre um homem e um animal ou entre um homem e qualquer outra espécie de seres vivos dentro do mundo material. Os rasas são compartilhados entre membros da mesma espécie. No que diz respeito às almas espirituais, elas são qualitativamente unas com o Supremo Senhor. Portanto, os rasas são originalmente compartilhados entre o ser vivo espiritual e o todo espiritual, a Suprema Personalidade de Deus. O compartilhamento espiritual ou rasa é totalmente exibido na existência espiritual entre seres vivos e o Supremo Senhor.

A Suprema Personalidade de Deus é portanto descrita nos shruti-mantras, hinos Védicos, como "a fonte de todos os rasas". Quando a pessoa se associa ao Supremo Senhor e compartilha seu rasa constitucional com o Senhor, então o ser vivo é realmente feliz.

Esses shruti-mantras indicam que todo ser vivo tem sua posição constitucional, que é dotada com um tipo particular de rasa para ser compartilhada com a Personalidade de Deus. Somente na condição liberada, esse rasa primário é experimentado totalmente. Na existência material, o rasa é experimentado de forma pervertida, que é temporária. E por isso, os rasas do mundo material são exibidos na forma material de raudra (ira) e assim por diante.

Portanto, quem alcança conhecimento completo desses diferentes rasas, que são os princípios básicos das atividades, pode entender as falsas representações dos rasas originais que são refletidos no mundo material. O acadêmico erudito busca saborear o rasa real na forma espiritual. No começo, ele deseja se tornar uno com o Supremo. Por isso, transcendentalistas menos inteligentes não podem ir além da concepção de se tornar um com o espírito total, sem conhecer os diferentes rasas.

Neste sloka, está afirmado definitivamente que rasa espiritual, que é saboreado até mesmo no estágio liberado, pode ser experimentado na literatura do Srimad Bhagavatam devido a ele ser o fruto amadurecido de todo conhecimento Védico. Por ouvir esta literatura submissamente, a pessoa pode alcançar o prazer completo do desejo de seu coração. Mas a pessoa tem que tomar muito cuidado em ouvir a mensagem da fonte certa. O Srimad Bhagavatam é exatamente recebido da fonte certa. Ele foi trazido por Narada Muni do mundo espiritual e dado a seu discípulo Sri Vyasadeva. Este então transmitiu a mensagem a seu filho Srila Shukadeva Goswami, e Srila Shukadeva Goswami transmitiu a mensagem a Maharaja Parikshit justamente sete dias antes da morte do rei. Srila Shukadeva Goswami era uma alma liberada desde seu nascimento. Ele já era liberado mesmo dentro do ventre de sua mãe, e ele não se submeteu a nenhum tipo de treinamento espiritual depois de seu nascimento. Quando nasce, ninguém é qualificado, nem no sentido mundano nem no espiritual. Mas Sri Shukadeva Goswami, como era uma alma perfeitamente liberada, não teve que se submeter ao processo evolucionário para realização espiritual. Mesmo assim, apesar de ser uma pessoa completamente liberada situada na posição transcendental acima dos três modos materiais, ele foi atraído por esse rasa transcendental da Suprema Personalidade de Deus, que é adorado pelas almas liberadas que cantam os hinos Védicos. Os passatempos do Supremo Senhor são mais atraentes para as almas liberadas do que para as pessoas mundanas. Ele é por necessidade não impessoal porque só é possível ter rasa transcendental com uma pessoa.

No Srimad Bhagavatam, os passatempos do Senhor são narrados, e a narração é sistematicamente relatada por Srila Shukadeva Goswami. Assim, o assunto da matéria é atraente para todas as classes de pessoas, inclusive as que procuram liberação e aquelas que procuram se tornar um com o todo supremo.

Em sânscrito, o papagaio também é conhecido como shuka. Quando o fruto maduro é cortado pelos bicos vermelhos desses pássaros, seu doce sabor é aumentado. O fruto Védico que é maduro e suculento em conhecimento é falado pelos lábios de Srila Shukadeva Goswami, que é comparado ao papagaio não por sua habilidade de recitar o Bhagavatam exatamente como o ouviu de seu sábio pai, mas por sua habilidade de apresentar a obra de uma forma que atrai todas as classes de homens.

A matéria é assim apresentada através dos lábios de Srila Shukadeva Goswami para que qualquer ouvinte [leitor] sincero que ouça submissamente possa saborear imediatamente os sabores que são distintos dos sabores pervertidos do mundo material. O fruto maduro não cai de súbito do planeta mais elevado de Krishnaloka. Em vez disso, ele descende cuidadosamente através da corrente de sucessão discipular sem alteração ou perturbação. Pessoas tolas que não estão na sucessão discipular transcendental cometem grandes absurdos ao tentarem entender o rasa transcendental mais elevado conhecido como dança rasa sem seguir os passos de Shukadeva Goswami, que apresenta o fruto muito cuidadosamente através dos estágios de realização transcendental. A pessoa tem que ser inteligente o suficiente para conhecer a posição do Srimad Bhagavatam por considerar personalidades como Shukadeva Goswami, que trata da matéria tão cuidadosamente. Esse processo de sucessão discipular da escola Bhagavata sugere que no futuro também o Srimad Bhagavatam seja compreendido de uma pessoa que seja realmente um representante de Srila Shukadeva Goswami. Uma pessoa profissional que faz o negócio de recitar o Bhagavatam ilegalmente com certeza não é representante de Shukadeva Goswami. O negócio dessa pessoa é apenas para ganhar o seu sustento. Por isso que se deve evitar ouvir palestras de tais pessoas profissionais. Essas pessoas geralmente vão para a parte mais confidencial da literatura sem passar pelo processo gradual de entendimento desse assunto grave. Eles geralmente saltam na matéria da dança rasa, que é mal-entendida pela classe de homens tolos. Alguns deles acham que isso é imoral, enquanto outros tentar encobrir isso com suas próprias interpretações estúpidas. Eles não têm nenhum desejo de seguir os passos de Srila Shukadeva Goswami.

Deve-se concluir, portanto, que o estudante sério de rasa deve receber a mensagem do Bhagavatam na corrente de sucessão discipular de Srila Shukadeva Goswami, que descreve o Bhagavatam desde o seu início e não caprichosamente para satisfazer o mundano que tem muito pouco conhecimento sobre a ciência transcendental. O Srimad Bhagavatam é apresentado tão cuidadosamente que uma pessoa sincera e séria pode imediatamente desfrutar o fruto maduro do conhecimento Védico simplesmente por beber o suco nectáreo através da boca de Shukadeva Goswami ou de seu representante fidedigno.

 

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Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada! Jaya Prabhupada!

Todas as Glórias à Sua Divina Graça Visvavarenya Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacharya Ashtottara-shata Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Srila Prabhupada Thakur Mahashaya.

Versão em Português
Visvavandya Dasa
São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2014
(Gaura-navami)

Pela Divina Graça de nossos Mestres Divinos

 

Param Vijayate Sri Krsna Sankirtanam!

 

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Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga

Nitai Gaura Hari Bol

Sri Sri Shikshastaka

Oito Instruções do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu

(Extraído do "Songs of Vaishnava Acharyas")

de

Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya
(Original Sem "Correções")

O Senhor Chaitanya Mahaprabhu instruiu Seus discípulos a escreverem livros sobre a ciência de Krishna, uma tarefa que Seus seguidores continuaram a realizar até o dia de hoje. As elaborações e exposições sobre a filosofia ensinada pelo Senhor Chaitanya são, de fato, as mais volumosas, exatas, e consistentes, devido ao sistema de sucessão discipular. Apesar do Senhor Chaitanya ser amplamente renomado como sábio erudito em Sua juventude, Ele deixou somente oito versos, chamados Shikshastaka. Esses oito versos claramente revelam Sua missão e preceitos. Essas preces supremamente preciosas são traduzidas como se segue:

(1)

ceto-darpana-marjanan bhava-maha-davagni-nirvapanan
sreyah-kairava-candrika-vitaranam vidya-vadhu-jivanam
anandambudhi-vardhanam prati-padam purnamrtasvadanam
sarvatma-snapanam param vijayate sri-krsna-sankirtanam

Glória ao sri-krishna-sankirtana que limpa o coração de toda poeira acumulada durante anos e extingue o fogo da vida condicionada, de repetidos nascimentos e mortes. O movimento sankirtana é a bendição máxima para a humanidade em larga escala porque propaga os raios da Lua da bendição. É a vida de todo conhecimento transcendental. Incrementa o oceano de bem-aventurança transcendental, e nos capacita a saborear plenamente o néctar pelo qual estamos sempre ansiosos.

(2)

namnam akari bahudha nija-sarva-saktis
tatrarpita niyamitah smarane na kalah
etadrsi tava krpa bhagavan mamapi
durdaivam idrsam ihajani nanuragah

Ó meu Senhor, somente Seu santo nome pode conceder toda bênção para os seres vivos, e por isso o Senhor tem centenas de milhões de nomes como Krishna e Govinda. O Senhor investiu todas as Suas energias transcendentais nesses nomes transcendentais. E nem mesmo existem regras difíceis ou rígidas para cantar esses nomes. Ó meu Senhor, por Sua bondade nos capacitou a nos aproximar facilmente de Você por cantar Seus santos nomes, mas eu sou tão desventurado que não tenho atração por eles.

(3)

trnad api sunicena
taror api sahisnuna
amanina manadena
kirtaniyah sada harih

Deve-se cantar o santo nome do Senhor num estado mental de humildade, por considerar-se inferior a uma palha na rua; deve-se ser mais tolerante do que uma árvore, desprovido de todo senso de falso prestígio, e pronto para oferecer todo respeito aos outros. Nesse estado mental, a pessoa pode cantar o santo nome do Senhor constantemente.

(4)

na dhanam na janam na sundarim
kavitam va jagad-isa kamaye
mama janmani janmanisvare
bhavatad bhaktir ahaituki tvayi

Ó Senhor todo-poderoso, não tenho desejo de acumular riqueza, nem desejo belas mulheres, nem quero nenhum número de seguidores. Só quero Seu serviço devocional incondicionado nascimento após nascimento.

(5)

ayi nanda-tanuja kinkaram
patitam mam visame bhavambudhau
krpaya tava pada-pankaja-
sthita-dhuli-sadrsam vicintaya

Ó filho de Nanda Maharaja (Krishna), sou Seu servo eterno, mas por algum motivo, caí no oceano de nascimento e morte, por favor, pegue-me deste oceano de morte e coloque-me como um dos átomos de Seus pés de lótus.

(6)

nayanam galad-asru-dharaya
vadanam gadgada-ruddhaya gira
pulakair nicitam vapuh kada
tava-nama-grahane bhavisyati

Ó meu Senhor, quando meus olhos ficarão decorados com lágrimas de amor a fluir constantemente quando eu cantar Seu santo nome? Quando minha voz ficará embargada, e quando os cabelos do meu corpo se arrepiarão com a recitação do Seu nome?

(7)

yugayitam nimesena
caksusa pravrsayitam
sunyayitam jagat sarvam
govinda-virahena me

Ó Govinda! Por sentir Sua separação, considero um momento como doze anos ou mais. Lágrimas fluem de meus olhos como torrentes de chuva, e eu sinto tudo vazio no mundo na Sua ausência.

(8)

aslisya va pada-ratam pinastu mam
adarsanan marma-hatam-hatam karotu va
yatha tatha va vidadhatu lampato
mat-prana-nathas tu sa eva naparah

Não conheço ninguém além de Krishna como meu Senhor, e Ele permanecerá assim mesmo se me apertar fortemente com Seu abraço ou partir meu coração por não estar presente diante de mim. Ele é completamente livre para fazer qualquer coisa e tudo, porque Ele é sempre o meu Senhor adorável incondicionalmente.

 

 

Jaya Prabhupada!!!

 

-.-

 

 

 

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(Última Edição: 18-dez-2022 )

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